Filosofia, metodologia, procedimentos e problemas nas empresas - e a ação de uma consultoria Alfredo Fonceca Peris A ação de uma consultoria, em qualquer empresa, é sempre um desafio novo tanto para a empresa quanto para os consultores e requer um estudo prévio cuidadoso com o objetivo de levar a um diagnóstico mais próximo possível da realidade. O erro no diagnóstico pode levar a um atraso no desenvolvimento das ações e, em alguns casos, comprometer completamente os resultados do trabalho. Partindo do pressuposto que o diagnóstico foi feito correto, a consultoria tem que levar em consideração, pelo menos quatro questões fundamentais durante a execução de seus trabalhos. São elas: 1º - entender qual é a filosofia da empresa. Normalmente, diz-se que a filosofia, numa linguagem jocosa, “é a cara do dono”. Ou seja, a empresa é, o que o seu ou os seus donos, são. Ninguém consegue ter uma forma de agir como pessoa e outra forma de agir como empresário. Então, a forma de agir da empresa, reflete muito da personalidade de seu dono ou um misto da personalidade dos seus donos, no caso de empresas que tem mais de um sócio. Nesse particular, a consultoria, no meu modo de entender, em qualquer interferência na filosofia da empresa, terá que ser extremamente cuidadosa. A filosofia de vida de uma pessoa e a filosofia de uma empresa, principalmente em caso de empresas pequenas e médias, são passíveis de serem melhoradas, porém modificadas em sua totalidade é muito difícil e, mesmo que seja possível, precisa ser muito bem avaliada antes de ser sugerida a modificação. Um pequeno número de pessoas muda rapidamente. A maioria das pessoas é extremamente conservadora nessa questão. E caso mude, precisa de um tempo de entendimento, outro de amadurecimento e um terceiro de implantação da mudança de forma sistematizada, planejada e acompanhada por um profissional experiente. Isso porque particularmente os colaboradores precisarão saber que haverá uma mudança, por que irá acontecer, quando ocorrerá e quais os objetivos a serem atingidos. Sob pena de todos ficarem completamente perdidos. Normalmente, quando se trabalha em uma empresa, principalmente depois de alguns anos, se conjuga da mesma filosofia. Dificilmente duas ou mais pessoas que não conjuguem da mesma filosofia conseguem conviver muito tempo juntas, social ou comercialmente. 2º - verificar se a metodologia de trabalho está adequada. Nesse particular entendo que a atuação da consultoria é mais apropriada e aqui deverá haver a maior concentração de esforços. Adequar a metodologia de trabalho à filosofia é o grande desafio da consultoria e a ação que leva a resultados mais rápidos e mais satisfatórios. Caso, conforme foi dito antes, se opte por uma mudança de filosofia, mesmo assim a metodologia de trabalho deverá ser adequada à filosofia de trabalho vigente. Conjuntamente à mudança de filosofia existe a necessidade de ir adaptando a metodologia de trabalho. E por que nesse quesito a consultoria, via de regra, obtém melhores resultados? Por que a adequação de uma metodologia de trabalho a uma filosofia de trabalho entendida, interpretada e incorporada permite rapidamente a obtenção de expressivos ganhos de produtividade. Além de diminuir o re-trabalho e os conflitos internos e aumentar a qualidade. Conseqüentemente, reduzirá custos e melhorará sensivelmente a rentabilidade da empresa. 3º - E os procedimentos? Parecem, numa primeira análise, que são a mesma coisa que a metodologia, mas não é. O método é um e o procedimento é outro. Vamos entender melhor. Segundo o dicionário Aurélio a palavra método vem do grego méthodos, “caminho para chegar um fim” ou ainda “Caminho pelo qual se chega a um determinado resultado, ainda que esse caminho não tenha sido fixado de antemão de modo deliberado e refletivo.” Já procedimento, segundo a mesma fonte é: Ato ou efeito de proceder. Modo de proceder, de portar (se); comportamento.” O procedimento é mais pessoal e individual enquanto o método é mais impessoal e coletivo. E nesse quesito cabe à equipe da consultoria especial atenção. O mesmo método pode ser praticado por todos os membros da equipe envolvido no processo, todavia os procedimentos serão diferentes pois cada pessoa tem uma forma particular de proceder, tal qual a filosofia. Então, entender as diferenças pessoais, respeitá-las e tirar o que cada uma tem de diferente no ato de proceder e incorporar isso à metodologia é parte do trabalho da equipe da consultoria. Da mesma forma que é difícil mudar a filosofia de uma pessoa ou de uma empresa é difícil mudar a forma de proceder. Então, se melhora a filosofia e se melhora o procedimento, já o método se muda, na maioria das vezes. Em outras situações, o método também pode e deve ser aprimorado. O grande desafio da consultoria em uma empresa – que deve ser sempre seu objetivo principal – é melhorar a filosofia e o modo de proceder – portanto, os procedimentos - adaptando a metodologia a essas características. Se as mudanças forem abruptas nas duas primeiras, a chance do conflito entre a equipe da consultoria e a empresa, como um todo, será maior. É impossível mudar a filosofia? Não, é perfeitamente possível e muitas empresas o fazem. Todavia, se isso for feito em grandes corporações, que são mais impessoais e cujo tamanho permita suportar as adversidades daí decorrentes e que são inevitáveis, é mais fácil. Já em pequenas e médias empresas onde a presença constante dos donos é o motor das ações, os estragos podem ser tamanhos que a empresa poderá não suportar. Tudo isso precisa ser muito bem avaliado, com consciência de todos da direção que isso será feito. Na sequência, os colaboradores também deverão ser informados para que também possam ir mudando junto com a organização. 4º - Por último, temos os problemas. Esses são diferentes da filosofia, da metodologia e dos procedimentos. Quando existem problemas graves que afetam as empresas, como, por exemplo, um grande endividamento cujo custo e gestão consumam todos os esforços de sua direção ou quando não existe viabilidade na escala que a empresa opera, daí tudo o resto fica totalmente prejudicado. E lamentavelmente, é somente quando a situação chega a esse ponto que as empresas recorrem às consultorias. O momento que somente um milagre poderá salvar a empresa. E, definitivamente, se existir uma área onde os consultores, em geral, não são especialistas, é em fazer milagres. Normalmente, milagre é coisa para os santos, não para consultores. Podem até tentar, mas os resultados são, na maioria das vezes, frustrantes para as empresas e para os consultores. Portanto, o grande ganho das empresas com a contratação de uma consultoria é quando a empresa não tem um grande problema. Quando tudo parece que está bem, esse é o melhor momento para se pensar num estudo cuidadoso da filosofia para ver se ela serve e se adapta perfeitamente ao negócio ou aos negócios que a empresa explora. Após esse estudo, adaptar uma metodologia de trabalho adequada à filosofia e respeitosa – na medida do possível – ao modo de proceder de quem faz essa organização. Prefiro o caminho percorrido por aqueles que procuram adaptar a metodologia à filosofia da empresa e ao modo de proceder de quem faz a empresa àqueles que preferem dispensar quem não adequar o modo de proceder à metodologia. A dispensa de empregados que tem conhecimento e experiência custa caro demais, principalmente no Brasil de hoje onde existe um apagão de mão de obra qualificada. A rotatividade de pessoas não me agrada. Prefiro trabalhar com as pessoas até o limite da sua possibilidade de adequação à metodologia. Não é mudança. Como foi dito antes, as pessoas têm, contrariamente ao que se pensa, enormes dificuldades para mudar. E isso não ocorre só com as pessoas de mais idade. Isso ocorre com todas as pessoas. A capacidade de mudança é da pessoa e não de sua idade. Elas até admitem que irão mudar, como um mecanismo de defesa e como forma de evitar confronto imediato. Porém, com o decorrer do tempo, percebe-se que a mudança não ocorre e quando ocorre é quase desprezível. Portanto, a adaptação da metodologia ao modo de proceder de cada um, parece uma atitude covarde, porém é a mais indicada e a que dá melhores resultados, principalmente no curto prazo. Alfredo Fonceca Peris é Sócio Diretor da Peris Consultoria Empresarial Ltda. http://www.perisconsultoria.blogspot.com/ Os artigos de economistas divulgados pelo CORECON-PR são da inteira responsabilidade dos seus autores, não significando que o Conselho esteja de acordo com as opiniões expostas. É reservado ao CORECON-PR o direito de recusar textos que considere inadequados.