Lucros voltam, mas não conseguem dinamizar a economia real em muitos países avançados GENEBRA (Notícias da OIT) – A incapacidade de transformar lucros em investimentos nas economias avançadas atrasa a recuperação do emprego, de acordo com o relatório O Mundo do Trabalho, da OIT. O relatório conclui que as economias avançadas contribuíram com pouco mais de um terço do investimento global em 2012, em comparação com mais de 60 por cento em 2000. Ao mesmo tempo, o crescimento do emprego continua fraco nesses países e os níveis de emprego permanecem abaixo dos níveis pré-crise. Por outro lado, as economias emergentes responderam por quase 47 por cento do investimento global em 2012, em comparação com apenas 27 por cento em 2000. O emprego cresceu cerca de 7 por cento, em média, entre 2007 e 2012. Globalmente, o investimento é um ponto percentual abaixo dos níveis pré-crise. Nas economias avançadas, o investimento é de três pontos percentuais abaixo dos níveis précrise. "Há uma clara relação entre o investimento e o emprego. Melhorar a atividade de investimento é crucial para permitir que as empresas aproveitem as novas oportunidades para se expandir e contratar novos funcionários", disse Raymond Torres, diretor do Instituto Internacional de Estudos do Trabalho da OIT. A participação nos lucros para a economia total aumentou 3,4 pontos percentuais nos países do G20 de renda média, e em 2,2 pontos percentuais em países do G20 de alta renda. Apesar deste aumento, o investimento nos países de alta renda do G20 diminuiu 3,6 pontos percentuais no mesmo período. O aumento das margens de lucro também se reflete nos índices globais de ações de mercado, que, em vários casos, chegaram perto - ou ultrapassaram - máximos históricos. Desde o início de 2009, os índices de mercados globais de ações dobraram. As margens de lucro das grandes empresas têm aumentado desde 2008 e estão agora em níveis semelhantes aos alcançados entre 2004 e 2007. Mas ao invés de colocar esses lucros em investimentos produtivos na economia real, o aumento da receita foi mais frequentemente canalizado para outros investimentos. As participações de empresas cotadas em bolsa, nos países avançados, nas economias emergentes e em desenvolvimento, aumentaram de 2,3 trilhões de dólares em 2000 para 5,2 trilhões em 2008 e continuaram a subir ainda mais durante a crise, atingindo 6,5 trilhões de dólares em 2011. Já as pequenas empresas não se saíram tão bem, com margens de lucro mais de 40 por cento abaixo da média alcançada entre 2004 e 2007. "Houve uma polarização crescente entre pequenas e grandes empresas em termos de rentabilidade. Isto é de particular interesse como empresas de pequeno e médio porte, normalmente responsáveis por significativa criação de emprego", disse Torres. A redução do acesso ao crédito, especialmente para as pequenas empresas, é um grande obstáculo ao investimento. O relatório conclui que "as empresas financeiramente limitadas estão investindo apenas a metade de seus ativos, afetando negativamente a criação de emprego". Muitas empresas de pequeno e médio porte continuam a relatar uma maior restrição dos critérios de concessão de crédito. O relatório sugere que o investimento está sendo inibido por falta de demanda global por bens e serviços, bem como por uma falta de confiança no futuro econômico. A remuneração dos executivos em grandes empresas tem se mostrado resistente à crise. Em países com dados disponíveis, os salários dos executivos voltaram aos níveis prérecessão e, em alguns casos, ultrapassou. Na Alemanha e em Hong Kong, por exemplo, a média dos ganhos de um executivochefe das maiores empresas cresceu mais de 25 por cento entre 2007 e 2011. Como resultado, a média dos ganhos cresceu de 155 para 190 na Alemanha e de 135 a cerca de 150 em Hong Kong. Em 2011, os EUA, os CEOs das maiores empresas ganharam, em média, 508 vezes o salário do trabalhador médio americano. Entre as maiores empresas examinadas, os prêmios calculados com base na rentabilidade a curto prazo representam mais de um terço da remuneração total média e mais de dois terços se for somado o pagamento em ações. O relatório sublinha a necessidade de voltar a concentrar-se na economia real e apela para a adoção de medidas para reduzir a incerteza econômica e incentivar o investimento - o que resulta em efeitos positivos sobre a demanda agregada e a criação de emprego. O estudo aponta para uma grande variedade de exemplos de medidas para restaurar o crescimento do investimento, tais como: • • • • Melhorar o tratamento fiscal dos lucros utilizados para o investimento produtivo. Investimento público em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento em “projetos verdes”. Isso é ilustrado pelas tendências recentes em vários países latino-americanos, a China e a República da Coreia. Melhorar a regulamentação financeira para que o crédito fique disponível para projetos viáveis, especialmente em pequenas e médias empresas, que podem criar mais empregos. Esta pode assumir várias formas, desde os bancos de desenvolvimento, como no Brasil, para melhorar a regulação financeira dos bancos comerciais como na Austrália e na Turquia, por exemplo. Melhorias na governança corporativa, incluindo o alinhamento da remuneração dos executivos com as preocupações de equidade e eficiência. A União Européia e a Suíça anunciaram reformas nesse sentido recentemente.