UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO EDUARDO MORESCHI INFLUÊNCIA DA INIBIÇÃO DA ENZIMA COX-2 NO PROCESSO DE REPARO DE ENXERTOS ÓSSEOS AUTÓGENOS INTRAMEMBRANOSOS E ENDOCONDRAIS BAURU 2012 EDUARDO MORESCHI INFLUÊNCIA DA INIBIÇÃO DA ENZIMA COX-2 NO PROCESSO DE REPARO DE ENXERTOS ÓSSEOS AUTÓGENOS INTRAMEMBRANOSOS E ENDOCONDRAIS Trabalho apresentado ao Programa de Pós-graduação em Odontologia, área de concentração: Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais, da Universidade do Sagrado Coração, como requisito para a defesa da Dissertação de Mestrado, sob orientação da Profa. Dra. Mariza Akemi Matsumoto. BAURU 2012 Moreschi, Eduardo M8439i Influência da inibição da enzima Cox-2 no processo de reparo de enxertos ósseos autógenos intramembranosos e endocondrais / Eduardo Moreschi -- 2012. 50f. : il. Orientadora: Profa. Dra. Mariza Akemi Matsumoto Dissertação (Mestrado em Odontologia em Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-faciais) – Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP. 1. Ciclo-oxigenase 2. 2. Enxertos ósseos autógenos. 3. Imuno-histoquímica. 4. Cbfa1/Runx2. 5. VEGF. I. Matsumoto, Mariza Akemi. II. Título. Dedico este trabalho: À Ana Regina, minha querida esposa, exemplo de dedicação e perseverança. Aos meus irmãos: Dorival , Marcos e Fernando, por serem exemplos na minha vida. Aos meus pais: Dorival (in memoriam) e Lucilia, por todo amor, cuidado e carinho. AGRADECIMENTOS A minha orientadora,Profa Dra Mariza Akemi Matsumoto. Por quem tenho grande respeito e admiração. Aos amigos que colaboraram no trabalho,Cláudia Biguetti, Gustavo Caviquioli e Leandro Holgado. Sem vocês esse trabalho não seria possível. Ao meu fiel amigo, Newton Kamei. Por todo companherismo e força nesse período. Ao meu amigo e irmão, Michel Zini. Pelos momentos de amizade e trocas de conhecimento. À direção do Centro Universitário de Maringá (CESUMAR), nas pessoas dos magníficos reitor e vice-reitor, Prof. Wilson de Matos Silva e Prof. Wilson de Matos Silva Filho.Por terem me apoiado nessa conquista. “EPÍGRAFE” “Conheça tos as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana.” (Carl G. Jung) RESUMO O sucesso das reconstruções ósseas de rebordos atróficos utilizando enxerto ósseo autógeno em bloco, dependem basicamente da sua adequada adaptação ao leito receptor e características do enxerto, como origem embriológica endocondral (EC) ou intramembranosa (IM), influenciada por diversas moléculas locais. Considerando o papel fundamental da enzima ciclooxigenase 2 (Cox-2) no reparo ósseo, o presente estudo objetivou analisar o efeito da inibição dessa enzima no processo de incorporação de enxertos ósseos em bloco provenientes da crista ilíaca (EC) e calvária (IM). Para tanto, 32 coelhos machos Nova Zelândia foram divididos em dois grupos: Controle (EC e IM) – tratados com solução salina, e Anti-inflamatório - AINE (EC e IM) – tratados com 6mg/Kg de droga anti-inflamatória não esteroidal etoricoxibe, sendo eutanasiados nos períodos de 7, 14, 30 e 60 dias. A porcentagem de osso neoformado na interface dos enxertos IM do grupo controle foi 14%, quando uma marcação mais intensa do fator de transcrição osteoblástico (Cbfa1/Runx2) foi observada, contra 4,75% do grupo AINE no período de 14 dias (P<0.05). Nenhuma diferença estatística foi detectada entre os enxertos EC em ambos os grupos, no entanto, o grupo AINE apresentou marcação mais intensa para Cbfa1/Runx2 nos períodos de 14 e 30 dias. Não ocorreram diferenças na marcação do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). Sugere-se que a inibição da Cox-2 influenciou na atividade osteogênica de enxertos ósseos “onlay” sem, no entanto, prejudicar o reparo ósseo. Palavras-chave: Ciclo-oxigenase 2. Enxertos ósseos autógenos. Imunohistoquímica. Ossificação intramembranosa. Ossificação endocondral. Cbfa1/Runx2. VEGF. ABSTRACT Success of alveolar reconstructions using onlay autogenous block bone grafts depends basically on their adequate integration to the recipient bed, characteristics of the graft, from endochondral (EC) or intramembranous (IM) embryologic origins, influenced by a number of local molecules. Considering the fundamental role of cyclooxygenase (COX-2) in bone repair, the aim of the present study was to analyze the effect of its inhibition in the incorporation of iliac crest (EC) and calvaria (IM) bone grafts. Thirty two male rabbits were divided into two groups: Control (EC and IM) –treated with saline solution, and Nonsteroidal antiinflammatory drug - NSAID (EC and IM) – treated with 6mg/Kg - etoricoxib, to be euthanized after 7, 14, 30 and 60 days. The percentage of new formed bone in the interface area of the IM control grafts was of 14%, when more intense Core binding factor 1 (Cbfa1/Runx2) labeling was registered, against 4.75% of NSAID group at day 14 (P<0.05). No differences were detected between the EC grafts in both situations, although NSAID group presented a more intense Cbfa1/Runx2 labeling at days 14 and 30. No Vascular endothelial growth factor (VEGF) labeling differences were detected. It is suggested that inhibition of COX-2 influences osteogenic activity of onlay bone grafts but does not impair their healing. Key-words: Cyclo-oxygenase 2. Autogenous bone grafts. Immunohistochemistry. Intramembranous ossification. Endochondral ossification. Cbfa1/Runx-2. VEGF. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 05 2 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................... 07 2.1 ORIGEM EMBRIONÁRIA DOS ENXERTOS AUTÓGENOS........................ 07 2.2 MECANISMOS DE AÇÃO DA COX-2 SOBRE O REPARO ÓSSEO............ 10 3 OBJETIVOS....................................................................................................... 15 4 MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................. 4.1 ANIMAIS................................................................................................ 4.2 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL............................................................. 4.3 PROCEDIMENTO CIRÚRGICO...................................................................... 4.4 ANÁLISE MACROSCÓPICA DOS ENXERTOS............................................. 4.5 ANÁLISE MICROSCÓPICA MORFOLÓGICA................................................ 4.6 ANÁLISE HISTOMORFOMÉTRICA................................................................ 4.7 ANÁLISE IMUNOHISTOQUÍMICA.................................................................. 4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA................................................................................. 16 16 16 17 19 19 20 23 24 5 RESULTADOS................................................................................................... 5.1 ANÁLISE MACROSCÓPICA DOS ENXERTOS EM BLOCO......................... 5.2 ANÁLISE MICROSCÓPICA MORFOLÓGICA DAS ÁREAS ENXERTADAS. 5.2.1 Enxerto Calota.................................................................................. 5.2.2 Enxerto Ilíaco.................................................................................... 5.3 ANÁLISE DA QUANTIFICAÇÃO ÓSSEA POR MEIO DE HISTOMORFOMETRIA ................................................................................. 5.4 ANÁLISE IMUNOHISTOQUÍMICA.................................................................. 5.4.1 Enxerto Calota................................................................................... 5.4.2 Enxerto Ilíaco..................................................................................... 25 25 27 27 29 6 DISCUSSÃO ............................................................................................ 40 7 CONCLUSÃO .......................................................................................... 43 REFERÊNCIAS.......................................................................................... 44 ANEXO A - Modelo de artigo............................................................................... 55 31 33 34 37 ANEXO B – Normas de Publicação do International Journal of Oral and Maxillofacial Surgery....................................................................................... 84 5 1 Introdução Cirurgias realizadas nos ossos da face podem requerer o uso de enxerto ósseo autógeno para reconstrução de deformidades congênitas ou adquiridas. O enxerto ósseo também pode ser usado para preenchimento de defeitos em situação “inlay” (cavidades), promover suporte estrutural em cirurgia ortognática, estabelecer continuidade em fraturas de face ou ainda reconstruir perímetros perdidos por tumores, traumas ou perdas funcionais em situação aposicional ou “onlay”. Os eventos biológicos que envolvem o reparo e a incorporação dos enxertos ósseos autógenos são parcialmente conhecidos e seguem iniciando pelo processo inflamatório, revascularização, osteocondução e repovoamento celular, osteoindução, osteogênese e remodelação.1 O material utilizado para enxertia, dependendo de sua composição e origem, pode atuar no osso receptor por meio de três mecanismos biológicos: osteogênese, osteoindução e osteocondução.2,3,4 O único material disponível com a característica de osteogênese é o osso autógeno.2,5 Sua capacidade de neoformar o tecido ósseo, mesmo na ausência de células mesenquimais indiferenciadas, caracteriza esta propriedade por ser composto de células viáveis, as quais produzem fatores de crescimento para este fim.6 Existem inúmeros trabalhos na literatura acerca da influência das diferentes origens embriológicas de áreas doadoras, no processo de reparo e manutenção dos enxertos utilizados na região bucomaxilofacial, inicialmente considerando-se a micro arquitetura do arcabouço ósseo e a quantidade de osso cortical ou medular.7,8,9,10 Atualmente, evidências apontam para diferenças moleculares e bioquímicas entre os dois tipos de ossos, como os tipos de proteínas ósseas morfogenéticas (BMPs) predominantes11 e metaloproteases envolvidas na reabsorção óssea.12 Tais resultados vêm demonstrando o comportamento dos enxertos ósseos autógenos nas áreas reconstruídas, auxiliando no entendimento do clínico frente à sua conduta quanto ao planejamento cirúrgico e previsão de manutenção. 6 Apesar destes estudos, muito ainda existe a ser descoberto no que se refere ao entendimento da reparação das áreas de enxertia. Outras moléculas importantes também estão envolvidas neste processo de reparo e que podem influenciar sua dinâmica, como a cicloxigenase-2 (Cox-2). Graças às drogas anti-inflamatórias seletivas para esta enzima, tais como: celecoxibe, rofecoxibe, lumiracoxibe, etoricoxibe, entre outras, conhecidas por não alterarem a proteção gástrica produzida pelas prostaglandinas geradas pela enzima Cox-1,13,14,15,16,17 pôde-se verificar sua importância no processo de reparação do tecido ósseo, a despeito dos efeitos colaterais que levaram muitos destes medicamentos a serem retirados do mercado. A osteogênese pode ser afetada pela ação de diversos mediadores químicos, tanto hormônios sistêmicos quanto fatores locais.18 O Fator de Crescimento Endotelial Vascular (VEGF) apresenta a propriedade de induzir a angiogênese, sendo expressa antes da formação vascular e sua expressão ocorre no processo de reparo ósseo está diretamente associada com células envolvidas na formação óssea (osteoblastos).19 Cbfa1/Runx2 é um fator de transcrição, sendo uma proteína essencial para a formação e diferenciação osteoblástica.20 Sendo assim, justifica-se investigar a ação da inibição da enzima Cox-2 no processo de reparo de enxertos autógenos endocondral e intramembranoso, associando a marcação das moléculas VEGF e Cbfa1/Runx2 no processo de incorporação ao leito receptor e reabsorção, a fim de se contribuir para o entendimento dos mecanismos biológicos nestas condições. O presente trabalho objetivou analisar a influencia da enzima ciclo-oxigenase 2 (Cox-2) na inibição do fator de transcrição osteoblástico Core binding Factor 1 (Cbfa1/Runx2) e do fator de crescimento vascular endotelial (VEGF) nas regiões de interface entre enxerto/leito receptor quando da utilização de enxertos intramembranoso e endocondral, por meio de análise macroscópica da reabsorção dos enxertos, análise microscópica morfológica, análise histomorfométrica e análise imuno-histoquímica. 7 2 Revisão da literatura 2.1 Origem embrionária dos enxertos autógenos Um dos fatores relacionado ao processo de reparo ósseo dos enxertos autógenos que causou discordância na literatura foi a comparação de enxertos com origens embriológicas diferentes. Smith e Abramson21, em 1974, foram os primeiros a pesquisar o comportamento do volume destes tecidos após períodos experimentais em coelhos. Realizaram um estudo comparativo com enxertos ósseos colhidos da calota craniana, com origem intramembranosa, e enxertos endocondrais retirados da crista ilíaca, ambos colocados subcutaneamente na bochecha e subperiostealmente no dorso nasal, analisados em períodos de 1, 3, 6 e 12 meses, observaram que o enxerto de origem endocondral apresentou severa reabsorção quando comparado ao enxerto de origem intramembranosa, para todos os tempos experimentais. Os achados deste estudo foram corroborados por outras pesquisas.7,22 Com base em achados clínicos que sugeriam a menor reabsorção dos enxertos de origem intramembranosa em relação aos endocondrais, Zins & Whitaker7, em 1983, realizaram um estudo comparativo utilizando como modelo experimental macacos e coelhos. Em ambos os grupos, o osso intramembranoso manteve seu volume de maneira mais satisfatória, sendo a perda de volume dos enxertos de origem endocondral cerca de três vezes maior no grupo dos coelhos e quatro vezes maior no grupo dos macacos. Na tentativa de esclarecer o motivo pelo qual os enxertos ósseos com origem intramembranosa mantinham maior manutenção de volume quando comparado aos enxertos endocondrais, Kusiak et al.23, em 1985, realizaram um estudo para avaliação da revascularização de enxertos “onlay”, através da aplicação de material de contraste (silicone) para avaliações micro-angiográficas de enxertos ósseos “onlay” em coelhos, nos períodos de 1, 3, 7, 14 e 21 dias . Os autores compararam enxertos ósseos intramembranosos bi-corticais de arco zigomático com enxertos endocondrais monocorticais de crista ilíaca, os quais foram posicionados subperiostealmente sobre o dorso do focinho de 25 coelhos, porém sem utilização de fixação rígida. Nesta metodologia, os autores encontraram que enxertos 8 intramembranosos (arco zigomático) apresentaram uma maior taxa de revascularização em todos os períodos experimentais, comparados aos resultados da crista ilíaca. Em contrapartida, trabalhos como de Phillips e Rahn24 (1990) e Sullivan e Szwajkun9 (1991) utilizando metodologias semelhantes às de Kusiak et al.23 (1985) observaram maiores taxas de revascularização nos enxertos com origem endocondral. Um estudo que elucidou se a origem embriológica pode influenciar na taxa de revascularização foi o de Pinholt et al.25 em 1994, onde os autores estabeleceram uma comparação de quatro áreas doadoras de enxerto ósseo distintas em sua morfologia e origem embriológica. Neste trabalho foram utilizados enxertos bicorticais de mesma magnitude colhidos da crista ilíaca (endocondral), calota craniana (intramembranosa), tíbia (endocondral) e mandíbula (intramembranosa), e todos implantados em região intramuscular de ratos. Encontraram que os ossos da mandíbula e da crista ilíaca, que possuíam em suas estruturas maior porção de osso trabecular, tiveram maiores taxas de revascularização frente aos enxertos da tíbia e calvária, comprovando assim que a origem embriológica não influenciaria nas taxas de revascularização, mas sim a quantidade de osso trabecular que estes possuem na sua microarquitetura, o que facilitaria a penetração de vasos no interior destes tecidos. Avaliando a participação da revascularização na manutenção do volume de enxertos ósseos “onlay”, Chen et al.26, em 1994, realizaram um estudo comparativo entre enxertos oriundos da calota craniana (intramembranoso) e da crista ilíaca (endocondral) fixados rigidamente no focinho de coelhos. Neste trabalho os autores constataram que enxertos ósseos “onlay” com microarquitetura mais trabecular (crista ilíaca) sofreram maiores taxas de reabsorção, mesmo com maior e precoce revascularização. Esta relação demonstrou que o fator revascularização observado unilateralmente pode não ser o único que defina o sucesso do enxerto ósseo em longo prazo. Alguns estudos demonstram que a manutenção de volume dos enxertos ósseos “onlay” pode estar intimamente relacionada a microarquitetura e a utilização de uma fixação rígida, contrariando a teoria da origem embriológica ser a causa que defina o sucesso desta modalidade de reabilitação ao longo prazo.27 No estudo do 9 efeito da fixação rígida sobre a manutenção de volume dos enxertos ósseos “onlay”, Phillips e Rahn28 (1988), Phillips e Rahn24 (1990) e Lin et al.29 (1990) demonstraram que o processo de movimentação dos enxertos é sempre prejudicial para a sobrevivência destes tecidos, fator este minimizado pela aplicação da fixação rígida com uso de parafusos de titânio de 1,5 mm. Hardesty e Marsh30 (1990) Donovan et al.31 (1993) e Chen et al.26 (1994) avaliaram hipótese de que a microarquitetura óssea é um fator importante para a maior sobrevida dos enxertos “onlay”. Em todos estes estudos realizaram a comparação entre enxertos ósseos colhidos da calota craniana, com microarquitetura mais cortical, e enxertos de crista ilíaca, os quais possuem em sua estrutura um tecido mais trabecular. Como resultados, constataram maiores taxas de reabsorção nos enxertos com microarquitetura mais trabecular (crista ilíaca), chegando a porcentagens de reabsorção de 72% a 85%. Nos enxertos corticais (calota craniana) estas taxas de reabsorção mantiveram-se entre 32% a 34 %. Com os resultados publicados por Ozaki e Buchman32 em 1998, pôde-se compreender que a microarquitetura dos enxertos ósseos pode ser um fator biológico mais importante na manutenção de volume, do que a relação com sua origem embriológica. Estes achados foram obtidos neste estudo, através da comparação de enxertos com diferentes origens embriológicas e microarquiteturas. Os autores avaliaram enxertos ósseos “onlay” colhidos da mandíbula de coelhos (blocos corticais com origem intramembranosa) e enxertos colhidos da crista ilíaca (blocos corticais e blocos trabeculares com origem endocondral), colocados abaixo do periósteo na calvária de coelhos. Os resultados dos enxertos ósseos corticais, tanto da mandíbula quanto da crista ilíaca, mostraram estatisticamente menores taxas de reabsorção em relação ao enxerto trabecular da crista ilíaca. No entanto, ao comparar a variação de volume entre os enxertos corticais (mandíbula x crista ilíaca), os valores permaneceram muito próximos em todos os períodos experimentais (3, 8 e 16 semanas), o que leva os autores concluírem que a origem embriológica pode não ser um fator que defina a maior manutenção de volume dos enxertos ósseos “onlay”. Os dois tipos de ossos assumem um comportamento distinto durante o processo de incorporação e reparo nas áreas reconstruídas,7,9 este fator possivelmente pode ser atribuído às diferenças bioquímicas e moleculares 10 existentes entre ambos. 8,33,34 Suttapreyasri et al.11 (2006) através de estudo in vitro de culturas celulares de osteoblastos provenientes dos dois tipos de ossos, demonstraram que o reparo intramembranoso e endocondral em humanos expressa a ação de diferentes tipos de BMPs. Neste estudo, uma análise semi-quantitativa de PCR demonstrou que as BMPs 3, 4, 7 e 8 foram expressas mais fortemente no osso intramembranosso em comparação com o osso endocondral. Já as BMPs 2 e 5 foram altamente expressadas no osso endocondral. Outra possível explicação para o diferente padrão de incorporação dos dois tipos de ossos segundo Zouhary35 (2010) em humanos, seria o fato de que a densa cortical do osso proveniente da calvária (intramembranoso) proporciona menor reabsorção dos enxertos onlay quando comparados ao mesmo tipo de fragmento removido da crista ilíaca (endocondral). 2.2 Mecanismos de Ação da Cox-2 sobre o Reparo Ósseo Apesar da Cox-1 ter sido caracterizada como constitutiva por participar de eventos fisiológicos normais e da Cox-2 ter sido descrita como resultante de reações inflamatórias,36 pesquisas demonstram que a enzima Cox-1 também exerce um papel na gênese da resposta inflamatória e, por outro lado, que a enzima Cox-2 pode também participar de importantes eventos fisiológicos, nem sempre estando vinculada a processos patológicos e inflamatórios.37 A enzima Cox-2 está 38 angiotensina, envolvida na regulação do sistema renina- 39 Ainda, a assim como em eventos vasoativos e antiaterogênicos. Cox-2 tem participação hormonal na ovulação e no período final das gestações, onde sua presença induz às contrações uterinas.40 Além disso, Okada et al.41, em 2000, também relataram que a enzima Cox-2 pode ser responsável por processos associados ao tecido ósseo, descrevendo que camundongos com deficiência de Cox-2 apresentaram menor densidade óssea quando comparados a animais normais, salientando a importância desta enzima no processo de osteogênese. A osteogênese pode ser afetada pela ação de diversos mediadores químicos, tanto hormônios sistêmicos quanto fatores locais.18 Dentre eles, o fator de crescimento transformador beta (TGF-β), que inclui as proteínas ósseas 11 morfogenéticas (BMPs), como a proteína óssea morfogenética 2 (BMP-2) e a proteína óssea morfogenética 7 (BMP-7), age com estimulação da expressão de colágeno tipo I nos osteoblastos, aumentando a atividade dessas regulando a 42 calcificação da matriz óssea. células e Outros importantes reguladores de formação óssea local são os fatores de crescimento derivado das plaquetas (PDGF), fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1) e fator de crescimento dos fibroblastos (FGF).18 As prostaglandinas (PGs) podem estimular a reabsorção óssea, sendo também responsáveis por mediar importantes eventos relacionados ao processo de formação e reparo ósseo.43 Os osteoblastos produzem PGs de maneira autoregulada, sendo que as PGs podem regular sua própria produção.44 A regulação da produção de PGs pelas células ósseas pode também ocorrer através de diferentes estímulos celulares capazes de alterar a quantidade da produção deste mediador químico.45 As PGs podem ampliar a atividade osteoblástica e a formação óssea, agindo positivamente na diferenciação destas células.46 Os Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), por bloquearem a síntese de Cox-1 e Cox-2, reduzem a síntese de PGs provenientes da metabolização do ácido araquidônico.47 Em função do aumento da utilização de AINES com inibição seletiva para Cox-2, estudos recentes têm demonstrado que a enzima Cox-2 exerce papel crucial sobre o processo de reparo ósseo.16,48 Sato et al.48, em 1997, avaliaram a expressão das enzimas Cox-1 e Cox-2 durante a osteogênese, induzida por meio da injeção de colchicina, na cavidade medular de tíbias de ratos. A expressão de Cox-1 e Cox-2 foi aumentada imediatamente antes de ser iniciada a formação óssea. Apenas a expressão de Cox2 foi elevada novamente durante o início da formação do tecido ósseo. Ainda, a administração diária de indometacina reduziu a indução óssea promovida pela colchicina nas tíbias dos ratos, indicando a relação entre as PGs e a osteogênese. Os autores concluiram que ambas as enzimas, Cox-1 e Cox-2, podem estar envolvidas com a osteogênese, sendo que a Cox-2 apresenta essencial importância na maturação dos osteoblastos após o inicio do processo de formação óssea. 12 Simon et al.49 (2002) administrando dois anti-inflamatórios seletivos para Cox2, o celecoxibe e o rofecoxibe em ratos, confirmaram por meio de análises histopatológica, mecânica e radiográfica, processo de reparo inadequado em fraturas ósseas. As mesmas deficiências foram evidenciadas nos animais que apresentavam mutação no gene Cox-2. Posteriormente, Brown et al.50, em 2004, compararam os efeitos do celecoxibe aos da indometacina no reparo de fêmures de rato. Cinquenta e sete animais foram divididos em três grupos distintos, sendo que em um deles nenhuma droga foi administrada, em outro, os animais foram medicados com 1mg/kg de indometacina ao dia, e no último grupo, os ratos medicados com 3mg/kg de celecoxibe, ambos diariamente, iniciando no primeiro dia pós-operatório. Os períodos de avaliação estabelecidos foram de quatro, oito e doze semanas após a fratura. Foram realizadas análises radiográficas, microscópicas e de resistência mecânica. No período de quatro semanas, os animais do grupo da indometacina apresentaram imagem radiográfica e resistência mecânica inferiores aos demais. No entanto, após doze semanas, nenhuma diferença significativa foi observada entre os grupos. O'Keefe et al.51, em 2006, constataram uma redução de 45% na formação óssea durante a incorporação de aloenxertos ósseos congelados associados à administração de celecoxibe após 2 semanas, aumentando para 60% após 5 semanas, na dose de 25mg/kg ao dia. Sato et al.48, 1997, sugeriram o envolvimento da Cox-2 nos estágios iniciais da osteoblatogênese em estudo utilizando indometacina e colchicina em ratos. Ainda, nesta linha, Zhang et al.16, em 2002, demonstraram o papel da Cox-2 na formação óssea endocondral e intramembranosa, comparando ratos Cox-1-/(knockout), Cox-2-/- (knockout) quando submetidos a fratura de tíbias, observando-se a persistência de células mesenquimais indiferenciadas e redução acentuada na osteoblastogênese nas áreas de reparo dos animais Cox-2-/- (knockout), pela regulação de genes de diferenciação óssea como Cbfa1 e osterix. Subsequentemente a este trabalho, Chen et al.,52 demonstraram a redução na capacidade mecânica do osso de ratos Cox-2-/- (knockout) após reparação de fratura no fêmur. 13 Gerstenfeld et al.53 (2003) verificando a expressão de RNAm Cox-1 durante o processo de reparo de fraturas de fêmur em ratos, observaram que a mesma permaneceu constante por um período de até 21 dias após o traumatismo. Contudo, a expressão de RNAm Cox-2 apresentou-se com picos de elevação durante os primeiros 14 dias do reparo, retornando a níveis basais por volta do 21º dia. Estes achados comprovaram a participação da enzima Cox-2 no processo de reparo tecidual. No mesmo trabalho, os autores também demonstraram a influência de dois anti-inflamatórios distintos, o ketorolac e o parecoxibe no reparo de fraturas ósseas, em altas e baixas doses. As deficiências mecânicas e microscópicas mais evidentes foram observadas no grupo tratado com o ketorolac, uma vez comparadas ao grupo do parecoxibe. Diferente à estes achados, Matsumoto et al.54 (2008) utilizando ratos como modelo experimental, confirmaram a não influência de droga seletivas para Cox-2 (celecoxibe) quando administrada em curto prazo, simulando situações pontuais, como um procedimento cirúrgico. Zhang et al.16 (2002) demonstraram que a Cox-2 regula importantes fatores de transcrição, tais como Cbfa1 e Osterix, os quais exercem papel fundamental na diferenciação de células mesenquimais em osteoblastos. A presença de tais fatores de transcrição foi estudada em culturas celulares de medula óssea derivadas de animais desprovidos de Cox-2 e normais (sem alterações na expressão da enzima Cox). Foi encontrada redução significativa de Cbfa1 e Osterix na cultura celular sem Cox-2, sendo que após a administração de PGE2, a expressão destes fatores retornou aos níveis semelhantes àqueles obtidos no grupo controle (sem alterações na expressão da enzima Cox), ocorrendo expressão máxima destes fatores de transcrição, quando da adição de BMP-2 à PGE2. Baseado nos resultados, a presença de Cox-2 é importante para que haja expressão adequada dos fatores Cbfa1 e Osterix, críticos no processo de formação óssea associada ao reparo.16 Corroborando com tais observações, Duncan & Turner55 (1995) e Forwood56 (1996) verificaram que a formação óssea em resposta ao estresse mecânico é mediada pela Cox-2. Afzal et al.57, em 2004, demonstraram por meio de análise da expressão de mRNA, drástica diminuição do fator Cbfa1 e da proteína osteocalcina, moléculas 14 essenciais para a diferenciação osteoblástica, em osteoblastos de calvária de camundongos neonatos com ausência desses genes. Sendo o fator de transcrição Cbfa1 um mediador necessário para a diferenciação das células osteoblásticas, sua expressão está relacionada à transição dos osteoblastos da fase proliferativa para a fase de diferenciação.58 O Fator de Crescimento Endotelial Vascular (VEGF) apresenta a propriedade de induzir a angiogênese, sendo expressa antes da formação vascular e sua expressão ocorre no processo de reparo ósseo. Está diretamente associada com células envolvidas na formação óssea (osteoblastos), desempenhando um importante papel neste processo de reparo.19 A inibição da atividade do VEGF atrapalha o reparo de fraturas e defeitos criados na cortical de fêmur em camundongos,59 diminui fluxo sanguíneo e leva a não-uniões de fraturas no osso radial de coelhos.60 Assim, a atividade de VEGF é essencial para a angiogênese e adequado reparo ósseo em resposta à lesão óssea. Esses resultados dão suporte à hipótese de que a invasão dos vasos sanguíneos tem um papel fundamental na reparação tecidual, e sugerem que a produção do VEGF é o principal mecanismo pelo qual a angiogênese e osteogênese estão estreitamente ligados, durante a reparação óssea. O VEGF regula a sobrevivência, recrutamento e atividade de células endoteliais,61 dos osteoblastos 59 e osteoclastos, sendo sua expressão induzida pela maioria dos fatores de crescimento osteoindutores, bem como pelas PGs.62 15 3 Objetivos O presente estudo objetivou investigar o processo de reparo de enxertos ósseos autógenos, sob a inibição de droga anti-inflamatória não-esteroidais específica para Cox-2. Para isto, realizaram-se procedimentos de enxertia em calvária de coelhos Nova Zelândia. Foram utilizados como parâmetros de análise métodos morfológicos, morfométricos e imunoistoquímicos, conforme relacionados a seguir: Quantificação da reabsorção do enxerto por meio de mensuração com paquímetro digital; Padrão histopatológico das lesões coradas em H.E. e Tricrômico de Masson; Quantificação óssea da região de interface enxerto/área receptora por meio de histomorfometria de área; Expressão das proteínas Cbfa1/Runx2 e VEGF por marcação imunohistoquímica. Possíveis relações entre os parâmetros acima. 16 4 Material e métodos 4.1 Animais Todos os procedimentos envolvendo o uso de animais foram aprovados pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal da Universidade Sagrado Coração (003/2009-CEEA). Foram utilizados 32 coelhos Nova Zelândia machos, com idade variando de 4 a 6 meses de idade e peso variando de 3 a 4 Kg. Os animais foram colocados em gaiolas de grade metálica, forradas com bandeja metálica, nas quais procedeu-se limpeza diariamente. Durante todo o período experimental, os animais permaneceram em biotério da Universidade, sob condições controladas de temperatura (22 ± 2oC), umidade relativa (55 ± 10%), ciclo de luz de 12 horas claro/escuro e exaustão, e recebendo água e ração sem restrição. 4.2 Delineamento experimental Os animais foram distribuídos em dois grupos: Controle – animais tratados com solução fisiológica salina (0,9%) AINE – animais tratados com anti-inflamatório não esteroidal etoricoxibe (Arcoxia®) na proporção de 6mg/Kg Ambos os grupos receberam enxertos autógenos provenientes de duas áreas doadoras: calota (intramembranoso) e ilíaco (endocondral). Os animais do grupo AINE receberam, por via oral, a droga etoricoxibe, iniciando sua administração três dias antes do procedimento cirúrgico, continuando com a mesma dosagem a cada 24 horas até o período de sacrifício. A medicação foi preparada em solução, a partir da trituração dos comprimidos. Os animais do grupo controle receberam, por via oral, solução fisiológica salina (0.9%). Os pesos corpóreos dos animais, bem como o consumo de dieta e água foram aferidos semanalmente. Ao final dos períodos experimentais estabelecidos: 7, 17 14, 30 e 60 dias, todos os animais foram eutanasiados para as avaliações microscópicas. Para tanto, os animais foram anestesiados e sacrificados por meio de sobre dosagem da droga anestésica. Os enxertos foram removidos com auxílio de brocas tipo carburundum em baixa rotação, fixados em formalina (Merck, Rio de Janeiro, Brasil) a 10% por 48 horas e imersas em solução de EDTA a 4% para desmineralização dos espécimes, até que o mesmo apresente consistência suficiente para a microtomia. As lâminas com cortes semi-seriados de 5µm de espessura serão coradas com H.E. (hematoxilina e eosina) e Tricrômico de Masson. 4.3 Procedimento Cirúrgico Os animais foram submetidos à anestesia geral por meio de injeção intramuscular de sedativo Xilazina (Bayer S.A., São Paulo, Brasil) na dose de 0,30ml/Kg e de anestésico geral Quetamina (Agener União, São Paulo, Brasil na dose de 0,20ml/Kg. Com o animal devidamente anestesiado, realizou-se a tricotomia da região do crânio sendo executado o procedimento de antissepsia da região com gaze embebida em solução tópica de polivinilpirrolidona-iodo a 10% (PVPI 10%). Após a anti-sepsia, foi realizada anestesia local com cerca de 1 ml de solução de mepivacaína 2% com adrenalina 1:100.000 (DFL, Rio de Janeiro, Brasil) para hemostasia local. Posteriormente, realizou-se a incisão de aproximadamente 4 cm na região de sutura craniana, seguida de divulsão mucoperiostal para exposição do tecido ósseo a ser abordado (Figura 1 A). Com brocas trefinas de 0,8cm de diâmetro interno (Neodent, Curitiba, Brasil) e motor de baixa rotação (Driller, São Paulo, Brasil) com irrigação constante com solução fisiológica estéril a 0,9%, foram realizadas duas perfurações lateralmente à linha de incisão (Figura 1 B), alcançando, porém não abrangendo, a dura-máter removendo-se o tecido ósseo da calota craniana (Figura 1 C). Um dos fragmentos obtidos foi utilizado como enxertos ósseos intramembranoso em bloco e posicionados no lado oposto às perfurações, fixados com parafusos de titânio de 1,5mm de diâmetro e 4 mm de comprimento (Neodent, Curitiba, Brasil), conforme Miranda et al.63 Para a obtenção do enxerto endocondral, procedeu-se a abordagem à crista ilíaca conforme Faria et al.,64 utilizando-se a mesma broca, a fim de se manter a mesma dimensão do enxerto intramembranoso (Figura 1 D). O mesmo foi 18 igualmente fixado (Figura 1 E) e posteriormente o retalho reposicionado e realizada a sutura espiralar contínua com fio 3-0 de poliglactina 910 Vicryl® (Johnson & Johnson, São Paulo, Brasil). A B C D Figuras 1 – A) Exposição do tecido ósseo da calvária; B) Área doadora proveniente do ilíaco; C) Área doadora proveniente da calota craniana; D) Enxertos ósseos fixados, convencionou-se lado direito: calota e lado esquerdo: ilíaco. Os animais receberam antibiótico (Flotril 2,5%, Schering-Plough S.A., Rio de Janeiro, Brasil) na dose de 0,2mL/Kg (equivalente a 5mg/Kg de peso de enrofloxacina) por cinco dias e analgésico de ação central (Tramadol 100mg) na dose de 0,1ml/Kg imediatamente após o procedimento cirúrgico, em aplicações intramusculares. Complementando a analgesia, administrou-se por via oral 3mg do 19 analgésico dipirona sódica diluído em soro fisiológico, a cada 12 horas durante 3 dias. Após o procedimento cirúrgico, os animais foram alimentados com ração sólida e água sem restrição. As eutanásias foram realizadas nos períodos de 7, 14, 30 e 60 dias por meio de sobredosagem de solução anestésica. Em cada período foram sacrificados quatro animais, onde foi realizada nova incisão e divulsão da região previamente operada, para obtenção dos espécimes das regiões enxertadas, com brocas de carburundum montadas em baixa rotação, sob constante refrigeração. As peças cirúrgicas foram acondicionadas em frascos contendo formol a 10% tamponado (Merck), por período de 48 horas. Após este período, as peças foram lavadas em água corrente por 24 horas, sendo imersas em desmineralizador EDTA 10%, com trocas a cada 48 horas, até que as peças adquirissem consistência suficiente para serem cortadas em micrótomo. Sendo posteriormente submetidas a procedimento histotécnico de rotina e coradas em H.E. e Tricrômico de Masson. A descrição morfológica das lesões foi realizada em todos os espécimes considerando a região de interface entre enxerto e área doadora quanto à presença de infiltrado inflamatório, tecido de granulação e neoformação e maturação óssea. 4.4 Análise macroscópica dos enxertos Imediatamente após a fixação dos enxertos, foi realizada a mensuração da sua espessura com paquímetro digital em três pontos a serem determinados. No momento da remoção dos espécimes nos períodos estabelecidos, os mesmos foram novamente medidos para fins de análise da quantidade de reabsorção. 4.5 Análise microscópica morfológica Completado os delineamentos experimentais estabelecidos, procedeu-se a descrição microscópica morfológica das áreas enxertadas em todos os espécimes considerando padrão de reparação óssea na área de interface entre enxerto ósseo e leito receptor, como formação de tecido de granulação, infiltrado inflamatório, formação de tecido ósseo primário e maturação óssea. 20 4.6 Análise histomorfométrica Para a análise histomorfométrica, empregou-se a metodologia por contagem de pontos descrita na literatura,65,66,67,68,69,70 adaptada para o presente estudo, sendo utilizados os cortes centrais de cada espécime corados em Tricrômico de Masson. Para este procedimento metodológico, as imagens dos cortes histológicos das regiões de interface entre enxerto e leito receptor, foram capturadas diretamente do microscópio Nikon, em aumento de 40x, com uma resolução de 300 dpi. A imagem capturada foi observada no programa de computador Microsoft Office Power Point ®, através de slides onde a imagem é visualizada em monitor de 19 polegadas widescreen. Para a realização da contagem o retículo utilizado foi sobreposto ao monitor (Figura 2), considerando-se os pontos dentro do osso e fora do osso da área da interface, bem como a área total da interface para posterior análise de densidade óssea e tratamento estatístico. Figura 2 – Retículo posicionado sobre a imagem do corte sobre a tela do computador. 21 Conforme visualizado na Figura 3, representativa, o sistema de retículo adotado apresentada um total de 412 pontos dispostos de forma de traços não coincidentes, com espaçamento de 9 mm entre cada ponto, bem como 9mm de largura, confeccionados em folha tamanho A4 transparente. A largura adotada para os pontos representa 10x o valor de uma célula, considerando 20 micromêtros para cada célula, sendo que os 9mm representaram 200 micromêtros. Figura 3 – Imagem representativa do retículo utilizado originalmente no trabalho. Foi avaliado um corte histológico de cada espécime, corados em Tricrômico de Masson, sendo considerados 3 campos para cada corte histológico, conforme demonstrado (Figura 4): 22 Figura 4 – Campos 1, 2 e 3, dispostos sequencialmente, representando a interface entre enxerto e leito receptor de um corte histológico. Ao final da contagem de pontos, os valores foram somados obtendo-se o número total de pontos da interface, o número total de pontos que incidiram dentro e fora do osso, conforme o exemplo abaixo (Figura 5): Coelho 1 (Calota) - Grupo Controle - Período de 30 dias Pontos Fora do Osso Ponto dentro do Osso Total de Pontos da Interface Campo 1 98 154 252 Campo 2 136 79 215 Campo 3 100 226 326 Soma 334 459 793 Figura 5 – Exemplo da contagem dos pontos para análise histomorfométrica. Dessa forma, estimou-se a porcentagem de área ocupada por tecido ósseo seguindo a seguinte fórmula matemática, conforme Melo (2007): A = Pt Po Onde A = área, Pt = total de pontos da interface e Po= total de pontos no osso. Posteriormente, as médias da porcentagem de matriz óssea neoformada de cada grupo, foram obtidas considerando-se o seguinte exemplo (Figura 6): 23 Grupo Experimental aos 30 dias Coelho % pontos dentro do osso 1 10% 2 16% 3 25% 4 8% média do grupo 15% Figura 6 – Exemplo do cálculo para obtenção das médias da porcentagem de matriz óssea neoformada de cada grupo. 4.7 Análise imuno-histoquímica Para a determinação dos padrões moleculares seguindo a reparação óssea, foram utilizados marcadores imuno-histoquímicos para VEGF e Cbfa1/Runx2. Desse modo, cortes de 5µm foram tratados com proteinase K por 30 minutos, a temperatura ambiente. A peroxidase endógena foi bloqueada com peróxido de hidrogênio a 2% por 10 minutos e lavados em PBS (Phosphate buffer solution). Após este período, foram utilizados anticorpos primários policlonais, em temperatura ambiente por 24 horas, e lavados com PBS por 30 minutos, por três vezes. Após isto, os cortes foram incubados com o anticorpo secundário por 30 minutos, e em seguida, corados com o DAB (diaminobenzidina) (DAKO, Lab.) e contra-corados com Hematoxilina de Harris. Para controle negativo foi omitido o anticorpo primário, e para o positivo foram utilizadas lesões inflamatórias inespecíficas. A determinação dos níveis de marcação para cada anticorpo foram realizados semi-quantitativamente, utilizando-se escores de 1 a 4 (1 = ausente, 2 = leve, 3 = moderado, 4 = intenso) de acordo com Pedrosa et al.71 A análise foi realizada por dois avaliadores em sistema de duplo-cego, a partir de imagens registradas em microscópio Nikon Eclipse (Nikon, Japão). Foram analisados 5 campos de cada lâmina na região de interface, em aumento de 40x. 24 4.8 Análise estatística Os resultados obtidos nas análises macroscópica e histomorfométrica dos enxertos provenientes da calota e ilíaco foram submetidos à análise de homogeneidade das variâncias pelo teste de Levene, seguida da análise para amostras independentes pelo teste de Mann-Whitney. O teste foi aplicado para verificar a diferença existente entre os grupos controle e AINE para o mesmo período de tempo e enxerto utilizado. Na análise imuno-histoquímica, de acordo com o teste de Levene para análise de variância, foram aplicados os testes para amostras independentes t-Student ou Mann-Whitney. Os testes foram aplicados para verificar a diferença entre os grupos controle e AINE quanto à expressão das moléculas Cbfa1/Runx2 e VEGF para o mesmo período de tempo e enxerto utilizado. Em seguida, a diferença estatística entre os tempos (7, 14, 30 e 60 dias) para cada grupo e cada proteína separadamente, foi determinada pelo teste não paramétrico Kruskal-Wallis (ANOVA) ou ANOVA seguido do teste de Tukey, segundo a homogeneidade das variâncias. O nível de significância considerado em todas as análises foi de p≤0,05. 25 5 Resultados 5.1 Análise macroscópica dos enxertos em bloco As médias da reabsorção óssea dos enxertos de calota e ilíaco nos grupos controle e AINE nos períodos experimentais de 7, 14, 30 e 60 dias, podem ser observadas nas respectivas Tabelas 1, 2, 3 e 4. O processo de reparo dos enxertos ósseos autógenos provenientes da calota e ilíaco, do grupo AINE, demonstrou-se similar ao grupo controle para os períodos experimentais de 7, 14 e 30 dias (Tabelas 1, 2 e 3). A diferença estatisticamente significatica (p<0,05) entre os grupos foi observada apenas para o enxerto proveniente da calota no período experimental de 60 dias, sendo que o grupo AINE apresentou menor média de reabsorção (Tabela 4). A Figura 7 demonstra a representação gráfica das médias de reabsorção (mm) óssea dos enxertos, obtidas após 7, 14, 30 e 60 dias em enxertos de calota e ilíaco. Tabela 1 – Médias e desvios-padrão da reabsorção óssea obtidas após 7 dias pós-operatório, nos enxertos de calota e ilíaco. Grupo Controle AINE Reabsorção óssea (mm) calota 0,00± 0,00a 0,30± 0,41a Reabsorção óssea (mm) ilíaco 0,50 ± 0,40a 0,07 ± 0,15a Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significante (p<0,05) entre os grupos. Tabela 2 - Médias e desvios-padrão da reabsorção óssea obtidas após 14 dias pós-operatório, nos enxertos de calota e ilíaco. Grupo Controle AINE Reabsorção óssea (mm) calota 0,87± 0,09a 0,57± 0,29a Reabsorção óssea (mm) ilíaco 0,87 ± 0,47a 0,5 ± 0,00a Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significante (p<0,05) entre os grupos. 26 Tabela 3 - Médias e desvios-padrão da reabsorção óssea obtidas após 30 dias pós-operatório, nos enxertos de calota e ilíaco. Grupo Reabsorção óssea (mm) calota 0,45± 0,61a 0,45± 0,1a Controle AINE Reabsorção óssea (mm) ilíaco 0,65 ± 0,62a 0,25 ± 0,20a Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significante (p<0,05) entre os grupos. Tabela 4 - Médias e desvios-padrão da reabsorção óssea obtidas após 60 dias pós-operatório, nos enxertos de calota e ilíaco. Grupo Controle AINE Reabsorção óssea (mm) calota 0,50± 0,24a 0,05± 0,1b Reabsorção óssea (mm) ilíaco 0,62 ± 0,47a 0,45 ± 0,44a Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significante (p<0,05) entre os grupos. * Figura 7 – Representação gráfica das médias de reabsorção (mm) óssea dos enxertos, obtidas após 7, 14, 30 e 60 dias em enxertos de calota e ilíaco. *diferença estatística (p<0,05) observada no enxerto de calota no período experimental de 60 dias. 27 5.2 Análise microscópica morfológica das áreas enxertadas 5.2.1 Enxerto Calota No período de 7 dias, no Grupo Controle nota-se um tecido de granulação ricamente vascularizado, na região de interface entre o enxerto e o leito receptor, discreto infiltrado inflamatório mononuclear, com presença de células fibroblásticas e finos componentes fibrosos. Focos de coágulo são visualizados neste período. Não se visualizou atividade osteoclástica ou osteoblástica. No Grupo AINE notou-se quadro semelhante, exceto pela presença de lacunas de Howship na superfície externa de dois enxertos, com presença de osteoclastos. Após 14 dias, o Grupo Controle apresentou focos de atividade osteogênica com formação de tecido primário originado a partir de ambas as superfícies, leito receptor e enxerto ósseo. Há predomínio desta neoformação nas áreas periféricas do enxerto com trabéculas neoformadas interligando as duas superfícies. De permeio, ainda há presença de tecido de granulação rico em vasos sanguíneos. Atividade osteclástica nas trabéculas neoformadas também foram observadas. O Grupo AINE igualmente mostrou neoformação óssea nas superfícies do enxerto e leito receptor, com predominância de tecido conjuntivo frouxo na região central da interface. No período de 30 dias, o Grupo Controle mostrou integração do enxerto ao leito receptor, observando-se a presença de trabéculas ósseas ora primárias, ora em processo de maturação onde se mostraram menos celularizadas, algumas apresentando células de revestimento na superfície, bem como linhas basofílicas de reversão. O enxerto de calvária mostrou-se em fase de remodelação, igualmente marcado por evidentes linhas irregulares de reversão. Grupo AINE, com predomínio de tecido conjuntivo na região de interface e neoformação óssea em ambas as superfícies, do leito receptor e enxerto. Após 60 dias, os enxertos de ambos os grupos estavam integrados ao leito receptor por tecido ósseo ainda com focos de remodelação. (Figura 8 A - D). 28 CG CG Rb Rb A 250 µm B CG 250 µm CG Rb Rb C 250 µm D 250 µm Figure 8 – Enxerto Calota – A, B) Controle – Neoformação óssea (setas) na area de interface em A no período de 14 dias; integração do enxerto (CG) no período de 60 dias em B ao leito receptor (Rb). C, D) C- AINES – Neoformação óssea (setas) a partir das superfícies do enxerto (CG) e leito receptor (Rb) demonstrado C no período de 14 dias; integração do enxerto observada após 60 dias em D (A, C – Tricrômico de Masson Masson; B, D – H&E) 29 5.2.2 Enxerto Crista ilíaca Aos 7 dias, no Grupo Controle notou-se presença de enxerto ósseo viável apresentando cortical externa e abundante tecido medular. A região de interface mostrou-se preenchida por coágulo. Neste período, não se observou atividade osteogênica. No Grupo AINE, o qual apresentou região de interface preenchida predominantemente por tecido de granulação. Após 14 dias, o Grupo Controle exibiu tecido medular ósseo em contato com o leito receptor, e notou-se discreta atividade osteoclástica nas trabéculas do enxerto, bem como mínima atividade osteogênica a partir da superfície do leito receptor. O Grupo AINE mostrou a presença de tecido de granulação e neoformação óssea na superfície receptora. A porção externa do enxerto também se mostrou bastante irregular. Aos 30 dias, a persistência do tecido de granulação na interface entre enxerto e leito receptor foi observada no Grupo Controle. Apesar de haver deposição de novo tecido ósseo sobre as trabéculas do enxerto, não se visualiza presença de ponte óssea entre as duas superfícies, caracterizando integração do enxerto. Observa-se remodelação do fragmento enxertado. Já o Grupo AINE apresentou poucos sinais de remodelação do enxerto, predominando tecido conjuntivo fibroso nas regiões centrais da interface, ainda mostrando atividade osteogênica nas superfícies ósseas. Presença de moderado infiltrado inflamatório mononuclear. A incorporação era mais evidente nas áreas periféricas do enxerto. Após 60 dias, em ambos os Grupos Controle e AINE os enxertos estavam integrados, com a persistência de tecido medular do próprio enxerto (Figura 9 A – D). 30 IG IG Md Rb Rb A 250 µm B IG 250 µm IG Md Rb Rb C 250 µm D 250 µm Figure 9 – Enxerto crista ilíca – A, B) Controle – Enxerto ósseo com predomínio de osso medular (IG) em contato com o leito receptor (Rb) no período de 14 dias em A; após 60 dias, enxerto ósseo com manutenção de osso medular abundante (Md), em B. C, D) AINE – enxerto ósseo com osso medular (IG) em contato com o leito receptor (Rb) em C, no período de 14 dias; tecido ósseo medular predominante (IG) aos 60 dias, em D, mesmo após a incorporação do enxerto. (A, C – Tricrômico de Masson; B, D – H&E) 31 5.3 Análise da quantificação óssea por meio de histomorfometria A quantificação óssea da região de interface enxerto/área receptora por meio de histomorfometria dos enxertos da crista ilíaca demonstrou um padrão similar entre os grupos Controle e Experimental nos períodos de 7, 14 e 30 dias, não havendo diferença estatisticamente significante (p<0,05). No entanto, houve diferença estatística entre os grupos Controle (14,0±6,29) e AINE (4,75±2,0) nos enxertos de calota craniana, no período de 14 dias(Tabelas 5, 6 e 7). No período de 60 dias não foi possível a contagem dos pontos devido à formação óssea na região de interface. A figura 10 demonstra a representação gráfica da análise histomorfométrica na região da interface em todos os grupos. Tabela 5 - Médias e desvios-padrão da análise histomorfométrica obtida após 7 dias pós-operatório, nos enxertos de calota e ilíaco. Grupo Controle AINE Matriz óssea (%) Calota 0,00± 0,00a 0,00± 0,00a Matriz óssea (%) Ilíaco 0,00 ± 0,00a 0,00 ± 0,00a Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significante (p<0,05). Tabela 6 - Médias e desvios-padrão da análise histomorfométrica obtida após 14 dias pós-operatório, nos enxertos de calota e ilíaco. Grupo Controle AINE Matriz óssea (%) Calota 14,00± 6,29a 5,00± 2,00b Matriz óssea (%) Ilíaco 1,00 ± 2,00a 0,00 ± 0,00a Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significante (p<0,05). 32 Tabela 7 - Médias e desvios-padrão da análise histomorfométrica obtida após 30 dias pós-operatório, nos enxertos de calota e ilíaco. Grupo Controle AINE Matriz óssea (%) Calota 18,00± 16,00a 6,00± 5,00a Matriz óssea (%) Ilíaco 7,00 ± 3,00a 8,25 ± 3,40a Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significante (p<0,05). Figura 10 – Representação gráfica da análise histomorfométrica na região da interface de todos os grupos 33 5.4 Análise imuno-histoquímica Os resultados da análise imuno-histoquímica semi quantitativa estão demonstrados na Tabela 8, onde se observam os escores médios referentes à imunomarcação de cada anticorpo nos diferentes períodos e grupos. Tabela 8 – Médias dos escores da imuno-histoquímica para Cbfa1/Runx2 e fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) nos diferentes grupos e períodos. Grupo Enxerto Controle Controle Controle Controle Controle Controle Controle Controle AINE AINE AINE AINE AINE AINE AINE AINE Calota Calota Calota Calota Ilíaco Ilíaco Ilíaco Ilíaco Calota Calota Calota Calota Ilíaco Ilíaco Ilíaco Ilíaco Período (dias) 7 14 30 60 7 14 30 60 7 14 30 60 7 14 30 60 Cbfa1/Runx2 VEGF 4 4 4 3 4 4 4 2 4 4 4 3 3 4 4 3 4 4 4 3 4 4 4 3 4 4 4 4 4 4 4 4 Escores de 1 a 4 (1 = ausente, 2 = leve, 3 = moderado, 4 = intenso) de acordo com Pedrosa et al.71 34 5.4.1 Enxerto Calota Um padrão similar de marcação imuno-histoquímica para Cbfa1/Runx2 foi observada entre os Grupos Controle e AINE para o enxerto de calota craniana. Intensa marcação citoplasmática foi observada nos períodos de 7, 14 e 30 dias para todos os grupos, nas células fibroblásticas do tecido de granulação e nas células osteoblásticas, relacionadas com atividades osteogênicas e de maturação. Houve diferença estatística (p<0,05) apenas entre o período de 14 dias (4,00±0,00), com marcação mais intensa nesse período, e o período de 60 dias do Grupo Controle, quando a marcação tornou-se moderada (3,00±0,00). No Grupo AINE, nenhuma diferença estatística foi encontrada, com a persistência de uma marcação intensa do anticorpo. A imunoexpressão citoplasmática de VEGF também foi intensa no Grupo Controle, sendo marcado em osteoblastos e células endoteliais a partir do período de 14 dias. Não foram detectadas diferenças estatísticas entre os períodos. Da mesma forma, uma intensa marcação foi observada no Grupo AINE em todos os períodos avaliados (Figura 11 A - D). Os resultados da imunomarcação são mostrados nas Tabelas 9 e 10. 35 VEGF Runx-2 Ob Ob A 100 µm B 100 µm VEGF Runx-2 Figura 3 – A, B) Calvarial Control Group – Intense osteoblasts (Ob) Runx-2 and VEGF labeling at day 14; C, D) NSAID Group - Weak Runx-2 labeling at day 60 in the cells of connective tissue, in C (arrow), and persistant intense VEGF labeling at the same period C 100 µm D 100 µm Figura 11 – A, B) Calota Grupo Controle – Intensa marcação de Runx-2 e VEGF em osteoblastos (Ob) no período de 14 dias; C, D) Grupo AINE – Fraca marcação para Runx-2 nas células do tecido conjuntivo, no período de 60 dias, em C (seta), e persistência de intensa marcação para VEGF nesse mesmo período em D Tabela 9 – Médias e desvios padrão obtidas para expressão de Cbfa1/Runx2 em cada grupo e período, para enxerto proveniente de calota. Períodos 7 dias 14 dias 30 dias 60 dias Controle 3,60±0,54 A,a,b 4,00±0,00 A,a,b,c 3,60±0,54 A,a,b 3,00±0,00 A,a,b,d AINE 3,80±0,44 A,a 4,00±0,00 A,a 3,80±0,44 A,a 3,40±0,54 A,a Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significante (p<0,05). Letras maiúsculas: comparação em cada período experimental (linha) Letras minúsculas: comparação no grupo no decorrer dos períodos (coluna) 36 Tabela 10 - Médias e desvios padrão obtidas para expressão de VEGF em cada grupo e período, para enxerto proveniente de calota. Períodos 7 dias 14 dias 30 dias 60 dias Controle 3,80±0,44 A,a 4,00±0,00 A,a 4,00±0,00 A,a 3,20±0,83 A,a Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significante (p<0,05). Letras maiúsculas: comparação em cada período experimental (linha) Letras minúsculas: comparação no grupo no decorrer dos períodos (coluna) AINE 4,00±0,00 A,a 4,00±0,00 A,a 4,00±0,00 A,a 4,00±0,00 A,a 37 5.4.2 Enxerto Crista Ilíaca A imunomarcação para Cbfa1/Runx2 uma tendência de ser mais intensa nos períodos de 14 e 30 dias no Grupo Controle, especialmente nas células próximo as regiões mais vascularizadas e células osteoblásticas envolvidas na síntese de novo tecido ósseo, embora, não houve diferença estatística. Aos 60 dias, a marcação mostrou-se fraca nas células da porção medular da região da interface, havendo diferença estatística dos demais períodos experimentais. Diferentemente, o Grupo AINE exibiu forte marcação em todos os períodos analisados, incluindo o período mais tardio de 60 dias, possivelmente devido ao atraso no processo de neoformação óssea observado na microscopia morfológica, no entanto, havendo diferença estatística entre o período de 60 dias quando comparado com 14 e 30 dias. Coerentemente, a expressão de VEGF foi intensa em osteoblastos e células endoteliais a partir do dia 14 em enxertos do Grupo Controle, tornando-se menos intensa no período de 60 dias. O Grupo AINE apresentou marcação intensa durante todos os períodos. (Figura 12; Tabelas 11 e 12) 38 VEGF Runx-2 * A 100 µm Runx-2 B 100 µm VEGF * Ad d C 100 µm D 100 µm Figura 12 – A, B) Fraca imunomarcação do enxerto da crista ilíca no Grupo Controle no período de 60 dias (setas); C, D) Marcação intensa no Grupo AINES para o mesmo período na células medulares (setas) e do tecido conjuntivo(*) Tabela 11 - Médias (± desvio padrão) obtidas para expressão de Cbfa1/Runx2 em cada grupo e período, para enxerto proveniente do ilíaco. Períodos 7 dias 14 dias 30 dias 60 dias Controle 3,60±0,54 A,a 3,60±0,54 A,a 3,80±0,44 A,a 2,20±0,44 A,b Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significante (p<0,05). Letras maiúsculas: comparação em cada período experimental (linha) Letras minúsculas: comparação no grupo no decorrer dos períodos (coluna) AINE 3,40±0,54 A,a 4,00±0,00 A,a,b 4,00±0,00 A,a,c 3,00±0,00 A,a 39 Tabela 12 - Médias (± desvio padrão) obtidas para expressão de VEGF em cada grupo e período, para enxerto proveniente do ilíaco. Períodos 7 dias 14 dias 30 dias 60 dias Controle 3,80±0,44 A,a 3,80±0,44 A,a 3,60±0,54 A,a 3,00±0,00 A,a Letras diferentes indicam diferença estatisticamente significante (p<0,05). Letras maiúsculas: comparação em cada período experimental (linha) Letras minúsculas: comparação no grupo no decorrer dos períodos (coluna) AINE 3,80±0,44 A,a 3,80±0,44 A,a 3,80±0,44 A,a 4,00±0,00 A,a 40 6 Discussão Um grande número de pesquisas têm sido desenvolvidas sobre a interferência dos defeitos ósseos AINEs COX-2 específicos sobre reparos de fraturas ósseas e 49, 51, 72 . Neste sentido, a enzima COX-2 foi escolhida como o objeto de estudo do presente trabalho. Sabe-se que, após a comercialização dos coxibes, patologias crônicas músculo-esqueléticas, tais como artrite reumatóide e 73 osteoartrite, foram rotineiramente tratadas com esse tipo de droga . No entanto, há uma falta de investigações sobre a influência destas drogas durante a incorporação de enxertos ósseos autógenos provenientes da crista ilíaca e calota craniana, portanto de diferentes origens embriológicas. Os dados obtidos a partir dos efeitos de AINES COX-2 específicos, mostraram que os enxertos intramembranosos e endocondrias responderam de maneira diferente frente à inibição da enzima COX-2, sugerindo que a sua expressão seja distinta nesses ossos. Resultados observados a partir da análise microscópica revelaram um atraso no reparo de enxertos da crista ilíaca, mesmo sem a administração da droga, em comparação com os enxertos da calota craniana, especialmente no período de 14 dias, quando esperava-se a presença de trabéculas ósseas na área de interface entre o leito receptor e o enxerto. Nos enxertos endocondrais, uma constituição principalmente medular foi observada, na qual, a osteogênese ocorreu em continuidade com as trabéculas do enxerto. Para alguns clínicos, esta característica física da crista ilíaca oferece uma melhor qualidade para a interligação da matriz de osso neoformado e a superfície esponjosa do enxerto, considerando-se uma vantagem para uma melhor incorporação. Esta situação não foi totalmente constatada em nosso estudo, uma vez que mesmo no período de 30 dias, observou-se uma ausência de pontes ósseas na região central da interface, apesar da presença de osso neoformado na superfície das trabéculas. No entanto, há que se ressaltar, que em humanos os enxertos removidos da região de crista ilíaca embora reservem as mesmas características estruturais deste modelo experimental, são notavelmente maiores aos utilizados no presente trabalho.74 Este fator deve ser considerado à eventual comparação com impressões clínicas divergentes do exposto acima. 41 No presente estudo, verificou-se que as características físicas da superfície interna da cortical dos blocos da calota craniana permitiram uma melhor adaptação ao leito receptor, sendo esta uma das possíveis razões que pode ter contribuído para uma integração mais rápida quando comparado com o da crista ilíaca, cuja superfície de contato é esponjosa e irregular. A influência desta diferença estrutural está em conformidade com a literatura 7, 9, 23 . Ainda, o comportamento distinto durante o processo de incorporação e reparo nas áreas reconstruídas com os dois tipos de ossos,7,9 pode ser atribuído às diferenças bioquímicas e moleculares existentes entre ambos.8,33,34 A maioria dos estudos disponíveis sobre a influência da COX-2 no processo de reparo ósseo foram realizados em defeitos ósseos e fraturas criados artificialmente 16, 75 . No entanto, o processo de reparo de um enxerto em bloco é diferente de um defeito ósseo ou uma fratura, uma vez que a consolidação é dependente de um grande número de fatores, tais como o tempo de latência entre a remoção do enxerto e a sua adaptação, o tipo de osso, imobilização do fragmento, características do leito receptor, revascularização do enxerto, recrutamento de células responsáveis pela reabsorção do osso enxertado promovendo a sua substituição por um novo osso, e também de capacidades técnicas do cirurgião, tais como a qualidade da adaptação do bloco ósseo no leito receptor. Deste modo, a necessidade de mais estudos considerando estes fatores é evidente, pois além das diferenças existentes entre os enxertos e tipos de defeitos, as diferenças na posologia de drogas, modelo experimental, o tipo de lesão óssea, bem como as metodologias utilizadas para a análise, podem levar à controvérsias quando os estudos são comparados 74, 76. A administração prolongada do AINE foi instituída no presente estudo, já que há sugestões de que a curto prazo a inibição da COX-2 não interfere significativamente no reparo ósseo 54. Apenas dois operadores calibrados foram responsáveis pelos procedimentos cirúrgicos, e a medicação foi administrada pelo mesmo colaborador. Dificuldades na administração do fármaco relatadas por Hak et al. (2011)75 foram contornadas pela adição de uma essência de morango à solução da droga eterocoxib, não alterando a eficácia da droga, ficando os animais mais atraídos pela medicação, com mínimo 42 estresse durante a administração. Esses cuidados foram tomados, a fim de diminuir as variáveis que poderiam alterar os resultados. Os parafusos de titânio foram removidos após desmineralização dos espécimes, e nenhum deslocamento dos blocos foi detectado durante esta manipulação ou no momento da remoção dos espécimes. A imunomarcação de Cbfa-1/Runx-2 nos enxertos endocondrais e intramembranosos do Grupo Controle foram coerentes com a análise histológica, mostrando intensa expressão até o período de 30 dias, tornando-se fraca no último período. Inicialmente, uma melhor manutenção do volume de enxertos intramembranosos pode ser atribuídade à uma revascularização precoce do osso, como mostrado em estudos com diferentes modelos animais7, 23, 28. Atualmente, uma dúvida se torna evidente, especialmente pelos resultados do comportamento clínico em seres humanos da utilização de enxertos endocondrais e intramenmbranosos, quando a integração de enxertos endocondrais parece ser mais estável e uniforme, ao contrário dos resultados do presente estudo e de outros na literatura . Diante dessa divergência, Zins et al.77 corrobora enfatizando a falta de estudos consistentes que possam responder determinadas perguntas, como se o aumento na revascularização do enxerto intramembranoso melhoraria a manutenção do volume ósseo ou, por outro lado, se uma revascularização tardia poderia retardar sua reabsorção. A nível molecular, a rápida expressão do inibidor tecidual o metaloproteinase-1 (TIMP-1) nos enxertos intramembranosos, explica o processo de revascularização precoce, quando comparado aos enxertos endocondrais78. No entanto, não apenas as diferenças no tipo de osso utilizado devem ser consideradas, uma vez que o modelo animal deve ter influenciado estes resultados e um protocolo uniforme ainda não foi estabelecido para este tipo de análise. Além disso, as características do leito receptor variam em pacientes humanos, dependendo do local anatômico e qualidade do osso do rebordo. 43 7 Conclusão Considerando-se as limitações do presente estudo, os resultados obtidos permitiram as seguintes conclusões: Observou-se padrão de reabsorção distinto para cada tipo de osso, intramembranoso e endocondral, com menor reabsorção do enxerto proveniente da calota; Houve melhor incorporação dos enxertos de calota quando comparados com os enxertos da crista ilíaca; A quantificação óssea da região de interface enxerto/área receptora por meio de histomorfometria demonstrou-se mais no grupo Controle, apenas nos enxertos de calota craniana e no período de 14 dias; A inibição da enzima Cox-2 não interferiu de maneira significativa na marcação de Cbfa1/Runx2 e VEGF durante o processo de reparo de enxertos provenientes da calota e ilíaco. 44 REFERÊNCIAS * 1. Tong L, Buchman RS. Facial bone grafts: contemporary science and thought. 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