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Trabalho 515
VULNERABILIDADE AO USO DE MEDICAMENTOS EM USUÁRIOS DO PROGRAMA
HIPERDIA NA ATENÇÃO BÁSICA EM DOURADOS, MS.
Rogério Dias Renovato1, Kamila Onose Araujo Cunha2, Jéssica Ribeiro Dal Vesco2, Cássia
Aparecida da Silva2, Marina Sampaio Descovi2, Márcia Regina Martins Alvarenga3, Cibele de
Moura Sales4, Vivian Rahmeier Fietz 5, Lourdes Missio6.
Introdução:O uso de medicamentos na terapêutica deve ser adequadamente fundamentado assegurando
ao paciente seu emprego racional. Seu mau uso reduz a qualidade do atendimento e pode levar ao
aumento dos custos dos sistemas de saúde. Existem várias causas que podem desencadear o mau uso de
medicamentos, dentre eles; a multiplicidade de produtos farmacêuticos disponíveis, a compulsão dos
pacientes por “tomar remédios”, constituindo uma das pressões para a necessidade de prescrição
medicamentosa, a propaganda medicamentos nas mídias, o fácil acesso a medicamentos na internet, bem
como a formação dos profissionais de saúde que privilegiam ações curativistas em detrimento de
estratégias de prevenção e promoção em saúde1. A vulnerabilidade ao uso de medicamentos é evidenciada
a partir dos seguintes dados: os hospitais gastam de 15 a 20% de seus orçamentos para tratar agravos
decorrentes do mau uso de medicamentos e 40% dos pacientes que adentram os pronto-socorros com
intoxicação são vítimas dos medicamentos2. Desse modo o uso de medicamentos requer a gestão
colaborativa nas mais variadas esferas de atenção em saúde. A promoção do uso correto e seguro
medicamentos deve ser reconhecida sob a perspectiva da interdisciplinaridade, em que a busca de
soluções no cotidiano do trabalho em saúde está em concordância com as bases disciplinares e o
entrelaçamento dessas fronteiras do saber, promovendo interações entre os conhecimentos específicos e
gerais em um mesmo projeto - o da resolutividade na atenção à saúde dos sujeitos 3. Objetivos: analisar os
elementos da vulnerabilidade de usuários do programa Hiperdia em relação ao uso de medicamentos.
Metodologia: Pesquisa descritiva e exploratória, de abordagem qualitativa vinculada ao “Projeto Práticas
Educativas em Saúde na Promoção do Uso Racional de Medicamentos em pacientes hipertensos e
diabéticos na rede básica de saúde”, com apoio financeiro da FUNDECT/Ministério da
Saúde/CNPq/Secretaria de Estado da Saúde do Mato Grosso do Sul. Sujeitos da pesquisa foram os
usuários cadastrados no programa Hiperdia de três equipes Estratégia Saúde da Família (ESF) de
Dourados, MS, bem como os profissionais de saúde responsáveis pela atenção e cuidado a esses usuários
Farmacêutico, Doutor em Educação, Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
(UEMS) – [email protected]
2
Acadêmica do Curso de Enfermagem da UEMS.
3
Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Docente do Curso de Enfermagem da UEMS.
4
Enfermeira, Doutora em Ciências da Saúde, Docente do Curso de Enfermagem da UEMS.
5
Nutricionista, Doutora em Engenharia de Alimentos, Docente do Curso de Enfermagem da UEMS.
6
Enfermeira, Doutora em Educação, Docente do Curso de Enfermagem da UEMS.
1
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nessas ESF. Em relação aos usuários foram realizadas entrevistas individuais, e aos componentes das ESF
foi aplicada a técnica do grupo focal. As entrevistas foram gravadas e transcritas. A análise dos dados
utilizou o conceito de vulnerabilidade, matriz teórica que se debruça em três eixos: dimensão individual,
como o grau e a qualidade da informação de que os indivíduos dispõem sobre o problema; dimensão
social que diz respeito, por exemplo, ao acesso aos meios de comunicação, escolarização, disponibilidade
de recursos materiais, poder de influenciar decisões políticas, possibilidades de enfrentar barreiras
culturais; dimensão programática, ou seja, o papel do Estado e suas políticas públicas voltadas para
garantir o direito à saúde ao cidadão, através de ações planejadas e sistematizadas 4. A pesquisa foi
aprovada no Comitê de Ética de Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul através do
protocolo n.1801/2010. Resultados: Participaram da pesquisa 46 usuários e 26 profissionais das ESF 30,
31 e 32, dando total de 72 sujeitos. Em relação aos usuários, 17 eram da ESF 30, 14 da ESF 31 e 15 da
ESF 32. As características predominantes dos usuários foram: sexo feminino (29 – 63,04%), ser idoso
(28 – 60,87%), ser católico (31 - 67,39%), ter ensino fundamental incompleto (27 – 58,70%), estar casado
(29 – 63,04%), e fazer uso de medicamentos na média de 2,91 por pessoa. Quanto à procedência, 16
relataram ser da região Sudeste e 15 do Mato Grosso do Sul. Quanto á profissão, 50% declarou estar
aposentado. Em relação aos profissionais das ESF, nove eram da ESF 30, sete da ESF 31 e 10 da ESF 32,
sendo três enfermeiros, três médicos, um dentista, quatro auxiliares de enfermagem, um auxiliar
odontológico, doze agentes comunitários de saúde e duas recepcionistas. Dentre as características
principais, verificou-se que as equipes de ESF incluídas na pesquisa são constituídas por mulheres, ao
todo 20, média de idade em torno de 39 anos, e atuando na ESF em média há cerca de cinco anos. A
análise da vulnerabilidade deu-se através dos seus três eixos: dimensão individual, social e programática.
Em relação à dimensão individual, os elementos foram: automedicação, não adesão ao tratamento, déficit
na compreensão/entendimento do tratamento medicamentoso, ausência de percepção de sua
vulnerabilidade ao uso de medicamentos e problemas funcionais, cognitivos e visuais. Sobre a
automedicação, ficou evidente as consequências dessa prática, como a incidência de reações adversas,
dentre elas reações alérgicas, e no caso de antibióticos, o aumento de situações de resistência a esses
fármacos. A troca de medicamentos entre os vizinhos - a “vizinhoterapia”, e a substituição ou uso
conjunto de plantas medicinais, sem prescrição ou orientação adequadas também se fizeram presentes.
Em relação à não-adesão ao tratamento, os profissionais das ESF relataram a relação entre a pouca
disponibilidade em cumprir o tratamento, como causa de desfechos desfavoráveis, que culminam em
situações de urgência, dentre elas crises hipertensivas, e o agravamento do quadro da doença, como por
exemplo, em caso de pacientes diabéticos a necessidade de inserir insulina, decorrente do não
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cumprimento ao uso de antidiabéticos orais. Já sobre a dificuldade em compreender o tratamento, tanto os
profissionais das ESF, como os usuários discorrem sobre o uso incorreto da medicação, pois mesmo tendo
acesso, exemplos de práticas irracionais foram relatadas, por exemplo, ingestão de medicamentos via oral
com refrigerante. A invulnerabilidade ao uso de medicamentos ecoa nas adaptações realizadas pelos
pacientes, que não percebem os riscos de reações adversas, ou das consequências dessas modificações,
dentre elas a interrupção do tratamento no final de semana para tomar sua “cervejinha”. Em relação aos
elementos da dimensão social da vulnerabilidade, foram encontrados: dificuldades de acesso ao ensino,
nível baixo de escolaridade, aspectos culturais, acesso fácil a medicamentos em estabelecimentos
farmacêuticos, aspectos sanitários. Sobre os aspectos culturais, a partir das falas dos usuários, muitos
relataram como causa da não-adesão ao tratamento, a ausência de sinais e sintomas, ou seja, o paciente só
passar a tomar os medicamentos, quando se percebe doente, ou quando sente algo. Por outro lado, a
automedicação assume proporções culturais, quando o paciente requisita à equipe a prescrição de
medicamentos, mesmo sem necessidade. Por outro lado, muitos relatam certa desconfiança da eficácia
dos medicamentos dispensados na rede básica. Sobre a dimensão programática, as questões apontadas
estão relacionadas á assistência farmacêutica, dentre elas, a seleção e aquisição de medicamentos, como
apresentação do medicamento em apenas uma dosagem, o que leva a adaptações posológicas pelo
prescritor e dificuldade de compreensão pelo usuário. Outras questões, como prazo de validade próximo
do vencimento e aquisição de medicamentos similares geram desconfiança e confusão em relação ao
usuário. Enfim, a inexistência de programas de educação permanente sobre o uso racional de
medicamentos pode contribuir para acentuar a vulnerabilidade dos usuários ao uso de medicamentos.
Conclusão: A vulnerabilidade dos usuários do programa Hiperdia aos medicamentos não se restringem
apenas à dimensão individual, mas se estendem aos aspectos sociais, bem como destacam o papel do
Estado, através do Sistema Único de Saúde, e nesse caso a Estratégia de Saúde da Família, como cenários
criativos e pertinentes para implementar ações educativas em saúde e práticas cuidativas voltadas ao ser
humano que faz uso de medicamentos. Implicações para a Enfermagem: O enfermeiro e a enfermeira,
bem como sua equipe, podem contribuir para a promoção do uso racional de medicamentos no âmbito da
atenção primária em saúde. Logo, a partir dos resultados acima, a sua participação é imprescindível para
implementar não apenas ações educativas, como também o cuidado sob uma perspectiva mais ampla e
multirreferencial.
Descritores: vulnerabilidade, uso de medicamentos, atenção básica em saúde.
Área temática: Políticas e práticas em Saúde e Enfermagem
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Eixo Temático: A pesquisa de enfermagem no processo de cuidar e educar: interdisciplinaridade,
transculturalidade e difusão do conhecimento.
Referências
1- Wannmacher L. Uso Racional de Medicamentos: medida facilitadora do acesso. In: Zepeda Bermudez
JA, organizador. Acceso a medicamentos: derecho fundamental, papel del Estado. Rio de Janeiro: ENSP;
2004. p.91-102.
2- Anvisa. Parcerias para diminuir o mau uso de medicamentos. Rev Saúde Pública. 2006; 40(1):191-194.
3- Leite SN, Cordeiro BC. A interdisciplinaridade na promoção do uso racional de medicamentos. Cienc
Cuid Saúde. 2008; 7(3): 399-403.
4- Ayres JRCM, França Júnior I, Calazans GJ, Saletti Filho HC. O conceito de vulnerabilidade e as
práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: Czeresnia D, organizadora. Promoção da saúde:
conceitos, reflexões, tendência. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003. p. 117-139.
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