Mário Ferreira dos Santos: a obra do maior filósofo brasileiro de todos os tempos Por Dante Henrique Mantovani1 Não comete exagero, muito menos imprecisão, quem reconhece a efetiva contribuição de um filósofo à cultura universal, e exatamente por essa razão é que nomear Mário Ferreira dos Santos como o maior filósofo brasileiro de todos os tempos não é exagero, muito menos imprecisão. Nascido em Tietê-SP, em 1907, filho de dono de uma companhia teatral, Mário Ferreira mudou-se ainda na infância para Pelotas-RS, onde por volta de 1925 estudou em Colégio Jesuíta, e posteriormente graduou-se em Direito e Ciências Sociais pela Universidade de Porto Alegre, já em 1930. Sua carreira intelectual teve início modesto, na década de 1940, tendo Mário atuado como tradutor, resenhista e divulgador cultural. Contudo, após sua mudança para São Paulo, em 1945, passou a dedicar-se cada vez mais à filosofia, e no ano de 1947 lança as bases de seu original método filosófico, denominado Filosofia Concreta, que constitui notável contribuição ao conhecimento Filosófico Universal. A Filosofia Concreta parte de constatações universalmente aceitas e incontornáveis, e afirma-se como filosofia positiva, cujos pressupostos são enunciados com nitidez, segurança e otimismo, porque presta culto ao inabalável poder da inteligência humana. Mário Ferreira parte da simples constatação: “Algo há, e isto é o princípio de tudo”, para em seguida, com rigor lógico impecável, tecer uma série de sistematizações, deduções e classificações do conhecimento universal. O método da filosofia concreta foi concebido de modo a permitir averiguação dos sentidos mais profundos das ideias filosóficas de todas as épocas, escolas e tendências, ao mesmo tempo em que lhes complementa, aperfeiçoa e faz críticas demolidoras. Pode-se exemplificar como Mário Ferreira dos Santos aplica o método da concreção com o dito em uma de suas conferências: “O ser precede o nada, pois para se negar algo, é preciso que exista algo que possa ser negado”. Por esse curto fragmento, já é possível ter a dimensão do poder desse método filosófico, pois somente com essa dedução inicial, Mário analisa, sintetiza e refuta os pontos inválidos de todas as correntes de pensamento niilistas, ou seja, das filosofias negativas, como o Pessimismo Schopenhauriano, o Nietzscheanismo e o Existencialismo Sartreano, que tantas tragédias prefiguraram no séc.XX. O alcance do método filosófico de Mário Ferreira é, portanto, abissal, porque de fato penetra nas mais escondidas profundezas da história das ideias filosóficas e as obriga a um reexame incessante e impiedoso, para a sorte de quem pretende manter vivos e dinâmicos os conhecimentos humanos, seja pela prática da filosofia2 ou de alguma outra ciência. Olavo de Carvalho, o maior filósofo brasileiro em atividade, é também grande admirador, divulgador e seguidor da obra de Mário Ferreira dos Santos, e traduz com acuidade a verdadeira dimensão dessa obra, que exige um melhoramento instantâneo de quem a pretende auscultar : “Os problemas que Mário enfrentou foram os mais altos e complexos da filosofia, mas, por isso mesmo, estão tão acima das cogitações banais da nossa intelectualidade, que esta não poderia 1 Doutor em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina Para Mário Ferreira dos Santos , a filosofia era considerada uma ciência, contudo, a mais rigorosa delas, por contar tão-somente com a inteligência do filósofo como instrumento, ao passo que outras ciências são repletas de instrumentos e técnicas auxiliares. 2 defrontar-se com ele sem passar por uma metanóia, uma conversão do espírito, a descoberta de uma dimensão ignorada e infinita” (www.olavodecarvalho.org) Além da importância técnica, científica e filosófica de sua obra, o legado de Mário Ferreira foi também profundamente marcado por seu compromisso com a educação de seu povo: para isso fundou duas editoras: Logos e Matese, e vendia seus livros de porta em porta. Essa preocupação com a educação e a formação intelectual do povo brasileiro eram de tal monta, que concebeu para isso a monumental Enciclopédia das Ciências Filosóficas, publicada em nada menos que 45 volumes (!), que esclarece as bases filosóficas de todas as áreas do conhecimento. Outro aspecto notável e poderosíssímo da obra de Mário Ferreira dos Santos é sua capacidade de síntese, que exerce em simultâneo à capacidade de profetizar acontecimentos futuros, o que ocorre principalmente em suas análises sociológicas. Em texto de 1967, Mário sintetizou uma série de observações que fez a respeito da sociedade brasileira, analisando tendências e possibilidades latentes, cujos desdobramentos o permitiram formular prognóstico estarrecedor, que descreve perfeitamente a atual situação da mentalidade hegemônica que se pretende impor à sociedade brasileira. No capítulo de nome VALORIZAÇÃO DO CRIMINOSO, que está em seu livro Invasão Vertical dos Bárbaros, (Ed. É realizações,2012), Mário Ferreira enuncia :”Para o bárbaro, o criminoso é visualizado duplicemente: segundo o seu crime atinja a tribo ou alguém da tribo, ou se atinge quem não é da tribo ou se além disso é inimigo. No primeiro caso, há crime pleno; no segundo, atenua-se e, no terceiro, anula-se. O crime não é concebido enquanto em si mesmo, ou em relação à coletividade, mas apenas em relação ao objeto da lesão criminosa, a vítima. O mesmo ato lesivo pode ser considerado infame ou nobre, tudo dependendo de quem ou do que sofre. (pg.85). Mário Ferreira tem razão: no Brasil de hoje, só se considera crime os atos lesivos praticados contra os inimigos do regime hegemônico, pois os 70 mil homicídios/ano que amargamos já há décadas são mera estatística, ao passo que qualquer assassinato, por mais isolado que seja, de algum membro de “grupo minoritário” – leia-se, grupos protegidos pelo governo, em detrimento da maioria da população -, ganha contornos de escândalo inadmissível. No Brasil de hoje, se um presidiário é assassinado – não que isso deva ser encorajado, mas note-se a desproporcionalidade de reações - instantaneamente milhares de ONGs fazem barulho ensurdecedor no mundo todo, governos idem; mas se o mesmo crime ocorre contra um pai de família, nem uma única voz se levanta para clamar por justiça, exceto a da própria família. Pois bem, o não reconhecimento da obra monumental de Mário Ferreira dos Santos é outro termômetro do atual estado de coisas no Brasil: um país ávido por barbárie não poderia reconhecer, sequer notar a existência de seu mais civilizado, instruído e inteligente compatriota. Felizmente, a obra de Mário Ferreira dos Santos é maior do que este Brasil atual que anda tão apequenado, e será sempre um manancial seguro e inesgotável para a reconstrução da cultura nacional. Obras editadas de Mário Ferreira dos Santos são as seguintes: Teses da Existência e da Inexistência de Deus - com pseudônimo de Charles Duclos. Editora e Distribuidora Sagitário, 1946.Se a Esfinge Falasse - com pseudônimo de Dan Andersen. Editora e Distribuidora Sagitário, 1946. Realidade do Homem - com pseudônimo de Dan Andersen. Editora e Distribuidora Sagitário, 1947. Curso de Oratória e Retórica, Editora Logos, 1953. Técnica do Discurso Moderno. Editora Logos, 1953. Filosofia e Cosmovisão. Editora Logos, 1954. Lógica e Dialética. Editora Logos, 1954. Psicologia. Editora Logos, 1954. Teoria do Conhecimento. Editora Logos, 1954. Ontologia e Cosmologia. Editora Logos, 1954. O Homem que Nasceu Póstumo. Editora Logos, 1954. Curso de Integração Pessoal. Editora Logos, 1954. Análise Dialética do Marxismo. Editora Logos, 1954. Tratado de Simbólica. Editora Logos, 1955. Filosofia da Crise. Editora Logos, 1955. O Homem perante o Infinito (Teologia). Editora Logos, 1955. Aristóteles e as Mutações. Editora Logos, 1955. Noologia Geral. Editora Logos, 1956. Filosofia Concreta (3 volumes). Editora Logos, 1956. Sociologia Fundamental e Ética Fundamental. Editora Logos, 1957. Filosofias da Afirmação e da Negação. Editora Logos, 1957. Práticas de Oratória. Editora Logos, 1957. O Um e o Múltiplo em Platão. Editora Logos, 1958. Métodos Lógicos e Dialéticos (3 volumes). Editora Logos, 1959. Pitágoras e o Tema do Número. Editora Logos, 1960. Páginas Várias. Editora Logos, 1960. Filosofia Concreta dos Valores. Editora Logos, 1960. Convite à Estética. Editora Logos, 1961. Convite à Psicologia Prática. Editora Logos, 1961. Convite à Filosofia. Editora Logos, 1961. Tratado de Economia (2 volumes). Editora Logos, 1962. Filosofia e História da Cultura (3 volumes). Editora Logos, 1962. Análise de Temas Sociais (3 volumes). Editora Logos, 1962. O Problema Social. Editora Logos, 1962. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais (4 volumes). Editora Matese, 1963. Dicionário de Pedagogia e Puericultura (3 volumes). Editora Matese, 1965. Origem dos Grandes Erros Filosóficos. Editora Matese, 1965. Protágoras. Editora Matese, 1965. Isagoge de Porfírio. Editora Matese, 1965. Grandezas e Misérias da Logística. Editora Matese, 1966. Invasão Vertical dos Bárbaros. Editora Matese, 1967. Erros na Filosofia da Natureza. Editora Matese, 1967. A Sabedoria dos Princípios. Editora Matese, 1967. A Sabedoria da Unidade. Editora Matese, 1967. A Sabedoria do Ser e do Nada. Editora Matese, 1968. O Apocalipse de São João (póstumo). Editorial Cone Sul, 1998. A Sabedoria das Leis Eternas (póstumo). É Realizações, 2001. Cristianismo, a Religião do Homem (póstumo). EDUSC, 2003.