Disciplina: Anéis e Corpos Professor: Fernando Torres Membros do grupo: Blas Melendez Caraballo (ra143857) , Leonardo Soriani Alves (ra115465) , Osmar Rogério Reis Severiano (ra134333) Ramon Códamo Braga da Costa (ra143905) 1 Base de um Espaço Vetorial Estamos interessados em encontrar, dentro de um espaço vetorial V, um subconjunto B ⊂ V, tal que qualquer vetor de V seja uma combinação linear de elementos de B. Em outras palavras, queremos determinar um conjunto de vetores que gere V e tal que todos elementos sejam realmentes necessários para gerar V. Se pudermos encontrar tais vetores, teremos os alicerces de nosso espaço, com estes vetores fazendo o papel de i, j, k na Geometria Analítica no Espaço. Denominares um conjunto de vetores desse tipo de base, mais precisamente: Definição 1. Seja V um espaço vetorial sobre um corpo K. Dizemos que um subconjunto B de V é uma base de V se (i) B for um conjunto gerador de V ; e (ii) B for linearmente independente. Teorema 1. Seja {0} = 6 V um espaço vetorial sobre K. Então V possui pelo menos uma base. Demonstração. Seja F = {S : S ⊂ V e S l.i.} . Como existe 0 6= v0 ∈ V, temos que F 6= ∅, visto que {v0 } é l.i. A relação R = {(Si , Sj ) ∈ F × F : Si ⊂ Sj } é uma relação de ordem parcial sobre F. Seja {S` : ` ∈ L} um sub[ conjunto totalmente ordenado de F. Afirmamos que S` é um limitante superior de {S` : ` ∈ L} em F. De fato, sejam `∈L v1 , . . . , v n ∈ [ S` , α1 , . . . , αn ∈ K e suponhamos que α1 v1 +. . .+αn vn = 0. Existem índices `1 , . . . , `n em L tais que `∈L vi ∈ S`i , i = 1, . . . , n. Como {S` : ` ∈ L} é totalmente ordenado, existe um índice `k tal que S`i ⊂ S`k , i = 1 . . . , n. [ Segue que vi ∈ Sjk , i = 1, . . . , n. Como S`k é l.i., α1 = . . . αn = 0. Logo, S` é l.i. e, consequentemente, é um `∈L limitante superior de {S` : ` ∈ L} em F. Pelo lema de Zorn, F possui um elemento maximal, digamos B. No restante da prova mostraremos que V é gerado por B, ou seja V = [B] . Como [B] ⊂ V, basta verificarmos a outra inclusão, para isto suponhamos que exista um elemento w ∈ V e w ∈ / [B] . Então B ∪ {w} é linearmente independente, de fato, sejam u1 , . . . , um ∈ B e β1 , . . . , βm , β ∈ K, tais que β1 u1 + . . . + βm um + wβ = 0, então β = 0, caso contrário teríamos −β1 β −1 u1 + . . . + −βm β −1 um = w, contradizendo o fato de w ∈ / [B] . Portanto igualdade a torna-se β1 u1 + . . . + βm um = 0, consequentemente βi = 0, i = 1, . . . , m pois B é l.i. E como consequência temos que B ∪ {w} ∈ F, mas isto é um absurdo, visto que este fato contradiz a maximalidade de B. Assim [B] = V. O teorema abaixo apresenta duas caracterizações de base. 1 Teorema 2. Sejam V um espaço vetorial sobre K e B um subconjunto de V. As seguintes afirmações são equivalentes: (i) B é uma base de V ; (ii) B é um subconjunto l.i. maximal de V, isto é, não existe subconjunto l.i. C de V tal que B 6= C e B ⊂ C; (iii) B é um conjunto gerador minimal de V, isto é, V = [B] e não existe C ⊂ B, C 6= B tal que V = C. Demonstração. (i) ⇒ (ii) Se v ∈ V \B então por (i), v ∈ [B] . Segue que B ∪ {v} é l.d. Portanto, qualquer conjunto contendo B propriamente é l.d. (ii) ⇒ (i) Se V 6= [B] , existiria v ∈ V \ {0} tal que v ∈ / [B] . Logo, B ∪ {v} seria um conjunto l.i.,contradizendo (ii). (i) ⇒ (iii) Seja w ∈ B. Então, w ∈ / [B\ {w}] , pois B é um conjunto l.i. Portanto, [B\ {w}] 6= V. Isto implica (iii). (iii) ⇒ (i) Se existirem vetores (distintos) v1 , . . . , vn ∈ B e escalares α1 , . . . , αn ∈ K não todos nulos tais que α1 v1 + . . . + vn αn vn = 0, então um dos vj , digamos vn , é combinação linear dos demais. Logo, [B\ {vn }] = [B] = V, contradizendo (iii). Teorema 3. Seja V um espaço vetorial sobre K. (i) Se S ⊂ T ⊂ V, S é l.i. e V = [T ] , então existe uma base B de V tal que S ⊂ B ⊂ T ; (ii) Se S é um subconjunto l.i. de V então existe uma base B de V que contém S; (iii) Se V = [T ] , então existe uma base B de V contida em T. Demonstração. Para provar (i), aplicamos o Lema de Zorn a família de conjuntos F = {A : S ⊂ A ⊂ T e A l.i.} , munida da ordem parcil de inclusão. Concluímos que F tem um elemento maximal B. Se existir algum elemento u ∈ T \ [B] , então B ∪ {u} é l.i. contradizendo a maximalidade de B. Logo, T ⊂ [B] e, consequentemente, [T ] ⊂ [B] . Segue que V = [B] , e, portanto, [B] é base de V. Partes (ii) e (iii) seguem de (i). Teorema 4. Sejam V um espaço vetorial sobre K e B e C bases de V. Então, cada elemento de B pode ser substituído por algum elemento de C de modo que o conjunto resultante ainda é uma base de V. Demonstração. Seja v ∈ B. Se C fosse um subconjunto de B\ {v} , teríamos V = [C] ⊂ [B\ {v}] , contradizendo o fato de B ser um conjunto gerador minimal de V. Logo, existe um elemento u ∈ C tal que u ∈ / [B\ {v}] . Segue que (B\ {v}) ∪ {u} é l.i. Se v ∈ / [(B\ {v}) ∪ {u}] então (B\ {v}) ∪ {u} ∪ {v} = B ∪ {u} é l.i., contradizendo o fato de B ser um conjunto l.i. maximal. Assim, v ∈ [(B\ {v}) ∪ {u}] e V = [B] ⊂ [B ∪ {u}] = [((B\ {v}) ∪ {u}) ∪ {v}] = [(B\ {v}) ∪ {u}] , completando a prova. No teorema a seguir, utilizamos a noção de cardinalidade. Lembremos que dois conjuntos A e B tem a mesma cardinalidade quando existe uma função f : A → B bijetora. Teorema 5. Sejam V um espaço vetorial sobre K e B, C bases de V. Então B e C tem a mesma cardinalidade. O teorema 5 consolida a seguinte definição Definição 2. Seja V um espaço vetorial sobre K. A dimensão de V sobre K, denotada por dimK V ou simplesmente por dimV, é a cardinalidade de qualquer base de V sobre K. Começamos nossa discussão sobre espaços vetoriais indagando sobre a existência de um certo tipo de subconjunto Bde V, que tivesse as seguintes propriedades; B linearmente independente e [B] = V. Para este tipo de subconjunto de V demos o nome de base algébrica. Agora estamos interessados em saber algo sobre a cardinalidade do conjunto B, mas particularmente quando dimK V = ∞, gostaríamos de saber se B é enumerável. O próximo resultado nos fornece um método que nos permite decidir se alguns espaços vetoriais tem base enumerável. Mais precisamente: 2 Proposição 1. Seja E um espaço de Banach de dimensão infinita então E não possui base algebrica enumerável. Demonstração. Suponhamos que exista uma base algébrica enumerável B = {vj : j ∈ N} de um espaço de Banach ∞ [ de dimensão infinita E. Neste caso E = Fn , onde cada Fn = [{v1 , . . . , vn }] . Por ter dimensão finita, cada Fn é n=1 fechado, e potanto pelo teorema de Baire, existe n0 ∈ N, tal que int (Fn0 ) 6= ∅. Isso é um abusrdo, pois Fn0 6= E por E ter dimensão infinita e subespaços próprios de espaços normados sempre tem interior vazio. A proposição 1 é consequência do: Teorema de Baire 1. Seja (M, d) um espaço métrico completo e (Fn )n∈N uma sequência de subconjuntos fechados de ∞ [ M tais que M = Fn . Então existe n0 ∈ N tal que Fn tem interior não-vazio. n=1 2 Classes Laterais e o Teorema de Lagrange Consideremos, a título de motivação para o conceito a ser introduzido aqui, um subgrupo não trivial H do grupo aditivo Z. Portanto H é necessariamente cíclico, ou seja, H possui um elemento n > 1 tal que H = [n] . Observemos então que quaisquer que sejam a, b ∈ Z : a ≡ b mod n ⇔ a − b ∈ H, fato esse que estabelece uma correspondência entre grupos de Z e as relações de congruência, módulo n, sobre Z. Essa observação pode ser generalizada, como veremos a seguir, para um grupo arbitrário (G, ∗) e para um subgrupo arbitrário H de G. Proposição 2. Seja G um grupo e H ⊂ G um subgrupo. (i) a relação ≈ sobre G definida por a ≈ b ⇔ a−1 b ∈ H, é uma relação de equivalência. (ii) Se a ∈ G, então a classe de equivalência determinada por a é o conjunto aH = {ah|h ∈ H} . Demonstração. Provaremos somente o item (ii). Lembremos que a = x ∈ G|x−1 a ∈ H . Então dado x ∈ a, tem-se x−1 a = h, para um conveniente h ∈ H. Daí,x = ah−1 e, portanto, x ∈ aH, uma vez que h−1 ∈ H. Por outro lado, se x ∈ aH, então x = ah, par algum h ∈ H. Daí, x−1 a = h−1 ∈ H e, portanto, x−1 a ∈ H. De onde, x ∈ a. Dessas duas conclusões, segue que a = aH. Definição 3. Para cada a ∈ G, a classe de equivalência aH definida pela relação ≈ introduzida na proposição 2 é chamada de classe lateral à direira, módulo H, determinada por a. Uma decorrência imediata da proposição anterior é que o conjunto das classes laterais à direita, módulo H, determina uma partição em G, ou seja: (i) se a ∈ G, então aH 6= ∅; (ii) se a, b ∈ G, então aH = bH ou aH ∩ bH = ∅; (iii) a união de todas as classes laterais é igual a G. 3 Proposição 3. Seja H um subgrupo de G. Então duas classes laterais quaisquer módulo H são subconjuntos de G que têm a mesma cardinalidade. Demonstração. Sejam a, b ∈ G, e considere as classes aH e bH. Defina f : ah ∈ aH → bh ∈ bH, segue que f é bijetora, de fato: (i) (injetora) Se h1 , h2 ∈ H e f (ah1 ) = f (ah2 ), tem-se bh1 = bh2 , consequentemente h1 = b−1 (bh1 ) = b−1 (bh2 ) = h2 . (ii) (sobrejetora)Seja y ∈ bH. Então tomando x = ah, tem-se: f (x) = f (ah) = bh = y. Se G é um grupo finito, então o conjunto quociente G/H também é finito. O número de elementos distintos de G/H é chamado índice de H em G e é denotado por (G : H) . Teorema de Lagrange 1. Seja H um subgrupo de um grupo finito G. Então o (G) = o (G : H) e, portanto, o (H) |o (G) . Demonstração. Suponhamos (G : H) = r e seja G/H = {a1 H, a2 H, . . . , ar H} . Então, G= r [ ai H e ai H ∩ aj H = ∅, i 6= j. i=1 Mas devido proposição 3, o número de elementos de cada uma das classes laterais é igual ao número de elementos de H, ou seja, é igual a o (H) . Portanto: o (G) = o (H) + . . . + o (H) , em que o número de parcelas é r = (G : H) . De onde: o (G) = (G : H) o (H) e o (H) |o (G) . Corolário 1. Seja G um grupo finito. Então a ordem de um elemento a ∈ G divide a ordem de G e o quociente é (G : H) , em que H = [a] . Demonstração. Basta lembrar que a ordem de a é igual à ordem de [a] e que, devido ao teorema de Lagrange: o (G) = (G : H) o ([a]) . Corolário 2. Se a é um elemento de um grupo finito G, então ao(G) = e, onde e é o elemnto neutro de G. Demonstração. Seja h a ordem de a. Portanto, h é o menor inteiro estritamente positivo tal que ah = e. Mas, devido ao corolário anterior: o (G) = (G : H) h em que H = [a] . Portanto: ao(G) = a(G:H)h = ah 4 (G:H) = e(G:H) = e. Corolário 3. Seja G um grupo finito cuja ordem é um número primo. Então G é cíclico e os únicos subgrupos de G são os triviais, ou seja, {e} e o próprio G. Demonstração. Seja p = o (G) . Como p > 1, o grupo G possui um elemento a diferente do elemento neutro. Assim, se H = [a] , o teorema de Lagrange garante que o (H) |p. Logo, o (H) = 1 ou p e, portanto, H = {e} ou H = G. Como a primeira dessas hipóteses é impossível, então G = H e, portanto, G é cíclico. Por outro lado, se J é um subgrupo de G, então, ainda devido ao teorema de Lagrange, o (J) |o (G) . Daí, o (J) = 1 ou p e, portanto, J = {e} ou J = G. Exemplo 1. Seja G um grupo de ordem pn , em que p é um número primo e n > 1. Mostre que a ordem de um elemento qualquer de G é uma potencia de p. Solução: Seja a ∈ G, se a for o elemento neutro o resultado é imediato, se a 6= e, consideremos o subgrupo H = [a] , então pelo teorema de Lagrange a o (H) divide o (G) , portanto o (H) = pα , onde α ∈ N e 1 ≤ α ≤ n. E pelo fato de o (H) = o (a) , concluímos o resultado. Poderíamos agora nos indagar se a recíproca do teorema de Lagrange é verdadeira, isto é, se G é um grupo finito e m dividi a ordem de G então G adimite um subgrupo H de ordem m. A resposta para essa questão é não, um contraexemplo pode ser encontrado no grupo S4 grupo simétrico de grau 4. Referências [1] Domingues, Hygino H. Álgebra Moderna. Atual Editora,2003. [2] Mirian Pereira Mendes, Roberta Godoi Wik Atique, Valdir Antonio Menegatto, notas didáticas de álgebra linear USP, 2003. [3] Geraldo Botelho, Daniel Pellegrino e Eduardo Teixeira, Fundamentos de análise funcional, SBM,2012. 5