Ano 1 HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO Informativo Nº 2 Maio de 2009 CCIH Coordenadoria de Controle de Infecção Hospitalar MRSA O controle da disseminação do germe multirresistente é possível e depende principalmente da conscientização da equipe de saúde, já que o principal mecanismo de transmissão se faz através das mãos dos profissionais de saúde. Vale lembrar que as infecções por MRSA causam considerável morbidade e mortalidade. Staphylococcus aureus é uma bactéria responsável por uma grande variedade de infecções, desde as leves/moderadas como as superficiais, de pele/partes moles até aquelas envolvendo elevada morbidade e mortalidade, como a infecção de corrente sanguínea e a pneumonia. As infecções de corrente sanguínea estão habitualmente relacionadas à presença de cateteres em pacientes hospitalizados. A pneumonia pode ocorrer tanto em pacientes hospitalizados, com doenças de base e com procedimentos ventilatórios, como também na comunidade, predominando em idosos, subsequente a um quadro de influenza. No início, a terapêutica antiestafilocócica era simples: penicilina e pronto, infecção rotineiramente resolvida. Entretanto, após pouco tempo de uso da penicilina, o S. aureus se adaptou, desenvolvendo uma enzima inativadora da penicilina: a beta-lactamase, àquela época denominada penicilinase. Em 1960, as pesquisas resultaram na obtenção de uma penicilina semisintética resistente àquela enzima: a meticilina; portanto, problema resolvido. (No Brasil, a meticilina foi posteriormente substituída por uma congênere, a oxacilina). Mas, em apenas um ano, outra vez este agente infeccioso desenvolve um novo mecanismo de defesa e eis, então, a emergência do S. aureus resistente à meticilina (MRSA). RECOMENDAÇÕES PARA CONTROLE DA DISSEMINAÇÃO DO MRSA A resistência à meticilina ou oxacilina caracteriza a existência de resistência a todo o grupo de antibióticos denominado de “beta-lactâmico”, do qual fazem parte as penicilinas, cefalosporinas, monobactâmicos e os carbapenemas. O controle do número de infecções por MRSA, reduz diretamente o uso dos glicopeptídeos (vancomicina e teicoplanina) no tratamento das infecções e consequentemente no uso empírico para profilaxia antibiótica, reduzindo o gasto do hospital, a pressão de seleção e a indução de resistência antimicrobiana, preocupação atual, crescente, diante do surgimento de cepas de enterococos resistentes a vancomicina (VRE) e de cepas S. aureus de resistência intermediária à vancomicina (GISA). Informações: 3° andar/ HUPE telefone: 2587-6474 e-mail: [email protected] Recomendações para o uso adequado da Vancomicina: Adequado: - Tratamento de infecções sistêmicas ou dermatológicas causadas por germes Gram-positivos resistentes aos betalactâmicos como por exemplo: HA-MRSA, enterococos, corineformes; - Pacientes com Granulocitopenia severa (granulócitos < 500 células/mm3) + Febre + Instabilidade Hemodinâmica; OBS: Caso, após 72 horas, as culturas forem negativas deveremos autorizar a suspensão da vancomicina. - Pacientes com Granulocitopenia severa + Febre há mais de 5 dias e com risco para infecção para MRSA (colonização prévia com MRSA ou discussão na beira do leito com os médicos responsáveis e infectologistas). - Alternativa para tratamento de germes Gram - positivos para pacientes com história de hipersensibilidade grave aos betalactâmicos; - Tratamento da colite pseudomembranosa, em caso de falha com metronidazol (lembrar que nesses casos a melhor via de administração é a via enteral enema); - Profilaxia para endocardite em situações determinadas (em geral em casos de reações alérgicas graves aos beta-lactâmicos ou suspeita de germes multirresistentes), para pacientes com lesões de alto risco. Obs: Ver “Prevention of Infective Endocarditis, Guidelines From the American Heart Association”, Circulation, 2007. - Profilaxia cirúrgica em procedimentos envolvendo implante de próteses ou dispositivos, em hospitais com elevada incidência de MRSA (o tempo de profilaxia deve ser de 24 horas). Inapropriado: - Profilaxia cirúrgica de rotina; - Terapêutica inicial do paciente neutropênico febril, a não ser que haja evidência clara de infecção por estafilocócica, em hospitais com elevada incidência de MRSA; - Tratamento isolado de S.epidermidis (somente 1 amostra) em hemocultura (provável contaminação), a não ser que hajam evidências claras de infecção causada por este germe (Ex: endocardite em prótese valvar, pacientes transplantados, pacientes neutropênicos graves - < 100 neutrófilos); - Tratamento de infecção em ponta de cateter venoso, secreção traqueal ou Swab nasal por MRSA (em geral evidenciam apenas colonização e não doença); - Uso empírico continuado em pacientes em que não se confirmem as evidências de MRSA (S.aureus costuma ter um bom rendimento em hemoculturas, de modo que caso a hemocultura seja negativa, a Vancomicina pode e deve ser suspensa); - Tratamento primário da colite pseudomembranosa; - Profilaxia de rotina para RN de baixo peso; - Profilaxia de rotina para diálise peritoneal. Nunca: - Profilaxia sistêmica ou local para colonização (ex: secreção traqueal) ou infecção de cateteres por MRSA; - Descontaminação seletiva de trato gastrintestinal; - Erradicação de MRSA; -Tratamento (por comodidade posológica) de infecção estafilocócica em pacientes renais em HD (1 X semana); - Uso tópico, em solução ou irrigação. Obs: MRSA = S. aureus resistente à Oxacilina / EI = Endocardite infecciosa / RN = Recém-nato / HD = hemodiálise MEDIDAS DE CONTROLE DA DISSEMINAÇÃO DO MRSA 1.VIGILÂNCIA - Vigilância Microbiológica dos materiais clínicos cultivados: executada pelo Laboratório de Microbiologia que comunica a CCIH quando há algum isolamento de MRSA nos espécimes clínicos cultivados por qualquer razão. Objetiva o imediato conhecimento sobre qualquer isolamento de MRSA. Vigilância dos pacientes na admissão hospitalar: executada pelo corpo de Enfermagem e CCIH. As categorias de pacientes com “risco para MRSA” a serem rastreadas na admissão hospitalar são: - Paciente oriundo de Unidade de Terapia Intensiva e Unidade Coronariana do HUPE ou de outra instituição hospitalar, independente do tempo de internação; - Paciente oriundo do Setor de Emergência de outra instituição hospitalar independente do tempo de internação, se submetido a procedimento invasivo (cirurgia, intubação traqueal, colocação de dreno ou veia profunda) ou grande queimado. Caso não tenha sido invadido, considerar somente aquele com sete ou mais dias de internação no hospital de origem; - Paciente oriundo de Unidade de Internação do HUPE (quarto ou enfermaria) ou de outra instituição hospitalar, com mais de sete dias de internação; - Pacientes transferidos de asilos; - Pacientes em atendimento domiciliar (Home care); - Pacientes procedentes da Residência, com história de internação nos últimos três meses em enfermaria ou quarto; - Pacientes procedentes da residência, com história de internação em UTI nos últimos seis meses; - Pacientes em programa de hemodiálise; - Pacientes com história prévia de colonização e/ou adoecimento pelo MRSA. Vigilância de Pacientes Contactantes do Caso MRSA: realizada pela CCIH logo após a detecção de um caso de MRSA. Nas unidades fechadas (ex: UTIs) todos os pacientes internados no mesmo período do caso MRSA devem ser rastreados. Nos demais setores, rastrear os pacientes em programa de hemodiálise e aqueles que preencherem dois dos três seguintes critérios: Uso de antimicrobianos, dependência de cuidados de enfermagem e tempo de internação 7 dias. Vigilância Ativa - Executada pela CCIH em situações de surto hospitalar por período limitado. Dependendo da disseminação do microrganismo pode ser adotada apenas em alguns setores do hospital. Tem como objetivo a detecção do portador assintomático. Os pacientes em programa de diálise e aqueles que preencherem os critérios abaixo devem ser rastreados : Nos setores de Terapia Intensiva rastrear todos os pacientes internados; Nos demais setores rastrear os pacientes que apresentarem duas das três características abaixo: - Uso de antimicrobianos; - Dependente de cuidados de enfermagem; - Tempo de internação 7 dias. - Uso de capote não estéril de manga longa, sempre que houver possibilidade do contato do profissional de saúde com o paciente ou seu mobiliário; - Uso individualizado de aparelhos como termômetros, estetoscópio, esfignomanômetro. Na impossibilidade do uso individual destes aparelhos proceder a limpeza e desinfecção com álcool à 70% antes da utilização no próximo paciente. O esfignomanômetro de pano deve ser enviado para a Lavanderia hospitalar após o término do isolamento; - Remover as luvas e o capote, de forma a não se contaminar. O capote deve ser pendurado de modo que a parte interna fique voltada para pessoa que o utilizará novamente. As precauções de contato devem ser mantidas até resultado negativo do rastreamento na admissão hospitalar ou término do tratamento com glicopeptídeos, descolonização tópica e controles negativos após descolonização. O visitante deve ser orientado para lavar as mãos após o contato com o paciente MRSA. Tanto para o visitante quanto para o acompanhante não é permitido visitar outros pacientes. 4. DESCOLONIZAÇÃO TÓPICA - Executada somente nos casos sensíveis a mupirocina. O início da descolonização ocorrerá após a determinação da CCIH. Não iniciar a descolonização nas seguintes situações: a) Durante tratamento com glicopeptídeos; b) Paciente com TOT ou traqueostomizado; c) Paciente com ostomias; d) Presença de drenos, PIC, ventriculostomias etc.; e) Nos pacientes com feridas cutâneas avaliar a indicação da descolonização de acordo com a extensão e drenagem de secreção. Processo de Descolonização - Terá duração de 5 dias e consistirá de: a) Banho diário, incluindo couro cabeludo, com clorexidina detergente. Proteger os ouvidos e olhos do paciente; b) Aplicar mupirocina tópica à 2% (Bactroban) nas narinas anteriores e em lesões de pele (até 20% da superfície corporal), 2 vezes ao dia. Nas lesões cutâneas aplicar mupirocina a cada troca de curativo; c) Proceder a troca de cateter vesical, nasogástrico e outros dispositivos, desde que não haja risco na troca para o paciente; Pre valê ncia de Swab s MRSA (+ ) em d) A literatura não Unidade s Fe chadas HUPE de z/08-mar/ 09 estabelece benefícios no uso da mupirocina nos orifícios de inserção do cateter vascular. Portanto, não recomendaremos a aplicação da mupirocina neste sítio. Vigilância ativa para Swabs MRSA (+) Unidades Fechadas pesquisa de MRSA em Unidades fechadas do HUPE dez/08 - mar/09 (%) Hospital Universitário 25,0 20,0 Pedro Ernesto Dez/2008 15,0 Mar/09. 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 No de swabs colhidos MRS A 2. RASTREAMENTO MICROBIOLÓGICO PARA PESQUISA DE MRSA - Consiste na pesquisa de MRSA em secreção nasal, de lesões cutâneas, sítio de inserção do cateter vascular central ou 10,0 flebotomia, ostomias e secreção traqueal, nos pacientes com TOT 5,0 0,0 ou traqueostomia. Solicitar ao Laboratório apenas a pesquisa de MRSA. A pesquisa de MRSA em secreção nasal será realizada através da fricção mecânica de um “swab” umedecido em água destilada nas regiões anteriores das narinas. A secreção traqueal deve ser colhida, preferencialmente, por aspiração e não pela fricção Comissão de Controle de Infecção Hospitalar mecânica de um “swab”. Há anos temos observado um incremento nas infecções 3. PRECAUÇÕES DE CONTATO - Devem ser adotadas no por bactérias resistentes a oxacilina. Será um grande desafio para os manuseio dos pacientes rastreados na admissão hospitalar, profissionais de saúde do HUPE, redimensionar este problema. Contamos com a participação de todos no controle de antimicrobianos colonizados ou adoecidos pelo MRSA. Compreendem: para diminuirmos a curto prazo o uso inadequado de vancomicina. - Lavagem das mãos com clorexidina detergente; - Uso de luvas de procedimento a cada manipulação do paciente, dos mobiliários e equipamentos do quarto; Informativo da Coordenadoria de Controle e de Infecção Hospitalar CCIH/HUPE Diretor Geral: Rodolfo Acatauassú Nunes Vice-diretor: Maurílio Pereira de Carvalho Salek Coordenadoria de Controle de Infecção Hospitalar Coordenador: Paulo Vieira Damasco Conselho Editorial: Colaboração: Cristina Pereira Eduardo de Castro Elisabeth Azevedo Ethel Davidson Júlio Delgado Nancy Peixoto Patrícia Inhaquite Sílvia Thees Castro Coordenadoria de Comunicação Social, Eventos e Humanização Coordenadora: Maria Lúcia Calazans Projeto Gráfico: Caíque Nunes Revisão Textual: Alba Moraes Renata Rezende