Tsunami Introdução As ondas do mar geradas por eventos geológicos catastróficos em regiões oceânicas, como os sismos de forte magnitude com ruptura superficial, as erupções vulcânicas e os movimentos de massa (deslizamentos) submarinos, são actualmente designados por tsunamis, que em japonês significa "onda de porto". O idiograma representativo de tsunami é constituído por dois caracteres, correspondendo o superior a "tsu" (porto) e o inferior a "nami" (onda). Na literatura anglo-saxónica estas ondas são também designadas por "tidal waves" (ondas de maré), embora em nada estejam relacionadas com a maré, ou "seismic sea waves", embora possam ser geradas sem ser por eventos sísmicos. Em português a designação convencional é a de maremotos, se bem que esta designação se aplique fundamentalmente às situações em que a amplitude das ondas é suficientemente elevada para causar danos significativos, e a sua aplicação transcende, consequentemente, as dos tsunamis. O termo tsunami foi adoptado para utilização científica genérica no decurso de uma conferência internacional realizada em 1963. Os tsunamis são ondas com períodos e comprimentos de ondas muito grandes. As ondas geradas pelo vento, no meio de oceano, e que rebentam na costa portuguesa têm frequentemente períodos de cerca de 10 segundos e comprimentos da ordem de 150m. Pelo contrário, os tsunamis têm comprimentos de onda que podem exceder 100km e períodos da ordem de 1 hora. Devido ao seu muito grande comprimento de onda, os tsunamis comportam-se sempre como ondas em propagação em águas pouco profundas. Considera-se que uma onda se propaga em águas pouco profundas quando a razão entre a profundidade e o comprimento de onda é muito pequeno. Como em águas pouco profundas a velocidade das ondas é igual à raiz quadrada do produto da aceleração da gravidade pela profundidade, tal significa que no Atlântico ao largo de Portugal, onde as profundidades das planícies abissais é da ordem de 4 000 a 5 000 metros, a velocidade de um tsunami varia entre 700 e mais de 800 km/h (isto é, velocidade análoga à de um avião comercial). No Pacífico os tsunamis são frequentemente gerados por sismos que ocorrem nas zonas de subducção, propagando-se por toda a bacia oceânica. Na figura estão representados os tempos de propagação de dois grandes tsunamis relativamente recentes, produzidos pelo sismo de Concepción, Chile, em 1960 (curvas a roxo), e pelo de Valdez, Alaska, em 1964 (curvas a vermelho). (Extraído da USGS wp). Atendendo a que a razão a que uma onda perde energia está inversamente relacionada com o comprimento de onda, os tsunamis não só se propagam a alta velocidade como também se podem propagar através de distâncias muito grandes (transoceânicas) apenas com pequenas perdas de energia. Nas costas do Pacífico a ocorrência de sismos tsunamigénicos é bastante frequente, existindo mesmo um sistema de monitorização e alerta específico. Nas costas da Europa, se bem que a ocorrência de tsunamis seja muito menos frequente, os tsunamis são, desde tempos remotos, objecto de medo e de admiração por parte das populações costeiras, dando origem às mais diversas interpretações, lendas e histórias. No Mediterrâneo os casos mais devastadores foram os do tsunami gerado pela erupção do vulcão da ilha de Santorini, na Grécia, cerca do ano 1400aC, que conduziu ao desaparecimento da civilização mineana, e o do tsunami gerado pelo sismo submarino de Creta, a 21 de Julho de 365dC. Já na Grécia antiga se encontram textos em que se procura explicar a origem dos tsunamis. No sec. V aC Tucides dava a seguinte explicação para um tsunami que então ocorrera: "a causa (...) deve ser procurada no sismo; na altura em que o choque foi mais violento, o mar foi puxado para trás e, repentinamente, voltou com força redobrada causando a inundação". Aristóteles, no texto "De Mundo" escrevia: "Durante os sismos abrem-se crateras no fundo do oceano e as suas águas retiram-se ou, noutras ocasiões, correm para lá; isto é por vezes seguido por um retroceder mas, por vexes, é meramente uma torrente para a frente, como a que ocorreu em Helice". O exemplo que toca mais de perto Portugal é o do tsunami gerado pelo sismo de 1 de Novembro de 1755, que inundou a parte baixa da cidade de Lisboa e provocou grandes danos ao longo de toda a costa portuguesa, principalmente a do Alentejo e do Algarve. A baixa lisboeta foi inundada por ondas com cerca de 4 a 6 metros de altura. No Algarve, a literatura da época refere ondas de bastante maior altura. Os efeitos destruidores do tsunami foram também fortemente sentidos em todo o Golfo de Cádiz e na costa noroeste de Marrocos. Este evento foi também observado em todo o Atlântico Norte, existindo relatos de testemunhas desde a ilha da Madeira até à Cornualha e à Escócia. Apesar da baixa taxa de ocorrência de tsunamis catastróficos nas costas europeias, as suas consequências podem ser de tal forma dramáticas que a probabilidade destes acontecimentos tem de ser contemplada em qualquer trabalho sobre riscos geológicos das zonas costeiras. O estudo de um tsunami é, geralmente, dividido em três fases: - formação da onda devido à causa inicial e propagação próximo da fonte; - propagação em oceano aberto (águas profundas); - propagação em águas costeiras (águas pouco profundas) onde, como resultado da baixa profundidade, se verifica forte deformação e empolamento da onda, culminando com a sua rebentação e espraio. A amplitude do tsunami observada na costa e nas estações maregráficas é o resultado da combinação de todos estes factores. Fonte: Geologia Ambiental, UNIVERSIDADE DO ALGARVE, 2006