OPINIÃO 2012 – A SAÚDE EM PORTUGAL – DIA MUNDIAL DO CORAÇÃO Daniel Bonhorst, Presidente do Instituto Português do Ritmo Cardíaco (IPRC) e Pedro Adragão, Vice-presidente do IPRC Arritmias cardíacas - importa conhecê-las… O coração contrai-se cerca de 100.000 vezes por dia; para isso tem de ser estimulado, sendo os estímulos elétricos e produzidos por esse próprio órgão, que dispõe do um sistema apropriado para a sua produção e condução, de modo a serem ativadas de forma coordenada todas as suas células musculares. Esse sistema pode ser sede de perturbações do funcionamento, as chamadas arritmias cardíacas. “ Apesar dos seus resultados limitados, deverão ser tratados de imediato os doentes com paragem cardíaca (reanimação cardíaca e suporte avançado de vida); infelizmente menos de um quarto destes doentes consegue ser reanimado fora de um hospital “ Daniel Bonhorst Pedro Adragão stas arritmias são em geral pouco sintomáticas, não afetando a qualidade de vida nem o prognóstico, como acontece com a maioria das arritmias chamadas extrassístoles (batimentos prematuros isolados ou em curta sucessão). Noutros casos, menos frequentes, podem revestir-se de gravidade, pondo em risco a vida, de forma imediata como sucede com a fibrilhação ventricular (arritmia em que os ventrículos não se conseguem contrair de forma eficaz), ou a longo prazo, como na fibrilhação auricular (arritmia que afeta as aurículas, impedindo que estas se contraiam eficazmente). A importância das arritmias é bem expressa na problemática da morte súbita (MS) cardíaca (a que ocorre menos de uma hora após o início dos sintomas), que constitui a primeira forma de morte nos países desenvolvidos; em dois terços dos casos é de origem cardíaca, morrendo metade dos doentes cardíacos subitamente. A grande maioria das MS é devida a fibrilhação ventricular. Podendo ser observada em direto por milhões de espectadores, reveste-se de características dramáticas, sendo baixa a taxa de sucesso das tentativas de reanimação. A prevenção baseia-se na identificação de fatores de risco, controlo dos fatores predisponentes e utilização de terapêuticas preventivas nos casos de maior risco. O controlo dos fatores predisponentes para a cardiopatia isquémica, sua principal causa (80% do s casos), poderá reduzir o número de MS, mas os doentes em maior risco justificarão uma terapêutica preventiva. Apesar dos seus resultados limitados, deverão ser tratados de imediato os doentes com paragem cardíaca (reanimação cardíaca e suporte avançado de vida); infelizmente menos de um quarto destes doentes consegue ser reanimado fora de um hospital. A fibrilhação ventricular, principal arritmia responsável pela MS, tem apenas um tratamento eficaz, que é a aplicação de um choque elétrico (desfibrilhação) nos primeiros minutos após o início do episódio. É por isso necessário colocar desfibrilhadores automáticos externos em locais públicos (por ex. aeroportos, estádios, escolas, ginásios, empresas) e ensinar a elementos da população a sua utilização adequada. Os médicos e as autoridades têm vindo a criar condições para essa formação, tendo saído recentemente em Portugal legislação nesse sentido. Nos doentes com disfunção cardíaca grave, sobretudo no contexto de cardiopatia isquémica, é necessário uma terapêutica preventiva eficaz, dado o seu elevado risco de MS. Nestes doentes está indicada a implantação de cardioversores desfibrilhadores (CDI), aparelhos implantáveis com capacidade para detetar a fibrilhação ventricular e terminá-la pela aplicação de E “Nos doentes com disfunção cardíaca grave, sobretudo no contexto de cardiopatia isquémica, é necessário uma terapêutica preventiva eficaz, dado o seu elevado risco de MS. Nestes doentes está indicada a implantação de cardioversores desfibrilhadores” um choque elétrico apropriado; a sua implantação em largas centenas de milhares de doentes, permitiu comprovar a sua elevada eficácia. Os acidentes vasculares cerebrais são causa de morte frequente em Portugal, estando um quinto deles associado a embolias relacionadas com fibrilhação auricular (FA). A FA é a arritmia prolongada mais frequente e a que motiva mais internamentos hospitalares. Tem maior prevalência no sexo masculino e faixas etárias mais idosas, duplicando por cada década de vida a partir dos cinquenta anos. Diminui a qualidade de vida pelos sintomas que ocasiona, como palpitações e cansaço exagerado, e pelas frequentes complicações tromboembólicas; pode ser causa de insuficiência cardíaca e aumenta a mortalidade. O tratamento farmacológico é muitas vezes ineficaz, exceto a anticoagulação, importante na prevenção das complicações tromboembólicas Hoje é possível tratar a FA por técnicas de intervenção que consistem na introdução de electrocateteres em vasos periféricos, sendo posicionados em diferentes câmaras cardíacas, que permitem registar a atividade elétrica intracardíaca, com identificação das zonas arrítmicas e posterior tratamento por ablação com energia de radiofrequência (destruição térmica seletiva dessas zonas). A origem da FA está na sua maioria relacionada com estímulos elétricos provenientes das veias pulmonares; o tratamento consiste na criação de múltiplas lesões, de modo a se conseguir isolar essas veias, impedindo que os estímulos atinjam a aurícula. Esta intervenção, que tem alguns insucessos e complicações, tem vindo a ter indicação num número cada vez maior de doentes com FA, sendo utilizada nos resistentes à terapêutica farmacológica ou até de primeira escolha em grupos selecionados. Já se demonstrou a sua vantagem sobre a terapêutica farmacológica e está-se a estudar o seu impacto na redução do número de acidentes vasculares cerebrais. Permitiu até hoje tratar milhares de doentes com FA, sendo o isolamento das veias pulmonares o tratamento ablativo de referência, efetuado por rotina em centenas de laboratórios de eletrofisiologia em todo o mundo. O número de doentes a tratar é muito grande, prevendo-se que a ablação de FA venha a ser o tratamento mais frequentemente efetuado em arritmologia de intervenção. “A FA é a arritmia prolongada mais frequente e a que motiva mais internamentos hospitalares. Tem maior prevalência no sexo masculino e faixas etárias mais idosas, duplicando por cada década de vida a partir dos cinquenta anos. Diminui a qualidade de vida pelos sintomas que ocasiona, como palpitações e cansaço exagerado, e pelas frequentes complicações tromboembólicas; pode ser causa de insuficiência cardíaca e aumenta a mortalidade. O tratamento farmacológico é muitas vezes ineficaz, exceto a anticoagulação, importante na prevenção das complicações tromboembólicas”