UM OLHAR SOBRE TEORIAS COGNITIVAS: PROMOVENDO O APRENDIZADO DE LÓGICA E PROGRAMAÇÃO Débora Paola Rodríguez Tassano 1 - IFSul-Pelotas Glaucius Décio Duarte2 - IFSul-Pelotas Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Hoje, o mercado de trabalho exige pessoas capacitadas na solução de problemas. Então, tornase imperioso o uso de um pensamento lógico. Esta pesquisa busca estudar alguns motivos pelos quais os professores de lógica e programação sentem dificuldades em repassar os conteúdos aos alunos. É importante salientar, que este trabalho está ancorado em uma pesquisa qualitativa, com metodologia de análise de conteúdo. Assim, buscou-se um embasamento teórico em alguns dos principais estudos de Jean Piaget, relativos ao desenvolvimento da inteligência humana, mais especificamente a abstração reflexionante, e, também, de David Ausubel, responsável pelo desenvolvimento da teoria que introduz o conceito de conhecimentos subsunçores, conhecida como teoria da aprendizagem significativa. Além disso, realizou-se um estudo sobre a neurociência cognitiva, também conhecida como neuropsicologia, sendo que esta é uma ramificação da neurociência, a qual surgiu de uma junção de interesses de estudos na área neural, no século XX. Para concluir, o foco passa para o estudo do pensamento computacional, como complemento na educação, aliado às teorias de Piaget, Ausubel e a Neurociência Cognitiva. Assim, este estudo procura mostrar mecanismos que possibilitem melhorar os níveis de aprendizagem dos alunos, em cursos técnicos profissionalizantes, no aprendizado de lógica e programação de computadores. Para isso, torna-se essencial compreender o que conhecemos, hoje, como pensamento computacional, considerado como uma metodologia voltada para a solução de problemas utilizando-se do pensamento lógico. Tem-se por objetivo principal, direcionar esta pesquisa para a descoberta de mecanismos educacionais que possibilitem incorporar o pensamento computacional nas aulas de lógica e programação de computadores, aliando os pontos em comum das teorias acima citadas. Apresentam-se, ao final, possibilidades educativas para exercitar o aluno antes da aula, a fim de tê-lo interagindo de forma mais eficaz, estimulando, o pensamento lógico. 1 Mestranda em Educação e Tecnologia: Instituto Federal Sul-rio-grandense, Campus Pelotas - Brasil. E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Informática na Educação: Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação da UFRG. Professor do Instituto Federal Sul-rio-grandense, Campus Pelotas - Brasil. Coordenador do Grupo de Pesquisa em Modelagem do Conhecimento (GPMOC). E-mail: [email protected]. ISSN 2176-1396 42617 Palavras-chave: Pensamento Lógico. Abstração Reflexionante. Aprendizagem Significativa. Neurociência Cognitiva. Pensamento Computacional. Introdução O mercado de trabalho exige, cada vez mais, pessoas capacitadas na solução de problemas e, para isso, torna-se necessário o uso de um pensamento lógico. Esta pesquisa tem por objetivo, estudar os principais motivos pelos quais os professores de lógica e programação sentem dificuldades em repassar os conteúdos previstos aos seus alunos. Assim, buscou-se um embasamento teórico na abstração reflexionante, de Jean Piaget, a qual se sustenta, tanto sobre estruturas que permitem ao sujeito captar um determinado conteúdo como sobre as atividades cognitivas do sujeito para extrair novos caracteres e utilizá-los para outras finalidades. Por sua vez, a teoria da aprendizagem significativa, de David Ausubel, sugere que o material didático deve tornar-se significativo para o aluno. De outra forma, a neurociência cognitiva tem por base investigar e entender o processo de ensino e aprendizagem, como este se dá, e quais mecanismos neurofisiológicos favorecem este processo. Assim, com base nesses olhares, este estudo busca mostrar mecanismos que possibilitem melhorar os níveis de aprendizagem dos alunos, em cursos técnicos profissionalizantes, no aprendizado de lógica e programação de computadores. Para isso, torna-se imperioso compreender o que conhecemos, hoje, como pensamento computacional, considerado como uma metodologia voltada para a solução de problemas utilizando-se do pensamento lógico. Por outro lado, com o avanço atual da tecnologia, torna-se cada vez mais necessário o desenvolvimento cerebral para o entendimento do funcionamento do mundo contemporâneo. As aulas presenciais apresentam, como principal desafio, vencer a gama tecnológica que as cerca, como as redes sociais, os jogos interativos e afins. Para tornar as disciplinas mais interessantes e motivadoras, aos alunos da atualidade, é necessário inovar, inventar ou reinventar, já que estão acostumados com um crescimento tecnológico constante. Tem-se por objetivo principal, direcionar esta pesquisa para a descoberta de mecanismos educacionais que possibilitem incorporar o pensamento computacional nas aulas de lógica e programação de computadores, aliando os pontos em comum das teorias acima citadas. É necessário, então, que o aluno esteja com sua mente voltada para o pensamento computacional e, neste trabalho, apresentamos possibilidades educativas para exercitar o 42618 aluno antes da aula, a fim de tê-lo interagindo de forma mais eficaz, estimulando assim, o pensamento lógico para a solução dos problemas propostos. Desenvolvimento Inicialmente, realizou-se um levantamento, em turmas do Curso Técnico em Eletrônica do IFSul, Campus Pelotas, comprovando o baixo rendimento dos alunos na área de programação, este sendo recorrente na disciplina analisada. Comprovada a dificuldade dos alunos nessa área, esta pesquisa ancorou-se, num primeiro momento, na teoria da abstração reflexionante (PIAGET, 1971) e na teoria da aprendizagem significativa (AUSUBEL, 1968). Esta última inclui a necessidade de compreensão dos conceitos subsunçores, isto é, os conceitos existentes a priori na bagagem cognitiva do indivíduo. A seguir, incorporaram-se estudos proporcionados pela neurociência cognitiva (HINTERHOLZ, 2014). Abstração Reflexionante A princípio, Piaget (1953, 1971) e Piaget e Inhelder (1958) afirmam que existem dois tipos de abstração, a empírica, apoiada sobre os objetos e a reflexionante, apoiada sobre as ações ou operações do sujeito. Enquanto a abstração empírica fornece os dados, a abstração reflexionante é estruturante e sempre composta de dois componentes inseparáveis: o reflexionamento e a reflexão. O reflexionamento é a projeção em um nível superior daquilo que foi extraído de um nível inferior. A reflexão é o ato de reconstrução e reorganização do nível superior, que foi extraído do nível inferior. Para que isso ocorra, é necessário utilizar os conhecimentos prévios do aluno, para que haja reflexionamento. Segundo Nogueira e Pavanello (2008, p. 129), as hipóteses, elementos ou condições envolvidos nas atividades exploratórias devem ser modificados ou ampliados de maneira a provocar o necessário desequilíbrio que desafie o aluno a refletir sobre o conhecimento elaborado, projetando-o para um patamar superior. Nesse momento há cognição, que é a função da inteligência ao adquirir conhecimento. Nessa definição, Matlin (2004, p.9), nos traz que se pode representar um processo cognitivo por informações que passam por etapas, semelhante ao processamento de um programa de computador, por exemplo. Dessa forma, o cérebro para chegar a determinada conclusão ou 42619 resposta, passaria por vários subprocessos de maneira lógica (se x então y senão z fimse), como acontece nos algoritmos de programação. Após, deve ser reorganizado para adquirir seu caráter geral, ou seja, realizar a reflexão. Piaget denomina a consciência do conhecimento de abstração refletida, que é a reflexão sobre a reflexão. Também, pode-se dizer que é a capacidade de expressar de maneira estrita, oral ou pictórica, os conhecimentos construídos. Aprendizagem Significativa Para que seja possível viabilizar o processo de aquisição de conhecimento é importante auxiliar o aluno nas atividades de seleção, integração, armazenamento e recuperação da informação. Então, ao apresentar um novo conteúdo, é necessário reduzir a carga cognitiva que o mesmo gasta para a aquisição de novos conceitos e liberar mais “espaço” para a memória de trabalho. Assim, deve-se reduzir a carga de efeitos visuais irrelevantes, chamando a atenção para textos e objetos mais objetivos, sem rodeios. Para Ausubel (1968), em sua teoria, a aprendizagem significativa estuda a forma como um novo conceito incorpora-se a conceitos prévios que o aluno já possui. Assim, a um conceito já existente na bagagem cognitiva de um sujeito aprendiz, denominou de “conceito subsunçor”. Quando o conteúdo a ser incorporado não consegue ligar-se a algo já conhecido, ocorre o que Ausubel chama de aprendizagem mecânica, ou seja, neste caso o aluno não conseguiu ligar o novo conhecimento a algo relevante para ele, decorando fórmulas e conteúdos, que acabam sendo esquecidos após a avaliação. Como mencionado anteriormente, para que ocorra a abstração reflexionante, o sujeito aprendente deve agrupar um novo conceito aos conhecimentos que já possui a priori, ou seja, os conceitos subsunçores. Evitando com esse conjunto de ações, que o aluno esqueça o que viu em sala de aula, provocando a cognição e, por consequência o conhecimento. Neurociência Cognitiva Segundo Tabacow (2007, p. 14), para a compreensão da neurociência cognitiva sobre os indivíduos é preciso entender que ela abrange cinco áreas de atuação: eletro-fisiologia, reconhecimento de grupos celulares, neurociência e sistemas de psicologia cognitiva, técnicas de imagem radiológica, ciência computacional e psicofísica. A partir daí, parte-se do princípio que para analisar como as pessoas se comportam, pensam, sentem e agem, é necessário 42620 conhecer de que forma as ações integradoras do encéfalo, como a atividade simultânea de um conjunto de neurônios, produz a cognição. De outra forma, a neurociência cognitiva, tem por base investigar e entender o processo de ensino e aprendizagem, como este se dá, e quais mecanismos neurofisiológicos favorecem este processo, buscando, assim, entender as causas da dificuldade de aprendizagem e do não aprender do ser humano. Os conceitos subsunçores, aliados ao que nos traz o estudo da neurociência cognitiva, nos levam a crer, que se treinado o desenvolvimento do pensamento lógico, pode-se aproveitar o cérebro mais do que se imagina. O pensamento lógico leva a um processo de resolução de problemas baseado em etapas com resultados que podem servir para a decisão/resolução de etapas subsequentes. Integrando essas decisões com os conhecimentos existentes a priori na bagagem cognitiva dos indivíduos, pode-se chegar a conclusões de maior complexidade. Pensamento Computacional O pensamento computacional, segundo Wing (2006), é um pensamento do ser humano, isto é, não é um pensamento mecânico. Dessa forma, pode-se dizer que é um pensamento conceitualizado e não um pensamento programado. Portanto, não é um produto a venda nas prateleiras, mas sim, um treinamento cerebral dos alunos, para que consigam desenvolvê-lo adequadamente. Considera-se que é um pensamento abstrato de alto nível, possibilitando habilidades importantes para que os indivíduos tenham sucesso na vida contemporânea. De acordo com a International Society for Technology in Education (ISTE, 2013), existem habilidades a serem desenvolvidas para obter sucesso no pensamento computacional. Entre elas, podem ser citadas: reformular um problema, aparentemente difícil, com solução conhecida; pensar recursivamente e processar em paralelo uma abordagem de interpretação de dados e códigos, entre outros. Proposta do trabalho Portanto, é imprescindível analisar em quais aspectos converge a abstração reflexionante (aliada à aprendizagem significativa) e a neurociência cognitiva, considerando 42621 seu impacto no pensamento computacional. Estimulando o treinamento cerebral do indivíduo, juntamente com a utilização de linguagens de programação, será possível pensar e agir para resolver os problemas propostos pelo dia a dia. Este é o maior desafio do ser humano, quando inserido no mercado de trabalho atual. Propõe-se, neste estudo, aplicar uma espécie de “aquecimento cerebral” antes das aulas, onde, se queremos chegar a um programa, em uma linguagem de alto nível, por exemplo, que resolva a média harmônica de “n” números, iniciaríamos a aula, com exercícios de aritmética, seguidos de exercícios de média aritmética, tratada primeiramente com dois valores, com três valores, e com “n” valores. A partir daí, o aluno irá refletir e conseguir gerar a média harmônica para dois valores, três valores e, por último, “n” valores. Temos nesse processo, a inserção da abstração reflexionante de Piaget (1971), reflexionamento e reflexão, bem como a teoria da aprendizagem significativa, sendo que, executando todos os passos para chegar a determinado resultado, o aluno irá gravando em sua memória, os processos necessários no decorrer da resolução. Assim, o que se deseja com este estudo, é encontrar mecanismos educacionais, ancorados nos estudos de Piaget (1971), juntamente com o pensamento computacional (WING, 2006), e também da neurociência cognitiva (HINTERHOLZ, 2014). Pretende-se treinar os alunos para que tenham uma maior eficácia quando saírem das disciplinas de lógica e programação de computadores. Visto que o baixo rendimento nessas disciplinas foi comprovado, torna-se imperioso melhorar o desempenho dos alunos, realizando-se uma espécie de “aquecimento cerebral”, que pode ser a saída para parte desse problema. Metodologia É importante salientar, que este trabalho está ancorado em uma pesquisa qualitativa, com metodologia de análise de conteúdo. Na pesquisa qualitativa, conforme Bogdan e Biklen (1994), há cinco características principais: o investigador é o instrumento principal; é uma pesquisa descritiva; o investigador interessa-se mais pelo processo do que especificamente pelos resultados; o investigador tende a analisar seus dados de forma indutiva e o significado é de importância vital na abordagem qualitativa. Esse tipo de pesquisa está, neste estudo, voltado para o método de análise de conteúdo, que segundo Bardin (2011), tem na compreensão e crítica, o esforço compreensivo, partindo de dentro do fenômeno e, na 42622 descrição e interpretação, procura estabelecer conexões entre o nível sintático do texto com os níveis semântico e pragmático. Por sua vez, incluem-se alguns dos principais estudos de Piaget (1953, 1971) e Piaget e Inhelder (1958), relativos ao desenvolvimento da inteligência humana, mais especificamente a abstração reflexionante, e, também, de Ausubel (1968), responsável pelo desenvolvimento da teoria que introduz o conceito de conhecimentos subsunçores, conhecida como teoria da aprendizagem significativa. Além disso, realizou-se um estudo sobre a neurociência cognitiva, também conhecida como neuropsicologia, sendo que esta é uma ramificação da neurociência, a qual surgiu de uma junção de interesses de estudos na área neural, no século XX. Para concluir, o foco passa para o estudo do pensamento computacional, como complemento na educação, aliado às teorias de Jean Piaget e David Ausubel e a neurociência cognitiva (HINTERHOLZ, 2014). Considerações Finais Como pode ser verificado ao longo desta pesquisa, o desenvolvimento dos alunos em lógica e programação de computadores, pode-se dizer, que é dificultoso. A pesquisa nos mostrou que, através das teorias de Jean Piaget e David Ausubel, quanto mais desenvolvemos no aluno a sua capacidade de incorporação de novos conceitos, mais estimulado ele se torna e melhor passa a ser o seu desempenho. O pensamento computacional (CAMPOS et al., 2014) nos mostra como pensar e agir para a resolução de problemas e, quais recursos utilizar para isso, assim como desenvolver algoritmos que possam ser expressos em diferentes níveis de abstração. Todo ser humano possui pensamento lógico, mas os níveis precisam ser aprimorados para os processos de tomada de decisão. A neurociência cognitiva nos apresenta que nosso cérebro pode ser aproveitado muito além da capacidade que achamos que temos. A grande maioria dos alunos subutiliza a capacidade cerebral. Porém, esses sujeitos aprendentes poderiam exercitar o cérebro através do treinamento, com inserção de atividades não repetitivas nas aulas. Assim, se inserirmos uma espécie de “aquecimento cerebral”, antes de iniciar as aulas, faremos com que o cérebro se prepare para o que vem depois. Os exercícios em sala de aula devem iniciar aos poucos, do mais fácil ao mais complexo. Se fugirmos desse conceito, corremos o risco de que os alunos fiquem complexados com os exercícios mais difíceis, e se sintam incapazes de realizar o próximo, e assim por diante. Assim, o emprego da neurociência cognitiva, aliado ao 42623 pensamento computacional, nos propõe um ambiente de estudo propício ao desenvolvimento das disciplinas de lógica e programação de computadores. O que não se pode fazer, é permitir que o cérebro dos sujeitos aprendentes fique subutilizado. REFERÊNCIAS AUSUBEL, D. P. Educational psychology: a cognitive view. New York and Toronto: Holt, Rinehart and Winston, 1968. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Ed. revista e ampliada. Lisboa: Edições 70, 2011. BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Portugal: Porto Editora, 1994. CAMPOS, G. M. de et al. Organização de informações via pensamento computacional: relato de atividade aplicada no ensino fundamental. In: CBIE, 3., SBIE, 25., 2014, Dourados. Anais... Dourados: UFGD, 2014. HINTERHOLZ, L. T. et al. Neurociência cognitiva como base para análise do processo do pensamento computacional, através da programação. Revista Jovens Pesquisadores, Santa Cruz do Sul, v. 4, n.2, p.54-66, 2014. ISTE. Operational definition of computational thinking. 2013. 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