A Felicidade na Ética a Nicômaco de Aristóteles

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A Felicidade na Ética a Nicômaco de Aristóteles
Ana Paula Sebe Filippo
Doutora em Filosofia do Direito e do Estado pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Professora de Filosofia do
Direito na Pós-Graduação “Stricto Sensu” da Universidade
Metropolitana de Santos e na Graduação da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo
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RESUMO
O artigo proposto versa sobre a felicidade na Ética a
Nicômaco de Aristóteles.
A ética visa ao bem e ao maior dos bens, a felicidade
humana. A política tem por fim a felicidade de se
viver junto.
Neste entrelaçar entre ética e política, verificar-se-á
que o homem que não atingiu o conhecimento do
sábio, alcançará a auto-suficiência na comunidade
política, pois ele somente é verdadeiramente ele
mesmo na e pela comunidade, estando aí a sua
condição de “animal político”.
PALAVRAS-CHAVE
Felicidade, Ética, Política, Virtude.
ABSTRACT
The proposed article concerns the happiness in
Aristotle’s Ethics to Nicomaco.
Ethics aims at the good, and the supreme good
which is human happiness. Politics ultimate goal is
the happiness of living together.
When ethics and politics intertwine what comes out
is that the one who has not achieved the
knowledge of the wise, will become self- sufficient
through the political community, since he is only
and truly himself in the community, there lying his
status of “ political animal”.
KEYWORDS
Happiness, Ethics, Politics, Virtue.
FILOSOFIA
28
Discorreremos, neste artigo, sobre a felicidade na Ética a Nicômaco de Aristóteles. Iremos
buscar a etimologia de tal vocábulo para, em seguida, dissertarmos sobre a "eudaimonia" em
Aristóteles.
Em grego, felicidade é designada por dois
vocábulos - ou famílias de palavras - inteiramente diversas, provindas de duas raízes autônomas, que se movem em contextos distintos.
Tais raízes são "daímon" e "mákar", das quais se
originam várias palavras.
É de se observar, entretanto, que, embora
sejam inteiramente distintas, estas raízes, muitas vezes, no uso real, têm significações que se
entrecruzam.
Desta forma, pode-se dizer que o radical,
assim o designaríamos, é o sentido preponderante, mas não podemos descartar o uso real,
linguístico que costuma ser lasso e variável, levando, às vezes, num mesmo autor e, até, num
mesmo texto, ao uso promíscuo das duas raízes.
Assim, a distinção entre "daímon" e "mákar"
não pode ser tomada literalmente e de maneira
absoluta.
Um sistema de preferências é o que existe.
Platão utiliza, com mais frequência, as palavras
"makários" (feliz), "makária" ou "makariótes"
(felicidade); já Aristóteles emprega muito mais
as que se originam de "daímon" como "eudaímon" (feliz) e "eudaimonía" (felicidade), embora
use, também, aquelas designações (cf. MARÍAS,
1989, p. 73).
O termo "daímon" significa um deus,
primariamente, porém mais que um deus
individual, singular; melhor seria o emprego de
"théos", a deidade ou divino o que designaríamos
um "gênio" e, noutro sentido, demônio. 1
No Banquete, Platão se indaga se o amor ou
"éros" é um deus e nega ao responder, afirmando
que é "daímon mégas", um grande "daímon".
Para Sócrates, há um "daímon", um gênio que
o aconselha a fazer ou não as coisas. Assevera,
ainda, Platão que "éros" é um intermediário
(metaxy) entre deus e o homem, que se parece
com o filósofo, que é também um medianeiro
entre o sábio e o ignorante: porque já o possui,
o sábio não busca o saber, nem o ignorante,
porque desconhece que lhe falta saber; o filósofo
é o que anseia, que almeja a sabedoria, porque
sabe que não a tem. (cf. MARÍAS, 1989, p. 73).
Em grego, é comum utilizar o vocábulo
"eudaimonía" para designar "felicidade".
Significa ter um bom (eû) "daímon" , ter sorte,
prosperidade. Este é o sentido primeiro e básico
de "eudaimonía".
Aristóteles foi o filósofo grego que mais a
fundo se propôs esta questão, em várias obras,
mas, especialmente, na Ética a Nicômaco, sobretudo nos livros I e X da referida obra. 2
Logo no início da obra Ética a Nicômaco,
Aristóteles (1996, p. 17) coloca a felicidade em
conexão com o bem, afirmando: "Toda arte e
toda indagação e todo propósito, visam a algum
bem; por isto foi dito acertadamente que o bem
é aquilo que todas as pessoas visam".
Assim, não há divergência, quando se diz
que a felicidade é o bem supremo, tanto para a
multidão como para os distintos, os refinados.
Diversas vezes, Aristóteles trata de massas e minorias (de forma literal "os muitos" e "os poucos"), mas aqui enuncia os refinados, ou seja,
os que detêm certo saber ou polimento. Existe,
deste modo, uma concordância global; porém,
quando se indaga sobre o que é a felicidade,
quanto ao conteúdo, iniciam-se as divergências
entre o vulgo e os sábios.
Uns acreditam que a felicidade consiste
no prazer, na riqueza ou nas honrarias; outros,
na privação. Em Aristóteles, tal conceito tem
grande relevância: uma das dez categorias é a
"stéresis" ou privação. Esta significa alguém não
ter algo que lhe cabe ou de que precisa. Não se
confunde com carência que é não ter algo. Assim,
se não temos asas ou brânquias, somos carentes
delas e não privados; porém se há ausência de
um braço, estamos privados dele, daí a palavra
“maneta”. 3
Pode-se dizer, desta forma, que a "stéresis"
não é uma ausência qualquer, mas, sim, a falta
daquilo que nos pertence ou nos é necessário.
A saúde para o doente, os bens necessários
para o pobre, o conhecimento para o ignorante
são privações. É de se observar, nestas situações,
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"Parece que a felicidade, mais que qualquer
outro bem, é tida como este bem supremo,
pois a escolhemos sempre por si mesma, e
nunca por causa de algo mais, mas as honrarias, o prazer, a inteligência e todas as outras
formas de excelência, embora as escolhamos
por si mesmas (escolhê-las-íamos ainda nada
resultasse delas), que escolhemo-las por causa
da felicidade, pensando que através delas seremos felizes". (1996, p. 23)
Conforme, ainda, nos assegura Aristóteles,
múltiplos são os fins das atividades do homem
e alguns deles são almejados com vista somente a fins superiores. Assim, queremos ter saúde,
riqueza etc., pela satisfação e prazer que podem
proporcionar. Há, porém, um fim supremo, um
fim que é almejado por si mesmo e não para um
fim futuro. A felicidade, para Aristóteles, é este
fim.
Prosseguindo, tal filósofo volta à autarquia,
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com restrições bem perspicazes, dizendo que
isso também acontece com a autarquia, pois o
bem perfeito parece ser suficiente. Não obstante,
não se entende por suficiente o viver, para si só,
uma vida sozinha, mas também para seus pais,
filhos, esposa e, de modo geral, para seus amigos
e concidadãos, porque o homem é por natureza
um animal que vive em sociedade. Considera-se
"suficiente“ o que por si só torna a vida desejável e não necessita nada” (MARÍAS, 1989, p. 77);
e acredita-se que esta é a felicidade.
Entretanto, Aristóteles não se satisfaz com
isto e procura saber qual a função do homem
para que haja, assim, maior possibilidade de
desvendar o que é a felicidade.
Faz-se necessário, para encontrarmos uma
resposta, determinar a função própria do homem. Assim como para um flautista, um escultor ou qualquer outro artista e, em geral, para
todos que têm uma atividade ou função, considera o mesmo filósofo que o bem e a perfeição
residem na função, o que, da mesma forma, se
presume que o ser humano tem uma função
própria, que pressupõe o uso da razão.
Portanto, esta função, enquanto tal, não é a
atividade sensitiva comum aos animais, mas a
atividade racional.
Desse modo, o homem só encontrará a felicidade se viver em conformidade com a razão;
e esta vida é a virtude. A análise da felicidade
é transformada também numa pesquisa da virtude. 6
Lembra-nos, ainda, o mesmo mestre, que a
felicidade necessita duma virtude perfeita e de
uma vida inteira 7, pois uma andorinha não faz
o verão, assim como um só dia, ou um pequeno
espaço de tempo, não faz um homem bem-aventurado e feliz. 8
Pode-se verificar que a duração e a permanência são algo decisivo na cultura grega. É um
ideal helênico a perenidade das coisas, tudo passa, tudo é efêmero, as coisas são e deixam de ser,
nascem e morrem; o grego luta para encontrar
algo que perdure por toda a vida, que seja para
sempre. Algo passageiro não pode ser denominado felicidade.
Aristóteles, dando continuidade à inves-
FILOSOFIA
que a felicidade se identifica com as privações,
porém, quando temos tais condições, a importância disso se perde.
O homem engaiolado sonha com a liberdade e não se contém de felicidade, quando é
posto em liberdade. O que é livre não valoriza
tal condição.
Entretanto, existe outra noção essencial
para os gregos e especialmente para Aristóteles:
a autarquia.
Esta vem a ser a suficiência, a condição de
bastar-se a si mesmo. 4
Na obra em análise, Aristóteles (1996, p. 24)
a define ao dar a sua opinião sobre o que é a felicidade. "(...) 'auto-suficiente' pode ser definido
como aquilo que, em si, torna a vida desejável
por não ser carente de alguma coisa...” 5
Para o filósofo citado, a felicidade é algo final e auto-suficiente.
Antes, porém, de adentrarmos neste tema,
vejamos o que ele quis dizer ao discorrer sobre a
felicidade como algo final.
Isto significa que a buscamos por ela mesma e não por outra coisa.
Ao dissertar sobre tal assunto, diz
Aristóteles:
29
FILOSOFIA
tigação sobre a felicidade, coloca-nos outras
indagações: enquanto estivermos vivos, não
poderíamos ser chamados de felizes? Como
enunciou Sólon: é preciso "ver o fim"? 9 Mesmo
que adotemos tal pensamento, pode um homem
ser verdadeiramente feliz após a sua morte? Isto
não é totalmente irreal, particularmente para o
filósofo citado que define a felicidade como uma
atividade?
Se não designamos o indivíduo morto de
feliz e, se Sólon não pretendeu aduzir isto, mas
que só quando o indivíduo está morto, pode,
com convicção, ser considerado feliz uma vez
que os males e infortúnios não o atingem mais,
mesmo assim tal opção dá margem a discussões.
Isto porque se tem em mente que o mal, assim
como o bem, existem em relação tanto aos que
morrem, como também em relação aos vivos,
porém estes não têm consciência deles. 10
Existe, ainda, aqui, uma questão, pois, embora um indivíduo tenha percorrido a vida num
estado de bem-aventurança, tendo uma morte
condizente com a sua vida, vários infortúnios
podem acontecer com os descendentes do mesmo. Certos descendentes podem ser bons e gozar de uma vida adequada aos seus méritos, ao
passo que o contrário pode ocorrer com outros.
Acrescenta-se a isto, em termos de tempo,
que a distância entre os descendentes e ascendentes iria crescendo de forma desmedida.
Surpreendente seria, desse modo, se os que
morrem fossem atingidos por esta inconstância
de sorte e fossem ora felizes, ora não; também
seria notável se as vicissitudes dos descendentes
não tocassem a felicidade de seus antepassados,
de certa maneira, e no decorrer de certo tempo.
Voltemos ao nosso primeiro impasse, pois,
talvez, por meio de uma análise do mesmo, nossa dificuldade possa ser solucionada.
Se o fim do homem tiver de ser visto para
que somente então possamos congratular-nos
com ele por sua bem-aventurança, porém, não
por ser bem-aventurado, e sim por tê-lo sido anteriormente, será contraditório certamente que,
no exato instante em que o mesmo se torna feliz,
tal qualidade não lhe possa mais ser atribuída. 11
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"O homem feliz, portanto, deverá possuir o
atributo em questão 12 e será feliz por toda a
sua vida, pois estará sempre ou pelo menos
frequentemente, engajado na prática ou na
contemplação do que é conforme à excelência.
Da mesma forma ele suportará as vicissitudes
com maior galhardia e dignidade, sendo como
é, 'verdadeiramente bom e irrepreensivelmente tetragonal". 13 (ARISTÓTELES, 1996, p. 21)
O prazer está vinculado à vida que acompanha a excelência. Conseqüentemente, esta é a
real atividade do homem; e qualquer atividade
é seguida e laureada pelo prazer. Tal prazer implica no equilíbrio, na moderação, na "ataraxia",
cujo conceito é utilizado também por Aristóteles, termo que se costuma designar por “meio
termo”, ou seja, o que é distante dos extremos.
Este filósofo é cauteloso em asseverar que
esta "ataraxia" não consiste em falta de emoção
ou de coragem: é a medida em tudo isso. O homem que a possui é senhor de suas emoções,
não se altera, ou seja, não se converte em outro,
estando apto à vida feliz.
No livro X da Ética a Nicômaco, mais preci-
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samente nos capítulos 6-8, Aristóteles faz a última ponderação sobre a felicidade, dizendo que
a mesma não é um hábito nem uma disposição e
sim uma atividade.
O estagirita usa três conceitos o que se faz
necessário diferenciar: "poíesis" é produzir,
fabricar, atividade que se encerra numa obra
ou produto; "práxis", trata-se de uma atividade
cuja finalidade não é algo diferente dela mas
ela mesma, não uma obra ou "érgon" e sim a
"enérgeia", como ocorre com quem toca flauta ou
com o governante; "theoría", uma terceira forma
de atividade, uma variação da "práxis", significa
visão ou o visto, por exemplo, uma procissão. É
costumeiro, em nossas línguas, opor a teoria à
prática - os pedantes que desconhecem o grego
preferem dizer "práxis" -, porém, no filósofo
enunciado, não se contrapõem: a "práxis" mais
prática de todas é a "theoría". E a razão é,
novamente, a suficiência: o governante precisa
da cidade para governar, não dispondo dela,
não poderá exercer sua atividade. A theoría,
contrariamente, não requer nada; o indivíduo
cuja práxis é a theoría é auto-suficiente, não
necessita de nada fora de si, é uma atividade
"divina", os deuses a têm. 14
A auto-suficiência será por conseguinte,
alcançada nessa vida, a contemplativa, com efeito, a mais elevada para o sábio 15, que dispensa
qualquer participação na ação política. Então, a
felicidade a que o homem visa tem sua plenitude no pensamento puro.
Nota-se, desse modo, que uma parte fundamental da ética, até mesmo a mais elevada, é
apolítica.
No entanto, aquele que ainda, não atingiu o
conhecimento do sábio, alcançará a auto-suficiência na comunidade política, pois ele somente
é verdadeiramente ele mesmo na e pela comunidade, estando aí a sua condição de “animal
político”.
O princípio da vida social está em que o homem não se basta a si mesmo por não prover,
sozinho, às suas necessidades e não poder, por
si, isto é, fora da disciplina imposta pelas leis e
pela educação, atingir a virtude.
Assim, toda cidade tem um objetivo alta-
FILOSOFIA
Isto porque não nos dispomos a designar
felizes os que vivem frente às alterações da sorte
e porque a felicidade, de acordo com Aristóteles,
é algo perene e não facilmente sujeito a modificações, ao passo que a roda da fortuna pode,
muitas vezes, dar uma reviravolta completa na
vida de tal homem.
Realmente, não há dúvida de que, se tivéssemos de observar tais variações, designaríamos
muitas vezes tal homem de feliz hoje e de desventurado logo após, transfigurando-o numa
espécie de camaleão, ou numa casa edificada
sobre areias movediças.
Não seria um equívoco deixar-nos levar pelas contingências de um homem? A vitória ou a
ruína independem dos favores da fortuna, porém a vida do homem, como enunciou Aristóteles, também deve contar com os mesmos. Na
verdade, o que nos leva à felicidade são nossas
atividades conformes à excelência, e as atividades opostas nos levam a situações contrárias.
Segundo o mesmo filósofo
31
FILOSOFIA
mente moral, ideia reiterada, muitas vezes, na
Política de Aristóteles. Acrescente-se a isso que
a conduta do indivíduo apenas seria boa, em
geral, com o amparo das leis da cidade que impõem as regras e enunciam um poder coercitivo
na ausência da virtude. Como afirma Gabriel
Chalita (2003, p.42): “(...) a política visa infundir
um determinado caráter nos cidadãos, de modo
a garantir que a comunidade viva de maneira
justa e que todas as pessoas possam ser felizes
individualmente ou como partes de uma unidade maior”.
Reciprocamente, a virtude dos legisladores
se faz necessária para propor boas leis à cidade.
Existe, portanto, um entrelaçar entre ética e
política.
que a atividade peculiar do homem é um certo modo
de vida, e o mesmo é formado de uma atividade ou
de ações da alma que fazem supor o uso da razão, e a
função peculiar do homem bom é a prática da bondade ou ter ações que revelam tal condição, se qualquer
atividade é bem realizada de acordo com a forma de
excelência a apropriada). Vale repetir, o bem é agir em
conformidade com a excelência, se há mais de uma
excelência, de acordo com a melhor e mais completa
entre elas. ARISTÓTELES. Os pensadores. São Paulo:
Nova Cultural Ltda, 1996, p. 24.
NOTAS
9. No final da Tragédia de Sófocles, Édipo Rei, o
Corifeu pronuncia-se de igual forma: “Vede bem,
habitantes de Tebas, meus cidadãos! Este é Édipo,
decifrador dos enigmas famosos; ele foi um senhor
poderoso e por certo o invejastes em seus dias
passados de prosperidade invulgar. Em que abusos
de imensa desdita ele agora caiu! Sendo assim,
até o dia fatal de cerrarmos os olhos não devemos
dizer que um mortal foi feliz de verdade antes dele
cruzar as fronteiras da vida inconstante sem jamais
ter provado o sabor de qualquer sofrimento! (grifo
nosso). SÓFOCLES. A Trilogia Tebana: Édipo-Rei,
Édipo em Colono, Antígona. Trad. Mário Gama Cury.
8ª ed, Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed, 1998, p. 96.
1. Há ainda o adjetivo "daimónios", em modo neutro
"zó daimónion", o demoníaco.
2. Tal conceito tem grande relevância na Grécia, pois
a noção de "agathón" está intimamente conectada à
realidade, ao que designará o "ón", o ente. Ser e ser
bom estão estreitamente ligados. Para Platão, a ideia
do Bem, a ideia suprema, está “além da substância
ou essência”. MARÍAS, Julián. A Felicidade Humana.
Trad. de Diva Ribeiro de Toledo. São Paulo: Duas cidades, 1989, p 74.
3. Existem vocábulos que indicam privações na língua: coxo, cego, surdo, mudo.
4. Define-se substância como aquilo que é suficiente,
contrariamente ao acidente que é considerado aquilo
que precisa de substância para existir.
5. Autarquia ou autarcia é “ a condição de auto-suficiência do sábio para quem ser virtuoso basta para ser
feliz, segundo os cínicos (DIÓ..L., VII, 11) e os estóicos
(ibid., VII, 1, 65)”. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário
de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2ª. ed., São Paulo:
Martins Fontes, 1998, verbete autarquia.
6. Assim, se a atividade da alma por via da razão e
conforme a mesma é a função peculiar do homem e, se
enunciarmos que “uma pessoa” e “uma pessoa boa”
tem uma mesma atividade, explicitando: um citarista
e um bom citarista etc., sendo aí os atributos referentes à excelência adicionada ao nome da atividade (a
atividade de um citarista é tocar cítara, e a de um bom
citarista é tocá-la bem). Se este é o fato (e asseveramos
32
7. Transformações e causalidades ocorrem por toda a
vida e pode acontecer que o mais próspero seja acometido por enormes calamidades ao ficar velho. Príamo, rei de Tróia no período da guerra com os gregos,
poderia ser chamado de feliz? Obteve enorme poder,
muitas coisas boas lhe ocorreram, durante muito tempo foi feliz, porém nós sabemos como terminou Tróia.
8. Aristóteles usa, na frase citada, as duas versões helênicas de felicidade ( makárion kai eudaímonia).
10. Exemplificando: honrarias e desonra e a boa ou
má sorte dos filhos e, de um modo geral, dos descendentes.
11. Epicuro faz um raciocínio análogo ao discorrer sobre a morte: não devemos temer a morte pois, quando
estamos, ela não está e, quando ela está, não estamos.
A Carta sobre a Felicidade: A Meneceu. Trad. Álvaro
Lorencini e Enzo Del Carrotore. São Paulo: UNESP,
1997, p. 29.
12. Vale dizer, a permanência na prática de atividades
conformes à excelência.
13. Tais expressões foram extraídas do poema de Simonides referido e analisado por Platão no Protágoras, 339B; "tetragonal" parece que quer dizer "quatro
vezes reto" (reto na acepção de honesto) ou "quatro
vezes perfeito". ARISTÓTELES, op. cit., p. 21.
14 Deus é "noéseos néesis", pensamento do pensa-
www.fatea.br/angulo
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, Nicola. História da filosofia. 5ª. ed.,
Lisboa: Editorial Presença, 1991.
______. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi.
2ª. ed., São Paulo: Martins Fontes,1998.
ARISTÓTELES. Os pensadores. São Paulo: Nova
Cultural, 1996.
______. A política. Trad. Roberto Leal Ferreira. 2ª.ed.,
São Paulo: Martins Fontes, 1998.
BOSCH, Philippe van den. A filosofia e a felicidade.
Trad. Maria Ermentina Galvão. São Paulo: Martins
Fontes,1998.
CHALITA, Gabriel. Os dez mandamentos da ética.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
PLATÃO. O banquete. Trad. Albertino Pinheiro.
Bauru: Edipro, 1996.
MARIÁS, Julián. A felicidade humana. Trad. Diva
Ribeiro de Toledo. São Paulo: Duas cidades, 1989.
SÓFOCLES. A trilogia tebana: Édipo- rei, Édipo em
Colono, Antígona. Trad. Mário da Gama Kury. 8ª.
ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1998.
WOLF, Francis. Aristóteles e a política. Trad. Thereza Cristina Ferreira Stummer, Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Discurso Editorial, 1999.
FILOSOFIA
mento, e no homem a que mais se assemelha a isso.
MARIÁS, Julián. A felicidade humana, p. 79.
15. Há um elo entre o filósofo (o sábio) e a felicidade,
pois ele busca desvendar e cria uma sabedoria, um
conhecimento que aponte os verdadeiros caminhos
para a felicidade. A filosofia é uma disciplina direcionada a preocupar-se com a felicidade dos homens.
Filosofia significa em grego “amor pela sabedoria”
e "sophia", a sabedoria, quer dizer, originalmente, o
método da felicidade, e "methodos" significa caminho. Em sentido estrito, a sabedoria é uma técnica da
felicidade. BOSCH, Philipe van den. A filosofia e a
felicidade. Trad. Maria Ermentina Galvão. São Paulo:
Martins Fontes, 1998, p.17.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6b/Ribera-aristoteles.jpg
ângulo 133, Abr./Jun., 2013. p.
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