09/10/12 40 anos de "Crítica à razão dualista" - Monitor Mercantil Notícias Colunas Assinaturas Publicidade Busca Gráfica A Empresa Ano: Parceiros Contato Ano CONJUNTURA 40 anos de "Crítica à razão dualista" 05/10/2012 - 21:46:26 Mais Notícias FINANCEIRO 09/10/2012 - 12:58:47 0 São Paulo marca -0,94% CONJUNTURA Industrialização privilegiou acumulação de capital no país 09/10/2012 - 12:51:22 Durante seminário promovido no Rio pelo Centro Celso Furtado para comemorar 40 anos do livro do sociólogo Francisco (Chico) de Oliveira, Crítica à razão dualista, a cientista social Cibele Rizek, da Universidade de São Paulo (USP), destacou a "reação escandalizada" do autor (e do economista Paul Singer) a um texto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que, segundo Cibele, aproximava o golpe de 1964 da idéia de revolução burguesa. INTERNACIONAL "O texto (de FH) acabou sendo um mote para o livro. M e agrada que a publicação tenha atingido esse grau de posteridade", comentou a professora da USP, observando que Chico manteve o foco de seus estudos na industrialização brasileira e suas condições estruturais. Mascote da Copa de 2014 é atacado na Esplanada dos Ministérios 09/10/2012 - 12:48:40 Pesquisadores sobre partículas quânticas individuais ganham Nobel de Física "No livro, Chico parte da idéia de que o fundamental no modo capitalista de produção é sua própria reprodução. Daí, vai se ancorar na questão da reprodução e das formas de acumulação do capital. M ais que isso, vai pensar também numa articulação entre economia e política, que seria a dimensão estruturante da economia." Este, para Cibele, é um dos grandes centros do pensamento do Chico até hoje e aponta para a participação do Estado na economia, no período denominado desenvolvimentista, como mero suporte para a acumulação capitalista no segmento urbano-industrial: "O livro discute inúmeras dimensões da realidade brasileira, mas a questão que perpassa toda a obra é a articulação entre política e economia", salienta. Simbiose Outra discussão sublinhada pela professora da USP na obra do sociólogo relaciona-se ao binômio tradicionalmoderno (setores mais atrasados se constituindo em obstáculos ao desenvolvimento), que, para o autor, seria um falso dilema. "Essa discussão, que tinha como interlocutor o que Chico chama de "modelo Cepal" (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), não deixa de ser uma homenagem do autor a seu período cepalino, apesar da discordância. Ele reconhece o valor da Cepal (trabalhou com Celso Furtado na Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste - Sudene), mas critica a entidade como único modelo para o desenvolvimento", observa. Chico procurou investigar a forma pela qual o "modelo Cepal" se converte na Teoria da Dependência: "Para tanto, ele desarticula essas duas idéias para, naquele momento, discutir com FH. Nesse contexto, ele questiona o conceito de subdesenvolvimento como uma formação histórica singular, que tinha sido construído em torno da polarização entre um setor atrasado e outro, moderno. Articulado dessa maneira, o conceito não se sustentava na opinião do autor. Ao contrário, haveria uma simbiose entre os setores, na qual o moderno se sustentaria com a existência do atrasado." Subdesenvolvimento Cibele destacou que, na crítica do sociólogo ao modelo capitalista no Brasil, a categoria modo de produção é fundamental: "Apesar da crítica à Cepal, Chico depois mostrará que sua teoria tem duas filiações; cepalina e marxista, mas o subdesenvolvimento para ele seria produto da expansão do capitalismo. Ou seja, é uma formação capitalista, não apenas histórica.." Tornou-se necessário para o autor, então, enfatizar as estruturas de dominação e de acumulação própria a países como o Brasil. O desafio passou a ser como pensar a estrutura do modo de produção, e, a partir daí, a constituição das classes sociais. "No plano da prática, a ruptura com a Teoria do Dependência não poderia deixar de ser radical. Para Chico, ela teria cumprido importante função ideológica para a não formação de uma teoria sobre a origem do capitalismo no Brasil. Além disso, na opinião dele, acabou servindo para marginalizar perguntas do tipo "a quem serve o desenvolvimento econômico capitalista no Brasil?. Não se poderia abrir mão dessa pergunta nem em 1972 (ano da publicação do livro), nem atualmente", opina a professora da USP. Segundo a cientista social, foram as necessidades de acumulação e não as de consumo que determinaram o processo de industrialização no país. Assim, a teoria do subdesenvolvimento assentaria as bases para o chamado "desenvolvimentismo" e desviaria a atenção do problema da luta de classes, justamente no momento da transição de uma economia de base agrária (tradicional) para a industrialização urbana (moderna): "Isso é absolutamente presente hoje. O chamado "desenvolvimentismo" serviu para um período populista." Posteridade Para Cibele, Crítica à razão dualista tem elementos fundamentais que justificam sua posteridade: a centralidade da legislação trabalhista (CLT), a intervenção do Estado na economia, e o papel do setor agrícola (tradicional). "A CLT é central no processo de acumulação do capital a partir de 1930 e na discussão do que se poderia entender como mercado livre, que não existia. Isso porque a legislação trabalhista interpretou o salário mínimo rigorosamente como de subsistência, ou seja, de reprodução", destacou, acrescentando que as leis trabalhistas fazem parte de um conjunto de medidas destinadas a instaurar o novo modo de acumulação, no qual a população urbana estava destinada a constituir um exército de reserva: "Antes de prejudicar a acumulação, a CLT a beneficiou." Quanto à intervenção do Estado na esfera econômica, a professora da USP observa que, além do fator trabalho, ao estabelecer preços, controlar gastos fiscais e ofertar subsídios, o Estado teria como papel criar as bases para a www.monitormercantil.com.br/index.php?pagina=Noticias&Noticia=120870&Categoria=CONJUNTURA 1/2 09/10/12 40 anos de "Crítica à razão dualista" - Monitor Mercantil estabelecer preços, controlar gastos fiscais e ofertar subsídios, o Estado teria como papel criar as bases para a acumulação capitalista, no sentido de fazer da empresa capitalista industrial a unidade mais rentável na economia. "A ampliação das funções do Estado (regulação do trabalho, subsídio, investimento em infra-estrutura, crédito subsidiado) perduraria até o período JK. E Chico reproduz a pergunta: "A quem serve tudo isso?" Ele nunca deixa de perguntar", reiterou. O terceiro aspecto da crítica do sociólogo seria, para Cibele, o papel da agricultura. Esta, na visão do autor, deveria suprir as necessidades das massas urbanas, antes de servir ao pagamento dos bens de consumo, para não elevar o custo das matérias-primas. "Em torno disso giraria a estabilidade social do sistema, viabilizando a ampla expansão do exercito social de reserva e da lucratividade da empresa industrial", salientou a professora da USP, observando que o desenvolvimento se dava no país "com baixíssimo coeficiente de capitalização ou até sem esta". O papel do setor agrícola (tradicional) foi encarado por Chico como "uma forma de acumulação primitiva, sem expropriar a propriedade, mas sim o excedente" - formado pela posse da terra: "Chico ressaltou muito bem que a acumulação primitiva não se dá apenas na origem do capitalismo, ou seja, ela é estrutural, não apenas genética. O autor percebeu, no período em que foi bancário, que justamente dos setores mais atrasados saíam volumes impressionantes de capital. Essa é a natureza da conciliação entre estrutura agrária e estrutura industrial", resumiu. Esta conciliação, segundo Cibele, permitiu a manutenção da alta taxa de exploração da força de trabalho e do padrão primitivo no campo: "O desdobramento disso é a formação de um proletariado urbano e um "quase proletariado" rural. Nesse contexto, o setor de serviços teria se desenvolvido no país apenas para dar suporte ao modo de acumulação urbano-industrial, que, segundo o autor, seria adequado à expansão do sistema capitalista no Brasil. Não é um segmento inchado ou marginal. O tamanho do setor terciário numa economia como a brasileira está ligado à acumulação urbano-industrial", finalizou Cibele. Comentários No momento, não há comentários. Para escrever o seu comentário, é necessário se autenticar. 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