Desenvolvimento de uma metodologia para o cálculo analítico de tambores de transportadores de correia Milla de Paula Kleinsorge1, Marcelo Alves Gelais2, Marcelo de Araújo Marcondes3 e Antônio Eustáquio de Melo Pertence4 1 Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFMG, [email protected], 2 Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFMG, [email protected], 3 Mestre em Engenharia Mecânica UFMG, [email protected], 4 Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG, [email protected] Resumo – A crescente necessidade de manuseio de minério tem propiciado o desenvolvimento de transportadores de correia com capacidades cada vez maiores. Estes projetos têm demandado estudos mais detalhados de seus principais componentes, dentre eles, pode-se destacar o sistema de acionamento, as correias e seus tambores. A necessidade de transportar cada vez mais material está diretamente relacionada com as tensões sobre as correias, ou seja, com as tensões atuantes nos tambores em geral. Neste trabalho são apresentadas informações sobre transportadores de correia, os tipos existentes e seus principais componentes, além do desenvolvimento um método para o cálculo analítico de tambores. São analisadas as tensões na casca, no disco e eixo do tambor sendo definidos valores limites para tensões e deformações atuantes. A partir do desenvolvimento da metodologia de cálculo analítico para o tambor foi desenvolvido um programa em Excel® com a utilização de macros baseado em VBA® (Visual Basic Application) possibilitando a criação de uma interface gráfica amigável para o usuário. O programa foi utilizado no estudo de casos e os resultados obtidos foram comparados com o resultado de um programa comercial de cálculo de tambor. Assim, espera-se que este estudo contribua para um maior conhecimento de um método de cálculo de tambores para transportadores de correia, possibilitando a melhoria na execução dos projetos e minimizando as possibilidades de falhas destes componentes. Palavras-chave: Manuseio de minério, Transportador de Correia, Tambores, Tambores motrizes, Tambores movidos Abstract – The growing need for conveyor bulk material pushed the development of belt conveyors with bigger capacities. These projects have been requiring more detailed studies of its main components, among them are the drive system, the belts and their pulleys. The need to convey more and more material is directly related to the tension on the belts, ie, the stresses acting on the drums in general. This paper presents information on belt conveyors, existing types and their main components, and the development of an analytical method for the calculation of pulleys. Tensions will be analyzed in the rim, discs and shaft and stress limits and strain values will be set. From the development of an analytical calculation methodology for pulleys was developed a program in Excel® using VBA®-based macros (Visual Basic Application) enabling a friendly graphical user interface. The program was used in case studies and the results were compared with the results of another commercial program of pulley calculation. Thus, it is expected that this study contributes to a better understanding of a method of calculation of pulleys for belt conveyors, enabling the improvement in project execution and minimizing the possibility of failure of these components. Keywords: Bulk Handling, Belt Conveyor, Drive Pulley, Non-drive Pulley. I. INTRODUÇÃO A necessidade de transportar cada vez mais materiais a granel possibilitou o desenvolvimento de novas tecnologias nas áreas relacionadas à mineração, em especial os transportadores de correia. Cada transportador de correia apresenta características bastante individuais e peculiares conforme sua aplicação, conforme o material a ser transportado e também de acordo com o perfil do terreno, distâncias e diferentes elevações entre o carregamento e a descarga do material [1]. O aumento das capacidades e das distâncias a serem transportadas tem relação direta com as tensões aplicadas na correia e consequentemente nas tensões atuantes nos tambores. O tambor é responsável por transmitir o torque fornecido pelo conjunto de acionamento, composto de motor, acoplamentos e redutor para a correia, além de tracionar as correias, vencendo as resistências diversas, bem como promover as mudanças de direção da correia de forma a ter-se o perfil desejado do transportador. Como os tambores são componentes de grande importância para o funcionamento dos transportadores, é apresentado neste trabalho o desenvolvimento de uma metodologia para o cálculo analítico de tambores a partir da norma [2] para projeto de eixos de transmissão e com base na teoria de placas finas e casca desenvolvida por [3], além de livros e publicações cientificas [4], [5], [6], [7] e [8]. O cálculo ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 analítico contempla as partes relevantes do tambor, ou seja, eixo, casca e disco. A partir do desenvolvimento da metodologia de cálculo analítico para o tambor foi desenvolvida um programa em Excel® com a utilização de macros baseado em VBA® (Visual Basic Application) contendo as equações utilizadas no cálculo, além de um banco de dados com informações e padrões determinados pela norma [9]. O programa foi utilizado no estudo de casos e os resultados obtidos foram comparados com os resultados de outro programa comercial de cálculo de tambor que apresenta metodologia distinta. Assim foi possível a criação de uma interface gráfica amigável que permite ao profissional uma maior facilidade e rapidez ao executar os cálculos do tambor, possibilidade que é de grande interesse tanto para as indústrias de mineração, quanto para as empresas de projetos e fabricantes dos transportadores de correia. II. TRANSPORTADORES DE CORREIA Segundo a NBR 6177 [1], o conceito de transportador de correia é o seguinte: “Arranjo de componentes mecânicos, elétricos e estruturas metálicas, consistindo em um dispositivo horizontal ou inclinado (ascendente ou descendente) ou em curvas (côncavas ou convexas) ou ainda, uma combinação de quaisquer destes perfis, destinado à movimentação ou transporte de materiais a granel através de uma correia contínua com movimento reversível ou não que se desloca sobre os tambores, roletes ou mesa de deslizamento, segundo uma trajetória pré-determinada pelas condições de projeto, possuindo partes ou regiões características de carregamento e descarga.” De uma forma geral, os transportadores de correia são constituídos por um ou mais acionamentos que, por meio de tambores sustentados em seus eixos por mancais de rolamentos tracionam correias de borracha sobre as quais o material granulado é transportado. Cada transportador de correia irá apresentar características bastante individuais e peculiares conforme sua aplicação, conforme o material a ser transportado e também de acordo com o perfil do terreno e as distâncias e diferentes elevações entre o carregamento e a descarga do material [1]. velocidade para a correia, tracionando e movimentando a mesma, juntamente com o material transportado, vencendo as distâncias e as resistências diversas, bem como promovendo as mudanças de direção da correia de forma a ter-se o perfil desejado do transportador. Neste sentido, tem-se normalmente o tambor de descarga, os tambores de desvio diversos, os tambores de acionamento, de esticamento e de retorno conforme indicado esquematicamente na Figura 1. Muitas vezes, o tambor de descarga é o próprio tambor de acionamento bem como o tambor de retorno pode ser também o tambor de esticamento, mas nem sempre isso ocorre. A posição do tambor ao longo do transportador de correia tem grande influência na tensão na qual ele está submetido, os tambores localizados antes do tambor de acionamento (considerando o sentido de transporte) estarão sujeitos a maiores tensões, enquanto que, os tambores localizados após o tambor de acionamento estarão sujeitos a menores tensões, podendo assim, ter dimensões menores. Figura 1 – Desenho esquemático mostrando uma posição típica dos diversos tambores. TAMBOR DE DESVIO TAMBOR DE DESCARGA TAMBOR DE RETORNO TAMBOR DE ACIONAMENTO TAMBOR DE ESTICAMENTO Fonte: Elaborada pelos autores. Os tambores dos transportadores podem ser classificados como motrizes, ou seja, transmitem torque através dos seus eixos, ou movidos em que os eixos servem como de apoio. A Figura 2, apresenta um tambor típico movido, com seus principais componentes: o eixo, a casca os discos laterais e anel de expansão. Figura 2 – Tambor movido. REVESTIMENTO CASCA ANEL DE EXPANSÃO CUBO III. TAMBORES EIXO Os tambores de transportadores de correia, antigamente eram fabricados utilizando madeira, hoje podem ser fabricados utilizando ferro fundido forjado ou aço soldado. O aumento do uso de transportadores de correia e a necessidade de peças de reposição, levou a indústria de tambores a abandonar os tambores feitos sob medida e partir para o desenvolvimento de padrões, com dimensões já predefinidas, assim como faixas de tensões que podem ser aplicados. Os tambores transmitem o movimento rotativo do acionamento, do eixo de saída dos redutores de DISCO Fonte: Elaborada pelos autores. A. Eixo Um eixo é um elemento rotativo, geralmente de seção transversal circular, utilizado para transmitir potência ou movimento. Um eixo que não transmite nenhum torque é utilizado apenas para suportar rodas, polias e tambores. ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 As dimensões do eixo de um transportador devem ser determinadas de acordo com as cargas aplicadas nele, bem como aspectos construtivos dos transportadores, tal como a largura da correia. O eixo juntamente com todos os componentes do tambor deve ser considerado como um único conjunto estrutural, pois seu dimensionamento depende da interação entre eles. O diâmetro do eixo é determinado por dois critérios, à tensão atuante máxima e deflexão máxima. Dependendo do caso, ou a tensão ou a deflexão podem ser determinantes para a seleção do diâmetro. A resultante da carga radial aplicada no tambor é uma soma vetorial das tensões aplicada na correia. As tensões de correia aplicadas no tambor devem ser determinadas em função da potência transmitida, da elevação do transportador, comprimento do equipamento e das várias resistências presentes no transportador. Uma vez que o acionamento do transportador já tenha sido calculado e a força de esticamento definida, tem-se conhecimento das duas tensões chamadas de T1 e T2 atuantes no tambor e que são, respectivamente, a tensão na entrada do tambor e a tensão na saída do tambor ocasionada pelo esforço do esticamento e responsável por manter o atrito entre o revestimento do tambor e a correia evitando que o tambor deslize e não consiga transmitir o torque do motor para a correia. O cálculo do tambor é feito a partir da resultante das tensões T1 e T2, elas são calculadas através do ângulo de abraçamento do tambor. A Figura 3 e a Equação 1 apresentam o cálculo da tensão resultante T1y , através de relações trigonométricas básicas. Figura 3 – Cálculo da tensão resultante aplicada no tambor. transmitir o torque do conjunto de acionamento para o tambor. Por especificação de clientes, cada anel de expansão em cada lado do tambor deve transmitir 1,6 vezes o torque efetivo do transportador, isto é, o torque transmitido pelo anel selecionado deverá ser igual ao torque tabelado pelo fabricante dividido por 1,6 A máxima tensão cisalhante ( m áx ) em um eixo submetido à flexo-torção é dada pela Equação 2. 2 x 2 xy 2 máx (2) Em que: x - Tensão de flexão xy - Tensão de torção As tensões de flexão e torção são dadas pela Equação 3 e Equação 4, respectivamente. M y I T y J x (3) xy (4) Onde: M - Momento fletor T - Momento de torção Segundo [2], os momentos M e T devem ser multiplicados por fatores de correção devido a choque e fadiga. Adota-se Cm 1,5 e Ct 1,0 . Assim, desenvolvendo as Equações 3 e 4, e as substituindo na Equação 2, chega-se a Equação 5. máx 16 d3 1,5 M 2 1,0 T 2 (5) Segundo [2], as máximas tensões cisalhantes admissíveis são dadas pelas Equação 6 ou Equação 7, a que apresentar menor valor. Fonte: Elaborada pelos autores. T 1 y T 1 sen 2 (1) adm 0,30 S y (6) adm 0,18 Sut (7) Onde: O cálculo do eixo, neste trabalho, será feito baseado em [2], ela apresenta um modo simplificado para o projeto de eixos e pressupõe que o carregamento é constituído de flexão alternada e torque fixo, ou seja, a componente de flexão média é nula, enquanto que a componente alternada do torque é nula. O dimensionamento do eixo deve ser realizado para cada seção, sendo elas: a região do acionamento, região do mancal e do cubo. A determinação do diâmetro mínimo do eixo no cubo é feita pela seleção do anel de expansão. O anel de expansão deve S y - Tensão de escoamento do material Sut - Tensão de ruptura do material Deflexão do eixo Seja um eixo, em equilíbrio, apoiado em suas extremidades, submetido a uma carga que gera flexão normal. Este eixo fletido, deixa de ser reto assumindo uma forma, como a mostrada na Figura 4. ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 Note-se que as seções do eixo sofreram deslocamentos na direção perpendicular ao eixo. Estes deslocamentos são conhecidos como flechas e indicados por f . É possível perceber também, que as seções, antes paralelas, agora ocupam uma posição inclinada em relação à posição inicial. A inclinação existente entre a posição final e a posição inicial da seção é chamada de deflexão e é indicada por . Figura 4 – Eixo fletido. c 3 L L 2 L L 2 2 3 2 12 I c d L2 16 I ec B 2 4 L32 (11) (12) B. Casca Analiticamente é difícil estabelecer como a tensão da correia aplicada no tambor será distribuída entre a casca e os outros componentes do tambor, assim utiliza-se por simplificação a hipótese de que a casca do tambor é considerada como uma viga bi-apoiada. A tensão de flexão da casca segundo [10] é dada pela Equação 13. C Fonte: Elaborada pelos autores. Os valores das flechas e as deflexões são obtidos a partir da integração da função momento fletor que atua nas seções do eixo. Um eixo de um tambor de transportador possui, normalmente, diferenças em seu diâmetro, tornando o cálculo da deflexão mais complicado, pois há mudança nas propriedades da seção transversal ao longo do seu comprimento. A Figura 5 apresenta um eixo de tambor com escalonamentos entre a região do mancal e do cubo e entre a região do cubo e entre cubos. 3 1 3 3 kc Tt D (13) tc 2 Onde: Tt - Tensão média aplicada por comprimento de tambor D - Diâmetro do tambor t c - Espessura da casca k c - Fator de correção devido ao ângulo de abraçamento A Tabela 1 apresenta os valores para k c de acordo com o ângulo de abraçamento [10]. Figura 5 – Eixo de um tambor escalonado. Tabela 1 – Fator de correção devido ao ângulo de abraçamento Fonte: Elaborada pelos autores. As Equações 8, 9, 10, 11 e 12 são utilizadas para o cálculo da deflexão do eixo escalonado, utilizando-se de uma técnica de integração numérica como a regra de Simpson ou a regra do trapézio. tan( ) f 2 f B T1 T 2 b c d 2 E L3 b 1 6 Im (8) kc kc 0º 20º 30º 40º 60º 70º 80º 90º 100º 110º 0,0000 0,0685 0,0891 0,1097 0,1270 0,1260 0,1249 0,1171 0,1092 0,1050 120º 140º 150° 160º 180º 190º 200º 210º 220º 240º 0,1006 0,0810 0,0680 0,0551 0,0292 0,0425 0,0551 0,0664 0,0780 0,1006 A máxima tensão admissível na casca [10] é dada pela Equação 14. admC 0,18 S y (14) (9) C. Anel de expansão (10) Anéis de fixação, normalmente chamados de anéis de expansão devido ao seu princípio de funcionamento, unem por pressão eixos e cubos, eliminando a ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 necessidade de rasgos de chaveta, diminuindo as concentrações de tensão, aumentado a capacidade de carga do eixo significativamente. Dois modelos de anel de fixação estão representados na Figura 6. Figura 7 – Geometrias do disco. Figura 6 – Anéis de fixação. Fonte: Retirado de [11]. A forma de turbina (b) reduz a rigidez do disco, melhorando a distribuição de flexão no disco. A Figura 8 apresenta a distribuição de tensões ao longo do disco, quando adotado o perfil de turbina. Fonte: Catalógo Ringfeder. Figura 8 – Distribuição de tensões ao longo do disco. D. Cubo O cubo é o elemento fixado no disco para permitir a união deste ao eixo, de acordo com [15] sua deformação é considerada zero, devido a sua largura. O diâmetro externo e a largura do cubo dependem também das dimensões do anel de expansão escolhido. Conhecida as dimensões do anel de expansão é possível determinar o diâmetro externo do cubo, apresentado por [15]. As Equações 15, 16, 17 e 18 apresentam a sequência de cálculo do diâmetro externo do cubo, dimensão de extrema importância para o cálculo do disco. d ext d ext ANEL s 4s 3 s 3 Sy s c p 'red p'red p' c Fonte: Elaborada pelos autores. (15) 2 lint lext 65 0,075 S y 100 (16) (17) (18) As variáveis d extANEL , p ' , lint e lext , são valores tabelados pelo fabricante do anel de expansão. E. Disco Os discos podem ter várias geometrias diferentes: chapa plana (a), cônico (b), turbina (c), lápis (d) e moldada (e), como mostrado na Figura 7. Podem ser fabricados de chapas laminadas a frio, por fundição, forjamento ou placas usinadas. Os discos são os componentes de dimensionamento mais complexo e os mais propensos a falhas. No seu dimensionamento com geometria do tipo turbina, é utilizada uma sequência de equações desenvolvidas para o estudo da flexão simples, além de equações baseadas em [3] e [12]. A teoria de placas finas e casca foi desenvolvida para discos com espessuras constantes e no caso dos discos com espessuras variáveis apresenta as seguintes limitações: - A espessura do disco deve ser pequena quando comparada com as outras dimensões do conjunto do tambor e não variar bruscamente; - O disco deve sempre estar fixado de maneira rígida na região de contato com o cubo, enquanto que a fixação na casca pode, ou não, ser feita de maneira rígida. Podem ser feitas duas considerações, uma que o disco está sujeito a um de momento de flexão no centro e que a parte do disco, em contato com a casca, é fixada de maneira rígida (condição A) ou que disco não está fixado de maneira rígida na casca não podendo transmitir qualquer momento de flexão para a casca (condição B) [7]. As condições A e B são apresentadas na Figura 9. Em ambos os casos, o diâmetro interno do disco está rigidamente ligado ao eixo. A condição real está entre as condições A e B. Será considerado para estudo o caso A, pois ele apresenta maiores valores de tensão atuante. ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 Figura 9 – Representação do disco. na Figura 12, o que pode gerar falhas tanto na junção do disco com o cubo, quanto no eixo. Assim é necessário encontrar a melhor combinação das dimensões das partes para chegar a uma melhor operação do tambor. Figura 12 – Tambor dimensionado de maneira que sofrerá altas deformações no eixo e junção entre cubo e disco. Condição A Condição B Fonte: Retirado de [12]. O projeto do tambor deve ser tal que todas as partes, casca, disco, cubo, anel de expansão e eixo trabalhem em conjunto, como mostrado na Figura 10 não permitindo deformações maiores que os limites especificados em nenhuma das partes, caso contrário, ocorrerão tensões locais elevadas. Figura 10 – Tambor com deformações dentro do aceitável. Fonte: Elaborada pelos autores. Para o cálculo da tensão no disco é necessário considerar: - Tensão devido à deflexão do eixo, causada pelo memento fletor DF ; - Tensão de compressão devido à carga aplicada no tambor DCO ; - Tensão de cisalhamento devido ao torque aplicado no tambor DCI ; A Figura 13 mostra todas as tensões citadas para o cálculo da tensão no disco. Fonte: Elaborada pelos autores. Figura 13 – Tensões nas quais o disco está submetido. Uma carga aplicada em uma casca pouco espessa com um disco de grande espessura resultará em uma grande deformação na casca e pouca do disco, como representado na Figura 11, produzindo uma alta tensão localizada na região da junção entre a casca e o disco, como destacado em vermelho. Esta alta tensão pode gerar a quebra do tambor na região da casca. Figura 11 – Tambor dimensionado de maneira que sofrerá com altas tensões na região da junção entre casca e disco. Fonte: Elaborada pelos autores. De acordo com [10], a Equação 19 apresenta a equação para o cálculo da tensão resultante no disco. D Fonte: Elaborada pelos autores. Para uma mesma carga aplicada, em um eixo pouco robusto com um disco muito espesso, a deformação angular do eixo será grande, mas o disco não deformará, isto pode ser visto na Figura 12. Esta situação pode causar altas tensões localizadas na região do anel de expansão e cubo, representado em vermelho D F DCO 2 4 D 2 CI (19) Existe ainda uma pressão radial aplicada pelo anel de expansão no eixo e também no disco, mas essa não será considerada no cálculo. Foi dito em [3], que a fixação do disco e do cubo deve ser feita de maneira rígida, dessa maneira, é possível afirmar que a deformação na região entre eixo e o disco é igual. O diagrama de momento fletor do disco é apresentado na Figura 14. ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 Figura 14 – Momento fletor no disco. Figura 16 – Detalhe do tambor com relação. MD Fonte: Elaborada pelos autores. O disco absorve o momento fletor no eixo, é possível perceber isso na Figura 15, que apresenta o diagrama de momento fletor para o disco e eixo, nela o valor do momento fletor do disco na região de contato com eixo é igual à parcela de momento fletor subtraída do eixo. Fonte: Elaborada pelos autores. Pelo estudo da flexão simples, pela equação da linha elástica é possível chegar a Equação 23. S MS L 2 E I (23) Figura 15 – Diagrama de momento fletor no disco e no eixo. Igualando e desenvolvendo as Equações 21 e 23, chega-se as Equação 24. MD MD MS M M (24) 1 2 I Lt 3 d MD De posse das Equações 20 e 24, é possível chegar ao valor de DF , apresentado na Equação 25. Fonte: Elaborada pelos autores. É possível encontrar as Equações 20 e 21 em [12], em que DF é a tensão de flexão e D é a deformação nos discos. DF 2 M D Di td 2 (20) D F 2 M 2 I 2 Di t d 1 3 L td (25) é dado pela Equação 26 e da tensão de cisalhamento D é O cálculo da tensão de compressão DCO CI dado pela Equação 27, segundo [10]. D MD E td 3 (21) Em que α é o fator de rigidez dos discos e β é o fator de rigidez do par eixo-cubo, ambos tabelados em [3]. As constantes são dependentes da razão entre d ex Di , como indicado na Figura 16, já t d é a espessura do disco. Através da Figura 14, é possível perceber que o momento M é a soma do momento no eixo M S e o momento do disco M D como mostra a Equação 22. M MS MD DCO DCI T1 T 2 2 d ex td Di T1 T 2 dex 2 td (26) (27) A máxima tensão admissível no disco é apresentada na Equação 28. adm 0,30 S y (22) ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 (28) IV. PROGRAMA KLEINGEL O programa consiste na aplicação direta das fórmulas para cada componente do tambor. Assim, os dados de entrada são apenas os dados inicias de cálculo, tais como o tipo de tambor (motriz ou movido), as tensões aplicadas no tambor, a largura da correia, o diâmetro nas diversas seções do eixo, as espessuras do disco e da casca e a seleção do material do eixo e o modelo do anel de expansão. No caso de um tambor motriz ainda devem ser inseridos o valor da potência instalada no transportador, a rotação do motor e a relação de redução fornecida pelo redutor, para a definição do torque requerido pelo acionamento para a seleção do anel de expansão e cálculo do eixo. O comprimento do tambor, distância entre mancais e disco são estabelecidas automaticamente pelo programa, após determinada a largura da correia. Como resultados, o programa apresenta os valores calculados para as tensões atuantes da casca, disco, e nas seções do eixo, cabe ao usuário comparar com os limites estabelecidos os dados de capacidade indicados na literatura para o material escolhido e alterar as dimensões dos componentes, caso seja necessário, ou propor outro material mais resistente. A. Telas principais do programa Kleingel Serão apresentadas a seguir as principais telas da interface do programa com o usuário. Inicialmente, ao entrar no programa o usuário irá se deparar com a tela apresentada pela Figura 17. Nesta tela, ele terá a opção de decidir qual o tipo de tambor será calculado: tambor movido ou tambor motriz. tambor está submetido e ângulo de abraçamento do tambor. O modelo do anel de expansão dever ser preenchido, para que seja determinado o diâmetro mínimo requerido para o anel de expansão, e consequentemente, qual deve ser o diâmetro mínimo do eixo na região do cubo. Figura 18 – Tela de definição dos dados do acionamento. Fonte: Elaborada pelos autores. O programa tem um banco de dados com todas as dimensões e torque transmissível de dois modelos de anel de expansão mais utilizados comercialmente, 7012 e 7015.1. Informações que serão utilizadas não só para o dimensionamento do eixo, como também para o cálculo do diâmetro externo do cubo. Figura 19 – Tela de inserção dos dados para cálculo de eixo de tambor motriz. Figura 17 – Tela inicial do programa de cálculo. Fonte: Elaborada pelos autores. Uma vez tendo escolhido o tipo de tambor a ser calculado, o usuário será conduzido às próximas telas. Caso tenha escolhido calcular um tambor motriz será mostrada a tela apresentada na Figura 18, nela deverá ser preenchida as informações do acionamento do transportador previamente determinadas pelo cálculo. Depois de preenchidas as informações da potência instalada, a rotação do motor e a relação de redução fornecida pelo redutor, além do modelo de anel de expansão, o usuário é direcionado para a tela, mostrada na Figura 19, em que deverá preencher as principais informações do tambor, além das tensões na qual o Fonte: Elaborada pelos autores. Algumas dimensões do tambor já são definidas por [9] de acordo com a largura da correia. São elas: o comprimento do tambor, distância entre mancais e distância entre discos. Essas três dimensões serão automaticamente preenchidas pelo programa. O dimensionamento do eixo deve ser realizado para cada seção do eixo, sendo: a região do acionamento, região do mancal e do cubo. A determinação do ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 diâmetro mínimo do eixo no cubo, como já citado, é feita pela seleção do anel de expansão. É necessário para o cálculo do eixo que seja selecionado seu material do eixo, o programa tem no seu banco de dados às informações dos seguintes materiais: aço 1020, 1045, 4140 e 4340, que são os mais utilizados para fabricação de eixos. É importante ressaltar que, o diâmetro do eixo no cubo inserido pelo usuário deve ser maior ou igual ao diâmetro mínimo requerido pelo anel de expansão, caso não seja, o programa gerará uma mensagem de erro. Assim como, o diâmetro do eixo no acionamento dever ser sempre maior ou igual ao diâmetro do eixo no mancal, que deve ser sempre maior ou igual que o diâmetro do eixo no cubo, que por sua vez, deve ser maior ou igual ao diâmetro do eixo entre cubos. Caso isso não ocorra, uma nova mensagem de erro aparecerá mostrando qual dimensão está errada. Após todos os dados preenchidos, e conferência se os diâmetros do eixo respeitam os pré-requisitos, o usuário será direcionado para a tela de resultados de um cálculo de um tambor motriz. A tela de resultados do Kleingel traz todos os dados inseridos pelo usuário e todos os cálculos realizados para o eixo, casca e disco. Cabe ao usuário comparar os resultados obtidos pelo programa com os valores limites para cada componente, caso seja de desejo, ele poderá criar um relatório do cálculo, com as informações inseridas e com as tensões resultantes para cada componente. Para o cálculo do tambor movido, como no cálculo para o tambor motriz, devem ser inseridos os principais dados do transportador. Feito isso, é realizada a conferência pelo programa dos diâmetros do eixo em cada região. E assim, o usuário é direcionado para a tela de resultados do cálculo do tambor movido. B. Geração de um relatório de cálculo Após ser feito o cálculo é possível ver os resultados do cálculo com os dados de entrada e resultados mais relevantes na tela do programa, assim como é possível também, gerar um relatório de cálculo com essas informações, mostrado na Figura 20. V. PROGRAMA TROSPAD® Foi desenvolvido por engenheiros alemães após testes realizados em tambores. Através destes testes, foram determinados os valores do fator de rigidez dos discos e do fator de rigidez do par eixo-cubo apresentados por [3], em sua teoria de placas finas e casca. É um programa bastante utilizado e difundido pelas várias empresas de projetos de tambor. Foi obtido no acervo técnico da empresa Tecnometal sendo de uso livre. A versão utilizada no presente trabalho é uma versão em português. Figura 20 – Relatório de cálculo gerado pelo programa Kleingel. Fonte: Elaborada pelos autores. Quando executado o cálculo de um tambor em que o ângulo de abraçamento é menor que 180 graus, é necessário primeiro, corrigir a tensão no tambor T1 e T2, para as tensões resultantes, como mostrado na Equação 1. Após feita a correção, são inseridos os dados do tambor no programa. Do resultado obtido pelo programa, ainda se faz necessário, corrigir o valor de tensões na casca devido ao ângulo de abraçamento da correia. A Figura 21 traz o gráfico com a curva do fator de correção para a flexão radial e tangencial. Não é necessário fazer a correção para o cisalhamento. VI. ESTUDO DE CASO 1 Foi escolhido, para primeiro estudo, um tambor de acionamento de um transportador de correia de largura de 1000 mm. O transportador já foi calculado, tendo-se assim, os valores das tensões T1 e T2 atuantes no tambor, ângulo de abraçamento, assim como a definição do acionamento. A Tabela 2 apresenta os principais dados para o caso em estudo. ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 Figura 21 – Gráfico do fator de correção do abraçamento fornecido pelo programa Trospad. segundo a Equação 14 é 37,5 MPa, já para o disco 75 MPa, de acordo com a Equação 28. Tabela 4 – Propriedades do aço ASTM-A36. Módulo de elasticidade do aço E 200 GPa Coeficiente de Poisson 0,26 Tensão de escoamento S y 250 MPa Tensão de ruptura Sut 400 MPa A. Kleingel Fonte: Programa Trospad. Tabela 2 – Dados para o cálculo do tambor em estudo. Tipo de tambor Largura da correia Tensão atuante (T1) Tensão atuante (T2) Ângulo de abraçamento Acionamento 1000 mm 160 kN 70 kN Potência instalada (N) Velocidade de rotação (n) Relação de redução (i) 180° 150 kW 1200 rpm 16,21 Algumas dimensões do tambor já são definidas por [9] de acordo com a largura da correia. O comprimento do tambor Lt distância entre mancais B e distância entre discos L . Lt 1150 mm B 1600 mm L 950 mm O diâmetro escolhido para o tambor foi de 800 mm, Para o eixo foi escolhido o aço forjado SAE 1045, pois apresenta resistência mecânica superior a dos aços de baixo carbono convencionais. A Tabela 3 apresenta as principais características do aço SAE 1045 [14]. Tabela 3 – Propriedades do aço forjado SAE 1045. Módulo de elasticidade do aço E Coeficiente de Poisson Tensão de escoamento S y Tensão de ruptura Sut O usuário após selecionar o tambor como motriz na tela mostrada na Figura 16 deve inserir os principais dados do acionamento na tela da Figura 17. Feito isso, ele deve respeitar o diâmetro mínimo requerido pelo anel de expansão que já foi definido pelo programa. Assim, depois de determinado o diâmetro do eixo no cubo, são definidos os diâmetros do eixo na região do mancal e entre cubos. As espessuras da casca e do disco do tambor foram escolhidas considerando que o diâmetro do tambor é de 800 mm e os valores propostos parecem ser razoáveis, considerando a carga a ser aplicada. A Tabela 5 apresenta as dimensões escolhidas para o cálculo do tambor. Tabela 5 – Dimensões para cálculo do tambor. Diâmetro do eixo na região do acionamento Diâmetro do eixo na região do mancal Diâmetro do eixo na região do cubo Diâmetro do eixo na região entre cubos Espessuras da casca Espessuras do disco 150 mm 150 mm 180 mm 210 mm 16 mm 12 mm Os resultados apresentados pelo programa após o cálculo são mostrados na Tabela 6. Tabela 6 – Resumo de tensões nas diferentes partes do tambor. Tensão cisalhante acionamento máxA na região do Tensão cisalhante na região do mancal 200 GPa 0,29 310 MPa 570 MPa Através das Equações 6 e 7, da tensão de escoamento e ruptura do material é possível chegar as máximas tensões cisalhantes admissíveis para o eixo, que para o caso em estudo é de 93 MPa. O material escolhido para a casca e disco é o ASTMA36. A Tabela 4 apresenta as principais características do material [14]. A tensão máxima de flexão na casca, máxM Tensão cisalhante na região do cubo máxC Deflexão do eixo 29,20 MPa 74,79 MPa 60,48 MPa 1,556’ Tensão de flexão da casca C 27,38 MPa Tensão de flexão no disco DF 55,17 MPa Tensão de compressão no disco D Tensão de cisalhamento no disco D CO Tensão resultante no disco D CI ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 32,49 MPa 21,07 MPa 97,26 MPa Depois do cálculo do tambor, as dimensões escolhidas para o eixo e casca atendem os limites definidos, mas o valor da tensão resultante no disco, 97,52 MPa, é maior que a admissível para o material, 75 MPa, assim será necessário alterar algumas dimensões já determinadas e recalcular todos os componentes. As variáveis que tem maior impacto no cálculo da tensão no disco são: o diâmetro do eixo, espessura do disco, diâmetro do tambor e as tensões aplicadas no tambor. Como não é possível diminuir as tensões no tambor, a primeira tentativa será aumentar o diâmetro do eixo, assim será adotado: d A d M 180 mm d C 200 mm d EC 240 mm não calcula o eixo, assim, cabe ao usuário definir o método de cálculo do eixo. O programa Trospad calcula a flexão radial, tangencial e o cisalhamento para a casca, e diferente do critério adotado para o Kleingel, cada tensão apresenta um valor de tensão admissível. De acordo com o manual do programa, para a tensão radial CR , a tensão admissível é igual a 38% da tensão de escoamento. Já para a tensão tangencial CT a admissível é 44% da tensão de escoamento, enquanto que para a tensão de cisalhamento CC é igual a 24%. Sabe-se que o material escolhido para a casca é o ASTM-A36 e que sua tensão de escoamento é igual a 250 MPa. Assim: CR adm 95MPa Novamente é feito o cálculo, considerando as novas dimensões. Nova conferência das tensões cisalhantes no eixo e tensão de flexão da casca deve ser realizada, mas como o eixo está sujeito as mesmas tensões do cálculo anterior e apenas os seus diâmetros foram alterados, sendo ele aumentado, não se faz necessário novo cálculo. O mesmo ocorre com a casca, o cálculo da flexão na casca não depende dos diâmetros do eixo, assim, só será necessário verificar as tensões no disco. Sabendo que o limite de resistência do material para o disco é de 75 MPa, o tambor com as novas dimensões atende a todos os requisitos impostos pelo cálculo, já que a tensão resultante no disco é 74,33 MPa. A Tabela 7 apresentados os novos resultados do programa. Tabela 7 – Resumo de tensões nas diferentes partes do tambor. Tensão cisalhante acionamento máxA na região do CC adm 60MPa A Tabela 8 apresenta um resumo das tensões encontradas nas diferentes partes do tambor. As tensões nas quais todas as partes do tambor estão submetidas estão todas dentro dos limites aceitáveis, sendo assim, mais uma vez, as dimensões escolhidas para o tambor estão corretas. Tabela 8 – Resumo de tensões nas diferentes partes do tambor. Deflexão do eixo Flexão tangencial na casca C Cisalhamento na casca C Tensão de flexão no disco D Tensão de compressão no disco D Tensão de cisalhamento no disco D Flexão radial na casca CR T C 16,90 MPa F Tensão cisalhante na região do mancal máxM Tensão cisalhante na região do cubo máxC Deflexão do eixo 42,38 MPa 44,78 MPa 0,904’ Tensão de flexão da casca C 27,38 MPa Tensão de flexão no disco DF 36,24 MPa Tensão de compressão no disco D Tensão de cisalhamento no disco D CO Tensão resultante no disco D CT adm 110MPa CI 29,49 MPa 17,36 MPa 74,33 MPa B. Trospad O programa utilizado para cálculo de tambores é o Trospad, ele também é baseado na teoria de placas finas e casca desenvolvida por [3]. Como resultado do cálculo são apresentados às tensões na casca, a deformação do eixo e as tensões no disco. O programa CO Tensão resultante no disco D CI 1,784’ 25,02 MPa 40,42 MPa 20,95 MPa 45,07 MPa 13,52 MPa 8,92 MPa 61,28 MPa A Tabela 9 traz todos os valores de tensões calculados pelos dois programas. Para o estudo de caso 1, no cálculo da casca o valor encontrado para a flexão na casca, para os programas Kleingel (27,38 MPa) e Trospad (25,02 MPa) são bem parecidos. Os programas utilizados apresentam métodos de cálculo e maneiras de validar os resultados distintos. No cálculo da casca o valor encontrado para a flexão na casca, para os programas Kleingel (27,38 MPa) e Trospad (25,02 MPa) são bem parecidos, agora se compararmos o valor da tensão resultante no disco, esse valor é completamente diferente. Apesar dos valores das tensões de flexão na casca serem próximos, se compararmos com o valor limite de tensão definido no cálculo, esse valores já ficam bem ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 distantes. Para o Kleingel a flexão radial é 73,01% da tensão admita como limite, enquanto que para o Trospad é de 26,34%. Tabela 9 – Resumo de tensões resultantes de cada programa. Kleingel Trospad Tabela 10 – Dados para o cálculo do tambor em estudo. Tipo de tambor Largura da correia Tensão atuante (T1) Tensão atuante (T2) Ângulo de abraçamento Encosto 2000 mm 360 kN 360 kN 30º Tensão cisalhante na região 16,90 MPa do acionamento máxA - As dimensões definidas por [9] de acordo com a largura da correia são: Tensão cisalhante na região 42,38 MPa do mancal máxM - Tensão cisalhante na região 44,78 MPa do cubo máxC - Lt 2200 mm B 2800mm L 2000mm Deflexão do eixo Tensão de flexão da casca C 0,904’ 1,784’ 27,38 MPa 25,02 MPa R Flexão tangencial na casca C - 40,42 MPa T Cisalhamento na casca C Tabela 11 – Propriedades do aço forjado SAE 4140. - 20,95 MPa D 27,38 MPa 45,07 MPa F Tensão de compressão no 36,24 MPa 13,52 MPa disco DCO Tensão de cisalhamento no 29,49 MPa 8,92 MPa disco DCI Tensão resultante no disco D Módulo de elasticidade do aço E Coeficiente de Poisson C Tensão de flexão no disco O diâmetro definido para o tambor foi de 1000 mm, por ser um transportador de largura igual a 2000 mm, com valores altos de tensões. O material escolhido para o eixo foi o aço forjado SAE 4140. A Tabela 11 apresenta as principais características do aço SAE 4140 [14]. 17,36 MPa 61,28 MPa As diferenças entre as tensões atuantes e as tensões admissíveis para os programas podem ser explicadas pelo fato que o programa Kleingel faz aplicação direta das fórmulas para cada componente do tambor, já para o programa Trospad não é possível ter-se acesso ao código fonte e as premissas e fatores consideradas pelos seus desenvolvedores, assim acredita-se que em alguns casos o programa Trospad é mais conservador e em outros menos conservador que o modelo de cálculo analítico teórico presente no programa Kleingel. Sendo assim, a melhor maneira de comparar os resultados entre programas, é verificar se eles atendem as tensões admissíveis. VII. ESTUDO DE CASO 2 Para o segundo estudo de caso foi escolhido um tambor de encosto, ou seja, um tambor movido, de um transportador de correia de largura de 2000 mm. Como para o primeiro estudo, os principais dados para o início do cálculo já foram definidos após o cálculo do transportador. A Tabela 10 apresenta os dados utilizados para o estudo de caso. Tensão de escoamento S y Tensão de ruptura Sut 200 GPa 0,29 420 MPa 655 MPa A tensão cisalhante máxima admissível para o eixo, de acordo com as Equações 6 e 7, é de 117,9 MPa. O material escolhido para a casca e para o disco é o ASTM-A36. As características do material já foram apresentadas na Tabela 4. Assim, a tensão máxima de flexão na casca é 37,5 MPa e a tensão limite admissível para o disco 75 MPa. A. Kleingel Novamente o usuário deve selecionar o tipo do tambor a ser calculado, por ser um tambor movido não são inseridos os dados do acionamento. Assim, a escolha dos diâmetros do eixo não depende do torque transmitido pelo anel. A Tabela 12 apresenta as dimensões escolhidas para o cálculo do tambor. Tabela 12 – Dimensões para cálculo do tambor. Diâmetro do eixo na região do acionamento Diâmetro do eixo na região do mancal Diâmetro do eixo na região do cubo Diâmetro do eixo na região entre cubos Espessuras da casca Espessuras do disco ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 180 mm 180 mm 220 mm 260 mm 16 mm 12 mm Como o ângulo de abraçamento do tambor é igual a 30°, o programa calcula as tensões resultantes T1 e T2 utilizando da Equação 1. T 1R 93,17 kN T 2 R 93,17 kN Para a nova espessura definida, o valor da tensão de flexão da casca diminuiu para 28,30 MPa, tensão que é menor que a determinada como limite. É feita, então, a análise do disco, a tensão resultante no disco, considerando a flexão, compressão e cisalhamento, é menor que 75 MPa, tensão definida como admissível pelo cálculo. Os resultados apresentados pelo programa após o cálculo são mostrados na Tabela 13. B. Trospad Tabela 13 – Resumo de tensões nas diferentes partes do tambor. Tensão cisalhante acionamento máxA na região do Tensão cisalhante na região do mancal máxM Tensão cisalhante na região do cubo máxC Deflexão do eixo 0 Mpa 40,03 MPa 31,55 MPa 1,073’ Tensão de flexão da casca C 44,22 MPa Tensão de flexão no disco DF 37,41 MPa Tensão de compressão no disco D Tensão de cisalhamento no disco D CO Tensão resultante no disco D CI 22,18 MPa 0 Mpa 59,59 MPa As tensões na região do acionamento, mancal e cubo são todas menores que a admissível, 117,9 MPa, desta maneira, o diâmetro escolhido para o eixo está de acordo com os limites impostos pelo material do eixo, assim como a deflexão do eixo que é de 1,073 minutos, bem abaixo dos 5 minutos permitidos. A espessura de 16 mm da casca não atende ao limite imposto como admissível, pois a tensão de flexão na casca, 44,22 MPa, é maior que 37,5 MPa definida como limite. Se faz necessário aumentar a espessura da casca, assim, será adotado tc 20 mm . Os resultados do novo cálculo são mostrados na Tabela 14. Tabela 14 – Resumo de tensões nas diferentes partes do tambor. Para o cálculo do utilizando o programa Trospad, como o ângulo de abraçamento do tambor é menor que 180° é necessário colocar as tensões na correia, T1 e T2, já com o valor das tensões resultantes T1R e T 2 R . Dos valores para a tensão radial e tangencial da casca apresentados nos resultados do programa é necessário aplicar os fatores de correção nas tensões de casca calculadas apresentadas na Figura 19. Para 30º , têm-se: kCR 7,21 kCT 6,89 A Tabela 15 traz apenas as tensões na casca, já a Tabela 16 apresenta um resumo das tensões encontradas nas diferentes partes do tambor, com os valores para casca já corrigidos. As tensões calculadas para o tambor estão todas dentro dos limites aceitáveis, validando as dimensões escolhidas para o tambor. Tabela 15 – Tensões na casca apresentadas pelo Trospad. Flexão tangencial na casca C Cisalhamento na casca C Tensão de flexão da casca CR 8,19 MPa 14,25 MPa T 5,85 MPa C Tabela 16 – Resumo de tensões nas diferentes partes do tambor. Deflexão do eixo Flexão tangencial na casca C Cisalhamento na casca C Tensão de flexão no disco D Tensão de compressão no disco D Tensão de cisalhamento no disco D Flexão radial na casca CR T Tensão cisalhante acionamento máxA na região do Tensão cisalhante na região do mancal máxM 0 Mpa C F 40,03 MPa CO Tensão cisalhante na região do cubo máxC Deflexão do eixo 31,55 MPa 8,19 MPa 14,25 MPa 5,85 MPa 45,39 MPa 13,89 MPa 0 Mpa 59,28 MPa 1,073’ Tensão de flexão da casca C 28,30 MPa Tensão de flexão no disco DF 37,96 MPa Tensão de compressão no disco D Tensão de cisalhamento no disco D CO Tensão resultante no disco D Tensão resultante no disco D CI 2,720' CI A Tabela 17 traz todos os valores de tensões calculados pelos dois programas. 22,18 MPa 0 Mpa 60,14 MPa ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 Tabela 17 – Resumo de tensões resultantes de cada programa. Kleingel Trospad Tensão cisalhante na região 16,90 MPa do acionamento máxA - Tensão cisalhante na região 42,38 MPa do mancal máxM - Tensão cisalhante na região 44,78 MPa do cubo máxC - Deflexão do eixo Tensão de flexão da casca C 0,904’ 1,784’ 27,38 MPa 25,02 MPa R Flexão tangencial na casca C - 40,42 MPa - 20,95 MPa T Cisalhamento na casca C C Tensão de flexão no disco D 27,38 MPa 45,07 MPa F Tensão de compressão no 36,24 MPa 13,52 MPa disco DCO Tensão de cisalhamento no 29,49 MPa 8,92 MPa disco DCI Tensão resultante no disco D 17,36 MPa 61,28 MPa Os valores de flexão radial na casca calculados pelo programa Kleingel e o Trospad, que para o estudo de caso 1 haviam sido próximos, para o segundo estudo de caso são completamente diferentes. A diferença percentual entre o valor calculado e o considerado como admissível ficou ainda maior neste caso, sendo 75,47% para o Kleingel e 8,26% para o Trospad. Isso pode ter acontecido, devido ao valor dos fatores de correção devido ao ângulo de abraçamento estabelecidos. A tensão de cisalhamento no disco foi aproximadamente zero para todos os casos, isso comprova a coerência dos resultados do programa desenvolvido com a realidade, pois quando não há torque aplicado no eixo do tambor, não existe esforço de cisalhamento algum no disco. A combinação de tensões atuantes no disco para os programas Kleingel e Trospad® resultou em valores próximos, apesar das tensões de flexão e compressão serem diferentes para cada programa. VIII. CONCLUSÃO A metodologia de cálculo desenvolvida gerou resultados satisfatórios, considerando as simplificações adotadas. Quando comparado com o outro programa comercial, apresentou valores dentro dos limites especificados. Apesar de não ser possível comparar os valores obtidos entre os cálculos, por apresentam maneiras distintas de análise de resultados, para ambos os casos em estudo, para os dois programas testados, as dimensões escolhidas foram aprovadas. Por terem sidos realizados apenas dois estudos de casos, não é possível considerar que o programa desenvolvido tenha o processo de validação completado. Pode ser que para algum outro caso, o método desenvolvido, quando comparado com o programa comercial, não esteja dentro dos limites de resistência impostos, ou o contrário, que a plataforma desenvolvida esteja dentro destes limites, mas os resultados gerados pelos programas não estejam. Há vários aspectos a serem melhorados na metodologia de cálculo analítico, especialmente o cálculo da casca. O Kleingel apresenta apenas o cálculo da flexão na casca, enquanto que o Trospad® calcula a tensão axial, tangencial e de cisalhamento para a casca do tambor. É possível ver essa diferença, no estudo de caso apresentado, em que o ângulo de abraçamento é igual a 30 graus, o impacto nos resultados obtidos para casca é maior. Para o cálculo do disco, apesar dos resultados encontrados não serem iguais, por apresentam métodos de cálculo e maneiras de validar os resultados distintos, sabe-se que os dois programas foram baseados na teoria de placas finas e casca publicada por [3], teoria que foi desenvolvida através de ensaios. Considerando que todas as literaturas [4], [5] [7], [11], [13], a citam como referência e que os programas comerciais mais conhecidos a utilizam em seus métodos de cálculo, é possível concluir que esta teoria ainda é a mais completa para análise de disco de tambores e demonstrar a assertiva de sua utilização no desenvolvimento da metodologia para o cálculo analítico dos tambores. REFERÊNCIAS [1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR-6177:1999. Transportadores contínuos – Transportadores de correia – Terminologia. Rio de Janeiro. [2] AMERICAN SOCIETY OF MECHANICAL ENGINEERS (ASME). ANSI B106.1M. Design of Transmission Shafting. 32p, 1985. [3] TIMOSHENKO, SP and WOINOSKY-KRIEGER. S. Theory of Plates and Shells. 2nd Ed. McGrawHill. p 506 1955. [4] KING, T. J. Belt Conveyor Pulley Design - Why the Failures? Beltcon 2. Johannesburg, 1983. [5] KING, T. J. The Function and Mechanism of Conveyor Pulley Drums. Beltcon 3. Johannesburg, 1985. [6] LANGE, H. Investigation in Stressing of Conveyor Belt Drums. Thesis for Doctorate in Engineering, Hannover, 1963. [7] LLOYD B. E. The Design of Conveyor Pulleys. Beltcon 1. Johannesburg, 1981. ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733 [8] SCHMOLTZI, W. Designing Drums with transverse Shafts for Belt Conveyors. Thesis for Doctorate in Engineering, Hannover, 1974. [9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR-6172:1995. Transportadores contínuos – Transportadores de correia – Tambores. Rio de Janeiro. [10] FAÇO – Fábrica de Aço Paulista S.A. Manual de Transportadores de Correias, 4ª Edição, 412 p, 1996. [11] SETHI V.; LAWRENCE K. N. Modern Pulley Design Techniques And Failure Analysis Methods. 12 p, 1993. [12] YOUNG, WC; BUDYNAS. R. Roark's Formulas for Stress and Strain. 7th Ed. McGraw-Hill. p 854. 2002. [13] LANGE, H. Investigation in Stressing of Conveyor Belt Drums. Thesis for Doctorate in Engineering, Hannover, 1963. [14] BEER, F.P; JOHNSTON, E.R. Resistência dos Materiais. 2ª ed. McGraw-Hill Editora. 654p, 1989. [15] RINGFEDER VBG GMBH, Ringfeder Locking Assemblies – RfN 7015. 20p, 1998. ©Revista Ciência e Tecnologia, v.18, n.32, p.25-39, jan./jun. 2015 - ISSN: 2236-6733