Estudo Multicêntrico Brasileiro da Eficácia do Sotalol

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Estudo Multicêntrico Brasileiro da Eficácia do Sotalol em Arritmias
Ventriculares
Ivan G. Maia, Adalberto M. Lorga (Coordenador), Angelo A. V. de Paola, Anis Rassi,
Ayrlon K Perez, Dario Sobral, Jacob Atie, Julio C. Gizzi, Rubens Darwich
Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Goiânia (GO),
Recife (PE), Brasília (DF)Belo Horizonte (MG)
Objetivo - Avaliar através de ensaio clínico
prospectivo, randomizado, duplo-cego cruzado contra
placebo, a eficácia do sotalol na dose oral de 320mg diários em reduzir taquiarritmias ventriculares não sustentadas (TVNS).
Métodos - Foram avaliados em condições de controle
(Ct), placebo (Pb) e droga (Dg), 90 portadores de um número médio 2³50 extra-sístoles horárias (EV), com ou sem
respostas pareadas (RP) e TVNS, registradas no Holter.
Considerou-se a droga como efetiva, frente a uma redução
³75% das EV e ³90% das RP e TVNS. Avaliaram-se os resultados globais e os observados em doenças específicas,
incluindo a cardiopatia chagásica crônica, arritmias
ventriculares idiopáticas e doença coronariana e
hipertensiva sistêmica.
Resultados - Não ocorreram diferenças significativas
entre Ct e Pb. Globalmente, a droga reduziu as EV em 42%
(38/90 pacientes), as RP em 48% (32/67 e as TVNS em 53%
(19/36), com médias respectivas entre Pb e Dg de
11.770±13.818 para 1.043±1.554 nas EV (p<0,001); de
439±586 para 27±52 nas RP (p<0,001) e de 445±1.147
para 2,5±5,8 nas TVNS (p<0,102). Nos chagásicos, redução das EV de 33% (13/39 pacientes), das RP em 42% (14/
34) e das TVNS em 64% (12/22). Nos idiopáticos, a redução das EV foi de 53% (17/32 pacientes), das RP de 50%
(10/20) e das TVNS de 36% (4/11). Nos isquêmicos e/ou
hipertensos, a redução das EV foi de 47% (7/15 pacientes)
e de 73% nas RP (8/11).
Conclusão - Na população estudada e na dose
indicada, o sotalol mostrou ser um fármaco efetivo para
controle de TVNS, apresentando mínimos efeitos colaterais.
Palavras-chave: arritmias ventriculares, sotalol
Brazilion Multicenter Study of Sotalol
Effectiveness in Ventricular Arrhythmias
Purpose - To evaluate the effects of sotalol in patients
with nonsustained ventricular tachyarrhythmia (NSVT).
Methods - Ninety patients were enrolled. Patients
were submitted to a double-blind crossover randomized
study (placebo x 320ms/po/d/sotalol; 4 weeks, after a washout control period. Holter recordings were performed in
control (Ct), placebo (Pb) and drug (Dg) periods. Eligible
patients had >50/h isolated ventricular premature beats
(VPB), in control, with or without pairs (P) or nonsustained
VT (NSVT; >3 beats, >100bpm). Drug efficacy criteria
were; ³75% reduction in isolated VPB, reduction ³ 90% of
P and NSVT. The effects of the Dg were evaluated in the
global population, in patients with Chagas’ disease,
idiopathic arrhythmias and ischemic/hypertensive patients.
Results - Differences between control and placebo
were NS. Isolated VPB; Dg was effective in 42% (38/90
patients) with a mean of Pb and Dg respectively of
11,770±13,818 and 1,043±1,554 (p<0.001). Pairs: drug
was effective in 48% (32/67 patients) with a mean of Pb and
Dg respectively of 439±586 and 27±52 (p<0.001). NSVT:
drug effectiveness was 53% (19/36 patients) with a mean of
Pb and Dg respectively of 445±1,148 and 2.5±5.8
(p<0.102). In patients with Chagas’ disease, the reduction
in VPB was 33% (13/39 patients), in pairs was 42% (14/34)
and in NSVT was 64% (12/22). In idiopathic patients the
reduction of VPB was 53% (17/32 patients), in pairs was
50% (10/20) and in NSVT was 36% (4/11). In ischemic and
hypertensive patients the reduction of VPB was 47% (7/15
patients) and 73% in pairs (8/11).
Conclusion - In the present study, sotalol was
effective in the control of nonsustained ventricular
tachyarrhythmia, with minimal side-effects.
Key-words: ventricular arrhythmia, sotalol
Arq Bras Cardiol, volume 66 (n°3),173-178, 1996
Correspondência: Ivan G. Maia - Rua Raul Kennedy, 81 - 22631-200 - Rio de
Janeiro, RJ
Recebido para publicação em 30/11/95
Aceito em 6/2/96
Vários trabalhos de literatura têm demonstrado ser o
sotalol uma droga efetiva para controle das formas habituais
de taquiarritmias ventriculares1-6. Seus efeitos antiarrítmicos
principais relacionam-se a uma ação betabloqueadora não
cárdio-seletiva, bem como a um significativo efeito sobre a
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repolarização, prolongando o período refratário efetivo de
praticamente todas as estruturas dinâmicas do coração7. Devido às suas propriedades, enquadra-se como droga das classes 2 e 3 na classificação proposta por Vaugham-Williams8.
Por ser o sotalol uma droga introduzida recentemente
para uso clínico, torna-se de interesse melhor conhecer e divulgar seus efeitos farmacológicos. Assim, o objetivo do presente estudo será de relatar os resultados de um ensaio nacional multicêntrico, envolvendo portadores de taquiarritmias
ventriculares de etiologias diversas.
Métodos
Através de ensaio multicêntrico duplo-cego, cruzado,
randomizado, foi avaliada a ação antiarrítmica do sotalol em
90 pacientes, selecionados a partir de um grupo inicial de
109 doentes. Destes, 8 abandonaram o protocolo, havendo
em 11 não aderência. O grupo final estava composto por 45
homens e 45 mulheres, idade média global de 51,1±12,7
anos. Eram portadores de cardiopatia chagásica crônica
(CCC), diagnosticada pelos métodos clínicos convencionais
39 (43%) pacientes, sendo 18 homens e 21 mulheres, com
idade média de 50,5±12,0 anos. Apresentavam arritmias
ventriculares de caráter idiopático, com exames de rotina,
incluindo ecocardiograma, normais,32 (35,5%) pacientes,
sendo 12 homens e 20 mulheres, com idade média de
46,8±13,2 anos. Eram portadores de doença coronariana
aterosclerótica crônica e/ou hipertensão arterial sistêmica 15
(17%) pacientes, sendo 11 homens e 4 mulheres, idade média de 62,4±8,3 anos. Completando o grupo,3 pacientes apresentavam miocardiopatia crônica idiopática e um,
valvulopatia aórtica. Na tabela I encontram-se os dados de
identificação dos pacientes.
Todos os pacientes foram submetidos a ensaio clínico
prospectivo, duplo-cego, cruzado, randomizado, usando-se
320mg oral do sotalol, em sua forma racêmica, em duas tomadas diárias. Utilizaram-se neste ensaio, os seguintes critérios para elegibilidade dos pacientes: idade entre 20 e 75
anos, sintomáticos ou assintomáticos, apresentando ou não
cardiopatia estrutural, fração de ejeção de ventrículo esquerdo ao ecocardiograma >40%, freqüência cardíaca (FC) basal,
função renal e pressão arterial adequadas, ausência de tratamento com amiodarona por período mínimo de 6 meses. Os
pacientes deveriam apresentar ao Holter-24h, uma média horária de extra-sístoles ventriculares isoladas >50 (EV), com
ou sem respostas pareadas (RP) e taquicardias ventriculares
não sustentadas (TVNS). Considerou-se como TVNS, a presença de 3 ou mais despolarizações ventriculares sucessivas,
com freqüência >100 por minuto e duração <30s.
O objetivo primário do estudo, para considerar a droga efetiva, era obter uma redução ³ a 75% das EV e ³90% das
RP e TVNS quando presentes, nas relações entre placebo e
droga. Após avaliação dos critérios clínicos de seleção, os
pacientes eram submetidos a uma gravação de Holter-24h,
para quantificação dos eventos taquiarrítmicos ventriculares.
Preenchendo os requisitos eletrocardiográficos de elegibili-
dade e após consentimento escrito para participar do ensaio,
eram randomizados com placebo ou droga, por período de 4
semanas, com nova gravação de Holter-24h ao final do mesmo. De imediato, procedia-se a troca da medicação (placebo
ou droga), com novo período de 28 dias de uso e a última
gravação de Holter-24h ao final do mesmo.
Os registros eletrocardiográficos contínuos foram obtidos em gravadores convencionais, sendo analisados de forma cega, inicialmente pelo pesquisador responsável e, posteriormente, reanalisados em um único aparelho (Marquette)
pelo coordenador do protocolo. Os dados utilizados para análise referiram-se aos obtidos pelo coordenador. Em todos os
registros, qualificaram e quantificaram os eventos
taquiarrítmicos ventriculares nas 3 situações descritas; controle (Ct), placebo (Pb) e droga (Dg). Confrontaram-se os
resultados entre Ct e Pb e Pb e Dg para definição da eficácia do fármaco sobre a população total. Em função das dificuldades para avaliar os efeitos da droga sobre as RP e
TVNS, consideraram-se para fins de análise da efetividade,
apenas as gravações que apresentassem um número ³5 desses eventos no Pb, com redução ³90% no pós-droga. Como
foram incluídos no ensaio pacientes com doenças clinical diversas, os resultados também foram avaliados em função das
mesmas. Assim, analisaram-se os efeitos do fármaco sobre
a população chagásica, idiopática e no grupo isquêmico/
hipertensivo.
Durante o período do ensaio, os pacientes foram acompanhados clinicamente, obtendo-se dosagens bioquímicas
relacionadas à função renal e hepática, ecocardiogramas e
eletrocardiogramas (ECG) seriados. Observou-se com especial atenção a ocorrência de possíveis efeitos colaterais, atribuíveis ao medicamento.
Todos os dados foram expressos pela média e desviopadrão. Correlações estatisticas foram estabelecidas aplicando-se teste de variância, considerando-se um valor de p<0,05
como significativo.
Resultados
Não foram observadas diferenças estatisticas significativas entre Ct e Pb, nas 3 formas de apresentação das
arritmias ventriculares (EV: Ct= 13.315,5±11.784,0; Pb=
12.795,5±13.275,0 - p<0,790. RP: Ct= 510,1±721,5; Pb=
423,9±578,1 - p<0,447. TVNS: Ct= 420,1±1.881,4; Pb=
503,1±2.299,1 - p<0,867).
Globalmente, a droga atingiu níveis de eficácia pare
EV em um total de 38 dos 90 (42%) pacientes, tendo apresentado percentuais de redução entre 72 e 74% em mais 4
pacientes. No grupo efetivo a média de EV no Pb foi de
11.770,0±13.818,7, passando no pós-droga para
1.043,3±1.554,2 eventos (p<0,001) (fig. 1). Apresentaram no
placebo número ³5 RP 67 (74,5%) pacientes, havendo redução em 48% dos mesmos (32/67 pacientes), por ação do
fármaco. Média no grupo Pb de 439,0±585,8 e no pós-droga de 27,0±52,3 eventos - p<0,001 (fig.2). Apresentaram um
número ³ 5 surtos de TVNS no Pb 36 (40%) pacientes. Hou-
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Tabela I - Identificação dos pacientes envolvidos no ensaio
Caso
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
Sexo
M
F
F
M
M
M
F
F
F
M
M
F
M
F
M
F
F
F
M
F
F
M
F
M
F
F
M
M
F
F
F
F
F
F
M
M
F
M
M
F
M
F
M
F
M
Idade
52
47
64
65
44
42
59
31
56
42
53
65
53
28
53
44
42
25
48
46
50
45
62
45
56
68
58
54
69
51
40
45
20
36
66
70
36
63
66
64
44
37
48
72
40
Diagnóstico
CCC
CCC
ISQMP
ISQ/HP
CCC
CCC
Idiopático
CCC
Idiopático
Idiopático
Valvulopatia
CCC
CCC
CCC
Idiopático
CCC
Idiopático
Idiopático
Miocardiopatia
Idiopático
CCC
CCC
CCC
CCC
Idiopático
CCC
ISQ/HP
ISQ/HP
ISQ/HP
Idiopático
Idiopático
ISQ/HP
Idiopático
Idiopático
ISQ/HP
ISQ/HP
CCC
ISQ/HP
ISQ/HP
Idiopático
CCC
CCC
CCC
CCC
CCC
Caso
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
Sexo
F
M
F
M
M
F
F
F
F
F
M
F
M
M
M
F
F
F
M
M
F
M
M
F
F
M
F
M
M
M
F
F
M
F
M
F
M
F
M
M
M
M
M
M
M
Idade
40
42
42
65
44
69
49
56
32
45
67
50
53
46
45
39
29
53
30
73
44
54
72
69
70
65
31
47
28
69
59
50
51
45
50
64
67
48
57
73
60
38
67
46
50
Diagnóstico
Idiopático
CCC
CCC
CCC
Idiopático
CCC
Idiopático
CCC
CCC
CCC
Idiopático
Idiopático
CCC
CCC
Idiopático
Idiopático
Idiopático
Idiopático
Idiopático
CCC
CCC
CCC
CCC
CCC
ISQ/HP
Idiopático
Idiopático
ISQ/HP
Idiopático
Idiopático
Idiopático
Idiopático
CCC
CCC
CCC
CCC
ISQ/HP
CCC
Idiopático
ISQ/HP
ISQ/HP
Idiopático
Idiopático
Miocardiopatia
Miocardiopatia
M- masculino; F- feminino; CCC- cardiopatia chagásica crônica; ISQ/HP- isquêmico/hipertensivo
Fig. 1 - Gráfico representativo dos resultados observados com a droga, sobre as extrasístoles ventriculares isoladas, no grupo efetivo.
Fig . 2 - Gráfico demonstrativo dos efeitos do sotalol sobre as respostas pareadas e
taquicardias ventriculares não sustentadas no grupo responsivo.
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ve redução >90% dos eventos em 19 (53%) pacientes. Neste grupo, a média de TVNS no Pb foi de 445,0±1.147,1 e no
pós-droga de 2,5±5,8 eventos (p<0,102) (fig. 2).
Nos 39 pacientes com CCC, houve uma redução das
EV ³75% em 13 (33%), com uma média no Pb de
6.035,8±4.263,9 e no pós-droga de 783,7±908,9 eventos
(p<0,001). As RP em número ³5 eventos no Pb foram observadas em 34 (87%) pacientes. A droga as reduziu em número >90%, em 42% da população (14/34 pacientes), com uma
média respectiva no Pb e Dg de 367,9±477,0 e 29,5±54,7
(p<0,05) (fig.3). Exibiram um número³5 episódios de TVNS
no Pb 22 (56%) pacientes. Houve significativa redução desses eventos no pós-droga (14/22 pacientes, 64%), com uma
média no Pb de 28,2±22,8 e após o fármaco de 0,86±1,2
(p<0,001)(fig.4).
Nos idiopáticos a droga atingiu níveis de redução ³75%
em 17 dos 32 (53%) pacientes com uma média no Pb de
15,67±116.890 e no pós-droga de 1,386±2.084 (p=0,002).
Respostas pareadas ³5 no Pb foram observadas em 20 dos 32
(62,5%) pacientes, com redução efetiva das mesmas, por
efeito da droga, em 10 (50%). A média no Pb foi de
289,2±484,2 e com a Dg de 10,5±19,7 (p<0,05) (fig. 3).
Apresentaram TVNS em número ³5 surtos no Pb 11 pacientes, com redução significativa desses eventos em 4 (36%)
pacientes. A média foi de 4.019,7±6.536,0 e com a Dg de
7,0±10,3 eventos (p=0,266).
Apesar do número menos significativo de pacientes,
analisamos os efeitos da droga sobre a cardiopatia isquêmica
hipertensiva. A droga reduziu de forma significativa as EV
em 7 dos 15 (47%) pacientes com uma média no Pb de
12.618±13.419 e no pós-droga de 776±1.013(p<0,047).
Apresentaram RP em número³5 (73%) 11 pacientes, com
redução atingindo os níveis propostos em 8 (73%). A média
no Pb foi de 746,8±805,6 passando com a droga para
43,5±73,o eventos (p=0,032). Em relação a TVNS, notou-se
sua presença 3 pacientes, com redução em 2.
Fig. 3 - Gráfico demonstrativo dos efeitos do sotalol sobre as respostas pareadas
ventriculares, na população responsiva e com cardiopatia chagásica crônica e arritmias
ventriculares idiopáticas. P- placebo: D-droga.
Fig. 4 - Gráfico demonstrando os efeitos do sotalol sobre as taquicardias ventriculares
não sustentadas, na populasão responsiva e portadora de cardiopatia chagásica crônica.
Durante o período do ensaio e na dose indicada, foram
observados em 23 (25,5%) pacientes efeitos colaterais atribuíveis à droga. Os mais freqüentes relacionaram-se às queixas de astenia e tonturas, havendo, em 3 pacientes, abandono ao ensaio devido aos sintomas. Fenômenos de próarritmia foram observados em 2 pacientes, com incrementos
de 4 vezes e 100 vezes no número de EV nas relações Pb e
Dg, sem no entanto, ter havido suspensão do fármaco. Não
houve mortalidade durante a fase do ensaio, bem como outros efeitos cardíacos maiores. Não foram observadas alterações nas dosagens bioquímicas, nos ecocardiogramas e nos
ECG seriados, exceto uma redução da FC por efeito da droga (ciclo médio no Pb de 779±96ms e no pós-droga de
l.090±101ms - p<0,001). Os efeitos do fármaco sobre o intervalo QT foram irregulares.
Discussão
Embora existam hoje, opções não farmacológicas para
tratamento das arritmias ventriculares, sua grande maioria,
quando se apresenta de forma não sustentada e necessitando de tratamento clínico, é manuseada com drogas
antiarritmicas. As indicações para uso desses fármacos, vêm
na atualidade passando por uma profunda revisão9,10 no entanto, são inquestionáveis as suas aplicações em algumas
condições clinical específicas, que incluem, por exemplo,
pacientes sintomáticos com queixas de palpitações ou outras
manifestações correlacionáveis aos eventos ectópicos
ventriculares, TVNS na cardiomiopatia hipertrófica, arritmias
ventriculares da doença ventricular direita arritmogênica ou
como manifestação tardia pós-cirurgia de correção da
tetralogia de Fallot. Pacientes com taquicardia ventricular
sustentada no pós infarto do miocárdio, sem opções de tratamento não farmacológico, são também e, em princípio,
controlados com drogas antiarrítmicas. Assim, ainda existe
um amplo espaço para aplicação clínica desses fármacos,
sendo, portanto, de interesse que sejam introduzidas novas
opções de escolha.
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O antiarrítmico ideal seria aquele que além de reduzir
de forma significativa os eventos ectópicos ventriculares,
apresentasse mínimos efeitos colaterais sistêmicos e cardíacos e reduzisse de forma indiscutível a mortalidade de determinadas doenças específicas. As duas primeiras questões
poderão ser atingidas com algumas das drogas atualmente
disponíveis no mercado, a terceira permanece um campo
aberto para discussões e pesquisas, validando com isso a introdução e a busca de novos fármacos, através de vários tipos de ensaios clínicos, incluindo-se o do presente estudo.
A maioria dos trabalhos de literatura demonstra que as
drogas antiarritmicas reduzem os eventos ectópicos
ventriculares em proporções que variam em média entre 40
e 70%11. Esses níveis são aceitos de uma maneira geral como
indicativos de eficácia das mesmas, nos objetivos propostos.
No presente ensaio, observamos, com o uso do sotalol, valores semelhantes aos descritos. Em uma população heterogênea, os niveis globais de redução >75%, para os eventos
ectópicos isolados atingiu 42% dos pacientes, 48% para as
repostas pareadas e 53% para as TVNS. Utilizamos critérios rígidos, para avaliação dos efeitos do fármaco sobre as RP
e TVNS. Incluímos apenas gravações que apresentassem
número superior a 5 eventos no Pb, reduzindo com isso a
massa de pacientes, mas, certamente, aumentando a sensibilidade do ensaio para definir os efeitos do fármaco sobre
esses tipos específicos de manifestações arrítmicas
ventriculares. Esta forma de procedimento, infelizmente, não
vem sendo adotada na literatura, impedindo o estabelecimento de correlações dos nossos resultados com outros da literatura. Os níveis de redução, que observamos, foram significativos, especialmente no que se refere a TVNS.
Os mecanismos eletrofisiológicos de produção das
arritmias cardíacas são diversos, bem como distintamente
sensiveis às drogas antiarrítmicas. Pode-se admitir com segurança, que os mesmos ocorrem em patologias distintas e
preferenciais. Assim, a reentrada tem sido o mecanismo implicado na produção de TVNS e sustentada no pós-infarto do
miocárdio12, os pós-potenciais nas arritmias ventriculares
idiopáticas oriundas do ventrículo direito, naquelas
verapamil sensível e no torsades de pointes 13, automatismo
aumentado em algumas formas de ectopias ventriculares isoladas bem como nas para-sistolias14. A inclusão em qualquer
ensaio clínico, de patologias distintas para uma análise global, implicará certamente em resultados que expressam efeitos do fármaco testado, sobre mecanismos diversos de produção das arritmias. Estas drogas possuem ações iônicas e
autonômicas variáveis15, podendo, como conseqüência, apresentar resultados diferenciáveis sobre as diversas condições
mórbidas estudadas. Baseados nestas idéias, tentamos no
presente ensaio, além de avaliar os efeitos do sotalol sobre
toda a população envolvida, demonstrando sua efetividade,
177
também analisar seus efeitos sobre condições específicas. O
número de pacientes envolvidos, embora reduzido, permitiria, a nosso ver, por se tratar de um ensaio terapêutico, delinear conclusões. Os resultados observados no grupo
idiopático foram semelhantes aos da literatura16 , em especial naqueles apresentando a forma repetitiva de taquicardia
ventricular17,18 . No que se refere a CCC, os resultados foram
curiosos e permitiram algumas considerações sobre os mesmos. A droga apresentou percentuais relativamente baixos de
redução das EV (33% dos pacientes), no entanto, foi significativa a sua ação sobre as RP, englobando 42% dos doentes e em especial sobre as TVNS (64% da população incluída - 14/22 pacientes). Esses dados sugerem ser a droga capaz de atuar sobre os mecanismos envolvidos na produção
de respostas repetitivas, sem no entanto, aboli-los integralmente, permitindo a manutenção de respostas isoladas. De
uma maneira geral, esses resultados estão concordantes com
os de literatura, que demonstram ser o sotalol uma droga altamente efetiva no controle de taquicardias ventriculares sustentadas, induzidas por estimulação ventricular programada
em laboratório de eletrofisiologia clínica19. Nesses estudos,
demonstrou-se efetivamente pelos resultados, um importante efeito do fármaco sobre os mecanismos de sustentação das
taquicardias ventriculares. Assim, o efeito da droga, reduzindo a capacidade das ectopias ventriculares isoladas de funcionarem como mecanismo de disparo para eventos
repetitivos ou sustentados, diminuiria em muito a capacidade mórbida das mesmas. Seria um efeito desejável e de importância clínica indiscutível. No entanto, para a sua definitiva confirmação haverá necessidade de estudos com populações em número mais abrangente.
No que se refere a cardiopatia isquêmica e
hipertensiva, os níveis de redução foram muito significativos,
47% da população para EV, 73% para as RP e 67% para as
TVNS, no entanto, frente ao pequeno número de pacientes
envolvidos, esses resultados deverão ser considerados com
muita reserva.
Os efeitos colaterais apresentados pelo sotalol no presente ensaio, foram mínimos e compatíveis com a sua utilização clínica. Fenômenos pró-arrítmicos ocorreram em 2,2%
(2/90 pacientes), semelhantes aos observados em outros trabalhos20 .
Em resumo, os resultados deste ensaio permitiram concluir ser o sotalol uma droga segura e efetiva para controle
das diversas formas de apresentação das TVNS. Sua eficácia, muito provavelmente, se relaciona com a interação entre suas duas principais ações farmacológicas; o efeito
betabloqueador não cárdio-seletivo e o prologamento da
refratariedade tissular. Ambos representam mecanismos antiarritmogênicos comprovadamente efetivos.
Arq Bras Cardiol
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Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
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