Carta Econômica V ivemos hoje, um novo padrão monetário onde grande parte das moedas transacionáveis são atreladas artificialmente ao dólar, os economicistas chamam este novo padrão de Bretton Woods II, que apesar do breve histórico, já apresenta alguns ponto de esgotamentos. Nesta carta econômica temos como objetivo esclarecer tais pontos. Esta não é a primeira vez que a economia mundial assiste a um desarranjo monetário, já vivemos isso na era do padrão-ouro (com sua livre mobilidade de capital e livre comércio) que teve seu fim “trágico” em 1914 e não pôde ser restaurado após a 1º Guerra Mundial. No que a história monetária, pode nós auxiliar, para entendermos os problemas de hoje? Não faltam evidências de que o Bretton Woods II chegou ao ponto de inflexão, tomemos o caso chinês como exemplo. A conjuntural econômica deste 2001 foi excessivamente complacente quando se trata de liquidez internacional. A era Greenspan reduziu as taxas de juros priorizando a atividade econômica, motivadas por eventos exógenos: 11 de Setembro e os escândalos nas empresas de tecnologia, estes níveis foram sustentados até 2004. Com isso, os países que optaram por estratégias econômicas de câmbio fixo (porém, depreciado frente ao dólar) e superávits em conta corrente (modelo chinês) corroboraram com esta empreitada, evitando desaquecimento dos Estados Unidos, logo da economia mundial. Neste período a China exportava deflação devido à elevada elasticidade da oferta de trabalho, que por sua vez, gerava baixo salários. Com isso a china pôde ganhar mercado através de um câmbio competitivo. Já em 2005 quando as taxas de juros voltaram a subir este modelo foi posto em “cheque”. A elevação das taxas de juros americanas “deveriam” reduzir o carry trade entre as moedas transacionais devido à arbitragem dos juros. Porém, como as taxas de câmbios são atreladas artificialmente ao dólar não houve esta correção, a oportunidade de ganhos com a apreciação destas moedas era maior do que a oportunidade de ganho da elevação das taxas de juros americana. Quais foram as conseqüência? Para evitar uma maior pressão sobre a moeda (e mante-la fixa). O governo chinês adotou uma política de elevação das reservas internacionais, que por sua vez, gerou uma expansão da oferta monetária, logo inflação interna. E mais, as novas pressões por aumentos salariais, derivadas das novas estruturas sindicais corroboram para a elevação da inflação, tornando agora a economia chinesa exportadora de inflação. O atual modelo chinês tenta enganar a velha “tríade impossível” de Mundell - Fleming 1 quando mantém controle aos fluxos de capitais (o que gera até certa autonomia a política monetária) com o Renminbi fixo. (PINOTTI e PASTORE, 2008) 2 . Contudo, esta estratégia vem apresentado desgastes, a inflação interna já esta muito acima da tida taxa de conforto. É nítido que o governo chinês deve deixar o renminbi flutuar livremente, e seguir sua trajetória rumo a apreciação. Isso além de possibilitar uma maior acomodação da demanda interna via importação, reduzirá a competitividade comercial chinesa (derivada de um câmbio controlado). Logo, a economia chinesa se desacelerará corroborando com o combate a inflação, tão interno quanto externo. Essa inflação deve ser combatida a ferro e fogo, para evitar problemas ainda maiores. Pois, “a presunção, talvez inocente. (...), e que a exposição prolongada a doses regulares de idéias econômicas radioativas (controle de capitais, intervenção cambial e tolerância a inflação) podem 1 A tríade impossível faz referência a uma combinação insustentável de políticas econômicas que combinam: câmbio fixo, política monetária independente e plena mobilidade de capitais. 2 PINOTTI, Maria Cristina; PASTORE, Celso Afonso (2008). “Bretton Woods II e a inflação mundial”. Valor Econômico, 14/01. Carta Econômica metamorfosear animais frágeis (inflação) em serpentes, que depois viram dragões (hiperinflação). (FRANCO, 2008) 3 . Thiago Batista Rocha, economista sênior pela Argos Fundos de Investimentos. e-mail: [email protected] 3 FRANCO, Gustavo Henrique Barbosa (2008). “Sobre Lagartixas e Dragões” Folha de S. Paulo, 05/07. 2