descortinando o feudalismo: estrutura social e o universo

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DESCORTINANDO O FEUDALISMO: ESTRUTURA SOCIAL E O UNIVERSO
SIMBÓLICO SÉCULO IX AO XIII
Autora: Luzia Ferreira de Almeida1
Orientador: Renan B Araújo 2
Resumo
O presente trabalho procurou mostrar que as aulas expositivas sobre o período medieval sem a devida articulação entre a estrutura social e o universo simbólico do pe ríodo, particularmente no que se refere ao século IX ao XIII, contribui para o desinteresse dos alunos em relação ao estudo desse importante capítulo da história humana. Neste sentido, na tentativa de superar esse desinteresse, procuramos dar vida
às aulas de história reinterpretando através de maquete o ambiente social dos correlatos fatos históricos do período. Metodologicamente, para alcançar este fim, utilizamos recursos didáticos capazes de motivá-los, demonstrando que foi no interior da
idade média, das suas instituições, do seu modo de vida, da política, do comércio,
que se produziram dialeticamente as luzes da modernidade. O objetivo desta proposta foi de despertar no aluno o interesse pelo estudo da Sociedade Medieval (feudalismo) estabelecendo relações/confrontações entre informações atuais e históricas
por meio de metodologia diferenciada que aguçasse o interesse do aluno, desmistificando a ideia de que o Feudalismo foi marcado por relações imutáveis, ou ainda, um
obscuro momento da História caracterizado vulgarmente como sendo o período das
“trevas”.
Palavras – chave: Feudalismo; Universo Simbólico; Estrutura Social.
1 Introdução
1
Professora de História – Ensino Fundamental e Médio – Colégio Estadual de Iporã– EFMP- Especialização em . Integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE
2010)
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Doutor em Sociologia pela Faculdade de Ciências e Letras - Unesp/Araraquara. Professor do Colegiado de História da Universidade Estadual do Paraná/Paranavaí. Coordenador do Curso de Especialização em Ciências Humanas - CEICH. Membro da Comissão Executiva da Rede de Estudos do
Trabalho - RET e Co-organizador do livro "Trabalho, Educação e Sociabilidade". Editora Praxis: Marília, 2010. Autor do livro?O novo perfil metalúrgico do ABC: Um estudo sobre o trabalho e o modo de
vida?Just-in-time? do metalúrgico jovem-adulto flexível (1992-2008)?. Campo Mourão: Editora da Fecilcam, 2012.
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Nossa experiência docente tem mostrado que as aulas expositivas sobre o
mundo medieval sem a devida articulação entre a estrutura social e o universo simbólico correspondente ao período, particularmente no que se refere ao século IX ao
XIII, conduz ao desinteresse dos alunos em relação ao estudo desse importante capítulo da história humana, quiçá fundamental à compreensão da sociedade burguesa moderna. Partindo do pressuposto de que a Idade Média não é um período estáti co, imutável da História, esse trabalho se justifica na medida em que tendo por base
a estrutura social da idade Média, poderemos refletir, em consonância com as Diretrizes Curriculares, sobre questões relacionadas aos temas Trabalho, Cultura e Poder, desvelando, a partir daí, aspectos relacionados ao imaginário da idade média,
particularmente, o papel social reservado à figura do Rei, dos Cavaleiros, do Clero e
dos Camponeses.
O ensino de História, disciplina em que é imprescindível o constante exercício
teórico/analítico, exige que o professor lance mão de uma metodologia de ensino
que envolva o aluno contribuindo para que o mesmo não se torne algo enfadonho. O
presente projeto tem a intenção de desenvolver as aulas de história, dando
vida/materialidade aos temas abordados através do uso de maquete na expectativa
de que esta contribua para a melhor compreensão dos fatos históricos.
Considerando que a temática situa-se numa perspectiva cronológica, distante
do cotidiano vivido pelo aluno, faz-se necessário que o professor faça uso de
métodos pedagógicos e recursos didáticos capazes de motivá-los, revelando através
do estudo do conteúdo referente ao período aqui proposto, que foi no interior da
idade média que se produziram também as luzes da modernidade.
Parece-nos que há certo consenso de que a falta de interesse verificada nos
alunos quando se trata de estudar o período medieval, particularmente os séculos IX
ao XIII, relaciona-se também à metodologia utilizada. De modo geral, existe uma
espécie de vácuo temporal, pois, não se estabelece a relação entre o período e o
cotidiano do aluno, tornando difícil a conexão temporal entre o passado e o
presente.
As Diretrizes Curriculares (Paraná 2008) ressaltam a importância da contribuição do ensino de História, na formação de uma aprendizagem estruturada com base
numa consciência histórica tradicional, a partir do qual o aluno compreende a dimensão temporal como permanência das experiências relativas aos modelos de vida e
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de cultura do passado. A consciência tradicional de expressar em uma narrativa tradicional que procura sentido ao atual modo de vida por meio de afirmação de uma
memória das origens, de maneira que o tempo se apresenta como se fosse eterno.
2 Desenvolvimento
2.1 Fundamentação Teórica
É de fundamental importância relacionar o ensino de História com o cotidiano
do aluno principalmente no que se refere aos temas trabalho, cultura e poder, pois,
como afirma (LE GOFF, 1980, p.82).
Um sistema de organização econômica, social e política baseada nos
vínculos de homem a homem, no qual uma classe de guerreiros
especializados – os senhores – subordinados uns aos outros por uma
hierarquia de vínculos de dependência, domina uma massa
campesinata que explora a terra e lhes fornece com que viver.
Dessa maneira, quando nos debruçamos sobre o período medieval aqui analisado (sec. XI-XIII), temos que as relações sociais pautadas pelo intenso intercâmbio
comercial, pelo revigoramento das cidades e do comércio, demonstraram que o Feudalismo não deve ser entendido como um período marcado por relações sociais imutáveis, um obscuro momento da História caracterizado vulgarmente como sendo o
período das “trevas”. Ao contrário, as instituições medievais - em processo de transformação -, ainda que sob o domínio do senhor e do Clero, anunciavam, tal qual podemos apreender após a emergência do Renascimento, os fundamentos das novas
contradições sociais que viriam caracterizar a nova e complexa sociedade moderna.
Essa é a razão pelas quais incorporaremos a noção da qual a Idade Média
não deve ser vista como “Idade das Trevas”. Essa noção permanece muito presente
através do consenso, implícito ou não, de que o período é marcado pela perda da
noção de Estado; pela ruralização da vida, entre outros, em contraste com a crise
feudal vista como a antessala da modernidade, marcada pela ascensão da
burguesia, pela superação das relações sociais que determinavam o perfil sócio
histórico do homem medieval.
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O feudo era a unidade produtiva básica. Imaginar o feudo é algo complexo,
pois ele podia apresentar muitas variações, desde vastas regiões onde encontramos
vilas e cidades em seu interior, como grandes “fazendas” ou mesmo pequenas porções de terra.
Entre a alta e média idade média, de acordo com Smith (1983), a primogenitura e o morgadio serviram para impedir que as grandes propriedades fossem divididas ou negociadas, evitando que as mesmas se convertessem em meios de produção:
O morgadio é ainda hoje uma instituição respeitada, na maior parte
da Europa, sobretudo nos países em que a nobreza de nascimento se
constitui um título necessário para o desfrute de homens civis ou militares. o morgadio é considerado necessário para manter esse privilégio exclusivo que a nobreza tem no acesso aos grandes postos e
honras de seu país (Smith,1983,p.327)
.
Segundo Adam Smith (1983), a grande propriedade é uma característica fundamental do Feudalismo, pois ela origina-se desde a queda do Império Romano, iniciado pelas invasões bárbaras assegurando a estabilidade das grandes áreas de terras açambarcadas pelos senhores da guerra que instituíram a primogenitura e o
morgadio. Pela primogenitura assegurava-se que a terra ficaria indivisível (pelos demais herdeiros). O herdeiro, o filho primogênito tornava-se o dono de toda a proprie dade ficando impedido de fragmentá-la por negócios, vendas, alienação etc., eis o
princípio do morgadio.
O sistema feudal se caracteriza pela exploração do trabalho servil, responsável por toda a produção. O servo não é considerado um escravo, porém não é um
trabalhador livre e vive sob a tutela do senhor. O elemento determinante caracterizador da condição servil é o vínculo do camponês com o senhor através do uso da ter ra, ou seja, o servo encontrava-se preso pela necessidade de garantir sua subsistência em troca do seu trabalho no campo. Ao receber um lote de terra para viver e trabalhar, e ao receber proteção, o servo estava forçado a trabalhar sempre para o
mesmo senhor feudal, não podendo abandonar a terra.
No sistema feudal, o rei concedia terras a grandes senhores. Estes, por sua
vez, davam terras a outros senhores menos poderosos chamados cavaleiros, que,
em troca lutavam a seu favor. Quem concedia a terra era um suserano, e quem a re-
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cebia era um vassalo. As relações entre o suserano e o vassalo eram de obrigações
mútuas, estabelecidas através de um juramento de fidelidade. Quando um vassalo
era investido na posse do feudo pelo suserano, jurava prestar-lhe auxílio militar. O
suserano, por sua vez, se obrigava a dar proteção jurídica e militar ao vassalo.
A sociedade feudal era dividida em estamentos, isto é, uma sociedade composta por camadas estanques, em que a passagem de uma camada social para a
outra era praticamente impossível. De acordo com a função específica de cada camada , Le Goff, classifica -na como uma sociedade formada por aqueles que lutam
nobres, aqueles que rezam clero e aqueles que trabalham servos.
Os servos não tinham a propriedade da terra e estavam presos a ela. Não podiam ser vendidos como se fazia com os escravos, nem tinham liberdade de abandonar as terras onde nasceram. Dessa relação social, vista hoje como sendo opressiva, do seio das camadas camponesas empobrecidas emergia a figura do vilão.
2.2 Metodologia
O projeto de intervenção pedagógica foi desenvolvido com alunos do 7º Ano
na disciplina de História do Ensino Fundamental no Colégio Estadual de Iporã no
município de Iporã, estado do Paraná. O trabalho foi desenvolvido em três
momentos distintos, são eles: elaboração do caderno Pedagógico; aplicação das
atividades lúdicas do Caderno Pedagógico em sala de aula e análise dos
conhecimentos adquiridos pelos alunos.
O caderno Pedagógico desenvolvido consistiu de atividades relacionadas aos
conteúdos estruturantes da disciplina de História para 6ª ano tais como Feudalismo
nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná.
Para o desenvolvimento das Unidades do Caderno, foi realizado um
levantamento bibliográfico em livros editorados, periódicos e internet sobre as
atividades que poderiam ser utilizadas em sala de aula pelo professor.
As atividades propostas no Caderno foram analisadas pelos professores
participantes dos grupos de trabalho em rede (GTR-2011)
As atividades do Caderno pedagógico foram aplicadas no período de agosto a
outubro 2011, Durante o desenvolvimento foi observada a interatividade dos alunos,
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a participação e o interesse para a aprendizagem.
3 Resultados e Discussões
Conforme dito anteriormente, o projeto DESCORTINANDO O FEUDALISMO:
ESTRUTURA SOCIAL E O UNIVERSO SIMBÓLICO SÉCULO IX AO XIII foi
realizado no 7º ano do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual de Iporã, do
município de Iporã.
O trabalho foi desenvolvido em 32 aulas no segundo semestre de 2011, no
colégio já citado. As aulas foram divididas em unidades, ao todo foram quatro
unidades e cada unidade possuía um tema conforme descrito abaixo:
Unidade 1: Conhecendo um pouco sobre o Feudalismo
Unidade 2: Características do Feudo
Unidade 3: Elaboração de maquetes
Unidade 4: Apresentação cultural.
Na Unidade 1 o objetivo foi o de que os alunos tomassem conhecimento do
Projeto de intervenção, quais objetivos seriam atingidos, qual a finalidade do
trabalho que eles desenvolveriam e também conhecer um pouco sobre o período
feudal. Já na Unidade 2 o foco era conhecer como eram organizados os feudos. Na
Unidade 3 eles puderam confirmar os conhecimentos adquiridos nas unidades
anteriores e elaborar maquetes.
Na Unidade 4 procurou fazer por meio da apresentação cultural mostrar como
o aluno aprendeu. Esta última destacou-se como ponto alto do projeto.
Durante todo o desenvolvimento do projeto foram utilizados os seguintes
recursos: TV Multimídia, laboratório de informática, textos diversos digitados ou
copiados, Power point, etc.
Como todo o projeto foi desenvolvido por Unidades, neste momento,
apresentaremos como cada unidade foi desenvolvida e qual foi o resultado
alcançado.
Na primeira Unidade foi apresentada a imagem abaixo na TV multimídia para
iniciar o tema Idade média “feudalismo.”.
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Fonte Gilmar Martins da Silva
Após visualizarem a imagem lançamos os seguintes questionamentos:
A) Já viram alguma imagem parecida com esta? Onde?
B) Vocês conhecem alguma história sobre castelos?
C) O que você sabe sobre a idade média. Já ouviu dizer alguma vez?
Em seguida fez-se uma explanação dos objetivos de aprender história.
Com isso buscou-se fazer com que o aluno percebesse que interagir com
outros alunos bem como relembrar histórias faz parte do aprendizado dos conteúdos
de história.
Dando continuidade, foi proposto aos alunos uma reflexão sobre o período
Feudalismo.
Conforme Jaques Le Goff sobre o feudalismo:
Um sistema de organização econômica, social e política baseado nos
vínculos de homem a homem, no qual uma classe de guerreiros especializados --- os senhores ---, subordinados uns aos outros por uma
hierarquia de vínculos de dependência, domina uma massa campesina que explora a terra e lhes fornece com o que viver. (LE GOFF,
apud COTRIM: 23).
Depois de refletir sobre o conceito de feudalismo passamos aos seguintes
questionamentos. Vocês com certeza já ouviram falar que nós vivemos em um
sistema social chamado de capitalismo, porém, nem sempre foi assim. Dessa forma,
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se retrocedermos um milênio (mil anos) na História, constataremos que na Europa
ocidental predominou um sistema político, econômico e social que ficou conhecido
como sendo o Feudalismo. Como será que surgiu esse sistema? Quais foram os
principais atores sociais que atuaram na formação dessa sociedade tão importante
para a formação econômica/cultural do mundo ocidental?
Pois bem, para que esse novo modo de vida emergisse, muita coisa
aconteceu. De início, vale destacar, para efeito cronológico, que essa longa história
ocidental teve início logo após a queda do império Romano (476dc), encerrando-se
com a tomada da cidade de Constantinopla pelos turcos, sede do Império Romano
do Oriente, em 1453. Todavia, por ser a Idade Média o maior período da história
ocidental (476dc-1453), focaremos nosso estudo ao longo do desenvolvimento
desse trabalho, em alguns aspectos essenciais, balizadores daquilo que
historicamente ficou conhecido como sendo o sistema Feudal.
Na idade média, os senhores mais rico construíram inúmeros castelos na
Europa e formaram exércitos de cavaleiros para sua segurança e das pessoas que
vivam em suas propriedades.
Após a reflexão debatemos sobre o assunto e passamos a leitura de um texto
sobre o Feudalismo que pode ser encontrado no livro 3 .
A partir do estudo do texto acima ficou mais claro para o aluno como foi o
período Feudal especificamente como era constituído o feudo.
Ainda para esclarecer mais sobre este período histórico buscou-se realizar
um estudo sobre como a cidade era organizada para isso fizemos o estudo do texto
por meio de leitura que possibilitou os alunos conhecerem sobre servos, vilões
cavaleiros, nobreza, reis entre outros que faziam parte dos estamentos do período
Feudal4.
Após estudos sobre a constituição da sociedade feudal foram proposta
algumas atividades. Desenho para representar como estava dividida a sociedade
feudal. Os cartazes com os desenhos foram expostos no mural da escola.
Em seguida os alunos desenvolveram atividades de compreensão de texto.
Outra atividade foi à realização de uma pesquisa no laboratório de informática sobre
3
Texto adaptado do livro Cultura e Sociedade v.2 organizadores Lucy R. Valentini,
Maria Célia P. Vilela e Marlene Ordonez, 1999.
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Texto também adaptado do livro Cultura e Sociedade v.2 organizadores Lucy R.
Valentini, Maria Célia P. Vilela e Marlene Ordonez, 1999.
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as vestimentas usadas na época feudal.
Após a pesquisa, sob a orientação da professora cada aluno confeccionou
sua vestimenta e acessórios para serem utilizados na mostra cultural. A confecção
foi feita em casa sobre orientação dos pais usando tecidos e também papéis.
Ainda aproveitando sobre o conteúdo pesquisado foi proposto à criação de
uma história em quadrinhos que representasse o cotidiano dos camponeses por
meio da leitura do texto abaixo:
(...) Os camponeses cuidavam da agropecuária dos feudos e, em troca,
recebiam o direito a uma gleba de terra para morar, além da proteção contra
ataques bárbaros. Quando os servos iam para o manso senhorial, atravessando a
ponte, tinham que pagar um pedágio, exceto quando para lá se dirigiam a fim de
cuidar das terras do Senhor. Os camponeses tinham de viver com o pouco que
sobrava. Moravam em casa de madeira, sem divisões internas, com telhado de
palha e chão batido. Assim como os senhores, em sua maioria não sabiam ler nem
escrever. Vestiam-se com roupas de lã, linho ou couro. Seu divertimento,
geralmente, estava relacionado à fé cristã e aos festejos comemorativos por ocasião
do plantio e da colheita.5
Nesta unidade foram exibidos os filmes “’Os Servos e Os vilões” e “A nobreza
Feudal”. Após assistirmos aos filmes refletimos e debatemos, diferenciando o modo
de vida da sociedade medieval. Depois foi elaborado pelos alunos um relatório do
filme e entregue para a professora.6
Sobre desenvolver as aulas de por meio de filme Bittencourt afirma
“Os filmes não são registros de uma História tal qual aconteceu ou vai
acontecer, mas representações que merecem ser entendidas e percebidas não como diversão apenas, mas como um produto cultural capaz de comunicar emoções e sentimentos e transmitir informações”.
(BITTENCOURT, 2004, p. 353).
Foi interessante notar que, nessa unidade, eles puderam olhar com outros
5
Texto adaptado Figueira, Divalte Garcia Para entender a história 2ª ed. São Paulo:
saraiva 2009 p.225.
6
Fonte Didak Tecnologia Educacional Os Servos e os Vilões. Editora: Didak (São
Paulo SP)). Descrição: 1 videocassete (13min). CDD: Vd372.89401
Segundo Circe Bittencourt.
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olhos, o período Feudal, verificou- se também, que este período não foi um período
de trevas como muitas vezes pensamos que fosse.
Os alunos ficaram motivados e passaram a compreender e relacionar melhor
os acontecimentos do período à nossa atualidade. Sobre isso opinou um aluno: “As
aulas passaram a ser um encanto, tem significado o que estamos estudando”.
Dando continuidade à proposta de implementação passamos a estudar um
texto sobre o comércio no período feudal. Após a leitura do texto impresso foi
trabalhado questões sobre o comércio ofício, artesãos e outros.
E por meio das reflexões deixamos de enxergar como idade das trevas ou
qualquer outra nomenclatura que possa defini-la. E concordando com Jacques Le
Goff, que diz que Idade Média é um período histórico como todos os outros.
Foi possível compreender também que os ofícios e trabalhos dos homens na
Idade Média estão ligados ao (re) nascimento das cidades. Juntamente com o desenvolvimento do conhecimento, da educação, da produção agrícola; a cidade surge
como um pólo aglutinador de pessoas. Nelas a abundância estava presente. O gosto
pelo negócio, pelo dinheiro, pelo luxo era apreciado na vida citadina medieval. A cidade foi, ainda, um local seguro, guarnecido por suas torres e muros. Foi um organismo social e político baseado na vizinhança, no qual os ricos formam uma hierarquia dominante. Nas cidades que tinham maior autonomia em relação às outras, surgem pessoas que vão se dedicar às leis. Especialistas em direito. É pelas ruas da cidade que veremos o encontro de todos os que pertencem a ela. Ao andar pelas ruas
das cidades medievais os padres, nobres, guerreiros estão sujeitos a se cruzarem
(LE GOFF, 2002).
Na unidade 2 passamos a estudar as características dos Feudos para isso os
alunos representaram em forma de desenho a maneira que era dividido o feudo devendo deixar claro a situação de dominação a que eram submetidos os servos e vilões. Os alunos tiveram que representar no desenho que os servos trabalhavam nas
terras dos senhores e que também possuíam pequenos lotes para a agricultura de
subsistência. O senhor deveria ser representado como o soberano das terras e a
maior moradia e ainda podiam representar no desenho os servos pagando imposto.
Os desenhos foram expostos no mural da sala, para que fossem apresentados para a classe.
Para o desenvolvimento da atividade os alunos foram divididos em grupos. O
professor apresentou o desenho do feudo na TV multimídia e solicitou que cada
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grupo construísse um desenho que representasse as características de um feudo.
Em seguida os alunos desenvolveram atividades de caça-palavras, complete
os textos, todas referentes ao tema feudalismo já estudado anteriormente.
Na aula seguinte fomos ao laboratório de informática da escola a fim de
realizar uma pesquisa na Internet sobre como se tornar um cavaleiro e quais os
mandamentos que ele tinha a cumprir. Por meio da pesquisa foi solicitado que
fizessem uma produção de texto para ser apresentada no final do projeto.
Dando continuidade à pesquisa os alunos também desenharam o cavaleiro
medieval com suas indumentárias de acordo com as características pesquisadas na
internet. As atividades de pesquisas contribuem para que os alunos se apropriem de
forma mais significativa do conhecimento.
De acordo com Demo (1998, p. 34)
O professor deve orientar o aluno, permanentemente, para expressarse de maneira fundamentada, exercitar o questionamento sempre,
exercitar a formulação própria, reconstruir autores e teorias, cotidianizar a pesquisa.
Estas atividades foram de fundamental importância para que os educandos
pudessem mergulhar no mundo medieval e assim compreendessem os significados
dos diversos acontecimentos deste período e tudo o que se relacionava a eles e
desta forma, perceber que a realidade vivida por eles pode ser mudada, e que é
consequência das ações das pessoas como eles, que viveram em épocas e lugares
diferentes.
Assim o trabalho com história da Idade Média, particularmente o Feudalismo
revelou temáticas e abordagens significativas à experiência histórica dos alunos na
compreensão dos valores, e de sua cultura. Conforme relato de aluno “As aulas foram excepcionais”.
Na terceira unidade os alunos foram convidados a construírem maquetes.
Junto com seus colegas, construíram uma maquete e apresentaram para todos os
alunos em todos 7º. anos no pátio do colégio. Para esta atividade o professor
solicitou que os alunos providenciassem materiais como tesouras, isopor, cola
caixas e outros.
Depois de apresentar as maquetas os alunos desenvolveram algumas
atividades para refletir sobre o Feudalismo. Com questões como: Podemos dizer
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que a idade média foi um período de trevas? Como era a cultura da sociedade
medieval?(o cotidiano).
Essas questões contribuíram para que o educando refletisse sobre o ensino
de história . Conforme lembra o Fontana (1998, p. 30) esclarecendo que: “história
não é nem ficcional, nem factual, é imaginativa interpretativa...”
Na quarta unidade foi conclusão do trabalho, envolvemos a participação de
toda comunidade para a realização de uma mostra cultural intitulada o Feudalismo
trajes e costumes típicos – representando o Período Medieval (feudalismo) com a
participação dos alunos, pais e comunidade. Esta atividade foi apresentada fora do
ambiente escolar, no Centro Cultural da Cidade com toda comunidade participando.
Os alunos e professores foram trajados a caráter Para a Grande Viagem ao Mundo
Medieval. Todos tiveram uma calorosa recepção com personagens representando o
mundo Medieval como: bruxas, contorcionistas, engolidores de fogo e uma grande
fogueira na iluminava a apresentação.
Alunos e professores fizeram à caracterização medieval para que o visitante
se sentisse mergulhando no passado. Painéis com desenhos de castelo, elementos
medievais (espadas, escudos, fogueiras) espalhados pelo espaço e pessoas
trajadas deram o ambiente necessário para um evento inesquecível.
Na abertura do evento a professora expõe ao público sobre o que irá
acontecer durante as atividades e faz uma introdução sobre o período medieval de
um modo particular o feudalismo século IX ao XIII.
A primeira atividade foi à encenação por alguns alunos da cerimônia de
suserania e vassalagem. A seguir um aluno foi caracterizado com a vestimenta fez o
Juramento do cavaleiro medieval ao som de uma música medieval. Dando
continuidade a apresentação do feudalismo uma aluna abrilhantou a noite com uma
música “A pastora e o senhor” na flauta doce.
Outros apresentaram o cotidiano da vida feudal, Nobreza: encenação de
banquete mostrando as regras de etiqueta, o cotidiano. Enquanto acontecia a cena
havia bobo da corte, contorcionistas, malabaristas para divertir a nobreza. Destacouse o trabalho uma paródia sobre a dramatização do trabalho servil e guerra no
Feudo do camponês e vida monástica.
Houve também apresentação dos estamentos destacando a suas funções:
Clero (papa, bispos, padres e monges, Nobreza (reis, senhores feudais, príncipes e
princesas, conde, visconde),Camponeses (servos e vilões) .
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Sobre esta forma de aprender história por meio de representação,
vivenciando a própria história destaca Rocha (1996) quando afirma: Em História,
pensamos ser uma educação de qualidade aquela que permita ao aluno construir
em seu ser instrumentos teóricos, tais que, lhe possibilitem uma leitura crescente da
realidade social. (p. 50)
Muitos historiadores afirmam que o ensino de história precisa ser real deve refletir, analisar e problematizar a história enquanto parte integrante da vida de cada
aluno e assim possibilitar uma compreensão sistemática e crítica da realidade. Essa
ideia é defendida desde os tempos primórdios. “Desde a infância os homens têm,
inscrita em sua natureza, ao mesmo tempo, uma tendência a representar [...] e uma
tendência a sentir prazer com as representações.” (Aristóteles, apud Guénoun,
2004, p. 18)
E, hoje, mais do que nunca podemos concluir que aluno aprende
com mais facilidade os conteúdos de história se ele se sentir inserido no
contexto.
4 Conclusão
Após a aplicação da proposta foi possível concluir que é possível ensinar história de uma forma que os alunos possam se interessar e se tornar significativo para
ele possibilitando ao aluno sentir como parte integrante da história o que muitas vezes impedem uma aprendizagem eficaz são as contradições entre teoria e prática
que muitas vezes ficam distantes do mundo do aluno.
Portanto se o professor utilizar práticas criativas demonstrará para seus alunos que existem diferentes versões históricas, e que o aluno é um agente histórico
capaz de não só reproduzir os mecanismos presentes na sociedade, mas também
de transformá-los por meio de seus conhecimentos.
Para que o ensino de história, em especial a idade média, tão distante da realidade dos nossos alunos seja compreendido é preciso remetê-los á situação socioeconômica, política e cultural da época (Feudalismo) em que foram produzidas e
mostrar suas evoluções na totalidade mais amplas do social até a situação atual.
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