Plantio convencional Plantio direto Palestra: A ROTA DO ÁCIDO CHIQUÍMICO E SUA IMPORTÂNCIA NA DEFESA DA PLANTA Paulo Roberto de Camargo e Castro, ESALQ/USP, Piracicaba, SP, e-mail: [email protected] Professor Castro mostrou como o glifosato bloqueia a rota do ácido chiquímico e as conseqüências deste bloqueio na síntese de metabólitos secundários de importância vital para as plantas. Como sua palestra está reproduzida praticamente na íntegra no Encarte Técnico anexo a este jornal, apresentamos aqui apenas a Figura 3, mostrando o efeito do fosfito na diminuição dos sintomas de intoxicação do feijoeiro pelo glifosato. Mencionou, ainda, que os fosfitos são de uso bastante comum entre os citricultores. Figura 2. Perda da raiz pivotante em soja convencional variedade Conquista. Área de primeiro ano com soja após erradicação de Pinus. O plantio direto de soja sobre cobertura de milheto dessecada com 0,75 L ha-1 de glifosato foi realizado uma semana após a dessecação. Crédito: T. Yamada, 13/03/2007, Fazenda Pinusplan, Uberlândia, MG. Dr. Yamada finalizou apresentando sugestões de manejo das plantas de cobertura – tanto para culturas anuais como para perenes – com reduzido uso de herbicidas. Para culturas perenes, como citros e cafeeiro, o manejo mecânico (roçadeira lateral) complementado no início com manejo químico, tem dado bons resultados, com grande adoção pelos agricultores. Empresas produtoras destas roçadeira laterais (também conhecidas com ecológicas) estimam que 70 a 80% das propriedades citrícolas já contam com este equipamento. Para culturas anuais em sistema plantio direto (SPD), Dr. Yamada sugeriu a eleição prioritária de dicotiledôneas como planta de cobertura, ao invés de gramíneas. Explicou as razões para essa preferência: (1) as gramíneas precisam de adubação nitrogenada para alta produção de matéria seca, além de exigir glifosato na dessecação; (2) as dicotiledôneas podem ser controladas mecanicamente e, além disso, entre elas, as leguminosas fixam nitrogênio, que tudo indica será (se já não for) o mais caro dos nutrientes; e outras, como o nabo forrageiro, têm grande alelopatia e pode funcionar como herbicida natural no controle de invasoras. Dr. Yamada acredita que a tarefa de aumentar a quantidade de matéria orgânica no solo deve ser atribuída aos cereais de alta produtividade, como o milho, com mais de 10 t ha-1, e trigo, com mais de 5 t ha-1. Finalizou sua apresentação conclamando a atenção da comunidade científica para mais estudos relacionados a: • Nutrição mineral de plantas transgênicas, em especial das plantas RR; • Relação do glifosato com as doenças de plantas; • Transferência do glifosato para os animais (humanos inclusos) através da cadeia alimentar e seus efeitos na saúde animal; • Efeitos da aplicação aérea do glifosato. INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 119 – SETEMBRO/2007 Figura 3. Efeito de doses de fosfito na redução de sintomas de toxicidade de glifosato em plantas de feijoeiro. Crédito: Paulo Roberto de Camargo e Castro. Palestra: DINÂMICA DO GLIFOSATO NA RIZOSFERA DAS PLANTAS-ALVO E NÃO ALVO Volker Römheld, Hohenheim University, Alemanha, e-mail: [email protected] Professor Römheld mostrou que a rizosfera é importante local onde ocorre a transferência do glifosato aplicado na planta-alvo (invasoras) para a planta-não alvo (cultura) (Figura 4), de acordo com as seguintes etapas: (1) Absorção foliar do glifosato pela planta-alvo; (2) Translocação do glifosato, via floema, para a região apical do sistema radicular; (3) Liberação do glifosato e possíveis metabólitos (AMPA) na rizosfera da planta-alvo; (4) Equilíbrio dinâmico do glifosato liberado com os adsorventes e a solução da rizosfera; (5) Absorção do glifosato pela planta-não alvo; (6) Translocação do glifosato/AMPA para a parte aérea da planta-não alvo e indução de desordens. Na dinâmica do glifosato na rizosfera deve-se considerar: (1) Extensão das interações ou dos entrelaçamentos entre os sistemas radiculares das plantas-alvo e não alvo; 3 Aplicação foliar de glifosato nas plantas-alvo (invasoras) ou cultivares resistentes ao glifosato (RR); a absorção pelas folhas é potencialmente influenciada pela composição da solução pulverizada (por exemplo, adição de Ca, Fe, Mn) Acúmulo de glifosato nos tecidos meristemáticos apicais Degradação do glifosato em AMPA na parte aérea em baixas doses (depende da espécie de planta) Rápida translocação do glifosato da parte aérea para as raízes Armazenamento intermediário de glifosato nas raízes Acúmulo de glifosato nos tecidos meristemáticos das raízes O que nós devemos saber? Que após a acumulação de glifosato nas raízes das plantas-alvo (invasoras) ele é liberado na rizosfera com possíveis conseqüências para a planta-não alvo (cultura) Translocação de AMPA da parte aérea para as raízes e/ou formação de AMPA nas raízes em baixas doses Liberação de AMPA na rizosfera ou formação na rizosfera Liberação de glifosato na rizosfera Dúvida: Qual é o mecanismo dessa liberação na rizosfera e quão rápida é essa liberação? Depende de quais fatores? Figura 4. Transferência do glifosato da planta-alvo para a planta-não alvo através da rizosfera compartilhada. (2) Imobilização do glifosato na rizosfera por cátions como Al3+, Ca2+ e outros; (3) Remobilização do glifosato adsorvido induzida por alterações na rizosfera da planta-não alvo (por exemplo, competição do glifosato por sítios de adsorção com o ânion fosfato, favorecendo a dessorção do mesmo); (4) Interação do glifosato com os microrganismos da rizosfera responsáveis pela redução/oxidação do Mn; (5) Efeito do glifosato nos rizóbios, nas micorrizas e na diversidade microbiológica. cultura era mais importante no solo arenoso onde, mesmo esperando 21 dias, houve ainda efeitos residuais do glifosato sobre as nascediças. Em outro experimento, semeou simultaneamente, num mesmo rizobox, soja RR e girassol. Protegendo com saco plástico as plantas de girassol, aplicou glifosato na soja RR e 7 dias depois mediu os teores de chiquimato nas raízes de girassol. Encontrou, conforme esperado, maior teor de chiquimato na raiz de girassol cultivado no Arenosol que no Luvisol (Figura 6), e questionou se a rápida imobilização do glifosato no Luvisol não seria pela sua complexação pelo cálcio. Porém, novo experimento trouxe resultado surpreendente. Simulando o sistema plantio direto (SPD), semeou azevém (Lolium perenne) em vasos contendo os dois solos diferentes – Arenosol e Luvisol – e quando o azevém estava com volume adequado de massa verde, ele foi dessecado com glifosato. Após 8 semanas (56 dias) da dessecação semeou-se a soja. Medindo o acúmulo de glifosato nas raízes ele observou, desta vez, maior acúmulo de chiquimato no Luvisol que no Arenosol, porém, ambos em níveis muitos menores que os do experimento anterior. E especulou se Explicou que os vários processos químicos e biológicos afetados pelo glifosato são interdependentes e podem variar com: (1) As propriedades físicas e químicas do solo (textura, estrutura, pH, potencial redox, teor de P e de Ca, etc.); (2) População microbiana; (3) Freqüência de aplicação do glifosato; (4) Época de aplicação; (5) Espécies vegetais; (6) Período de tempo. Sua apresentação foi longa e extremamenLUVISOL ARENOSOL te rica de informações, mas para o bem da didática e do papel, tentaremos resumí-la nas poucas figuras a seguir. Prof. Römheld mostrou um experimento em que cultivou girassol em dois tipos de solo – Arenosol, muito arenoso, e Luvisol, de textura média – nos quais a planta de cobertura tinha sido dessecada com glifosato com diferentes dias de antecedência (0, 7, 14 e 21 dias) em relação à 0 7 14 21 DAA -Gly 0 7 14 21 DAA -Gly data de semeadura (Figura 5). Observou que o efeito do intervalo de espera entre a dessecação Figura 5. Efeito do intervalo de tempo entre a dessecação e a semeadura de girassol em solos com diferentes texturas. da planta de cobertura e a semeadura da próxima 4 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 119 – SETEMBRO/2007 este efeito não seria da remobilização do glifosato adsorvido ao solo. Que justificaria o maior efeito num solo mais tamponado, como o Luvisol, que no Arenosol (Figura 7). Concluiu que o tempo de espera entre o controle das invasoras com o glifosato e a semeadura da próxima cultura deveria ser de: • 0-3 semanas para solos úmidos e de textura leve, com rápida decomposição de raízes das invasoras; • 4-8 semanas para solos úmidos, de textura pesada e calcários, com lenta decomposição de raízes das invasoras; • 1 ano para solos secos e arenosos, comuns em Israel, onde esta norma é recomendada; e • 1,5 a 3 anos para solos de regiões frias, com reduzida decomposição de raízes das invasoras, como em certas partes do Canadá. Girassol (indicador) Soja (alvo) Figura 6. Acúmulo de chiquimato na raiz de girassol (planta-não alvo) 7 dias após a aplicação de glifosato na soja RR (planta-alvo). Lolium perenne (planta-alvo) Soja (planta-não alvo) Figura 7. Acúmulo de chiquimato em raízes de plantas de soja cultivadas em vasos onde a planta de cobertura (Lolium perenne) tinha sido dessecada com glofosato 8 semanas (56 dias) antes da semeadura. O maior acúmulo na soja cultivada em Luvisol indica possibilidade de remobilização do glifosato adsorvido. Palestra: EFEITOS DO GLIFOSATO NA NUTRIÇÃO DE MICRONUTRIENTES DE PLANTAS Ismail Cakmak, Sabanci University, Turquia, e-mail: [email protected] Dr. Cakmak iniciou sua palestra mencionando que nas regiões com uso extensivo de glifosato aumentam os relatos sobre: INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 119 – SETEMBRO/2007 • Reduções no crescimento e na produtividade das culturas; • Aumento nos problemas de doenças; • Aumento no uso de inseticidas e fungicidas; • Inibição da fixação biológica de nitrogênio; • Aumento no uso de fertilizantes foliares com micronutrientes; • Sintomas de deficiências de micronutrientes. 5