Abre-te, cérebro - Revista Diálogos

Propaganda
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
Abre-te, cérebro! O tudo que cabe nas palavras de Arnaldo
Antunes
Hernany Tafuri i
UFJF
RESUMO: Pretende-se, neste texto, apresentar as intersecções, influências e
entremeios aos quais a produção poética de Arnaldo Antunes está sujeita,
passando por movimentos de Vanguarda e Pós-vanguarda como Antropofagia,
Concretismo e Tropicália, tomando como base para análise poemas presentes
em seus três primeiros livros – Psia, Tudos e As Coisas.
Palavras-chave: Poesia brasileira. Arnaldo Antunes. Interdisciplinaridade.
Antropofagia.
Arnaldo Antunes, surfista canibal
“Qual a graça de surfar o caminho mais curto entre dois
pontos?”1
Neste texto, serão abordadas, tomando como base para
análise de seus três primeiros livros – Psia; Tudos e As coisas –,
algumas produções poéticas de Arnaldo Antunes em suas
inúmeras afetações, influências, suas vozes cruzadas entre música
e poesia – poeta/músico ou músico/poeta? Pergunta que não cabe,
sem valor, tampouco uma resposta conclusiva há, o que só
serviria para rotular suas construções ou armazená-las em
prateleiras separadas – disco/livro; livro/disco. Antunes envolve
sua poesia em características de movimentos de Vanguarda e
1
GESSINGER, Humberto. Nas entrelinhas do horizonte. Caxias do Sul: Belas
Letras, 2012, p. 59.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
6
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
Pós-vanguarda, “sua obra representa uma reinterpretação da
antropofagia precisamente porque converge a literatura em
relação às outras artes por meio de uma intersecção de gêneros e
meios”2, além de ser fortemente marcada pela estética
Concretista, Antunes surfa ondas distintas na mesma onda,
equilibra-se em junções oportunas e proveitosas – cultura pop,
cinema, artes plásticas, tal qual um tropicalista –, desliza, domina
os movimentos através e a partir de cada traço que o leva da
crista da onda à areia da poesia.
Arnaldo compromete-se, a partir da recepção do leitor,
com a retomada dos sentidos, dialogando com vários meios de
percepção, valendo-se das páginas de seus livros como espaços a
serem explorados, esgotados, seja com poemas que tomam toda a
dimensão do papel, seja com os “espaços vazios” maiores que o
texto – Antunes formata seus poemas em busca de uma estética
que possa ser lida junto às suas palavras-coisas: seus poemas são
objetos construídos pela linguagem; faz do meio, mensagem.
Pode-se afirmar que a poética de Arnaldo Antunes
destaca-se no contexto do final do século XX de uma maneira
muito singular por ser desenvolvida conciliando poesia visual,
música, minimalismos e arquitetadas transgressões sobre a
linguagem, cujo tom, por vezes infantil, transcende o óbvio em
inusitado. É explorando o potencial do signo linguístico que
Antunes alcança o lugar exato entre som e silêncio, palavra e
imagem, elevando ao status de “coisa” a palavra empregada.
Como nos diz Décio Pignatari:
O signo verbal forma um sistema dominante de
comunicação. Quer dizer: todo mundo transa,
todo mundo usa, todo mundo trabalha com o
signo verbal. [...] E aí é que está: o poeta não
2
SANTOS, Alessandra. Arnaldo Canibal Antunes. São Paulo: nVersos, 2012,
p. 16.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
7
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
trabalha com o signo, o poeta trabalha o signo
verbal.3
Para ilustrar o processo de “coisificação” ao qual Antunes
impõe suas palavras, destaca-se o poema Nuvem/Lua4 (figura 1),
o qual se encontra no livro Psia, de 1986. Nele, observamos o
conceito de signo presente nos estudos de Semiótica, o qual nos
diz que signo é toda e qualquer coisa que substitua ou represente
outra, que se organize ou tenda a organizar-se sob a forma de
linguagem. Para Arnaldo, não basta a representação simbólica: as
palavras passam a ser as coisas; o a da palavra lua toma forma de
uma lua cheia coberta pela nuvem que passou a ser o m de nuvem.
O autor oferta às palavras a possibilidade de se re-apegarem às
coisas que representam, elevando sua forma visual e sua carga
semântica. Linguagem carrega de sentido à enésima potência.
Fig. 1 Poema Lua/Nuvem
3
PIGNATARI, Décio. O que é comunicação poética. São Paulo: Brasiliense,
1987, p. 8.
4
ANTUNES, Arnaldo. Psia. 5ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2001, p. 20.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
8
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
Surfando, ainda, outra onda de Psia, chega-se ao poema
“O que” (Figura 2). Em 1986, ano de publicação da primeira
edição desse livro, a banda de rock paulistana Titãs, da qual
Antunes foi um dos vocalistas e compositores por dez anos, entre
1982 e 1992, lança o clássico disco “Cabeça Dinossauro” tendo
como faixa final “O que”. Poema ou letra de música? Poema e
letra de música! Tratando-se de Arnaldo Antunes, poemúsica.
5
Fig. 2 Poema O que
O que6
Que não é o que não pode ser que
não é o que não pode
ser que não é
O que não pode ser que não
É o que não
Pode ser
Que não
É!
5
6
ANTUNES, Arnaldo. Psia. 5ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2001, p. 32.
Titãs. Cabeça dinossauro. São Paulo: WEA, 1986, faixa 13.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
9
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
O que não pode ser que
Não é o que não pode ser
Que não é o que
O que?
O que?
O que?
Que não é o que não pode ser
Que não é o que não pode ser
Que não é o que não pode ser que não é (2x)
“Mas o que pode acontecer a alguém que, propondo-se a
escrever um poema, e no curso mesmo de sua escrita, de algum
modo, é tocado pelo ambiente de uma tourada?” 7 A essa
pergunta, encontra-se a resposta no texto É preciso aprender a
ficar (in)disciplinado, de André Monteiro.
Emprestando-a como ponto de partida, tentarei mergulhar
no processo de composição de Arnaldo Antunes com relação ao
poema e à música “O que”, como já dito, ambos aparecidos em
1986, no livro de poesias “Psia” e no disco “Cabeça dinossauro”
dos Titãs. Por que Arnaldo poeta diferir-se-ia de Antunes
músico? Em quê? Seu trabalho criativo é autofágico,
antropofágico, devorador titânico dos vazios entre música e
poesia, autoafetado, performaticamente preciso. Nas diferenças,
há vida em movimento, comunhão em exercício de viver. A vida
sempre mesma é vida mansa que não passa cansa, mofa, dá
pança, não cria, chia, geme sem gozar. Manca. “E a vida não é
sempre outra?”8 Viver é dar via à “potência; o desejo de expandir,
o poder de criar, de crescer, de vencer as resistências é que
impulsiona o movimento da vida.”9 Movimento sugerido ao leitor
para uma efetiva participação e entrada no poema: girar o livro
360 graus; escolher o ponto de partida e o ponto de término da
7
MONTEIRO, André. É preciso aprender a ficar (in)disciplinado. 2012, p.2.
ibid. p. 2.
9
DIAS, Rosa. Nietzsche, vida como obra de arte. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2011, p. 37-38.
8
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
10
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
leitura; eleger os versos que comporão o poema; libertar as
múltiplas almas/versos que coabitam o corpo/edifício/poesia, já
que “O mesmo texto permite inúmeras exegeses: não há nenhuma
exegese correta”10.
Já a letra é fluidamente condicionada à estrutura rítmica
da música – rock/funk/reggea/punk? – compasso passo a passo
tendo como ponto de partida seu título (O que), que não aparece
no livro. Arnaldo titânico parte de um que inicial e nele termina
para dar a primeira volta ao círculo poético – círculo sem luz11 a
se iluminar; depois, prossegue, arrebentando-o, produzindo
fissuras, entremeios e ocos entre o silêncio da fala e a batida da
bateria e solos de guitarra. O poeta canta seu texto que não é
obra, antes, é um dentro/fora de si em si aos/nos outros, no livro
lendo o leitor, no palco, cantando-se catado pelo rompimento e
sobreposicionamento de suas possibilidades. Antunes é um poeta
outro
dentro
do
poeta
mesmo,
deglute-se
auto(antro)pofagicamente rumina-se músico/poeta ator de
disciplinas indisciplinadas, fortemente marcadas por suas
peculiaridades, entretanto, frutos de forças que co-agem, ao agir
com e para a criação. “Só me interessa o que não é meu”12 é
digerido, gestado, gerando um interessa-me o meu tanto quanto à
medida que Antunes age não apenas como um canibal
antropofágico, também autofagicamente, a devorar-se, nutrindose de sua própria produção. “O que” é poema musicado e música
(letra) estanque no papel, a espera do movimento que o leitor a
ela dará. Dilui-se o dilema do começo deste artigo. Não há
rótulos capazes de aprisionar seu texto, pois em construção
infinita, onda dentro da onda dentro da onda (etc) – no concreto a
10
NIETZSCHE, Friedrich. Fragmentos Finais. Brasília: Editora UnB, 2002,
p.155.
11
PUCHEU, Alberto. “O dia em que Gottfried Been pegou a onda”. In
MONTEIRO, André. É preciso aprender a ficar (in)disciplinado. 2012, p.6.
12
ANDRADE, Oswald de. “O Manifesto antropofágico”. In: TELES, Gilberto
Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro: apresentação e
crítica dos principais manifestos vanguardistas. 3ª ed. Petrópolis: Vozes;
Brasília: INL, 1976, p. 3.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
11
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
inventa-las como um esqueitista – como se segurasse um espelho
em frente a outro espelho e as imagens jamais findassem. Reflexo
no/do reflexo.
Silêncio que se lê
Toma-se, agora, o livro “Tudos”, publicado em sua
primeira edição em 1990, como exemplo de transformação, ou
releitura, tropicalista, numa recuperação antropofágica. Destacase que o livro não possui numeração de página e os poemas que o
compõe são desprovidos de título. O texto escolhido para a
ilustração proposta diz:
Eu apresento a página branca.
13
Contra:
Burocratas travestidos de poetas
Sem-graças travestidos de sérios
Anões travestidos de crianças
Complacentes travestidos de justos
Jingles travestidos de rock
Estórias travestidas de cinema
Chatos travestidos de coitados
Passivos travestidos de pacatos
Medo travestido de senso
Censores travestidos de sensores
Palavras travestidas de sentido
Palavras caladas travestidas de silêncio
Obscuros travestidos de complexos
Bois travestidos de touros
Fraquezas travestidas de virtudes
Bagaços travestidos de polpa
Bagos travestidos de cérebros
Celas travestidas de lares
Paisanas travestidos de drogados
Lobos travestidos de cordeiros
13
ANTUNES, Arnaldo. Tudos. 7ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2007.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
12
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
Pedantes travestidos de cultos
Egos travestidos de eros
Lerdos travestidos de zen
Burrice travestida de citações
água travestida de chuva
aquário travestido de tevê
água travestida de vinho
água solta apagando o afago do fogo
água mole sem pedra dura
água parada onde estagnam os impulsos
água que turva as lentes e enferruja as lâminas
água morna do bom gosto, do bom senso e das
boas intenções
insípida, amorfa, inodora, incolor
água que o comerciante esperto coloca na garrafa
para diluir o whisky
água onde não há seca
água onde não há sede
água em abundância
água em excesso
água em palavras.
Eu apresento a página branca.
A árvore sem sementes.
O vidro sem nada na frente.
Contra a água.
O primeiro verso do poema (Eu apresento a página
branca.) remete-nos ao Abismo/branco d’“Um Lance de dados”,
texto de Mallarmé cuja proposta estética constitui-se um alicerce
para a poesia concreta em sua espacialização visual; seus
quarenta versos seguintes constituem-se uma releitura de dois
poemas canônicos da literatura brasileira: “Profissão de Fé”, de
Olavo Bilac, o qual representa uma espécie de plataforma teórica
do Parnasianismo no Brasil, embora o movimento já estivesse
implantado quando de sua publicação, e da “Poética” de Manuel
Bandeira, ainda que publicado apenas em 1930 (portanto oito
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
13
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
anos após a Semana de Arte Moderna), constitui-se de uma
representação tardia da poesia modernista brasileira; nele,
Bandeira, ao mesmo tempo em que propõe uma nova poética,
critica a poesia tradicional, ainda vigente, numa relação de
deglutição do poema de Bilac. Influenciado pelo movimento
Tropicalista, cujos traços marcantes “incluem uma atitude
carnavalizante; a paródia oswaldiana; o kitsch; uma crítica aos
valores ético-morais e estéticos da cultura brasileira; uma
apropriação da arte pop norte-americana, assim como das
vanguardas brasileiras; e traços da cultura marginal e
underground.”14, Antunes transporta para seu tempo, sua poética,
suas palavras, o que fora abordado em outro momento. Na
sequência, os quatro versos que fecham o poema apresentam
silêncios a serem lidos, como o branco da página que interage
com as letras/palavras que a preenchem, meio como mensagem,
árvore sem sementes, o vidro sem nada na frente contra a água:
aquário em que água e peixe têm o mesmo valor.
Abre-te, cérebro!
Chegando ao terceiro livro de Antunes, “As coisas”, cuja
primeira edição data de 1992, une-se a estética concretista, como
vimos anteriormente com o uso do espaço gráfico, do espaço em
branco, e acrescenta-se o uso, como recurso, do posicionamento
das linhas tipográficas, a já comentada apropriação da arte pop
norte-americana, pois a “produção cultural da Tropicália
valorizava elementos populares e marginais da cultura brasileira e
a valorização intensa pela produção estrangeira, especialmente a
produção e disseminação dos meios de comunicação de massa.” 15
Nos textos presentes naquele livro, existe uma proposital
variação tipológica a fim de preenchimento da página em que o
poema está inserido. Os menores textos são apresentados em
14
SANTOS, Alessandra. Arnaldo Canibal Antunes. São Paulo: nVersos, 2012,
p. 60.
15
ibid. p. 64-65.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
14
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
letras maiores, assim ocupando todo o espaço da página; os
maiores, numa ordem inversa, são apresentados em fonte menor.
Destaca-se que todos os 42 poemas possuem fluência (de leitura)
prosaica e estrutura estética que reproduzem versos, gerando uma
intersecção entre prosa e poesia, “uma estruturação ótico-sonora
irreversível e funcional e, por assim dizer, geradora da ideia,
criando uma entidade todo-dinâmica, ‘verbivocovisual’ – é o
termo de Joyce – de palavras dúcteis,...”16. Outra característica
marcante desse compêndio: cada poema é precedido por uma
ilustração de Rosa Moreau Antunes, filha de Arnaldo, as quais –
42, como os poemas –, funcionam como seus títulos, aos quais se
tem acesso somente através do índice do livro. Antunes compõe
seus textos a partir das ilustrações de sua filha, numa vinculação
nítida e direta entre imagem e poesia.
O primeiro poema, intitulado Abertura17(Figura 3),
consiste em uma narrativa curta, porém, carregada de referências
ao universo pop, cinema e literatura universal. Quanto à sua
disposição na página, conforme apontado anteriormente, o texto
transborda ao ocupar todo o espaço branco, inclusive
predominando sua forma em prosa aos termos de separação
silábica em palavras que não cabem numa linha e se quebram a
outra. Há um empréstimo/roubo, já que dos nove versos que
compõem o poema, os oito primeiros são uma intersecção com o
conto Ali Babá e os quarenta ladrões presente no livro As mil e
uma noites. O último verso – Abre-te, cérebro! – remete à célebre
frase/password “Abre-te, sésamo!”, usada pelo líder dos ladrões
para acessarem a caverna onde escondiam seus tesouros. No
poema, funciona em ausência no comparativo das palavras
sésamo e cérebro. O Desenho de Rosa Moreau Antunes apresenta
um homenzinho de olhos arregalados, olhando para o alto, como
que representando o susto de Ali Babá ao ver a rocha que
separava os ladrões de seus tesouros se mover após a ordem de
seu líder.
16
17
ibid. p. 51.
ANTUNES, Arnaldo. As Coisas. 6ª ed. São Paulo: Iluminuras, 1998, p. 10.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
15
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
F
i
g
.
3
:
P
o
ema Abertura
Ao contrário da pedra drummondiana presente em
“No meio do caminho”, as pedras que formam as portas que
separam Ali Babá do interior da caverna são um convite a um
tesouro sem tamanho, ao passo que, a pedra do poeta itabirano
trava a leitura propositalmente, impedindo que o leitor avance no
caminho/poema. Abre-te, cérebro! também funciona como um
convite, porém, com uma advertência que leio da seguinte forma:
“Caro leitor, agora que pronunciadas essas palavras encantadas,
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
16
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
tire seu cérebro do piloto automático e entregue-se a uma leitura
potente!” A chave ao “tesouro” é entregue logo de abertura, a
anunciar as possibilidades de uma leitura participativa, à mercê
das vontades de seus leitores.
Tudos
Para finalizar essa breve análise de algumas produções do
artista multimidiático Arnaldo Antunes e seus entrecruzamentos,
parte-se do terceiro livro – As coisas –, cujo título por si só já nos
dá a dimensão que pretendíamos explicitar: coisas nascidas de
palavras. Traçando um paralelo entre esse livro e o apresentado
no item 2 deste texto, toma-se como exemplo o poema intitulado
tudo18 (Figura 4), referência direta ao título Tudos, o qual
sintetiza bem a poética de Antunes e o objeto proposto, e
desejado, como central deste trabalho de pesquisa: a palavra em
constante mutação.
Fig. 4: Poema Tudos
Como nos diz o poeta, tudo cabe na palavra, até o objeto que ela
evoca. Antunes rompe a palavra destacando aos olhos do leitor o
18
ANTUNES, Arnaldo. Tudos. 7ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2007, p. 24-25.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
17
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
objeto que dela transborda, fá-la coisa, desnuda suas vísceras até
que sua representação esteja à mostra. “E tudo isso é também um
jeito de ver e escrever as coisas meio ao contrário, pelo lado de
onde elas não são ordinariamente vistas: pelo lado de dentro.”19
Com esses breves apontamentos, conclui-se que Arnaldo
Antunes trabalha com a palavra enquanto som, forma visual e
carga semântica. Assim falava Décio Pignatari: O olhouvido
ouvê.20
Referências:
AMARAL, Jorge Fernando Barbosa do. Arnaldo Antunes – O
corpo da palavra. 2009. Dissertação (Mestrado em Letras) –
Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
ANDRADE, Oswald de. “O Manifesto antropofágico”. In:
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo
brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos
vanguardistas. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976.
ANTUNES, Arnaldo. As Coisas. 6ª ed. São Paulo: Iluminuras,
1998.
–––––––––––––––––. Como é que chama o nome disso. São
Paulo: PubliFolha, 2006.
–––––––––––––––––. Psia. 5ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2001.
–––––––––––––––––. Tudos. 7ª ed. São Paulo: Iluminuras, 2007.
19
JAFFE, Noemi (Org.). Melhores Poemas de Arnaldo Antunes. São Paulo:
Global Editora, 2010, p.11.
20
CAMPOS, Augusto de; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo de. Teoria
da Poesia Concreta. São Paulo: Brasiliense, 1987.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
18
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
ARÊAS, Vilma (Org.). Cacaso Não quero prosa. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 1997.
BANDEIRA, João (Org.). Arnaldo Antunes 40 Escritos. São
Paulo: Iluminuras, 2000.
FERNANDES JR, Antônio. Autoria, suporte e leitura na poesia
de Arnaldo Antunes: Esboço de análise. Linguagem – Estudos e
Pesquisas, Catalão, vol. 6-7, p. 30-41, 2005.
FERREIRA, Valéria Rosito. Poesia contemporânea em Arnaldo
Antunes: ventando as palavras, alforriando as coisas.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
JAFFE, Noemi (Org.). Melhores Poemas de Arnaldo Antunes.
São Paulo: Global Editora, 2010.
GESSINGER, Humberto. Nas entrelinhas do horizonte. Caxias
do Sul: Belas Letras, 2012.
LIMA, Vinícius Silva de. Tudo ao mesmo tempo agora: A poesia
multimídia de Arnaldo Antunes, Anais do 1º Colóquio
Internacional de Estudos Linguísticos e Literários e 4º Colóquio
de Estudos Linguísticos e Literários/Universidade Federal de
Maringá, Maringá, p. 11-22, jun. 2010.
MODRO, Nielson Ribeiro. A obra poética de Arnaldo Antunes.
1996. Dissertação (Mestrado em Letras) – Setor de Ciências
Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba.
PIGNATARI, Décio. O que é comunicação poética. São Paulo:
Brasiliense, 1987.
–––––––––––––––––. Semiótica & Literatura. São Paulo:
Cultrix, 1987.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
19
Abre-te, cérebro... Hernany Tafuri
POUND, Ezra. ABC da Literatura. São Paulo: Cultrix, 1970.
SACRAMENTO, Adriana R.. A Experiência das palavras em As
coisas, de Arnaldo Antunes. Estudos de Literatura Brasileira
Contemporânea, Brasília, n. 19, p. 3-20, mai/jun. 2002.
SALDANHA, Dariete Cruz Gomes. A Mobilidade do signo em
Arnaldo Antunes. RevLet – Revista Virtual de Letras, Jataí, v. 1,
n.
1,
p.
143-158,
disponível
em
<http://www.jatai.ufg.br/periodicoseletronicos>. Acesso em:
19fev.2013.
SANTOS, Alessandra. Arnaldo Canibal Antunes. São Paulo:
nVersos, 2013.
VOGUE, revista ed. 196. Poesia x Poesia. 1993. Entrevista com
Arnaldo Antunes e Haroldo de Campos disponível em:
<http://www.arnaldoantunes.com.br/new/sec_textos_list.php?pag
e=3&id=30>. Acesso em 24fev.2013.
i
Possui graduação em Letras - Português (2011), especialização em Ensino de
Língua Portuguesa (2012) e faz parte do Programa de Pós-Graduação em
Letras/Estudos Literários/Mestrado pela Universidade Federal de Juiz de Fora,
instituição da qual é servidor desde 2009 – Assistente em Administração. Tem
experiência na área de Letras, com ênfase em ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA. Publicou, em 2008, com apoio da Lei Municipal de Incentivo
à Cultura Murilo Mendes, do Município de Juiz de Fora, o livro de poemas
“Vertigens do tempo” o qual recebeu o prêmio de Melhor Livro Estrangeiro de
Poesia Jovem da Accademia Internazionale “IL Convívio” Castiglione di
Sicília (CT) – Itália. Em 2010, novamente com o apoio daquela Lei, publicou,
junto aos amigos Alexandre Vieira e Carolina Fellet, o livro de contos “III em
Contos”. Naquele ano, em edição do autor, publicou o volume de poemas
(Quebrando) Objetos inúteis pelo selo VirtualBooks. Incentivado por aquela
Lei de Incentivo à Cultura, em 2012 publicou mais um livro de poemas:
Gagueira da alma. É membro correspondente da Academia de Artes Ciências e
Letras da Ilha de Paquetá (AACLIP) desde o segundo semestre de 2012.
Revista Diálogos 11 – Abr/Mai 2014
20
Download