Avaliação da resposta vacinal contra hepatite B em profissionais de saúde do Instituto Fernandes Figueira/FIOCRUZ - Brasil Coelho,H.1; Santana,T.1; Silva,J.C.2; Silva,E.F.2; Genuíno,C.F.2; Sidoni,M.2 1 Instituto Fernandes Figueira/FIOCRUZ – RJ – Brasil Departamento de Virologia/ IOC/FIOCRUZ –RJ - Brasil 2 [email protected] A hepatite B é a doença mais freqüente entre as hepatites infecciosas, sendo a nona causa de mortalidade no mundo (1,5 milhões de óbitos por ano). Por ser considerado um importante problema de saúde pública, é preconizado, no Brasil, pelo Ministério da Saúde, em seu Manual de Condutas a Exposição Ocupacional a Material Biológico, a vacinação contra o vírus da hepatite B (HBV) em profissionais de saúde. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta vacinal contra o HBV em profissionais de saúde do Instituto Fernandes Figueira / FIOCRUZ, através da quantificação de anticorpos específicos contra o vírus da hepatite B (anti-HBs). Foram avaliados 113 profissionais, previamente submetidos ao esquema de vacinação de três doses, via intramuscular, na região deltóidea, nos 0, 30 e 180 dias. O método utilizado para a detecção e quantificação de anticorpos contra o antígeno de superfície do vírus da hepatite B (anti-HBs) no soro humano foi o imunoenzimático (EIA). Dos 113 profissionais avaliados, 102 foram considerados protegidos contra o HBV. Os demais, considerados não protegidos foram aconselhados a se submeterem a uma quarta dose da vacina. A eficácia na produção de anticorpos esteve presente em 90,26% dos profissionais avaliados, corroborando com dados da literatura. Sorologia para determinação de anticorpos vacinais deveria ser estendida a todos profissionais de saúde, previamente submetidos ao esquema de vacinação de três doses da vacina, para que estes não façam uso desnecessário da Gamaglobulina hiperimune contra hepatite B, por ocasião de acidentes envolvendo material biológico. Introdução: As hepatites virais, que constituem um importante problema de saúde pública no Brasil e no Mundo, têm como principais agentes causadores de infecção primária do fígado, os tipos virais A, B, C, D e E. A hepatite B é a doença mais freqüente entre as hepatites infecciosas sendo a nona causa de mortalidade no mundo (1,5 milhões de óbitos por ano). Estima-se que a infecção pelo vírus da hepatite B ocorra em mais de um bilhão de indivíduos expostos e aproximadamente 300 milhões sejam portadores do vírus no Mundo. Considerado um importante problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento, 10% dos indivíduos portadores evoluem para a forma crônica e, conseqüentemente, podendo desenvolver cirrose ou carcinoma hepatocelular. Mais de um milhão de portadores crônicos morrem a cada ano no mundo e só no Brasil há mais de três milhões deles, principais responsáveis pela disseminação do vírus na população. O HBV é transmitido por via parenteral através do sangue e seus derivados, pelo contato sexual, por mães infectadas e seus bebês durante o parto, e pela exposição de mucosas a fluidos infectados. Há relatos de transmissão através de contatos íntimos por secreções como a saliva, urina, esperma, secreção vaginal e ainda através de agulhas entre drogados, por acupuntura, “piercing” e tatuagens. A transmissão é também observada em membros de uma mesma família ou entre pessoas que convivem aglomeradas, em ambientes densamente povoados. A maioria dos estudos realizados sobre hepatite B se restringe a grupos de alto risco ou a populações específicas, cujas informações obtidas não podem ser aplicadas à população geral. Sabidamente há um risco aumentado de aquisição e de transmissão de doenças infecciosas em ambiente hospitalar: tanto o paciente como os profissionais de saúde possuem maior risco de exposição a certas doenças infecciosas, assim como ambos podem ser o veículo de transmissão e disseminação de doenças. O profissional de saúde está exposto a diversas doenças infecciosas, em sua prática diária, transmissíveis por via aérea: tuberculose, varicela, rubéola, sarampo, influenza, viroses respiratórias, doença meningocócica; transmissíveis pela exposição a sangue e fluidos orgânicos: HIV, hepatite B, hepatite C, raiva; transmissíveis via fecal-oral: hepatite A, poliomielite, gastrenterite, cólera; e transmissíveis pelo contato com o paciente: escabiose, pediculose, colonização por estafilococos. O risco de exposição varia segundo o tipo de atividade exercida, com o uso de medidas preventivas à exposição e a prevalência local de doenças. O risco de aquisição de doenças depende não somente do tipo de exposição, da patogenicidade do agente infeccioso e da existência de profilaxia pós-exposição, como da prevalência local de doenças e da susceptibilidade do profissional de saúde. O risco de transmissão do vírus da hepatite B (VHB) aos profissionais da área de saúde é cerca de três a cinco vezes maior que na comunidade. A infectividade do VHB depende do título do vírus na amostra infectante e da presença ou não do antígeno E (HBeAg): varia de 2% (quando o indivíduo é HBeAg negativo) a 40% (quando o indivíduo é HBeAg positivo). Sendo assim, a vacinação rotineira está indicada a todo profissional de saúde com risco potencial com sangue e/ou seus derivados. O papel do profissional de saúde como transmissor de doenças infecciosas na prática clínica não pode ser desprezado. Por estarem mais expostos a certas doenças transmissíveis, os profissionais de saúde devem estar adequadamente imunizados além de obviamente utilizar corretamente as técnicas de proteção individual para minimizar o risco de aquisição de certas doenças infecciosas. A vacinação é a ferramenta mais eficaz para a prevenção de certas doenças infecciosas de possível transmissão em ambiente hospitalar (hepatite B, varicela, sarampo, influenza, caxumba, rubéola). A vacinação adequada de profissionais de saúde diminui o risco de aquisição de doença por diminuir o número de susceptíveis a doenças imunopreveníveis. A vacinação adequada visa assegurar e manter imunidade, diminuindo o risco dos profissionais adquirirem ou transmitirem doenças imunopreveníveis e deve ser, portanto, parte essencial de programas de prevenção e controle de infecção. Outro fato de relevância para justificar a maior preocupação quanto à vacinação de profissionais de saúde é o risco de re-introdução de patógenos com baixa prevalência em uma comunidade a partir de grupos populacionais susceptíveis com maior risco de exposição a doenças transmissíveis, como profissionais de saúde. Em todo o país, a vacina está disponível para os grupos de risco, em qualquer idade (indivíduos que se expõem ao contato direto com sangue humano, seus derivados ou secreções humanas). Desde 1987, duas vacinas produzidas por tecnologia do DNA recombinante, têm sido utilizadas com sucesso no mundo todo. Ambas contêm o HBsAg recombinante, expressão do gene S do vírus da hepatite B, em levedura Saccharomyces cerevisiae. Esse tipo de vacina é considerado seguro e protetor e por isso recomendado para a imunização em massa. O ciclo completo de vacinação consiste em três doses, injeção intramuscular nos dias 0, 30 e 180. Local indicado para a aplicação é o deltóide, nos adultos. O mecanismo da falha na resposta imunológica nesses indivíduos permanece sem explicação, entretanto, entre os fatores observados estão a idade avançada, a desnutrição, o componente genético (HLA), a obesidade, o tabagismo, e o alcoolismo. RELEVÂNCIA DO PROJETO O Manual de Condutas em Exposição Ocupacional a Material Biológico, editado pelo Ministério da Saúde, preconiza que os acidentes de trabalho com sangue e outros fluidos potencialmente contaminados, devem ser tratados como casos de emergência médica, uma vez que as intervenções para profilaxia da infecção pelo HIV e hepatite B necessitam ser iniciados logo após a ocorrência do acidente, para a sua maior eficácia. A probabilidade de infecção pelo vírus da hepatite B após exposição percutânea pode atingir até 40% em exposições onde o paciente-fonte apresente sorologia HBsAg reativa. O mesmo Manual ressalta ainda, que para os profissionais que tenham sido submetidos à série de vacinas contra hepatite B e que tenham resposta vacinal conhecida e adequada, quando expostos a material biológico, mesmo oriundo de paciente-fonte, com sorologia sabidamente HBsAg reativa, para estes profissionais nenhuma medida específica deverá ser adotada. Para isto, os profissionais de saúde vacinados contra o vírus da hepatite B, deverão ser conhecedores da sua resposta vacinal (título de antiHBs), pois esta é o fator determinante para que medidas profiláticas como gamaglobulina hiperimune contra a hepatite B e vacina contra este vírus sejam adotadas, após uma exposição a material biológico. A vacina contra a hepatite B tem uma eficácia, ou seja, resposta vacinal adequada em adultos imunocompetentes, entre 90 a 95 %. Portanto, a detecção de anti-HBs é especialmente importante em relação à imunidade ou monitorização de uma soro-conversão após a vacinação. Objetivo Avaliar a resposta vacinal dos profissionais do Instituto Fernandes Figueira através da quantificação de anticorpos específicos contra o vírus da hepatite B (anti-HBs). Material O Instituto Fernandes Figueira iniciou em 23 de outubro de 2000 a vacinação de 113 profissionais. A vacina utilizada foi Smithkline Beecham Biologicals. O esquema de vacinação constou da aplicação de três doses, via intramuscular, na região deltóidea, nos dias 0, 30 e 180. Para avaliação da eficácia da vacina contra o vírus da hepatite B, no que diz respeito à produção de anticorpos, foram efetuadas coletas de amostras de sangue nos dias 18, 19 e 20 de março de 2002, dos profissionais do Instituto Fernandes Figueira, que receberam as três doses da vacina contra a hepatite B. Os anticorpos dessas amostras de sangue foram quantificados por kits Bioelisa anti-HBs. Métodos O método utilizado para a detecção e quantificação de anticorpos contra o antígeno de superfície do vírus da hepatite B (anti-HBs) no soro humano foi imunoenzimático (EIA). O princípio do Bioelisa anti-HBs é um método imunoenzimático direto, do tipo “sanduíche” no qual os pocinhos de uma placa de microtitulação são recobertos com HBsAg (subtipos ad e ay) altamente purificado e que utiliza como conjugado HBsAg marcado com peroxidase No caso de indivíduos que receberam as três doses da vacina contra a hepatite B, foram considerados que estavam protegidos a partir de 10 mUI/mL. O limite de detecção do teste é de no mínimo 4 mUI/mL utilizando-se o soro anti-HBs referenciado pela Organização Mundial Saúde. Resultados Os resultados desta pesquisa retornaram, sob forma de laudos individuais, à Comissão Interna de Biossegurança do Instituto Fernandes Figueira, que repassou aos participantes do estudo, através do Núcleo de Saúde do Trabalhador deste Instituto. Dos 113 profissionais avaliados, 102 foram considerados protegidos contra o HBV. Os demais, considerados não protegidos foram aconselhados a se submeterem a uma quarta dose da vacina. A eficácia na produção de anticorpos esteve presente em 90,26% dos profissionais avaliados, corroborando com dados da literatura. Sorologias para determinação de anticorpos vacinais deveriam ser estendidas a todos profissionais de saúde, para que estes não façam uso desnecessário da Gamaglobulina hiperimune contra hepatite B, por ocasião de acidentes envolvendo material biológico. Referências bibliográficas www.hepfi.org/pt/hepatite_b wysiwyg://11/http://www.srsleiria.min-saude.pt/hepat www.aeisel.pt/~cookman/hepatite www.geocities.com/Paris/Metro/8591/hepatite_b www.hsm.pt/inf/hepatb www.ua.pt/event/vachepb98 www.biossegurancahospitalar.com.br HARRISON – Medicina Interna, 14ª ed., vol. I, Ed. Mc Graw-Hill, Interamericana do Brasil Ltda. 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