D5-ESTUDO QUANTITATIVO DO PLEXO MIOENTÉRICO DO DUODENO E ÍLEO DE CAMUNDONGOS COM OBESIDADE INDUZIDA POR DIETA HIPERLIPÍDICA SOARES1, Angélica; BERALDI2, Evandro José; LOPES 2, Claúdia Regina Pinheiro; FERREIRA2, Paulo Emilio Botura; BAZOTTE3, Roberto Barbosa; ALVES4, Ângela Maria Pereira; ALVES4, Eder Paulo Belato; BUTTOW4, Nilza Cristina E-mail: [email protected]. 1- Docente em Anatomia Humana, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel, PR 2- Pós-graduandos do programa de pós-graduação em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, PR 3- Doutor Docente em Farmacologia, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, PR 4- Doutores Docente em Histologia, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, PR Resumo O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos de uma dieta hiperlipídica sobre os aspectos quantitativos dos neurônios mioentéricos do duodeno e íleo de camundongos adultos. Foram utilizados camundongos Swiss machos, distribuídos em dois grupos: controle, alimentado com ração padrão para roedores; e experimental, alimentado com ração hiperlipídica, por um período de dezessete semanas. Preparados de membrana do duodeno e íleo foram submetidos à técnica de imunofluorescência para miosina-V. Neurônios imunoreativos foram quantificados com auxílio do programa de análises de imagens Image Pro Plus 4.5. A dieta hiperlipídica promoveu obesidade, comprovada pelo maior índice de Lee e peso dos tecidos adiposos retroperitoneal e mesentérico. A população total dos neurônios mioentéricos do duodeno não variou entre os grupos. No íleo, observou-se aumento na densidade neuronal nos camundongos obesos, possivelmente devido ao menor diâmetro deste segmento nestes animais. A obesidade promovida pela dieta hiperlipídica não afetou a população mioentérica do duodeno, e as variações observadas no íleo podem ser conseqüência da diminuição no diâmetro deste segmento. Palavras-chave: neurônios mioentéricos, intestino delgado, miosina-V. Introdução A Organização Mundial de Saúde define sobrepeso e obesidade como um acúmulo excessivo de gordura e que pode ser prejudicial à saúde1. Os índices crescentes e elevada taxa de morbidade e mortalidade tornam a obesidade um dos maiores desafios à saúde pública deste século2. Elevado índice de massa corporal constitui um dos maiores fatores de risco para doenças como diabetes mellitus1 e distúrbios metabólicos como resistência à insulina e no metabolismo das lipoproteínas3. Para compreender a fisiopatologia da obesidade, modelos experimentais de dieta hiperlipídica são de especial interesse, pois simulam a dieta consumida pela maioria da população e predispõem à resistência à insulina, dislipidemia, hiperleptinemia, hiperglicemia e hiperinsulinemia4. Diversos estudos relacionam o consumo de dietas hiperlipídicas a alterações gastrintestinais. Apesar da relação dos neurônios entéricos a diversas funções e disfunções gastrintestinais5, pouco se tem enfocado na inervação intrínseca do trato gastrintestinal. Assim, este estudo avaliou os efeitos de uma dieta hiperlipídica sobre os neurônios mioentéricos do duodeno e íleo de camundongos. Material e métodos Foram utilizados camundongos Swiss machos, com idade inicial de 6 semanas, mantidos em temperatura controlada a 23±1ºC com ciclo claro/escuro de 12h. Todos os procedimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal da Universidade Estadual de Maringá. Conforme o tratamento, foram divididos em 2 grupos: controle C, alimentado com dieta padrão para roedores (Nuvilab®); e experimental Ob, alimentado com a ração hiperlipídica rica em gordura saturada, durante 17 semanas. Após completar 17 semanas, foram pesados, anestesiados com injeção intraperitoneal de tiopental sódico (45 mg/kg) e tiveram seu comprimento naso-anal mensurado para avaliação do índice de Lee [peso corporal1/3(g)/comprimento naso-anal (cm) X 1000]. Procedeu-se a laparotomia, com a remoção e pesagem das gorduras epididimal, mesentérica e retroperitoneal, e mensuração do intestino delgado. Amostras do duodeno e íleo foram microdissecadas para obtenção de preparados totais da túnica muscular e submetidas à tecnica de imunofluorescência para miosina-V. A quantificação foi realizada por amostragem, por meio de imagens capturadas em objetiva de 20X, com auxílio do programa Image Pro Plus 4.5. A área total quantificada foi de 0,1093 cm2 e os resultados foram expressos por cm2. Os dados foram analisados pelo teste t de Student, com nível de significância de 5%, e apresentados como média±erro padrão. Resultados e Discussão Os animais do grupo Ob apresentaram peso corporal, peso dos tecidos adiposos retroperitoneal e mesentérico, e índice de Lee significativamente maiores que o grupo C (Tabela 1), comprovando a instalação da obesidade. Resultados similares são relatados em estudos com roedores obesos4,6,7. A análise do intestino delgado não revelou variação significativa no seu comprimento (Tabela 1). Estudos envolvendo modelos de obesidade em roedores descrevem tanto a manutenção8 quanto o aumento no comprimento do intestino delgado7 em ratos submetidos a dieta de cafeteria. As diferenças podem estar relacionadas ao modelo de dieta e ao tipo de animal utilizado. Não verificou-se diferença no diâmetro do duodeno, porém, ocorreu diminuição no diâmetro do íleo dos camundongos obesos (Tabela 1). As diferentes respostas nos segmentos intestinais podem ser decorrentes da dieta empregada, que simula a dieta moderna, hipercalórica e pobre em elementos pouco digeríveis, e portando, de fácil absorção. Tal condição ocasiona um pico de absorção nas porções proximais do intestino, chegando menores quantidades de alimento ao intestino distal, que fica “vazio”9. Esta condição pode ter promovido uma redução na atividade mecânica do íleo, com consequência no seu diâmetro. Tabela 1 – Parâmetros corporais dos camundongos alimentados com dieta padrão (grupo C) e hiperlipídica (grupo Ob). Grupo C Grupo Ob 48,6 ± 2,2 59,60 ± 2,54* Peso corporal (g) Índice de Lee 327,3 ± 4,24 354,7 ± 4,09* Tecidos adiposo epididimal (g) 1,42 ± 0,37 2,2 ± 0,28 Tecidos adiposo retroperitoneal (g) 0,64 ± 0,16 1,44 ± 0,08* Tecidos adiposo mesentérico (g) 0,73 ± 0,15 1,26 ± 0,18* Comprimento do intestino delgado (cm) 55,08 ± 2,2 54,57 ± 1,46 Diâmetro do duodeno (cm) 0,57 ± 0,02 0,53 ± 0,04 Diâmetro do íleo (cm) 0,5 ± 0,03 0,37 ± 0,03* Valores expressos como média ± erro padrão. * Diferença significativa quando comparado ao grupo C (p<0,05). A população mioentérica total não apresentou variação no duodeno, sendo verificados os valores de 10411,71±809,6 e 11161,94±1209,52 neurônios/cm2 para os grupos C e Ob, respectivamente. A manutenção da população neuronal também foi observada no jejuno de ratos obesos alimentados com dieta de cafeteria7. Porém, no íleo, a densidade neuronal foi maior no grupo Ob (13504,12±427,54 neurônios/cm2) em comparação ao grupo C (11363,22±289,02 neurônios/cm2). A maior densidade neuronal observada no íleo dos camundongos obesos se deve provavelmente a uma consequência indireta do tratamento, que levou a uma redução no diâmetro deste segmento intestinal, ocasionando menor dispersão dos neurônios e, assim, maior concentração neuronal por área. A relação entre menor tamanho do intestino e aumento na densidade neuronal é descrita na literatura para animais submetidos à desnutrição protéica10,11 e com obesidade induzida pela administração de glutamato monossódico6. Conclusões A dieta hiperlipídica promoveu obesidade nos camundongos. O tratamento não alterou a população mioentérica total do duodeno, no entanto, as variações observadas no íleo podem ter ocorrido devido a diferenças no diâmetro deste segmento. Referências 1 WHO. World Health Organization. 2011. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs311/en/index.html. Acesso em 07 jun. 2011. 2 OLIVEIRA, C. L et al. Obesidade e síndrome metabólica na infância e adolescência. Revista de Nutrição, v. 17, n. 2, p. 237-245, 2004. 3 KRAUSS, R. M. et al. Obesity: impact on cardiovascular disease. Circulation, v. 98, p. 1472-1476, 1998. 4 NASCIMENTO, A. F. et al. A hypercaloric pellet-diet cycle induces obesity and co-morbidities in wistar rats. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, v. 52, n. 6, p. 968-974, 2008. 5 FURNESS, J. B.; COSTA, M. The enteric nervous system. Edinburgh: Churchill Livingstone, 1987. 6 SOARES, A. et al. Effects of the neonatal treatment with monosodium glutamate on myenteric neurons and the intestine wall in the ileum of rats. Journal of Gastroenterology, v. 41, p. 674-680, 2006. 7 SCOARIS, C. R. et al. Effects of cafeteria diet on the jejunum in sedentary and physically trained rats. Nutrition, v. 16, p. 312-320, 2010. 8 SOUZA, P.A. et al. Efeitos da obesidade induzida por dieta de cafeteria sobre o número de células caliciformes do duodeno de ratos. In: III CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE E III CISDEM (CÁTEDRA IBEROAMERICANO-SUIZA DE DESARROLLO DE MEDICAMENTOS), 2009, Maringá. Anais do III Congresso Interncaional de Saúde e III CISDEM. Maringá: UEM, 2009. 9 SANTORO. Relações entre o comprimento do intestino e a obesidade. Hipótese: a síndrome do intestino longo. Einstein, v. 1, p. 44-46, 2003. 10 MEILUS, M.; NATALI, M. R. M.; MIRANDA NETO, M. H. Study of the myenteric plexus of the ileum of rats sujected to proteic undernutrition. Revista Chilena de Anatomia, v. 16, 1998. 11 NATALI, M. R. M.; MIRANDA NETO, M. Effects of maternal proteic undernutrition on the neurons of the myenteric plexus of the duodenum of rats. Arquivos de Neuropsiquiatria, v. 54, p. 273-279, 1996.