ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM HANSENÍASE: REVISÃO DE LITERATURA THE NURSING CARE PATIENT WITH LEPROSY: LITERATURE REVIEW SOUSA, Renata Helena da Costa1; CARVALHO, Lucas Henrique de Sousa2; SOUSA, Filipe Soares de3; NASCIMENTO, Francisco Adalberto Paz4; VIANA, Magda Rogéria Pereira5. 1,2,3 Acadêmicos de Enfermagem da FSA 4 5 Orientador, professor da FSA Enfermeira, Co-Orientador e professora da FSA RESUMO A hanseníase é uma doença crônica granulomatosa, originada da infecção pelo Mycobacterium leprae, caracterizada por evolução lenta, manifestando-se basicamente através de sinais e sintomas dermatoneurológicos, tendo como característica principal o comprometimento dos nervos periféricos. A hanseníase no Brasil ainda se apresenta como um grave problema de saúde pública. No Piauí, o coeficiente de prevalência da doença, na atualidade é de 3,5 casos/10 mil habitantes, porém a capital Teresina apresentou 71,2 casos/100 mil habitantes em 2010. O estudo teve como objetivos realizar levantamento da produção científica sobre hanseníase, analisar a produção científica que aborda o papel da enfermagem na assistência ao portador de hanseníase. Adotou-se a pesquisa bibliográfica, na qual os dados foram coletados na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e utilizou-se um roteiro de coleta de dados para análise. Os resultados foram apresentados por meio de tabela e quadros e a discussão dos 12 artigos foi feita por meio de duas categorias: educação em saúde e hanseníase: preconceito e estigma ao paciente com hanseníase e sistematização da assistência ao paciente portador de hanseníase e concepções e alterações físicas do paciente. Concluiu-se que o papel da Enfermagem e de toda a equipe de saúde é imprescindível na orientação, sensibilização e acolhimento, criando vínculo entre o serviço de saúde e o paciente, mas para que isso ocorra os profissionais da saúde precisam saber como fazer. PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem. Hanseníase. Sintomas e Tratamento. ABSTRACT Leprosy is a chronic granulomatous disease, caused by Mycobacterium leprae infection, characterized by slow evolution, manifesting itself primarily through dermatoneurológicos signs and symptoms, the main feature of the involvement of the peripheral nerves. Leprosy in Brazil still presents itself as a serious public health problem. In Piaui, the prevalence rate of the disease at present is 3.5 cases / 10,000 inhabitants, but the capital Teresina was 71.2 cases / 100,000 inhabitants in 2010. The study aimed to carry out a survey of scientific literature on leprosy, to review scientific literature that addresses the role of nursing in care for leprosy patient. Adopted the literature, in which data were collected in the Virtual Health Library (VHL) and used a data collection script for analysis. The results were presented through tables and table and the discussion of 12 articles was made through two categories: health education and leprosy: prejudice and stigma for patients with leprosy and systematization of care to patients with leprosy and concepts and changes Physical patient. It was concluded that the role of nursing and the entire health care team is essential in the orientation, awareness and care, creating link between the health service and the patient, but for this to occur healthcare professionals need to know how to do. KEYWORDS: Nursing. Leprosy. Symptoms and Treatment. INTRODUÇÃO A hanseníase é uma doença infectocontagiosa causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, caracterizada por evolução lenta, manifestando-se basicamente através de sinais e sintomas dermatoneurológicos, geralmente nervos periféricos dos olhos, mãos e pés (BRASIL, 2001). A característica principal da doença é o comprometimento dos nervos periféricos que potencializa ainda mais a patologia, causando incapacidades físicas, podendo evoluir para deformidades. A incapacidade e a deformidade podem acarretar alguns problemas como diminuição da capacidade de trabalho, problemas psicológicos e limitação do convívio da vida social, gerando estigma e preconceito contra a doença (BRASIL, 2002). A OMS divulgou, em 2010, que no mundo, registraram-se em 16 países, mais de mil casos de hanseníase notificados. A Ásia apresentou a maior taxa de detecção, sendo 9,39 casos por 10.000 habitantes; as Américas apresentaram 4,58 casos por 10.000 habitantes; A Índia e o Brasil os casos notificados influenciaram fortemente, nessas regiões, tornando a Índia o país queapresentou o maior número de casos registrados, sendo 133.717, e o Brasil logo em seguida, com 37.610. Dos 40.474 casos novos nas Américas, 93% são notificados no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde (2008b), a hanseníase no Brasil ainda se apresenta como um grave problema de saúde pública, por ser uma patologia que tem características de doenças de origem socioeconômica e cultural. No Piauí, apesar da relevante redução do coeficiente de prevalência da doença, que na atualidade é de 3,5 casos/10 mil habitantes, o estado demanda intensificação das ações para eliminação da doença, justificadas por um padrão de média endemicidade segundo os critérios de prevalência. A capital Teresina apresentou 71,2 casos/100 mil habitantes em 2010, padrão de hiperendemicidade (BRASIL, 2011). De acordo com Colombrini, Marchiore e Figuereido(2009), o diagnóstico é obtido através de exame clínico e avaliação dermatoneurológica detalhada, pesquisa de BAAR, mucosa nasal, linfa de lobo de orelha, cotovelo e joelho e por biópsia de pele. A doença se manifesta por manchas avermelhadas, esbranquiçadas e acastanhadas, podem aparecer em qualquer parte do corpo e podem ser lisas ou elevadas; caroços avermelhados ou acastanhados, áreas da pele que não apresentam manchas, no entanto, formigam ou pinicam e vão ficando dormentes com ausência álgica, sensibilidade térmica e tátil. Outros sinais são: engrossamento de alguns nervos dos braços, das pernas e do pescoço; aparecimento de caroços na orelha, no rosto e nas mãos, alopécia nas manchas, podendo ocorrer também perdados cílios e sobrancelhas (BRASIL, 2008b). As manifestações clínicas da hanseníase podem ser descritas como síndrome nervosa, devido ao tropismo especial que o bacilo tem através da pele e dos nervos periféricos, que se manifesta durante a evolução da doença; e síndrome tegumentar, na qual suas características variam de acordo com a forma clínica (tuberculóide, virchowiana, dimorfa ou indeterminada) (PEREIRA,et al., 2008). De acordo com Araújo (2003), a hanseníase tuberculóide caracteriza-se por lesões bem definidas, em pequena quantidade, anestésicas e de disposição irregular. Essas lesões apresentam-se em placas ou anulares com extremidades papulosas e áreas da pele avermelhadas com crescimento lento, levando a atrofia na parte interna da lesão, podendo ainda haver descamação das bordas. A hanseníase virchowiana é uma forma multibacilar caracterizada pela infiltração lenta e generalizada da pele, mucosas, testículos, nervos, podendo atingir também linfonodos, fígado e baço, sendo mais evidenciada na face e nos membros. A forma dimorfa é determinada por sua oscilação imunológica, ocorrendo grande modificação em suas manifestações clínicas, seja em nível de pele, nervo ou comprometimento sistêmico. A pele apresenta numerosas lesões com morfologia contendo aspectos de hanseníase virchowiana e tuberculóide. A forma indeterminada é definida pelo surgimento de manchas hipocrômicas com alteração de sensibilidade. As lesões são em pequena quantidade podendo ser encontradas em qualquer área da pele. Essas lesões aparecem após um período de incubação que varia de dois a cinco anos. Os nervos podem ser afetados por dois fatores: pela penetração do bacilo e pela reação do organismo ao bacilo, que pode atingir vários nervos, atingindo mais os nervos dos braços e das pernas. Os nervos mais afetados podem ser palpados, pois ficam engrossados e dolorosos (BRASIL, 2008b). De acordo com o Ministério da Saúde (2002), o tratamento do paciente hansênico é essencial para curá-lo, bloqueando a fonte de infecção, quebrando a cadeia de transmissão da doença, dessa forma contribuindo para o controle da endemia e para a eliminação da doença. O tratamento completo da Hanseníase inclui a poliquimioterapia (PTQ)tratamento quimioterápico específico, seu acompanhamento, com intuito de identificar e intervir nas intercorrências e complicações da patologia que possam surgir, a prevenção e o tratamento das incapacidades físicas. O tratamento deve ser realizado em regime ambulatorial, nos serviços básicos de saúde onde se administra uma combinação de medicamentos, a poliquimioterapia (PTQ). A PTQ mata o bacilo evitando a evolução da doença, prevenindo as incapacidades e deformidades por ela causadas, levando a cura. É administrada conforme a classificação operacional do paciente em paucibacilar e multibacilar por meio de um esquema padrão. O conhecimento sobre a classificação do doente é essencial para a escolha do esquema de tratamento correto para cada caso. A dose do medicamento do esquema padrão para crianças com Hanseníase é adaptada conforme a idade e o peso. Para os indivíduos com intolerância a um dos medicamentos do esquema padrão são utilizados esquemas alternativos (BRASIL, 2010a). De acordo com o Ministério da Saúde (2002) no esquema paucibacilar (PB) é utilizada uma associação da rifampicina e dapsona, dispostas na mesma cartela: rifampicinauma dose mensal de 600mg (2 cápsulas de 300mg) com administração supervisionada; dapsona uma dose mensal de 100mg supervisionada e dose diária de 100mg autoadministrada. O tratamento estará concluído com 6 doses de rifampicina supervisionadas em até 9 meses. No esquema multibacilar (MB) é utilizada uma associação da rifampicina, dapsona e da clofazimina, dispostas na mesma cartela: rifampicina uma dose mensal de 600mg (2 cápsulas de 300mg ) com administração supervisionada; clofazimina uma dose mensal de 300mg (3 cápsulas de 100mg) com administração supervisionada e dose diária de 50mg autoadministrada; dapsona uma dose mensal de 100mg supervisionada e uma dose diária de 100 mg autoadministrada. O tratamento estará concluído com 12 doses supervisionadas em até 18 meses. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), pessoas que apresentam lesões de pele com alteração de sensibilidade, espessamento de nervo periférico acompanhado de alteração de sensibilidade e baciloscopia positiva para o bacilo de hansen, tem hanseníase e precisa de tratamento (BRASIL, 2010a). Os estados reacionais ou reações hansênicas, são reações do sistema imunológico através de manifestações inflamatórias agudas e subagudas, ocorrendo, antes, durante ou depois do tratamento com Poliquimioterapia (PQT). Na maioria dos casos ocorre em pacientes multibacilar (BRASIL, 2010a). A assistência de enfermagem é a assistência prestada seguindo as etapas do processo de enfermagem, seguindo métodos científicos para sua implementação e resolução dos problemas de enfermagem de forma lógica, conduzindo à Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) (CARRARO, 2001). Segundo a American Nursing Diagnosis Association – Internacional (Nanda), (2012-2014), o paciente com hanseníase possui os seguintes diagnósticos: controle ineficaz do regime terapêutico relacionado à sua própria complexidade, caracterizado por fracasso na inclusão dos regimes de tratamento nas rotinas diárias; desesperança relacionada à deterioração da condição fisiológica, caracterizada por falta de envolvimento no cuidado; integridade tecidual prejudicada relacionada à mobilidade física prejudicada, caracterizada por tecido lesado; dor aguda à lesão de nervos periféricos, caracterizada pelo relato verbal da dor; risco de integridade da pele prejudicada, relacionada à sensibilidade alterada; risco de baixa autoestima relacionada ao distúrbio de imagem corporal; mobilidade física prejudicada relacionada a prejuízos neuromusculares, sensório perceptivos, caracterizada por capacidade limitada para desempenhar as habilidades motoras finas e grossas; Isolamento social relacionado a alterações na aparência física, caracterizado por expressar sentimentos de rejeição. O enfermeiro deve aproveitar a internação para esclarecer sobre a doença com o paciente e a família, visto que a hanseníase ainda causa um grande preconceito. E convencer ao paciente da importância da adesão ao tratamento, evitando que a doença evolua e provoque incapacidades físicas. É importante observar reações adversas a medicações, o paciente deve conhecer o processo da doença, tratamento, efeitos colaterais, mudanças no estilo de vida, sinais e sintomas de complicações, disponibilidade de recursos e apoios. O paciente deve ser estimulado a ter contato com outras pessoas; deve ter acompanhamento psicológico e ser orientado quanto à eficácia do tratamento e esclarecido de que a doença é curável. (COLOMBRINI; MARCHIORE; FIGUEREIDO, 2009). O profissional de saúde deve ensinar a importância do cuidado com as mucosas (nariz e olhos) explicar que o nariz e os olhos podem ser instilados e lavados com soro fisiológico a 0,9% e ensinar a se autoinspecionar e realizar exercícios com as pálpebras. É importante que, quando houver dor, o enfermeiro avalie a intensidade, local, e duração da dor, e que a identifique para evitá-la. Administrar medicações conforme prescrição médica e adotar medidas de conforto e repouso como ambiente com baixa luminosidade, posicionamento confortável e silêncio (COLOMBRINI; MARCHIORE; FIGUEREIDO, 2000). METODOLOGIA Este estudo trata-se de uma revisão integrativa que, segundo Mendes, Silveira e Galvão (2008) é o método que tem como objetivo reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um determinado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado. Esta revisão é composta por algumas fases, que têm por finalidade buscar evidências sobre diversos temas. Na realização desta pesquisa seguiram-se as seis etapas que constituem o método de pesquisa: escolha do tema, organização de critérios para seleção da amostra, categorização dos estudos, análise dos dados, interpretação dos resultados e apresentação da pesquisa (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). O desenvolvimento deste trabalho transcorreu a partir de material já elaborado por outros autores sobre o tema hanseníase. A identificação das fontes bibliográficas foi realizada por meio do sistema informatizado de busca Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), onde foi utilizado especificamente SCIELO (Scientific Electronic Library Online). Para a organização da pesquisa, foram utilizados nos critérios de inclusão: artigos científicos indexados nos bancos de dados selecionados, com texto completo, no idioma português, no período de 2008 a 2013. E nos critérios de exclusão: periódicos que não fornecem o texto completo, artigos que não são disponibilizados no idioma português, artigos que não apresentem o assunto abordado. Foram utilizados os artigos científicos indexados nas bases de dados citadas, relacionadas ao tema, no período de 2008 a 2013 de forma retrospectiva, utilizando como descritores: enfermagem, hanseníase e sintomas e tratamento, para coletar os dados. No banco de dados foram encontrados dados de 257 artigos, utilizando os descritores, Destes, após filtragem refinada, 29 artigos atenderam aos critérios de inclusão, destes 11 se repetiram e 6 artigos não abordaram o tema proposto, totalizando em 12 artigos que atenderam aos critérios e constituíram a amostra definitiva para a análise integrativa da literatura. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos foram divididos em duas etapas, a primeira etapa demonstrada pela tabela 1, que apresenta a disposição das produções científicas segundo período de publicação, abordagem metodológica e periódico. Posteriormente mostra-se a categorização dos artigos apresentados que conduzem a realização da pesquisa sobre hanseníase representados pelo quadro 1 e 2. Determinaram-se algumas variáveis importantes para análise das produções científicas sobre a temática abordada, segundo se verifica na tabela 1. Os resultados da busca demonstraram que o ano de maior concentração das publicações foi 2008, com 04 artigos (33,33%), seguido de 2009 e 2012, ambos com 03 artigos (25%), por último o ano de 2010 com 2 artigos (16,67%).Podese observar uma prevalência na abordagem qualitativa com 08 (66,6%) artigos, isto se deve à abordagem qualitativa que leva em conta a prática vivenciada pelo objeto de estudo, através de seu âmbito histórico e social, atribuindo a possibilidade de elaboração de conhecimento científico (DALFOVO; LANA; SILVEIRA, 2008),seguido por trabalhos quantitativos quanti-qualitativos com 02 publicações (16,6%) cada. Verificamos que os artigos foram publicados por vários periódicos, sendo a RevBrasEnferm com a maior frequência de publicação com 05 artigos (41,67%), seguido do periódico Texto Contexto Enferm e RevEnferm UERJ, ambos com 02 artigos (16,67%), e por fim o periódico Rev. Min. Enferm, Rev Rene e Esc Anna Nery Ver Enferm apresentando 01 artigo cada (8,33% cada periódico). Tabela 1: Distribuição das produções científicas segundo o período de publicação, abordagem metodológica e periódicos (n= 12). Teresina- PI, 2014. Variáveis Nº % 2008 04 33,33 2009 03 25 2010 02 16,67 2012 03 25 metodológica 08 66,67 Qualitativo 02 16,67 Quantitativo 02 16,67 Periódicos 05 41,67 RevBrasEnferm 02 16,67 Texto Contexto Enferm 02 16,67 Rev enferm UERJ 01 8,33 Rev. Min. Enferm 01 8,33 Rev Rene 01 8,33 Período Abordagem Quanti-qualitativo Esc. Anna Nery Rev Enfermagem. Fonte: Banco de dados SCIELO; BVS,2014. O estigma como dificultador da assistência de enfermagem ao paciente com hanseníase. Quadro 01. O estigma como dificultador da assistência de enfermagem ao paciente com hanseníase. Autor / Ano Título do Artigo Ayres et al., 2012 Repercussões da hanseníase no cotidiano de pacientes: Vulnerabilidade e solidariedade. Cid et al.,(2012) Percepção de usuários sobre o preconceito da hanseníase. Bittencourt et al., 2010 Estigma: Percepções sociais reveladas por pessoas acometidas por hanseníase. Silva; Paz, 2010 Educação e saúde no programa de controle da Hanseníase: a vivência da equipe multiprofissional. Sangiet al., 2009 Hanseníase e estado reacional: História de vida de pessoas acometidas. Gusmão; Antunes, 2009 Ter hanseníase enfermagem: e história trabalhar de lutas na e superação. Fonte: Banco de dados SCIELO; BVS,2014. Silva e Paz (2010) mostram a impessoalidade dos enfermeiros em realizar as atividades de educação em saúde acerca da hanseníase. A evidência mostra que as atividades se direcionam ao processo de adoecimento, adesão do tratamento, e não às pessoas e suas necessidades. Considera também que as ações de educação em saúde requerem reflexão crítica dos profissionais de saúde que favoreça a população segundo a sua realidade. O estigma sobre a hanseníase ainda é grande e, apesar da mudança de denominação, ainda assusta muitas pessoas que, por falta de informação e medo das deformidades e estado reacional, agem de forma preconceituosa. O estudo mostra a importância da ressocialização dos pacientes hansênicos e a necessidade dos serviços de saúde em reconhecer suas falhas em proporcionar atenção universal, integral e igualitária (AYRES et al., 2012). Sangiet al.,(2009), em seu estudo, trata sobre relatos de pacientes que sofreram o preconceito influenciando a autoestima e consequentemente resultando no isolamento social. O artigo ainda trata sobre a inserção desses pacientes no mercado de trabalho, da difícil aceitação das empresas à doença, sem ficar bem claro o porquê de demissões. Os relatos mostram que a família é muito importante durante o tratamento e que a enfermagem deve estar atenta não só para o físico, mas também para o lado emocional do paciente. Gusmão e Antunes (2009), contam o relato de ex- profissionais de enfermagem portadores de hanseníase, no século XX, através de arquivos, que descreve a história de sete indivíduos que portavam a hanseníase e trabalhavam na enfermagem cuidando de pacientes nas mesmas condições. Os relatos expressam o estigma da época e as condições dos pacientes trancafiados em colônias para um tratamento ineficaz.Estes relatos contribuem para um resgate histórico a respeito da doença e da história da enfermagem mineira nas colônias, explicitando a importância de combater estigmas e preconceitos daqueles que não estão informados a respeito da história da doença. Bittencourt et al.(2010),também tratam dos estigmas trazidos do passado e considerados como castigo de Deus, de acordo com a história, com os leprosários e a vivência dos pacientes, e relata que, na atualidade, ainda há preconceitos, que mostram o estigma vivenciado por pacientes hansênicos, levando em consideração o trabalho, a família, amigos, perspectivas de cura, inclusão social e o despreparo dos profissionais de saúde. O estudo destaca a importância da educação através de trabalhos educativos efetivos para que mude a concepção social em relação à doença. O estigma da doença, ainda é mais resistente do que a própria patologia, podendo causar vergonha e isolamento a muitos portadores, apesar de se saber que ela tem cura. O papel do enfermeiro é muito importante no processo de tratamento e cura e através da educação em saúde se minimizam preconceitos com a hanseníase. (CID et al.,2012) Benefícios da assistência de enfermagem ao paciente com hanseníase Evidenciam-se nessa categoria as estratégias adotadas na assistência ao paciente portador de hanseníase bem como a concepção e alterações físicas do paciente com hanseníase. Pode-se constatar isso a seguir no quadro2. Quadro 02.Benefícios da assistência de enfermagem ao paciente com hanseníase. AUTOR / ANO TÍTULO DO ARTIGO Ayres et al., 2012 Repercussões da hanseníase no cotidiano de pacientes: Vulnerabilidade e solidariedade. “O Corpo que eu fui e o corpo que eu Palmeira; Ferreira, 2012 sou": Concepções de mulheres com alterações causadas pela hanseníase. Duarte; Ayres; Simonetti, 2009 Consulta de Enfermagem: Estratégia de cuidado ao portador de hanseníase em atenção primária. Moreno; Enders; Simpson, 2008 Avaliação das hanseníase: capacitações Opnião de médicos de e enfermeiros das equipes de Saúde da Família. Silva Jr. et al., 2008 Assistência de Enfermagem ao portador de Hanseníase: Abordagem transcultural. Freitas et al., 2008 Consulta de Enfermagem ao portador de Hanseníase no Território da Estratégia da Saúde da Família: Percepções de enfermeiros e pacientes. Duarte; Ayres; Simonetti, 2008 Consulta de Enfermagem ao portador de Hanseníase: Proposta de um instrumento para aplicação do processo de enfermagem. Fonte: Banco de dados SCIELO; BVS,2014. Na análise dos estudos dos autores do quadro 02 foi evidenciada a assistência, na saúde prestada ao paciente portador de hanseníase, levando em consideração a opinião de médicos e enfermeiros e dos pacientes, estratégias e materiais, dando ênfase à sistematização da assistência de enfermagem. De acordo com Silva Jr. et al.(2008) e Freitas et al.(2008)evidenciam que há uma relutância cultural dos pacientes em aceitar o diagnóstico, tratamento e orientações de enfermagem, mostrando a importância da assistência de enfermagem em sensibilizar os pacientes, principalmente quanto ao tratamento da doença, reduzindo riscos potenciais. Os autores demonstram a importância do vínculo e da necessidade do paciente adquirir confiança no enfermeiro, mostrando a satisfação dos pacientes no atendimento. Um destaque foi para a deficiência no conhecimento das incapacidades e deformidades no autocuidado e falha no controle dos comunicantes. Ressaltou-se a importância da Sistematização da Assistência de Enfermagem para prevenir agravos especialmente incapacidades físicas. Os estudos mostram relevância do enfermeiro no tratamento da hanseníase, que estes profissionais facilitam a realização da consulta e dos mecanismos de tratamento (DUARTE; AYRES; SIMONETTI 2008). Em seu estudo Palmeira; Ferreira (2012) contam relatos de mulheres acometidas com hanseníase e as modificações em seus corpos causadas pela doença, citando suas vulnerabilidades do cotidiano,destacando suas alterações físicas,dimensão estética e funcional que as orienta quanto à sensação do novo corpo e as estratégias de superação, para que elas não se excluam do convívio social, e é através desse conhecimento que os enfermeiros passam a atender melhor às suas necessidades. Já Ayres et al.(2012) relatam como a hanseníase repercute no cotidiano das pessoas, homens e mulheres acometidos pela doença. O estudo consegue identificar que algumas pessoas convivem bem coma hanseníase, porém, alguns ainda sofrem com o medo e a tristeza, evitando se relacionar com as pessoas do seu circulo de amizade e até mesmo familiares, sem comentar sobre o assunto ou falar sobre a doença. A capacitação de médicos e enfermeiros em clínicas de hanseníase na Estratégia da Saúde tem uma boa aceitação por porte dos profissionais, porém a falta de continuidade do treinamento causa insegurança, para diagnosticar, por parte de alguns profissionais de saúde. Os autores afirmam que a continuidade da educação permanente junto aos profissionais da Atenção Básica é necessária, pois é de suma importância para a saúde brasileira, pois ainda existem muitas dúvidas em relação à hanseníase, uma doença antiga, porém atualmente curável (MORENO; ENDERS; SIMPSON, 2008). CONSIDERAÇÕES FINAIS A hanseníase é um problema de saúde pública no Brasil, apesar da cura, ainda aflige as autoridades de saúde do país. Nos estudos analisados, notou-se que a educação em saúde está voltada para o processo de adoecimento, esquecendo-se das pessoas, suas necessidades e até mesmo de levar em consideração a realidade em que cada um está inserido. Sabe-se que a hanseníase é uma doença antiga e que antes causava medo e preconceito por não se conhecer a cura e que hoje o estigma ainda perdura por falta de informação, causando transtorno aos pacientes acometidos, no trabalho, na vida social e na família. O preconceito e estigma, por parte do próprio paciente é a razão de relutar em aceitar o diagnóstico e o tratamento, por isso o papel da enfermagem e de toda a equipe de saúde é imprescindível na orientação, sensibilização e acolhimento, criando vínculo entre o serviço de saúde e o paciente, mas, para isso acontecer, os profissionais da saúde precisam saber como fazer. Para uma boa assistência deve existir a capacitação, que deve ser contínua e atualizada, para que se possa conduzir o paciente e ensinar a sociedade quebrando a barreira do preconceito e incutindo uma nova mentalidade a respeito da doença. A hanseníase é uma doença que tem prevenção, é curável e pode ter agravos evitados se o paciente tiver orientação correta. O que chamou atenção, foi saber que existe a preocupação em detectar e curar a doença, porém em nenhum estudo se falou sobre a profilaxia, que é de suma importância, pois a sensibilização para prevenção é uma grande aliada no combate à doença. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ______. Enfermagem em Infectologia: cuidados com o paciente internado. São Paulo: Atheneu, 2000. ______. Ministério da Saúde. Controle da Hanseníase na Atenção Básica: Guia prático para profissionais da Equipe de Saúde da Família. Brasília, 2001. Série A normas e manuais técnicos. n. 111. ______. Ministério da Saúde. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed.rev. Brasília: Ministério da Saúde,2010a., p.448. Série. Textos Básicos de Saúde. ______. Ministério da Saúde. Guia para o Controle da Hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Série A normas e manuais técnicos. n. 11. ______. Ministério da Saúde. Hanseníase e Direitos Humanos, Direitos e Deveres dos usuários do SUS. 1. ed. 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