RESILIÊNCIA NA SITUAÇÃO DE DOENÇAS CRÔNICAS

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO JOSÉ DE ITAPERUNA
CURSO DE PSICOLOGIA
MÔNICA ALVIM MARQUES
RESILIÊNCIA NA SITUAÇÃO DE DOENÇAS CRÔNICAS
Itaperuna/RJ
Dezembro/2012
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MÔNICA ALVIM MARQUES
RESILIÊNCIA NA SITUAÇÃO DE DOENÇAS CRÔNICAS
Artigo
apresentado
à
Banca
Examinadora do Curso de Psicologia do
Centro Universitário São José de
Itaperuna como requisito final para
obtenção do título de Psicólogo.
Orientador:
Boechat.
Itaperuna – RJ
Dezembro/2012
Profa
Esp.
Ieda
Tinoco
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MÔNICA ALVIM MARQUES
RESILIÊNCIA NA SITUAÇÃO DE DOENÇAS CRÔNICAS
Artigo
apresentado
à
Banca
Examinadora do Curso de Psicologia do
Centro Universitário São José de
Itaperuna como requisito final para
obtenção do título de Psicólogo.
Orientador:
Boechat.
Itaperuna, 05 de dezembro de 2012.
Banca Examinadora:
___________________________________
Profa. Esp. Ieda Tinoco Boechat (Orientador)
UNIFSJ – Itaperuna
___________________________________
Profa. Esp.Fátima Aguiar Faria Ximenes (Examinador 1)
UNIFSJ – Itaperuna
___________________________________
Prof. Ignael Muniz Rosa (Examinador 2)
UNIFSJ – Itaperuna
Profa
Esp.
Ieda
Tinoco
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RESILIÊNCIA NA SITUAÇÃO DE DOENÇAS CRÔNICAS
Mônica Alvim Marques*1
Ieda Tinoco Boechat
Resumo: Resiliência é a capacidade de superação e adaptação diante das
adversidades. No mundo atual, as pessoas constantemente são confrontadas com
muitas adversidades, as quais podem alterar sua trajetória de vida. O presente
trabalho visa, portanto, a abordar a resiliência, e pretende enfocá-la em situação de
doenças crônicas, descrevendo-a sob o prisma teórico através da revisão de
literatura. Há fatores que podem favorecer a superação de dificuldades ao se
conviver com uma doença crônica, ou seja, a resiliência frente às adversidades com
as quais os seres humanos se deparam ao longo de sua existência, propicia
condições de ressignificar tais experiências de vida. A ampliação do entendimento
sobre a resiliência diante da doença crônica assim se apresenta como um dos
possíveis e promissores caminhos para a atuação dos profissionais de saúde, dando
ênfase às potencialidades do indivíduo.
Palavras-chave: Adaptação. Superação. Enfermidades crônicas.
Introdução
No mundo atual, as pessoas constantemente são confrontadas com muitas
adversidades, as quais, muitas vezes abatem, fragilizam, trazem medo, desânimo,
tristeza, adoecimento, que podem atrapalhar sua trajetória de vida, quando se
permitem serem abaladas a tal ponto por estas situações, que se entregam, não
conseguindo superar ou se adaptar de forma que possam continuar sua caminhada
de maneira saudável, mesmo que algo de ruim lhes tenha acontecido. O presente
trabalho visa, portanto, abordar a resiliência, que é a capacidade de superação e
adaptação diante das adversidades, e pretende enfocar a resiliência diante de uma
situação de doença crônica.
O interesse pelo tema deu-se a partir do Estágio Básico Supervisionado em
Psicologia Clínica, nos Setores de Hemodiálise e Oncologia do Hospital São José do
Avaí, em Itaperuna/RJ, ao se observar como alguns pacientes, em tratamento
exigido por suas enfermidades, posicionam-se diante de procedimentos médicos tão
desgastantes a que estão submetidos, que lhes trazem outras tantas situações
1
*Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário São José de Itaperuna
Psicóloga, Terapeuta de Família, Psicopedagoga, Professora do Curso de Psicologia do UNIFSJ e
Professor-orientador do CEJA-Itaperuna
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igualmente desgastantes. Descobrem ali que têm uma doença que os acompanhará
a vida inteira e precisarão aprender a conviver com ela e com todas as modificações
que essa nova situação abarca.
Este trabalho tem como objetivo descrever a resiliência sob o prisma teórico,
trazendo a seguinte questão-problema: que fatores podem favorecer a superação
das dificuldades enfrentadas por pessoas que convivem com uma doença crônica?
Pretende, ainda, estudar o que significa a presença ativa ou não da resiliência na
vida das pessoas; como a resiliência pode contribuir para que, frente às
adversidades com as quais os seres humanos se deparam ao longo de sua
existência, encontrem-se em condições de ressignificar experiências de vida; e
avaliar os fatores que influenciam o bom desenvolvimento da resiliência.
O método usado neste trabalho é o de pesquisa bibliográfica, baseada na obra
de autores como Silva, Elsen e Lacharité (2003), e Frankl (2008). A ampliação do
entendimento sobre a resiliência diante de situação de doença crônica, assim se
apresenta como um dos possíveis e promissores caminhos para a atuação dos
profissionais de saúde, dando ênfase às potencialidades do indivíduo.
1 Sobre a resiliência: origem do termo e contribuição de alguns autores
O termo resiliência provém da Física e refere-se à capacidade de os materiais
resistirem aos choques e pressões sem alterar suas qualidades. O Dicionário de
Língua Portuguesa Novo Aurélio, diz que “na Física, resiliência é a propriedade pela
qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a
tensão causadora duma deformação elástica”. (YUNES, 2003, p. 76).
Segundo Pinheiro (2004, p. 68), o vocábulo que provém “do latim resiliens,
significa saltar para trás, voltar, ser impelido, recuar, encolher-se, romper. Pela
origem inglesa, resilient remete à ideia de elasticidade e capacidade rápida de
recuperação”.
O conceito de resiliência foi incorporado recentemente pelas ciências humanas
e expressa a capacidade de um ser humano superar traumas e adversidades, assim
como de adaptar-se a tais fatores.
Nos domínios das Ciências Humanas e da Saúde, o conceito de
resiliência faz referência à capacidade do ser humano em responder
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de forma positiva às situações adversas que enfrenta, mesmo
quando essas comportam risco potencial para sua saúde e/ou seu
desenvolvimento. Esta capacidade é considerada por alguns autores
como uma competência individual que se constrói a partir das
interações entre o sujeito, a família e o ambiente e, para outros,
como uma competência não apenas do sujeito, mas, também, de
algumas famílias e de certas coletividades. (SILVA; ELSEN;
LACHARITÉ, 2003, p. 147, 148).
Para se entender melhor a conceituação de resiliência, importa considerar o
que propõem alguns estudiosos do assunto.
Por ser a resiliência um conceito que se traduz num fenômeno complexo, onde
muitos contextos interdependentes compõem a realidade com a qual a pessoa
convive, fenômeno esse que tem despertado olhares diversos, Silva; Elsen;
Lacharité (2003) apresentam importantes contribuições a respeito do tema em
estudo, ao descreverem-no a partir do que concebem Rutter; Masten e Coatsworth;
Luthar, Cicchetti e Becker; Zimmerman e Arunkumar; Garmezy; Cyrulnik.
Michel Rutter traz duas interessantes concepções de resiliência: 1)“relativa
‘resistência’ manifestada por algumas pessoas diante de situações consideradas
potencialmente de risco psicossocial para seu funcionamento e desenvolvimento”
(RUTTER, 1999 apud SILVA; ELSEN; LACHARITÉ, 2003, p. 149); 2)“resultante da
interação entre fatores genéticos e ambientais, os quais, também, oscilam em sua
função, podendo atuar como proteção em certos momentos e, em outros, como fator
de risco” (RUTTER, 1987 apud SILVA; ELSEN; LACHARITÉ, 2003, p. 149).
A relatividade expressa na primeira consideração é exatamente, segundo o
autor, o que não permite que a resiliência seja uma constante em todas as
circunstâncias, devendo-se observar a etapa do ciclo vital das pessoas no momento
em que experienciam a situação de adversidade e a abrangência da pesquisa, não
podendo ser considerada um constructo universal. A segunda concepção lança
luzes sobre as interações, seu contexto e momento histórico. (SILVA; ELSEN;
LACHARITÉ, 2003, p. 149)
Rutter (1987 apud SILVA; ELSEN; LACHARITÉ, 2003, p. 149) afirma que a
resiliência implica habilidade para lidar com mudanças, confiança na auto-eficácia e
estratégias no enfrentamento de problemas.
Masten; Coatsworth (1995); Luthar; Cicchetti; Becker (2000) (apud SILVA;
ELSEN; LACHARITÉ, 2003, p. 149) consideram que a resiliência se refere à
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obtenção de resultados desenvolvimentais esperados, apesar da
presença de desafios significativos para o desenvolvimento e a
adaptação do sujeito. Estes autores destacam duas condições
críticas associadas ao conceito: A primeira refere-se à exposição da
pessoa a uma ameaça significativa ou a uma severa adversidade; na
segunda há concretização de uma adaptação efetiva, apesar da
‘agressão’ em potencial que repercute no desenvolvimento do
sujeito.
Para Zimmerman; Arunkumar (1994) (apud SILVA; ELSEN; LACHARITÉ, 2003,
p. 149), a resiliência diz respeito “aos fatores e ao processo que interrompem uma
trajetória de risco para transtornos de comportamento ou psicopatologias, resultando
em respostas positivas mesmo na presença de adversidade”. Aplicando tal ideia à
Psicologia, referem-se à capacidade de a pessoa conseguir não reeditar, quando
adulta, os conflitos familiares experimentados na infância. E acrescentam: uma
criança filha de genitor(es) alcoolista(s) não necessariamente se tornará alcoolista,
mesmo sendo essa uma doença suscetível à predisposição hereditária, como
registram diversos autores.
Garmezy (1993) (apud SILVA; ELSEN; LACHARITÉ, 2003, p. 149) atribui ao
conceito de resiliência uma dimensão que se aplica mais ao estudo de populações
que construíram um padrão de comportamento ao longo da vida. Concebe, então a
resiliência como
a capacidade de recuperar o padrão de funcionamento após
experienciar uma situação adversa, sem que, no entanto, deixe de
ser atingido por ela. Esta concepção está associada à ideia de que a
pessoa resiliente, vivendo sob uma situação de ameaça ao seu bemestar, pode se curvar, perder suas forças e ainda se recuperar. A
ênfase nesta capacidade do sujeito para retomar os padrões de
comportamento habituais que possuía antes de vivenciar a
adversidade pressupõe que ela funcionava relativamente bem ao se
deparar com a situação negativa e somente a partir deste momento
passa a ter dificuldades, mas que algo se produz, levando-a a
recuperar sua forma. (GARMEZY apud SILVA; ELSEN; LACHARITÉ,
2003, p. 149).
Resiliência também pode ser entendida como “um conjunto de fenômenos
articulados entre si, que se desenrolam, ao longo da vida, em contexto afetivo, social
e cultural, podendo ser metaforicamente comparado à arte de navegar em meio à
tempestade” (CYRULNIK apud SILVA; ELSEN; LACHARITÉ, 2003, p. 149, 150). Tal
concepção considera a resiliência uma história construída pela pessoa desde que
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ela nasce, num processo que acontece em um determinado contexto e se reconstrói
coletivamente. Então, mesmo vivendo situações que possam oferecer risco e
sofrimento, a pessoa consegue ir em frente. Dessa forma, resiliente é o caminho que
se faz enquanto se caminha.
Em todos os conceitos abordados, vê-se a tônica recair sobre a capacidade
que o humano tem de reagir satisfatoriamente a situações adversas, capacidade
essa exigida a pessoas que experimentam a situação de doença crônica.
2 Doenças Crônicas
A pessoa que tem uma doença crônica geralmente vivencia uma mudança em
diversos aspectos de sua vida, experimentando novos sentimentos e emoções,
complicações na saúde física, mudanças comportamentais, restrições sociais. Por
vezes, tem ainda de lidar com dificuldades econômicas e relacionais no âmbito
familiar, incapacidade para o trabalho, dependência de outras pessoas, sofrendo,
assim, uma modificação na sua forma de viver.
Para a Organização Mundial de Saúde, a definição de doença crônica deve
atender a uma ou mais das características:
(i) é permanente e deixa incapacidade, mesmo que residual; (ii) é
causada por alterações patológicas irreversíveis; (iii) requer um treino
específico do doente para a reabilitação ou pode vir a necessitar de
um longo período de supervisão, observação e cuidados. (ALMEIDA,
2007, p. 24).
Segundo Ribeiro (apud ALMEIDA, 2007, p. 24), as enfermidades que se
prolongam pela vida do paciente incapacitam porque têm causas irreversíveis e
requerem “formas particulares de reeducação, que obrigam o doente a seguir
determinadas prescrições terapêuticas e/ou a aprendizagem de um novo estilo de
vida, necessitam de controle periódico, observação e tratamento regulares”.
A Doença Renal Crônica (DRC), também conhecida por Insuficiência Renal
Crônica (IRC), mostra-se como uma patologia que compromete a função renal e
consiste em lesão renal e perda progressiva e irreversível da função
dos rins (glomerular, tubular e endócrina).Em sua fase mais
avançada (chamada de fase terminal de insuficiência renal crônica-
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IRC), os rins não conseguem mais manter a normalidade do meio
interno do paciente. (JUNIOR, 2004, p. 1).
Segundo Castro et al. (apud NEPOMUCENO, 2011, p. 15), o portador de IRC
convive com uma doença permanente, sofre alterações patológicas irreversíveis,
que geram muitas incapacidades e requerem períodos longos de acompanhamento,
e passa por alterações nos níveis orgânico, psíquico, social e econômico.
Outra doença crônica experimentada por muitas pessoas é o câncer. Pimentel;
Lima; Fonseca (2009, p. 17), declaram que, segundo o Instituto Nacional do Câncer
“o câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em
comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e
órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo”
O câncer é uma doença que, quando ocorre na vida de alguém, tem como
característica, ser irreversível em muitos casos, o que possibilita que esta seja
classificada como doença crônica. Porém, há casos em que ocorre um bom
prognóstico e a pessoa fica completamente curada. No entanto, ainda que isso
ocorra, é preciso que se faça um acompanhamento posterior, incluindo supervisão,
observação e cuidados, o que também é característica pertinente à doença crônica.
O câncer apresenta-se, por diversos fatores, como uma doença assustadora
não só para o doente, mas também para sua família.
O câncer é uma das doenças mais temidas pelo ser humano, pois
existe sempre a incerteza da cura, a ideia de muitas hospitalizações,
da sintomatologia pós-quimioterapia, da dor física e emocional e até
mesmo da morte. Vivenciar a doença do câncer certamente é uma
fonte de estresse intenso para a família e para o paciente. (IAMIN,
2011, p. 44).
Uma outra situação de doença crônica a ser mencionada, seria a AIDS. De
acordo com Silva; Goveia (2004, p. 1), “a síndrome da imunodeficiência humana
(AIDS) é uma manifestação clínica avançada da doença causada pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV-1 e HIV-2) que são membros da família Retroviridae,
na subfamília dos lentivírus”.
Quem possui esta doença passa por alterações em diversos aspectos de sua
vida, precisando se adaptar não só à doença, como também, conviver com o
preconceito e as demais situações a que são submetidos.
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[...] Ser portador do HIV envolve o impacto da doença e do
diagnóstico na qualidade de vida; aumento do estresse pelo
preconceito e medo da discriminação e pelo potencial efeito da
doença que pode culminar em depressão, transtorno de ajustamento
e outras patologias decorrentes dos fatores de estresse.
(PONTRELLI apud SILVA; GOVEIA, 2004, p. 6).
“Viver com AIDS requer extraordinária adaptação e reajustamento, muitas
vezes num contexto de múltiplas perdas sociais e pessoais. Sobreviver com AIDS
representa conviver com situações às quais foram expostos.” (SILVA; GOVEIA,
2004, p. 6). Com os avanços no diagnóstico e tratamento desta doença, diminuiu-se
o medo da morte iminente, mas aumentou a necessidade de reestruturar a vida e
aprender a lidar com o fato de ter o vírus presente no organismo e a seguir o
tratamento com o rigor que requer.
As pessoas que ficam sabendo estar com HIV/AIDS deparam-se
ainda com o diagnóstico de uma doença sem cura, mas com boas
perspectivas de tratamento devido à oferta de medicamentos que
favorecem uma maior sobrevida e uma melhor qualidade de vida.
(NASCIMENTO, 2002, p. 4).
São
consideradas
também
doenças
crônicas: diabetes,
asma, artrite
reumatoide, epilepsia, cancro, doenças cerebrovasculares, entre outros.
A doença crônica traz alterações não só para a vida do paciente, como também
para a vida de seus familiares, tendo estes que se adaptarem também à nova
situação. A família exerce papel de grande importância no tratamento destes
pacientes, visto que pode e deve contribuir e participar ativamente ou ao menos de
forma indireta. É comum sempre ter alguém que acompanhe de forma mais próxima,
estando sujeito a ser também afetado emocionalmente ao acompanhar essa
situação desgastante.
Familiares e profissionais da saúde têm importante papel a desempenharem.
Eles têm o poder de auxiliar os enfermos, especialmente, os acometidos por doença
crônica, a usarem toda sua potencialidade a seu favor, pois acreditarem em “suas
capacidades, aceitá-las e confirmá-las positiva e incondicionalmente é, em boa
medida, a maneira de as tornar mais confiantes e resilientes para enfrentar a vida do
dia-a-dia por mais adversa e difícil que se apresente” (TAVARES apud PINHEIRO,
2004, p. 69).
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A doença crônica, por si só, coloca a pessoa em uma situação desconfortável,
e a forma como a pessoa se adequa a esta situação, vai proporcionar a ela uma
condição de vida melhor ou não. Se ela conseguir se adaptar de forma a conviver da
melhor forma possível com a condição que lhe confere a doença crônica, aderindo
ao tratamento necessário, há de conseguir viver melhor, mesmo em meio a uma
situação tão difícil. Porém, se ela não consegue se adaptar, a possibilidade é de que
ela tenha experiências muito mais complicadas, visto que terá de enfrentar
procedimentos invasivos, dolorosos e alheios à sua vontade. Por isso, a importância
de ser resiliente ou de tentar desenvolver a resiliência quando ela ainda não se faz
presente.
3 Fatores que influenciam o bom desenvolvimento da resiliência
É possível encontrar sentido na vida mesmo diante de uma situação sem
esperança, quando se tem de enfrentar uma fatalidade implacável, diz Frankl (2008,
p. 136), já que o que realmente
importa, então, é dar testemunho do potencial especificamente
humano no que ele tem de mais elevado e que consiste em
transformar uma tragédia pessoal em um triunfo, em converter nosso
sofrimento numa conquista humana. Quando já não somos capazes
de mudar uma situação – podemos pensar numa doença incurável,
como o câncer que não se pode mais operar -, somos desafiados a
mudar a nós próprios. (FRANKL, 2008, p. 136, 137).
O que pode modificar uma situação adversa é a busca de sentido na vida. Com
este posicionamento, a pessoa quando não tem condições de transformar uma
situação, se permite ser transformada por ela, de forma que possa dela tirar algo
que lhe seja útil para um viver mais pleno. Diz Erthal (2010, p. 61) que “é a liberdade
frente ao mundo, considerda a característica da pessoa psicologicamete ‘sã’ “.
As adversidades podem trazer uma certa desorganização à vida das pessoas
que se deparam com tais situações, de modo que, a resiliência se apresenta como
fator de grande importância para o alcance de uma boa saúde psíquica.
A cada situação vivida, a pessoa resiliente tem condições de se recuperar e se
adaptar, sendo que quanto maior for sua capacidade em ser resiliente, terá mais
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facilidade de controlar as situações, alcançando um maior desenvolvimento pessoal,
o que lhe terá benefícios ao seu viver diário.
Quando se é uma pessoa resiliente, há que se ter uma capacidade maior em
enfrentar os percalços da vida, em meio aos quais se encontra todo aquele que vive,
seja diariamente, seja ocasionalmente, situações adversas que dificultam a
caminhada.
Aos que não possuem essa capacidade e não mostram interesse em
desenvolvê-la, pouco se pode sugerir, mas aquelas que buscam ser resilientes,
podem se valer das orientações fornecidas por Karen Reivich e Andrew Chatté
(apud BARBOSA, 2006, p. 21, 22, grifo dos autores), ao sugerirem “que a resiliência
é composta por sete fatores centrais: Administração das Emoções, Controle dos
Impulsos, Empatia, Otimismo, Análise Causal, Auto-eficácia e Alcance de Pessoas”.
Tal proposta tem suas bases na abordagem Cognitiva e pode ser entendida pelos
autores supracitados pela forma como se segue.
Administrar as emoções implica manter-se sereno diante de uma situação de
estresse. As pessoas resilientes são capazes promover a autorregulação; quando
essa habilidade é rudimentar, as pessoas encontram dificuldades em cultivar
vínculos e, com frequência, desgastam no âmbito emocional aqueles com quem
convivem em família ou no trabalho.
O controle de impulsos implica regular a intensidade da ação impulsiva numa
experiência de forte emoção. Regulação da intensidade das emoções e a
administração destas se conectam, pois ambas se estruturam a partir de sistemas
de crenças semelhantes.
O otimismo refere-se à crença de que as coisas podem mudar para melhor. Há
um investimento contínuo de esperança e, por isso mesmo, a convicção da
capacidade de administrar intempéries, mesmo quando o poder de decisão pareça
estar fora de alcance.
A análise causal trata da capacidade de identificar precisamente as causas dos
problemas e das adversidades presentes no ambiente. A empatia significa a
capacidade que o ser humano tem de compreender os estados psicológicos dos
outros e agir em função disso.
Auto-eficácia se refere à certeza de ser diligente nas ações propostas. Alcançar
pessoas é a capacidade que a pessoa tem de se vincular a outras para juntas
encontrarem saídas para os percalços da vida, sem receios e medo do fracasso.
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Os fatores acima mencionados e assim entendidos por Karen Reivich e Andrew
Chatté (apud BARBOSA, 2006, p. 21, 22) podem influenciar positivamente e
favorecer o desenvolvimento da resiliência.
Todos estes fatores estão de uma certa forma interligados: uma vez um fator
alcançado,
favorece
o
desenvolvimento
do
outro
que
acabam
por
se
complementarem mutuamente. A pessoa que consegue controlar suas emoções,
possui um fator facilitador do desenvolvimento da resiliência, porque quem possui
essa característica, consegue promover um ajustamento à situação que se impõe,
utilizando-se de uma flexibilidade que lhe possibilita uma adaptação à nova
experiência. Se a pessoa consegue agir de forma a não se permitir atos irrefletidos,
controlando seus impulsos, mais chances terá de experimentar atitudes favoráveis.
A atitude positiva baseada na crença de que se é capaz de enfrentar adversidades
possibilita, por sua vez, um maior controle das emoções e dos impulsos. A coragem
e a determinação que daí surgirão capacitam a pessoa a identificar as causas dos
problemas e agir adequadamente diante do que se apresenta. Isso inclui ter a
capacidade de alcançar as pessoas, ter habilidade e humildade para acessar o outro
e ter com quem somar e dividir fraquezas e vitórias. Nessas relações interpessoais,
a empatia vai propiciar aproximação e uma compreensão tal que favorecerão a
ressignificação da situação adversa.
Um dos conceitos desenvolvidos por Frankl (2008), em sua logoterapia, é o
conceito de "otimismo trágico", pelo qual afirma que é possível manter o otimismo
apesar da “tríade trágica” (dor, culpa e morte), assim definido como
um otimismo diante da tragédia e tendo em vista o potencial humano
que, nos seus melhores aspectos, sempre permite: 1.transformar o
sofrimento numa conquista e numa realização humana; 2.extrair da
culpa a oportunidade de mudar a si mesmo para melhor; 3.fazer da
transitoriedade da vida um incentivo para realizar ações
responsáveis. (FRANKL, 2008, p. 161).
Um posicionamento otimista mediante os percalços da vida, diante de qualquer
situação que seja, é um fator que contribui para que se perceba através das
questões que se apresentam na vida, condições para, então, ressignificar suas
experiências de vida.
Quando a pessoa consegue desfrutar de uma atitude resiliente diante da vida,
constrói a possibilidade de obter um melhor estado de saúde física e psíquica, e de
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bem estar social e famliar. Todos estes aspectos estão inter-relacionados,
influenciando uns aos outros direta ou indiretamente, proporcionando uma melhor
qualidade de vida, se alcançada a resiliência.
Segundo Troster (2011, p. 36), muitas são as evidências da relação existente
entre a saúde emocional e a baixa morbidade e mortalidade causadas por doenças
clínicas, o que é enfatizado pelo comportamento saudável e o aumento da
resistência ao estresse.
Estudos recentes salientam a importância da resiliência na sobrevida
e na qualidade de vida em pacientes com AIDS, acima de 50 anos,
com testagem genética para câncer colorretal hereditário, doenças
relacionadas
à
idade,
dor
crônica,
diabetes,
doenças
cardiovasculares, diálise em doença renal crônica, entre outras
condições. (TROSTER, 2011, p. 36).
Um outro fator que se insere como uma possibilidade de desenvolvimento da
capacidade de resiliência, é a fé, segundo a qual, aqueles que a possuem,
acreditam que Deus lhes dá forças para superar quaisquer coisas que lhes
sobrevenham e assim procuram se adaptar às situações, de forma que possam
transcender ao que lhe acontecer de ruim, com esperança, mesmo em meio às
adversidades.
Em um estudo realizado por Calvetti e colaboradores, em 2008, com
pacientes que apresentavam o vírus da AIDS, os pesquisadores
descobriram que o bem estar espiritual pode ser destacado como
uma das variáveis presentes na capacidade de resiliência e na
promoção de saúde. (BRAGA, 2011, p. 50).
A doença crônica, não definirá a postura de uma pessoa diante da vida. Se ela
for resiliente, com certeza passará por essa experiência levando consigo algumas
marcas, mas não deixará de viver outras possibilidades que a vida proporcionará
porque sofreu algo que as desestruturou em algum momento da vida. Como ressalta
Frankl (2008, p. 102, 103),
quando um homem descobre que seu destino lhe reservou um
sofrimento, tem que ver nesse sofrimento também uma tarefa sua,
única e original. Mesmo diante do sofrimento, a pessoa precisa
conquistar a consciência de que ela é única e exclusiva em todo o
cosmo dentro deste destino sofrido. Ninguém pode assumir dela o
destino, e ninguém pode substituir a pessoa no sofrimento. Mas na
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maneira como ela própria suporta esse sofrimento está também a
possibilidade de uma realização única e singular.
Em meio a esse contexto, nota-se a necessidade de se fazer uso da liberdade
que todos os seres humanos possuem, pois como diz Frankl (2008, p. 90),
pela maneira com que uma pessoa assume seu destino inevitável,
assumindo com esse destino todo o sofrimento que se lhe impõe,
revela-se, mesmo nas mais difíceis situações, mesmo no último
minuto de sua vida, uma abundância de possibildades de dar sentido
à existência.
O que vai ser referencial de uso da liberdade, no entanto, é a forma como a
pessoa se utilizará de suas possibilidades diante de sua liberdade de escolha.
4 Conclusão
A resiliência tem sido utilizada há pouco tempo pelas ciências sociais e
humanas. Ainda são poucas pessoas do círculo acadêmico que a utilizam, pois não
sabem o que significa e como se aplica.
A resiliência mostra-se como um fator de grande importância na vida do ser
humano no mundo atual, em que se é constantemente confrontado por tantas
adversidades, tornando-se necessário esclarecer para os profissionais e a todos a
quantos interessar o que isto significa, quais as implicações na vida da pessoa, e
como se pode desenvolver esta habilidade buscando obter, desta forma, uma vida
psíquica saudável e uma saúde física também melhor.
As pessoas que são acometidas por doença crônica sofrem o primeiro impacto,
mas não precisam permanecer estagnadas diante de tal realidade. Elas têm a
capacidade em serem resilientes, e podem continuar uma vida de qualidade
apropriando-se de si, administrando suas emoções, controlando seus impulsos,
desenvolvendo empatia, sendo otimistas, analisando as causas, buscando a
autoeficácia, mantendo e criando novos vínculos, e tendo sempre como base o
sentido na vida.
No que diz respeito ao paciente portador de doença crônica, como a DRC ou a
AIDS e o câncer, a resiliência se apresenta como tema de significativa relevância,
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visto que estas pessoas passam por muitas alterações no seu estado físico,
emocional, social, econômico, familiar etc, e como seres humanos que são, têm
como faculdade a capacidade de dar um novo significado às suas vivências. Nesse
contexto, o profissional de saúde e os familiares podem e devem contribuir dando
ênfase à resiliência, não ressaltando apenas os aspectos físicos da doença e
procurando fazer com que se considerem as potencialidades e possibilidades que o
paciente dispõe, buscando contribuir para que ele se perceba como também
responsável por sua existência e capaz de escolher com liberdade como serão seus
dias futuros.
A contribuição do profissional de saúde para com os acometidos por algum tipo
de doença crônica é de suma importância, visto que estes profissionais possuem um
contato direto com os pacientes e são eles que podem levar a efeito, no ambiente
hospitalar, uma relação interpessoal que estimule a resiliência, através da sua
abordagem no cuidado com seus pacientes.
Referências
ALMEIDA, Assunção das Dores Laranjeira de. Impacto da Intervenção
Psicoeducativa: O Acidente Vascular Cerebral e Cancro. Universidade de Aveiro.
Secção Autónoma de Ciências da Saúde. 2007. Disponível em
http://ria.ua.pt/bitstream/10773/3317/1/2009001251.pdf. Acesso em 10 out 2012.
BARBOSA, G.S. Resiliência em Professores do Ensino Fundamental de 5ª a 8ª
Série: Validação e Aplicação do “Questionário do índice de Resiliência:
Adultos Reivch –Shatté / Barbosa. Doutorado – Psicologia Clínica. PUC/SP. 2006.
Disponível em
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