1 Modificação genética para aprimorar plantas de grande utilidade Apresentação INTRODUÇÃO A modificação genética de plantas agrícolas é um desenvolvimento científico relativamente recente, em fase de acelerada expansão. Hoje em dia são oferecidas variedades geneticamente modificadas de diversas espécies. A velocidade com que essa nova tecnologia se desenvolve é espantosa. FATOS E NÚMEROS Entre 1996 e 1998, observou-se aumento de quinze vezes na quantidade de hectares plantados com lavouras geneticamente modificadas. Em 1998, plantaram-se 27,8 milhões de hectares de lavouras geneticamente modificadas, contra 1,7 milhões de hectares em 1996 e 11 milhões de hectares em 1997. Espera-se que a área dedicada a lavouras geneticamente modificadas ainda cresça de modo significativo no futuro; em 1999, cerca de 40 a 50 milhões de hectares serão plantados com lavouras geneticamente modificadas. O aumento da área plantada no futuro próximo dever-se-á basicamente a uma expansão ainda maior da área plantada e da quantidade de espécies plantadas nos principais países que já cultivam lavouras transgênicas hoje em dia (Estados Unidos, Canadá e Argentina). O Brasil, a Índia e alguns países da Europa Oriental também estão entre os países que deverão plantar lavouras transgênicas no futuro próximo. As cinco principais lavouras transgênicas cultivadas em 1998 foram a soja (52%), o milho (30%), a canola (9%), o algodão (9%) e a batata (<1%). Em 1998, plantou-se soja tolerante a herbicida em 36% da superfície plantada com soja nos Estados Unidos e em mais de 60% da área argentina dedicada à soja. Vinte e dois por cento da área de milho dos Estados Unidos foram cobertos com milho protegido contra insetos e 50% da área canadense de canola foi plantada com canola tolerante a herbicida. Os maiores países produtores de lavouras transgênicas em 1998 foram os Estados Unidos (74%), a Argentina (15%), o Canadá (10%) e a Austrália (1%). Plantaram-se também pequenas quantidades de lavouras geneticamente modificadas (<1%) no México, na Espanha, na França e na África do Sul. Isso quer dizer que os países industrializados cultivaram aproximadamente 84% de todas as lavouras transgênicas em 1998. Os Estados Unidos, o Canadá e a Argentina respondem por 99% de toda a área de lavouras transgênicas. Os principais atributos empregados em lavouras transgênicas em 1998 foram a tolerância a herbicidas (71%) e a proteção contra insetos (28%). Cerca de 1% das lavouras geneticamente modificadas plantadas consistiram em "características cumulativas", que conjugam tolerância a herbicidas com proteção contra insetos. Apenas 0,1% das lavouras geneticamente modificadas plantadas em 1998 continham atributos de qualidade melhorados. Tudo isso indica que hoje mais de 99% da área de lavouras geneticamente modificadas é plantada com culturas às quais se incorporaram características agronômicas de "input" (elementos do processo de produção); a área dedicada a lavouras com características de "output" (produto da produção) é desprezível. No futuro, provavelmente ocorrerá uma mudança da atual geração de atributos modificados de "input" para a geração seguinte de características modificadas de "output". Esses dados todos foram retirados da obra "Global review of commercialised transgenic crops: 1998" (“Análise global das lavouras transgênicas comercializadas: 1998”), da autoria de C. James 2 (1998). Observe que nessas análises não se levou em conta a China, em virtude da falta de informações comprováveis. CONCLUSÃO A modificação genética encerra enorme potencial, tanto para o mundo industrializado como para os países do Terceiro Mundo. O sucesso por ela alcançado tem impulsionado a pesquisa em diversas espécies de plantas – entre as quais o arroz, trigo, batata doce, morango, cevada, dos brócolos e da uva – com o objetivo de desenvolver variedades geneticamente modificadas. As melhorias vão de atributos agronômicos de "input", como a tolerância a herbicidas e a resistência a insetos, a características de qualidade melhorada de "output", que incluem a modificação na composição dos óleos ou no teor vitamínico da planta. Dentro de poucos anos, deverão estar disponíveis variedades geneticamente modificadas de muitas espécies. As mais importantes, vistas como alvo principal da modificação genética, já foram discutidas anteriormente nos documentos FBCI de número seis a nove, que trataram da cultura da colza, milho, batata e soja, respectivamente. Neste documento FBCI serão discutidas as possibilidades de se usar a modificação genética para melhorar outras plantas de importância econômica, como o algodão, o tomate, a beterraba. 3 Artigo I. ALGODÃO: IMPORTANTE PRODUTORA DE FIBRAS NO MUNDO TODO I.1. Introdução O algodão é uma planta de grande importância econômica, cultivada basicamente pelas fibras que envolvem suas sementes. As propriedades especiais dessas fibras possibilitam sua fiação em filamento resistente, amplamente usado como fibra têxtil. As fibras de algodão são também usadas para outras finalidades, como a produção de produtos de celulose, fertilizante e combustível. Embora o uso de fibras sintéticas como o náilon e o raiom esteja crescendo, o algodão ainda é hoje a fibra têxtil mais importante. O cultivo do algodão data de milhares de anos em muitas partes do mundo. É uma das únicas culturas agrícolas cultivadas tanto no Velho Mundo quanto no Novo Mundo. Os algodões do Velho Mundo (Gossypium arboreum e Gossypium herbaceum) eram plantados em toda a Ásia. Os árabes trouxeram as fibras de "qutun" (de onde deriva o nome inglês do algodão "cotton") para a Europa na Idade Média. Quando os primeiros exploradores descobriram o Novo Mundo, notaram que a população local também cultivava o algodão. Essas novas espécies de algodão do Novo Mundo (Gossypium hirsutum e Gossypium barbadense) substituíram em larga escala o algodão do Velho Mundo, tendo em vista a melhor qualidade de sua fibra. Quase 95% da produção de algodão do mundo hoje consiste em cultivares de G. hirsutum. São conhecidos pela alta produtividade e por sua capacidade de adaptação a diferentes condições ambientais. Cerca de 5% dos algodões cultivados são cultivares de G. barbadense, caracterizados por fibras muito compridas, finas e fortes. Apesar da origem tropical, atualmente se cultiva algodão no mundo inteiro. Trata-se de uma das mercadorias vegetais não alimentícias mais importantes do mundo. Em 1998, produziram-se aproximadamente 18 milhões de toneladas de fibra de algodão. Seus maiores produtores são a China, os Estados Unidos, a ex-USSR, a Índia e o Paquistão. A maior área produtora de algodão nos Estados Unidos, o Cinturão do Algodão, estende-se por todo o sul do país, da costa do Atlântico à costa do Pacífico. Todos os algodões são perenes por natureza, embora sejam cultivados como lavoura anual. Por meio de seleção, melhoria vegetal e tratamento, o algodão se viu obrigado a comportarse como lavoura anual, sendo plantado anualmente como semente. Os frutos da planta do algodão consistem em cápsulas ou casulos, que se entreabrem quando maduros. Cada cápsula chega a conter de 40 a 50 sementes, às quais se fixam as fibras. Após a colheita, as fibras do algodão sofrem intenso processamento. Importantes subprodutos da produção da fibra de algodão são o óleo de algodão, a torta de caroço de algodão e os estofos de algodão. O óleo de algodão é usado como óleo de cozinha e como ingrediente da produção de gorduras, cosméticos, sabões, detergentes, velas e tintas. A torta de caroço de algodão, que sobra depois da extração do óleo, revela-se um suplemento altamente protéico para alimentação do gado. A partir das sementes, após a retirada das fibras, obtêm-se os estofos de algodão, empregados na produção de, por exemplo, colchões, tapetes e algodões cirúrgicos. 4 I.2. Variedades de algodão geneticamente modificadas Devido à sua importância econômica, o algodão foi uma das primeiras plantas que esteve na mira dos pesquisadores da biotecnologia. A engenharia genética permitiu o desenvolvimento de variedades de algodão protegidas contra insetos e tolerantes a herbicidas, consideradas a primeira geração da moderna biotecnologia. Algodão protegido contra insetos As pragas de insetos são abundantes no algodão e causam grandes problemas aos agricultores. Aplicam-se muitos inseticidas na lavoura de algodão durante seu desenvolvimento para controlar as pragas de inseto e diminuir o dano por elas provocado. De todos os inseticidas usados no mundo todo a cada ano, cerca de 25% destinam-se à lavoura de algodão. Entre as principais pragas de inseto do algodão encontram-se a lagarta do algodão, a lagarta do tabaco e a lagarta rosada, todas pertencentes à ordem das pragas de insetos Leptidópteros. As larvas desses insetos danificam os casulos do algodão, gerando perdas na colheita. No entanto, elas se mostram muito sensíveis a um tipo específico de proteína inseticida, que interfere no seu sistema digestivo e é produzida por uma determinada cepa de bactéria do solo, a Bacillus thuringiensis (Bt). Introduziu-se na planta de algodão o gene que codifica a proteína CryIA(c), ativa contra as pragas de insetos Leptidópteros. As larvas que se nutrem dessas plantas morrem em curto espaço de tempo. O uso de plantas tolerantes a inseto geneticamente modificadas reduz ou elimina a necessidade de aplicações tradicionais de pesticida para essas três pragas de inseto e diminui o volume total de inseticida aplicado nos campos de algodão. O algodão Bollgard® foi o primeiro cultivado comercialmente nos Estados Unidos, em 1996. Perdas drásticas no Cinturão do Algodão ocorridas em 1995, decorrentes de elevadas taxas de infestação pela lagarta do tabaco, urgiram os agricultores americanos a experimentarem o algodão Bollgard® na estação de 1996. No verão desse ano, a pressão da lagarta foi extremamente intensa e, como conseqüência, muitos agricultores ainda precisaram pulverizar as lavouras com inseticidas convencionais para resguardar seus campos da lagarta, mesmo usando o algodão Bollgard®. Algodão tolerante a herbicidas Até o momento, a engenharia genética desenvolveu diversos tipos de variedades de algodão tolerante a herbicidas. A sulfoniluréia (ingrediente ativo do Staple®) oferece proteção contra certas plantas daninhas de folha larga pela inibição da ação de uma enzima chamada acetolactato sintase (ALS). As plantas de algodão se tornam tolerantes à sulfoniluréia pela introdução de uma forma tolerante à sulfoniluréia do gene da ALS. O bromoxinil (ingrediente ativo do Buctril®) é um herbicida usado por agricultores que cultivam milho e trigo no controle de plantas daninhas de folha larga. O algodão não apresenta resistência natural ao bromoxinil: torna-se tolerante a esse herbicida pela introdução de um gene capaz de decompô-lo. 5 O glifosato é um herbicida não seletivo que mata quase todas as plantas por modificar a produção de aminoácidos aromáticos: bloqueia a ação de uma enzima chamada EPSP sintase. Torna-se o algodão Roundup Ready® tolerante ao glifosato pela introdução de uma EPSP sintase alternativa, insensível ao glifosato. Variedades de algodão com mais de um atributo transgênico Além das variedades de algodão protegidas contra inseto e tolerantes a herbicida, desenvolveu-se um novo tipo de algodão que conjuga tolerância a herbicida com proteção contra insetos, proporcionando aos agricultores a oportunidade de usar apenas uma variedade, diretamente protegida contra certos herbicidas e algumas pragas de inseto. O algodão tolerante a bromoxinil / protegido contra insetos alia a tolerância ao bromoxinil à tolerância a pragas lepidópteras do algodão, enquanto o algodão protegido contra glifosato / inseto alia tolerância ao glifosato à proteção contra insetos fornecida pelo gene Bollgard®. Outros tipos de pesquisa com algodão As fibras são o produto mais importante derivado desta espécie, mas precisam de intenso processamento para poderem ser usadas como fibra têxtil. Vêm-se desempenhando várias atividades de pesquisa com o intuito de melhorar as características das fibras de algodão. Mostra-se de extrema importância para o futuro o desenvolvimento de plantas de algodão com fibras coloridas que necessitem de pouco ou nenhum corante. Para fabricar o denim azul, por exemplo, aplicam-se corantes azuis tóxicos às fibras de algodão. As fibras de algodão naturalmente coloridas de azul reduziriam a necessidade desses corantes tóxicos. Visando a este objetivo, os cientistas conseguiram transferir um gene de uma planta de flor azul para a planta do algodão, que passou a produzir fibras de algodão de cor azul brilhante. Desenvolvem-se, ainda, pesquisas com a finalidade de criar fibras de algodão de maior comprimento, resistência e capacidade de absorção. 6 II. TOMATE: APROVADO PRIMEIRO PRODUTO ALIMENTÍCIO DA MODERNA BIOTECNOLOGIA II.1. Introdução O tomate comum pertence à extremamente ampla e diversificada família das solanáceas, freqüentemente designada como família do “Nightshade”. Essa família abrange muitas de nossas plantas de cultivo comum (batata, pimentão, berinjela, petúnia), além de certas plantas daninhas (beladona ou erva-moura). Trata-se de planta nativa da região ocidental da América do Sul, tendo sido provavelmente domesticada no México. Exploradores europeus a levaram para a Europa na primeira metade do século XVI. Durante muito tempo se empregou a planta do tomate apenas como planta ornamental e como curiosidade nos jardins europeus, provavelmente por pertencer à família do meimendro mortal, o que a associava às muitas plantas venenosas com as quais se parece. Foi apenas no século XVIII que o tomate se tornou conhecido como cultura comestível, e recebeu de Miller o nome latino Lycopersicon esculentum, que significa “pêssego comestível de lobo". A espécie firmou-se como cultura comestível nos séculos XIX e XX e hoje é cultivada em todo o mundo. Produziram-se em 1998 aproximadamente 89 milhões de toneladas de tomates. Os grandes produtores são a China, a União Européia e os Estados Unidos. Cultiva-se o tomate para ser ingerido cru ou processado em grande variedade de produtos em conserva, como a polpa de tomate, o suco de tomate e os molhos de tomate, entre os quais o ketchup. O tomate constitui-se ótima fonte de vitamina A e de licopeno, carotenóide que lhe confere a cor vermelha. Estudos demonstram que o licopeno, presente em altas concentrações nos produtos processados de tomate, pode reduzir o risco de vários tipos de câncer. Contém também uma substância tóxica de ocorrência natural, a tomatina, distribuída por toda a planta, mas predominante nas folhas e nas flores. A concentração de tomatina no tomate depende de sua fase de amadurecimento, declinando à medida que o tomate verde se torna vermelho. O tomate cultivado possui oito parentes selvagens e pode cruzar com todas essas espécies com graus variados de êxito. Elas compõem um conjunto de genes de extrema importância e consistem em valiosa fonte de material genético para o melhoramento da cultura do tomate. A resistência a moléstias como o murchamento por verticillium ou por fusarium, incorporada ao tomate e presente em muitas variedades modernas, derivou de suas espécies afins. II.2. Variedades de tomate geneticamente modificadas Já se desenvolveram diversos tipos de tomate geneticamente modificado. Os de “longavida” foram os primeiros produtos da moderna biotecnologia vegetal. Além disso, trabalhase atualmente no desenvolvimento de tomate com teor de sólidos mais elevado e de tomates protegidos contra certas doenças. Maior durabilidade “longa-vida” Em 18 de maio de 1994, o US Food and Drug Administration (FDA) declarou que um 7 novo tipo de tomate desenvolvido pela moderna biotecnologia era tão seguro quanto o tomate melhorado por métodos de cultivo convencionais. Esse novo tomate, comercializado sob o nome de Flavr Savr®, transformou-se o primeiro produto alimentício produzido pela moderna biotecnologia a receber aprovação para consumo. Costuma-se colher o tomate ainda verde e firme, estágio que os agricultores chamam de "maduro-verde". Reduz-se assim o número de unidades perdidas por esmagamento durante o transporte. Depois disso, os tomates verdes são submetidos a um tratamento com etileno, gás amadurecedor natural; e ao amadurecerem, adquirem a cor vermelha. Infelizmente, em virtude de ser colhido em estágio prematuro, o tomate não alcança seu pleno sabor, que se intensifica ao longo do processo de amadurecimento. A coleta numa fase mais adiantada contribui para melhorar a qualidade do tomate. A engenharia genética criou tomates que permanecem firmes após a colheita, o que lhes permite o transporte num estágio mais avançado de desenvolvimento e, por conseguinte, melhor sabor. Empregaram-se dois métodos na obtenção desse tomate de maior durabilidade. No primeiro, retardou-se somente uma parte do processo de amadurecimento, ou seja, o processo de amolecimento; esse foi o método empregado na criação do tomate Flavr Savr®: nele introduziu-se um gene que atrasa a decomposição da pectina. A pectina é uma substância que ocorre naturalmente em muitas frutas, inclusive no tomate. Encontra-se nas paredes de suas células e lhes confere firmeza. Durante o processo de amadurecimento, degrada-se por ação da enzima poligalacturonase (PG), que provoca a decomposição da parede celular e o conseqüente amolecimento do tomate. Pela redução da quantidade de PG por meio da modificação genética, retarda-se a decomposição da parede celular. Com a maior demora do processo de amolecimento, a fruta permanece firme por mais tempo. Nesse tomate, apenas se retarda o amolecimento, mas o restante do processo de amadurecimento e de senescência permanece inalterado, uma vez que não se interrompe a produção de etileno na fruta. Já o segundo método afeta todo o processo de amadurecimento, por interferir na produção do etileno. Essa substância, que promove acentuado envelhecimento da planta, se forma em grande quantidade nas fases de amadurecimento e senescência. Pela modificação genética, pode-se romper a síntese do etileno e assim retardar todo o processo de amadurecimento, e não somente de amolecimento da fruta Teor mais elevado de sólidos Pode-se obter teor mais elevado de sólidos do tomate, fator de grande importância para a indústria de processamento, pela modificação genética. Interferindo-se no metabolismo da pectina, aprimoram-se as características de formação de gel das pectinas, com conseqüente aumento do teor de sólidos da fruta de 5% para 6-7%. Esses sólidos altamente solúveis sofrem processamento em produtos como polpa, molho de tomate e ketchup. A elevação do teor de sólidos do tomate reduz o desperdício, já que permite aproveitar maior porcentagem da fruta. Reduz-se também o consumo de aditivos sólidos e de energia no processamento. 8 Resistência a doenças e pragas Como muitas outras plantas, o tomate sofreu alteração genética para adquirir proteção contra certas pragas de insetos. Tal proteção lhe é conferida pela introdução de um gene procedente da Bacillus thuringiensis (Bt), bactéria de ocorrência natural no solo. Determinadas cepas de Bt produzem proteínas inseticidas cristalizadas, as proteínas 'Cry', codificadas por genes 'cry'. Depois de ingeridas pelas larvas do inseto, as toxinas se ligam a sítios receptores de sua parede intestinal, e o resultado é a decomposição e a morte da larva em poucos dias. A introdução de um gene cry específico na planta do tomate resguarda a planta do tomate contra a larva da lagarta do tomate. Encontram-se em andamento outros tipos de pesquisa com o intuito de modificar geneticamente o tomate. Em fase adiantada de desenvolvimento estão os tomates protegidos contra viroses, fungos e nematóides. 9 III. BETERRABA AÇUCATEIRA: PRINCIPAL FONTE DE AÇÚCAR EM CLIMAS TEMPERADOS III.1. Introdução A beterraba é uma planta de grande destaque na produção de açúcar. Embora o açúcar se encontre em muitas frutas e hortaliças, só a beterraba e a cana-de-açúcar o produzem em quantidade suficiente para extração econômica. Na verdade, a beterraba é a principal fonte de açúcar nas regiões de clima temperado, enquanto a cana-de-açúcar se sobressai como fonte de açúcar nas regiões tropicais e subtropicais. A produção de açúcar é singular: por proceder de duas fontes importantes, pode ocorrer em praticamente todos os países do mundo. A beterraba (Beta vulgaris) produz o açúcar nas folhas e o armazena na raiz. Na cana-deaçúcar (Saccharum officinarum), o açúcar também é produzido nas folhas da planta, mas o armazenamento se dá em seu caule, onde corre um suco doce, ou seiva, da qual se pode extrair o açúcar. A cana-de-açúcar pertence à família das gramíneas. Em 1998, a produção mundial de beterraba girou em torno de 260 milhões de toneladas. Os principais países produtores estão na Europa e na ex-União Soviética. Os Estados Unidos também produzem quantidade substancial de beterraba, e países de clima mais quente a produzem em menor volume como lavoura de inverno. Cerca de 40% da produção mundial de açúcar provém da beterraba. Hoje em dia, a maioria das beterrabas cultivadas são híbridos caracterizados pelo "vigor híbrido", o que indica que sua descendência, fruto do cruzamento de duas variedades relativamente não aparentadas, apresenta maior vigor do que cada um de seus dois pais isoladamente. O desenvolvimento de variedades híbridas da beterraba só foi possível após a descoberta de genes de esterilidade de ocorrência natural, que tornam um dos pais machoestéril. O plantio da beterraba para a extração de açúcar é um avanço relativamente recente. Durante muito tempo cultivou-se a beterraba em horta, como verdura e ração animal, antes de a valorizarem pelo seu teor de açúcar. Em 1747, Marggraf, químico berlinense, descobriu que o açúcar do suco de beterraba era idêntico ao extraído da cana-de-açúcar, mas achou que o teor de açúcar da beterraba não bastaria para garantir o desenvolvimento de técnicas de extração. Cinqüenta anos mais tarde, Achard, ex-aluno de Marggraf, desenvolveu um método de extração do açúcar da beterraba. A primeira refinaria de açúcar de beterraba começou a funcionar em 1802. Em 1806, a Inglaterra impôs um bloqueio contra Napoleão, privando assim o continente do abastecimento de açúcar da cana-deaçúcar e transformando a beterraba em sua única fonte de açúcar. Em 1811, ao ter notícia da nova técnica de obtenção de açúcar, Napoleão determinou o aumento da produção; construíram-se fábricas de extração de açúcar. Em meados do século XIX, desenvolveramse técnicas aprimoradas de fabricação e criaram-se espécies mais produtivas de beterraba por meio do melhoramento vegetal tradicional. A beterraba típica contém cerca de 16% de açúcar, embora um teor de até 20% seja possível. O açúcar é o principal produto do processamento da beterraba e se constitui de sacarose, que o intestino dos animais e dos seres humanos decompõe rapidamente em glicose e frutose após a digestão. A corrente sangüínea absorve de imediato os monossacarídeos, e quase toda a frutose se converte no fígado em glicose e fica 10 armazenada como fonte de energia. A sacarose, contudo, além de fonte muito importante de energia, acentua o sabor dos alimentos, tanto na forma cristalizada como contida nas células das frutas, verduras e legumes. Um importante subproduto do processamento do açúcar é a polpa, matéria fibrosa restante após a extração do açúcar. A polpa é processada em grânulos, usados para alimentar o gado. Outro subproduto é o melaço, líquido marrom escuro com teor de açúcar de 50%, que faz dele substância perfeita para processos de fermentação. É usado na produção de fermento de pão, de ácido cítrico, de produtos farmacêuticos e de álcool, podendo ainda ser empregado como suplemento de ração animal. Durante o processamento da beterraba, utiliza-se cal para neutralizar a acidez do suco da beterraba. Posteriormente, aplica-se cal na terra de plantio para neutralizar o pH do solo. Aproveitam-se ainda as folhas e os ramos da beterraba como ração animal. III.2. VARIEDADES DE BETERRABA GENETICAMENTE MODIFICADA Devido à importância da beterraba para a Europa, têm sido empreendidas pesquisas e experiências de campo visando ao desenvolvimento de diversos tipos de beterraba geneticamente modificada. Hoje já existem beterrabas geneticamente modificadas plantadas para fins comerciais. Tolerância a herbicidas A planta da beterraba se mostra muito sensível à competição com as plantas daninhas, que crescem demasiadamente e lhes encobrem as mudas, privando-as de água, luz e nutrientes. Mesmo a mais leve competição com as plantas daninhas diminui a quantidade de energia que a planta consegue captar e a quantidade de energia passível de ser convertida em açúcar e armazenada como tal. Por conseguinte, é freqüente o uso de herbicidas nas plantações de beterraba. As lavouras que exigem grande aplicação de herbicida são alvo de interesse para pesquisadores que desenvolvem lavouras tolerantes a herbicidas. Já se desenvolveu beterraba tolerante ao glifosato e ao glufosinato de amônio para maior controle de plantas daninhas. Outros tipos de pesquisa com a beterraba A beterraba é também muito sensível a certas pragas e doenças. Uma meta interessante é resguardá-la do BNYVV (vírus das nervuras amarelas e necróticas da beterraba), doença viral tida como uma das mais danosas à beterraba na Europa e que faz cair de modo drástico a produtividade das plantações. Outro tipo completamente diferente de pesquisa vem sendo conduzido na Holanda, onde os cientistas criaram uma beterraba que produz “frutana”, em vez de sacarose. Na "beterrabafrutana", a sacarose altamente calórica se transforma em frutana de baixa caloria devido a inserção de um único gene, retirado de uma planta parecida com a beterraba, a alcachofra. Esse gene codifica uma enzima que converte sacarose em frutana. A frutana, adoçante de baixa caloria, representa uma alternativa saudável para sacarose. Trata-se de um polímero da frutose, não digerível pelo organismo humano. Promove também o crescimento da flora intestinal e pode desempenhar papel marcante na redução 11 dos níveis de colesterol. Hoje em dia, as frutanas são produzidas por meio de dispendiosos processos de fermentação. A nova beterraba encerra o potencial de transformar-se em fonte barata de frutanas, que poderiam ser usadas na produção de itens alimentícios do dia-a-dia, como biscoitos e outros produtos doces. A beterraba-frutana é um exemplo notório da nova "onda" de plantas geneticamente modificadas, que funcionam como "fábricas" de substâncias úteis. 12 Perguntas e respostas 1. O que são plantas geneticamente modificadas com melhores características de "input"? As plantas modificadas pela engenharia genética com melhores características de "input" são consideradas a primeira geração de produtos da moderna biotecnologia vegetal. Elas foram desenvolvidas com o intuito de diminuir a dependência em relação aos pesticidas convencionais, aos herbicidas primários e aos inseticidas. Proporcionam, ainda, ao agricultor maior flexibilidade no tratamento das pragas e geram lavouras maiores e mais limpas. Essas lavouras geneticamente modificadas são, antes de tudo, vantajosas para o agricultor e para o meio ambiente. Devido ao seu potencial de reduzir a necessidade de pesticidas, contribuem para um meio ambiente menos poluído, beneficiando assim a sociedade como um todo. Podemos citar como exemplos importantes e célebres dessas plantas geneticamente modificadas com melhores características de "input" a soja Roundup Ready(R) - tolerante ao herbicida glifosato - e o milho Bt, protegido contra a broca européia do milho. Cerca de 52% da área transgênica global foram plantados com soja tolerante a herbicida e 24% com milho BT protegido contra inseto. 2. O que são plantas geneticamente modificadas com melhores características de "output"? As plantas modificadas pela engenharia genética com melhores características de "output" são consideradas a segunda geração de produtos da moderna biotecnologia vegetal. A área plantada com esse tipo de lavoura geneticamente modificada ainda é muito limitada, mas certamente crescerá no futuro. Entre elas temos a cultura da soja e da canola, com composição de óleos modificada, e a do tomate, com maior teor de sólidos. Essas lavouras são colhidas e processadas separadamente da lavoura de tomate comum. O potencial e as possibilidades das lavouras geneticamente modificadas com melhores características de "output" são enormes. Abrangem o desenvolvimento de frutas, verduras e legumes de maior durabilidade e maior valor nutricional, além de culturas produtoras de óleo dotadas de composição de ácidos graxos aprimorada. 3. A área plantada com lavouras geneticamente modificadas continuará a aumentar no futuro? A área plantada com lavouras geneticamente modificadas aumentou substancialmente nos últimos anos, e tudo indica que crescerá ainda mais no futuro. Espera-se que em 1999 a área plantada com lavouras geneticamente modificadas duplique em relação a 1998. Essa expansão será alcançada pelo aumento da área atual plantada com lavouras geneticamente modificadas e pela introdução de novas plantas geneticamente modificadas. Os principais países que já cultivam lavouras transgênicas, dos quais se destacam os Estados Unidos, o Canadá e a Argentina, permanecerão na linha de frente. Outros países, 13 entre eles o Brasil, a Índia e alguns países da Europa Oriental, virão provavelmente a plantar lavouras transgênicas num futuro não muito distante. 14 Sites de Referências LITERATURA GERAL E URLS DE REFERÊNCIA James, C. 1998. Global Review of Commercialized Transgenic Crops: 1998. ISAAA Briefs No. 8. 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