UNIDADE 2 - CONCEITOS DE CONVERSÃO DO MÚSCULO EM CARNE 2.1 – Contração Muscular (No animal vivo) 2.2 – Pós – Abate (Alterações bioquímicas e histológicas) 2.3 – Relação com qualidade da carne Estrutura da Carne: Conversão do Músculo em Carne • Contração muscular • http://www.icb.ufmg.br/prodabi/grupo1/pag10.html A actina e a miosina funcionam no sistema contrátil do músculo esquelético e a contração muscular é conseguida pelo movimento de deslizamento dos dois tipos de filamentos proteicos constituídos por estas proteínas. Contração muscular Aeróbica Anaeróbica Processos Glicólise C Krebs Cad mitocondrial Glicólise Ingredientes Produtos Glicose, ADP, Pi ATP, CO2, H2O Glicose, ADP, Pi, O2 ATP, Lact, H2, H2O Rigor mortis 7,0 6,3 5,5 18-24 hs A transformação do músculo em carne marca a transição do estado vivo do animal para um produto alimentício. O processo central, tanto do ponto de vista fisiológico quanto técnico, envolve o abate do animal, considerandose tanto o manejo pré-abate quanto o tratamento que é dado às carcaças após o abate. Pontos importantes para lembrar: •Músculos animais não se transformam em carne imediatamente após o abate; •Músculo sofre bioquímicas; muitas mudanças físicas •Mudanças que ocorrem são responsáveis características finais do produto carne; e pelas •Variações no padrão destas mudanças influenciam a qualidade da carne; Estocagem das carcaças (resfriamento convencional) provocam mudanças no músculo esquelético resultam na perda da integridade das proteínas do tecido muscular maturação é o amaciamento progressivo da carne •Com a morte do animal (sangria) iniciam-se processos metabólicos no músculo que alteram sua natureza in vivo. •Quando a circulação sanguínea pára, a atividade mitocondrial cessa com a falta de oxigênio. •No momento da sangria, a pressão arterial cai bruscamente fazendo com que o sistema circulatório se ajuste para suprir os órgãos vitais através: - aumento da freqüência cardíaca; - vasoconstricção periférica. CONVERSÃO DOS MÚSCULOS EM CARNE No músculo após o abate ocorrem 3 principais eventos, muito importantes para a qualidade do produto: Inextensibilidade muscular (Rigor mortis) Acidificação muscular (diminui pH) Abaixamento da temperatura muscular Proteólise OCORREM SIMULTANEAMENTE NOS MÚSCULOS 1.ACIDIFICAÇÃO MUSCULAR Constitui -se numa das alterações mais significativas para a conversão do músculo em carne É CONSEQÜÊNCIA DE: PROCESSOS VITAIS QUE CONTINUAM NAS CÉLULAS (HOMEOSTASE) COMO RESULTADO: OCORRE GASTO DE ENERGIA (ATP) Metabolismo energético (utilização de ATP) da célula muscular após o abate muda de aeróbio (in vivo) para as rotas anaeróbias: Célula obtém ATP a partir das principais reservas neste momento: creatina-fosfato glicogênio muscular ATP deve ser prontamente produzido Anaerobicamente: ATP é produzido no citosol da célula Fosforilação do substrato ADP pela: 1. creatina-quinase 2. adenilato-quinase (utilizando ADP produzido pela hidrólise de ATP) 3. glico(genó)lise glicose derivada do glicogênio acumulado (fígado e músculo) PRODUÇÃO E ACÚMULO DE ÁCIDO LÁTICO PRODUZIDO ATÉ QUE TODO GLICOGÊNIO SEJA HIDROLISADO OU ATÉ QUE O pH INIBA A AÇÃO ENZIMÁTICA pH muscular: no momento do abate 7,0 (7,2) diminui progressivamente até 5,6 a 5,8 o modo e a velocidade da acidificação depende da espécie animal e das tecnologias de processamento. Nas primeiras 7 horas após o abate não há qualquer variação na capacidade de extensão do músculo (está macio) Após, a capacidade de extensão diminui gradativamente até atingir inextensibilidade que atinge articulações a máxima também as 2. RIGOR MORTIS Prof. Jane Em termos moleculares, a rigidez cadavérica ou rigor mortis consiste na formação de ligações cruzadas entre a actina e a miosina resultando no encurtamento do sarcômero A formação de complexos actomiosina vai ocorrendo à medida que as reservas de energia (ATP) vão se esgotando causando o encurtamento do sarcômero 2. RIGOR MORTIS 2. RIGOR MORTIS O encurtamento do sarcômero após o abate apresenta algumas características semelhantes ao processo de contração muscular in vivo Na contração muscular post mortem, enquanto existir uma reserva energética suficiente na forma de ATP, os miofilamentos permanecem móveis e por esta razão o músculo é elástico 2. RIGOR MORTIS Contração muscular: Ciclo físico-químico: - associação -dissociação Interação cíclica da actina e da miosina - mudança de ângulo da cabeça da miosina Ca++ fora do sarcoplasma (dentro do RS) Troponina I inibindo ligação Junqueira e Carneiro, 1989 Interação do Ca++ com a Troponina C METABOLISMO ENERGÉTICO DOS MÚSCULOS 2. RIGOR MORTIS O enrijecimento muscular está intimamente associado à diminuição das reservas de ATP 2. RIGOR MORTIS O rigor mortis de músculos normais é definido como: o início da diminuição da elasticidade isto ocorre a 20oC e o pH atinge valores em torno de 5,9 e continua até o pH 5,5 2. RIGOR MORTIS A avaliação destas realizada através de: alterações pode ser -pH, -ATP -valor R -elasticidade do músculo ou comprimento do sarcômero (com a utilização de difratômetro computadorizado a laser) 2. RIGOR MORTIS Cessa o ciclo de pontes cruzadas quando os níveis de ATP já foram esgotados Não ocorre a dissociação de miosina e actina O ciclo de contração é terminado com um grande número de complexos actomiosina No Rigor Mortis, o endurecimento depende do número de pontes irreversíveis de actomiosina, quanto mais interação, mais dura resulta a carne O padrão de enrijecimento muscular post mortem no animal abatido em condições industriais difere um pouco do enrijecimento cadavérico em animais que morrem naturalmente Porém, nos animais abatidos industrialmente, o padrão de enrijecimento vai depender da tecnologia de abate adotada por cada indústria A rigidez post mortem é mais intensa naqueles músculos que não estão sofrendo restrição para contrair Os músculos dos membros posteriores e também o músculo longo dorsal que sofrem um alongamento excessivo devido à pendura da carcaça, terão um enrijecimento mínimo comparado aos músculos livres para contrair como por exemplo, alguns músculos do dianteiro 3. PROTEÓLISE Maturação É o amaciamento progressivo da carne mantida a temperaturas logo acima de ZERO GRAU por períodos de tempo variáveis Principais mudanças bioquímicas dos músculos na estocagem de carcaças bovinas entre 2 e 4o C 1. Degradação da linha Z 2. Desaparecimento da troponina-T 3. Degradação da desmina (permite a fragmentação das miofibrilas) 4. Degradação da titina 5. Degradação da nebulina 6. Aparecimento de um polipeptídio de 95.000 Da 7. Mais importante: Actina e Miosina permanecem intactas 3. PROTEÓLISE 3. PROTEÓLISE Taylor et al., 1995 3. PROTEÓLISE Goll et al. Taylor et al. Calpaínas: - enzimas proteolíticas (EC 3.4.22.17) naturalmente presentes em todas as células de seres eucarióticos; - degradam as proteínas do citoesqueleto - apresentam-se sob duas formas na célula muscular: -calpaína: 5 a 65 M de Ca++ m-calpaína: 300 a 1000 M de Ca++ - nas primeiras 24 horas após o abate: concentração de íons Ca++ ativa a -calpaína Calpaínas: São inibidas especificamente pela calpastatina, proteína também naturalmente presente nos tecidos; A proporção entre calpastatina e calpaínas determina o amaciamento post mortem Quanto mais calpastatina, menos proteólise, menor amaciamento da carne. Resultado da Proteólise = amaciamento Koohmaraie, 1995 Fonte: (Koohmaraie et al., 2002) Fonte: (Koohmaraie et al., 2002) ATIVIDADES: 1) Pesquisar e ler o artigo referente a Koohmaraie, 1995. 2) Pesquisar a diferença entre a pendura da carcaça pelo tendão de Aquiles ou pelo forâmen pélvico: