TRABALHO Nº 3 pH DAS ÁGUAS NATURAIS. ACIDEZ (PH) POR MEDIDA ELECTROMÉTRICA. OBJECTIVOS 1) Familiarizar os alunos com o pH e o método corrente de determinação. 2) Constituição das águas naturais (CO2, H3O+, O 2, etc.) 3) Capacidade de raciocínios elementares sobre equilíbrio químico 1. INTRODUÇÃO Os problemas ambientais resultantes da contaminação das águas naturais estão relacionados com o seu teor em determinados compostos químicos, quer porque estes compostos representam uma agressão ambiental por si próprios (são poluentes), quer porque a sua concentração numa água nos indica qual o seu estado de "saúde". No primeiro caso estão os excessos de concentração de H3O+ (chuvas ácidas), catiões de metais pesados (em particular mercúrio(II), cádmio(II), chumbo(II)), aniões fosfato (PO43-), nitrato (NO 3-) e sulfato (SO42-) e ainda poluentes orgânicos (hidrocarbonetos, hidrocarbonetos clorados e os mais recentes pesticidas de composição muito variada). A concentração de oxigénio na água é um dos parâmetros mais importantes na avaliação da capacidade que esta tem de suportar contaminações de substâncias biodegradáveis. É portanto, um dos melhores indicativos da "saúde" de uma água. O oxigénio em concentrações inferiores a 5 mg/l (aprox. 3×10-4 M) não permite a manutenção de uma comunidade de organismos aeróbios capazes de limpar por processos bioquímicos uma água. Este facto é tanto mais importante, quanto muitas classes de compostos que poluem as águas, provenientes da indústria química e da agro-indústria, são fortemente tóxicos e quimicamente muito estáveis, sendo só degradáveis por via biótica (p. ex. os pesticidas da classe das triazinas). Química Geral 2. ACIDEZ DE ÁGUAS NATURAIS A 25oC a constante de equilíbrio da água1, - H3O+ + HO-, é 2 H2O KW = [H3O +] [OH ] = 1,0×10-14. Logo, em água pura e a 25 oC [H3O+] = [OH-] = 1,0×10-7 M. 1 A acidez é usualmente medida em unidades de pH = log10 . Assim, a água neutra tem, a 25 oC, + [H3 O ] pH=7.0. Nota: a expressão pH provém das iniciais de potencial do ião hidrogénio e é usada frequentemente em química (por exemplo pKa é o log10 (1/K a) em que Ka representa uma constante de acidez). Na realidade a água da chuva, mesmo na ausência de poluição, contém O2, N2 e CO 2 dissolvidos. O CO2 dissolvido reage com a água para dar ácido carbónico, H2CO3 CO2(aq) + H2O K = 10-2.8 H2CO3(aq) O ácido carbónico é um diácido com constantes de acidez 1 Nota sobre a lei da acção das massas. Em princípio K W = [H3O + ] × [OH - ] , sendo adimensional tal como qualquer constante de equilíbrio. Como se explica, [H 2O]2 - então, que a equação escrita acima (KW= [H3O +] [OH ]) também esteja correcta? Note-se que a concentração de H 2O na água pura é de 1000g dm-3/18g mol-1, logo 55,6M. Na realidade a equação acima dever-se-ia escrever, tal como se deduz (H O + )(OH - ) através da termodinâmica, como K W = 3 onde os parênteses curvos indicam actividades e não (H 2O) 2 concentrações. É necessário explicar porque é que substituímos (H2O)=1 (em vez de 55,6M) e, pelo contrário, as - - actividades dos iões (H3O+) e (OH ) pelas “concentrações” adimensionais [H3O+] em rigor [H3O+]/1M e [OH ] também - neste caso [OH ]/1M. A actividade é um conceito fácil de compreender. Uma substância duplica a sua actividade quando duplica a sua probabilidade de reacção, logo, se duplicar a concentração de OH - na água a probabilidade de ele reagir com um H3O+, suposto constante, também duplica. Note-se que a representação termodinâmica da constante de equilíbrio faz todo o sentido. De facto, o equilíbrio depende da possibilidade de reacção e não necessariamente da concentração. Para soluções diluídas, a actividade é proporcional à concentração. Porém, quando se trata de um sólido ou de uma substância muito concentrada isto não se verifica. Por exemplo, se o solvente for H2O cuja concentração é de 55,6M a probabilidade de reacção da água com uma outra molécula dissolvida não é significativamente afectada se a sua concentração se reduzir para metade. De facto, o reagente estará sempre em contacto directo com várias moléculas de água, logo, a actividade deixa de ser proporcional à concentração e a constante de equilíbrio deverá reflectir esta independência da concentração. Posto isto, há que usar algumas convenções para definir o valor da actividade de uma substância química: (1) a actividade de uma substância em solução diluída é unitária para uma concentração 1M (concentração padrão) e (2) a actividade de um sólido ou líquido puros é unitária. 2 Guia de Laboratórios H2CO3(aq) HCO3-(aq) + H+ Ka1 = 4.2×10-7 HCO3-(aq) CO32-(aq) + H+ Ka2 = 5.0×10-11 Como consequência, por volta de pH=7 as formas: HCO3- (bicarbonato), H2CO3 e o CO2 coexistem (o CO32- porventura existente passa a HCO3- devido à baixa constante de equilíbrio). Assim o CO2 dissolvido é responsável pela acidez natural da água da chuva. Quando o CO2 se liberta a água torna-se menos ácida. As águas recolhidas em reservatórios naturais contactam terrenos de origem siliciosa ou calcária. No primeiro caso podem dar-se diversas trocas iónicas, mas, não nos ocuparemos aqui desses casos. Em geral o pH destas águas é dominado pela presença de CO2 e têm uma acidez semelhante à que se encontra na água da chuva recolhida directamente. Diversas águas de mesa provenientes de zonas montanhosas do Norte de Portugal pertencem a esta classe. Quando a água contacta terrenos calcários o carbonato de cálcio (calcário) dissolve-se na água CaCO3 CO32-(aq) + Ca2+(aq) KS = 4,96×10-9 em consequência, a concentração do ião carbonato aumenta, mas devido à muito baixa constante de acidez o ião carbonato reage com o H+ existente provocando o aumento do pH do meio e enriquecendo este em ião bicarbonato. Esta águas apresentam pH muitas vezes básico e são usualmente provenientes do Centro ou Sul de Portugal. 3. METODOLOGIA EXPERIMENTAL. Determinação do pH O método dos indicadores corados para determinação do pH de uma água natural está actualmente caído em desuso. Usam-se "aparelhos de pH" que não são mais que milivoltímetros ligados a uma pilha cujo potencial depende da [H+]. Em seguida esquematiza-se a pilha usada Hg | Hgaq+(saturado) || H+(concentração a determinar) | H2,Pt O eléctrodo Hg+/Hg, denominado eléctrodo de calomelanos, é usado como referência. O seu potencial de redução padrão é de +0,2412 V a 25 oC. O potencial do eléctrodo de H+/H é proporcional à concentração de 2 H+ tal como prevê a equação de Nernst. H+ + e- Assim K W 1/2 H2(1 atm) E = EH0 + H2 − pH 2 0, 0591(a 25ºC) log10 = −59,1 mV × pH n(= 1) [H + ] [H3O + ] × [OH ] 1M 1M = [H O + ] [OH - ] (concentrações adimensionais). = 3 (H 2O) 2 = 1 3. Química Geral Na prática, é utilizado um "eléctrodo de vidro" em vez do eléctrodo de hidrogénio. Trata-se de uma membrana de vidro na qual se dá a redução do H+ e que dispensa o uso de H2 gasoso. O seu funcionamento é complexo e está fora do âmbito deste curso. Denomina-se "eléctrodo combinado" um dispositivo que contém numa só peça o eléctrodo de calomelanos e o eléctrodo de vidro. 4. REALIZAÇÃO EXPERIMENTAL 4.1. Material - 2 copos de 100 ml - placa de aquecimento e agitação - barra de agitação - aparelho de pH, eléctrodo combinado, e soluções padrão - águas minerais do Luso, Pedras, Vimeiro (ou Monchique) - copo de 400 ml 4.2. Execução laboratorial 1) Calibre o aparelho de pH com as soluções padrão de pH=4.0 e pH=7.0. 2) Meça o pH de uma água proveniente de terrenos graníticos (por exemplo Água do Luso) e o de uma água de zonas calcárias (por exemplo água de Vimeiro ou Monchique). Observe a composição indicada no rótulo da garrafa e tente interpretar o resultado. 3) Faça passar a água do Luso por uma coluna contendo calcário (CaCO3). Meça o pH à saída da coluna. Interprete. 4) Meça o pH de uma água gasosa (p.ex. Água das Pedras). Interprete o valor obtido comparando com a composição indicada no rótulo. ATENÇÃO: não deixe o eléctrodo combinado muito tempo dentro da água gasosa para evitar a difusão do CO2 para o interior do eléctrodo. 5) Aqueça esta mesma água num copo com agitação intensa. Deixe arrefecer e meça o pH. Qual a razão da variação? Qual a origem e composição do precipitado que se forma? EXERCÍCIOS 1. Explique, com base nos equilíbrios indicados porque razão a dissolução de calcário em água lhe reduz a acidez. 4 Guia de Laboratórios 2. Qual o pH de uma água pura na qual se dissolveu 10-2 mol por litro de CO2? 3. As reacções que descrevem a dissolução do SO 3, anidrido sulfúrico, em água são idênticas às que representam a dissolução do CO 2, anidrido carbónico, em água. a) Escreva estas reacções. b) O anidrido sulfúrico é o principal responsável pela formação de “chuvas ácidas”. Interprete este facto calculando o pH de uma água em que se dissolveu 10-2 mol por litro de SO3 e compare com o resultado obtido no exercício 2. Dados: pKa1(ác. sulfúrico)=12, pKa2(ác. sulfúrico)= 1.98, constante de equilíbrio -2 da reacção do SO 3 com a água 2x10 . 5.