Aplicação da metodologia de alocação de custos conjuntos à firma bancária Uma das dificuldades, ao se decompor o spread bancário, recai sobre a divisão dos custos administrativos dentre as diversas operações que os bancos efetuam. Até aqui, os trabalhos desenvolvidos pelo Banco Central do Brasil, no que se refere à alocação de custos administrativos – aí incluídos os de trabalho na metodologia do BC – dentre as diversas modalidades de crédito livre, partiram da hipótese de que os bancos alocam seus recursos administrativos — e, portanto, sua parcela de custos conjuntos — proporcionalmente ao retorno que essas modalidades geram. Dessa forma, os custos agregados explicitados nos balanços dos bancos são divididos de forma a alocar maiores parcelas dos custos administrativos totais para as operações mais rentáveis, ponderadas pelos volumes de cada modalidade. Trata-se, portanto, de uma metodologia baseada em critérios simples de proporcionalidade que, não necessariamente, refletem a escolha do banco em sua decisão alocativa, principalmente levando-se em conta restrições regulatórias como os direcionamentos obrigatórios de crédito. Conseqüentemente problemas emergem dessa suposição, o que pode estar comprometendo, em alguma medida, o cálculo de decomposição apresentado. O primeiro problema se refere à divisão do que seja custo particular e o que seja custo comum. Isso reflete na estrutura de custos, ao não considerar o custo real de cada produto, e impacta, portanto, na própria definição de rentabilidade. Um outro problema está vinculado à questão dos subsídios cruzados. Ao não considerar a existência de produtos, que geram retorno negativo por terem seus preços fixados exogenamente, o cálculo dos custos administrativos fica viesado naquelas modalidades que operam a preços livres — justamente as que são consideradas na decomposição do spread. Dentro desse contexto, pretendemos apresentar aqui uma metodologia alternativa para a apuração dos custos administrativos por produto, visando à correção desses problemas e à estimação mais precisa dos custos de cada modalidade de crédito — tanto da carteira livre como da carteira direcionada dos bancos no Brasil. Essa metodologia está baseada na teoria de alocação de custos conjuntos, que se desenvolveu com base no instrumental da teoria dos jogos cooperativos, com ênfase na análise de formação de preços para empresas reguladas, que oferecem diversos produtos. A idéia aqui é importar esse instrumental para a firma bancária, tendo em vista que os bancos — assim como as empresas que originalmente motivaram o desenvolvimento dessa teoria — enfrentam a dificuldade de alocar recursos comuns em um ambiente de produção conjunta. No caso específico deste estudo, trata-se de alocar recursos administrativos dentre as diversas modalidades de crédito oferecidas com o objetivo de possibilitar uma apuração mais precisa dos custos envolvidos em cada operação e, portanto, do spread cobrado por modalidade de crédito. O problema da alocação de custos conjuntos dentre os diferentes produtos oferecidos por uma mesma empresa ganhou força na literatura econômica a partir, principalmente, da década de 1980. A base dos modelos de alocação de custos parte de um ambiente em que a empresa se defronta com uma função de produção com tecnologia conjunta [...]. Anterior ao próprio surgimento da teoria de jogos cooperativos - com a publicação em 1944 do trabalho seminal de Von Neumann e Morgenstern - o problema da alocação de custos comuns já havia gerado resultados importantes que embasaram o Tenessee Valley Authority Act, de 1933, que visava resolver o problema de divisão de custos comuns dentre três objetivos distintos: geração de energia, controle de enchentes e navegação [...]. 1 Ao contrário, os custos totais são determinados pela parcela de custos particulares acrescidos dos custos comuns a todos os bens – custos não-exclusivos. Conseqüentemente a formação de preços de cada produto deve considerar a geração de receitas que cubram tanto seus custos particulares como também uma parcela que, somada em todos os bens, deve cobrir os custos comuns. Isso se aplica principalmente a empresas reguladas, em que a solução competitiva com preço igual a custo marginal pode não cobrir o custo total. A teoria de alocação de custos avançou com base no instrumental de jogos cooperativos. A idéia é modelar a divisão de custos e benefícios como um jogo de custos em que cada produto/serviço é tratado como um jogador, ao qual são atribuídos custos particulares e parte dos custos conjuntos. Busca-se assim uma solução para a questão da viabilidade, incorporando situações em que a empresa apresenta retornos crescentes de escala e custos marginais decrescentes. Noções de eficiência, de incentivos à cooperação, de subsídios cruzados e de monotonicidade passam a ser consideradas e diversos métodos surgem com base em uma análise axiomática. Young (1994) apresenta os métodos mais relevantes da teoria de alocação de custos conjuntos como o valor de Shapley, o valor de Shapley ponderado, os preços de Ramsey e os preços de Aumann-Shapley – este último aplicado a problemas contínuos e que, contrariamente aos preços de Ramsey, independe das elasticidades da demanda. [...] Fonte COSTA, Ana Carla Abrão; NAKANE, Márcio I. Revisitando a metodologia de decomposição do spread bancário no Brasil. Disponível em: <http://www.econ.fea.usp.br/bacen/Artigos/SpreadRevFinalset04.PDF>. Acesso em: 04 ago. 2005. 2