UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE – UFCSPA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HEPATOLOGIA Maria de Lourdes Giacomini Impacto individual de fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C em uma população de baixa renda do Sul do Brasil Porto Alegre 2013 Maria de Lourdes Giacomini Impacto individual de fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C em uma população de baixa renda do Sul do Brasil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Hepatologia da Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre como requisito para a obtenção do grau de Mestre Orientador: Dra Gisele Alsina Nader Bastos Co-orientador: Dr. Ângelo Alves de Mattos Porto Alegre 2013 Catalogação na Publicação Giacomini, Maria de Lourdes Impacto individual de fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C em uma população de baixa renda do Sul do Brasil / Maria de Lourdes Giacomini.- 2013 70 f. : il., tab. ; 30 cm. Dissertação (mestrado) -- Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia, 2013. Orientador(a): Gisele Alsina Nader Batos ; coorientador(a): Angelo Alves de Mattos. 1. Epidemiologia. 2. Impacto Individual. 3. Fatores de Risco. 4. Hepatite C. I. Título. Sistema de Geração de Ficha Catalográfica da UFCSPA com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). TERMO DE APROVAÇÃO Maria de Lourdes Giacomini, autora da Dissertação intitulada Impacto individual de fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C em uma população de baixa renda do Sul do Brasil, apresentada como requisito final do título de Mestre em Hepatologia, no curso de Pós-Graduação Stricto Senso da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA, submeteuse à banca avaliadora na data abaixo, sendo aprovada. Porto Alegre, 16 de dezembro de 2013. ____________________________ Dra. Gabriela Perdomo Coral ____________________ Dra. Sirlei Dittrich _____________________________ Dra. Lucia Campos Pellanda AGRADECIMENTOS Aos meus orientadores: À Profª. Dra. Gisele Alsina Nader Bastos, por seu conhecimento e disponibilidade, importantes características para um bom orientador. Também pela sua capacidade de transmitir confiança nos momentos de insegurança e de incerteza de que o trabalho chegará ao seu final. Ao Prof. Dr. Angelo Alves Mattos, pelas orientações, pelo apoio, pela confiança em mim depositada e pelo estímulo que, aliados ao meu enorme desejo de aprender, me levaram a desenvolver este trabalho, mesmo diante de todas as adversidades. Aos demais professores das disciplinas de Pós-Graduação em Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre que transmitiram seus conhecimentos, concedendo-me os subsídios necessários ao meu aprendizado. Aos meus colegas de mestrado, em especial à Michely, à Patrícia e à Lívia, que nunca me negaram ajuda nos momentos de dificuldade. Aos meus colegas de trabalho no CRTB Restinga, enfermeira Luzia Torres e aos técnicos de enfermagem Gisele Telles de Mattos e Leonardo Martins pela compreensão nos momentos em não pude dar a devida atenção e, incentivo para que a caminhada chegasse ao final. Ao Dr. Eugênio Lisboa, do Hospital Moinhos de Vento, que não mediu esforços para a digitação dos dados. Ao gestor do Pronto Atendimento da Restinga e à enfermeira Maristela Fiorini, da Equipe de Vigilância Epidemiológica Municipal de Porto Alegre, que tornaram este trabalho uma realidade. À enfermeira Celita Fraporti, Coordenadora do Pronto Atendimento Restinga e toda a equipe do Pronto Atendimento da Restinga, pela colaboração e auxílio recebidos durante o meu trabalho de campo. Às coletadoras Lúcia Bandeira e Viviane da Silva dos Santos Leite pelo tempo em que estiveram colaborando na execução deste trabalho e pelo seu senso de equipe, discernimento e amizade. À Sra. Alzira Resende do Carmo Aquino, farmacêutica e bioquímica, DiretoraSócia do Unilab Laboratório, que cedeu gentilmente seu laboratório para armazenar temporariamente as amostras coletadas. À Farmacêutica e bioquímica Elizane Rossetto Azzulin Bertaco, responsável pelo setor de Imunologia do laboratório Central de Saúde Pública do Município de Porto Alegre, pelo processamento das amostras coletadas. À secretária Luciani Spencer, do Programa de Pós Graduação em Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, pelo carinho e pela presteza em me auxiliar nas demandas acadêmicas. À minha querida família e, em especial às minhas filhas, pelo apoio e compreensão pelos momentos em que me abstive do seu convívio e ao meu irmão Alexandre Giacomini e a minha cunhada Elizaine Takamato, também colegas de profissão, por compartilhar uma experiência também vivida. “Não é na ciência que está a felicidade, mas na aquisição da ciência”. (Edgar Allan Poe) RESUMO Objetivo: O presente estudo teve como objetivo avaliar o impacto individual e ajustado dos fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C em uma população adulta do Sul do Brasil, a fim de identificar os indivíduos de maior risco. Métodos: Foi realizado um estudo transversal no período de fevereiro de 2012 a abril de 2013. A população alvo do referido estudo foi constituída por indivíduos adultos, de ambos os sexos, com 40 anos de idade ou mais, residentes em uma área de vulnerabilidade social da cidade de Porto Alegre. Os instrumentos utilizados para a pesquisa foram um questionário com 83 perguntas, previamente estabelecidas e testadas em um piloto com indivíduos não incluídos na amostra final do estudo, e exame sorológico para testagem da infecção pelo vírus da hepatite C (anti HCV). Foram excluídos do estudo os indivíduos que não apresentavam capacidade para responder o questionário no momento da entrevista. Para digitalização dos dados utilizou-se o software Office Remark, e para análise estatística, o programa SPSS 17,0. Inicialmente foi realizada análise descritiva das variáveis socioeconômicas, demográficas e dos fatores de risco da amostra estratificada pela presença ou não de infecção pelo vírus da hepatite C. A seguir foi realizada analise bivariada entre os possíveis preditores e o desfecho, infecção pelo vírus da hepatite C. Por fim foi realizada regressão logística. Na regressão, todas as variáveis foram levadas ao modelo inicial e retiradas por seleção retrógrada. O critério para uma variável ser mantida no modelo foi estar associada ao desfecho com p < 0,20. Resultados: A prevalência de hepatite C, verificada através de coleta de sangue, entre os 1228 indivíduos entrevistados foi de 5,9%. O Kappa de concordância entre a variável auto referida de hepatite C e a variável aferida através de coleta de sangue foi de 0,27 (p<0,001). Do total da amostra 96,3% dos indivíduos referiram ter realizado tratamento odontológico, 92,7% ter realizado medicação injetável, 69,8% ter utilizado alicate de salão de beleza e 51,9% ter compartilhado lâminas. Na análise ajustada as variáveis de uso de drogas injetáveis, inaláveis e pipetadas estiveram diretamente associadas de maneira estatisticamente significativa a infecção pelo vírus da hepatite C (p<0,001; p<0,001 e p=0,008, respectivamente). Também se associaram ao desfecho: ser portador do HIV e ter realizado transfusão sanguínea antes do ano de 1993 (p=0,000 e p=0,001, respectivamente). Indivíduos que relataram já ter feito uso de medicação injetável apresentaram uma prevalência menor de infecção pelo vírus da hepatite C quando comparados aos que nunca fizeram uso de medicação injetável (p=0,003). Conclusão: A prevalência da hepatite C na população alvo do estudo foi 5,9%. O uso de drogas injetáveis, inaláveis e pipetadas estiveram estatisticamente associadas a infecção pelo vírus da hepatite C. Também estiveram associados ao desfecho ser portador do HIV e ter realizado transfusão sanguínea antes do ano de 1993. Sendo assim, entendemos ser de fundamental importância a detecção de fatores de risco com o intuito de identificar os indivíduos que mais se beneficiariam com o rastreamento da infecção pelo VHC. Palavras chave: Epidemiologia; Prevalência; Fatores de Risco; Hepatite C. ABSTRACT Objective: This study aimed to evaluate the impact of individual and adjusted risk factors for infection with hepatitis C virus in an adult population in southern Brazil, in order to identify individuals at greatest risk. Methods: We conducted a crosssectional study from February 2012 to April 2013. The target population of the study consisted of adults of both sexes, aged 40 and older, residing in an area of social vulnerability of the city of Porto Alegre. The instruments used for the study were a questionnaire with 83 questions, previously established and tested in a pilot with individuals not included in the final sample, and serologic testing for infection with hepatitis C virus (anti HCV). Excluded from the study individuals who had no ability to answer the questionnaire at the time of interview. To scan the data we used Remark Office software, and statistical analysis, SPSS 17.0. Was initially performed descriptive analysis of socioeconomic, demographic and risk factors of the sample stratified by presence or absence of infection by hepatitis C. Was then performed bivariate analyzes between predictors and outcome, infection by hepatitis C. Finally logistic regression was performed. The regression all the variables were taken to the initial model and removed by backward selection. The criterion for a variable to be retained in the model was to be associated with the outcome at p <0.20. Results: The prevalence of hepatitis C, verified by blood collection, among 1228 individuals interviewed was 5.9%. The Kappa agreement between the variable self-reported hepatitis C and the variable measured by blood sampling was 0.27 (p < 0.001). Of the total sample 96.3% of subjects reported having dental treatment, 92.7% have completed injectable medication, 69.8% have used pliers salon and 51.9% have shared blades. In the adjusted analysis, the variables of injection and pipetted, inhalable drugs were directly associated in a statistically significant way the virus infection with hepatitis C (p < 0.001, p < 0.001 and p = 0.008, respectively). Also associated with the outcome: be HIV positive and have performed blood transfusion before 1993 (p = 0.000 and p = 0.001, respectively). Individuals who reported ever having used injectable medication had a lower prevalence of infection with hepatitis C virus compared to those who never used injection drugs (p = 0.003). Conclusion: The prevalence of hepatitis C in the target study population was 5.9%. The use of injectable, inhalable and pipetted drugs were statistically associated with infection by the hepatitis C virus. Were also associated with the outcome being a carrier of the Human Immunodeficiency Virus and have performed blood transfusion before 1993. Therefore, we believe it is fundamental to detect risk factors in order to identify individuals who would benefit from more sceening of HCV infection. Key word: Epidemiology, Prevalence, Risk Factors, Hepatitis. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Distribuição geográfica da hepatite C no mundo..................... Figura 2. História natural da infecção pelo VHC e sua variabilidade na 16 progressão modificada.............................................................. 20 Incidência e hepatite C aguda nos EUA entre 1982-1993........ 22 Quadro 1. Prevalência da hepatite C nos continentes em 2010................ 17 Figura 3. Quadro 2. Prevalência de anti-HCV e IC (95%) nas cinco regiões brasileiras representadas pelas capitais e no Distrito Federal.. 18 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Descrição da amostra segundo risco de infecção pelo vírus da hepatite C e variáveis sociodemográficas. Porto Alegre, RS, 2013 (n=1228)............................................................................... Tabela 2. Prevalência de fatores de risco para o vírus da hepatite C entre adultos. Porto Alegre, RS, 2013 (n=1228)..................................... Tabela 3. 47 48 Análise bruta e ajustada entre fatores de risco e infecção pelo vírus da hepatite C. Porto Alegre, RS, 2013 (n=1228).................. 50 LISTA DE SIGLAS ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa CDC - Centers for Disease Control and Prevention DNA - Deoxyribonucleic Acid DSTs - Doenças sexualmente transmissíveis ELISA - Enzyme-Linked Immunosorbent Assay EUA - Estados Unidos da América HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana (human immunodeficiency vírus) IC - Intervalo de Confiança KAPPA - Estatística k (Índice de concordância) LAC - Latin America and the Caribean MMWR - Morbidity and Mortality Weekly Report NHANES - National Health and Nutrition Examination Suvery PCR-Polymerase Chain Reaction PROADI-SUS - Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde RDC - Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária SINAN - Sistema de Informação Nacional de Agravos de Notificação VHB - Vírus da Hepatite B VHC - Vírus da Hepatite C SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 14 1.1 Considerações Gerais........................................................... 14 1.2 Hepatite não-A não-B (Hepatite C)....................................... 14 1.3 Epidemiologia da infecção pelo vírus da hepatite C.......... 15 1.4 História natural da hepatite C.............................................. 19 1.5 Formas de transmissão do vírus da hepatite C................. 21 1.5.1 Fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C... 21 1.5.1.1 Transfusão de sangue e hemoderivados..................... 22 1.5.1.2 Uso de drogas endovenosas........................................ 23 1.5.1.3 Procedimentos Médicos e Exposição Nosocomial....... 23 1.5.1.4 Transplante de órgãos sólidos..................................... 24 1.5.1.5 Exposição Ocupacional................................................ 24 1.5.1.6 Transmissão Vertical.................................................... 25 1.5.1.7 Transmissão Sexual..................................................... 25 1.6 Prevenção da infecção pelo vírus da Hepatite C................ 26 2 JUSTIFICATIVA................................................................................... 29 3 OBJETIVOS......................................................................................... 30 3.1 Objetivo Primário.................................................................. 30 3.2 Objetivo Secundário............................................................. 30 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 31 5 ARTIGO Impacto individual de fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C em uma população de baixa renda do Sul do Brasil.................................................................................................. 39 6 CONCLUSÕES..................................................................................... 62 ANEXO A − Instrumento de coleta de dados....................................... 63 1 INTRODUÇÃO 1.1 Considerações Gerais A descrição de doença hepática epidêmica e de hepatite viral aguda esporádica remonta desde a antiguidade. Descrição de epidemia de hepatite de transmissão entérica, também conhecida como hepatite “infecciosa” e de hepatite de transmissão parenteral conhecida como “sorohepatite” foram descritas nos últimos 100 a 200 anos [1]. 1.2 Hepatite não-A não-B (Hepatite C) Após a identificação do vírus da hepatite B e da hepatite A ficou claro que a maioria das hepatites pós-transfusional não poderia ser relacionada a esses agentes. Isso levou à descrição de uma nova forma de hepatite chamada “não-A não-B”. A origem desta hepatite foi suspeitada com base na observação clínica de indivíduos que receberam transfusão sanguínea e de observação experimental em chimpanzés nos quais haviam sido inoculado soro de paciente com hepatite não-A não-B. Após um período de incubação de um a três meses estes chimpanzés desenvolveram características clinicas de hepatite e muitas vezes cronificaram (duração da hepatite por mais de seis meses). No início da década de 80 o suposto agente da hepatite não-A não-B foi caracterizado como um microrganismo filtrável acreditando-se ser um vírus de aproximadamente 50nm de diâmetro. Como sua infecciosidade foi reduzida com o uso do clorofórmio ele foi considerado como tendo um envelope lipídico [2]. O vírus da então denominada hepatite C foi clonado em 1989 de uma cópia do DNA complementar, extraído do plasma de um chimpanzé infectado experimentalmente com sangue de um portador de hepatite não-A, não-B. A partir daí foram desenvolvidos testes sorológicos para detecção de anticorpos específicos contra o vírus da hepatite C. Estes testes permitiram constatar que a hepatite C era responsável por cerca de 90% dos casos de hepatite pós-transfusional [3,4]. 1.3 Epidemiologia da infecção pelo vírus da hepatite C 15 A Hepatite C é um problema de saúde pública mundial. Estima-se que, aproximadamente, 170 milhões de pessoas estão infectadas com o vírus da hepatite C (VHC) em todo o mundo. Isso significa que 3% da população mundial é portadora do VHC. [5,6,7]. Os genótipos 1, 2 e 3 têm distribuição mundial: entre eles, os genótipos 1a e 1b são os mais comuns, representando 60% das infecções no mundo [7]. No Brasil, são encontrados, principalmente, os genótipos 1a, 1b, 2a, 2b e 3, com predominância do genótipo 1 sobre genótipos não-1, com distribuição de 60% e 40%, respectivamente [8, 9, 10]. A cada ano, 3 a 4 milhões de pessoas são infectadas com o VHC e mais de 350.000 pessoas morrem de doença hepática relacionada à hepatite C [11]. A hepatite C tem distribuição global, ocorre entre todas as idades, sexos, raças e regiões do mundo. O ônus socioeconômico da infecção pelo VHC ainda não tem sido definido entre vários países [12]. A verdadeira prevalência da infecção pelo vírus da hepatite C é difícil de ser obtida devido a escassez de estudos que envolvam amostras representativas da população. Além disso, por ser uma infecção na maioria das vezes assintomática, acaba dificultada a obtenção de dados representativos da população. A prevalência da infecção pelo VHC tem sido estimada basicamente em estudos realizados em doadores de sangue [12,13]. Porém, esta é uma população com características especificas que podem não representar fielmente a prevalência real da doença na população geral. Isso foi demonstrado na população norteamericana na década de 1990 onde a prevalência estimada de infecção pelo VHC foi de 0,6% nos estudos de doadores de sangue e de 1,8% na população geral [14,15]. Outras investigações realizadas em pacientes com doença hepática crônica também devem ser interpretadas com cautela uma vez que esses indivíduos não representam adequadamente a população total de uma área especifica. Estudo com amostras representativas de uma ou mais comunidades são mais apropriadas, porém são mais complexos e de custo elevado e não podem ser realizados na maioria das regiões do mundo [16]. 16 A infecção pelo VHC está amplamente distribuída pelo mundo, e observa-se grandes assimetrias geográficas, quer no mesmo continente, entre diferentes países, quer no mesmo país e entre diferentes áreas geográficas [10]. (Figura 1). Figura 1. Distribuição geográfica da hepatite C no mundo Fonte: Te e Jensen [Ref. 10]. Como pode ser visto no quadro 1, a prevalência dos indivíduos cronicamente infectados na Austrália e Oceania é de 400.000, 14 milhões nas Américas, 16 milhões no Oriente Médio, 17,5 milhões na Europa, 28 milhões na África e 83 milhões na Ásia [12]. A maioria das populações nas Américas, Europa Ocidental e Sudeste da Ásia têm prevalência de anti-HCV de 2,5%; na Europa Oriental de 1,5% - 5%; na região do Pacífico Ocidental de 2,5% - 4,9% e no Oriente Médio e Ásia Central de1% a 12%. A maioria das pessoas infectadas vivem na Ásia Central e Sudeste e Pacífico Ocidental semelhante a infecção crônica pelo VHB [12, 14]. 17 Quadro 1. Prevalência da hepatite C nos continentes em 2010 Região Anti-HCV ( % ) Nº de Indivíduos infectados Africa 3,2 28 100 000 Américas 1,5 14 000 000 Ásia 2,1 83 000 000 Autrália e Oceania 1,2 400 000 Europa 2,3 17 500 000 Oriente Médio 4,7 16 000 000 Total 2,35 159 000 000 Fonte: Lavanchy, adaptado. [Ref. 12]. Conforme já referido, embora o VHC seja endêmico no mundo há uma grande variabilidade geográfica quanto sua distribuição. Países com altas taxas de prevalência se localizam na África e na Ásia. No Egito (15%), Paquistão (4,8%) e China (3,2%) o principal modo de transmissão é o uso de agulhas não descartáveis [11]. Os países de baixa prevalência se localizam em nações industrializadas como América do Norte, norte e oeste da Europa e Austrália. Há nações desenvolvidas e populosas que apresentam baixas taxas de prevalência como Alemanha (0,6%), Canadá (0,8%), França (1,1%) e Austrália (1,1%). Há prevalência baixa, porém um pouco maior nos EUA (1,8%), Japão (1,5-2,3%) e Itália (2,2%). [17]. Existe uma gama de estimativas de prevalência em países em desenvolvimento, porém com dados menos disponíveis para avaliar o impacto da doença do que em países desenvolvidos. A Índia que detém um quinto da população mundial e é pouco desenvolvida apresenta taxa de 0,9%. Na Indonésia a taxa é de 2,1%, sendo baseada em estudos com doadores voluntários [17]. Estudo realizado nos EUA no período compreendido entre 1999 e 2002 no qual participaram 15.079 indivíduos no The National Health and Nutrition Examination Suvery (NHANES) encontrou uma prevalência de anti-HCV de 1,6% equivalendo a 4,1 milhão de pessoas com sorologia positiva em todo o país. O pico de prevalência do anti-HCV foi entre as pessoas de 40 a 49 anos (4,3%). A prevalência foi maior entre homens do que mulheres (2,1% vs 1,1%), com menos de 12 anos de escolaridade (2,8% vs 1,3 %) e renda abaixo do limiar de pobreza 3,2% vs 1% para renda acima de 2 duas vezes o limiar de pobreza [18]. 18 Um inquérito realizado pela Sociedade Brasileira de Hepatologia revelou que dos 1.173.406 doadores de sangue avaliados, 14.527 (1,23%) apresentaram o antiHCV reagente [16]. Recentemente foi realizado um inquérito nas capitais brasileiras e no Distrito Federal (DF) o qual teve como objetivo estimar a prevalência das infecções virais A, B e C, nas faixas etárias de 5 a 19 anos para o vírus da hepatite A (VHA) e de 10 a 69 anos para os vírus B e C (VHB e VHC, respectivamente), avaliando variáveis biológicas, socioeconômicas e epidemiológicas. As estimativas das prevalências de anti-HCV e seus respectivos intervalos de confiança (IC 95%) e endemicidade de hepatite C para o conjunto das capitais de cada região e Distrito Federal foram as que se seguem conforme o quadro abaixo: [19]. Quadro 2. Prevalência de anti-HCV e IC* (95%) nas cinco regiões brasileiras representadas pelas capitais e no Distrito Federal Características/ Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul DF 0.99 (0.36 – 0.38 (0.10 – 0.99 (0.53 – 0.90 (0.49 – 0.51 (0.12 – 0.61 (0.13 – 1.63) 0.66) 1.47) 1.31) 0.89) 1.09) 3.22 (2.02 – 0.97 (0.48 – 1.64 (1.14 – 1.63 (1.07 – 1.70 (1.08 – 1.09 (0.50 – 4.41) 1.47) 2.13) 2.18) 2.32) 1.68) Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Variáveis Prevalência (%) 10 a 19 anos Prevalência (%) 20 a 69 anos Endemicidade * Intervalo de Confiança Fonte: Leila et al, adaptado. [Ref. 19]. Conforme dados publicados no Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2012, os casos confirmados de hepatite C entre 1999 e 2011, registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), totalizam 82.041. Em relação ao gênero, foram confirmados 49.291 casos de hepatite C no sexo masculino e 32.734 casos no sexo feminino, com razão de sexos (M:F) evoluindo de 2:1 em 1999 para 1,4:1 em 2011. Em relação à faixa etária, o diagnóstico foi mais frequente em indivíduos de 30 a 59 anos de idade. No sexo masculino houve um predomínio na faixa etária de 19 40 a 49 anos de idade; no sexo feminino, a faixa etária predominante foi de 40 a 59 anos de idade. Do total de casos registrados em 2011, 5.946 (62%) ocorreram em residentes da Região Sudeste, seguido da Região Sul com 2.337 (25%) [20]. A maioria das infecções agudas pelo VHC são assintomáticas e, portanto, difícil estimar a incidência das mesmas [12]. A alta cronicidade desse tipo de hepatite é uma característica da infecção, a qual ocorre em até 85% dos pacientes infectados. A cirrose hepática se desenvolve em 10%-50% dos casos; o carcinoma hepatocelular, em 1%-5%;e a mortalidade relacionada à doença hepática alcança de 4% a 15% [21]. De acordo com a Pan American Health Organization in Latin America and the Caribean (LAC), é estimada uma prevalência de 57% de casos de cirrose e 78% do câncer primário do fígado decorrentes de infecção pelos vírus das hepatites B e C. Segundo a LAC a prevalência de infecção pelo VHB está abaixo de 2% a 4% e 7 a 9 milhões de adultos são infectados pelo vírus da hepatite C. [22]. Em 2009 mais de 99% das unidades de sangue doadas na LAC foram testadas para hepatite B ou C e HIV. Mais de 78.000 bolsas de sangue doadas foram positivas para vírus da hepatite B e C [22]. 1.4 História natural da hepatite C A história natural da hepatite C tem sido difícil de ser determinada devido a dificuldade de reconhecer a infecção aguda; sua transição para a infecção crônica que geralmente é silenciosa e a evolução para fases avançadas pode levar décadas [23]. Há uma variabilidade interindividual na história natural da infecção aguda e crônica da hepatite C que pode ser explicada pela combinação de vários fatores. São eles: fatores virais (carga viral, genótipo, quasiespécies); fatores relacionados ao hospedeiro (idade na infecção, sexo, raça, coinfecção HIV/HBV; presença de comorbidades tais como: hemocromatose, esteato-hepatite não alcoólica, esquistossomose, genética (antígeno leucocitário humano classe II) e a expressão da doença (alteração de enzimas hepáticas) e fatores ambientais (álcool, cigarro e contaminantes ambientais) [23,24]. 20 A infecção aguda leva a infecção crônica na maioria dos indivíduos. A depuração viral após a infecção aguda ocorre em 20% a 25% dos casos. Fatores do hospedeiro tais como a apresentação de sintomas, idade, sexo, a presença do polimorfismo do gene IL28 CC estão associados à mesma [25, 26]. O estabelecimento da infecção crônica leva a hepatite crônica e algum grau de fibrose. Estas alterações podem ser acompanhadas de sintomas inespecíficos. A presença de cirrose ocorre em 15 a 20% dos pacientes. [Ref. 27]. O período em que as várias fases da doença se desenvolve é variável. A doença grave pode ocorrer em um terço dos pacientes com vinte anos ou menos de infecção e em outro terço dos casos pode não haver progressão ao longo de 30 anos ou mais. Uma vez estabelecida a cirrose o risco de carcinoma hepatocelular é de 1% a 4% ao ano. Fatores que aceleram a progressão clinica incluem ingestão de álcool, sexo masculino, coinfecção com hepatite B e HIV. [Ref. 27]. Esses dados podem ser observados na figura 2. [Ref. 27]. Estes dados podem ser observados na figura 2: Figura 2. História natural da infecção pelo VHC e sua variabilidade na progressão Fonte: Lauer e Walker. [Ref. 27]. A esteatose hepática, obesidade e diabetes têm sido reconhecidos como facilitadores da replicação viral e progressão de fibrose. Níveis elevados de aminotransferase estão associados a uma progressão maior da fibrose. Em contrapartida, em pacientes onde os níveis de aminotransferase são 21 persistentemente normais, o agravamento da fibrose é menor. Marcadores sorológicos de fibrose não são confiáveis e precisam ser melhor avaliados [28]. A conseqüência da diversidade genética do VHC e sua habilidade de escapar aos mecanismos de proteção imunológica do organismo levam a um curso clinico variável com elevado risco de cronificação. Por suas inúmeras mutações a infecção pelo vírus C não confere imunidade à reinfecção por cepa homóloga [29]. O melhor estudo para avaliar a história natural da hepatite C seria uma coorte envolvendo um grande número de indivíduos de ambos os sexos, diferentes etnias e com infecção aguda acompanhados até a endpoint ou evolução para o óbito com determinação da causa mortis. Porém, este estudo não tem uma abordagem facilitada. Como alternativa tem sido utilizados estudos retrospectivos e prospectivos e recentemente a combinação de ambos [30]. 1.5 Formas de transmissão do vírus da hepatite C O conhecimento dos fatores de risco para a infecção pelo VHC evita o desperdício de tempo e os gastos desnecessários com a realização de testes diagnósticos frente a situações não bem definidas. Sabe-se que, de 40 a 50 % dos casos em que se detecta anticorpo contra o VHC (anti-HCV), a via de transmissão é desconhecida [31]. 1.5.1 Fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C É importante ressaltar os principais fatores de risco para a infecção pelo VHC. Estes compreendem os receptores de derivados de sangue antes dos anos 90 e os usuários de drogas ilícitas, pelo compartilhamento de agulhas. Seguindo a ordem de frequência, podem-se considerar nesse caso os indivíduos com HIV, politransfundidos, os hemodialisados e os transplantados. Em grau de menor importância estão os contatos familiares, a promiscuidade sexual (multiplicidade de parceiros) e os recém-nascidos de mães portadoras do vírus, bem como os que se submeteram à realização de tatuagem, à colocação de piercing e à acupuntura e os acidentes ocupacionais [15, 32, 33, 12, 34, 35, 36,37,38, 39]. 22 1.5.1.1 Transfusão de sangue e hemoderivados Essa é uma forma importante de transmissão do vírus da hepatite C. Porém, a partir do rastreamento do anti-HCV nos pré-doadores, houve uma redução na sua transmissão. È estimado que entre 1990 a 1991, 5% a 15% dos receptores de produtos de sangue se infectaram com o HCV. Atualmente, após a introdução em 1990 e 1992 da testagem do HCV nos bancos de sangue o risco de transmissão está em torno de 0,001% por unidade transfundida (Figura 3). Figura 3. Incidência e hepatite C aguda nos EUA entre 1982-1993 Fonte: Bonkovsky e Mehta. [Ref. 2]. No Brasil, em 1993, o Ministério da saúde através da portaria 1376 torna obrigatória a pesquisa do anti-HCV pelo método imunoenzimático (ELISA) e a medida da aminotransferase (aspartato aminotranferase) nos bancos de sangue do país. Em 2002 a RDC nº 343 mantém obrigatória a testagem do anti-HCV e retira a medida da aminotranferase e obriga a busca ativa dos casos de soro conversão entre os doadores. Atualmente a Portaria que regula hemoterapia no Brasil é a Portaria n 1353, de 13 de junho de 2011 em substituição a RDC 153/04. Tem o objetivo de regular a hemoterapia no País de acordo com os princípios e diretrizes 23 da Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados, no que se refere à captação, proteção ao doador e ao receptor, coleta, processamento, estocagem, distribuição e transfusão do sangue, de seus componentes e derivados, originados do sangue humano venoso e arterial, para diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças [38, 39, 40]. Com a diminuição da transmissão relacionada a transfusão de hemoderivados, os usuários de drogas injetáveis ganham destaque através do compartilhamento de material contaminado, especialmente entre os mais jovens [16]. 1.5.1.2 Uso de drogas endovenosas O compartilhamento de material contaminado pelos usuários de drogas endovenosas tornou-se o maior fator de risco para hepatite C após a introdução dos testes de triagem nos bancos de sangue. Esta é a maior forma de transmissão em países como Austrália e Estados Unidos nos últimos anos. Nos países desenvolvidos o uso de drogas injetáveis responde por 60-80% das contaminações e parece aumentar com o tempo de uso [14,15, 41, 42]. O compartilhamento de equipamentos contaminados com fluidos nasais pelo uso de drogas inaladas também são mencionadas como possíveis meios de transmissão de HCV. Porém, não está bem estabelecido se esta via representa um meio independente de transmissão ou se é uma forma de transmissão veiculada pelo sangue decorrente da escarificação da mucosa nasal [15, 43, 44, 45, 46]. 1.5.1.3 Procedimentos Médicos e Exposição Nosocomial As terapias injetáveis com equipamentos contaminados ou não seguros é também uma forma importante de transmissão do VHC. Estima-se que dois milhões de pacientes se infectem por esta via. Em países em desenvolvimento o suprimento de materiais esterilizados é insuficiente ou inexistente. Terapias injetáveis por técnicos sem formação adequada na área da saúde podem ao longo da vida expor indivíduos a múltiplas injeções com material contaminado aumentando o risco acumulado de infecção pelo vírus da hepatite C. [47]. 24 No Egito, país com maior prevalência de hepatite C no mundo, a maioria dos indivíduos foram contaminados pela reutilização de seringas de vidro durante campanhas nacionais de tratamento para esquistossomose entre 1960 e 1987[48]. Nos pacientes em hemodiálise a prevalência da infecção pelo VHC varia entre 19% e 47,2%. As maiores taxas estão entre os pacientes com maior tempo de hemodiálise. A transmissão decorre do compartilhamento de equipamentos e instrumentos de hemodiálise e a falta de biossegurança relacionada a precaução padrão e a desinfecção e/ou esterilização dos equipamentos inadequadas [49, 50]. A reutilização de materiais nos serviços de saúde representou 32% e 40% dos casos novos de hepatite B e C, respectivamente. Essa conduta resultou em uma prevalência aumentada na Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Nicarágua e Peru. Adequadas medidas de biossegurança poderão reduzir estas infecções em mais de 90% [22]. 1.5.1.4 Transplante de órgãos sólidos O diagnóstico do VHC em receptores de órgãos é influenciada pela imunossupressão sobre a acurácia dos testes sorológicos empregados. A prevalência em doadores dos órgãos varia de 4,2 a 5,1% dependendo do teste empregado. Os receptores de órgão sólidos de doadores anti-HCV positivos apresentam elevada taxa de soro conversão, sendo que em um estudo com transplantado de rins, 35% dos receptores de doador com anti-HCV desenvolveram doença hepática no pós transplante e 74% apresentaram viremia [16, 51, 52]. 1.5.1.5 Exposição Ocupacional Acidentes com instrumento perfurocortante é uma forma de transmissão bem documentada. Após uma única exposição percutânea a probabilidade de infecção varia de 3% a 10%. No início da década de 1990 os estudos indicavam que a prevalência entre os profissionais da área de saúde era três vezes maior que em outros profissionais. Seguindo outros estudos a prevalência entre os profissionais de saúde variou de 0,7% a 2% [16]. 25 A transmissão do VHC após acidente com agulha pode ocorrer com risco aproximadamente dez vezes maior que a transmissão do HIV, sem a possibilidade de prevenção após a exposição, o que já acontece com o vírus HIV [53]. Em um estudo realizado pela Universidade Federal de Belo Horizonte onde um dos objetivos era avaliar fatores ocupacionais envolvendo 1302 dentistas, estes foram testados para avaliar a presença do anti-HCV (ELISA). A soroprevalência do anti-HCV foi de 0,9% e estava relacionada a história de transfusão sanguinea.e não ao risco ocupacional [54]. 1.5.1.6 Transmissão Vertical As taxas variam entre 0 a 20% com média de 5%. Os fatores de risco incluem carga viral elevada, trabalho de parto prolongado, monitorização fetal interna e coinfecção HIV/HCV. O aleitamento materno não parece não aumentar a transmissão [55, 56]. 1.5.1.7 Transmissão Sexual Este fator de risco é muito controverso. Maior prevalência relacionada a transmissão sexual tem sido encontrada entre pacientes atendidos em clinicas especializadas em doenças sexualmente transmissíveis (DST), prostitutas e seus parceiros e entre coinfectados com HIV/VHC.Outros fatores relacionados com hábitos sexuais parecem contribuir para transmissão do VHC. São eles: maior numero de parceiros sexuais, presença de outras DSTs, como tricomoníase, HIV/AIDS, sífilis e infecção por clamídia, não uso regular de preservativos, experiências sexuais traumáticas, homossexualismo masculino. A transmissão homem-mulher parece ocorrer mais facilmente. Estudos envolvendo casais monogâmicos demonstram baixo risco de transmissão. A transmissão intrafamiliar por compartilhamento de material de higiene pessoal ou eventual exposição a sangue no uso destes materiais dificultam a interpretação dos estudos que avaliam a transmissão sexual [57, 58,59]. 26 1.6 Prevenção da infecção pelo vírus da Hepatite C Atualmente, não existe vacina contra o vírus da hepatite C. Um dos motivos se deve ao fato do vírus assumir diversas variantes e sofrer constantes mutações. Assim, a redução da infecção e das doenças relacionadas a essa doença crônica e grave exige que sejam implantadas medidas de prevenção primária e secundária. O termo “Promoção da Saúde” foi utilizado pela primeira vez por Sigerist, historiador da medicina quando, em 1945, definiu quatro funções da medicina: promoção da saúde, prevenção da doença, restauração do doente e reabilitação [60]. A base conceitual do movimento da medicina preventiva foi sistematizada no livro de Leavell e Clark “Medicina Preventiva” (1976), cuja primeira edição surge em 1958: - A “tríade ecológica” que define o modelo de causalidade das doenças a partir das relações entre agente, hospedeiro e meio-ambiente. [61] Conforme a história natural da doença é aqui definida como “todas as interrelações do agente, do hospedeiro e do meio ambiente que afetam o processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente ou em qualquer outro lugar (pré-patogênese), passando pela resposta do homem ao estímulo, até às alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte (patogênese)” [61]. O conceito de prevenção é definido como “ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural a fim de tornar improvável o progresso posterior da doença” [61]. A prevenção apresenta-se em três fases: primária secundária e terciária. A prevenção primária é a realizada no período de pré-patogênese. O conceito de promoção da saúde aparece como um dos níveis da prevenção primária, definido como “medidas destinadas a desenvolver uma saúde ótima”. Um segundo nível da prevenção primária seria a proteção específica “contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes do meio ambiente” [61]. A fase da prevenção secundária também apresenta-se em dois níveis: o primeiro, diagnóstico e tratamento precoce e o segundo, limitação da invalidez. Por fim, a prevenção terciária que diz respeito a ações de reabilitação [61, 62]. Em relação à hepatite causada pelo VHC, a prevenção primária visa reduzir a incidência de infecção e deve centrar-se no aconselhamento de pessoas usuárias de 27 drogas injetáveis ou que estão sob risco de uso, e de pessoas que adotem práticas sexuais consideradas de risco [15, 63]. A prevenção primária implica, ainda, em se estabelecer medidas de biossegurança relacionadas a materiais médicos, odontológicos e assegurá-las aos profissionais da saúde. Os testes laboratoriais e o aconselhamento também devem ser dirigidos para locais ou situações em que os indivíduos de risco são identificados (prisões, clínicas de doenças sexualmente transmissíveis, clínicas de reabilitação de dependentes químicos e portadores do vírus HIV). A prevenção secundária é realizada a partir de programas que identifiquem, aconselhem e provenham manejo terapêutico da infecção pelo VHC nos indivíduos portadores, e tem o objetivo de diminuir o risco de hepatopatia crônica assim como de outras doenças relacionadas ao VHC (manifestações extra-hepáticas). O diagnóstico precoce da infecção pelo vírus da hepatite C (VHC) representa um substancial benefício para a saúde, uma vez que favorece as intervenções secundárias [15, 29, 63, 64]. Avaliar e realizar testes diagnósticos, quando os fatores de risco são conhecidos, aumenta a detecção precoce, favorecendo a instituição de medidas preventivas, as quais representam o elo de rompimento da transmissão. O rastreio universal com anti-HCV, independentemente de fatores de risco, não é rentável, nem prático. Avaliações adequadamente validadas têm sido amplamente utilizadas em outras áreas da medicina, e têm se revelado úteis para melhorar a predição do diagnóstico de uma doença. No entanto, quando analisado o contexto do VHC, constata-se que esse recurso tem sido subutilizado [65]. Tendo em vista a importância da prevenção, entendemos ser de fundamental importância a detecção de fatores de risco com o intuito de identificar os indivíduos que mais se beneficiariam com o rastreamento da infecção pelo VHC. Infelizmente, são baixas as taxas de testagens de pacientes com histórico de risco e com comportamento de risco aumentado, por isso é muito importante saber se os indivíduos com fator de risco para o VHC estão infectados, uma vez que a maioria dos casos são assintomáticos [65]. Recentemente o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) aumentou as recomendações publicadas em 1998 no Morbidity and Mortality Weekly Report [66].para que sejam realizados testes de infecção pelo VHC nos indivíduos nascidos 28 entre 1945 e 1965, independentemente da presença ou não de fator de risco. Estes indivíduos representam três quartos de todas as infecções pelo VHC nos Estados Unidos e representam 27% da população. Estas recomendações não substituem as anteriormente presentes no referido documento as quais se baseiam na presença de fatores de risco conhecidos [67]. 29 2 JUSTIFICATIVA A hepatite C é uma doença infecciosa, subestimada e infelizmente subdiagnosticada e não tratada adequadamente. Atualmente, vem sendo considerada curável na maioria dos pacientes com o surgimento de novas opções de tratamento. Este, evoluiu do interferon convencional para o peguilado; e deste, para associação com ribavirina, e, atualmente, para a terapia tripla com boceprevir ou telaprevir. Além disso, deve evoluir para combinações de terapia com agentes anti-virais orais diretos. Assim, agora que dispomos de tratamento mais eficaz, é importante que os pacientes sejam identificados mais precocemente no curso de sua doença, a fim de que se possa prevenir a doença hepática e suas complicações. Logo, é fundamental a avaliação dos fatores de risco com o intuito de identificar, com mais profundidade, a população com maior vulnerabilidade. O reconhecimento dos fatores de risco durante a consulta médica podem orientar a solicitação do exame de triagem e com diagnóstico precoce reduzir danos e gastos desnecessários. 30 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo Primário Verificar qual dos fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C é maior preditor e examinar a equivalência entre os fatores de risco nessa infecção,em uma população vulnerável do Sul do Brasil. 3.2 Objetivo Secundário Avaliar a concordância entre o auto relato de infecção pelo VHC e a infecção aferida através do diagnóstico sanguíneo. Avaliar a Prevalência de infecção na amostra estudada. 31 4 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 Krugman S, Giles JP, Hammond J. Infectious hepatitis: evidence for two distinctive clinical, epidemiological, and immunological types of infection. JAMA 1967;200:36573. 2 Bonkovsky HL, Mehta S, Hepatitis C. A review and update. J AM Acd Dermatol. 2001; 44:159-79. 3 Choo QL, Kuo G, Weiner AJ, Overby LR, Bradley DW, HoughtonM. 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Brasília: Ministério da Saúde. 21 Pelegrini A, Barbanera EE, Buratti F. Incidência da infecção e de fatores de risco para os vírus das hepatites B e C em diferentes populações e a associação com diagnóstico sorológico, bioquímico e molecular. Rev Panam Infectol. 2007;9(3):32-8. 22 PAHO. Pan American Health Organization. Hepatitis in the Americas. Disponível em: http://www.paho.org. 23 Seeff LB. Why is there difficult in defining the natural history of hepatitis C? Transfusion 2000;40:1161-64. 24 Maasoumy B, Wedemeyer H. Natural history of acute and chronic hepatitis. Best Practice & Research Clinical Gastroenterology. 2012;26:401-12. 25 Focaccia R, Vigani AG, Tavares AP, Diament D, De Bortholi Santos E, Larriera ES, et al. Recomendaciones para el manejo y tratamiento de la hepatitis C Rev.Panam. Infectol 2013; 15(1 Supl2):S14-16. 26 Tillmann HL,Thompson AJ, Patel K, A polymorphism near IL28B is associated with spontaneous clearance of acute hepatitis C virus and jaundice. 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Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 343 retira a obrigatoriedade de realizar o teste de Chagas Hemaglutinação e dosagem de TGP para triagem dos doadores de sangue. 40 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 1353, de 13 de junho de 2011 que aprova o Regulamento Técnico de Procedimentos Hemoterápicos. 41 Diaz T, Des Jarlais DC, Vlahov D, Perlis TE, Edwards V, Friedman SR et al. Factors associated with prevalent hepatitis C: differences among young adult injection drug users in lower and upper. Manhattan, New York City. Am j Public Health. 2001; 91:23-30. 42 Thomas DI, Vlahov D, Solomon L, Cohn S, Taylor E, Garfein R et al. Correlates of hepatitis C virus infections among injection drug users. Medicine. 1995; 74:212-20. 43 Tortu S, Mcmahon JM, Pouget ER, Hamid R. Sharing of noninjection drug-use implements as a risk factor for hepatitis C. Subst Use Misuse. 2004;39:211-224. 44 Macmahon JM, Simm M, Milano D, Clats M. 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Serviço de Hemoterapia do Hospital Universitário de Santa Maria da Universidade Federal de Santa Maria, RS. 2. Professor Titular da Disciplina de Gastroenterologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS. 3. Enfermeira da Equipe de Vigilância Epidemiológica da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) do Município de Porto Alegre, RS. 4. Gerente do Instituto de Educação e Pesquisa da Associação Hospitalar Moinhos de Vento, Porto Alegre, RS. 40 5. Professora Adjunta do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS. Gerente Médica de Responsabilidade Social da Associação Hospitalar Moinhos de Vento, Porto Alegre, RS. Resumo O objetivo foi avaliar o impacto individual e ajustado dos fatores de risco associados a hepatite C. Foi realizado um estudo transversal no período de fevereiro de 2012 a abril de 2013. A população alvo do referido estudo foi constituída por indivíduos adultos com 40 anos de idade ou mais, residentes em uma área de vulnerabilidade social da cidade de Porto Alegre-RS. Os instrumentos utilizados para a pesquisa foram questionários com 83 perguntas, previamente estabelecidas e testadas em um piloto com indivíduos não incluídos na amostra final do estudo, e exame sorológico para testagem da infecção pelo vírus da hepatite C (anti HCV). Exclui-se do estudo os indivíduos que não apresentavam capacidade para responder o questionário no momento da entrevista. A prevalência de hepatite C, verificada através de coleta de sangue, entre os 1228 indivíduos entrevistados foi, de 5,9%. O Kappa de concordância entre a variável auto referida de hepatite C e a variável aferida através de coleta de sangue foi de 0,27 (p<0,001). Do total da amostra, 96,3% dos indivíduos referiram ter realizado tratamento odontológico invasivo; 92,7%, ter utilizado medicação injetável; 69,8%, ter utilizado alicate de salão de beleza e 51,9%, ter compartilhado lâminas. Na análise bruta, as variáveis de uso de drogas injetáveis, inaláveis e pipetadas estiveram diretamente associadas de maneira estatisticamente significativa a infecção pelo vírus da hepatite C (p<0,001; p<0,001 e p=0,008, respectivamente). Também se associaram ao desfecho: ser portador do vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e ter realizado transfusão sanguínea antes do ano de 1993 C (p=0,000 e p=0,001, respectivamente). Indivíduos que relataram já ter feito uso de medicação com agulha apresentaram uma prevalência menor de infecção pelo vírus da hepatite C quando comparados aos que nunca fizeram uso de medicamentos com agulha (p=0,003). A identificação dos fatores de risco associados à infecção pelo VHC poderá melhorar as estratégias para reduzir a transmissão, para realizar o diagnóstico da infecção na população mais vulnerável, 41 especialmente nos indivíduos usuários de drogas, nos portadores do vírus HIV, bem como nos que realizaram transfusão sanguinea antes de 1993. Palavras chave: Epidemiologia; Prevalência; Fatores de Risco; Hepatite C. Abstract The objective was to evaluate the impact of individual and set of risk factors associated with hepatitis C. A cross-sectional study was conducted from February 2012 to April 2013. The target population of the study consisted of adults age 40 years and older, residing in an area of social vulnerability in Porto Alegre, RS. The instruments used for the research were questionnaires with 83 questions, previously established and tested in a pilot with individuals not included in the final sample and serologic testing for infection with hepatitis C virus (anti HCV). Excluded from the study individuals who had no ability to answer the questionnaire at the time of interview. The prevalence of hepatitis C, verified by blood collection, among 1228 individuals interviewed was 5.9%. The Kappa agreement between the variable selfreported hepatitis C and the variable measured by blood sampling was 0.27 (p<0.001). Of the total sample 96.3% of subjects reported having dental treatment, 92.7% have completed injectable medication, 69.8% have used pliers salon and 51.9% have shared blades. In the adjusted analysis, the variables of injection and pipetted inhalable drugs were directly associated in a statistically significant way the virus infection with hepatitis C (p < 0.001, p < 0.001 and p = 0.008, respectively). Also associated with the outcome: being a carrier of the Human Immunodeficiency Virus (HIV) and have completed blood transfusion prior to 1993 (p = 0.000 and p = 0.001, respectively). Individuals who reported having used medication needle showed a lower prevalence of infection by hepatitis C compared with those who had never used drugs with a needle ( p = 0.003). The identification of risk factors associated with HCV infection may improve strategies to reduce transmission to diagnose the infection in the most vulnerable population especially in those drug users in HIV patients as well as for those in transfusion blood before 1993. Key Word: Epidemiology; Prevalence; Risk Factors; Hepatitis C. 42 Resumen El objetivo fue evaluar la prevalencia de la infeccción por hepatitis C y los factores de riesgo asociados. Se realizó un estudio transversal de febrero2012 a abril 2013. La población objetivo del estudio consistió en adultos de 40 años o más, que residen en una zona de vulnerabilidad social en Porto Alegre-RS. Los instrumentos utilizados para la investigación fueron cuestionarios con 83 preguntas, previamente establecidos y probados en un pilto con las personas no incluidas en la muestra final y las pruebas serológicas de infección por el virus de la hepatitis C (anti -HCV). Se excluyen de los individuos del estudio que no tenían capacidad para responder al cuestionario en el momento de la entrevista. La prevalencia de la hepatitis C, verificada por la recogida de sangre, entre 1228 entrevistó a los sujetos fue de 5.9%. El acuerdo Kappa entre la variable de la hepatitis C y la percepción subjetiva de la veriable medida por muestreo de sangre fue de 0,27 ( p < 0,001 ). De la muestra total, el 96,3% de los sujetos informaron tener un tratamiento dental, el 92,7% ha usado medicamentos inyectables, 69,8% han utilizado salón alicates y el 51,9% cuchillas han compartido En las variables de análisis ajustado, drogas inyectables, inhaladores, y se pipetearon se asociaron directamente con una infección estadísticamente significativa por la hepatitis C (p < 0.001, p< 0,001, p=0.008).. También asociado con el resultado: ser un portador del virus de Inmunodeficiencia Humana (VIH) y han completado la transfusion de sangre antes de 1993 (p =0,000 y p = 0,001, respectivamente). Las personas que informaron haber utilizado agujas medicamento mostraron una menor prevalencia de la infección por hepatitis C en comparación con aquellos que nunca habían consumido medicamento con una aguja (p = 0,003). La identificación de factores de riesgo asociados con la infecciónpor el VHC puede mejorar las estrategias para reducir la transmisión de diagnosticar la infección en la población más vulnerable, sobre todo en aquellos consumidores de drogas en pacientes con VIH, aí como para los de la transfusión sangre antes de 1993. Palabras clave: Epidemiología; Prevalencia; Factores de Riesgo; Hepatitis C 43 Introdução A Hepatite C representa um problema mundial de saúde pública. Estima-se que, aproximadamente, 170 milhões de pessoas estejam infectadas com o vírus da hepatite C (VHC) em todo o mundo.1, 2,3 Considerando que a infecção primária pelo VHC é na maioria das vezes assintomática, que os anticorpos podem se tornar indetectáveis em indivíduos que eliminam o vírus espontaneamente 4, 5 e o fato de existir desconhecimento por parte da população sobre a doença, a proporção de indivíduos infectados pode estar subestimada. 6, 7 A alta cronicidade desse tipo de hepatite é uma característica da infecção, a qual ocorre em até 85% dos pacientes infectados 3,8, Atualmente, não existe vacina contra o vírus da hepatite C. Um dos motivos para inexistência da vacina é o de que esse vírus assume diversas variantes e sofre constantes mutações.3 Assim, a redução da infecção pelo VHC e das doenças relacionadas a essa doença crônica exige que sejam implantadas medidas de prevenção primária e secundária. A prevenção primária visa reduzir a incidência da infecção pelo VHC. Tal medida deve centrar-se no aconselhamento de pessoas usuárias de drogas injetáveis ou que estão sob risco de uso, e de pessoas que adotem práticas sexuais consideradas de risco. Outra ação preventiva recomendada é o estabelecimento de medidas de biossegurança relacionadas a materiais médicos e odontológicos tanto para pacientes quando para os profissionais da área da saúde. A prevenção secundária deve ser realizada a partir de programas que identifiquem, aconselhem e provenham manejo terapêutico da infecção pelo VHC nos indivíduos portadores do vírus, e tem o objetivo de diminuir o risco de hepatopatia crônica. O diagnóstico precoce da infecção pelo VHC representa um substancial benefício para a saúde, uma vez que favorece as intervenções secundárias. 9, 10 É importante ressaltar os principais fatores de risco para a infecção pelo VHC. Estes compreendem: os usuários de drogas ilícitas, pelo compartilhamento de agulhas; os receptores de derivados de sangue antes dos anos 90; os indivíduos infectados pelo vírus da imunodeficiência humana; os politransfundidos; os hemodialisados e os receptores de transplante. Em grau de menor importância estão os contatos familiares, os indivíduos com multiplicidade de parceiros, os recém- 44 nascidos de mães portadoras do vírus e os que se submeteram à realização de tatuagem, à colocação de piercing e à acupuntura. 10,11,12,13,14,15,16,17 Muitos indivíduos descobrem a infecção pelo vírus da hepatite C por ocasião da doação de sangue ou quando a doença se encontra em estágio avançado, o que pode levar de 20 a 30 anos. 18 O diagnóstico tardio da doença compromete o prognóstico desta e é um problema de saúde pública em vários países.4 O conhecimento dos fatores de risco para a infecção pelo VHC evita o desperdício de tempo e os gastos desnecessários com a realização de testes diagnósticos frente a situações não bem definidas. Sabese que, de 40 a 50 % dos casos em que se detecta anticorpo contra o VHC (antiHCV), a via de transmissão é desconhecida. 19 Portanto, avaliar e realizar testes, quando os fatores de risco são conhecidos, aumenta a detecção precoce, favorecendo a instituição de medidas preventivas, as quais representam o elo de rompimento da transmissão. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo avaliar o impacto individual e ajustado dos fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C em uma população adulta do Sul do Brasil, a fim de identificar os indivíduos de maior risco. Metodologia Foi realizado um estudo transversal no período de fevereiro de 2012 a abril de 2013. A população alvo do referido estudo foi constituída por indivíduos adultos, de ambos os sexos, com 40 anos de idade ou mais, residentes em uma área de vulnerabilidade social da cidade de Porto Alegre. Foram excluídos do estudo apenas os indivíduos que não apresentavam capacidade para responder o questionário no momento da entrevista. Os instrumentos utilizados para a pesquisa foram um questionário com 83 perguntas, previamente estabelecidas e testadas em um piloto com indivíduos não incluídos na amostra final do estudo, e exame sorológico para testagem da infecção pelo vírus da hepatite C (anti-HCV). As variáveis teste do estudo, ou seja, as possíveis preditoras para infecção pelo vírus da hepatite C, foram: (1) história de infecção pelo vírus da imunodeficiência humana, (2) uso de drogas alguma vez na vida (injetáveis, inaladas e/ou pipetadas), (3) transfusão sanguínea antes de 1993, (4) histórico de tatuagem, (5) histórico de piercing, (6) histórico de acupuntura, (7) uso de alicate em salão de 45 beleza alguma vez na vida, (8) compartilhamento de lâminas, (9) realização de medicação com agulha, (10) número de parceiros sexuais nos últimos três meses, (11)o não uso de preservativo durante todas as relações sexuais desde o inicio da vida sexual, (12) convívio com paciente portador do vírus da hepatite B, (13) convívio com paciente portador do vírus da hepatite C, (14) histórico de cirurgia e/ou endoscopia digestiva alta e/ou baixa e (15) ter trabalhado ou estar trabalhando na área da saúde. Para definição de infecção pelo vírus da hepatite C, utilizou-se o critério de sorologia positiva (anti-HCV positivo). As entrevistas foram realizadas por uma entrevistadora previamente treinada, e a coleta de sangue realizada por uma técnica em enfermagem no mesmo dia da entrevista. Todos os indivíduos foram entrevistados em um serviço de saúde de média complexidade localizado em um Distrito Sanitário de vulnerabilidade social 20 onde residem aproximadamente 100 mil indivíduos. Nos casos em que o resultado da sorologia para hepatite C foi positivo, os pacientes foram contatados pela pesquisadora principal e devidamente encaminhados para um serviço de referência para realização da detecção do VHC pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR). Para digitalização dos dados utilizou-se o software Office Remark, e para análise estatística, o programa SPSS 17,0. Inicialmente, foi realizada análise descritiva das variáveis socioeconômicas, conforme classificação da ABEP 21 das variáveis demográficas e dos fatores de risco da amostra estratificada pela presença ou não de infecção pelo vírus da hepatite C. A seguir foi realizada analise bivariada entre os possíveis preditores e o desfecho, infecção pelo vírus da hepatite C. Por fim foi realizada regressão logística. Na regressão, todas as variáveis foram levadas ao modelo inicial e retiradas por seleção retrógrada. O critério para uma variável ser mantida no modelo foi estar associada ao desfecho com p < 0,20. Os questionários não possuíam identificação nominal dos indivíduos e eram identificados por números cardinais. As entrevistas foram realizadas em ambiente privado com os adultos e após o consentimento livre e esclarecido. O presente estudo foi aprovado pelos Comitês de Ética e Pesquisa do Hospital Moinhos de Vento e da Secretaria Municipal de Saúde sob números de protocolo 2011/86 e 730, respectivamente. 46 Resultados Ao todo, 1508 indivíduos foram convidados para fazer parte da pesquisa, dos quais 280 (18,5%) não aceitaram, resultando em uma amostra final de 1228 indivíduos. Em relação às características da amostra, a maioria dos entrevistados era do sexo feminino (67,6 %), de cor da pele branca (57,2%), casados(as) ou com companheiro(a) (66,2%). A média de idade foi de 52,17 anos, com desvio padrão de 9,17 anos. A quase totalidade dos entrevistados referiu saber ler e escrever (91%) e aproximadamente metade desses indivíduos possuía atividade laboral na época da entrevista. A maioria pertencia à classe social C (63,3%) (Tabela1). A Tabela 1 também apresenta os dados socioeconômicos e demográficos da amostra estratificados pela presença ou não de infecção pelo vírus da hepatite C. A prevalência de hepatite C, verificada através de coleta de sangue, entre os entrevistados foi de 5,9%. O Kappa de concordância entre a variável auto referida de hepatite C e a variável aferida através de coleta de sangue foi de 0,27 (p<0,001). A Tabela 2 demonstra a prevalência de fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C no total da amostra e também estratifica os fatores de risco entre portadores e não portadores do vírus. Embora sem associação positiva, os quatro principais fatores de risco para infecção pelo VHC foram: tratamento odontológico invasivo, medicação injetável, uso de alicate de salão de beleza e uso de lâminas compartilhadas. Do total da amostra, 96,3% dos indivíduos referiram ter realizado tratamento odontológico invasivo; 92,7%, ter utilizado medicação injetável; 69,8%, ter utilizado alicate de salão de beleza e 51,9%, ter compartilhado lâminas. (Tabela 2). Na análise bruta, as variáveis de uso de drogas injetáveis, inaláveis e pipetadas estiveram diretamente associadas de maneira estatisticamente significativa a infecção pelo vírus da hepatite C (p<0,001; p<0,001 e p=0,008, respectivamente). Também se associaram ao desfecho: ser portador do HIV e ter realizado transfusão sanguínea antes do ano de 1993 (p=0,000 e p=0,001, respectivamente). Indivíduos que relataram já ter feito uso de medicação injetável apresentaram uma prevalência menor de infecção pelo vírus da hepatite C quando comparados aos que nunca fizeram uso de medicamentos injetável (p=0,003). (Tabela 3) As variáveis uso de drogas injetáveis, uso de drogas inaláveis, ser portador do vírus HIV e ter realizado transfusão sanguínea antes do ano de 1993 47 permaneceram diretamente associadas a maior infecção pelo vírus da hepatite C mesmo após análise ajustada (p=0,001; p=0,023; 0,031; 0,001, respectivamente). Da mesma forma o uso de medicamentos injetáveis manteve-se inversamente associado ao desfecho após análise ajustada (p=0,11). (Tabela 3) Dentre todos os fatores de risco avaliados para infecção pelo vírus da hepatite C o uso de drogas injetáveis foi o que mais se destacou. Indivíduos usuários de drogas injetáveis tiveram uma probabilidade 8,25 vezes maior de ter a infecção pelo vírus da hepatite C quando comparados a não usuários. Tabela1. Descrição da amostra segundo risco de infecção pelo vírus da hepatite C e variáveis sociodemográficas. Porto Alegre, RS, 2013 (n=1228). Hepatite C Variáveis n = 1228 Sexo 398 (32,4%) Masculino 830 (67,6%) Feminino Cor da pele 702 (57,2%) Branca 526 (42,8%) Não Branca Ler e escrever 32 (2,6%) Não 1118 (91,0%) Sim, ler e escrever 78 (6,4%) Só assina Situação Conjugal 813 (66,2%) Casado 131 (10,7%) Solteiro 170 (13,8%) Separado 114 (9,3%) Viúvo Classe Social (ABEP*) 1 (0,1%) A 34 (2,8%) B1 196 (16,0%) B2 426 (34,7%) C1 351 (28,6%) C2 210 (17,1%) D 10 (0,8%) E Trabalho 592 (48,2%) Não 636 (51,8%) Sim *Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Não n = 1155 (94,1%) Sim n = 73 (5,9%) 361 (90,7%) 794 (95,7%) 37 (9,3%) 36 (4,3%) 669 (95,3%) 486 (92,4%) 33 (4,7%) 40 (7,6%) 29 (90,6%) 1054 (94,3%) 72 (92,3%) 3 (9,4%) 64 (5,7%) 6 (7,7%) 777 (95,6%) 117 (89,3%) 155 (91,2%) 106 (93,0%) 36 (4,4%) 14 (10,7%) 15 (8,8%) 8 (7,0%) 1 (100%) 34 (100%) 189 (96,4%) 401 (94,1%) 328 (93,5%) 193 (91,9%) 9 (90,0%) 0 (0%) 0 (0%) 7 (3,6%) 25 (5,9%) 23 (6,5%) 17 (8,1%) 1 (10,0%) 555 (93,8%) 600 (94,3%) 37 (6,2%) 36 (5,7%) 48 Tabela 2. Prevalência de fatores de risco para o vírus da hepatite C entre adultos. Porto Alegre, RS, 2013 (n=1228). Variáveis HIV Não Sim Drogas injetáveis Não Sim Drogas inaláveis Não Sim Drogas pipetadas Não Sim Transfusão sanguínea (antes de 1993) Não Sim Tatuagem Não Sim Piercing Não Sim Acupuntura Não Sim Tratamento Odontológico Invasivo Não Sim Alicate de salão de beleza Não Sim Lâminas Não Sim Medicação injetável Não Sim n = 1228 Hepatite C Não Sim n = 1155 n = 73 (94,1%) (5,9%) 1190 (96,9%) 38 (3,1%) 1125 (94,5%) 30 (78,9%) 65 (5,5%) 8 (21,1%) 1207 (98,3%) 21 (1,7%) 1145 (94,9%) 10 (47,6%) 62 (5,1%) 11 (52,4%) 1186 (96,6%) 42 (3,4%) 1126 (94,9%) 29 (69,0%) 60 (5,1%) 13 (31,0%) 1193 (97,1%) 35 (2,9%) 1126 (94,4%) 29 (82,9%) 67 (5,6%) 6 (17,1%) 1014 (82,6%) 214 (17,4%) 965 (95,2%) 190 (88,8%) 49 (4,8%) 24 (11,2%) 1105 (90,0%) 123 (10,0%) 1042 (94,3%) 113 (91,9%) 63 (5,7%) 10 (8,1%) 1203 (98,0%) 25 (2,0%) 1130 (94,1%) 23 (92%) 71 (5,9%) 2 (8,0%) 1171 (95,4%) 57 (4,6%) 1102 (94,1%) 53 (93,0%) 69 (5,9%) 4 (7,0%) 45 (3,7%) 1183 (96,3%) 38 (90,5%) 1114 (94,2%) 4 (9,5%) 69 (5,8%) 371 (30,2%) 857 (69,8%) 314 (84,6%) 841 (98,1%) 57 (15,4%) 16 (1,9%) 591 (48,1%) 637 (51,9%) 549 (93,7%) 601 (94,4%) 37 (6,3%) 36 (5,6%) 90 (7,3%) 1138 (92,7%) 78 (86,7) 1077 (94,6%) 12 (13,3%) 61 (5,4%) 49 No. Parceiros nos últimos 3 meses 0 1 2 ou mais Uso de preservativo ao longo da vida Não Sim Convívio Hepatite B Não Sim Convívio Hepatite C Não Sim Cirurgia/Endoscopia Não Sim Trabalhou área da saúde Não Sim 282 (23,0%) 833 (67,8%) 113 (9,2%) 259 (91,8%) 792 (95,1%) 104 (92,1%) 23 (8,2%) 41 (4,9%) 9 (7,9%) 199 (16,2%) 1029 (83,8%) 184 (92,5%) 971 (94,4%) 15 (7,5%) 58 (5,6%) 1219 (99,3%) 9 (0,7%) 1147 (94,1%) 8 (88,9%) 72 (5,9%) 1 (11,1%) 1212 (98,7%) 16 (1,3%) 1143 (94,3%) 12 (75,0%) 69 (5,7%) 4 (25,0%) 901 (73,4%) 327 (26,6%) 883 (94,5%) 272 (94,9%) 18 (5,5%) 55 (6,1%) 1023 (83,3%) 205 (16,7%) 959 (93,7%) 196 (95,6%) 64 (6,3%) 9 (4,4%) 50 Tabela 3. Análise bruta ajustada entre fatores de risco e infecção pelo vírus da hepatite C. Porto Alegre, RS, 2013 (n=1228). Análise Bruta Variável RP (IC 95%) Drogas injetáveis Análise Ajustada p-valor RP (IC 95%) p-valor <0,001 0,001 Não 1,00 1,00 Sim 20,3 (8,31; 49,65) 8,25 (2,35; 28,91) transfusão de sangue 0,001 0,001 Não 1,00 1,00 Sim 2,49 (1,49; 4,15) 2,86 (1,62; 5,07) drogas inaláveis <0,001 0,023 Não 1,00 1,00 Sim 8,41 (4,16; 17,01) 3,76 (1,20; 11,77) HIV 0,031 Não 1,00 1,00 Sim 4,62 (2,03; 10,47) 2,93 (1,10; 7,79) Drogas pipetadas 0,008 0,378 Não 1,00 1,00 Sim 3,48 (1,40; 8,66) 0,54 (0,13; 2,15) Medicação injetável 0,003 0,011 Não 1,00 1,00 Sim 0,37 (0,19; 0,71) 0,38 (0,18; 0,80) Alicate compartilhado 0,068 0,06 51 Não 1,00 1,00 Sim 1,06 (1,00; 1,13) 1,10 (1,00; 1,22) Tatuagem 0,281 0,445 Não 1,00 1,00 Sim 1,46 (0,73; 2,93) 1,37 (0,61; 3,10) Piercing 0,661 0,808 Não 1,00 1,00 Sim 1,39 (0,32; 6,00) 0,79 (0,12; 5,15) Acupuntura 0,7260 0,417 Não 1,00 1,00 Sim 1,21 (0,42; 3,43) 1,63 (0,50; 5,25) Trat odontológico invasivo 0,399 0,658 Não 1,00 1,00 Sim 0,64 (0,22; 1,82) 0,77 (0,25; 2,42) Lâmina compartilhada 0,652 0,745 Não 1,00 1,00 Sim 0,90 (0,56; 1,44) 0,92 (0,55; 1,54) Uso de preservativo 0,213 0,835 Não 1,00 1,00 Sim 1,04 (0,98; 1,11) 1,01 (0,93; 1,10) Número de parceiros 1 0,343 1,00 0,682 1,00 52 mais de 1 1,42 (0,69; 2,94) Cirurgia 0,84 (0,36; 1,97) 0,695 0,807 Não 1,00 1,00 Sim 1,12 (0,65; 1,93) 1,08 (0,59; 1,98) Trabalha na area da saude 0,305 0,387 Não 1,00 1,00 Sim 0,69 (0,34; 1,41) 0,71 (0,33; 1,53) Convivio hep B 0,119 0,298 Não 1,00 1,00 Sim 0,66 (0,40; 1,11) 0,66 (0,30; 1,44) Convívio hep C 0,080 0,797 Não 1,00 1,00 Sim 0,78 (0,59; 1,03) 0,94 (0,59; 1,50) 53 Discussão Trata-se de um estudo transversal, realizado por entrevistadores treinados, com aplicação de um questionário pré-testado em estudo piloto e coleta de sangue. Nos estudos transversais cuja base amostral pode não ser representativa da população, a ausência da validade do estudo pode sofrer influência da característica do instrumento utilizado para coleta de dados, da qualidade dos registros e da variabilidade inter e intra-avaliadores.23 A prevalência do anti-HCV encontrada na população do estudo foi de 5,9%, segundo um estudo transversal realizado no Brasil em todas as 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal entre 2005 e 2009 a prevalência do anti-HCV foi de 1,38%. 24 A maior prevalência encontrada pode ser devido ao fato da população avaliada ser representativa de um baixo status social. Conforme evidenciado no presente estudo os principais fatores de risco associados à infecção pelo VHC foram o uso de drogas, ter realizado transfusão sanguínea antes do ano de 1993 e ser portador do HIV. Após a introdução dos testes de triagem nos bancos de sangue, o compartilhamento de material contaminado pelos usuários de drogas endovenosas tornou-se o maior fator de risco para hepatite C. Nos países desenvolvidos o uso de drogas injetáveis responde por 60-80% das contaminações e parece aumentar com o tempo de uso. Esta é a maior forma de transmissão em países como Austrália e Estados Unidos nos últimos 40 anos.17,25,26,27,28, O compartilhamento de equipamentos contaminados com fluidos nasais pelo uso de drogas inaladas também é mencionado como possível meio de transmissão de VHC. Porém não está bem estabelecido se esta via representa um meio independente de transmissão ou se é uma forma de transmissão veiculada pelo sangue decorrente da escarificação da mucosa nasal. O presente estudo não encontrou associação estatisticamente significativa entre esses fatores de risco e o desfecho. 16,22,28,29,30,31,32,33, Em relação à coinfecção HIV/HCV, o presente estudo evidenciou que pacientes portadores do vírus da Imunodeficiência Humana tem maior probabilidade de ter VHC. Uma possível explicação seria o fato destes pacientes consumirem mais drogas que os pacientes monoinfectados. O estudo foi conduzido em uma área de vulnerabilidade social da cidade de Porto Alegre em indivíduos com 40 ou mais anos de idade, onde o consumo de drogas é prevalente. [69] De acordo com a literatura 54 as taxas de coinfecção frequentemente excedem a 90% entre indivíduos HIV usuários de drogas injetáveis. 27,34 Há também aumento da incidência do VHC em homens infectados com o HIV que fazem sexo com homens sendo este considerado um comportamento sexual de risco. Essa associação não foi estudada. 35,36 No presente estudo 10% dos indivíduos referiram ter tatuagem. O Center for Disease Control (CDC) após anos de observação não referiu risco relacionado a estes procedimentos quando realizados em clinicas licenciadas. Na Austrália e Estados Unidos da América (EUA) homens que realizaram tatuagens na prisão tiveram mais expostos ao VHC. Fazer estes procedimentos sem capacitação técnica e condições de biossegurança aumenta o risco de exposição ao VHC assim como aqueles realizados por amigos e em domicílios. Porém, não encontramos risco aumentado entre indivíduos que referiram ter tatuagem quando comparados aos que não relataram possuir tatuagem.37,38 Alguns indivíduos entrevistados referiram ter histórico de cirurgia e endoscopia digestiva alta e/ou baixa. Conforme relatos da literatura esta é uma forma de transmissão do VHC e decorre de terapias com equipamentos não devidamente desinfetados ou esterilizados. Estima-se que dois milhões de pacientes se infectem por esta via. Em países em desenvolvimento o suprimento de materiais esterilizados é insuficiente ou inexistente. 39 O uso de medicamentos injetáveis esteve inversamente associado a infecção pelo vírus da hepatite C. É sabido que o Egito é o país com maior prevalência de hepatite C no mundo e a maioria dos indivíduos foram contaminados pela reutilização de seringas de vidro durante campanhas nacionais de tratamento para esquistossomose entre 1960 e 1987.40,41 A reutilização de materiais nos serviços de saúde representou 32% e 40% dos casos novos de hepatite B e C, respectivamente. Essa conduta resultou em uma prevalência aumentada na Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Nicarágua e Peru. Adequadas medidas de biossegurança poderão reduzir estas infecções em mais de 90%.30 Não foi possível identificar o motivo pelo qual o uso de medicação injetável foi protetor quanto ao fato do anti-HCV não ser reagente no estudo. Com relação ao número de parceiros sexuais não encontramos diferença em relação a literatura (p < 0,343). A transmissão sexual do vírus da hepatite C é muito 55 controversa. Maior prevalência relacionada a transmissão sexual encontrada tem sido entre pacientes atendidos em clinicas especializadas em doenças sexualmente transmissíveis (DST), prostitutas e seus parceiro e entre coinfectados com HIV/HCV. Outros fatores relacionados com hábitos sexuais parecem contribuir para transmissão do VHC. A transmissão homem-mulher parece ocorrer mais facilmente. Estudos envolvendo casais monogâmicos demonstram baixo risco de transmissão. A transmissão intrafamiliar por compartilhamento de material de higiene pessoal ou eventual exposição a sangue no uso destes materiais dificultam a interpretação dos estudos que avaliam a transmissão sexual. É incomum a transmissão intrafamiliar do VHC na ausência de exposição percutânea. É bem documentado que a transmissão horizontal do virus da hepatite B tem um papel importante na transmissão do virus B no meio intrafamiliar quando há um portador crônico, porém em relação ao virus C há muita controvérsia quanto a transmissão horizontal. 17,42,43,44,45,46,47,48 Trabalhar na área de saúde não foi evidenciado diferença em relação a literatura para risco de infecção pelo VHC no estudo. Segundo evidência da literatura acidentes com materiais perfurocortantes são uma forma de transmissão bem documentada. Após uma única exposição percutânea o risco varia de 3% a 10%. No início da década de 1990 os estudos indicavam que a prevalência entre os profissionais da área de saúde era três vezes maior que em outros profissionais. Seguindo outros estudos a prevalência entre os profissionais de saúde variou de 0,7% a 2%.25,49 Em relação as possíveis limitações do estudo destacamos que a prevalência do vírus da hepatite C está em constante mudança à medida que aumentam os conhecimentos sobre os fatores de risco que levam ao aumento do número de casos. Os resultados obtidos devem ser considerados um incentivo para que mais pesquisas sejam realizadas neste sentido. Em função da amostra ter sido por conveniência, deve-se ter cautela quanto às generalizações dos resultados, uma vez que não é representativa da população geral. Outra possível limitação do estudo, por se tratar de um estudo transversal, a exposição e o desfecho foram coletados simultaneamente e frequentemente não se sabe qual deles precedeu o outro, sendo o que chamamos de causalidade reversa. 56 Conclusões A erradicação da infecção do vírus da hepatite C poderá ser alcançada, desde que sejam realizadas medidas preventivas e terapêuticas. As medidas preventivas visam à realização de medidas educativas junto a população quanto aos fatores de risco associados à exposição ao vírus da hepatite C. A realização do triagem (anti-HCV) deve ser teste de oferecida a todos os indivíduos que procuram os serviços de saúde e que apresentam fatores de risco bem definidos. Esforços devem ser realizados para ser priorizada a testagem nos indivíduos usuários de drogas, nos coinfectados pelo HIV/HCV e nos transfundidos antes de 1993. Devemos reforçar o importante papel das medidas preventivas primárias e secundárias, uma vez que não há vacina disponível contra a hepatite C e tão pouco uma profilaxia pósexposição. A prevenção primária visa identificar os indivíduos com fatores de risco para infecção pelo VHC, à realização de testes laboratoriais e ao aconselhamento dos indivíduos sobre as formas de transmissão e prevenção desse vírus. A prevenção secundária visa evitar a progressão da doença em pessoas já infectadas para formas graves da doença hepática, e o bloqueio da transmissão do VHC. Estas medidas devem ser dirigidas à população em geral e, especialmente, aos indivíduos com alto risco de infecção pelo VHC. Fonte de financiamento: Pesquisa realizada no âmbito do Projeto Desenvolvimento de Técnicas de Operação e Gestão de serviços de Saúde em uma Região Intramunicipal de Porto Alegre - Distritos da Restinga e Extremo-Sul, de acordo com o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), firmado entre o Ministério da Saúde e a Associação Hospitalar Moinhos de Vento, por meio do termo de ajuste de número 05/2011, assinado em 30 de dezembro de 2011. Bibliografia 1 Martinez A, Talal AH. Noninjecting drug use: an under-appreciated risk factor for hepatitis C vírus transmission. Liver Int. 2008;28(6):757-60. 57 2 Pelegrini A, Barbanera EE, Buratti F. 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