BV581 - Fisiologia Vegetal Básica - Desenvolvimento Aula 13: Senescência e Abscisão Prof. Marcelo C. Dornelas Nem tudo o que senesce abscisa, mas geralmente o que abscisa, senesceu... A abscisão é um processo geneticamente programado, que consiste na separação de um órgão, ou parte dele, do resto do corpo da planta, por meio de morte celular programada de um grupo específico de células (camada de abscisão). Já a senescência é um processo do desenvolvimento, geneticamente programado, que consiste na reprogramação metabólica de um determinado órgão, levando-o à morte. Assim, podem existir vários tipos de senescência, nem todos envolvendo abscisão de órgãos. A senescência monocárpica, por exemplo, é comum em plantas anuais. Neste caso, a planta toda entra em processo de senescência e morre. Em alguns casos, o processo de senescência monocárpica pode ser retardado com a remoção de flores e frutos, indicando que o processo reprodutivo desencadeia a entrada em senescência em algumas plantas. Já nos casos de senescência sazonal, é comum a abscisão das folhas. Este tipo de senescência, que é frequente em espécies arbóreas de clima temperado, não há morte da planta. As plantas quando entram em senescência sazonal derrubam as folhas durante o outono e recuperam suas folhagens com a rebrota da primavera. A senescência sazonal é influenciada pelos fatores ambientais e uma vez que responde às condições de fotoperíodo é, portanto, mediada pela ação dos fitocromos. Os processos de senescência e abscisão são influenciados pelo ambiente e mediados por hormônios Alterações morfológicas, como a mudança das cores das folhas em espécies que passam por processos de senescência sazonal, são o reflexo macroscópico de modificações nos níveis celular e molecular. Durante o processo de senescência, os cloroplastos passam por modificações estruturais e há perda de água (desidratação dos tecidos). A clorofila é degradada e substâncias de reserva que estavam armazenadas nas folhas são hidrolisadas em substâncias mais simples e solúveis e são transportadas para outras partes da planta onde são novamente armazenadas, geralmente para o caule e/ou para as raízes. Assim, as alterações moleculares que ocorrem durante a abscisão envolvem a ativação da expressão gênica para a produção de enzimas que promoverão a degradação de substâncias e/ou a síntese de outros compostos, como por exemplo, para a biosíntese de carotenóides e/ou xantinas que conferem a coloração amarelo -avermelhado às folhas senescentes. Estes novos pigmentos protegem o metabolismo da planta durante o processo de reprogramação metabólica envolvido na senescência pois são antioxidantes eficientes. Os processos de abscisão e senescência são influenciados por hormônios, principalmente auxinas e etileno. Plantas de Arabidopsis que sofreram mutações em genes codificadores para as enzimas das vias de biosíntese de etileno e auxinas são menos propensas a entrar em senescência e muitos dos mutantes relacionados à biosíntese ou percepção de etileno não realizam a abscisão dos órgãos florais durante o desenvolvimento dos frutos. Três fases da senescência sazonal Durante a primeira fase da senescência sazonal, há a percepção do estímulo para que se inicie o processo de senescência. Este estímulo pode ser a modificação do fotoperíodo, por exemplo, que é percebido mediante ação dos fitocromos. Nesta fase, o fluxo de auxina entre a folha e o caule é constante e impede o processo de abscisão foliar. Na segunda fase, ocorrem os processos de degradação de clorofila e biosíntese de outros pigmentos, bem como a translocação de substâncias da folha para outras partes da planta. Na terceira fase há a indução da abscisão foliar, com a interrupção do fluxo de auxina. Esta interrupção estimula a produção de etileno na base do pecíolo da folha, que promove a formação da camada de abscisão. Esta camada de sofrerá morte celular programada, permitindo que a folha se destaque do caule. Outros tipos de senescência Durante a vida da planta, processos localizados de senescência podem ocorrer em órgãos específicos da planta, geralmente de forma rápida e limitada no tempo. Um exemplo é a senescência (que pode ser acompanhada de abscisão) dos órgãos florais, que se inicia logo após a fecundação. Outros exemplos são a morte celular programada que finaliza o processo de diferenciação dos elementos do xilema, ou de certos tipos de tricomas (pêlos) ou ainda permite a formação de padrões de formas de folhas.