Pequena Economia Aberta

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O MODELO IS/LM:
PEQUENA ECONOMIA ABERTA
COM MOEDA PRÓPRIA
Vitor Manuel Carvalho
1G202 – Macroeconomia I
Ano lectivo 2008/09
O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
Uma pequena economia aberta é uma economia para a qual o mercado externo, tanto a
nível de relações económicas como financeiras, desempenha um papel muito relevante.
Como tal, o equilíbrio geral nestas economias tende a pressupor, simultaneamente, os
equilíbrios interno (mercados de bens e serviços, monetário e de títulos) e externo (mercado
externo).
Um estudo mais aprofundado do mercado externo leva-nos a considerar uma nova variável,
a taxa de câmbio, cujo comportamento está directamente relacionado com o regime
cambial. Na exposição que se segue consideraremos, apenas, uma pequena economia aberta
que emite a sua própria moeda e dois sistemas cambiais: câmbios flexíveis ou flutuantes
puros e câmbios fixos com paridades “politicamente” ajustáveis (política cambial),
AS ALTERAÇÕES NOS MERCADOS DOMÉSTICOS
Dada a definição do modelo IS/LM para uma economia fechada (ou para uma grande
economia aberta), o equilíbrio nos mercados monetário e de títulos não sofre qualquer
alteração relacionada com a abertura da economia ao exterior, ou seja, dadas as
características da oferta e da procura de moeda, a curva LM será a mesma quer a economia
em causa seja fechada ou aberta ao exterior. O mesmo não se pode afirmar relativamente ao
mercado de bens e serviços e à curva IS, onde a introdução do agente “Resto do Mundo”
altera quer o equilíbrio do mercado, quer a forma da própria IS.
A Nova Procura de Bens e Serviços – a Procura Externa (X-Q)
Como já vimos no caso de uma grande economia, numa economia aberta, a procura de bens
e serviços passará a reflectir o facto do país transaccionar bens e serviços com o exterior,
via exportações e importações.
Assim,
D=C+G+I+X−Q
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
onde X representa o valor dos bens e serviços exportados e Q dos importados, sendo X e Q
vulgarmente representados pelas seguintes funções:
_
X=X−xθ,
_
Q = Q + q1 Y + q2 θ ,
x>0
q1 > 0; q2 > 0
_
_
onde X e Q representam a parte autónoma das exportações e das importações, x e q2
representam, respectivamente, a sensibilidade das exportações e das importações à taxa de
câmbio real (θ, que se apresenta definida pelo certo ou indirecto) e q1 representa a
sensibilidade das importações ao produto, muitas vezes designada por propensão marginal
à importação.
Da análise das expressões acima expostas resulta uma primeira conclusão que se prende
com o facto das importações dependerem directa e positivamente do volume de produção
(Y). Uma explicação simples para este facto passa por admitirmos que o aumento da
produção exige o aumento das importações, nomeadamente de matérias primas utilizadas
nos processos produtivos. Outra explicação plausível, que pode ser adicionada à anterior,
implica considerarmos que um aumento do rendimento disponível (Yd), que no modelo
resulta directamente de um aumento do rendimento/produto (Y), implicará um aumento da
despesa privada, a qual tenderá a repartir-se entre bens produzidos internamente e bens
importados.
Uma outra conclusão resulta da relação entre as duas variáveis externas (X e Q) e a taxa de
câmbio real (θ), a qual, segundo a formulação proposta nas relações acima expressas,
traduz-se numa ligação negativa entre as exportações e a taxa de câmbio real e numa
relação positiva entre as importações e aquela variável, ou seja numa relação negativa entre
a taxa de câmbio real e a balança corrente, definindo balança corrente como a diferença
entre o valor das exportações e o valor das importações, isto é, (X − Q).
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
A Taxa de Câmbio Real (θ) e a Balança Corrente (X-Q)
Definindo a balança corrente (BC) como a diferença entre o valor das exportações e o valor
das importações, teremos:
BC = X − Q
_ _
BC = X − Q − q1 Y − (x + q2) θ
θ será o valor da taxa de câmbio real, definido pelo certo (ou indirecto), isto é,
θ = (E P) / P*
onde E representa a taxa de câmbio nominal, definida pelo certo/indirecto, e P e P*
representam, respectivamente, os níveis de preços interno e externo. Nesta situação, um
aumento (diminuição) de θ significa que, em termos reais, a moeda nacional ganhou
(perdeu) poder de compra relativamente a uma moeda externa (ou a um cabaz de moedas,
falando-se então em índice de taxa de câmbio real), ou seja a moeda nacional apreciou
(depreciou) em termos reais.
A lógica subjacente à expressão da BC indica que existirá uma resposta positiva (negativa)
daquela balança a uma depreciação (apreciação) real da moeda nacional. Uma depreciação
(apreciação) real está relacionada com importações relativamente mais caras (baratas) e
exportações relativamente mais baratas (caras), sendo um incentivo para a diminuição
(aumento) das primeiras e o aumento (diminuição) das segundas, gerando-se um aumento
(diminuição) do saldo da BC. Embora esta seja a lógica que iremos assumir em qualquer
situação, queremos apenas efectuar uma chamada de atenção para o facto de a mesma nem
sempre coincidir com o que se passa na realidade onde, sob determinadas circunstâncias,
uma depreciação pode estar relacionada com a deterioração da BC.
Assim, alterações de θ são fundamentais na condução do modelo em economia aberta.
Partindo de um pressuposto básico do modelo IS/LM – os preços serem fixos –, e
assumindo que, para uma pequena economia aberta, todas as variáveis externas, incluindo o
nível de preços (P*), são um dado (são exógenas), podemos concluir que as variações reais
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
da taxa de câmbio correspondem às variações da taxa de câmbio nominal. Falar de
alterações da taxa de câmbio nominal implica falar de regimes cambiais, algo que, como
veremos adiante, terá uma importância decisiva no desenvolvimento do modelo IS/LM para
uma pequena economia aberta.
O Equilíbrio no Mercado de Bens e Serviços
Retomando o comportamento dos agentes económicos relativamente à procura de bens e
serviços definidos no modelo para uma economia fechada,
_
C = C + c Yd , 0 < c < 1
_
G=G
_
I=I−bi, b>0
_
T=T+tY, 0<t<1
__
Tr = Tr
e acrescentando a nova realidade externa, a nova estrutura da procura de bens e serviços
será descrita por:
D=C+G+I+X−Q
_
_
__
_ _
_
_
D = C + c (Y – T – t Y + Tr) + G + I – b i + X − x θ − Q − q1 Y − q2 θ
Em equilíbrio, Y = D,
_
_
__
_ _
_
_
Y = C + c (Y − T − t Y + Tr) + G + I − b i + X − (x + q2) θ − Q − q1 Y
_
_
__
_ _ _ _
Y = [(C − c T + c Tr + G + I + X − Q) − b i − (x + q2) θ]/ [1−c(1−t)+q1]
Fazendo,
1/(1−c(1−t)+q1) = αa
e
_
__ _ _ _ _ _
_
C − c T + c Tr + G + I + X − Q = Aa
Podemos concluir que:
_
Y = αa [Aa − (x+q2)θ − b i]
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
Isto é:
_
i = Aa/b − (x+q2)θ/b − Y/(αab)
Alterações na Inclinação e na Posição da Curva IS
Por um lado, a inclinação da curva IS passa agora a depender de mais um factor,
comparativamente à situação de uma economia fechada. Esse factor é a propensão marginal
à importação (q1), a qual acaba por funcionar como uma nova fuga ao efeito do
multiplicador. Quanto mais elevada for essa propensão, mais inclinada tende a ser a IS. Por
outro lado, a posição da IS é agora afectada por um conjunto muito mais alargado de
variáveis e parâmetros, passando a depender das componentes autónomas das exportações e
importações, das sensibilidades das exportações e das importações à taxa de câmbio real e
da própria taxa de câmbio real. Esta relação entre a taxa de câmbio real e a posição da IS
revela-se, aliás, fundamental para toda a percepção gráfica do modelo IS/LM numa
economia aberta.
Figura nº 1: A taxa de câmbio real e as deslocações da IS
Δ− θ
Δ+ θ
i
i
IS'
IS
IS
IS'
Y
Y
Conjugando tudo o que acabámos de referir com o que afirmámos na versão do modelo
para uma economia fechada, podemos concluir que:
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
- uma alteração numa qualquer componente da procura autónoma e/ou na
sensibilidade das exportações à taxa de câmbio real (x) e/ou na sensibilidade das
importações à taxa de câmbio real (q2) e/ou na taxa de câmbio real (θ) implica uma
deslocação paralela da IS;
- uma alteração na taxa marginal de imposto (t) e/ou na propensão marginal à
importação (q1) implica uma alteração da inclinação da IS, mantendo-se a
ordenada na origem;
- uma alteração na propensão marginal ao consumo (c) e/ou na sensibilidade do
investimento à taxa de juro (b) implica uma alteração quer da inclinação, quer da
posição da IS.
O MERCADO EXTERNO
O mercado externo deve reflectir todo um conjunto de relações entre o país e o exterior.
Estas relações, tal como são abordadas pelo modelo, são essencialmente de dois tipos:
trocas de bens e serviços e circulação internacional de capitais. As relações entre a nação e
o exterior em termos de bens e serviços são representadas por algo que já referimos no
ponto anterior, designado por balança corrente,
BC = X − Q
_ _
BC = X − Q − q1 Y − (x + q2) θ
por seu lado, a circulação de capitais entre a nação e o exterior é medida pela balança de
capitais (BK), sendo que estes movimentos de capitais acompanham, segundo o modelo,
qualquer alteração existente ao nível da sua remuneração, isto é, da taxa de juro: quanto
maior a remuneração interna dos capitais (i), maior tenderá a ser o afluxo dos mesmos ao
país e vice-versa,
__
BK = K + j i
__
representando K a parte autónoma, não induzida pela taxa de juro, da circulação
internacional de capitais, e j a sensibilidade dos movimentos de capitais a alterações da
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
taxa de juro interna. Geralmente o modelo identifica j com o grau de mobilidade
internacional de capitais, o qual está compreendido entre zero (imobilidade) e infinito
(perfeita mobilidade de capitais)1.
O total das relações entre a nação e o exterior é representado neste modelo pela balança de
pagamentos (BP), definida por:
BP = BC + BK
_ _ __
BP = X − Q + K − (x + q2)θ − q1 Y + j i
O Equilíbrio no Mercado Externo e a curva BP=0
O equilíbrio no mercado externo, tal como é proposto pelo modelo IS/LM, representa-se
por um saldo nulo da balança de pagamentos,
BP = BC + BK = 0
_ _ __
BP = X − Q + K − (x + q2)θ − q1 Y + j i = 0
resolvendo em ordem a i,
_ _ __
i = [Q − X − K + (x + q2)θ]/j + (q1/j) Y
Esta expressão representa o conjunto de combinações entre rendimento e taxa de juro que
garantem o equilíbrio do mercado externo, designando-se geometricamente por curva
BP=0 (figura nº 2).
1
Mais correctamente, e como veremos mais à frente, a mobilidade internacional de capitais é
fundamentalmente sensível não às variações simples da taxa de juro interna (i), mas sim a alterações no
diferencial entre as taxas de juro interna e externa.
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
A Forma da Curva BP=0
Figura nº 2: A curva BP=0
i
BP=0
Y
Tal como podemos verificar pela expressão analítica, a curva BP=0 tem uma inclinação
positiva e equivalente a (q1/j).
Como se explica, à luz da teoria inerente ao modelo, este declive positivo da BP=0?
Imaginemos que o mercado externo está em equilíbrio ⇒ considere-se um aumento do
produto (Y) ⇒ isso implicaria um aumento das importações, que diminuiria o saldo da
balança corrente ⇒ passaria a existir um défice na balança de pagamentos ⇒ o reequilíbrio
da BP exige um aumento da taxa de juro (i), por forma a garantir uma melhoria do saldo
da balança de capitais ⇒ a BP=0 tem inclinação positiva.
De que depende a inclinação da BP=0?
- da propensão marginal à importação, q1;
- do grau de mobilidade internacional de capitais, j.
Quanto maior o valor de q1 e menor o de j, maior a inclinação da BP=0. No limite,
tendemos a considerar dois casos extremos: j=0, que origina uma BP=0 vertical (inclinação
máxima) e j=∞ que origina uma BP=0 horizontal.
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
Figura nº 3: Inclinações extremas da BP=0
j=∞
j=0
i
i
BP=0
BP=0
Y
Y
E a posição da BP=0?
_ _ __
- das componentes autónomas, (Q − X − Κ) ;
- da sensibilidade das exportações e das importações à taxa de câmbio real, (x+q2);
- do grau de mobilidade internacional de capitais, j;
- da taxa de câmbio real, θ.
Conjugando tudo o que acabámos de referir podemos concluir que:
- uma alteração numa qualquer componente autónoma e/ou na sensibilidade das
exportações e das importações à taxa de câmbio real e/ou na própria taxa de
câmbio real implica uma deslocação paralela da BP=0;
- uma alteração na propensão marginal à importação implica uma alteração da
inclinação da BP=0, mantendo-se a ordenada na origem;
- uma alteração no grau de mobilidade internacional de capitais implica uma
alteração quer da inclinação, quer da posição da BP=0.
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
Figura nº 4: A taxa de câmbio real e as deslocações da BP=0
Δ− θ
Δ+ θ
i
i
BP=0
BP'=0
BP'=0
BP=0
Y
Y
Note-se que não devemos confundir deslocações da curva BP=0 com deslocações ao
longo da curva BP=0. Estas últimas acontecem quando consideramos alterações apenas nas
variáveis endógenas do modelo, isto é, em Y e i.
O Desequilíbrio no Mercado Externo
Representando a BP=0 o conjunto de pontos de equilíbrio no mercado externo, qualquer
ponto situado fora da BP=0 será um ponto onde mercado está desequilibrado, ou seja, será
um ponto onde existirá um défice ou um excedente (superávite) ao nível das contas
externas. Vamos verificar graficamente (figura nº 5) estas situações e explicá-las à luz do
modelo:
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
Figura nº 5: Desequilíbrios no mercado externo
i
A
BP=0
E
B
Y
Nos pontos A e B da figura nº 5 o mercado externo não está em equilíbrio, contrariamente
ao que acontece no ponto E. Mas que tipo de desequilíbrio existe em A e B?
- Ponto A: apresenta um nível de rendimento semelhante ao do ponto E (equilíbrio),
mas a taxa de juro é superior ⇒ isto implica que, relativamente a E, entrem mais
capitais no país, o que tende a gerar uma melhoria do saldo da balança de capitais
⇒ logo, mantendo-se o saldo da balança corrente, passa a existir um excedente da
balança de pagamentos, tal como em todos os pontos à esquerda/acima da BP=0;
- Ponto B: apresenta um nível de rendimento semelhante ao do ponto E (equilíbrio),
mas a taxa de juro é inferior ⇒ isto implica que, relativamente a E, saiam mais
capitais do país, o que tende a gerar uma deterioração do saldo da balança de
capitais ⇒ logo, mantendo-se o saldo da balança corrente, passa a existir um
défice da balança de pagamentos, tal como em todos os pontos à direita/abaixo da
BP=0.
O EQUILÍBRIO GERAL, O REGIME CAMBIAL E O GRAU DE MOBILIDADE DOS CAPITAIS
A derivação do equilíbrio geral no modelo IS/LM para uma pequena economia aberta
depende de duas características funcionais das economias em estudo: o regime cambial
adoptado e o grau de mobilidade internacional dos capitais. Para melhor expormos essa
derivação, vamos assumir o caso de uma economia que pode optar, por um lado, entre um
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
regime de câmbios flexíveis puro, onde não existe qualquer intervenção das autoridades
sobre o mercado cambial, ou um regime de câmbios fixos, onde cabe às autoridades a
defesa da paridade acordada para a taxa de câmbio embora, esporadicamente e de forma
devidamente justificada, esta possa ser politicamente alterada, via actuações de política
cambial; e, por outro lado, entre uma mobilidade perfeita/infinita dos capitais a nível
internacional, ou na imposição de algumas restrições a essa circulação de capitais.
Assumindo, numa primeira fase, a existência de algumas restrições aos fluxos
internacionais de capitais, o que no modelo IS/LM significa um valor de j elevado mas não
infinito, vamos procurar expor os efeitos dos dois regimes cambiais acima referidos sobre a
derivação do equilíbrio no modelo.
O equilíbrio geral num regime de câmbios flexíveis puro
Num regime de câmbios flexíveis puro a variação da taxa de câmbio depende,
exclusivamente, de pressões sobre a oferta e/ou a procura de divisas no mercado cambial,
as quais são induzidas por movimentações ao nível do mercado externo. Exemplificando,
tudo o resto constante, um aumento das exportações do país em estudo gera um acréscimo
na oferta de divisas (de forma imediata ou a prazo, consoante a forma de liquidação
acordada), o que cria pressões sobre o preço dessas divisas no sentido da sua diminuição,
ou seja, passam a existir pressões para a apreciação da moeda nacional, a qual, neste regime
de câmbios flexíveis puro, acabará por suceder. Isto significa que, neste regime cambial, o
modelo IS/LM passa a dispor de mais uma variável endógena: a taxa de câmbio real2.
Matematicamente, o modelo num regime de câmbios flexíveis puro apresenta-se com três
variáveis endógenas − o rendimento (Y), a taxa de juro (i) e a taxa de câmbio real (θ) −, o
que significa que a derivação do equilíbrio necessita de três equações. Essas equações terão
2
Note-se que a verdadeira variável subjacente ao mercado cambial é a taxa de câmbio nominal. No entanto, o
facto dos níveis de preços interno e externo serem, neste modelo, fixos origina que a taxa de câmbio real
dependa única e directamente da nominal, o que, conjugado com a importância da taxa real para a evolução
do mercado externo, leva o modelo a trabalhar essencialmente com esta definição da taxa de câmbio, sendo
esta a verdadeira variável endógena.
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
de ser, necessariamente, as três que conhecemos, isto é, a IS, a LM e a BP=0, ou seja, o
equilíbrio geral num regime de câmbios flexíveis puro exige o equilíbrio simultâneo dos
mercados de bens e serviços, monetário, títulos e externo. Como iremos perceber melhor
mais à frente, neste tipo de regime cambial não é possível dissociar o equilíbrio interno do
externo, sendo ambos exigidos para que seja atingido o equilíbrio global do modelo, o qual
está representado na figura nº 6.
Figura nº 6:
O equilíbrio geral em câmbios
flexíveis puros
i
LM
BP=0
ie
IS
Ye
Y
Segundo o modelo IS/LM, será possível, num regime de câmbios flexíveis puro, manter o
equilíbrio interno conjugado com um mercado externo desequilibrado? Matematicamente já
vimos que não. Como é que podemos explicar este facto à luz do nosso modelo? Vamos
fazê-lo tomando como ponto de partida uma economia internamente equilibrada, mas que
apresenta um excedente nas suas contas externas, isto é, na balança de pagamentos (figura
nº 7).
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
Figura nº 7:
Excedente da BP em câmbios
flexíveis
i
LM
ie
BP=0
IS
Ye
Y
BP>0 ⇒ Excesso de oferta de divisas no mercado cambial (atente-se no exemplo acima
enunciado) ⇒ Pressão para a diminuição do preço das divisas, ou seja para a apreciação da
moeda nacional ⇒ Em câmbios flexíveis essa apreciação ocorre ⇒ Dados os níveis de
preços interno e externo, a apreciação nominal transforma-se numa apreciação real ⇒ As
exportações tendem a diminuir e as importações a aumentar ⇒ Deterioração da balança de
pagamentos, que culmina na eliminação do excedente ⇒ Equilíbrio no mercado externo ⇒
Como podemos ver na figura nº 8, a alteração da taxa de câmbio real leva a deslocações
paralelas para a esquerda da IS e da BP=0, sendo o ponto final aquele em que estas duas
rectas intersectam a LM ⇒ Equilíbrios interno e externo simultâneos.
Figura nº 8: Correcção de um desequilíbrio
da BP em câmbios flexíveis
i
LM
BP'=0
BP=0
ie
i'e
IS'
Y'e Ye
IS
Y
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
O equilíbrio geral num regime de câmbios fixos
Num regime de câmbios fixos, tal como o nome indica, a taxa de câmbio não varia, excepto
se as autoridades enveredarem pela aplicação de uma política cambial. Neste regime
cambial, onde a taxa de câmbio é administrativamente fixada, cabe à autoridade monetária
manter a paridade constante, defendendo-a no mercado cambial quando existem pressões
sobre a oferta ou a procura de divisas. Exemplificando, tudo o resto constante, um aumento
das importações do país em estudo gera um acréscimo na procura de divisas (de forma
imediata ou a prazo, consoante a forma de liquidação acordada), o que cria pressões sobre o
preço dessas divisas no sentido do seu aumento, ou seja, passam a existir pressões para a
depreciação da moeda nacional, a qual, neste regime de câmbios fixos, não pode suceder. A
autoridade monetária desta economia terá que intervir sobre o mercado cambial, de forma a
evitar a referida depreciação, anulando o excesso de procura existente, ou seja fornecendo
ao mercado as divisas procuradas por contrapartida de moeda nacional. Isto significa que,
em câmbios fixos, o modelo continua a dispor de três variáveis endógenas, embora
diferentes das do modelo num sistema de câmbios flexíveis: o rendimento (Y), a taxa de
juro (i) e a oferta nominal de moeda (MS). A taxa de câmbio nominal, e por consequência a
real, é constante (exógena), podendo eventualmente ser utilizada como instrumento de
política, via valorização ou desvalorização da moeda nacional.
Matematicamente, o modelo num regime de câmbios fixos apresenta-se com três variáveis
endógenas − o rendimento (Y), a taxa de juro (i) e a oferta nominal de moeda (MS) −, o que
significa que a derivação do equilíbrio necessita de três equações – IS, LM e BP=0 –, ou
seja, o equilíbrio geral num regime de câmbios fixos parece exigir, também, o equilíbrio
simultâneo dos mercados de bens e serviços, monetário, títulos e externo (semelhante ao da
figura nº 6).
Mas será possível, em câmbios fixos, dissociar o equilíbrio interno do externo? Ou seja,
poderá uma situação de equilíbrio ser caracterizada por um défice ou um excedente da
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
balança de pagamentos? A figura nº 9 ilustra uma situação de equilíbrio interno com uma
balança de pagamentos deficitária.
Figura nº 9: Défice da BP num regime de
câmbios fixos
i
LM
BP=0
ie
IS
Ye
Y
Segundo o modelo IS/LM é possível, num regime de câmbios fixos, manter o equilíbrio
interno conjugado com um mercado externo desequilibrado. Como é que podemos explicar
este facto à luz do nosso modelo? Vamos fazê-lo tomando como ponto de partida a figura
anterior.
BP<0 ⇒ Excesso de procura de divisas no mercado cambial (atente-se no exemplo acima
enunciado) ⇒ Pressão para o aumento do preço das divisas, ou seja, para a depreciação da
moeda nacional ⇒ Em câmbios fixos essa depreciação não pode ocorrer ⇒ A autoridade
monetária é obrigada a intervir no mercado cambial para eliminar as pressões sobre o valor
da taxa de câmbio ⇒ A autoridade monetária oferece as divisas que são procuradas,
recebendo em troca moeda nacional, até garantir um equilíbrio sustentado do mercado
cambial ⇒ Diminuição da moeda nacional em circulação ⇒ Como podemos ver na figura
nº 10 existe uma deslocação paralela para a esquerda da LM, sendo o ponto final aquele em
que as três rectas se intersectam ⇒ Equilíbrios interno e externo simultâneos,
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
Figura nº 10: Correcção de um défice da BP em
câmbios fixos
i
LM'
LM
BP=0
i'e
ie
IS
Y' Ye
Y
Neste ponto parece que o regime de câmbios fixos também obriga a equilíbrios interno e
externo simultâneos. No entanto isso pode não acontecer. A autoridade monetária tem a
possibilidade de anular os efeitos sobre o mercado monetário da intervenção que foi
obrigada a fazer no mercado cambial para manter a paridade da taxa de câmbio. Este tipo
de actuação designa-se por esterilização e baseia-se numa operação da autoridade
monetária no mercado aberto que, no exemplo anterior, consistiria numa compra de títulos
às outras instituições monetárias por forma a repor o valor original (ou qualquer outro valor
intermédio) da massa monetária. A aplicação de políticas de esterilização permitiria, no
exemplo apresentado, conjugar um equilíbrio interno com um défice da balança de
pagamentos (figura nº 11).
Figura nº 11: Aplicação de políticas de esterilização
i
LM'
LM = LM''
BP=0
i'e
ie=i'' e
IS
Y' e Y e=Y'' e
Y
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
Claro que nesta altura existe uma questão pertinente que deve ser colocada: será este tipo
de equilíbrio sustentável no tempo? Note-se que, após a intervenção de esterilização,
voltamos a ter uma balança de pagamentos deficitária, o que obriga a nova intervenção da
autoridade monetária no mercado cambial para manter a paridade da taxa de câmbio: o
desequilíbrio externo só é sustentável através de uma contínua utilização de políticas de
esterilização. No entanto, tomando como referência o caso em análise, este tipo de actuação
não pode ser mantida por períodos de tempo muito longos pois implica uma perda contínua
de reservas em divisas cambiais. Outra questão importante quando falamos em esterilização
tem ver com o grau de mobilidade internacional de capitais. Por motivos relacionados com
o diferencial entre as taxas de juro interna e externa, as políticas de esterilização tendem a
apresentar uma eficácia menor à medida que a mobilidade internacional de capitais é maior,
o que no limite implicará a sua ineficácia quando estamos na presença de uma circulação
perfeita dos capitais a nível internacional.
O equilíbrio geral e a mobilidade internacional dos capitais
A presença de uma mobilidade perfeita dos capitais a nível internacional significa que o
parâmetro j da curva BP=0 se torna ∞. Matematicamente, se observarmos a equação da
BP=0 apresentada atrás, verificamos que perante este novo facto a recta torna-se horizontal,
o que economicamente significa que a balança de pagamentos passa a responder a qualquer
variação infinitesimal da taxa de juro, assumindo a balança de capitais um papel
preponderante na definição do saldo final da balança de pagamentos. Uma questão
importante nesta nova recta representativa do equilíbrio externo tem a ver com a sua
ordenada na origem, a qual ilustra o valor concreto que a taxa de juro interna terá que
assumir de forma a garantir o equilíbrio da balança de pagamentos. A resposta a esta
questão está directamente ligada à chamada paridade das taxas de juro, que diz, na sua
versão mais simples, que na presença de uma mobilidade dos capitais perfeita, a
intervenção dos arbitragistas no mercado internacional de capitais levará a que, ignorando
qualquer espécie de prémio de risco eventualmente associado às economias, a taxa de juro
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O Modelo IS/LM: Pequena Economia Aberta com Moeda Própria
interna (i) se torne equivalente à taxa de juro externa (i*), corrigida por eventuais
expectativas de variação da taxa de câmbio nominal (ε):
i = i* − ε
Note-se que o que acabámos de afirmar, analisado no contexto de um regime de câmbios
fixos (credível), leva-nos a concluir que neste regime cambial a taxa de juro interna tem
que ser necessariamente igual à externa quando estamos na presença de perfeita mobilidade
internacional dos capitais:
i = i*
Esta nova recta, horizontal, que representa o conjunto de pontos que garantem o equilíbrio
externo de uma economia inserida num contexto de perfeita mobilidade internacional de
capitais, designa-se por Linha de Integração Financeira − LIF.
Por forma a ser respeitada a paridade das taxas de juro, o equilíbrio geral de uma economia
nestas circunstâncias será sempre sobre a LIF, o que implica que, qualquer que seja o
regime cambial, o ponto de equilíbrio geral estará sempre na intersecção das três curvas: IS,
LM e LIF. Assumindo que não existem expectativas de alteração da taxa de câmbio
nominal, o equilíbrio geral será representado pela figura nº 12.
Figura nº 12: Equilíbrio geral com perfeita mobilidade
internacional de capitais
i
LM
ie=i*
LIF
IS
Ye
Y
20
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