A Felicidade na Ética a Nicômaco de Aristóteles Ana Paula Sebe Filippo Doutora em Filosofia do Direito e do Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora de Filosofia do Direito na Pós-Graduação “Stricto Sensu” da Universidade Metropolitana de Santos e na Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo http://abrancoalmeida.files.wordpress.com/2009/12/escola-de-atenas.jpg RESUMO O artigo proposto versa sobre a felicidade na Ética a Nicômaco de Aristóteles. A ética visa ao bem e ao maior dos bens, a felicidade humana. A política tem por fim a felicidade de se viver junto. Neste entrelaçar entre ética e política, verificar-se-á que o homem que não atingiu o conhecimento do sábio, alcançará a auto-suficiência na comunidade política, pois ele somente é verdadeiramente ele mesmo na e pela comunidade, estando aí a sua condição de “animal político”. PALAVRAS-CHAVE Felicidade, Ética, Política, Virtude. ABSTRACT The proposed article concerns the happiness in Aristotle’s Ethics to Nicomaco. Ethics aims at the good, and the supreme good which is human happiness. Politics ultimate goal is the happiness of living together. When ethics and politics intertwine what comes out is that the one who has not achieved the knowledge of the wise, will become self- sufficient through the political community, since he is only and truly himself in the community, there lying his status of “ political animal”. KEYWORDS Happiness, Ethics, Politics, Virtue. FILOSOFIA 28 Discorreremos, neste artigo, sobre a felicidade na Ética a Nicômaco de Aristóteles. Iremos buscar a etimologia de tal vocábulo para, em seguida, dissertarmos sobre a "eudaimonia" em Aristóteles. Em grego, felicidade é designada por dois vocábulos - ou famílias de palavras - inteiramente diversas, provindas de duas raízes autônomas, que se movem em contextos distintos. Tais raízes são "daímon" e "mákar", das quais se originam várias palavras. É de se observar, entretanto, que, embora sejam inteiramente distintas, estas raízes, muitas vezes, no uso real, têm significações que se entrecruzam. Desta forma, pode-se dizer que o radical, assim o designaríamos, é o sentido preponderante, mas não podemos descartar o uso real, linguístico que costuma ser lasso e variável, levando, às vezes, num mesmo autor e, até, num mesmo texto, ao uso promíscuo das duas raízes. Assim, a distinção entre "daímon" e "mákar" não pode ser tomada literalmente e de maneira absoluta. Um sistema de preferências é o que existe. Platão utiliza, com mais frequência, as palavras "makários" (feliz), "makária" ou "makariótes" (felicidade); já Aristóteles emprega muito mais as que se originam de "daímon" como "eudaímon" (feliz) e "eudaimonía" (felicidade), embora use, também, aquelas designações (cf. MARÍAS, 1989, p. 73). O termo "daímon" significa um deus, primariamente, porém mais que um deus individual, singular; melhor seria o emprego de "théos", a deidade ou divino o que designaríamos um "gênio" e, noutro sentido, demônio. 1 No Banquete, Platão se indaga se o amor ou "éros" é um deus e nega ao responder, afirmando que é "daímon mégas", um grande "daímon". Para Sócrates, há um "daímon", um gênio que o aconselha a fazer ou não as coisas. Assevera, ainda, Platão que "éros" é um intermediário (metaxy) entre deus e o homem, que se parece com o filósofo, que é também um medianeiro entre o sábio e o ignorante: porque já o possui, o sábio não busca o saber, nem o ignorante, porque desconhece que lhe falta saber; o filósofo é o que anseia, que almeja a sabedoria, porque sabe que não a tem. (cf. MARÍAS, 1989, p. 73). Em grego, é comum utilizar o vocábulo "eudaimonía" para designar "felicidade". Significa ter um bom (eû) "daímon" , ter sorte, prosperidade. Este é o sentido primeiro e básico de "eudaimonía". Aristóteles foi o filósofo grego que mais a fundo se propôs esta questão, em várias obras, mas, especialmente, na Ética a Nicômaco, sobretudo nos livros I e X da referida obra. 2 Logo no início da obra Ética a Nicômaco, Aristóteles (1996, p. 17) coloca a felicidade em conexão com o bem, afirmando: "Toda arte e toda indagação e todo propósito, visam a algum bem; por isto foi dito acertadamente que o bem é aquilo que todas as pessoas visam". Assim, não há divergência, quando se diz que a felicidade é o bem supremo, tanto para a multidão como para os distintos, os refinados. Diversas vezes, Aristóteles trata de massas e minorias (de forma literal "os muitos" e "os poucos"), mas aqui enuncia os refinados, ou seja, os que detêm certo saber ou polimento. Existe, deste modo, uma concordância global; porém, quando se indaga sobre o que é a felicidade, quanto ao conteúdo, iniciam-se as divergências entre o vulgo e os sábios. Uns acreditam que a felicidade consiste no prazer, na riqueza ou nas honrarias; outros, na privação. Em Aristóteles, tal conceito tem grande relevância: uma das dez categorias é a "stéresis" ou privação. Esta significa alguém não ter algo que lhe cabe ou de que precisa. Não se confunde com carência que é não ter algo. Assim, se não temos asas ou brânquias, somos carentes delas e não privados; porém se há ausência de um braço, estamos privados dele, daí a palavra “maneta”. 3 Pode-se dizer, desta forma, que a "stéresis" não é uma ausência qualquer, mas, sim, a falta daquilo que nos pertence ou nos é necessário. A saúde para o doente, os bens necessários para o pobre, o conhecimento para o ignorante são privações. É de se observar, nestas situações, www.fatea.br/angulo "Parece que a felicidade, mais que qualquer outro bem, é tida como este bem supremo, pois a escolhemos sempre por si mesma, e nunca por causa de algo mais, mas as honrarias, o prazer, a inteligência e todas as outras formas de excelência, embora as escolhamos por si mesmas (escolhê-las-íamos ainda nada resultasse delas), que escolhemo-las por causa da felicidade, pensando que através delas seremos felizes". (1996, p. 23) Conforme, ainda, nos assegura Aristóteles, múltiplos são os fins das atividades do homem e alguns deles são almejados com vista somente a fins superiores. Assim, queremos ter saúde, riqueza etc., pela satisfação e prazer que podem proporcionar. Há, porém, um fim supremo, um fim que é almejado por si mesmo e não para um fim futuro. A felicidade, para Aristóteles, é este fim. Prosseguindo, tal filósofo volta à autarquia, ângulo 133, Abr./Jun., 2013. p. 027-033 com restrições bem perspicazes, dizendo que isso também acontece com a autarquia, pois o bem perfeito parece ser suficiente. Não obstante, não se entende por suficiente o viver, para si só, uma vida sozinha, mas também para seus pais, filhos, esposa e, de modo geral, para seus amigos e concidadãos, porque o homem é por natureza um animal que vive em sociedade. Considera-se "suficiente“ o que por si só torna a vida desejável e não necessita nada” (MARÍAS, 1989, p. 77); e acredita-se que esta é a felicidade. Entretanto, Aristóteles não se satisfaz com isto e procura saber qual a função do homem para que haja, assim, maior possibilidade de desvendar o que é a felicidade. Faz-se necessário, para encontrarmos uma resposta, determinar a função própria do homem. Assim como para um flautista, um escultor ou qualquer outro artista e, em geral, para todos que têm uma atividade ou função, considera o mesmo filósofo que o bem e a perfeição residem na função, o que, da mesma forma, se presume que o ser humano tem uma função própria, que pressupõe o uso da razão. Portanto, esta função, enquanto tal, não é a atividade sensitiva comum aos animais, mas a atividade racional. Desse modo, o homem só encontrará a felicidade se viver em conformidade com a razão; e esta vida é a virtude. A análise da felicidade é transformada também numa pesquisa da virtude. 6 Lembra-nos, ainda, o mesmo mestre, que a felicidade necessita duma virtude perfeita e de uma vida inteira 7, pois uma andorinha não faz o verão, assim como um só dia, ou um pequeno espaço de tempo, não faz um homem bem-aventurado e feliz. 8 Pode-se verificar que a duração e a permanência são algo decisivo na cultura grega. É um ideal helênico a perenidade das coisas, tudo passa, tudo é efêmero, as coisas são e deixam de ser, nascem e morrem; o grego luta para encontrar algo que perdure por toda a vida, que seja para sempre. Algo passageiro não pode ser denominado felicidade. Aristóteles, dando continuidade à inves- FILOSOFIA que a felicidade se identifica com as privações, porém, quando temos tais condições, a importância disso se perde. O homem engaiolado sonha com a liberdade e não se contém de felicidade, quando é posto em liberdade. O que é livre não valoriza tal condição. Entretanto, existe outra noção essencial para os gregos e especialmente para Aristóteles: a autarquia. Esta vem a ser a suficiência, a condição de bastar-se a si mesmo. 4 Na obra em análise, Aristóteles (1996, p. 24) a define ao dar a sua opinião sobre o que é a felicidade. "(...) 'auto-suficiente' pode ser definido como aquilo que, em si, torna a vida desejável por não ser carente de alguma coisa...” 5 Para o filósofo citado, a felicidade é algo final e auto-suficiente. Antes, porém, de adentrarmos neste tema, vejamos o que ele quis dizer ao discorrer sobre a felicidade como algo final. Isto significa que a buscamos por ela mesma e não por outra coisa. Ao dissertar sobre tal assunto, diz Aristóteles: 29 FILOSOFIA tigação sobre a felicidade, coloca-nos outras indagações: enquanto estivermos vivos, não poderíamos ser chamados de felizes? Como enunciou Sólon: é preciso "ver o fim"? 9 Mesmo que adotemos tal pensamento, pode um homem ser verdadeiramente feliz após a sua morte? Isto não é totalmente irreal, particularmente para o filósofo citado que define a felicidade como uma atividade? Se não designamos o indivíduo morto de feliz e, se Sólon não pretendeu aduzir isto, mas que só quando o indivíduo está morto, pode, com convicção, ser considerado feliz uma vez que os males e infortúnios não o atingem mais, mesmo assim tal opção dá margem a discussões. Isto porque se tem em mente que o mal, assim como o bem, existem em relação tanto aos que morrem, como também em relação aos vivos, porém estes não têm consciência deles. 10 Existe, ainda, aqui, uma questão, pois, embora um indivíduo tenha percorrido a vida num estado de bem-aventurança, tendo uma morte condizente com a sua vida, vários infortúnios podem acontecer com os descendentes do mesmo. Certos descendentes podem ser bons e gozar de uma vida adequada aos seus méritos, ao passo que o contrário pode ocorrer com outros. Acrescenta-se a isto, em termos de tempo, que a distância entre os descendentes e ascendentes iria crescendo de forma desmedida. Surpreendente seria, desse modo, se os que morrem fossem atingidos por esta inconstância de sorte e fossem ora felizes, ora não; também seria notável se as vicissitudes dos descendentes não tocassem a felicidade de seus antepassados, de certa maneira, e no decorrer de certo tempo. Voltemos ao nosso primeiro impasse, pois, talvez, por meio de uma análise do mesmo, nossa dificuldade possa ser solucionada. Se o fim do homem tiver de ser visto para que somente então possamos congratular-nos com ele por sua bem-aventurança, porém, não por ser bem-aventurado, e sim por tê-lo sido anteriormente, será contraditório certamente que, no exato instante em que o mesmo se torna feliz, tal qualidade não lhe possa mais ser atribuída. 11 http://antoniogarcianeto.files.wordpress.com/2013/04/jan-lievens_still-life.jpg 30 www.fatea.br/angulo "O homem feliz, portanto, deverá possuir o atributo em questão 12 e será feliz por toda a sua vida, pois estará sempre ou pelo menos frequentemente, engajado na prática ou na contemplação do que é conforme à excelência. Da mesma forma ele suportará as vicissitudes com maior galhardia e dignidade, sendo como é, 'verdadeiramente bom e irrepreensivelmente tetragonal". 13 (ARISTÓTELES, 1996, p. 21) O prazer está vinculado à vida que acompanha a excelência. Conseqüentemente, esta é a real atividade do homem; e qualquer atividade é seguida e laureada pelo prazer. Tal prazer implica no equilíbrio, na moderação, na "ataraxia", cujo conceito é utilizado também por Aristóteles, termo que se costuma designar por “meio termo”, ou seja, o que é distante dos extremos. Este filósofo é cauteloso em asseverar que esta "ataraxia" não consiste em falta de emoção ou de coragem: é a medida em tudo isso. O homem que a possui é senhor de suas emoções, não se altera, ou seja, não se converte em outro, estando apto à vida feliz. No livro X da Ética a Nicômaco, mais preci- ângulo 133, Abr./Jun., 2013. p. 027-033 samente nos capítulos 6-8, Aristóteles faz a última ponderação sobre a felicidade, dizendo que a mesma não é um hábito nem uma disposição e sim uma atividade. O estagirita usa três conceitos o que se faz necessário diferenciar: "poíesis" é produzir, fabricar, atividade que se encerra numa obra ou produto; "práxis", trata-se de uma atividade cuja finalidade não é algo diferente dela mas ela mesma, não uma obra ou "érgon" e sim a "enérgeia", como ocorre com quem toca flauta ou com o governante; "theoría", uma terceira forma de atividade, uma variação da "práxis", significa visão ou o visto, por exemplo, uma procissão. É costumeiro, em nossas línguas, opor a teoria à prática - os pedantes que desconhecem o grego preferem dizer "práxis" -, porém, no filósofo enunciado, não se contrapõem: a "práxis" mais prática de todas é a "theoría". E a razão é, novamente, a suficiência: o governante precisa da cidade para governar, não dispondo dela, não poderá exercer sua atividade. A theoría, contrariamente, não requer nada; o indivíduo cuja práxis é a theoría é auto-suficiente, não necessita de nada fora de si, é uma atividade "divina", os deuses a têm. 14 A auto-suficiência será por conseguinte, alcançada nessa vida, a contemplativa, com efeito, a mais elevada para o sábio 15, que dispensa qualquer participação na ação política. Então, a felicidade a que o homem visa tem sua plenitude no pensamento puro. Nota-se, desse modo, que uma parte fundamental da ética, até mesmo a mais elevada, é apolítica. No entanto, aquele que ainda, não atingiu o conhecimento do sábio, alcançará a auto-suficiência na comunidade política, pois ele somente é verdadeiramente ele mesmo na e pela comunidade, estando aí a sua condição de “animal político”. O princípio da vida social está em que o homem não se basta a si mesmo por não prover, sozinho, às suas necessidades e não poder, por si, isto é, fora da disciplina imposta pelas leis e pela educação, atingir a virtude. Assim, toda cidade tem um objetivo alta- FILOSOFIA Isto porque não nos dispomos a designar felizes os que vivem frente às alterações da sorte e porque a felicidade, de acordo com Aristóteles, é algo perene e não facilmente sujeito a modificações, ao passo que a roda da fortuna pode, muitas vezes, dar uma reviravolta completa na vida de tal homem. Realmente, não há dúvida de que, se tivéssemos de observar tais variações, designaríamos muitas vezes tal homem de feliz hoje e de desventurado logo após, transfigurando-o numa espécie de camaleão, ou numa casa edificada sobre areias movediças. Não seria um equívoco deixar-nos levar pelas contingências de um homem? A vitória ou a ruína independem dos favores da fortuna, porém a vida do homem, como enunciou Aristóteles, também deve contar com os mesmos. Na verdade, o que nos leva à felicidade são nossas atividades conformes à excelência, e as atividades opostas nos levam a situações contrárias. Segundo o mesmo filósofo 31 FILOSOFIA mente moral, ideia reiterada, muitas vezes, na Política de Aristóteles. Acrescente-se a isso que a conduta do indivíduo apenas seria boa, em geral, com o amparo das leis da cidade que impõem as regras e enunciam um poder coercitivo na ausência da virtude. Como afirma Gabriel Chalita (2003, p.42): “(...) a política visa infundir um determinado caráter nos cidadãos, de modo a garantir que a comunidade viva de maneira justa e que todas as pessoas possam ser felizes individualmente ou como partes de uma unidade maior”. Reciprocamente, a virtude dos legisladores se faz necessária para propor boas leis à cidade. Existe, portanto, um entrelaçar entre ética e política. que a atividade peculiar do homem é um certo modo de vida, e o mesmo é formado de uma atividade ou de ações da alma que fazem supor o uso da razão, e a função peculiar do homem bom é a prática da bondade ou ter ações que revelam tal condição, se qualquer atividade é bem realizada de acordo com a forma de excelência a apropriada). Vale repetir, o bem é agir em conformidade com a excelência, se há mais de uma excelência, de acordo com a melhor e mais completa entre elas. ARISTÓTELES. Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural Ltda, 1996, p. 24. NOTAS 9. No final da Tragédia de Sófocles, Édipo Rei, o Corifeu pronuncia-se de igual forma: “Vede bem, habitantes de Tebas, meus cidadãos! Este é Édipo, decifrador dos enigmas famosos; ele foi um senhor poderoso e por certo o invejastes em seus dias passados de prosperidade invulgar. Em que abusos de imensa desdita ele agora caiu! Sendo assim, até o dia fatal de cerrarmos os olhos não devemos dizer que um mortal foi feliz de verdade antes dele cruzar as fronteiras da vida inconstante sem jamais ter provado o sabor de qualquer sofrimento! (grifo nosso). SÓFOCLES. A Trilogia Tebana: Édipo-Rei, Édipo em Colono, Antígona. Trad. Mário Gama Cury. 8ª ed, Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed, 1998, p. 96. 1. Há ainda o adjetivo "daimónios", em modo neutro "zó daimónion", o demoníaco. 2. Tal conceito tem grande relevância na Grécia, pois a noção de "agathón" está intimamente conectada à realidade, ao que designará o "ón", o ente. Ser e ser bom estão estreitamente ligados. Para Platão, a ideia do Bem, a ideia suprema, está “além da substância ou essência”. MARÍAS, Julián. A Felicidade Humana. Trad. de Diva Ribeiro de Toledo. São Paulo: Duas cidades, 1989, p 74. 3. Existem vocábulos que indicam privações na língua: coxo, cego, surdo, mudo. 4. Define-se substância como aquilo que é suficiente, contrariamente ao acidente que é considerado aquilo que precisa de substância para existir. 5. Autarquia ou autarcia é “ a condição de auto-suficiência do sábio para quem ser virtuoso basta para ser feliz, segundo os cínicos (DIÓ..L., VII, 11) e os estóicos (ibid., VII, 1, 65)”. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2ª. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1998, verbete autarquia. 6. Assim, se a atividade da alma por via da razão e conforme a mesma é a função peculiar do homem e, se enunciarmos que “uma pessoa” e “uma pessoa boa” tem uma mesma atividade, explicitando: um citarista e um bom citarista etc., sendo aí os atributos referentes à excelência adicionada ao nome da atividade (a atividade de um citarista é tocar cítara, e a de um bom citarista é tocá-la bem). Se este é o fato (e asseveramos 32 7. Transformações e causalidades ocorrem por toda a vida e pode acontecer que o mais próspero seja acometido por enormes calamidades ao ficar velho. Príamo, rei de Tróia no período da guerra com os gregos, poderia ser chamado de feliz? Obteve enorme poder, muitas coisas boas lhe ocorreram, durante muito tempo foi feliz, porém nós sabemos como terminou Tróia. 8. Aristóteles usa, na frase citada, as duas versões helênicas de felicidade ( makárion kai eudaímonia). 10. Exemplificando: honrarias e desonra e a boa ou má sorte dos filhos e, de um modo geral, dos descendentes. 11. Epicuro faz um raciocínio análogo ao discorrer sobre a morte: não devemos temer a morte pois, quando estamos, ela não está e, quando ela está, não estamos. A Carta sobre a Felicidade: A Meneceu. Trad. Álvaro Lorencini e Enzo Del Carrotore. São Paulo: UNESP, 1997, p. 29. 12. Vale dizer, a permanência na prática de atividades conformes à excelência. 13. Tais expressões foram extraídas do poema de Simonides referido e analisado por Platão no Protágoras, 339B; "tetragonal" parece que quer dizer "quatro vezes reto" (reto na acepção de honesto) ou "quatro vezes perfeito". ARISTÓTELES, op. cit., p. 21. 14 Deus é "noéseos néesis", pensamento do pensa- www.fatea.br/angulo REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. História da filosofia. 5ª. ed., Lisboa: Editorial Presença, 1991. ______. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi. 2ª. ed., São Paulo: Martins Fontes,1998. ARISTÓTELES. Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996. ______. A política. Trad. Roberto Leal Ferreira. 2ª.ed., São Paulo: Martins Fontes, 1998. BOSCH, Philippe van den. A filosofia e a felicidade. Trad. Maria Ermentina Galvão. São Paulo: Martins Fontes,1998. CHALITA, Gabriel. Os dez mandamentos da ética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. PLATÃO. O banquete. Trad. Albertino Pinheiro. Bauru: Edipro, 1996. MARIÁS, Julián. A felicidade humana. Trad. Diva Ribeiro de Toledo. São Paulo: Duas cidades, 1989. SÓFOCLES. A trilogia tebana: Édipo- rei, Édipo em Colono, Antígona. Trad. Mário da Gama Kury. 8ª. ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1998. WOLF, Francis. Aristóteles e a política. Trad. Thereza Cristina Ferreira Stummer, Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Discurso Editorial, 1999. FILOSOFIA mento, e no homem a que mais se assemelha a isso. MARIÁS, Julián. A felicidade humana, p. 79. 15. Há um elo entre o filósofo (o sábio) e a felicidade, pois ele busca desvendar e cria uma sabedoria, um conhecimento que aponte os verdadeiros caminhos para a felicidade. A filosofia é uma disciplina direcionada a preocupar-se com a felicidade dos homens. Filosofia significa em grego “amor pela sabedoria” e "sophia", a sabedoria, quer dizer, originalmente, o método da felicidade, e "methodos" significa caminho. Em sentido estrito, a sabedoria é uma técnica da felicidade. BOSCH, Philipe van den. A filosofia e a felicidade. Trad. Maria Ermentina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p.17. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6b/Ribera-aristoteles.jpg ângulo 133, Abr./Jun., 2013. p. 33