RESUMO DA DISSERTAÇÃO NUNES, Dalilla Pires, Fundação Universidade Federal do Tocantins, Avaliação da Nutrição de Arroz Irrigado Cultivado em Solos com Diferentes Texturas e seu Efeito na Sanidade e Produtividade de Grãos, Orientador: Hélio Bandeira Barros. Avaliadores: Rodrigo Ribeiro Fidelis, Rodrigo de Castro Tavares, Gil Rodrigues dos Santos. A cultura do arroz (Oryza sativa L.) vem assumindo um papel fundamental na alimentação humana de várias regiões do mundo, sendo considerada a fonte de 20% das calorias e 13% das proteínas consumidas no mundo. Objetiva-se com este estudo analisar o efeito da textura do solo na nutrição, sanidade e produtividade de grãos de arroz irrigado. O experimento foi conduzido no período da safra de 2012/2013 no Município de Formoso do Araguaia na região sudeste do estado Tocantins, em solos de várzea irrigada em uma parcela que apresentou solo com diferentes texturas. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados, em arranjo fatorial 2x6 com quatro repetições, sendo duas texturas de solo e seis coletas da parte aérea de planta. A cultivar de arroz irrigado utilizado foi a IRGA 424. As coletas do tecido vegetal das plantas foram realizadas, sendo a primeira amostragem 15 dias após a emergência (DAE) com intervalo de 15 dias após a primeira coleta, sendo feita as amostragens ate os 90 DAE. Foram avaliadas as seguintes características: teores de nutrientes na parte aérea da planta; número de plantas por m2; altura de plantas; comprimento da panícula; número de grãos por panícula; porcentagem de grãos chochos; massa de mil grãos; produtividade de grãos e porcentagem de grãos inteiros. A produtividade de cada tratamento foi determinada pela coleta e pesagem dos grãos de cada parcela e os resultados foram transformados para quilogramas por hectare. Foi avaliada a incidência de manchas dos grãos. Os teores de nutrientes na parte aérea foram influenciados pelas texturas do solo. As texturas do solo influenciaram, na sanidade e produtividade dos grãos. O solo com textura argilosa obteve maior produtividade 8329,33 kg ha-1 e menor incidência de mancha dos grãos. Palavras chave: Oryza sativa L.; Nutrição; Sanidade; Produtividade. 1 ABSTRACT OF DISSERTATION NUNES, Dalilla Pires, Federal University Fundation of Tocantins, Nutrition Assessment of Irrigated Rice Cultivated in Soils with Different Textures and its Effect on Health and Productivity Grain, Leader: Hélio Bandeira Barros. Examiners: Rodrigo Ribeiro Fidelis, Rodrigo de Castro Tavares, Gil Rodrigues dos Santos. The culture of rice (Oryza sativa L.) is assuming a key role in food from various regions of the world and is considered the source of 20 % of the calories and 13 % of protein consumed worldwide. Objective with this study was to investigate the effect of soil texture on nutrition, health and crop yield in irrigated rice . The experiment was conducted during the 2012/2013 season in the City of Formoso do Araguaia in southeastern Tocantins state in soils irrigated lowland in a plot that had soil with different textures. The experimental design was a randomized complete block design in a 2x6 factorial arrangement with four replications, two soil textures and six collections of the aerial part of the plant. The rice cultivar used was IRGA 424. The collections of plants from plant tissue were performed with the first sampling 15 days after emergence (DAE) with an interval of 15 days after the first collection, the samples being taken until 90 DAE. The following characteristics were evaluated : nutrient content in the aerial part of the plant , number of plants per m2, plant height, panicle length, number of grains per panicle, percentage of voids grains, thousand grain weight, grain yield and percentage whole grain. The yield of each treatment was determined by collecting and weighing the grain from each plot and the results were converted to kilograms per hectare. Incidence of staining of the grains was evaluated. Nutrient contents in shoots were influenced by soil textures. The ground textures influence on health and productivity of grain. The clayey soil had higher productivity 8329,33 kg ha- 1 and a lower incidence of grain stain. Key words: Oryza sativa L.; Nutrition,; Health; Productivity. 2 INTRODUÇÃO GERAL O arroz é considerado o alimento de maior importância econômica em muitos países em desenvolvimento e o aumento crescente de seu consumo impõe aos setores produtivos a busca de novas técnicas que possam aumentar a produção. O Brasil é o nono maior produtor mundial e colheu 11,26 milhões de toneladas na safra 2009/2010. A produção está distribuída nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso, Maranhão e Tocantins. O cultivo de arroz irrigado, praticado na região Sul do Brasil contribui, em média, com 54% da produção nacional, sendo o Rio Grande do Sul o maior produtor brasileiro. O Brasil vai colher 14,12 milhões de toneladas de arroz na safra 2019/2020. Equivalem ao aumento anual da produção de 1,15% nos próximos dez anos (MAPA, 2012). No Estado do Tocantins, o arroz é uma cultura de grande importância socioeconômica. No ano agrícola 2012/2013 foram cultivados 119 mil hectares, com produção total de 565,7 mil toneladas, registrando aumento de 27,9% numa comparação com o ano anterior, em que foram produzidas 442,3 mil toneladas. O crescimento do arroz se deve ao aumento da produção de arroz irrigado, que já corresponde por mais de 80% da produção deste grão no Tocantins (CONAB, 2013). Na safra agrícola 2007/2008, foram cultivados cerca de 53 mil hectares de arroz irrigado, com rendimento médio de 4.481 kg.ha-1, enquanto que o arroz cultivado em terras altas teve área plantada de 107 mil hectares e a produtividade alcançou apenas 1.828 kg.ha-1. O cultivo do arroz de terras altas é distribuído por todo o Estado, enquanto o cultivo de arroz irrigado (inundação) está concentrado nas regiões centrooeste e, principalmente, sudeste, abrangendo os municípios de Cristalândia, Dueré, Formoso do Araguaia, Lagoa da Confusão e Pium (EMBRAPA, 2012). A textura do solo tem um papel importante nos processos físicos, químicos e biológicos, interferindo no funcionamento dos ecossistemas (BAYER et al., 2006; DILUSTRO et al., 2005; SYLVIA et al., 1999). A proporção relativa de areia, silte e argila define a classe textural do solo e modifica o potencial de estoque de nutrientes, carbono e capacidade de retenção de água nos solos (PAUL, 2007; 1965; SYLVIA et al., 1999). A textura é um dos principais indicadores da qualidade e produtividade dos solos (COX e LINS, 1984), não obstante também a importância dos atributos biológicos, químicos 3 e físicos (ROMING et al., 1995; SANCHEZ et al., 2003). O acúmulo de nutrientes na planta também tem influência da textura do solo (SANTOS et al., 2008). A nutrição é um dos principais fatores que afetam a produtividade das culturas vegetais. Assim, a utilização de técnicas de avaliação do estado nutricional das plantas apresenta importante papel no monitoramento e na adequação da oferta de nutrientes feita via adubação do solo na maioria das culturas de interesse econômico. Assim, o conhecimento das exigências nutricionais da cultura, nas diversas situações de cultivo, pode contribuir para o estabelecimento de fórmulas e recomendações de adubação mais racionais (GIUDICE et al., 1983; BARBOSA FILHO, 1987). A disponibilidade de nutrientes no solo pode ser considerada como um dos fatores responsáveis pela predisposição de plantas ao ataque de patógenos. Apesar da resistência da planta ser determinada geneticamente, o meio ambiente pode influenciar na expressão de genes que controlam tal resistência. A nutrição mineral é um dos fatores que mais afetam a resistência e ou susceptibilidade das plantas às doenças bem como a virulência dos fitopatógenos (HUBER, 1994). Em função do exposto, o presente trabalho foi realizado com objetivo de avaliar a nutrição de arroz irrigado cultivados em solos com diferentes texturas e seu efeito na sanidade e produtividade de grãos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BARBOSA FILHO, M.P. Nutrição e adubação do arroz (sequeiro e irrigado). Piracicaba, Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 129p. (Boletim Técnico, 9) 1987. BAYER, C.; MARTIN-NETO, L.; MIELNICZUK, J.; PAVINATO, A.; DIECKOW, J. Carbon sequestration in two Brazilian Cerrado soils under no-till. Soil and Tillage Research, Amsterdam, NL, v. 86, p. 237-245, 2006. CONAB - COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. 11° Levantamento da safra 2012/2013. Disponível em <http://www.conab.gov.br/conabweb/index>. Acesso: Dez 2013. COX, F.R. e LINS, D.G. A phosphorus soil test interpretation for corn grown on acid soils varying in crystalline clay content. Comm. Soil Sci. Plant Anal., v.15, p.1481-1491, 1984. DILUSTRO, J. 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O experimento foi conduzido no período da safra de 2012/2013 no Município de Formoso do Araguaia na região sudeste do estado Tocantins, em solos de várzea irrigada em uma área de cultivo que apresentou solo com diferentes texturas. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados, em arranjo fatorial 2x6 com quatro repetições, sendo duas texturas de solo e seis coletas da parte aérea de planta. A cultivar de arroz irrigado utilizado foi a IRGA 424. As coletas do tecido vegetal das plantas foram realizadas, sendo primeira amostragem 15 dias após a emergência (DAE) com intervalo de 15 dias após a primeira coleta, sendo feita as amostragens ate os 90 DAE. Após as coletas, determinaram-se os teores de nutrientes (N, P, K, Ca, Mg, S, Fe, Mn, Mo, Zn, Cu) do tecido vegetal. Houve diferenças nos teores de nutrientes na parte aérea das plantas de arroz, quando se comparando as texturas do solo. Palavras chave: Oryza sativa L.; Nutrição. 7 ABSTRACT The nutritional requirement of rice is determined by several factors such as climatic conditions, soil type, cultivar planted, expected yield and cultural practices . The foliar based on the determination of the content of nutrients in the plant tissue during cultivation of the plants. However, the recommended time for leaf analysis, the flowering stage, no longer allows fertilization corrections are carried out within the cultivation cycle, generating only, additional information for the next crop. The aim of this study was to determine the influence of soil texture on nutrient levels in the leaves of rice (Oryza sativa L.) irrigated. The experiment was conducted during the 2012/2013 season in the City of Formoso do Araguaia in southeastern Tocantins state in soils irrigated lowland cultivation in an area that presented with different soil textures. The experimental design was a randomized complete block design in a 2x6 factorial arrangement with four replications, two soil textures and six collections of the aerial part of the plant. The rice cultivar used was IRGA 424 . The collections of plants from plant tissue were performed , with the first sampling 15 days after emergence (DAE) with an interval of 15 days after the first collection, the samples being taken until 90 DAE. After collection , we determined the levels of nutrients (N , P , K , Ca , Mg, S, Fe, Mn, Mo, Zn, Cu) in plant tissue. There were differences in nutrient contents in shoots of rice plants, when comparing the ground textures . Key words: Oryza sativa L.; Nutrition. 8 INTRODUÇÃO A exigência nutricional do arroz é determinada por vários fatores como condições climáticas, tipo de solo, cultivar plantada, produtividade esperada e práticas culturais adotadas. A nutrição é um dos principais fatores que afetam a produtividade das culturas vegetais. Assim, a utilização de técnicas de avaliação do estado nutricional das plantas apresenta importante papel no monitoramento e na adequação da oferta de nutrientes feita via adubação do solo na maioria das culturas de interesse econômico. A eficiência nutricional expressa a relação entre a produção obtida e insumos aplicados, ou seja, a quantidade de matéria seca ou grãos produzidos por unidade de nutriente aplicado. De acordo com Graham (1984), esta eficiência pode ser definida como a produção relativa de um genótipo em solo deficiente em comparação com sua produção em nível ótimo de nutrientes. Israel e Rufty Júnior (1988) afirmam que eficiência nutricional é a relação entre a biomassa total e a quantidade de nutriente absorvido. O princípio de se usar o teor de nutrientes nas plantas como critério para avaliar o seu estado nutricional e o do solo foi posto em prática inicialmente por Lagatu e Maume (1934) e seguido por muitos outros desde então (BATAGLIA et al., 1986). A utilização da análise foliar como critério de diagnóstico baseia-se na premissa de existir relação entre o suprimento de nutrientes pelo solo e os seus níveis na planta e que aumentos ou decréscimos nas concentrações dos nutrientes se relacionam com produtividades mais altas ou mais baixas, respectivamente (EVENHUIS e WAARD, 1980). Na maioria das vezes, a folha é o órgão da planta onde as alterações fisiológicas devidas a distúrbios nutricionais se tornam mais evidentes. Segundo Malavolta e Malavolta (1988), a utilização da diagnose foliar permite a identificação de deficiências e excessos de nutrientes, a determinação de interações positivas e negativas entre elementos, o levantamento do estado nutricional da cultura em propriedades rurais e regiões, a determinação da eficiência de utilização de nutrientes por espécies e variedades, e a distinção entre desordens nutricionais e sintomas de pragas e moléstias. Além disso, segundo os mesmos autores, a diagnose foliar também pode proporcionar uma melhor avaliação da necessidade de adubação, complementando os dados da análise de solo, visto que a técnica consiste em se analisar o solo usando a planta como solução extratora. A absorção adequada de nutrientes pelas plantas de arroz está condicionada a processos fisiológicos inerentes aos cultivares utilizados (FAGERIA et al., 1995) e à sua 9 adaptabilidade à disponibilidade de água. Assim, o conhecimento das exigências nutricionais da cultura, nas diversas situações de cultivo, pode contribuir para o estabelecimento de fórmulas e recomendações de adubação mais racionais (GIUDICE et al., 1983; BARBOSA FILHO, 1987). A principal ferramenta para a estimativa da disponibilidade de nutrientes para as plantas é a análise de solo. Porém, por causa das alterações provocadas pelo alagamento do solo para o cultivo do arroz irrigado, é difícil estabelecer uma relação entre as análises químicas, antes do alagamento, e a disponibilidade de nutrientes no solo alagado (VAHL e SOUSA, 2004), dificultando a interpretação dos resultados. Assim, a análise foliar é uma ferramenta complementar à análise do solo, por permitir a determinação do teor dos nutrientes no tecido vegetal durante o cultivo das plantas (CQFS RS/SC, 2004). Em outras palavras, a diagnose foliar consiste em analisar o solo usando a planta como solução extratora (MALAVOLTA et al., 1997) e, com a análise da planta, é possível identificar corretamente se um dado nutriente está em nível suficiente ou deficiente, naquela época. A parte da planta requerida para amostragem é de grande importância, pois há diferenças no teor dos nutrientes entre folhas, caules e raízes (GIANELLO e BISSANI, 2004). Entre todos os órgãos da planta (raiz, caule, folhas e frutos), a folha é o que reflete melhor o estado nutricional. A quantidade de nutrientes nela encontrados é consequência do efeito de fatores de solo e planta que atuaram e, às vezes, interagiram entre si, até o momento em que o órgão foi colhido para análise (MALAVOLTA et al., 1997). Na maior parte dos casos, a concentração de nutrientes em folhas completamente expandidas de plantas é a melhor indicação do seu estado nutricional, refletindo a condição de fertilidade do solo (CQFS RS/SC, 2004). Objetivou-se com este trabalho avaliar a nutrição do arroz irrigado cultivado em solos com diferentes texturas. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi conduzido no ano agrícola 2012/2013, no Município de Formoso do Araguaia, sob as coordenadas geográficas 11°50’8.01”S e 49°39’19.81”W, na região sul do estado Tocantins, em solos de várzea irrigada. O experimento foi conduzido em área de cultivo comercial de arroz irrigado. Para demarcação das áreas a serem monitoradas, tomou-se como base o teor de argila do solo, com 10 base em análise. Foram feitas coletas de amostras de solos, das duas áreas para análise cujas características químicas e físicas encontram-se na (Tabela 1). Tabela 1 - Análise Química e Física dos solos utilizados no experimento SOLO Textura Argilosa Textura Média SOLO Textura Argilosa Textura Média Ca Mg Al H+Al K P(Mel.) MO S Zn 3 3 1 ---------- cmol dm- ----------- ----- mg dm- ---- dag kg- -- mg dm-3 -3,5 1,0 0,2 3,8 150 63,4 3,9 7,0 1,1 1,3 0,5 0,1 2,2 150 206,0 1,2 1,0 2,4 Cu Fe Mn Mo CTC pH Argila Silte Areia ------------ mg dm-3 ----------CaCl ----------- g kg-1 ---------T 0,8 44 2,4 0,08 8,68 4,9 372 13 615 0,7 63 3,2 0,09 4,38 4,6 198 12 790 O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, em arranjo fatorial 2x6, sendo dois tipos de solo e seis coletas da parte aérea da planta. A semeadura foi realizada dia 22 de novembro 2012, utilizando a cultivar BR IRGA 424. Na semeadura utilizou-se 120 kg ha-1 de sementes, a adubação de base foi realizada no sulco de semeadura com 200 kg ha-1 de N, P2O5, K2O, com formulação 6-20-20. Foram feitas duas coberturas, sendo a primeira aos 7 DAE com 100 kg ha-1 de NPK na formulação 18-1818 e, a segunda aos 31 DAE com 50 kg ha-1 de ureia. Foram feitas três aplicações de adubo foliar, sendo a primeira aos 10 DAE com 1,0 l ha-1 de 10-08-08 do produto comercial niphokam, a segunda aos 61 DAE com 1,0 l ha-1 de nitron e a terceira aos 73 DAE com 1,0 l ha-1 de 0-20-20 de microxisto. O manejo de plantas daninhas, pragas e doenças foram realizados de acordo com o cronograma executado na propriedade. As coletas do tecido vegetal das plantas foram realizadas, sendo primeira amostragem aos 15 dias após a emergência (DAE) com intervalo de 15 dias após a primeira coleta, sendo feita as amostragens até os 90 DAE. Nas amostragens foram coletadas a última folha completamente expandida, sendo que na última coleta foi coletada a folha bandeira. No laboratório, as folhas foram limpas. A seguir, as partes das folhas foram secas em estufa de circulação forçada de ar, a 70-75°C, por 72 horas. Após secas, as amostras foram pesadas e moídas em moinho tipo Willey, passadas em peneira de 20 mesh e armazenadas em frascos hermeticamente vedados. A extração e determinação dos teores de N orgânico foi determinado pelo método de Nessler (JACKSON, 1965), após digestão sulfúrica (H2SO4 e H2O2), do tecido vegetal. No 11 extrato da digestão nitro-perclórica (HNO3 e HClO4), foram determinados: P, colorimetricamente, pelo método do molibdato; K, Ca, Mg, Mn, Mo, Fe, Cu, Zn e S, por espectrofotometria de emissão atômica. Os dados obtidos foram submetidos à análise de regressão, sendo utilizado o teste t para verificação dos coeficientes angulares (β). O software utilizado para análise estatística foi o software Sigmaplot 2000 (JANDEL SCIENTIFIC, 1999). RESULTADOS E DISCUSSÃO Analisando as épocas de amostragens, verificou-se tendência linear negativo (p<0,01) para as duas condições avaliadas (10 e 30% de argila no solo) (Figura 1). Aos 15 DAE, verificou-se teor de N na planta próximo a 50 g kg-1 de ms, em ambos os solos. Esses teores elevados podem ser explicados, possivelmente, pela realização de adubação nitrogenada em cobertura, que ocorreu aos sete dias após a emergência das plântulas. Até o final do período vegetativo da planta (aproximadamente 50 DAE), fase em que o N deve ser acumulado nos tecidos vegetais, verificou-se concentração deste elemento no tecido foliar dentro dos patamares citados na literatura (FAGERIA, 1984) como suficientes para produção de grãos, sendo o nível considerado como suficiente é de 26 a 42 g kg-1. A redução nos teores de N nas folhas com o crescimento da planta na fase vegetativa é um forte indicativo que houve pouco suprimento deste nutrientes, não sendo, portanto, suficiente para atender a demanda gerada pelo rápido incremento na área foliar, em virtude do perfilhamento. Verifica-se que no solo com textura média, a redução do teor de N foliar é mais acentuada, ou seja, obteve-se maior β, esta tendência pode estar relacionada com uma menor disponibilidade de nitrogênio proveniente da matéria orgânica do solo (Tabela 1). Resultados semelhantes foram obtidos por Fageria et al. (2003), para o cultivar Mética 1 de arroz irrigado. Considerando-se esses resultados, para avaliar o teor de N na parte aérea do arroz, deve-se levar em consideração a época da amostragem, pois as diferenças são significativas ao longo do ciclo. Segundo Ishizuka (1971), o teor de nitrogênio na planta e maior na fase inicial de crescimento, decrescendo ligeiramente com o tempo após a translocação e voltando crescer até a diferenciação do primórdio floral, em que novamente decresce até o estádio de 12 enchimento de grãos, quando o teor permanece quase constante até a fase de maturação fisiológica. Figura 1 - Teor de nitrogênio na parte aérea das plantas de arroz em diferentes DAE Independentemente da textura do solo, os menores teores de N foram obtidos quando coletou-se folhas bandeira, ou seja, após a emissão da panícula. Este comportamento pode ser relacionado com o fato de que este cultivar possui ciclo médio, com maior crescimento e, portanto, maior diluição do N no tecido vegetal. Isso remete a um cuidado maior na interpretação dos resultados da análise de tecido entre cultivares e épocas de amostragem, pois, o teor de N encontrado neste período mesmo estando baixo comparado com a primeira amostragem, no solo com textura argilosa ainda se encontra no nível considerado como suficiente pela CQFS RS/SC (2004), que é de 26 g kg-1 de N, no entanto o solo com textura média se encontra abaixo do nível adequado. Isso se deve, pois no solo com textura média, observou-se teores de matéria orgânica inferior ao observado no solo com textura argilosa. Resultados obtidos por Malavolta et al., (1983), mostram que aos 100 DAE houve uma queda significativa desse nutriente, devido a exportação para os grãos. Então aos 90 DAE esse decréscimo do nitrogênio se dá a exportação para os grãos Na avaliação dos teores de fósforo na parte aérea, ajustou-se equação cúbica (p<0,05) cúbico no solo com textura argilosa e textura média, com significância (p<0,05) (Figura 2). 13 Figura 2 - Teor de fósforo na parte aérea das plantas de arroz em diferentes DAE Ao longo do ciclo da cultura, verificou-se tendência de redução no teor de P no tecido vegetal nos dois solos. Trabalho realizado por Fageria et al. (2003), utilizando o cultivar de arroz irrigado JAVAÉ, também encontraram diminuição nos teores de P na parte aérea, ao longo do ciclo. O P, assim como o N, é um elemento móvel na planta e sua deficiência aparece primeiramente nas folhas mais velhas. Os teores de fósforo variaram entre as texturas do solos e épocas de avaliação, sendo que no solo com textura média, o teor de P foi maior do que no solo com textura argilosa. Entretanto, os teores de P em quase todas as coletas, foram menores que os preconizados como adequados pela CQFS RS/SC (2004) que é de 2,5 a 4,8 g kg-1. Aos 15 DAE, no solo com textura média, verificou-se níveis satisfatório de P (3,6 g kg-1). Isto pode ter ocorrido, provavelmente, em função de uma possível menor capacidade de adsorção deste elemento no solo, o que o torna disponível à planta, uma vez que, houve adubação de base (semeadura) contendo este elemento na formulação. Em solo de várzea, a inundação promove profunda modificação no ambiente químico e biológico. Ocorrendo a redução de óxidos de ferro que aumentam sua solubilidade e, por estarem diretamente ligados a dinâmica do fósforo, promovem sua dessorção e aumento da 14 labilidade de fósforo no solo (PONNAMPERUMA, 1972). Isso ocorrendo no solo com textura argilosa, pois se encontra mais óxidos de ferro do que em solos arenoso. Para o potássio o solo com textura argilosa apresentou comportamento linear negativo, (p<0,01) pelo teste t (Figura 3), para o solo com textura média houve comportamento cúbico. A faixa adequada de K se encontra entre 15 g kg-1 a 40 g kg-1 CQFS RS/SC (2004). A partir de 30 DAE, verificou-se que os teores foliares de K estavam inferiores ao mínimo recomendado, independentemente da textura do solo (Figura 3). Após a fase vegetativa (60 DAE aproximadamente) o potássio é direcionado a formação de grãos, tendo, portanto, sua concentração na folha reduzida naturalmente. Figura 3 - Teor de potássio na parte aérea das plantas de arroz em diferentes DAE Segundo Malavolta et al. (1997) essa diminuição dos teores dos nutrientes, na planta, ao longo do ciclo, está relacionada com o aumento da matéria seca da parte aérea com a idade das plantas, conhecido como efeito de diluição dos nutrientes Assim, considerando-se que a disponibilidade de nutrientes influencia o crescimento e o desenvolvimento das plantas, uma lavoura com baixa disponibilidade de nutrientes, consequentemente, apresentará baixa produção de matéria seca e menor efeito de diluição, ou seja, os teores de nutrientes poderão 15 ser iguais ou até maiores que os de plantas em lavouras com alta disponibilidade de nutrientes e produção de matéria seca. Para Ca, no tecido foliar, houve uma resposta linear positiva, em ambos os solos, sendo significativo a 1% (Figura 4). Menor concentração de Ca nas folhas foi observada no solo com textura média, sendo, portanto, em todas as coletas, superior ao recomendado. A faixa adequada de cálcio é 2,5 a 4 g kg-1 CQFS RS/SC (2004). Em todas as amostras o teor de Ca na folha foi superior a 4 g kg-1. Essas concentrações apesar de elevadas, então condizentes com observado na análise de solo e, ainda não são consideradas como tóxicas, uma vez que a toxidez ocorre a partir 8,5 g kg-1. Figura 4 - Teor de cálcio na parte aérea das plantas de arroz em diferentes DAE O acúmulo preferencial de cálcio pelas plantas se deu, provavelmente, porque a maior disponibilidade de cálcio no solo provocou sua aproximação às raízes em maior quantidade e, como o cálcio, magnésio e potássio são absorvidos pelos mesmos mecanismos na membrana celular, provavelmente sua absorção foi maior em relação aos demais cátions, diminuindo assim os teores de K na parte aérea (Figura 3). Moore et al. (1961), observaram que o excesso de Ca em relação ao Mg na solução do solo prejudicou a absorção do potássio, e vice-versa. Resultados semelhantes também foram obtidos por Gomes et al. (2002), que conduziram experimento com diferentes relações 16 Ca:Mg em casa de vegetação utilizando a alfafa como cultura teste, observaram que à medida que aumentava esta relação havia acréscimo nos teores de Ca na parte aérea. A planta de arroz apresenta baixa exigência em cálcio, o qual é absorvido do início ao fim do ciclo da cultura, especificamente até a etapa de grão pastoso, sendo proporcionalmente o nutriente menos exportado (KAWASAKI, 1995). Após o florescimento, o teor de cálcio aumenta nas folhas e colmos da planta, mas o aumento no teor é devido ao seu incremento na panícula (FORNASIERI FILHO e FORNASIERI, 1993; BARBOSA FILHO, 1987; PERDOMO et al., 1985; MALAVOLTA, 1980). Para os teores de magnésio ajustou-se regressão linear negativa (p<0,01). Os teores de Mg na planta se encontram em níveis adequados (1,5 a 3 g kg-1) durante todo o ciclo da cultura, em ambos os solos. Entretanto, na fase de formação e enchimento de grãos (75 DAE), os teores de Mg na folha se aproximaram dos níveis críticos. Figura 5 - Teor de magnésio na parte aérea das plantas de arroz em diferentes DAE Mesmo estando em níveis adequado houve um decréscimo nos teores de Mg na parte aérea da planta, isso pode ter ocorrido, provavelmente, devido a planta ter teores elevados de cálcio ocorrendo antagonismo com o magnésio, pois quanto maior a quantidade de cálcio na planta menor será o magnésio. Tal antagonismo entre Ca e Mg implica que o excesso de um desses elementos diminui a absorção do outro (FOX e PIEKIELEK, 1984). Estes resultados já 17 foram encontrados em outros estudos, onde se observou redução nos teores de Mg no tecido de soja e milho (KEY, KURTZ e TUCKER, 1961). Teores baixos de magnésio na planta podem influenciar na fotossíntese, pois o magnésio entra na composição da clorofila. Por ser um componente da clorofila tem grande importância na fotossíntese e também influi no metabolismo dos hidratos de carbono. É encontrado ionizado, combinado a ânions de ácidos orgânicos, como constituinte da parede celular, relacionado a muitos processos metabólicos e formando parte de moléculas essenciais como a clorofila, de maneira que está diretamente relacionado com a fotossíntese. (PROFIGEN, 2013). Para os teores foliares de enxofre, ajustou-se regressão linear com β negativo (p<0,01), em ambas as texturas. Figura 6 - Teor de enxofre na parte aérea das plantas de arroz em diferentes DAE Tomando como referência os teores de enxofre na folha de 2 a 6 mg kg-1 CQFS RS/SC (2004), observa-se que nas condições avaliadas, houve teores abaixo do adequado deste elemento, uma vez que, em todas as fases da cultura, os teores de S estiveram abaixo de 0,3 mg kg-1. Esses teores de enxofre abaixo do adequado na planta pode estar ligada ao manejo do solo e baixos teores de argila e de matéria orgânica. Isso porque, assim como em 18 solos oxidados, a quantidade de S-SO42- disponível em solos alagados está diretamente relacionada à textura e ao teor de matéria orgânica. Além disso, como a manutenção da lâmina d´água nas lavouras pode ser superior a 150 dias por ano, especialmente no sistema de cultivo pré-germinado, a redução do sulfato pode causar deficiência de S em solos com baixa disponibilidade desse elemento, devido às perdas por volatilização de H2S. Nesse contexto, o teor de argila do solo é um dos fatores que determina a manutenção do S-SO4 2- ao alcance das raízes das plantas de arroz. Os solos argilosos têm maior capacidade de retenção de S-SO4 2- porque possuem normalmente teores elevados de óxidos de Fe, tornando mais lento o seu movimento no perfil. Em solos arenosos, o S-SO4 2- tende a se deslocar mais rapidamente para os horizontes subsuperficiais, por lixiviação (ENSMINGER, 1954). Bissani (1985) constatou, em solos de várzea do Rio Grande do Sul, com menos de 200 g kg-1 de argila, que os teores de S-SO4 2- variaram de 8 mg kg-1, na camada de solo de 0– 20 cm, a 13 mg kg-1, na camada de 20–40 cm, e estavam relacionados com o teor de argila, que aumentava com a profundidade de amostragem. Entretanto, essa dinâmica pode ser diferente quando esses solos são utilizados para o cultivo do arroz irrigado, pois, mesmo se drenados superficialmente, podem manter uma camada subsuperficial ainda em estado de anaerobiose, com consequente volatilização e perda de S do sistema (JORDAN e ENSMINGER, 1958), fazendo com que os teores desse nutriente em camadas mais profundas sejam menores, como verificado por Beaton e White (1997) em camada abaixo de 20 cm de solos das Filipinas. Estudos relacionados à necessidade de S para o arroz irrigado são realizados com mais frequência em países de clima tropical, cujos solos são intemperizados e altamente consumidores desse cereal, como os do sul asiático. Em Bangladesh, por exemplo, a aplicação de 20 kg ha-1 de S-SO4 2- resultou num acréscimo em produtividade de 0,5 a 1,0 t ha-1 (BEATON e WHITE, 1997). Já na Índia, em estudo conduzido na província de Bengal do Oeste, Mandal et al. (1997) concluíram que, independentemente da fonte, doses de 20 kg ha-1 de S-SO4 2- incrementaram as produtividades entre 20 e 30 %. Resultados semelhantes foram obtidos na Colômbia (MEDINA, 2003; RIOBUENO, 2003), onde a aplicação de S gerou acréscimos de até 2,3 t ha-1. Nos Estados Unidos, em solos deficientes desse nutriente, é recomendada a aplicação de 100 kg ha-1 de sulfato de amônio (WILSON Jr. et al., 2006), o que corresponde à adição de 24 kg ha-1 de S. 19 Analisando do elemento mineral Fe, em ambas as texturas do solos ajustou-se equação de regressão cúbica, conforme pode ser observado na Figura 7. Os teores de ferro se encontram na faixa ideal (70-300 mg kg-1) em todas coletas. Figura 7 - Teor de ferro na parte aérea das plantas de arroz em diferentes DAE O teor de ferro na parte aérea do arroz em todas as coletas, apresentou comportamento diferenciado, devido ao processo de redução do Fe (III) dos óxidos, atingindo um pico de liberação após os 15 dias para o solo com textura média, e posterior declínio em função do equilíbrio entre as formas de ferro juntamente com a estabilização dos valores de Eh e pH durante o curso da redução. Aos 30 e 45 dias após a emergência das plantas, os teores de ferro reduziram no solo com textura argilosa, o que determinou a ausência de um pico de liberação de ferro. Este comportamento coincide com a adubação nitrogenada aos 31 DAE, a qual pode ter influenciado o potencial redox e a consequente redução de ferro. Para o manganês observou-se comportamento quadrático para o solo com textura argilosa (p<0,05), e cúbico para o solo com textura média, sendo não significativo a 5% de probabilidade pelo teste t. No solo de textura argilosa se encontra em níveis adequados (30 600 mg kg-1) em quase todas as coletas no entanto, aos 90 DAE verificou-se teor ligeiramente superior ao considerado adequado (626,60 mg kg-1). Para o solo com média as coletas 20 realizadas aos 45, 60 e 75 DAE se encontram em níveis adequados, sendo 550,60, 499,58 e 319,13 mg kg-1 respectivamente. Essa maior variabilidade dos valores de ferro (Figura 7) e de manganês (Figura 8) decorrem da grande disponibilização desses nutrientes na forma solúvel, que acontece devido ao processo de alagamento do solo, especialmente no caso de solos ricos em óxidos de ferro e de manganês (SOUSA et al., 2004). Figura 8 - Teor de manganês na parte aérea das plantas de arroz em diferentes DAE Segundo Ponnamperuma (1972), a mais importante alteração química que ocorre quando um solo é alagado e a redução do ferro e o concomitante aumento de sua solubilidade. Esse aumento na concentração solúvel acontece também com o manganês, cujo processo de redução ocorre antes do ferro. Como a planta de arroz apresenta tolerância a altas concentrações desses nutrientes, a absorção e a concentração no tecido foliar são elevadas nos casos em que os teores de Fe2+ e Mn2+ na solução do solo forem também altos. Por outro lado, algumas plantas apresentam baixa concentração de ferro na folha devido a baixa disponibilidade do mesmo na solução. No entanto, as concentrações de ferro e de manganês necessárias para a planta atingir boa produtividade são bem menores do que as alcançadas nos casos de cultivo em solos ricos em óxidos de Fe e Mn, o que faz com que o banco de dados 21 apresente grande variabilidade na concentração desses micronutrientes no tecido foliar das plantas de arroz, mesmo nas populações de altas produtividades. Observando os teores foliares de molibdênio (Figura 9) ao longo do ciclo da cultura, o modelo ajustado foi o linear com inclinação negativa (p<0,01), em ambas as texturas do solos. Os teores foliares de Mo, em todas as épocas coletadas estão acima dos níveis adequados (0,5 – 2,0 mg kg-1), no entanto segundo Fageria (1984), para esse nutrientes não há faixa de toxidez. Figura 9 - Teor de molibdênio na parte aérea das plantas de arroz em diferentes DAE Na natureza, as plantas utilizam quantidades muitas pequenas de molibdênio durante o seu ciclo de vida. A disponibilidade deste micronutriente nos solos ocorre sob a forma de -2 molibdatos (MoO4 ), a qual é absorvida pelas plantas (SIMS e EIVAZI, 1997). Contudo, vários fatores podem comprometer a sua disponibilidade. Dentre eles, está a acidez do solo, reações de adsorção de óxidos de ferro e alumínio, assim como o material de origem e o teor de matéria orgânica do solo (REISENAUER et al., 1962; BATAGLIA et al., 1976; LINDSAY, 1978; GUPTA e LIPSSET, 1981; TISDALE et al., 1985). Apesar da importância do molibdênio para a fixação biológica de nitrogênio, poucos trabalhos têm relacionado este elemento em gramíneas como o arroz. No entanto, alguns trabalhos têm mostrado que a aplicação de molibdênio na cultura do arroz contribuiu para 22 aumentos na produção de grãos (RAFEY et al., 1992, MURALIDHARARAN e JOSE, 1994; TRIVEDI e VERMA, 1996). Fageria e Baligar (1997), a fim de verificar deficiências nutricionais em lavouras de arroz, observaram que as plantas apresentaram redução na massa seca nos tratamentos sem molibdênio. Portanto, a presença desse micronutriente promoveu incrementos na massa seca das plantas analisadas. Para os teores de zinco ajustou-se modelo cúbico, em ambas as texturas (p<0,01) Figura 10. No solo com textura média o teor de zinco se encontra acima do adequado (20 100 mg kg-1) com 113,68 mg kg-1 quando coletado aos 15 DAE, no entanto as outras coletas em ambos os solos se encontra na faixa adequada. A absorção inicial de zinco no solo com textura média se deu pelo elevada concentração no solo como consta na análise de solo (Tabela 1). E por ser um solo mais arenoso o nutriente se encontra mais disponível, pelo fato de não estar adsorvido. Como não houve adubação a base de zinco, naturalmente os teores foliares deste elemento decresceram ao longo do ciclo da planta. Figura 10 - Teor de zinco na parte aérea das plantas de arroz em diferentes DAE Segundo Yoshida (1981), a disponibilidade de zinco e muito maior em solos de “áreas altas” do que em solos de várzea submetidos a submersão, pois a sua solubilidade 23 decresce com o aumento do pH decorrente do alagamento. No entanto, segundo Dechen e Nachtigall (2006), a redução do solo pode aumentar as disponibilidades de Cu, Mo e Zn para as plantas. Analisando o elemento cobre verifica-se comportamento quadrática (Figura 11), em ambos os solos (p<0,01). Os níveis adequados de Cobre situam entre 5 e 20 mg kg-1. Aos 15 e 90 DAE nos dois solos o teor de Cu se situou-se acima do adequado, nas demais coletas o Cu se mostrou adequado. Figura 11 - Teor de cobre na parte aérea das plantas de arroz em diferentes DAE Segundo Sousa et al. (2006), cátions como potássio, cálcio e magnésio, embora não participem diretamente de reações de oxirredução, tem a solubilidade aumentada em solos alagados, pois são deslocados para a solução do solo pelo manganês e, principalmente, pelo ferro, que ocupa proporção considerável dos sítios de troca (CTC) em função de sua alta concentração. Por outro lado, as concentrações dos micronutrientes boro, zinco e cobre tendem a diminuir com o alagamento, pois esses nutrientes tem facilidade de formar compostos de baixa solubilidade com o aumento de pH. No entanto, o percentual de cobre em condição de deficiência foi relativamente nulo nos dados analisados nesse trabalho. 24 A diminuição dos teores dos nutrientes, na planta inteira, ao longo do ciclo, deve estar relacionada com o aumento da matéria seca da parte aérea com a idade das plantas, conhecido como efeito de diluição dos nutrientes (MALAVOLTA et al., 1997). Assim, considerando-se que a disponibilidade de nutrientes influencia no crescimento e no desenvolvimento das plantas, uma lavoura com baixa disponibilidade de nutrientes, consequentemente, apresentará baixa produção de matéria seca e menor efeito de diluição, ou seja, os teores de nutrientes poderão ser iguais ou até maiores que os de plantas em lavouras com alta disponibilidade de nutrientes e produção de matéria seca (grande efeito de diluição dos nutrientes). Assim, o teor de qualquer nutriente no tecido vegetal das plantas de arroz, por si só, pode não ser suficiente para predizer se as plantas de uma lavoura apresentam um adequado estado nutricional, reforçando a necessidade de serem utilizados outros parâmetros para avaliação nutricional, tais como o crescimento vegetativo e, ou, o acúmulo de nutrientes. CONCLUSÕES As diferentes texturas do solo interferem no teor de nutrientes na parte aérea da planta. Houve deficiência de N no final da fase vegetativa do arroz, com maior intensidade no solo com textura média; Há deficiência de P, em ambos os solos. No solo com textura média, o teor foliar de P é maior; Houve redução no teor foliar de K a partir da fase reprodutiva das plantas. A partir de 45 DAE o teor foliar de K tornou-se deficiente; Os teores foliares de Ca e Mg estão adequados, em ambos os solos; Há baixos teores de S nas folhas, indicando pouca disponibilidade deste elemento no solo; De modo geral, os teores foliares dos micronutrientes analisados Fe, Mn,Cu, Mo e Zn foram adequados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA FILHO, M.P. Nutrição e adubação do arroz (sequeiro e irrigado). Piracicaba, Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 129p. (Boletim Técnico, 9) 1987. 25 BARBOSA FILHO, M. P.; DYNIA, J. F.; FAGERIA, N. K. Zinco e Ferro na cultura do arroz. 1ª ed. Brasília, Embrapa. 71p. 1994. BATAGLIA, O.C., FURLANI, P.R., VALADARES, J.M.A.S., O molibdênio em solos do Estado de São Paulo. In: Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, v.15, p.107-111, 1976. BATAGLIA, O.C.; DECHEN, A.R. Critérios alternativos para diagnose foliar. In: SIMPÓSIO AVANÇADO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO. Campinas, 1986. Anais. 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O experimento foi conduzido no período da safra de 2012/2013 no Município de Formoso do Araguaia, em solos de várzea irrigada em uma parcela que apresentou solo com diferentes texturas. O delineamento experimental utilizado foi de blocos casualizados. A cultivar de arroz irrigado utilizado foi a IRGA 424. Foram avaliadas as seguintes características: número de plantas por m2; altura de plantas; comprimento da panícula; número de grãos por panícula; porcentagem de grãos chochos; massa de mil grãos; produtividade de grãos e porcentagem de grãos inteiros. A produtividade de cada tratamento foi determinada pela coleta e pesagem dos grãos de cada parcela e os resultados foram transformados para quilogramas por hectare. Foi avaliada a incidência de manchas dos grãos. As diferenças na textura do solo influenciaram, na sanidade e qualidade dos grãos. O solo com textura argilosa teve maior produtividade 8329,33 kg ha-1 e menor incidência de mancha dos grãos. Palavras chave: Oryza sativa L; Sanidade; Produtividade. 31 ABSTRACT In the State of Tocantins, rice cultivation has great socioeconomic importance. As a result of the intensified use of crop fields, serious health problems were created nature. One such problem is the fact that pathogenic agents are able to associate with the seeds of their hosts. The diseases affect the quality of rice by its direct action causing stains us grain. The aim of this study was to analyze the effect of soil texture on the health and productivity of grains of rice in the southeastern region of the state of Tocantins. The experiment was conducted during the 2012/2013 season in the City of Formoso do Araguaia, in soils irrigated lowland in a plot that had soil with different textures. The experimental design was randomized blocks. The rice cultivar used was IRGA 424. Plant height, panicle length, number of grains per panicle, percentage of voids grains, thousand grain weight, grain yield and percentage of whole grains number of plants per m2: the following characteristics were evaluated. The yield of each treatment was determined by collecting and weighing the grain from each plot and the results were converted to kilograms per hectare. Incidence of staining of the grains was evaluated. Differences in soil texture influence on health and quality of grain. The clayey soil had higher productivity 8329.33 kg ha- 1 and a lower incidence of grain stain. Key words: Oryza sativa L; Health; Productivity. 32 INTRODUÇÃO No Estado do Tocantins, o arroz é uma cultura de grande importância socioeconômica. No ano agrícola 2012/2013 foram cultivados 119 mil hectares, com produção total de 565,7 mil toneladas, registrando aumento de 27,9% numa comparação com o ano anterior, em que foram produzidas 442,3 mil toneladas. O crescimento do arroz se deve ao aumento da produção de arroz irrigado, que já corresponde por mais de 80% da produção deste grão no Tocantins (CONAB, 2013). Na safra agrícola 2007/2008, foram cultivados cerca de 53 mil hectares de arroz irrigado, com rendimento médio de 4.481 kg ha-1, enquanto que o arroz cultivado em terras altas teve área plantada de 107 mil hectares e a produtividade alcançou apenas 1.828 kg ha-1. O cultivo do arroz de terras altas é distribuído por todo o Estado, enquanto o irrigado sob controle está concentrado nas regiões centro-oeste e, principalmente, sudeste, abrangendo os municípios de Cristalândia, Dueré, Formoso do Araguaia, Lagoa da Confusão e Pium (EMBRAPA, 2013). Em consequência do uso intensificado das áreas de cultivo, sérios problemas de natureza sanitária foram criados, notadamente nos países de terceiro mundo. Um desses problemas consiste no fato de que agentes fitopatogênicos são capazes de associar-se às sementes de seus hospedeiros, podendo, a partir daí, sobreviver por longos períodos, ser disseminados a diferentes partes da terra e causar sérios prejuízos. A ocorrência de doenças é um dos maiores fatores de restrição à produção. A planta de arroz, em qualquer fase de desenvolvimento, está sujeita a doenças que reduzem tanto a qualidade quanto a quantidade final do produto. Entre os prejuízos diretos, causados pelas doenças em arroz, incluem-se a redução do estande de plantas, grãos manchados, menor número e/ou tamanho de grão e redução geral na eficiência produtiva dessas plantas (MIURA, 2002). As doenças influenciam a qualidade do arroz pela sua ação direta causando manchasnos grãos ou indiretamente por comprometer o enchimento e maturação das espiguetas e acelerar a secagem dos grãos de plantas infectadas, predispondo-os à maior incidência de rachaduras quando ainda no campo e, consequentemente, à maior quebra de grãos no beneficiamento. A presença de grãos manchados afeta diretamente a tipificação comercial do produto (CASTRO et al., 1999). 33 As manchas dos grãos estão associadas com mais de um patógeno fúngico ou bacteriano e podem ser consideradas como um dos principais problemas da cultura do arroz no Brasil, tanto no ecossistema de várzeas como no de terras altas. Em arroz de terras altas, a queima das glumelas é um dos principais componentes das manchas de grãos e, além de depreciar a aparência dos grãos, também reduz sua qualidade, causando gessamento e quebra durante o beneficiamento (SANTOS e RABELO, 2008). Os principais patógenos causadores de manchas de grãos incluem Bipolaris oryzae, Pyricularia grisea, Phoma sorghina, Microdochium oryzae, Alternaria padwickii, Alternaria spp., Curvularia sp. e Nigrospora oryzae (MALAVOLTA et al., 2007) A mancha dos grãos reduz o rendimento dos grãos, e pode causar perdas variáveis entre 12 e 30% no peso e redução de 18 a 22% no número de grãos cheios por panícula (FILIPPI e PRABHU, 1998) e causar esterilidade da semente de arroz (SOLIGO et al., 2004), dependendo da suscetibilidade de cada cultivar. A infecção da semente por B. oryzae (D. oryzae) reduziu sua qualidade fisiológica e causou tombamento pós-emergência de plântulas de arroz (MALAVOLTA et al., 2002). A avaliação de qualidade fitossanitária de sementes mostrou que 100% dos cultivares apresentaram contaminações com fungos causadores de manchas nos grãos (FARIAS et al., 2004). Além da qualidade fisiológica, a qualidade industrial do arroz também é afetada pela incidência de manchas nos grãos, o que foi observado pelo aumento no rendimento de engenho (grão inteiro) quando realizada aplicação de fungicida visando o controle das doenças foliares do arroz (DALLAGNOL et al., 2005; MIURA et al., 2005). Segundo Lucca Filho (2006) ressalta que o comportamento do hospedeiro pode ser modificado, semeando-se na época adequada, usando cultivares resistentes, na densidade recomendada, adubando-se de forma adequada e irrigando-se de forma contínua. Tais práticas poderão contribuir para o maior grau de tolerância das plantas às diferentes doenças e resultam na garantia de rendimentos mais satisfatórios e lucrativos. Ressalta-se que uma doença se estabelece com maior facilidade se a planta estiver submetida a estresses de qualquer natureza, principalmente térmicos, hídricos ou nutricionais, se ocorrer elevada população de patógenos virulentos na área e se as condições climáticas forem favoráveis à epidemia. Prabhu et al. (1999), ratificando esta afirmação comenta que o arroz, em todas as fases de crescimento e desenvolvimento, está sujeito ao ataque de doenças que reduzem a produtividade e a qualidade de grãos. A prevalência e severidade das doenças dependem da 34 presença de patógeno virulento, de ambiente favorável à incidência e da suscetibilidade da cultivar. Em função do exposto, o presente trabalho foi realizado como objetivo de estudar o efeito da textura do solo na sanidade e produtividade de grãos de arroz irrigado na região Sudeste do Estado do Tocantins. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi conduzido no ano agrícola 2012/2013, no Município de Formoso do Araguaia, sob as coordenadas geográficas 11°50’8.01”S e 49°39’19.81”W, na região sudeste do estado Tocantins, em solos de várzea irrigada. O experimento foi conduzido em área de cultivo comercial de arroz irrigado. Para demarcação das áreas a serem monitoradas, tomou-se como base o teor de argila do solo, com base em análise. Foram feitas coletas de amostras de solos, das duas áreas para análise cujas características químicas e físicas encontram-se na (Tabela 1). Tabela 1 - Análise Química e Física dos solos utilizados no experimento SOLO Textura Argilosa Textura Média SOLO Textura Argilosa Textura Média Ca Mg Al H+Al K P(Mel.) MO S Zn ---------- cmol dm-3 ----------- ----- mg dm-3 ---- dag kg-1 -- mg dm-3 -3,5 1,0 0,2 3,8 150 63,4 3,9 7,0 1,1 1,3 0,5 0,1 2,2 150 206,0 1,2 1,0 2,4 Cu Fe Mn Mo CTC pH Argila Silte Areia ------------ mg dm-3 ----------CaCl ----------- g kg-1 ---------0,8 44 2,4 0,08 8,68 4,9 372 13 615 0,7 63 3,2 0,09 4,38 4,6 198 12 790 O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com quatro repetições. A semeadura foi realizada dia 22 de novembro 2012, utilizando a cultivar BR IRGA 424. Na semeadura utilizou-se 120 kg ha-1 de sementes, a adubação de base foi realizada no sulco de semeadura com 200 kg ha-1 de N, P2O5, K2O, com formulação 6-20-20. Foram feitas duas coberturas, sendo a primeira aos 7 DAE com 100 kg ha-1 de NPK na formulação 18-18-18 e, a segunda aos 31 DAE com 50 kg ha-1 de ureia. Foram feitas três aplicações de adubo foliar, sendo a primeira aos 10 DAE com 1,0 l ha-1 de 10-08-08 do produto comercial niphokam, a segunda aos 61 DAE com 1,0 l ha-1 de nitron e a terceira aos 35 73 DAE com 1,0 l ha-1 de 0-20-20 de microxisto. O manejo de plantas daninhas, pragas e doenças foram realizados de acordo com o cronograma executado na propriedade. Foram avaliadas as seguintes características: NP - número de Plantas por m2; AP altura de plantas (cm); CP – comprimento da panícula (cm); NGP – número de grãos por panícula; %GC – porcentagem de grãos chochos; P1000 – massa de mil grãos (gramas); PROD – produtividade de grãos (kg ha-1). A produtividade de cada tratamento será determinada pela coleta e pesagem dos grãos de cada parcela e os resultados serão transformados para quilogramas por hectare (kg ha-1). Os grãos colhidos foram beneficiados. E foi realizada a analise de % de grãos inteiros (%GI). O rendimento de grãos inteiros foi determinado utilizando uma amostra de 100g com 13% de umidade, que foram submetidos ao engenho de provas. Após a retirada dos grãos não descascados, foram separadas e pesadas as frações grãos inteiros e quebrados, e calculada a percentagem de grãos inteiros. Para verificar o desempenho das sementes foram realizados testes de germinação em areia e papel germitest. O teste de germinação padrão foi conduzido em papel germitest, conforme descrito nas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992). Para cada classe, foram utilizadas 200 sementes distribuídas em quatro repetições de 50 sementes. Após o quinto dia foram computados o número de plântulas normais. Os resultados foram expressos em porcentagem, após a obtenção da média aritmética das quatro repetições (BRASIL, 1992). O teste de germinação em areia foi conduzido em casa de vegetação; neste teste, 400 sementes foram avaliadas, sendo quatro repetições de 100 sementes. As sementes foram semeadas em areia lavada, contidas em bandejas plásticas. No quinto e décimo quarto dia foi realizado a contagem de plântulas normais emergidas Para verificar o nível de ocorrência de doenças nas sementes, utilizou-se o método de papel filtro. As sementes foram incubadas em caixas plásticas transparentes (gerbox). As caixas gerbox foram previamente desinfestadas com uma solução de hipoclorito de sódio de 1%. Em cada gerbox foram colocadas com 2 folhas de papel filtro germitest cortados no tamanho do gerbox e umedecidos em água estéril, foram avaliadas 400 sementes, por tratamento, distribuídas em dezesseis repetições de 25 sementes. As sementes foram incubadas a 20 ± 2°C sob um regime alternado de 12 horas de luz fluorescente e 12 horas no escuro, durante 14 dias. Após o período de incubação, as sementes foram submetidas a duas 36 análises sendo a primeira no sétimo dia e segunda no décimo quarto dia. As analises foram realizadas sob microscópio estereoscópico binocular e ótico, sendo anotada a percentagem de sementes infectadas. A identificação dos fungos foi feito de acordo com a morfologia doas conídios e com apoio de literatura específica (PRABHU et al., 1999) Todos os dados obtidos foram submetidos à análise de variância. Foi realizada a analise conjunta de dados. Para as comparações entre as médias de tratamentos, foi utilizado o teste Tukey, a 5% de probabilidade de erro. Todas as análises estatísticas foram realizadas com a utilização do programa computacional Genes (CRUZ, 2006a, 2006b). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os testes de sanidade de sementes mostraram a presença de vários fungos (Tabela 2 e 3). Na Tabela 2 estão descritos os resultados da análise estatística da ocorrência dos fungos Phoma sorghina, Alternaria padwickii e Bipolaris oryzae que foram os mais frequentes, e que são considerados como agentes causais importantes de manchas em sementes. Na Tabela 3 estão descritos os resultados da análise estatística da ocorrência do fungo Curvularia sp. e grãos limpos. Tabela 2 – Porcentagem de fungos nos grãos. Textura do solo 30% argila 10% argila C.V. (%) DMS Tukey (5%) Phoma sorghina 1ª Aval. 42,5 905 7,10 10,63 2ª Aval. 77,25 91 13,10 24,79 Alternaria padwickii 1ª Aval. 54,75 68,25 11,32 15,66 2ª Aval. 62,5 82,5 11,45 18,68 Bipolaris oryzae 1ª Aval. 6 12,5 41,89 12,25 2ª Aval. 8 18 50,51 10,51 Tabela 3 – Porcentagem de fungos nos grãos e grãos limpos. Textura do solo 30% argila 10% argila C.V. (%) DMS Tukey (5%) Curvularia sp. 1ª Aval. 2 10,5 35,18 9,08 2ª Aval. 4 14,25 14,66 3,01 Grão Limpos 1ª Aval. 19 0,25 61,86 13,39 2ª Aval. 7,5 0 135,53 11,43 De acordo com os dados da Tabela 2, no solo com textura média houve maiores porcentagens de infecção por Phoma, em ambas as avaliações. Também têm sido relatadas 37 altas incidências desse fungo, nos cultivares IAC-25 ou IAC-47 por autores como Urben e Wetzel (1980), Soave et al. (1983), Nakamura (1984) também relataram. A presença de Phoma sorghina variou entre as diferenças de texturas do solo, sendo possível observar uma variação de 42,5% a 90,5%, isso na primeira avaliação, na segunda avaliação 77,35% a 91%, conforme se observa na Tabela 2. A incidência de Phoma sorghina nas sementes desta gramínea pode ser elevada, variando de 31,8 a 85,7% (NAKAMURA, 1984). Trabalhos desenvolvidos por Tanaka (1986) em sementes de arroz com descoloração de grãos, oriundos de diferentes lugares do Estado de Minas Gerais, observaram a presença de Phoma sp. em quase 100% dos lotes examinados. Os resultados da analise para Alternaria padwickii (Tabela 2), variaram de 54,75 a 82,5% de incidência. Gulart et al. (2005) verificaram que a incidência de Alternaria sp. em sementes coletadas no Rio Grande do Sul, variou de 38 até 97% nos lotes amostrados e Franco et al. (2001) constataram que, dependendo da cultivar utilizada, a incidência pode variar de 3,01% até 29,99%. Este fato também foi verificado por Costa (1991) nos estados de Goiás e Tocantins, onde a cultivar Metica 1 foi a mais suscetível a A. padwickii. A emergência das plântulas oriundas de sementes infectadas por A. padwickii foi reduzida em 88,0%, nas condições ambientais testadas. Ou (1972) e Islam et al. (2000), em trabalhos anteriores, também constataram que a presença do fungo causa a morte de plântulas. A baixa emergência das plântulas infectadas por A. padwickii foi observada anteriormente causando descarte dos lotes, visto que há transmissão via sementes, inviabilizando os campos de produção de sementes (COSTA, 1991; OU, 1972). Já Islam et al. (2000) verificaram que a incidência de A. padwickii pode variar de 1,33 a 44,0% dependendo da cultivar utilizada. Houve diferenças significativas para o fungo manchador de grãos Bipolaris oryzae, pois no solo com textura argilosa sua incidência foi menor comparada com o solo com textura média, com valores de 6% primeira avaliação e 8% para segunda avaliação, esses dados para o solo com textura argilosa, para o solo com textura média os valores são 12,5% e 18% para as duas avaliações. Portanto os teores de argila no solo influencia na incidência desse fungo nos grãos de arroz. Trabalhos conduzidos por Farias et al. (2004) e Franco et al. (2001) mostram que 100% dos cultivares apresentaram contaminações com fungos causadores de manchas nos grãos. 38 De acordo com a Tabela 3, observou-se que foi pequena a detecção de Curvularia sp. em comparação com os outros fungos, no entanto em comparação as texturas do solo observou diferenças, no solo com textura média o índice foi alto comparado com outro tratamento, pois no solo com textura média, obteve um percentual de 10,5% na primeira avaliação e 14,25% na segunda avalição. No solo com textura argilosa os valores obtidos foram 2% na primeira avaliação e 4% na segunda avaliação estatisticamente houve uma diferença significativa entre os tratamentos. Trabalho realizado por Estrada et al. (2001) verificaram que a incidência de Curvularia sp. pode variar de 14,6 e 25,3% dependendo da cultivar utilizada. A incidência Curvularia sp. pode variar dependendo do local de coleta. Neste trabalho verificou-se variação de 2% até 14,25%, em média, no entanto, Cerbaro et al. (2007) verificaram que a incidência de Curvularia sp. em sementes coletadas no Rio Grande do Sul variou de 7 até 60,75 % nos lotes amostrados e Franco et al. (2001) constataram que dependendo da cultivar utilizada a incidência pode variar de 1,67% até 7,46%. De acordo, com os dados observados na Tabela 3, verifica-se que a incidência de Curvularia sp. apresentou uma variação bastante acentuada, o que indica que a maior ou menor incidência além de estar relacionada com a suscetibilidade do cultivar está intimamente ligada a textura do solo. Pois trabalho realizado por Cardoso et al. (2010) a cultivar que apresentou maior incidência de Curvularia sp. foi a BR IRGA - 424, com 6,38%. Segundo Soave et al. (1985), Malavolta e Bedendo (1999), Franco et al. (2001), esses fungos caracterizam-se por causar manchas de grãos e a ocorrência dessas manchas em arroz vem aumentando nos últimos anos, tendo assumido posição de doença economicamente importante, mesmo quando as manchas são superficiais, restritas as glumas são altamente prejudiciais por causarem má granação, e afetarem a qualidade dos grãos. Para Barladin (2003) além dos casos isolados de esterilidade os fungos manchadores de grão podem causar um escurecimento nas glumas, o que deprecia o produto apenas visualmente, antes do beneficiamento. Os valores de grãos limpos também foram influenciados pela diferença na textura do solo, pois o tratamento que teve uma maior quantidade de grãos limpos foi os grão provenientes do solo com textura argilosa, com 19% na primeira avaliação e 7,5% na segunda avaliação. No solo com textura média, teve uma porcentagem de 0,25 e 0% para as duas avaliações. Com esses dados pode se afirmar que a textura do solo influenciam na incidência de fungos causadores de mancha nos grãos. 39 Conforme demostrado na Tabela 4 não verificou-se diferenças significativas para número de panículas, altura de plantas, comprimento da panícula, número de grãos por panícula e porcentagem de grãos chochos. Tabela 4 – NP – número de plantas por m2; AP – altura de plantas (cm); CP – comprimento da panícula (cm); NGP – número de grãos por panícula; %GC – porcentagem de grãos chochos; P1000 – massa de mil grãos (gramas); PROD – produtividade de grãos (kg ha-1) e %GI – porcentagem de grãos inteiros. Textura do Solo 30 %Argila 10 % Argila C.V. (%) DMS-Tukey (5%) NP 536,76 470,58 18,6 386,7 AP 97,15 97,20 5,6 12,22 CP 21,24 20,93 3,5 1,66 NGP 71,03 61,78 13,3 19,82 %GC 5,62 8,01 62,8 6,63 P1000 PROD 28,47 8329,33 26,60 6299,95 1,09 5,9 0,68 966,17 %GI 63,50 48,25 12,0 15,05 Para o peso de 1000 grãos foi verificado efeito significativo do teor de argila no solo, uma vez que obteve-se médias superiores para esta característica quando produzida em solo com textura argilosa. Trabalho realizado por Filippi e Prabhu (1998), indica que a incidência do fungo Bipolaris oryzae ocasionou perdas variáveis entre 12 e 30% no peso e redução de 18 a 22% no número de grãos cheios por panícula. Para produtividade de grãos, obteve-se maior produtividade quando cultivou-se no solo com maior porcentagem de argila 8329,33 kg ha-1, enquanto que no solo com textura média a produtividade foi de 6299,95 kg ha-1, sendo, portanto, 24,3% inferior que equivale a 33 sacos de 60 kg. Boeni et al. (2010), atribuem os maiores rendimentos de arroz obtidos, em solos com melhor fertilidade, e a menor produtividade se encontra com predominância em solos ácidos, arenosos e com baixo teor de matéria orgânica, apresentando em sua maioria baixos teores de nutrientes nas formas disponíveis. Para a porcentagem de grãos inteiros, obtidos após o Beneficiamento em Moinho de Prova, observa-se que o teor de argila no solo, influencia de forma expressiva na qualidade de engenho dos grãos produzidos, uma vez que, obteve-se porcentagem de grãos inteiros 24% superior quando os grãos foram produzidos em solo com textura argilosa (Tabela 4). Ressaltase que a porcentagem de grãos inteiros é a característica principal na avaliação da qualidade dos grãos produzidos, além de ser considerada de forma direta no cálculo do valor comercial 40 dos grãos. Desta forma, quanto maior a porcentagem de grãos inteiros, maior será o valor pago ao produtor pelo grão produzido. No teste de germinação em laboratório (Tabela 5) obteve-se superioridade significativa nas sementes obtidas no solo com textura argilosa (95,6%) em relação ao solo com textura média (89%). As variações nas texturas do solo refletiram na qualidade das sementes. Os grãos com menor qualidade inicial, determinada na fase de seleção, apresentaram menor porcentagem de germinação. Desta forma, o teste de germinação tornou-se o parâmetro referencial para a determinação da qualidade de arroz. A Tabela 5 contém os resultados relativos ao teste de primeira contagem de germinação. Para os grãos provenientes do solo com textura argilosa, obteve-se o maior índice de germinação no quinto dia após a instalação do teste. Os grãos provenientes do solo com textura média apresentou desempenho diferente, obtendo menor índice de germinação, diferindo no teste anterior. Estas diferenças podem ser atribuídas à menor incidência de fungos nas sementes provenientes do solo com textura argilosa. Tabela 5 – Porcentagem de germinação pelo teste padrão (TPG), Leito de areia em primeira contagem (TAP) e segunda contagem (LAS). Textura do solo 30% argila 10% argila C.V. (%) DMS Tukey (1%) TPG 95,6 89,0 1,30 4,96 LAP 90,4 37,1 19,48 51,28 LAS 94,6 84,9 5,47 20,29 Na primeira avaliação no teste de germinação em areia, quando se compara as texturas do solo, observou diferenças significativas na taxa de germinação, sendo que 90% de sementes germinadas para o solo com textura argilosa e 37,1% para o solo com textura média, no entanto na segunda avaliação não foi observado diferenças significativas entre si, com valores de 94,6% solo textura argilosa e 84,9% solo textura média de germinação das sementes. A incidência de fungos interfere na germinação das sementes. Conforme trabalho de Farias et al. (2007) a presença de A. padwickii, associado às sementes de arroz, pode ocasionar vários problemas como baixa germinação das sementes, que poderá implicar na necessidade de replantio, o que onera o agricultor e também causa redução no desenvolvimento das plântulas. 41 CONCLUSÕES Maior incidência de fungos foi verificada nas sementes produzidas em solo com textura média; Menor rendimento de grãos inteiros e menor produtividade de grãos são obtidas quando se cultiva em solo com textura média; Sementes com baixo vigor foram obtidas quando produzidas no solo com textura média; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARLADIN, R.S. Doenças do Arroz. Santa Maria: Orium, 60 p. 2003. BOENI, M. et al. Evolução da fertilidade dos solos cultivados com arroz irrigado no Rio Grande do Sul. Boletim Técnico 9. Cachoeirinha: IRGA/Estação Experimental. Seção de Agronomia, 40 p. 2010. BRASIL, Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para Análise de Sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV, 365p. 1992. 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