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Equoterapia como recurso terapêutico na prevenção de quedas
em pacientes com Acidente Vascular Cerebral:
Revisão de literatura
Michelly Mara Lira Monteiro
Resumo: O processo normal do envelhecimento se caracteriza pela diminuição da
capacidade funcional dos diversos órgãos e tecidos, o que acarreta risco no aumento
de doenças, em sua maioria crônico-degenerativas, situação que prevalece no Brasil
atualmente. Alguns pacientes neurológicos com Acidente Vascular Cerebral (AVC)
sofrem alterações posturais em consequência dessa patologia, facilitando a frequência
de quedas. Na velhice, acontecem variações individuais decorrentes de fatores
genéticos e ambientais. Ocorrem redução da força, resistência muscular, flexibilidade,
coordenação, equilíbrio, marcha e declínio da aptidão funcional, que envolve a
capacidade aeróbica, restringindo a medida da habilidade do coração, pulmão e vasos
sanguíneos para levar oxigênio aos músculos e utilizar esse oxigênio de modo
eficiente, tornando o idoso mais propenso ao desequilíbrio homeostático e às quedas.
A equoterapia é tratamento complementar de apoio à reabilitação física e mental das
pessoas especiais, portadoras de dificuldades ou deficiências físicas, mentais e/ou
psicológicas, que utiliza o cavalo como instrumento de trabalho em uma abordagem
multi e interdisciplinar. O objetivo deste estudo é analisar, por meio de revisão
bibliográfica, os benefícios que a equoterapia oferece aos portadores de sequelas de
AVC na prevenção de quedas.
Palavras-chave: Envelhecimento, Equoterapia, Cavalo, Acidente Vascular Cerebral.
REVISTA PORTAL de Divulgação, n.39, Ano IV. Dez /Jan/Fev.2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista
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Introdução
O
envelhecimento é o processo de desgaste dinâmico e progressivo da
energia vital ao longo do tempo, equivalendo ao período no qual
começam as modificações morfofuncionais, bioquímicas, biomecânicas
e psicológicas. Frequentemente associado ao comprometimento cognitivo,
físico, fisiológico e incapacidade funcional, torna o paciente idoso mais frágil e
propenso a sofrer quedas.
Ao declínio fisiológico, nos múltiplos sistemas relacionados com a idade,
combina-se para aumentar a incidência de quedas nos idosos, incluindo
dificuldades visuoperceptivas, instabilidade postural, comprometimento da
mobilidade, hipotensão ortostática, fraqueza de membros inferiores e vertigens
por alterações degenerativas ou vasculares no aparelho vestibular; fatores
ambientais, efeitos adversos dos medicamentos, estados de enfermidade
aguda ou crônica, depressão, apatia ou confusão.
As quedas e suas consequências estão presentes em todas as fases da vida,
porém são reconhecidas como problema prevalente na idade mais avançada,
representando a sexta causa de morte em idosos a partir dos 75 anos. No
entanto, 80% das quedas não promovem lesões sérias, apesar de repercutirem
na redução da mobilidade, por acarretar alteração comportamental pelo medo
de o idoso cair novamente.
Este artigo, baseado em revisão bibliográfica, tem como objetivo abordar os
aspectos preventivos da equoterapia nos idosos devido às quedas,
determinando as alterações no sistema músculo-esquelético com a idade, o
grau de independência e autonomia por meio de avaliações físico-funcionais da
capacidade de realizar as atividades básicas de vida diária e causas de
incapacidades nos mesmos.
A equoterapia é método de tratamento que visa à reabilitação física e mental
de pessoas portadoras de necessidades especiais, dificuldades ou deficiências
físicas, mentais e/ou psicológica, que utiliza o cavalo em abordagem
interdisciplinar. O cavalo, nesse método, entra como agente facilitador,
proporcionando aos praticantes ganhos físicos e psicológicos, exigindo trabalho
muscular intenso e contribuição para adequação do tônus, melhora da
coordenação e do equilíbrio (KUCEK; FERRARI, 2004). É trabalho que segue
paralelamente à fisioterapia, fonoaudiologia e outras atividades, podendo ser
aplicada a partir de um ano e meio de idade.
Para entender como a equoterapia auxilia a prevenção de quedas em
pacientes neurológicos, é preciso conhecer os principais fatores intrínsecos de
quedas que os pacientes apresentam e a forma como a equoterapia aborda os
fatores.
O objetivo deste estudo é analisar, por meio de revisão bibliográfica, os
benefícios que a equoterapia oferece aos portadores de sequelas de Acidente
Vascular Cerebral na prevenção de quedas, considerando serem eventos
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frequentes na vida desses indivíduos, que levam a prejuízos funcionais
adicionais importantes.
Fundamentação teórica
O processo de envelhecimento provoca diversas alterações anatômicas e
fisiológicas, tornando o paciente idoso mais frágil e mais propenso a sofrer
quedas. No entanto, nos dois extremos da vida a ocorrência de queda é
frequente e possui significado distinto. Na infância, caracteriza-se pela
aquisição de mecanismos cuja função é garantir a postura e locomoção,
enquanto na velhice expressa a diminuição do funcionamento
musculoesquelético (GUIMARÃES, 2004). De acordo com Brito e Costa (2001),
“as quedas podem ser definidas como sendo a ocorrência de um evento não
intencional que leva uma pessoa inadvertidamente a cair ao chão em um
mesmo nível ou em outro inferior”.
Em conformidade com os autores anteriores, alguns tipos de quedas estão
associados com perda de consciência ou ataque convulsivo súbito, decorrentes
de evento cerebrovascular agudo, de doença epilética, de grave acidente
automobilístico, de atividade recreacional exagerada ou atos de violência física.
As quedas são eventos muito comuns e frequentemente temidos pelos idosos,
sério problema de saúde pública nos países desenvolvidos, consequência do
elevado percentual de pessoas com idade superior a 60 anos. As quedas
recorrentes são sinais evidentes de situação clínica de fragilidade, imobilidade,
instabilidade e, muitas vezes, de doenças agudas ou crônicas não
corretamente diagnosticadas.
Um sinal clínico que ocorre pela perturbação focal da função cerebral,
secundário à obstrução ou hemorragia de vasos sanguíneos, levando a dois
tipos de condições: o AVC isquêmico e o hemorrágico (ADAMS et al, 1987).
O AVC isquêmico é causado pela obstrução de uma das artérias cerebrais
principais, por um ateroma ou êmbolos levados do coração a vasos doentes do
pescoço. Há o AVC embólico (êmbolos que podem vir do coração, de trombose
da artéria carótida interna ou de placa de ateroma do seio carotídeo) e o AVC
trombótico (placas de ateroma e a hipertensão interagem para produzir infartos
cerebrovasculares) (ADAMS et al, 1987; RYERSON, 1994). O paciente se
queixa de dores de cabeça, surgindo rápidos sintomas de hemiplegia e/ou
disfasia (ADAMS et al, 1987).
O AVC hemorrágico ocorre nas partes profundas do cérebro, causado
frequentemente por aneurisma, ou seja, pela ruptura de vasos sanguíneos, em
que há o extravasamento de sangue, resultando em hematoma que pode se
alastrar. É frequentemente causado ainda por doença cardíaco-renal
hipertensiva, e por pressão sanguínea elevada. Pode haver como reação dores
de cabeça fortes, vômitos, perda de consciência (ADAMS et al, 1987;
RYERSON, 1994).
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As manifestações clínicas ocorreriam antes de 45 anos e após 65 anos de
idade. Em adultos jovens, a enxaqueca é a causa mais encontrada; os
sintomas, neste caso, são afasia, hemiparesia e insuficiência vertebrobasilar.
Outras causas decorrentes são em pessoas dependentes de drogas,
hipertensos, portadores de diabetes e fumantes (BRUST, 1997).
Uma sequela muito importante do AVC é a hemiplegia, que é paralisia de um
lado do corpo. Em vários pacientes hemiplégicos os distúrbios motores são
agravados pela deficiência da sensibilidade, mais apurada nas pernas e nos
pés do que nas mãos e nos braços. Encontra-se a espasticidade ainda, e é
muito comum, em pacientes portadores de hemiplegia; à medida que se
desenvolve, a resistência ao estiramento passivo aumenta, envolvendo
adutores e flexores de braço e extensores de perna.
Se a espasticidade for forte, torna-se impossível a redução dos movimentos; se
moderada, teria possível variável de amplitude de movimento. Os pacientes
hemiplégicos perdem as reações posturais do lado afetado, prejudicando-os
em caso de quedas por não terem o reflexo postural normal (RYERSON, 1994;
BOBATH, 1984).
A reabilitação deve ser a mais rápida possível após o AVC, visando à melhora
das atividades de vida diária, melhorando a força muscular, reduzindo a
espasticidade, aumentando o equilíbrio, melhorando a deambulação e
reativando o lado afetado (BRUST, 1997).
A equoterapia é método terapêutico e educacional
que utiliza o cavalo dentro de abordagem
interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e
equitação,
buscando
o
desenvolvimento
biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou
com necessidades especiais. O cavalo influencia,
pelo movimento, o desenvolvimento motor,
psíquico, cognitivo e social do praticante de
equoterapia - termo utilizado para designar a
pessoa com deficiência e/ou com necessidades especiais quando em
atividades equoterápicas. Nessa atividade, o sujeito do processo participa de
sua reabilitação, na medida em que interage com o cavalo (CIRILLO, 2006).
A andadura do cavalo imprime movimentos tridimensionais frente à força da
gravidade, poderosos estímulos somatosensoriais, proprioceptivos e
vestibulares para o praticante (cavaleiro). Esses movimentos podem, de acordo
com Franci (2003):
• Desenvolver a fixidez do praticante pelo estímulo à via dos substratos do
controle motor local;
• Desenvolver o equilíbrio do praticante pelo estímulo aos substratos de
controle motor postural, reações de ajuste, defesa e endireitamento
corporais;
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• Aperfeiçoar o assento do praticante pelo estímulo do controle motor
global. Nessa fase o praticante aperfeiçoa e aplica feedback/feedforward
adquiridos, que o permitem manter-se equilibrado, fixo à sela, unir-se
coordenada e harmoniosamente aos movimentos do cavalo,
desenvolvendo com o animal um conjunto biomecânico melodioso.
Ao andar, o cavalo faz a pessoa executar, mesmo involuntariamente,
movimentos tridimensionais horizontais (direita, esquerda, frente e atrás) e
verticais (para cima e para baixo). Após 30 minutos de exercício, o paciente
terá executado de 1,8 mil a 2,2 mil deslocamentos, que atuam diretamente
sobre o seu sistema nervoso profundo, aquele responsável pelas noções de
equilíbrio, distância e lateralidade. Ou seja, o simples andar do animal faz dele
uma máquina terapêutica capaz de garantir ao deficiente capacidade motora
que não possuía e restituir-lhe, pelo menos em parte, as funções atrofiadas
pelo comportamento físico (MARCON, 1990).
A prática da equoterapia busca benefícios biopsicossociais às pessoas com
deficiências físicas ou mentais e/ou com necessidades especiais, tais como
lesões neuromotoras de origem encefálica ou medular, patologias ortopédicas
congênitas ou adquiridas por acidentes diversos, disfunções sensório-motoras,
necessidades educativas especiais e distúrbios evolutivos, comportamentais,
de aprendizagem e emocionais. A meta terapêutica é chegar ao máximo de
função com o mínimo de patologia. A meta funcional motora da equoterapia é
desenvolver no praticante capacidades funcionais que permitam chegar a fases
tão altas de desempenho motor como a fase do esporte equestre.
O passo é andadura simétrica, rolada ou marchada, basculante, a quatro
tempos, na qual os membros se elevam ou pousam sucessivamente sempre na
mesma ordem, fazendo-se ouvir quatro batidas distintas. Os membros pousam
na mesma ordem de elevação. O cavalo, ao se deslocar ao passo das marcas
dos posteriores sobre o solo, fica nas marcas dos anteriores correspondentes,
no mesmo lugar ou as ultrapassa. No primeiro caso, diz-se que o cavalo
antepista, no segundo sobrepista, e no terceiro transpista. O passo é a
andadura mais favorável ao deslocamento da linguagem convencional entre o
cavalo e o cavaleiro, em virtude das frações que ela produz no assento do
cavaleiro, permitindo permanecer em íntima ligação com sua montada e,
portanto, em condições de dar às suas indicações o máximo de precisão
(CIRILLO, 2006)
O trote é andadura simétrica, saltada, fixada a dois tempos, na qual os
membros de cada bípede diagonal se elevam e pousam, simultaneamente,
com um tempo de suspensão entre o pousar de cada bípede diagonal
(CIRILLO, 2006).
O galope é andadura assimétrica, saltada, muito basculada, a três tempos. É
assimétrica porque os movimentos da coluna vertebral em relação ao eixo
longitudinal do cavalo não são simétricos; saltadas porque existe um tempo de
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suspensão; muito basculada em razão dos amplos movimentos do pescoço; a
três tempos porque entre o elevar de um membro ou membros associados até
seu retorno ao solo ouvem-se três batidas (CIRILLO, 2006).
Na escolha do cavalo para a equoterapia deve-se ter em mente a segurança
física do praticante. A seleção e o treinamento do cavalo são muito
importantes, particularmente quanto ao comportamento e às circunstâncias que
podem assustá-lo, como cores, objetos, ruídos; características físicas ou de
conformação. O temperamento deve ser analisado quanto à docilidade; não ter
medo ou ansiedade com os movimentos ao seu redor; ter interesse e
curiosidade; não possuir vícios comportamentais; tolerar mudanças de sons,
direção e cenário. Os treinamentos de um cavalo de equoterapia devem incluir
guia, rédeas longas, aceitar carona, obediência à voz; não se perturbar com
objetos e ruídos estranhos e aceitar todos os tipos de arreamentos (SMYTHE,
1990).
O cavalo, ao passo, produz uma série de movimentos sequenciais e
simultâneos que tem como resultante um movimento tridimensional, que se
traduz em três planos: plano vertical, plano horizontal e plano longitudinal. O
sistema sensorial promove representação interna das experiências externas do
homem cuja função é extrair informações necessárias para gerar os
movimentos que executados transformam energia física em informações
sensoriais; já o sistema motor planeja, programa, coordena e executa o
movimento e transforma energia física em informações neurais (MARCON,
1990).
As funções do fisioterapeuta na equipe são: avaliação global do praticante;
elaborar um plano de tratamento; colaborar com a equipe na escolha do cavalo
e equipamento; executar e orientar terceiros do plano de tratamento; favorecer
a interação junto aos demais profissionais dos objetivos priorizados pela
equipe; demonstrar técnicas de manuseio e condução de acordo com as
capacidades funcionais do praticante; reavaliar e dar alta fisioterápica ao
praticante, com justificativas ao praticante quando possível, aos responsáveis e
à equipe; orientar ergonomicamente os profissionais e terapeutas atuantes no
centro de equoterapia; prestar primeiros socorros aos praticantes e equipe de
trabalho na ocorrência de acidentes (CITTERIO, 1985).
Os efeitos terapêuticos são melhora do tônus muscular; mobilização das
articulações de coluna vertebral e de cintura pélvica; facilita o ganho de
equilíbrio e de postura do tronco ereta; favorece a obtenção de lateralidade;
melhora a percepção do esquema corporal; favorece a referência de espaço,
de tempo e de ritmo; permite o trabalho de coordenação motora; produz
dissociações corporais; melhora a autoimagem (CITTERIO, 1985).
A equoterapia divide-se em quatro programas dispostos em ordem de menor
para maior capacidade do praticante: hipoterapia, educação/reeducação, préesportiva e esportiva, sendo o último programa não considerado por algumas
linhas de tratamento (FRANCI, 2003).
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A hipoterapia é utilizada por fisioterapeutas e terapeutas ociupacionais no
tratamento de pacientes com disfunção motora; o cavalo influencia o paciente
ao invés do paciente controlar o cavalo. O paciente é colocado sobre o cavalo
e responde ativamente aos seus movimentos. O terapeuta, com ajuda do
auxiliar guia, determina a direção do percurso, a posição da cabeça e a
velocidade do cavalo, analisa as respostas do praticante, fazendo os ajustes
indispensáveis a cada situação. Os objetivos da hipoterapia são melhoria no
tônus, postura, equilíbrio, mobilidade e consequentemente na função. É
essencialmente voltado para a área da saúde e se caracteriza pela
dependência funcional motora do paciente. Nessa fase, o cavalo atua
primariamente como instrumento cinesioterapêutico, mas há o aspecto
construtivo na questão psicológica do praticante (FRANCI, 2003).
Indicações e contraindicações
Segundo Rocha e Lopes (2003), a equoterapia tem como contraindicações
hérnia de disco, epífise do crescimento, todas as afecções de fase aguda,
escoliose superior a 30 graus, quadros inflamatórios e infecciosos, luxação e
subluxação de quadril, osteoporose, espinha bífida, obesidade (risco maior
quando associada à hipotonia), alergia ao pelo do cavalo, medo excessivo,
problemas comportamentais do praticante, que coloca em risco sua própria
segurança ou a da equipe. Porém, desde que a coluna vertebral seja pouco
exigida nas atividades contra a ação da gravidade, alguns desses casos serão
atendidos.
Não havendo contraindicação, o aluno inicia o trabalho da seguinte forma:
adaptação ao ambiente, aproximação do cavalo por meio de figuras e vídeos
ilustrativos, contato direto com o cavalo, aceitação de montar e montando
propriamente (LARGO, 1995).
Trabalho do fisioterapeuta e objetivos
O trabalho do fisioterapeuta é interpretar diagnósticos, compreender os limites
do praticante e lhe dar condições para superá-los, a partir do seu potencial,
lembrando que na equoterapia o cavalo é estimulador sensorial e motor do
praticante. O fisioterapeuta tem a função de conduzir e facilitar movimentos
normais e inibir os anormais durante a sessão. Com o instrutor de equitação,
deve avaliar as condições de trabalho, observando se o praticante participa do
treinamento durante a sessão e se o animal está descontraído, evitando
situações desagradáveis como querer se exercitar ou brincar em hora
imprópria (ROCHA E LOPES, 2003; SANTOS 2005).
O objetivo da fisioterapia na utilização da equoterapia é buscar a estimulação
do equilíbrio e, consequentemente, a melhora do ortostatismo, a modulação do
tônus muscular, prática de integração social e dos ganhos motores e maior
independência ao praticante, estimulando-o como participador ativo. Os
resultados vêm de acordo com o prazer, vontade e estimulação do paciente em
querer se reabilitar e ficar bem (SANTOS, 2005; ARAÚJO et al, 2005).
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Intervenções da equoterapia na fisioterapia
De acordo com sua patologia, precauções e quadro clínico, a equoterapia pode
intervir pelo uso de vários materiais benéficos ao tratamento fisioterápico,
utilizando uma avaliação ergonômica para obter melhores formas de segurança
em seu atendimento, no qual serão alcançados seus objetivos (SANTOS,
2005).
Para os déficits de equilíbrio, segundo Medeiros e Dias (2002), “a equoterapia
proporciona uma melhora de equilíbrio no paciente pela estimulação constante
do movimento tridimensional do cavalo que é realizado sobre o sistema
vestibular, cerebelar e reticular do paciente”. A partir de uma melhora do déficit
de equilíbrio, o praticante adquiriria o controle cervical e evoluiria para o
controle de tronco (SANTOS, 2005).
As alterações posturais ocorreriam em decorrência dos maus hábitos ou por
doença do sistema nervoso, que modificam as funções musculares. No
tratamento das alterações, o objetivo é obter o ortostatismo de tronco para a
estimulação correta do equilíbrio, correção postural e melhor funcionamento
visceral (SANTOS, 2005).
O relaxamento é indicado para o início dos trabalhos de correção postural a
partir da conscientização simultânea do balanceio dos braços soltos, dos
ombros e da própria respiração, de acordo com os passos do cavalo em
andadura calma. O relaxamento deve ser buscado na equoterapia com
segurança e conforto, para o paciente atingir a resposta esperada. (ROCHA E
LOPES, 2003).
A espasticidade apresenta reflexos exacerbados e seus membros permanecem
em flexão ou extensão, podendo associar-se a uma adução com rotação
interna do segmento, tendendo a permanecer fechado em torno do tronco, e
seus movimentos são duros e sem plasticidade. No tratamento devem ser
evitados movimentos bruscos e de resistência, sendo importante que se
incentive a execução de movimentos seletivos com o máximo de simetria dos
dois lados; o cavalo deve ter superfície em sua andadura calma que iniba seus
movimentos associados com manipulações em rotação (SANTOS, 2005).
Na hemiparesia, ocorre paralisia de um segmento ou de um lado do corpo, com
diminuição de seus movimentos, podendo ficar flácidos ou espásticos em
flexão ou extensão. Pela tendência que o praticante tem de utilizar somente o
lado sadio, ocorre diminuição das sensações e consciência do lado alterado.
Deve-se orientar o praticante a trabalhar o segmento lesado a partir de
repetições de manobras passivas e ativas que lhe sejam possíveis (ROCHA;
LOPES, 2003).
Para o tratamento da coreia, ataxia e atetose, o praticante deve receber
estabilização do ponto chave da cintura pélvica e montar em cavalo que
ofereça uma superfície estável ou instável conforme o estado do seu tônus
muscular (ROCHA; LOPES, 2003).
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No tratamento equoterápico podem ser usados os estribos para a transferência
de peso e sensibilizar os membros inferiores e noção simétrica; para membros
superiores podem ser manobras em diagonal, feitas com cavalo parado ou ao
Discussão
Benda, McGibbon e Grant (2003) avaliaram
o efeito da hipoterapia na atividade
muscular do tronco e dos membros
inferiores na postura sentada, em pé e
andando em crianças com paralisia cerebral
espástica. Os resultados apontaram para
melhora da simetria da atividade muscular,
sugerindo que o movimento do cavalo é
melhor que as descrições passivas do estiramento para as melhoras
mensuradas. A importância desse resultado vem do conhecimento que os
efetores como força muscular, flexibilidade das articulações e resistência
seriam fatores contribuintes para riscos de quedas (STUDENSKI; WOLTER
2002).
Lechner et al (2003) avaliaram a espasticidade por meio da escala de Ashworth
antes e após uma sessão de hipoterapia em 32 lesados medulares, e
observaram que os efeitos mais positivos foram encontrados naqueles com
espasticidade mais acentuada, concluindo que a equoterapia reduz
significantemente a espasticidade de membros inferiores em lesados
medulares. Segundo Brust, 1997, a redução da espasticidade melhora o
equilíbrio e, consequentemente, a deambulação, reativando o lado afetado,
tendo menor probabilidade de quedas.
Um estudo de Manzolin e Riskalla (2005) analisa a coordenação motora,
equilíbrio e apoio plantar em paciente portadora de hemiparesia à direita, pela
sequela de germinoma de pineal, por meio da equoterapia, de forma a verificar
se traz ou não benefício a esse praticante. O estudo indica, a partir da
equoterapia, grandes benefícios em relação ao equilíbrio, coordenação motora
e distribuição do apoio plantar, ocasionando melhora na qualidade de vida e
aumento da autoestima.
Na equoterapia trabalha-se o aspecto cognitivo do paciente, estimulando a
sensibilidade tátil, visual, auditiva e olfativa pelo ambiente e pelo uso do cavalo,
promovendo organização e consciência corporal, aumentando a autoestima,
facilitando a integração social, motivando o aprendizado, encorajando o uso da
linguagem, ensinando a importância de regras e disciplinas, e aumentando a
capacidade de independência e decisões em diferentes situações (SANTOS,
2005).
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Os comprometimentos funcionais, cognitivos e comportamentais estão
associados e podem levar a quedas por meio de ação direta e ao controle
postural existente no meio ambiente (BRITO, 2001).
Estudo de Keren, Reznik e Groswasser (2001) discute a importância de um
programa terapêutico integrado desde a fase aguda, em pacientes que
sofreram trauma crânioencefálico severo, como forma de melhorar seu
desempenho em atividades rotineiras, como levantar-se d da cadeira,
alimentar-se, andar e tocar piano. O programa terapêutico integrado ao qual os
autores se referem constava de hidroterapia, biofeedback, terapia
medicamentosa, bloqueios nervosos para redução da espasticidade, prescrição
de órteses e hipoterapia.
Os resultados apontados neste estudo sugerem que os efeitos advindos da
equoterapia, em associação aos outros recursos, implicam benefícios para as
dificuldades físicas nos pacientes neurológicos, com repercussão nas
atividades diárias funcionais.
Conclusão
A capacidade funcional é dimensionada em termos de habilidade e
independência para determinadas atividades, sendo um dos grandes
componentes da saúde do idoso. Com o avançar da idade, as perdas
funcionais tornam-se evidentes e o idoso deixa de praticar atividades básicas
da vida diária, diminuindo sua capacidade funcional, resultando no
aparecimento de quedas, decorrentes das instabilidades posturais causadas
pelos fatores intrínsecos (alterações próprias do organismo) e extrínsecos
(ambiente físico).
Nessa perspectiva, a equoterapia tem como objetivo promover a melhoria e
aumento do equilíbrio, coordenação e estabilidade postural, reeducação da
marcha e aumento do grau de segurança no ambiente domiciliar, promovendo
a qualidade de vida para os pacientes idosos. A equoterapia permite ao
profissional terapeuta retornar às origens do ser humano com relação às
pessoas e ao ambiente. Portanto, deve-se procurar um ambiente agradável e
rico em variações de terreno, escolher e experimentar os cavalos e dedicar-se
à equoterapia e ao seu desenvolvimento e divulgação, pois há muitos que
anseiam pelo potencial de estudo, lembrando-se sempre que ajudar os demais
é uma das melhores escolhas da vida, e dá-nos felicidade, conforto e paz.
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Data de recebimento: 19/10/2013; Data de aceite: 14/11/2013.
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Michelly Mara Lira Monteiro - Fisioterapeuta e coordenadora da Clínica de
Fisioterapia do Hospital João Luis de Morais, em Demerval Lobão, Piauí,
graduada em Fisioterapia pela Faculdade Integral Diferencial – Facid,
especialista em Neonatologia e Pediatria pela Faculdade Integrada do Ceará,
mestre em Gerontologia pela Universidade Católica de Brasília - UCB – DF. Emails [email protected] e [email protected]
REVISTA PORTAL de Divulgação, n.39, Ano IV. Dez /Jan/Fev.2014, ISSN 2178-3454. www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista
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