INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO SUPERIOR E PESQUISA MARIÊ DOS SANTOS GOMES RAQUEL BARBOSA FRANCO AUTOMEDICAÇÃO COM ANTIBIÓTICOS EM ESTABELECIMENTO FARMACÊUTICO DE CAMPO GRANDE (MS) CAMPO GRANDE 2012 MARIÊ DOS SANTOS GOMES RAQUEL BARBOSA FRANCO AUTOMEDICAÇÃO COM ANTIBIÓTICOS EM ESTABELECIMENTO FARMACÊUTICO DE CAMPO GRANDE (MS) Monografia apresentada para a obtenção do título de MBA de Gestão em Saúde e Controle de Infecção, da Faculdade INESP, sob orientação do Prof. Ms. Antônio Tadeu Fernandes. CAMPO GRANDE 2012 G615a GOMES, Mariê dos Santos Automedicação com antibióticos em estabelecimento farmacêutico de Campo Grande (MS). / Mariê dos Santos Gomes e Raquel Barbosa Franco. – Campo Grande, 2014. 23f. Orientador: Prof. Dr. Antônio Tadeu Fernandes. Monografia (Curso MBA em Gestão em Saúde e Controle de Infecção Hospitalar) - Instituto Nacional de Ensino Superior e Pesquisa, 2014. (043)616.98 RESUMO A falta de conhecimento da população brasileira, assim como a falta de orientação e a enorme propaganda de medicamentos, são fatores que sempre contribuíram para a automedicação da população. Na tentativa de diminuir os riscos trazidos principalmente pela automedicação de antibióticos, que leva a resistência das bactérias e a dificuldade no tratamento de infecções graves, há no país uma resolução em vigor desde outubro de 2010, obrigando a apresentação e a retenção da receita médica pelas farmácias e drogarias durante a compra de antibióticos pelos pacientes, a fim de minimizar a agravante automedicação. O presente trabalho analisa o perfil de consumo pela população estudada quanto aos antibióticos e sua freqüência de uso, os motivos que levavam ao consumo, se este era sob prescrição médica ou outra indicação (antes da resolução), e se concordavam com a RDC 44/2010, se achavam que a automedicação pudesse levar a resistência bacteriana, assim como seu grau de conhecimento. A grande maioria da população estudada, 62%, comprava antibiótico sem receita médica e 37% usavam de maneira inadequada, interrompendo seu uso assim que cessavam os sintomas. Palavras-chaves: antibióticos – automedicação – RDC 44/2010 ABSTRACT The lack of knowledge of Brazilian population, as well as the lack of guidance and the huge drug advertising, are always factors that contributed to the selfmedication of the population. In an attempt to reduce the risks brought mainly by selfmedication of antibiotics, which leads to bacterial resistance and the difficulty in treating severe infections in the country for a resolution in force since October 2010, forcing the submission and retention of a prescription by pharmacies and drugstore during the purchase of antibiotics to patients, in order to minimize aggravation selfmedication. This paper analyzes the profile of consumption by the population as antibiotics and their frequency of use, the reasons that led to the consumer, whether it was prescription or other indication (before the resolution), and agreed with the “RDC 44 / 2010” is thought that self-medication could lead to bacterial resistance, as well as their level of knowledge. The vast majority of the population studied, 62%, buy antibiotics without prescription and 37% used improperly, discontinuing your use so the symptoms ceased. Keywords: antibiotics – self-medication – RDC44/2010 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 6 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................7 2.1 Antibiótico e resistência bacteriana .................................................................... 7 2.2 Automedicação .................................................................................................. 9 2.3 Papel do farmacêutico no uso racional de medicamentos ............................... 17 3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 19 3.1 Objetivo geral ................................................................................................... 19 3.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 19 4. METODOLOGIA.................................................................................................... 19 4.1 Tipo de estudo ................................................................................................. 19 4.2 Local e período ................................................................................................ 20 4.3 Sujeitos da pesquisa ........................................................................................ 20 4.4 Procedimentos para coleta de dados ............................................................... 20 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 20 6. CONCLUSÃO........................................................................................................ 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 26 1. INTRODUÇÃO A automedicação traz grandes riscos não só a quem consome medicamentos por conta própria, mas a toda população. O consumo de alguns medicamentos, como os antibióticos, utilizados muitas vezes sem necessidade e de forma incorreta acaba levando a resistência bacteriana aos antibióticos e ao aparecimento de “super bactérias”, um risco muito grande principalmente quando essas bactérias chegam ao ambiente hospitalar. O governo tem tomado atitudes para dificultar e restringir o acesso da população aos antibióticos, criando normas, para que esses não sejam consumidos sem necessidade. Contudo, é importante que se analise o perfil de automedicação da população, quais sintomas levariam os pacientes a utilizar antibióticos por conta própria, e como fariam uso do mesmo, se respeitam os horários e o tempo de tratamento e se procuram ajuda do farmacêutico, profissional da saúde que deve orientá-lo durante a aquisição do medicamento, para que não sejam administrados sem a devida orientação. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Antibiótico e resistência bacteriana As bactérias podem ser encontradas por toda a parte, revestem a pele, as mucosas e o trato intestinal de homens e animais. Muitas delas são inofensivas e podem ser benéficas ao hospedeiro, seja ele o homem, os animais ou as plantas, limitando a habilidade de colonização de bactérias nocivas aos mesmos (SANTOS, 2004). A infecção bacteriana acontece quando as bactérias ultrapassam as barreiras cutâneas ou mucosas e penetram nos tecidos corporais. Normalmente, o organismo remove as células invasoras através da resposta imune, sem manifestar sinais da doença. Algumas bactérias conseguem se multiplicar mais rápido do que as defesas do hospedeiro possam destruí-las, desenvolvendo uma doença infecciosa (LULLMANN et al., 2008). Os antibióticos são definidos como substâncias antibacterianas produzidas por diversas espécies de microrganismos (bactérias, fungos e actinomicetos), que suprimem o crescimento de outros microrganimos (CHAMBERS, 2006). A descoberta dos antimicrobianos é reconhecida como um dos grandes avanços da humanidade. A sua evidente eficácia criou a expectativa de que fossem igualmente úteis em toda e qualquer doença infecciosa. Entre todos os fármacos, estes estão entre os mais prescritos e utilizados de maneira incorreta. Como consequência do uso disseminado, surgiram patógenos resistentes, havendo uma necessidade cada vez maior de novos fármacos (CHAMBERS, 2006; FUCHS, 2004). A velocidade de produção de novos representantes não acompanha a velocidade da emergência de cepas resistentes. Acredita-se que a diminuição do uso inapropriado dos antibióticos seja a melhor maneira de controlar a resistência (CHAMBERS, 2006; FUCHS, 2004). Devido à dificuldade de desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas, reforça-se a necessidade de racionalizar o uso dessa classe de medicamentos para amenizar a pressão seletiva de microrganismos multirresistentes (FUCHS, 2004). O conceito de sensibilidade e resistência bacteriana derivam da correlação do CIM (concentração inibitória mínima) com os níveis teciduais obtidos. Muitas bactérias são sensíveis a todos os antimicrobianos in vitro, mas às vezes, as altas concentrações necessárias à ação antibacteriana tornam impossível seu uso clínico, pela toxicidade ao paciente (FUCHS, 2004). A concentração do fármaco no local da infecção não apenas deve inibir o microrganismo, como também permanecer abaixo do nível tóxico para as células humanas. Sendo preenchidos esses critérios, o microrganismo é considerado sensível ao antimicrobiano (CHAMBERS, 2006). A resistência da bactéria é observada quando o crescimento da mesma permanece sem alteração frente ao antibacteriano. Os mecanismos gerais dessa resistência são: natural ou intrínseca, fisiológica e adquirida (FUCHS, 2004; LULLMANN et al., 2008). A resistência natural ou intrínseca é quando a espécie bacteriana é naturalmente resistente aos antimicrobianos, pode ocorrer devida certas características metabólicas que conferem insensibilidade ao fármaco por uma cepa particular de bactéria. O principal mecanismo é a inexistência de alvos da ação do antimicrobiano no microrganismo, como sistema metabólico ou organela (FUCHS, 2004; LULLMANN et al., 2008). A resistência fisiológica ocorre em condições especiais de crescimento bacteriano. O exemplo mais típico é a formação de biofilmes, que dificultam a penetração de antimicrobianos e originam ambiente para trocas genéticas (FUCHS, 2004). Já a resistência adquirida ocorre quando cepas bacterianas naturalmente susceptíveis se transformam em resistentes, sob a influência de antimicrobianos, devido à alteração genética aleatória. Decorre do desenvolvimento de novos mecanismos de defesa diante da exposição continuada a antimicrobianos, por mutação ou transferência horizontal de material genético. Com o uso indiscriminado de antimicrobianos, as bactérias susceptíveis morrem, enquanto as mutantes se multiplicam, sendo mais provável o aparecimento de cepas resistentes, quanto mais frequente certo antibacteriano for usado. Sendo assim, quanto mais exposta a antibiótico ou quimioterápico, maior a chance de uma bactéria tornar-se resistente. (FUCHS, 2004; LULLMANN et al., 2008). As taxas de resistência a antimicrobianos vêm preocupando autoridades, profissionais da saúde e até o público leigo. Apesar de ainda não atingida de forma eficiente pelas abordagens clássicas, é de necessidade urgente a prevenção de emergência de cepas de microrganismos resistentes (FUCHS, 2004). 2.2 Automedicação A automedicação é o ato do doente, ou seu responsável, utilizar um produto, sem prescrição médica, acreditando trazer benefícios no tratamento de alguma doença ou aliviar sintomas. A prescrição por pessoas não habilitadas inclui amigos, familiares ou balconista de farmácia, neste último caso exercendo ilegalmente a medicina. Outra forma de automedicação é a orientada, onde há a reutilização de receitas antigas, sem que o medicamento tenha sido indicado para uso contínuo (PAULO; ZANINE, 1988). O fato de nenhum medicamento ser inócuo ao organismo torna a automedicação, potencialmente nociva à saúde individual e coletiva. O uso incorreto do medicamento, pela prescrição errônea ou pela automedicação inadequada, pode levar a diversas conseqüências ao usuário como efeitos adversos, enfermidades iatrogênicas e mascaramento de doenças evolutivas. Até mesmo o uso de drogas consideradas “banais” pela população, como analgésicos, antiinflamatórios e antibióticos, podem ocasionar conseqüências como resistência bacteriana, reações de hipersensibilidade, dependência, sangramento digestivo, entre outras (ARRAIS et al., 1997; TOMASI et al., 2007; VILARINO et al.,1997). O alívio momentâneo dos sintomas encobre a doença de base, que pode progredir de forma despercebida. De acordo com OGAWA et al. (2008) a cefaléia é principal motivo de automedicação, e este sintoma pode estar relacionado a outro problema de saúde mais grave com tratamento específicos, como por exemplo, a hipertensão arterial. O consumo de medicamento sem prescrição médica é uma prática comum no Brasil, justificada pela má qualidade da oferta de medicamentos. Esse ato é ocasionado pelo não cumprimento da obrigatoriedade da apresentação da receita médica pelo estabelecimento farmacêutico e a carência de informação e instrução na população em geral sobre os perigos da automedicação (ARRAIS et al., 1997). De acordo com a Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas (ANBIFARMA), no Brasil, cerca de 80 milhões de pessoas eram adeptas da automedicação na década de 80 (IVANNISSEVICH, 1994). Dados da Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ (2009) mostram que, os medicamentos são os principais responsáveis por intoxicação humana no país, sendo relatados em 26,4% dos casos. As principais causas relacionadas a intoxicação medicamentosa foram o suicídio, o acidente individual e o uso terapêutico, respectivamente. A venda indiscriminada de medicamentos por balconistas e proprietários de farmácia é um dos principais fatores do aumento do número de vítimas por intoxicação no País. Há uma falta de severidade para o cumprimento de leis e portarias que punam esse grupo que prescrevem ilegalmente, quando deveriam estar difundindo informações éticas e claras sobre os perigos da automedicação (BORTOLON; KARNIKOWSKI; ASSIS, 2007). Os medicamentos representam um instrumento essencial para a resolução dos serviços prestados no setor da saúde, representando o segundo maior gasto dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), perdendo apenas para os recursos humanos (GIROTTO; SILVA, 2006). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde, o mercado brasileiro dispõe mais de 32 mil medicamentos, estando em sexto lugar entre os países que mais consomem medicamentos, respondendo por R$ 14,3 bilhões dos 529 bilhões movimentados no mercado mundial de remédios (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007). No Brasil, a farmácia não é reconhecida pela população como uma unidade de saúde e, sim, como um ponto comercial. Por isso, diversos medicamentos são vendidos de forma indiscriminada pelo estabelecimento farmacêutico, enquanto deveriam ser dispensados apenas com prescrição médica. Estes medicamentos, vendidos sem receita médica, possibilitam a automedicação, onde o indivíduo, motivado por fatores socioeconômicos e culturais, por si só, reconhece os sintomas da sua doença e os trata (CERQUEIRA et al., 2005). Em agosto de 2009 foi publicada a Resolução da Diretoria Colegiada n. 44 (RDC n44/09), que dispõe sobre boas práticas farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento, da disposição e da comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias. Visto a importância de um maior controle na venda de antimicrobianos, motivado principalmente pelo aumento da resistência bacteriana, foi criada em outubro de 2010 outra resolução a RDC n 44/2010, que dispõe sobre o controle de medicamentos à base de substâncias classificadas como antimicrobianos. Esta resolução estabelece critérios para embalagem, rotulagem, dispensação e controle desses medicamentos, seja isolado ou em associação, em que fica sujeita à retenção de receita e escrituração em farmácias e drogarias, nos termos dessa resolução (ANVISA). A RDC-44 se torna uma importante medida preventiva, contribuindo para a diminuição diária de riscos causados pela automedicação com antibióticos e conseqüentemente conscientizando a população quanto ao perigo que esses medicamentos podem causar, quando utilizados de forma indevida, sendo o principal a seleção de bactérias resistentes. No Brasil, a prática da automedicação torna-se bastante comum devido a uma grande parcela da sociedade estar na faixa da pobreza, sem condições financeiras para pagar um plano de saúde, somado à dificuldade no acesso à assistência médica pública. Outros fatores também explicam a automedicação como escolaridade, classe social, acesso às informações a respeito dos medicamentos e, principalmente, o fator cultural (NASCIMENTO, 2005). O alto índice de automedicação da população brasileira também tem forte relação com as indústrias farmacêuticas, que não medem esforços através das ferramentas de marketing, onde a informação e a propaganda se misturam propositalmente. O alto investimento em marketing, evidente aposta na comunicação e pouco apreço pela informação e educação, não deixam dúvida dos fortes interesses da indústria farmacêutica no Brasil. Para elas a automedicação pouco importa, o importante é vender (JESUS, 2007). Dados do Projeto de Monitoração de Propaganda da ANVISA mostram que cerca de 90% dos comerciais de medicamentos apresentam algum tipo de irregularidade. A situação é mais alarmante na publicidade direcionada a médicos e farmacêuticos. Quinze por cento de 1,5 mil propagandas de medicamentos de venda sob prescrição analisadas pela ANVISA não apresentavam cuidados e advertências, 14% não alertavam sobre as contra-indicações e mais de 10% continham afirmações sem comprovação de estudos científicos (ANVISA, 2011). 2.3 Papel do farmacêutico no uso racional de medicamentos Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001), a assistência farmacêutica consiste em um grupo de atividades relacionadas com o medicamento, destinadas a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade. Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma de suas etapas constitutivas, a conservação e controle de qualidade, a segurança e a eficácia terapêutica dos medicamentos, o acompanhamento e a avaliação da utilização, a obtenção e a difusão de informação sobre medicamentos e a educação permanente dos profissionais de saúde, do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional. A dispensação é definida como “o ato profissional farmacêutico de proporcionar um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente como resposta à apresentação de uma receita elaborada por um profissional autorizado. Nesse ato, o farmacêutico informa e orienta o paciente sobre o uso adequado do medicamento. São elementos importantes da orientação, entre outros, a ênfase no cumprimento da dosagem, a influência dos alimentos, a interação com outros medicamentos, o reconhecimento de reações adversas potenciais e as condições de conservação dos produtos” (BRASIL, 2001). Mesmo que a dispensação de medicamentos não seja função exclusiva do farmacêutico cabe a ele a responsabilidade de treinar os demais funcionários da drogaria ou farmácia para que o façam corretamente, exercendo a promoção do uso racional de medicamentos (SABINO; CARDOSO, 2010). Mesmo que vendido sem receita médica, faz-se necessária a orientação farmacêutica, para que esses medicamentos possam ser utilizados de maneira correta por leigos em assuntos clínicos e farmacológicos, além da orientação sobre possíveis reações adversas e interações com medicamentos prescritos e alimentos (BORTOLON; KARNIKOWSKI; ASSIS, 2007). Segundo as recomendações da Federação Internacional de Farmácia (FIP), o farmacêutico está apto a garantir a efetividade e a segurança do uso dos medicamentos de venda sem prescrição médica obrigatória, tendo em consideração os seus conhecimentos técnico-científicos atualizados, a capacidade de reconhecer os sintomas, o fato de estar disponível sem marcação de consulta e de ter a capacidade de recomendar a consulta médica quando verifica que a situação que o doente coloca assim o exige. Pretende-se que o farmacêutico tenha um papel ativo na indicação farmacêutica orientando os seus doentes para o tratamento de pequenos mal-estares (SOARES, 2005). A existência dos medicamentos de venda livre é uma comprovação do interesse político de permitir o consumo de medicamentos sem prescrição médica. Mas, para a classe médica, é necessário ter consciência de que este recurso pode mascarar uma doença grave (PAULO; ZANINI, 1988). Sendo assim, a prática da indicação de medicação de venda livre, pelo farmacêutico, deve ser entendida como indicação farmacêutica, e não como automedicação, visto que o profissional tem os conhecimentos da farmacoterapia, distúrbios patológicos e fisiológicos para males mais leves (SOARES, 2005). De acordo com BORTOLON; KARNIKOWSKI; ASSIS (2007), “nestes casos, o farmacêutico deve fazer uma avaliação clínica, de acordo com a sua capacidade, para determinar o nível de atenção que cada indivíduo precisará, auxiliando o encaminhamento de pacientes para a consulta médica. Para o Sistema Único de Saúde (SUS), a indicação farmacêutica pode trazer vantagens na orientação sobre medicamentos, ajudando a racionalizar o uso, evitar erros na terapêutica e diminuir os riscos associados à automedicação, além de melhorar o sistema de saúde como um todo por reduzir custos com consultas médicas em casos em que não se façam necessárias ou nos casos de espera entre uma consulta e outra”. Por tudo isso, o presente trabalho avalia o índice de automedicação em pacientes que procuraram um estabelecimento farmacêutico, na cidade de Campo Grande, para a compra de antibiótico. 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Avaliar o índice de automedicação em pacientes que procuraram um estabelecimento farmacêutico, na cidade de Campo Grande – Mato Grosso do Sul, para a compra de medicamento. 3.2 Objetivos específicos Para realização do objetivo geral foram designados os seguintes objetivos específicos: • Descrever as variáveis demográficas de amostra de população que efetuou alguma compra em um estabelecimento farmacêutico em Campo Grande – Mato Grosso do Sul, entre julho e outubro de 2011; • Identificar os hábitos de compra e uso de antibióticos; • Descrever a opinião da população a respeito da RDC-44, de 26 de outubro de 2010, que proíbe a compra de antibiótico sem receita médica; • Avaliar o conhecimento da população estudada sobre resistência bacteriana. 4. METODOLOGIA 4.1 Tipo de estudo Trata-se de um estudo descritivo, prospectivo com delineamento transversal. 4.2 Local e período O estudo foi realizado em um único estabelecimento comercial farmacêutico, localizado na Rua Joaquim Murtinho, 3167, Chácara Cachoeira, Campo Grande – Mato Grosso do Sul, no período de julho a outubro de 2011. Campo Grande é a capital do estado de Mato Grosso do Sul, localizado na região Centro-Oeste. A cidade se localiza na parte central do estado (INMET, 2008). A população na cidade e de 787.204 habitantes (IBGE, 2010). 4.3 Sujeitos da pesquisa Foram incluídas no estudo 100 pessoas, selecionadas aleatoriamente, que entraram no estabelecimento farmacêutico para efetuar compra de qualquer produto. 4.4 Procedimentos para coleta de dados O estudo foi iniciado pela aplicação de um questionário (apêndice A) no balcão da farmácia, pela farmacêutica, no momento da compra. As variáveis analisadas foram: sexo, idade, escolaridade, hábitos de compra e uso de antibióticos, opinião sobre proibição da venda de antibiótico sem receita médica e conhecimento sobre resistência bacteriana. 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Neste presente trabalho foi aplicado e analisado um total de 100 questionários no município de Campo Grande, em uma farmácia de uma rede de supermercados, no período de julho a outubro de 2011. Dos clientes do estabelecimento farmacêutico que participaram da pesquisa, 10,0% tinham menos de 20 anos, 21,0% entre 21 e 30 anos, a maior parte dos entrevistados, 30,0%, tinha entre 31 e 40 anos, 14,0% entre 41 e 50 anos, 20,0% entre 51 e 60 anos e a menor parte dos entrevistados, 5,0%, acima de 60 anos (Gráfico 1). De todos os entrevistados 30 eram do sexo masculino e 70 do sexo feminino. Gráfico 1 - Idade dos clientes entrevistados Com relação ao nível de escolaridade, 42 pessoas cursaram ensino superior completo, 34 ensino médio completo, 14 superior incompleto, 5 pessoas médio incompleto, três pessoas ensino fundamental completo e duas pessoas ensino fundamental incompleto (Gráfico 2). Vinte e dois participantes da pesquisa eram profissionais da área da saúde. Em estudo, em regiões do estado de São Paulo, sobre farmácias domiciliares e sua relação com a automedicação em crianças e adolescentes, em que os pais ou responsáveis dessas crianças foram entrevistados, não foi demonstrada associação significativa entre profissionais de saúde responsáveis por essas crianças e automedicação. No entanto, foi observado um maior risco nas crianças em que os pais ou responsáveis não completaram o ensino fundamental. (TOURINO S. F. et al, 2008). Metade (50,0%) dos entrevistados com nível fundamental incompleto compravam antibióticos sem receita médica, 66,66% com nível fundamental completo, 80,0% dos entrevistados com nível médio incompleto, 67,64% de nível médio completo, 71,42% com nível superior incompleto e 54,76% com nível superior completo (Gráfico 2). Demonstrando que ocorria automedicação de antibióticos em grande escala, independente da escolaridade. Gráfico 2 - Grau de escolaridade dos entrevistados e percentuais dos entrevistados que compravam antibióticos sem receita médica de acordo com a escolaridade A análise dos dados do estudo em questão mostra que dos 100 clientes estudados 62 tinham o hábito de comprar antibiótico sem receita médica, antes da RDC 44/2010. O principal motivo para aquisição de medicamentos foi a amidalite, citada em 48,0% dos casos, seguido de infecção do trato urinário em 14,0% dos entrevistados. Outras infecções também foram citadas: otite, dermatite, rinite e sinusite, porém com menor freqüência. Em farmácias de Fortaleza (CE), em 100 clientes estudados sobre automedicação para antimicrobianos sem o tratamento prescrição de infecções médica, urinárias, caracterizando a 37 compraram automedicação. (MENEZES et. al 2004). No presente estudo, foi observada a menção de outros sintomas, que podem não estar relacionados à infecção bacteriana, mas, que foram mencionados como motivos para aquisição de antibióticos, entre eles febre, cefaléia, dor no corpo e gripe. Com relação ao critério de escolha utilizado para comprar o antibiótico sem a receita médica, 31,0% dos entrevistados costumavam pedir ajuda ao farmacêutico, 18,0% usavam receita antiga, 16,0% pediam indicação a um vizinho ou familiar; 15,0% não pediam indicação, apenas iam à farmácia e compravam, 9,0% pediam ajuda a qualquer outro profissional da saúde e 8,0% perguntavam ao balconista o antibiótico adequado (Gráfico 3). Gráfico 3 – Porcentagem de entrevistados de acordo com critério de escolha para o antibiótico Um estudo realizado no estado de são Paulo por SERVIDONE et al 2006, descreve que em 72% dos casos o paciente recorreu a indicação do farmacêutico ou balconista, e em 54% a terceiros (parente, vizinho ou amigo). Além disso, em 56% dos casos o paciente recebeu sugestões na farmácia, no momento da compra. Neste mesmo estudo, dos medicamentos escolhidos para a automedicação, 11% eram antibióticos. O principal critério usado para interrupção do tratamento com antibiótico, pelos entrevistados, foi o fim dos sintomas (37,0%), 21,0% interrompem o tratamento de acordo com orientação médica, mesmo os que utilizam receita antiga, 16,0% quando acaba o medicamento. Outros critérios foram citados como motivo que levam a interrupção do tratamento, como a orientação do farmacêutico ou de quem indicou o antibiótico (balconista, vizinho ou familiar), de acordo com a bula, entre outros (Gráfico 4). Gráfico 4 – Porcentagem de entrevistados de acordo com critério utilizado para interrupção do tratamento com antibiótico A maioria dos entrevistados, 71,0%, são a favor da RDC 44/2010, que proíbe a venda de antibióticos sem receita médica. De todos os entrevistados, 92,0% concordam que o uso indiscriminado de antibióticos pode contribuir de alguma forma, para o desenvolvimento de resistência bacteriana aos antibióticos. 6. CONCLUSÃO Após a análise, é possível sugerir que mesmo sabendo dos riscos, e de uma possível dificuldade no tratamento devido a resistência, a maioria das pessoas se automedicava com antibióticos. Observamos que após a criação e divulgação da recente RDC 44/2010, para a população brasileira, houve uma maior conscientização e preocupação da mesma. Ainda é cedo para que possamos observar mudanças significativas na atitude da maioria população quanto ao uso correto do antibiótico. Muitos, mesmo sob prescrição continuam fazendo uso do antibiótico de maneira inadequada, sem cumprir todo o tratamento. O farmacêutico, que conhece tanto sobre medicamentos, tem papel fundamental na orientação da população e na difusão do autocuidado, promovendo o uso racional de medicamentos. Muitas vezes é ele o único profissional da saúde em contato com o paciente após receber a prescrição médica, em um país em que muitos pacientes não voltam ao médico ao término dos sintomas nem mesmo durante o tratamento. A Resolução da ANVISA para a venda de antibióticos somente mediante retenção da receita foi um grande passo, mas ainda é necessário que o país evolua muito para que se diminua a automedicação, não só dos antibióticos. Automedicação essa que trás muitos benefícios a indústria farmacêutica, mas prejuízos a saúde pública. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANVISA, AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Projeto de Monitoração de Propagandas de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária. 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