Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 28 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO REPRESENTAÇÕES DE PROFESSORES DA ESCOLA BÁSICA FEITAS EM RELATÓRIOS DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO Bárbara de Freitas Farah1 Wagner Rodrigues Silva2 RESUMO: Este trabalho está inserido no grupo de pesquisa “Práticas de Linguagens em Estágios Supervisionados” – PLES (UFT/CNPQ). Apresenta resultados de uma investigação, na qual identificamos representações de professores da educação básica (PEB) construídas por alunos-mestre na escrita dos relatórios de estágio supervisionado, numa Licenciatura em Letras na Universidade Federal do Tocantins Campus de Araguaína. Dentro dessas representações, buscamos padrões de realização gramatical dentro dos enunciados onde há referências ao professor da educação básica. Esta pesquisa de iniciação científica está orientada pela abordagem transdisciplinar da Linguística Aplicada, tendo como principal referencial teórico a abordagem textualdiscursiva da Linguística Sistêmico Funcional (LSF). Palavras-chave: Representações de professores; Relatórios de estágio; Linguística Sistêmico Funcional. ABSTRACT: This work is part of the research group "Languages in Practice Supervised" - PLES (UFT / CNPq). Presents results of an investigation in which we identify representations of basic education teachers (PEB) built by students master the writing of reports of supervised, a Degree in Literature at the University of Tocantins Campus Araguaína. Within these representations, we seek patterns of grammatical realization within the set where there are references to primary education teachers. This research is guided by scientific initiation transdisciplinary approach of Applied Linguistics, the main theoretical framework textual-discursive approach to Systemic Functional Linguistics (SFL). Keywords: Representations of teachers; Reports stage; Systemic Functional Linguistics 1 Aluna do curso de Licenciatura em Letras; Universidade Federal do Tocantins, campus de Araguaína; email: [email protected]. PIBIC/CNPq. 2 Orientador do curso de Licenciatura em Letras; Universidade Federal do Tocantins, campus de Araguaína; e-mail: [email protected]. Realização Apoio Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO INTRODUÇÃO Apresentamos resultados iniciais de uma investigação, na qual identificamos representações de professores da educação básica (PEB) construídas por alunos-mestre na escrita dos relatórios de estágio supervisionado, numa Licenciatura em Letras. Dentro dessas representações, buscamos padrões de realização gramatical dentro dos enunciados onde há referências ao professor da educação básica. Descrevemos, portanto, o sistema de transitividade das orações onde os PEB exercem a função de participante dos processos. Esta pesquisa de iniciação científica está orientada pela abordagem transdisciplinar da Linguística Aplicada, tendo como principal referencial teórico a abordagem textual-discursiva da Linguística Sistêmico Funcional (LSF). No presente trabalho analisamos relatórios escritos de estágio supervisionado, produzidos por alunos-mestre na habilitação em Língua Portuguesa, Licenciatura em Letras. O corpus desta pesquisa é composto por relatórios produzidos entre os anos de 2006 e 2012, atualmente arquivados no Centro Interdisciplinar de Memórias dos Estágios Supervisionados das Licenciaturas (CIMES), na Universidade Federal do Tocantins, Campus Universitário de Araguaína. Esta pesquisa está situada no campo transdisciplinar da Linguística Aplicada (LA). A LA focaliza a linguagem em diferentes esferas sociais, a partir do diálogo teórico-metodológico estabelecido entre diferentes disciplinas do conhecimento, conforme problema de pesquisa investigado. Além de ter como função a prática problematizadora e interrogadora, a LA também tenta reorganizar o pensamento sobre as práticas sociais que afetam diretamente a sociedade contemporânea, portanto, temos a “Linguística Aplicada como lugar de investimento em uma redescrição da vida social” (MOITA LOPES. 2006. p. 31). Realização Apoio 29 Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO SÍNTESE TEÓRICA: SISTEMA DE TRANSITIVIDADE SEGUNDO A LINGUÍSTICA SISTÊMICO FUNCIONAL A LSF é entendida como uma teoria social, parte do contexto social e suas situações de uso da linguagem dentro da sociedade para então fazer estudos da linguagem. A LSF é uma teoria que parte do significado e não apenas da forma linguística.“A natureza da língua está intimamente relacionada com as necessidades que lhe impomos, com as funções que deve servir” (HALLIDAY, 1970,apud GOUVEIA, 2009, p.14). A LSF é desenvolvida a partir da ideia de que os significados de uma língua surgem conforme as escolhas que os usuários fazem no sistema potencial da língua, que, por sua vez, são influenciadas pelos contextos e necessidades dos usuários. De acordo com Barbara e Macêdo (2009, p. 91) A interação entre língua, linguagem e sociedade coloca a LSF num contexto pós-moderno no qual adquire um conceito diferente daquele tradicionalmente dado à linguística. Na linguística tradicional, parte-se da estrutura, da forma, - da língua -, separado do uso do ou significado, portanto, não da linguagem como um todo. São três as metafunções de manifestação da linguagem propostas por Halliday (1984): ideacional (experiencial e lógica), interpessoal e textual. Cada metafunção é determinada através do contexto de situação, que é o registro, o qual, por sua vez, é determinado pelo contexto de cultura. A partir de configurações contextuais, fazemos escolhas léxico-gramaticais específicas para a construção textual. As metafunções não são isoladas, as três estão inter-relacionadas, mesmo que em nossa pesquisa o foco seja maior em uma delas, que é a metafunção ideacional. A metafunção ideacional está ligada ao sistema de transitividade e traz um significado experiencial, apresentando, através dos processos, participantes e circunstâncias, as experiências e vivências de mundo do indivíduo tendo uma função representacional. Realização Apoio 30 Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO Abaixo apresentamos uma tabela expositiva sobre os tipos de processo, sua significação e os participantes relacionados a cada um: PROCESSO SIGNIFICADO Material Fazer, acontecer Mental Sentir Atributivo (relacional) Identificador (relacional) Verbal Classificar Existencial Comportamental Existir Comportar-se Definir Dizer PARTICIPANTES OBRIGATÓRIOS Ator PARTICIPATES OPCIONAIS Meta, Extensão e Beneficiário e - Experienciador Fenômeno Portador e Atributo Característica e Valor Dizente e Verbiagem Existente Comportante Receptor Behaviour Tabela 1 – Processos, significados e participantes (Cunha; Souza, 2007, p.60) No sistema de transitividade, segundo a LSF, existem três tipos de processos tidos como principais: os materiais, os mentais e os relacionais. Há três tidos como secundários: os comportamentais, os verbais e os existenciais. Para Halliday e Matthiessen (2004, apud CUNHA e SOUZA, 2007, p. 55), “os processos secundários se encontram nas fronteiras entre os tipos principais, são intermediações que preservam certos traços dos processos que lhes cercam”. ANÁLISE LINGUÍSTICA: NUVEM DE PALAVRAS Por meio do uso do software Wordle, geramos uma "nuvem de palavras" que aparecem com mais frequência nos relatórios de estágio supervisionado analisados3·. As palavras em destaque são aquelas mais recorrentes dentro dos relatórios. Produzimos os dados a partir de 31 relatórios, dezenove (19) de 2011 e doze (12) de 2012, do total de 3 Realização Apoio 31 Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO 104 lidos ao longo desta pesquisa, somente estes relatórios encontravam-se digitalizados, por isso foram os únicos utilizados para o procedimento com o software. Em nossa “nuvem”, Figura 2, os itens lexicais que surgem com mais frequência dentro do gênero analisado são participantes (alunos, professor) ou circunstância (aula, escola) dentro do sistema de transitividade. Figura 2: Nuvem de unidades lexicais Podemos observar que a unidade lexical mais frequente nos relatórios foi a palavra alunos, a palavra professor também aparece de maneira significativa, evidenciando que ambos são atores sociais significativos para o alunos-mestre, dentro do contexto educacional. Além de unidades lexicais como aula, escola, ensino e leitura. Observando mais atentamente a nuvem gerada, fica evidente que o professor não é o foco principal e sim os alunos. Isso pode significar que a maneira como o professor desenvolve as práticas escolares, que o seu papel dentro da sala de aula, não é tematizado com muita frequência pelos alunos-mestre dentro dos relatórios de estágio supervisionado. Realização Apoio 32 Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO 1.1. CATEGORIZAÇÃO DISCURSIVA 1.2. Representações Positivas Exibiremos alguns excertos retirados dos relatórios de estágio onde os alunosmestre se referem ao PEB de maneira positiva. Ao longo da nossa pesquisa, percebemos que, ao fazerem esse tipo de representação, sempre tinham o objetivo de destacar a colaboração do PEB com os alunos-mestre durante o estágio supervisionado obrigatório. 1.1.1. Subcategoria Gramatical Apresentamos a seguir exemplos de padrões de realização léxico-gramatical através de análises dos processos dentro das orações destacadas, retiradas dos relatórios de estágio supervisionado obrigatório, escritos pelos alunos-mestre. Exemplo 1 Presenciei por parte dos professores situações de alegria, de desabafo, de estresse, de gostar de estar na escola, ouvimos comentários sobre as condições de trabalho precárias. Assim, é a vida do professor, que geralmente tem 40 horas semanais em sala de aula, e na sua hora livre prepara as aulas. Às vezes, julgamos a aula do professor. Mas, é difícil dominar turmas de crianças e adolescentes entre 10 até 15 anos ou mais. (SG, 6º período, 2010, desenvolvimento) No Exemplo 1, observamos que o aluno-mestre, por meio dos processos material, comportamental e mental, respectivamente destacados (presenciei,ouvimos e julgamos), faz-se participante da situação descrita. Nas construções gramaticais em que o aluno-mestre faz referência ao professor, os PEB constituem um sintagma preposicionado que particularizam o núcleo dos sintagmas nominais (vida; aula). Nesses casos, o professor parece ser focalizado indiretamente. O processo relacional (é) faz referência à oração anterior, quando o aluno-mestre utiliza um atributo através do epíteto precárias, fazendo uma avaliação negativa sobre as condições de trabalho do Realização Apoio 33 Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO PEB, e, em contrapartida, avalia positivamente as aulas do PEB, julgando seus alunos como um desafio para a prática do professor da educação básica. 1.2 Representações Negativas Encontramos algumas representações negativas sobre PEB sendo realizadas de modo indireto, onde o aluno-mestre demonstra não ter a intenção de se comprometer com o que está sendo dito. A apresentação dos exemplos será dada como nas representações positivas, através a descrição de alguns aspectos do sistema de TRANSITIVIDADE, destacando os processos e participantes em cada excerto apresentado. 1.2.1 Subcategoria Gramatical Exemplo 4 (...)a professora utilizou apenas palavras soltas dificultando, assim, o aprendizado dos alunos, porque se for entregue a eles apenas palavras ou sentenças, logo esquecerão. (DG, 6º período, 2011, desenvolvimento) No Exemplo 4 foi destacado o processo material (utilizou), onde o professor aparece como agente do processo, ele é o participante ator responsável pelo procedimento pedagógico destacado. Trata-se de uma ação descrita negativamente pelo aluno-mestre. Além da própria seleção do procedimento a ser descrito, podemos evidenciar a modalização negativa a partir do modalizador apenas e da forma nominal do verbo no gerúndio(dificultando). Ou seja, o professor dificultou o aprendizado dos alunos por usar apenas palavras soltas. E o aluno-mestre mais uma vez não desenvolve sua argumentação ao falar do PEB, não se posiciona, não diz o que o professor poderia fazer de produtivo, ele faz a crítica de maneira sutil, o aluno-mestre não aparece diretamente em seu relatório de estágio supervisionado. Realização Apoio 34 Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao finalizar nossa pesquisa, podemos concluir que os alunos-mestre, ao construírem representações sobre os professores da educação básica, demonstram uma distância imensa desses educadores, mesmo quando fazem representações positivas a fazem de maneira superficial, não refletem sobre as práticas escolares do ensino de Língua Portuguesa desse PEB. Os conteúdos didáticos para o ensino de Língua Portuguesa, bem como os procedimentos didáticos utilizados no trabalho com os objetos de ensino, precisam ser melhor focalizados por meio da escrita reflexiva produzida a partir dos relatórios de estágio. Podemos perceber que o aluno-mestre não retrata o PEB na escrita de seu relatório de estágio como um agente que pode, e muito, contribuir para formação acadêmica, para seu letramento como professor em formação inicial. Afinal, o PEB tem muito mais experiência que um professor em formação e, dependendo da situação e do olhar do aluno-mestre sobre esse PEB, a contribuição para os novos professores seria extremamente significativa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBARA, L.; MACÊDO, C. M. M. Linguística sistêmico-funcional para a análise de discurso: um panorama introdutório. Cadernos de Linguagem e Sociedade. Brasília: UNB/PPGL, 2009. n. 10, v. 1, p. 89-107 CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. et al. 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