NEUROFISIOLOGIA DO COMPORTAMENTO SUICÍDA NOVAKOSKI, Eduardo1; RODRIGUES, Renata Karla Peres 2;FRAU, VariniaAlejandra Alveal3 RESUMO O comportamento suicida se apresenta como incógnita diante dos criminalistas para o esclarecimento de diversos levantamentos periciaisnos quais não restou demonstrada a clara intenção do ato; ou seja, cotejados os achados (vestígios e evidências físicas) que compunham a “cena” examinada, se fizeram escassos elementos materiais locais que habilitassem a determinação e/ou diferenciação da conduta (se suicida ou homicida). Diante desta situação, buscamos relacionar o autoextermínio aeventuais alterações neurofisiológicas. A hipótese deque todo suicida possa apresentar alterações hormonais e/ou neuroquímicas suscita ao meio criminalístico uma nova abordagem, que venha a agregar um fator biológico como mais um elemento que permita confirmar ou excluir a conduta examinada, comparado aos demais elementos apurados no local periciado. Através de uma revisão bibliográfica,destacou-se principalmente a relação entre o neurotransmissor serotonina (5HT) e seu principal metabólito:ácido 5-hidroxi-indolacético(5HIAA). As alterações neurofisiológicas e hormonais igualmente foram pontuadas por se destacarem em sistemas de relevância emocional, tal qual o “sistema límbico”, que abrange diversas estruturasdescritas neste artigo. As relações anatômicas, fisiológicas e hormonais podem ser consideradas em casos de suicídio, e sob critérios técnicos de interpretação, podem vir aauxiliar peritos e médicos legistas na busca de mais uma evidência em casos não concluídos, tidos como “suicídios controversos ou duvidosos”. Palavras-chave: Suícidio. Comportamento. Serotonina. 5HIAA. 1. Biomédico Universidade de Cruz Alta - RS, Mestrando em Ciências Criminológico-Forense- Universidad de Ciencias Empresariales e Sociales de Buenos Aires UCES– Argentina. E-Mail: [email protected] 2. Perita Criminal Oficial- MG, Mestranda em Ciências Criminológico-Forense- Universidad de Ciencias Empresariales e Sociales de Buenos Aires UCES– Argentina. E-Mail: [email protected] 3. Medica Legista e Psiquiatra Forense -Buenos Aires – Argentina, Docente do Mestrado em Ciências Criminológico-Forense- Universidad de Ciencias Empresariales e Sociales de Buenos Aires UCES– Argentina e Universiad Catolica de Buenos Aires- Argentina. E-Mail: [email protected] INTRODUÇÃO Segundoregistros da Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é responsável anualmente por um milhão de óbitos (1,4% do total de mortes), figurandoentre as três principais causas que acometem pessoasde 15 a 44 anos de idade. Esses números não incluem as tentativas, de 10 a 20 vezes mais prevalentes que o ato consumado (WHO, 2014). Diante de cifras tão elevadas, é natural que sobressaiam dúvidas relacionadas aos procedimentos que envolvam a análise desses óbitos, tanto na esfera criminalística, quanto médico-legal e, consequentemente, judicial. A determinação da causalidade jurídica deum sinistro contra a vida está relacionada aos achados materiais obtidos a partir do levantamento pericial do local onde se transcorreu a ação, combinada aos elementos necroscópicos ditados pelos médicos legistas como também aos procedimentos investigatórios pertinentes; contudo, é comum a persistência de dúvidas relacionadas principalmente a eventuais homicídiosrevestidos de “suicídios simulados”. Por isso, os critérios de investigações devem ser ampliados a fim de minimizar esses questionamentos, vindo possivelmente aconfirmar ou excluir determinada conduta,através de achados fisiológicos relacionados ao comportamento suicida. Estes critérios afeitos à neurociência englobam fatores neuroquímicos e hormonaisparticularesacada indivíduo. Tais relações derivam principalmentede um neurotransmissor chamado “serotonina” (5HT), relacionada com o comportamento emocional. A serotonina é metabolizada a ácido 5-hidroxi-indol-acético (5-HIAA), substância que é transportada para fora do cérebro e excretada na urina (RAMAMOORTHY S et al;1993:85). As pesquisas pioneiras em cérebros de suicidas e as pesquisas de 5HIAA forneceram informações valiosas acerca do comportamento suicida, descrevendo achados importantes, consistentes e reproduzidos por inúmeros pesquisadores, em vários países que,pela primeira vez, mostraram a possível associação entre o comportamento suicida e um parâmetro biológico (CORREA, 2006: 75). NEUROANATOMIA E NEUROFISIOLOGIA A neuroanatomia do sistema nervoso (SN) possui uma subdivisão de acordo com a localização, sendo classificada em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). No SNP localizam-se nervos e gânglios e no SNC, o cérebro e a medula espinhal (LIPPERTet al., 2005:370). Abrangendo todo o SNC com função de proteção, encontramos as meninges dura-máter, aracnóide e pia-máter, e, entre elas, o espaço subaracnóideo, localizado abaixo da aracnoide,local onde está presente o líquor, ou líquido céfalo raquidiano (LCR) (LIPPERT et al.,2005:368) O encéfalo tem, em sua composição anatômica, o tronco encefálico, que se subdivide em mesencéfalo, ponte e bulbo, estrutura que tem ligação junto à medula espinhal. Acima do mesencéfalo, localizamos o diencéfalo,hipotálamo e glândula pineal. Sobre o diencéfalo encontra-se o telencéfalo, que envolve o maior volume do encéfalo,sendo composto pelo córtex e, abaixo deste, pela substância branca. Posterior, o mesencéfalo, ponte e bulbo, e cerebelo (TORTORA, 2005:253). Externamente ao encéfalo, destacamos a divisão de dois hemisférios, caracterizados por esquerdo e direito, que se comunicam por meio do corpo caloso e da comissura anterior, englobados pela presença dos sulcos, giros e fissuras cerebrais que, em certa medida, determinam os lobos cerebrais. (GUYTON, 1993:15). Em um corte anatômico, é visível, no encéfalo, a divisão entre duas regiões: cinzenta e branca. Na região cinzenta estão situados os corpos de neurônios que fazem parte do córtex cerebral; já na substância branca, encontram-se os axônios dos neurônios, que exibem uma cor clara devido à presença de lipídeos na bainha de mielina (LIPPERT ET AL., 2005:368). O córtex é a área do cérebro onde são armazenadasnossas memórias e que também é amplamente responsável pelashabilidades musculares. Internamente, localiza-se o tálamo, estrutura por onde percorrem quase todas as informações das partes inferiores do SNC antes de chegarem ao córtex, trabalhando como um transmissor dos estímulos ao córtex e aos gânglios basais (GUYTON, 1993:19 20). SISTEMA LÍMBICO Também chamado de mesencéfalo, se caracteriza por um complexo conjunto de estruturas localizadas acima e ao redor do tálamo,e que regula as emoções e o comportamento:inclui o hipotálamo, hipocampo, a amígdala, dentre outras estruturas adjacentes. Relaciona-se à memória, atenção, instintos sexuais, emoções (por exemplo, alegria, medo, agressividade)(HOFFMAN et al, 2003: 20;. DUGAL et al., 2003:30).Em constante interação com o córtex cerebral, transmite sinais de alta velocidade permitindo ao sistema límbico e neocórtex trabalharem em conjunto, fato que impede nosso controlesobre algumas emoções(RAMNANI et al.,2002:496). O sistema límbico (Figura 1) é uma das partes mais antigas do cérebro em termos filogenéticos e evolutivos(TORTORA, 2006:85).As relações dos sentidos com as emoçõescriam reações diversas na relação do ser humano consigo e com o meio em que vive.Com base em diferentes resultados, sabe-se que há uma profunda integração entre os processos emocionais, cognitivos e ambientais, de modo que sua identificação será de grande valia para a melhor compreensão das respostas fisiológicas do organismo ante as mais variadas situações enfrentadas pelo indivíduo que através de seus neurotransmissores, promovem respostasque relacionam o organismo ao meio externo e interno(LANOTTE Met al.,2005:500). FORMAÇÃO DO HIPOCAMPO O hipocampo é constituído por duas "pontas" que se curvam a partir da área do hipotálamo para a amígdala.Está localizado no interior do lobo temporal medial do cérebro, originando uma parte importante do sistema límbico. O hipocampo está associado à memória principal, especialmente à delongo prazo(BUZSAKI,2002:325). Num estado de estresse continuado, nossos neurônios do hipocampo se tornam muito sensíveis ao excesso de cortisol que é produzido e podem se degradar. O estresse contínuo pode estabelecer um ciclo vicioso de liberação ininterrupta de cortisol e ocasionar lesões no hipocampo. Este processo, se sustentado ao longo do tempo, pode produzir elevações de CRH (CRH) detidos, que, juntamente com a falta de inibição do eixohipotálamo-pituitária-adrenal (EHHA) pode estabelecer certa vulnerabilidade e transtornos de humor (CASAFONT, 2012: 56). Em estudos de psicopatologia observou-se que na esquizofrenia, a diminuição de células do hipocampopoderia ser um fator que contribui para a patofisiologia da psicose principal. O volume diminuído do hipocampotambém foi relatado em outros transtornos psiquiátricoscomo depressão unipolar, estresse pós-traumático, demência cíclica e dependência de álcool. A acetilcolina (AC) é importante reguladora no funcionamento do hipocampo, sugerindo que um defeito no mecanismo desse receptor resulte em dificuldades perceptuais colinérgicas, como aquelas observadas na esquizofrenia(CLARK,2010:40). CÓRTEX PRÉ-FRONTAL O córtex pré-frontal é uma região chave no modelo neuroanatômico de regulação do humor. Representa cerca de 30% do neocórtex e possuiextensas ligações a circuitos corticais e subcorticais envolvidos no processamento emocional: amígdala, corpos mamilares, hipocampo, córtex entorrinal, tálamo, gânglios da base, ínsula. Lesõesnesta área podem dar origem a sintomas comoeuforia, irritabilidade, distractibilidade, hiperactividade e desinibição;sintomas esses que podem aparecer também em perturbações afetivas, como a doença bipolar.Estudos recentes demonstram que a relação bidirecional entre áreas corticais e áreaslímbicaspode estar na base da regulação afetiva.Anomalias nestes circuitos podem conferir vulnerabilidade para perturbações afetivas como adoença bipolar ou a depressão unipolar, cujo início é determinado pela interacção genética/ambiente (LENT,2008:47). NUCLEO ACCUMBENS Trata-se de um grupo de neurônios no cérebro, localizado onde o núcleo caudado e putamen anterior convergemdispostos lateralmente em relação ao pellucidum septo e pode ser dividido em duas estruturas, a central e o córtex. Estas estruturas têm diferentes morfologia e função. O núcleo accumbens e bulbo olfatório coletivamente formam o estriado ventral, uma parte dos gânglios basais. Pensa-se que esse núcleo tem um papel importante na recompensa, o riso, o prazer, a dependência e medo(LANOTTE Met al.,2005: 76). O principal tipo de neurônios no núcleo accumbens são os neurônios espinhosos médios de projeção. O neurotransmissor produzido por estes neurônios (GABA) é um dos principais neurotransmissores inibidores do sistema nervoso central. Neurônios eferentes do núcleo accumbens projetam seus axônios para o seu análogo do globo pálido ventral. A entrada principal do núcleo accumbens éo córtex pré-frontal, amígdala e dopaminérgicosassociativos localizados na área tegmental ventral que é conectadavia mesolímbico(LENT,2008:87). AMÍGDALA A amígdala é uma estrutura subcortical localizada profundamente no lobo temporal, uma parte da parede medial do corno temporal do ventrículo lateral. Relacionada com a clausura e o corpo estriado, é composta por diversos núcleos distintos, aglomerada principalmente no complexo basolateral, incluindo núcleos basomedial (amígdala palial) e os núcleos-medial central e cortical (amígdala subpalial), sendo interpostos funcional e anatomicamente entre o processamento cortical emocional (consciente e inconsciente, explícita e implícita) e resposta somática periférica (rede autônoma central, incluindo o hipotálamo). Portanto explicita íntegro processamento de informação emocional com as tendências de ação implícita, mediando subsequente tradução na resposta somática correspondente (NIEUWENHUYS, 2009:76). Figura 1- Anatomia do Sistema Límbico Fonte: http://ejemplosde.info/que-es-el-sistema-limbico/ SEROTONINA A serotonina (Figura 2) é derivada do aminoácido triptofano, produzido pelas células intestinais e também por neurônios especializados de uma antiga área do cérebro, os núcleos da rafe. Promove a comunicação celular e a produção de outros peptídeos em muitas áreas do cérebro (amígdala, hipotálamo, áreas corticais). Associa- seàdesaceleração psicomotora deprimidae ao mau funcionamento dos seus circuitos (NIEUWENHUYS, 2009:34). Sendo um neurotransmissor, propaga impulsos nervosos entre os neurônios. O nome completo da molécula écinco hidroxitriptamina (5-HT) e possui um substituto próximo de hormôniosque induz diversas ações, nominadamente na regulação de certos comportamentos.Algumas drogas que atuam sobre a quantidade de serotonina possuem efeitos benéficos sobre a depressão(LANOTTE Met al.,2005: 509). A serotonina tem sido implicada em praticamente todo o tipo de comportamento, tais como apetitivos, emocionais, motores, cognitivos e autonômicos.No entanto, do ponto de vista fisiológico, não é claro se a 5-HT afeta tais comportamentos especificamente ou, mais geralmente, a coordenação da atividade do sistema nervoso, em particular para ajustar o tom da atividade em conjunto com a quantidade de excitação.O corpo principal de dados que tem contribuído para a visão de que 5-HT tem um efeito geral sobre o comportamento, modulando o tom da atividade do sistema nervoso, vem de estudos sobre a taxa de disparo de soma serotoninérgica em núcleos da rafe(ácido 5hidroxiindolacético), degradação do principal metabólito da serotonina, 5- hidroxitriptamina (5-HT). A enzima monoamina oxidase (MAO) transforma o 5-HT a 5-hidroxindol acetaldeído, que por sua vez é convertido em 5-HIAA (Figura 3) pela ação de aldeído desidrogenase. 5-HIAA é ativamente transportado para fora do cérebro por um transportador ou "portador" inibidor sensívelnão específico, chamado probenecid. Como 5-HIAA é quase 100% do metabolismo da 5-HT no cérebro, a taxa de rotação de 5-HT cérebro é estimada através da medição da taxa de aumento de 5HIAA, pós-probenecid. 5-HIAA do cérebro e periféricos da serotonina são excretados na urina juntamente com pequenas quantidades de glucuronados 5- hidroxitriptofolsulfato ou seus conjugados(HOFFMAN ET AL, 2003: 20) A excreção urinária normal de 5-HIAA por um adultoé de 2 a 10 mg / dia. Excretam maiores quantidades pacientes com carcinóide maligno (tal obsevação se faz via teste de diagnóstico para esta doença, onde é verificado o aumento significativo na excreção). Massa de nucleótidos de piridina e quantidades de triptofano necessários para a síntese de 5-HT em pacientes com malignidade podem produzir sintomas de deficiência de niacina (NAD) e triptofano. A ingestão de álcool facilita o aumento da concentração de NADH, para desviar de 5 hidroxiindolacetaldeído de oxidativo ao redutor. Este fenômeno tende a aumentar a excreção de ácido 5-Hidroxitriptofol consequentemente, reduz a excreção de ácido 5-HIAA(LANOTTE Met al.,2005:46). Figura 2 Fonte:www.lookfordiagnosis.com e, Figura 3 Fonte:www.lookfordiagnosis.com A DEPRESÃO E O SUICIDIO Pesquisas neuropsicológicas e neurobiológicas da depressão têm como finalidade direcionar ligações clínicas patológicas para uma maior compreensão da perturbação. Analisando as exterioridades da neurobiologia da depressão, as regiões cerebrais mais avaliadas têm sido as áreas frontais e seus atrelamentos, bem como as extensões temporais. A gravidade de alterações frontais em quadros depressivos vem sendo enfatizada por vários autores, levando-se em conta as alterações clínicas relacionadas à atenção, psicomotricidade, capacidade executiva e de tomada de decisão encontradas em quadros típicos, características muito presentes em pessoas com esse transtorno (Drevets,2003:64). Segundo Drevets (2003),as regiões frontais e estriatais têm como importantefunção a modulação das estruturas límbicas e do tronco encefálico, que estão fisiologicamenteabrangidas na intervenção do comportamento emocional, sendo assim, as disfunções nesses circuitos devem compartilhar na patogênese dos sintomas depressivos. Pacientes deprimidos demonstram uma redução na atividade da área região subgenual pré-frontal cortical. Nesses pacientes, essa regiao tem seu volume anatômico diminuído, tornando-se hiperfuncionante nas fases maníacas ou depressivas, retornando a um funcionamento básico quando o humor volta ao natural. Esta área é normalmente incluída com a geração de palavras por agregação e é ativada em indivíduos normais quando solicitados a gerar pensamentos tristes, forma experimental de induzir humor depressivo em laboratório. O que ocorre em pacientes deprimidos é uma hiperatividade associativa quando sentem pensamentos negativos incessantes (Botteron, 2002:321). Para Drevets (2003) as regiõesenglobadas à rede atentiva e de orientação vêm sendo muito estudadas na depressão, na ideia de que, na depressão maior, o sistema neural enredado no processamento dos dados externo e sustentação do estado de vigília estariam extintos em favor de sistemas envolvidos no processamento interno gerador de conhecimento, como o pensamento e as emoções. Diante de alterações fisiológicas na depressão, relata-se alterações na substância branca subcortical, especialmente, na área periventricular, gânglios da base e tálamo(Thase, 1999:48). Mais comuns no transtorno bipolar I e entre idosos, essas alterações parecem refletir efeitos neurodegenerativos deletérios de episódios recorrentes de humor. Alargamento ventricular, atrofiacortical e acentuação dos sulcos também foram descritos em pacientes com transtorno do humor comparativamente com grupo-controle. Existeainda, redução do fluxo sanguíneo e do metabolismo em tratos dopaminérgicos do sistema mesocortical e mesolímbico; com evidências de que os antidepressivos regulam parcialmente algumas dessas alterações. Pesquisascientíficas feitas por Rozenthal, Laks &Engelhardt (2004) demostramalteraçõesfuncionais do sistema frontoestriatal, redução do fluxo sanguíneo e metabolismo em gânglios dabase em deprimidos. Em pacientes unipolares (deprimidos) observara-se um aumento da taxa de substância branca, em especial na área periventricular, e redução do núcleo caudado e putâmen. O córtex pré-frontal tem próximasligações com as vias paralímbicas, amplamente relacionadas com aspectos emocionais. Alterações frontoestriatais e límbicas vêm sendo identificadas em subgrupos de pacientes deprimidos, onde a presença desta parece estar relacionada com uma pior evolução a curta e em longo prazo. A amígdala vem sendo largamente estudadanos transtornos afetivos por estar intimamente relacionada ao aprendizado emocional. (Kennedy et al.,1997:89). O núcleo central da amígdala parece ser de crucial importância para a relaçãoentre emoção e comportamento. Na depressão, existe uma redução global do metabolismo cerebral anterior e um aumento do metabolismo de glicose em várias regiões límbicas, com ênfase na amígdala. Estudosmostramqueoaumento do metabolismo de glicose estaria relacionado com ruminações intrusivas. De acordo comDrevets (2003) esse hipermetabolismo amigdaliano serve como umampliador emocional que ajudaria a alterar os sinais de estressores relativamente menores em pessoas vulneráveis. Em particular, no comportamento suicida, a região cerebral maisextensamente implicada, neste tipo de comportamento, é o córtex pré-frontal, o qual é, ao mesmo tempo, o principal constituinte do neocórtex (Arantes Gonçalves et al, 2008:45). Sthal (2011) refere que a ideação suicida é regulada pelo processamento ineficiente de informações em regiões cerebrais associadas às reações emocionais, como a amígdala, o córtex pré-frontal ventromedial e o córtex orbital frontal. Essas regiões cerebrais recebem importante controle regulador das tendências suicidas pelasprojeções serotoninérgicas. A amígdalaé basal para o reconhecimento e a resposta ao perigo, podendo ser considerada a composição central que interpreta estímulos sensoriais na busca de elementos que sinalizam perigo ao indivíduo. O papel da amígdala cerebral é desencadear uma reação de luta e fuga, como uma maneira instintiva animal de manter a vida. A amígdala recebe a informação de perigo antes do neocórtex, isto é, antes da consciência. Mecanismo este que garante uma percepção de perigo, onde aamígdala, por ser o centro perceptor do perigo para a autopreservação, gera medo. Ao mesmo tempo, a amígdala parece estar relacionada com o desenvolvimento dedepressão, e, assim sendo, pode estar arrolada ao reconhecimento e resposta à ansiedade e à suscetibilidade e desenvolvimento de depressão, sendo uma estrutura em ambos os eventos psíquicos. Nos transtornos de humor, existe uma falha nos processos inibitóriosde comportamentos. Pacientes deprimidos apresentam impulsividade, fator esse ligado às tentativas de suicídio(Murphy et l,.2001:428). Uma das regiões cerebraisquetemsido implicada na conduta violenta é o córtex frontal (Filley, 2001:32). Especificamente,a área pré-frontal modula as atividades do hipotálamo e do sistema límbico,e seu funcionamento tem um papel crítico na organização do comportamento, na linguagem, nas ações cognitivas e na tomada de decisão (Fuster, 2002:45). Essas funções cognitivas implicam no desempenho do lobo pré-frontal em termos de controle antecipado da ação, da escolha dos objetivos a serem alcançados, doplanejamento, da tomada de decisão, da seleção da resposta mais adequada e da inibição deoutras, da atenção no acompanhamento, enquanto a ação ocorre, e da verificação do resultado (Gil, 2002:57). Prejuízos neuropsicológicos e do comportamento podem predispor pacientes a praticarem atos autoprejudiciais (Raust et al., 2007:56). Dessa forma, a prevenção desse comportamento autolesivo necessitafocar-se na maior regulação da influência das alterações emocionais e das estratégias de resolução de problemas. As depressões, em grande parte pela correlação entre a depressão e a alteração na regulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, levam a efeitos adversos de hormônios do estresse sobre o hipocampo e a amígdala, regiões amplamente relacionadas à área pré-frontal (Silberman, 1985:43).O hipotálamo é tido como um centro de controle das manifestações fisiológicas que acompanham as emoções e o hipocampo não participa diretamente dos mecanismos neurais da emoção, mas age na consolidação das memórias, inclusive daquelas com conteúdo emocional (Lent, 2001:47). A NEUROFISIOLOGIA DO COMPORTAMENTO SUICIDA Pesquisas biológicas de suicídios completossugerem baixos níveis de 5- hidroxiindolacético no líquido cefalorraquidiano, igualmentecorrelacionandotraços de agressividade e impulsividade. No entanto, as interpretações de tais achados devem ser procedidas com cautela,devendo ser consideradas demaisvariáveis(CORREA,2006:95). A análise de diversaspublicações sugere que fatores como impulsividade ou sintomas depressivos em tentativas de suicídio, muitas vezes não são levados em consideração no momento do ato; portanto, a associação isolada da baixa concentração de 5HIAAliquórico,predisposição suicida, agressividade / impulsividade é vulnerável. Relatos de subgrupos do comportamento suicida (tentativas de suicídio violentas) com baixasconcentrações de 5HIAAliquóricopoderiam representar, isoladamente, interpretações prematuras. A construção daagressividade não está suficientemente definida, requerendo maior complexidadede interpretação. Entretanto, existem evidênciasde que a redução de concentrações de 5HIAA pode estar relacionadaa alguns sintomas depressivos e alterações na impulsividade(MANN et al., 1992:65). Durante os últimos vinte anos, o comportamento suicidatem sidorelacionado a umsistema serotoninérgico deficiente. A redução deneurotransmissores serotoninérgicosestá associada à depressão, comportamento suicida, agressividade e impulsividade (MOIR et al., 1970:357). Deste modo, reduzidasconcentrações de 5HIAA sugerematividade serotoninérgica centraldeficiente; contudo, muitos autores foram incapazes de estabelecer uma associação segura e bem definida entrebaixas concentraçõesliquóricas de 5HIAA e comportamento suicida. Isto não é surpreendente, uma vez que osuicídio nãoé um comportamentohomogêneo,ocorrendorelativamente emgrupos distintos de pacientes psiquiátricos. Algumas citações sugerem que uma deficiência dosistema serotoninérgico pode não estar relacionada com o autoextermínio em geral, mas para certos tipos de comportamento suicida, tentativas de suicídio violentas ou suicídios planejados (TRASKMAN-BENDZ et al, 1993: 45). Estudos em pacientes-controle e de gruposdescritos com baixa impulsividadeparecem consistir na abordagem científica mais promissora.Como já mencionado, a probabilidade substancialconsiste na definição de impulsividade e na distinção entrecomportamentos impulsivo e agressivo (FAWCETT, 1997:288). Geralmente, atos suicidas tendem a ser cuidadosamente planejados e nem sempre se configura uma questão de impulsividade(MONTGOMERY, 1982:291). Deve-se considerar, ainda, que tentativas impulsivasde suicídio muitas vezes não sãoperigosas, descrevendo, inclusive, uma baixaintenção de morrer (VERKESet al.,1998:213). Váriosrelatórios que contemplam exclusivamente a associação entre a concentração reduzida de 5HIAA e impulsividade/agressividade são vulneráveis, devendo ser replicadastais análises sob uma ótica mais abrangente, considerada a natureza multifatorial do comportamento suicida. CONCLUSÃO Esse trabalho objetivou revisaralterações neurofisiológicas deavaliação / análise de conceitos do comportamento suicida e fatores que englobam a neurociência, buscando auxiliar a prática pericial na elucidação do autoextermínio. Duas questões principais foram abordadas:a formação e o desenvolvimento anatômico / fisiológico voltados para o comportamento suicida, e, em segundolugar, as concentrações metabólicas de 5HIAA e sua influênciasobre as atividades neuroquímicas,projetadasem estudos literários de testes químicos e imunológicos. Consideradas as relações descritas entre 5HIAAe suasconcentrações,deve-se supor que um ato suicida não estáexclusivamente associadoàneurotransmissão serotonérgica.Certasdisfunções multifatoriais que, eventualmente, levam aocomportamento suicida podem também estar estreitamente relacionadas com distúrbios no metabolismo do 5HT(FAWCETT, 1997)sugerindo uma “via de quatro dimensões” que poderia desencadear o ato (ansiedade, estresse, traços de agressividade e impulsividadeassociadosàbaixa serotonina cerebral). Embora os estudos estejam cada vez mais avançados, existem muitos testes que apresentam resultados inconsistentes, como análise da concentração de 5HIAA no LCR, onde é notável que hámuito a ser estudado e pesquisado. Os critérios de avaliação do comportamento suicida devem ser feitos minuciosamente, poisse faz necessário não só a abordagem psiquiátrica/psicológica, como também a análise de material biológico em busca da interação neuroquímica, das concentraçõesde 5HT por diferentes formas de análises, mais objetivas, com equipamentos e reagentes mais sensíveis,em busca do apontamento de resultados consistentes, que habilitem tais achados biológicos como possíveis indicadores em auxiliares da ciência criminalística, principalmente à elucidação da causalidade jurídica de mortes não esclarecidas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ARANTES-GONÇALVES et al,. Á procura de marcadores biológicos no comportamento. Acta Med Port, 2008. 2. ASBERG, M. 5-HIAA incerebrospinal fluid. A biochemical suicide predictor. Archives of General Psychiatry, 1976. 3. BOTTERON et al,. Volumetric reduction in left subgenualpré-frontal cortex in early onset depression. Biol Psychiatry, 2002. 4. BUZSAKI G. 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