GESTÃO DA REGULAÇÃO AULA 1 – DIREITO E ECONOMIA DA REGULAÇÃO E DA CONCORRÊNCIA TÓPICO 02: O MERCADO E A ECONOMIA VERSÃO TEXTUAL Desde os primórdios tempos o mercado, que inicialmente promovia a troca de mercadorias (escambo), tem sua existência, mormente a partir de quando as pessoas passam a conviver em sociedade. Inicialmente muito incipiente, posto que ocorria em locais que previamente eram destinados a esse fim, embora pudesse ocorrer de pessoas se encontrarem para “comerciar”. A função principal dos mercados estava em aproximar as pessoas que tinham produtos, das que necessitavam dos produtos. Inicialmente os produtos da terra e posteriormente de manufaturados e outras mercadorias. Segundo Pinheiro (2012) o mercado é uma entidade que inicialmente possuía identificação física e cumpria uma função: aproximar os que ofertavam os mais diversos produtos e serviços daqueles que demandavam ou que, estimulados, pudessem vir a demandar algumas ofertas. O mesmo autor continua tratando do mercado como segue: Originalmente, o mercado foi identificado como a parte central das vilas e cidades, para onde todos afluíam em momentos predeterminados; hoje, devido às novas tecnologias de informação e comunicação, passou a ser virtual, embora mantenha a mesma finalidade: a de aproximar interesses opostos de compra e venda. Quando o mercado era fisicamente delimitado, reduzido, assim como o número de agentes compradores e vendedores, era relativamente fácil fazer uma pesquisa de preços, negociar e chegar a um acordo sobre um preço que atendesse às expectativas, às necessidades e às possibilidades das partes; desse acordo resultaria um preço-referência para as futuras negociações entre os demais agentes econômicos, levando, ao final, a um preço (e quantidade) de equilíbrio. Prevalecia, à época, o que hoje os autores denominam de mercado perfeito, contemporaneamente semelhante às feiras -livres nas grandes cidades. Com o passar do tempo, constatamos a introdução de muitas variáveis na questão do mercado, com o desenvolvimento da distribuição e dos revendedores de grande porte, da logística de movimentação das cargas e de uma distribuição de produtos dos mais diversos lugares de produção e manufaturas, da chamada, globalização, posto que os diversos países passam a comprar e vender uns para os outros e assim gerando os mais complexos sistemas de produção e venda com a intermediação de diversos atores do mercado. Observe-se que algumas mercadorias são consideradas atualmente como “commodities” e que podem até serem utilizadas como meio de pagamento, como é o caso da soja em determinadas regiões do Brasil, onde as negociações são feitas em quantidade de sacas de soja. COMMODITIES Commodities (significa mercadoria em inglês) pode ser definida como mercadorias, principalmente minérios e gêneros agrícolas, que são produzidos em larga escala e comercializados em nível mundial. As commodities são negociadas em bolsas mercadorias, portanto seus preços são definidos em nível global, pelo mercado internacional. As commodities são produzidas por diferentes produtores e possuem características uniformes. Geralmente, são produtos que podem ser estocados por um determinado período de tempo sem que haja perda de qualidade. As commodities também se caracterizam por não ter passado por processo industrial, ou seja, são geralmente matérias-primas. Existem quatro tipos de commodities: Commodities agrícolas: soja, suco de laranja congelado, trigo, algodão, borracha, café, etc. Commodities minerais: minério de ferro, alumínio, petróleo, ouro, níquel, prata, etc. Commodities financeiras: moedas negociadas em vários mercados, títulos públicos de governos federais, etc. Commodities ambientais: créditos de carbono. O Brasil é um grande produtor e exportador de commodities. As principais commodities produzidas e exportadas por nosso país são: petróleo, café, suco de laranja, minério de ferro, soja e alumínio. Se por um lado o país se beneficia do comércio destas mercadorias, por outro o torna dependente dos preços estabelecidos internacionalmente. Quando há alta demanda internacional, os preços sobem e as empresas produtoras lucram muito. Porém, num quadro de recessão mundial, as commodities se desvalorizam, prejudicando os lucros das empresas e o valor de suas ações negociadas em bolsa de valores. DICA Sobre as questões de mercado, Pinheiro (2012), acrescenta que: Conforme você estudou na disciplina Economia, diversos fatores contribuem para o afastamento daquelas condições que definem o mercado livre, perfeito e competitivo, no qual nenhum agente, comprador ou vendedor, pode, individualmente, influir de forma significativa no preço de equilíbrio. Com o passar do tempo, as aglomerações urbanas cresceram e se tornaram mais complexas, surgiram os intermediários atacadistas, os varejistas, os financiadores e as agências de todo o tipo; aumentou o número de ofertantes e demandantes, os tipos e as variedades de produtos, o tempo disponível para as pesquisas sobre preços e a qualidade (em sentido amplo) dos bens e serviços negociados. Assim, são criadas naturalmente as condições que darão origem a novos tipos de estruturas de mercado, entre elas, a assimetria de informações entre os agentes; os ganhos de escala que possibilitarão acúmulos crescentes de capital (que podem ser utilizados como barreira à entrada de novos competidores); a expansão do conhecimento científico transformado em tecnologia; a ação política (e dos grupos de interesse e de pressão) junto aos Poderes do Estado, etc. As estruturas de mercado, vêm tendo suas características estudadas, pela teoria microeconômica, por intermédio de cálculos matemáticos, com a finalidade de tentar explicar o comportamento do mercado, como também o comportamento do consumidor e algumas das suas estruturas básicas. Aqui, apresentaremos algumas considerações a respeito de cada uma, segundo Henderson e Quandt (1992), como segue: A CONCORRÊNCIA PERFEITA Um mercado de bens em concorrência perfeita obedece às seguintes condições: a) as firmas produzem uma mercadoria homogênea e os consumidores são idênticos do ponto de vista dos vendedores, não havendo nenhuma vantagem ou desvantagem associada a um dado consumidor; b) tanto as firmas como os consumidores são numerosos e as vendas ou compras de cada unidade individual são pequenas em relação ao volume agregado de transações; c) tanto as firmas como os consumidores possuem informação perfeita sobre os preços dominantes e lances correntes e tiram vantagem de todas as oportunidades de aumentarem o lucro e a utilidade, respectivamente; d) no longo prazo, a entrada e saída do mercado, são livres, para firmas e consumidores. A condição (a) garante o anonimato de firmas e consumidores. Com respeito à firma, isso é equivalente à afirmação de que seu produto não é diferente dos produtos das outras; não existem marcas registradas, patentes, tipos especiais, etc. Os consumidores não têm motivo para preferir o produto de uma firma ao de outra. A uniformidade de consumidores garante que os empresários venderão ao lance mais alto. Não existem costumes nem regras institucionais (tais como freguês que chega primeiro é servido primeiro), na distribuição da produção entre os consumidores. A condição (b) garante que muitos vendedores encontrarão muitos compradores. Se as firmas são numerosas, um empresário pode aumentar ou reduzir seu nível de produção sem alterar perceptivelmente o preço de mercado. A demanda de um consumidor individual pela mercadoria pode elevar-se ou diminuir sem qualquer influência perceptível sobre os preços. A condição (c) garante informação perfeita de ambos os lados do mercado. Os compradores e vendedores possuem informações completas com respeito à qualidade e natureza do produto e seu preço corrente. Como não existem compradores desinformados, os empresários não podem tentar cobrar mais do que o preço corrente. Por razões análogas, os consumidores não podem comprar dos empresários por menos do que o preço corrente. Como o produto é homogêneo e todos possuem informação perfeita, deve prevalecer um único preço num mercado em concorrência perfeita. Pode-se provar isso, supondo, ao contrário, que a mercadoria seja vendida a dois preços diferentes. Como por hipótese, os consumidores estão ao corrente dos fatos de que a mercadoria pode ser comprada a dois preços diferentes e uma unidade da mercadoria é exatamente igual a qualquer outra e ainda que os consumidores são maximizadores de utilidade, não comprarão a mercadoria ao preço mais alto. Portanto, só pode haver um único preço. A última condição (d), garante, no longo prazo, um fluxo contínuo de recursos entre ocupações alternativas. Supõe que os recursos são móveis e sempre se dirigem a ocupações de que derivam maior vantagem. As firmas se dirigem aos mercados onde possam obter lucros e abandonam aqueles onde sofrem prejuízos. Recursos tais como o trabalho, tendem a ser atraídos para indústrias cujos produtos apresentam maior demanda. As firmas ineficientes são eliminadas do mercado e são substituídas pelas eficientes. Assim, um mercado é perfeitamente competitivo se existir concorrência perfeita de ambos os lados do mercado, compradores e vendedores. MONOPÓLIO O termo monopólio define uma situação na qual uma única empresa produz uma mercadoria para a qual não existe substituto próximo. Pressupõe-se que os preços de todas as outras mercadorias permaneçam constantes, como sempre se faz na análise de um único mercado e a concorrência de outras mercadorias pela renda do consumidor reflete-se na posição e formato da curva de demanda do monopolista. Deve-se observar que não há distinção entre indústria e empresa num mercado monopolista. A empresa monopolista é a indústria; não há concorrentes, embora todos os produtos concorram entre si pela renda limitada dos consumidores. Pelo estudo da teoria básica do monopólio, pode-se inferir que a quantidade de vendas da empresa monopolista é função unívoca do preço cobrado. Sendo assim, se considerarmos a quantidade fixa, a Receita Total da empresa monopolista será tanto maior quanto maior for o preço. Evidentemente que deverá ocorrer um ponto de equilíbrio, posto que o consumidor deverá adquirir menor quantidade, tanto quanto o preço seja maior, podendo até a quantidade vendida diminuir da quantidade produzida o que o monopolista não deseja e neste caso leva o preço para o equilíbrio entre quantidade produzida e quantidade vendida. No duopólio, têm-se apenas duas empresas detentoras das vendas do respectivo produto. Já o oligopólio, define uma situação em que ocorre um número suficientemente pequeno de vendedores para que as ações individuais de cada um tenham influência perceptível sobre seus concorrentes. O número de vendedores não é o suficiente para distinguir o oligopólio da concorrência perfeita, no caso de produto homogêneo, ou do monopólio com muitos vendedores no caso de um produto diferenciado. A característica fundamental é a interdependência das ações dos vários vendedores. Se a decisão sobre a quantidade a produzir, por parte de um vendedor, tem uma influência, imperceptível, sobre o lucro de outra, a indústria satisfaz o requisito básico tanto para concorrência perfeita, como para a concorrência monopolística com muitos vendedores. E se a ordem de grandeza for perceptível, a indústria é duopolista ou oligopolista. Em alguns mercados de insumo o número de compradores é tão pequeno que não é viável a suposição de compras competitivas a preços invariáveis, como na concorrência perfeita. São os casos que analisaremos agora: um mercado com um comprador e muitos vendedores competitivos é um monopsônio. Um mercado com dois compradores é um duopsônio e um com pequeno número, maior do que dois, é um oligopsônio. MONOPSÔNIO Um monopsonista não pode adquirir uma quantidade ilimitada de um insumo a preço uniforme; o preço que deve pagar por cada unidade adquirida é dado pela curva de oferta de mercado do insumo. Ocorre, que as curvas de oferta da maior parte dos insumos têm inclinação positiva e o preço que o monopsonista deve pagar é, em geral, função crescente da quantidade que adquire. DUOPSÔNIO Uma situação de mercado com pequeno número de compradores é semelhante à de um pequeno número de vendedores. Não existem suposições comportamentais geralmente aceitas. Cada comprador pode controlar o nível de suas aquisições, mas cada um deles é perceptivelmente afetado pelas ações dos outros compradores. O conhecimento das estruturas de mercado, é importante para a disciplina que estamos iniciando, haja vista que ao lançarmos vista sobre essas estruturas de mercado, podemos inferir que em alguns casos, a questão de se ter mercado monopolista, traz grande risco para os consumidores e assim, a questão do nível de preços passa a ter muita influência no próprio desenvolvimento, o que enseja a necessidade de regulação. EXEMPLO Para que alguma indústria venha a adquirir as demais que produzem o mesmo produto, se constata a necessidade de ter autorização governamental. Posto que ao passar a ter o monopólio da venda de determinado produto, pode-se imaginar que o vendedor não terá limites para a determinação do preço de venda. Pode-se exemplificar com o caso da aviação. Se tivéssemos uma única empresa de aviação, o nível de preços das passagens aéreas seria exageradamente alto, já que não haveria quem pudesse prestar o mesmo serviço, posto que a viagem de navio não pode concorrer com a aviação, principalmente no tempo em que a viagem é feita. Outro exemplo é o caso das cervejarias. Para a fusão de empresas que produzem cerveja, somente com a autorização governamental, pois de outra forma se poderia inferir que o preço da cerveja se tornaria impraticável para os consumidores. FONTES DAS IMAGENS 1. http://www.adobe.com/go/getflashplayer Responsável: Prof. Eduardo Santos Ellery Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual