Encontro_das__guas_art2 - udesc

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ANÁLISE DO CLIMA URBANO E SUAS IMPLICAÇÕES NO
DESENVOLVIMENTO DE JOINVILLE
Dra HACKENBERG1, Ana . Mirthes & Dr RAMOS2, Doalcey Antunes
1 – Laboratório de meteorologia /DEC / UDESC / Joinville / SC / BR - E-mail: [email protected]
2 - Laboratório de hidrologia /DEC / UDESC / Joinville / SC / BR E-mail: [email protected]
RESUMO
A análise dos micro-climas urbanos de Joinville/SC, foi efetuada com dados de tres estações
meteorológicas e duas microestações, instaladas temporariamente. Para avaliar o clima na
região industrial foi instalada uma estação meteorológica padrão OMM no Campus
Universitário sob coordenação do Laboratório de Meteorologia / CCT / UDESC e para
monitorar os parâmetros hidro-meteorológicos das bacias locais foram implantadas duas
estações hidrológicas automáticas nos rios Cubatão e Pirabeiraba, coordenadas pelo
Laboratório de Hidrologia/CCT/UDESC, com o apoio da FATMA/SC e GTZ/Alemanha.
1.
INTRODUCÃO
O desenvolvimento urbano na maioria das cidades brasileiras ocorreu de forma
espontânea, sem estudos e de forma irregular. Com o adensamento populacional, as antigas
ruas e as habitações unifamiliares foram substituídas, com o passar dos anos, pelos atuais
sistemas viários urbanos e pelos edifícios. A irregularidade do desenvolvimento das cidades é
conseqüência de suas próprias características naturais como o relevo, a pedologia, os cursos
dágua, os mangues, etc.
Em Joinville os fatores de maior interferência no microclima do município são a
proximidade do mar, os morros que entremeiam a área urbana, a vegetação urbana
remanescente e a malha urbana propriamente dita com suas edificações. Atualmente as brisas
marinhas não são apenas desviadas pela topografia, mas também pelos edificios, criando áreas
de calmaria e turbulência, alterando a temperatura e a umidade do ar. O fenômeno "Ilha de
Calor Urbana" gera correntes de ar centrípetas tendo como conseqüência maior nebulosidade
nas áreas centrais, provocando um aumento considerável nas precipitações. Devido a
impermeabilização do solo, o maior volume de águas provenientes das chuvas provoca
enchentes nos meses de verão. Vários pontos da área central, sofrem com alagamentos nestes
meses, problema agravado pela crescente impermeabilização do solo e desmatamento
progressivo das poucas áreas verdes ainda existentes.
2.
CLIMA URBANO
O clima urbano abrange o clima de um espaço terrestre e sua urbanização, e o clima
local sofre influência do clima regional. Algumas vezes, predominam as condições de
macroclima, e outras vezes as condições de microclima. Conforme Monteiro (1975) o espaço
urbanizado mantém relações íntimas com o ambiente regional imediato em que se insere, e
pode ser subdividido em microclimas. As alterações climáticas da cidade são conseqüência da
urbanização que altera o clima local, devido as características térmicas superficiais, a
circulação do ar e a poluição atmosférica.
As diferenças entre os ambientes urbano e rural, conforme Landsberg (1981), são as
estruturas superficiais. A paisagem rural é caracterizada pela vegetação e solo natural,
absorvente e permeável e as áreas urbanas, por superfícies altamente compactadas e
impermeáveis, com características físicas e capacidades e condutividades térmicas diferentes.
Lombardo (1985) destaca que essas alterações variam de cidade para cidade em função da
intensidade de uso do solo, do adensamento urbano e das características geoecológicas locais.
De acordo com Oke (1978) a urbanização produz mudanças na superfície natural do
solo e nas propriedades atmosféricas da região, da radiação, da umidade do ar e das
características aerodinâmicas locais. A energia solar no campo evapora o orvalho e na cidade
é absorvida pelos materiais inertes das edificações e da pavimentação, liberada mais tarde,
para a atmosfera, em forma de calor. O rápido escoamento das águas das chuvas, devido a
canalização das águas pluviais e a impermeabilização do solo, elimina o armazenamento da
água nas camadas mais profundas do solo e a conseqüente evaporação, mais tarde, pelo sol.
As diferenças de temperatura entre as zonas urbana e rural ocasionam diferenças de
pressão: no centro urbano com temperaturas mais altas, a pressão atmosférica é menor do que
no meio rural, formando correntes de ar que se deslocam da periferia para o centro urbano,
aumentando a concentração de poluentes. (Oliveira, 1988) O vento nas áreas urbanas é
influenciado pelo arruamento e pelas edificações e a insolação pelas edificações. (Kratze,
1956) A velocidade do ar pode diminuir pelo efeito enclauzurador em ruas estreitas ou
aumentar através de aberturas entre altos blocos ou podem estabelecer-se fortes turbulencias e
redemoinhos nas esquinas a sotavento das obstruções. (Koenigsberger, 1977)
A nebulosidade nas áreas urbanas é influenciada pelo incremento de convecção e pela
grande produção de condensação higroscópica. A forma e a extensão do fenômeno "ilha de
calor” urbana é variável e depende das características meteorológicas, fisicas e geográficas,
locais e urbanas. Os limites das “ilhas de calor urbanas” coincidem com os limites das áreas
mais densamente edificadas, onde acontecem as temperaturas mais altas. (Eriksen, 1964)
3.
ASPECTOS HISTORICOS
A colonização de Joinville iniciou na metade do século XIX, no litoral norte do estado
de Santa Catarina, nas terras dotais da princesa Francisca Carolina, filha de D. Pedro I, que
casou com François Ferninand Philippe, Principe de Joinville. Os rigores climáticos, as
dificuldades de acesso e a constatação da má qualidade do solo foram registrados desde o
início da colonização em cartas e relatórios, publicados por Ficker (1965).
O mapa do 1o relatório da colônia D. Francisca, de 1851, mostra a “Colonia Agricola
D. Fransisca” às margens do rio Mathias, afluente do Cachoeira e a futura cidade de Joinville
na confluência dos rios Bucarein e Cachoeira, mais a sudeste. O 2
o
relatório, de 1852,
esclarece que ainda não se fundara a cidade de Joinville, apenas o “Schroedersort”, núcleo de
caráter colonial. Conforme Ternes (1986), a instalação dos primeiros colonos, que estava
prevista para a região do Bucarein, no “ponto mais próximo do mar”, acabou ocorrendo na
parte mais baixa e úmida o que dificultou os primeiros meses do pequeno núcleo colonial,
sendo os imigrantes atingidos por doenças tropicais. “Mesmo assim, heroicamente, os
imigrantes resistiram e foram vencendo a mata, o calor, as chuvas, as doenças e a solidão.”
Apesar da conscientização dos primeiros habitantes, da inadequação do local, o
primeiro núcleo colonial acabou se desenvolvendo formando a cidade. O local escolhido para
a implantação da cidade de Joinville, na confluência dos rios Bucarein e Cachoeira, possui
vantagens do ponto de vista ambiental em relação ao núcleo colonial, mais alto e livre de
enchentes e mais ventilado por estar situado ao sul do Morro Boa Vista, recebendo a
ventilação natural proveniente do mar.
A primeira tentativa de instalação de um novo núcleo colonial, na direção oeste,
aconteceu em 1852, em “terra mais alta e enxuta com boas possibilidades para a lavoura...
Nasceu assim Aguas Vermelhas, mais tarde chamado Annaburg.” (Ficker) Localizada numa
cota mais alta, livre de enchentes e afastada do morros Boa Vista e Iririu, a influência destes
é insignificante na ventilação natural. Em 1859 foi fundado o Núcleo de Pedreira, atual
distrito de Pirabeiraba localizado numa cota mais alta, na região noroeste, próximo a Serra do
Mar, onde a calmaria, a pluviosidade e a umidade do ar são maiores do que nas áreas
próximas ao mar e a velocidade do vento e a pressão atmosférica menores. Em 1866 foi
fundado Neudorf, no sudoeste do município, região mais alta, menos úmida e com
predominância de morros mais baixos.
Em abril de 1879 "ocorreu uma grande enchente com chuvas intensas e ventos do sul.
As águas do rio Cachoeira e seus afluentes subiram rapidamente, excedendo o limite das suas
margens. A parte baixa da cidade de Joinville foi inundada. Todas as pontes de madeira de
Joinville foram levadas pela impetuosidade da corrente". (Ficker)
Em 20 de outubro de 1880 "verificou-se a maior catástrofe da vida colonial em Santa
Catarina. Acompanhado de intensas chuvas, o litoral começou a ser castigado por um
temporal fortíssimo. Começaram a crescer as águas dos rios com incrível velocidade. Choveu
6 dias sem parar, com abundância nunca vista. Nos dias 22 e 23 a água começou a cair em
massa compacta que inundou as baixadas de Joinville e da zona rural, arrastando a correnteza
casas inteiras, árvores e plantações". (Ficker)
Em 1o de abril de 1887 "ocorreram fortes chuvas, com trovoadas, que se prolongaram
por dias. Nas ruas mais baixas o nível do rio Cachoeira subiu um metro e meio acima do nível
das ruas. As casas ficaram submersas e o transporte era feito por canoas." (Ficker)
Ficker cita o historiador Plácido Olympio de Oliveira: "março de 1906 começara
chuvoso, mas as chuvas aumentaram e a 22 e 23 mais copiosas se tornaram, e de tal maneira
que a 24 a cidade amanheceu inundada. Todas as zonas vicinais dos rios Cachoeira, Jaguarão
e Mathias, estavam invadidas pelas águas. As atuais Praças Hercílio Luz, Avenidas Procópio
Gomes e Getúlio Vargas, as ruas do Príncipe, 9 de março e 15 de novembro estavam cobertas
de água, intransitáveis em alguns pontos, dada a violência das correntes pela sua
profundidade. As canoas trafegavam francamente nas ruas centrais da cidade. Parte do cais
ruiu,... a inundação produziu danos muito mais sérios na zona rural. O rio Cubatão cresceu
descomunalmente, os moradores foram obrigados a abandonar as suas casas ..." (Ficker,)
Todas as tentativas de transferir o centro urbano para áreas mais favoráveis do ponto de
vista ambiental fracassaram. O centro urbano acabou se desenvolvendo a oeste do morro Boa
Vista, que forma uma barreira aos ventos provenientes do mar. A falta de ventilação
influencia a temperatura e a umidade do ar, tornando o ambiente urbano quente e abafado. As
características urbanas do início do século XX, com predominancia de terrenos amplos com
edificaçoes térreas e vegetaçao abundante amenizavam os problemas climáticos. Atualmente,
com o crescimento da cidade, o adensamento urbano, a retirada da vegetação, o crescente
número de veículos, o intenso uso de sistemas de refrigeração, enfim, toda a ação do ser
humano, o rigor térmico do centro urbano se agravou, elevando a temperatura.
4.
CARACTERÍSTICAS DO MUNICÍPIO
Joinville, está localizada á latitude 26017’30” sul e longitude 48o 51' 36" oeste, no norte
do Estado de Santa Catarina, próxima ao mar, ao fundo da Baía da Babitonga, complexo
hídrico abrangendo os municípios de Joinville, São Francisco do Sul, Araquari, Garuva e
Itapoá, numa planície 6 metros acima do nível do mar, entrecortada por alguns rios.
Apresenta um relevo com três feições destacadas: região da serra, da planície com morros
esparsos e de morros que envolve o perímetro urbano. A leste o município se estende até os
mangues banhados pelo efeito das marés e a oeste até a Serra do Mar, com altitudes médias de
800m. A ocupação humana se desenvolve na planície, banhada pelas bacias dos rios
Cachoeira e Cubatão e entremeada de morros cobertos de vegetação acima da cota 40. Os
morros Boa Vista, com 230 metros de altitude e Iririú com 198, formam uma barreira natural
entre o centro, as regiões norte e oeste com a região leste. Na região sul há elevações mais
baixas e a norte e noroeste há barreiras montanhosas com alturas médias de 450 a 800 metros.
A proximidade do mar interfere diretamente no micro-clima dos bairros situados a leste
e a sul. Nas áreas planas os loteamentos seguem um traçado reticular sem continuidade de um
para outro. A continuidade na malha urbana é dada pelas vias principais, que de um modo
geral estão em harmonia com a topografia, contornando os morros.
A superfície da Baía da Babitonga é de aproximadamente 130 km2, com profundidade
média de 6 metros e recebe contribuição hídrica das bacias dos rios Cubatão, Cachoeira,
Pirabeiraba, Três Barras, Bonito e outros menores. A precipitação anual nas bacias
contribuintes varia entre 1500mm (planície costeira) e 2600mm (pontos mais altos da Serra
do Mar). A vazão mensal no rio Cubatão, o maior no complexo hídrico, varia entre 10m3/s
(Agosto) e 28m3/s (Fevereiro) (Dados da estação do DNAEE em Pirabeiraba).
Os principais usos das águas da bacia do rio Cubatão são de abastecimento público e
industrial, corpo receptor de efluentes líquidos industriais e domésticos, drenagem pluvial,
agropecuária e irrigação e atividades extrativistas de mineração. O rio Cachoeira é usado
como drenagem pluvial e corpo receptor de efluentes líquidos industriais e domésticos e
detritos sólidos e o rio Pirabeiraba como drenagem pluvial e corpo receptor de efluentes
líquidos domésticos de vilas e casas isoladas e na agropecuária.
O clima da região costeira sul do Brasil, Koeppen (1948), descreve como Úmida de
Latitude Média com Invernos Amenos, onde a temperatura média do mês mais frio é menor
que 18oC. Devido a Serra do Mar esta região costeira estreita apresenta um clima similar ao
Tropical Úmido com 60 mm ou mais de precipitação mensal (Ramos, 1998). No verão o
clima pode ser quente, abafado e úmido, como o dos trópicos chuvosos, com temperaturas
diárias normalmente próximas dos 30o C, muitas vezes próximas de 40o C ou até um pouco
acima destas, no início das tardes. Chuvas ocasionais e trovoadas ocorrem porque estas áreas
experimentam tempestades, na média, em 40 a 100 dias por ano. (Lutgens e Tarbuck, 1979)
Figura 1 – Mapa da Região de Joinville
No outono, a umidade dos trópicos perde sua similaridade para os trópicos chuvosos. Os
invernos são brandos, com geadas comuns nas altitudes maiores que também ocorrem
ocasionalmente próximas aos trópicos. As precipitações de inverno são normalmente geradas
em frentes ao longo dos freqüentes ciclones de latitude média que se movem sobre estas
regiões e que podem permanecer estacionárias por longos períodos, causando ocasionalmente,
extensas inundações. As precipitações anuais totais usualmente ultrapassam 1000 mm e as
chuvas são distribuídas durante o ano. O verão é potencialmente a estação de maiores
precipitações, sendo estas consideráveis (Ramos).
5.
ANÁLISE CLIMÁTICA
Na análise climática urbana de Joinville, Hackenberg (1992) comparou os dados de três
estações meteorológicas do município, em locais com características físicas diferentes. A
Estação Meteorológica da ETT (Escola Técnica Tupy), situada no bairro Boa Vista, a leste da
área urbana, entre os mangues e o morro Boa Vista, muito próxima deste, caracterizando a
região leste. Aa tabelas 1 e 2 mostram um resumo a série histórica de 1970 a 1990. A Estação
do Aeroporto está localizada ao norte do perímetro urbano, a 6 km do centro, e seus dados
foram analisados de 1987 a 1990. A Estação da Fundação 25 de Julho está situada a noroeste
do perímetro urbano, no distrito de Pirabeiraba e seus dados foram analisados de 1988 a 1990.
Tabela 1 – Série historica da ETT
Unid
o
>T
C
T oC
o
<T
C
Pres mb
UR %
Preci mm
nodias chuva
dia
horas
h/sol horas
neb horas
Jan
39,0
26,4
16,0
1013
72,0
238
21
13,6
4,6
9,0
Fev
41,0
26,3
16,0
1014
75,3
251
17
12,9
4,8
8,1
Mar
38,0
25,3
11,0
1015
75,3
205
18
12,8
4,3
8,5
Abr
35,0
22,9
5,5
1017
76,4
138
16
11,5
3,8
7,7
Mai
33,5
20,1
4,5
1018
77,1
129
12
10,8
3,8
7,0
Jun
32,0
17,9
3,0
1020
78,0
98
11
10,5
3,3
7,5
Jul
34,0
17,4
2,0
1021
78,6
105
11
10,7
3,3
7,4
Ago
35,0
18,3
2,5
1020
78,2
107
12
11,2
3,2
8,0
Set
32,0
19,1
5,0
1020
76,5
128
16
11,9
2,8
9,1
Out
36,5
21,1
9,0
1017
74,1
146
17
12,7
3,3
9,4
Tabela 2 – resumo da incidencia dos ventos
Manhã
Verão
Inverno
Verão
Calmaria
45,3
63,4
6,97%
Velocidade média (km/h) 4,7
4,9
10,1
Incidência Predominante
Sul, Sudoeste Sul, Sudoeste Leste
Nov
36,5
23,0
11,0
1015
71,8
160
17
13,4
3,8
9,6
Dez
39,5
24,9
14,0
1013
72,3
172
18
13,8
3,9
9,9
Med Total
36,0
21,9
8,3
1017
75,5
1877
15
186
12,1
3,7
8,4
Tarde
Inverno
19,69%
7,68
Leste
Os meses mais quentes são novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março e conforme
os dados da estação ETT, com temperaturas médias de 23 a 26,4oC e os meses mais frios
junho, julho e agosto, com temperaturas médias de 17,9 a 18,3oC. No verão as médias das
temperaturas máximas chegam a 30oC, às vezes a 35oC, e a temperatura máxima absoluta
registrada foi de 39oC. No inverno as temperaturas médias das mínimas giram em torno de
14o C, às vezes chegando a 6oC, e a temperatura mínima absoluta registrada foi de 2oC.
A comparação dos dados das 3 estações meteorológicas identificou a maior amplitude
térmica na Fundação 25 de Julho, com menores temperaturas mínimas noturnas e no verão
maiores temperaturas máximas devido ao alto índice de calmaria e baixa velocidade do ar.,
decorrente da proximidade da Serra do Mar. Nas outras duas estações as temperaturas
noturnas foram mais altas devido a lagoa de Saguaçú e da Baía da Babitonga que atuam como
reguladores térmicos diminuindo a amplitude térmica, reduzindo as variações diárias.
A Umidade do ar foi maior na Fundação 25 de Julho devido a evapotranspiração da
vegetação e falta de ventilação provocada pela Serra do Mar. No Aeroporto ocorreu a menor
umidade do ar decorrente da maior ventilação. O vento sofre influência do relevo, da
vegetação e das edificações, ocasionando grandes variações entre as regiões. Nas três estações
foram registrados altos índices de calmaria e menores velocidades do ar pela manhã. O maior
índice de calmaria e as menores velocidades do vento ocorreram na Fundação 25 de Julho.
Não ocorreram grandes diferenças nas direções predominantes dos ventos entre as estações.
Devido às características geográficas, os dados coletados pelas três estações não
caracterizam o clima de toda a cidade. Para melhor identificar os micro-climas urbanos, foram
implantadas, em locais com características urbanas e geográficas diferentes, duas estações
micro-climáticas temporárias onde foram medidas a temperatura, a umidade e a velocidade do
ar. Uma estação foi instalada na encosta oeste do morro Boa Vista, na situação oposta da
ETT, para analisar o microclima da região oeste e a segunda na região sul da cidade, sem
elevações altas e sem anteparos significativos à ventilação proveniente do mar. (Hackenberg)
As características climáticas das cinco regiões foram comparadas, correlacionando-se
pelo método dos quadrados mínimos os dados coletados. Os fatores de correlação das
temperaturas do ar foram mais altos a tarde devido a proximidade do mar e a influência que
este exerce na ventilação da região, interferindo na temperatura. Pela manhã as correlações
foram menores, principalmente na Fundação 25 de Julho e na ETT com as demais, devido a
influência do relevo sobre estas (Serra do Mar e morro Boa Vista respectivamente). Entre as
demais estações as correlações foram mais altas devido as condições geográficas semelhantes.
A amplitude térmica e a umidade do ar foram maiores na Fundação 25 de Julho,
ocorrendo as temperaturas mais baixas e as mais altas, devido a proximidade da Serra do Mar,
da vegetação, do alto índice de calmaria e da baixa velocidade do ar.
Na análise da umidade do ar ficou evidente a influência das superfícies de água, pois as
tres estações situadas próximas a estas, ETT, Aeroporto e Região Sul apresentaram altos
índices de correlação entre si. A correlação destas com as demais foi menor, pois a umidade
do ar na Fundação 25 de Julho e na encosta oeste do morro Boa Vista, que foram as regiões
mais úmidas, foi influenciada pela vegetação e não pelas superfícies de água.
O vento apresentou a maior variação. O relevo do município interfere nos ventos
matutinos que sopram de noroeste, oeste e sudoeste, causando um grande índice de calmaria.
A maior calmaria e os ventos mais fracos ocorreram na Fundação 25 de Julho, a noroeste, e os
ventos mais fortes ocorreram no Aeroporto, a nordeste, próximo a baía da Babitonga. Na ETT
os ventos foram mais fracos devido a influência do morro Boa Vista. Na encosta oeste do
morro Boa Vista houve calmaria total devido a barreira que o morro exerce aos ventos. A
região sul, apresentou ventos mais fracos do que o Aeroporto devido a seqüência de morros a
sul e a sudoeste da área urbana. A maior pluviosidade ocorreu na proximidade da serra,
decorrente do regime de ventos que levam as nuvens para esta região, formando as chuvas
orográficas, ocasionando também a maior umidade do ar e a menor pressão atmosférica.
A influência do morro Boa Vista ficou evidente na comparação da velocidade dos
ventos das estações do Aeroporto, da ETT e as estações micro-climáticas. Na análise das
cinco estações ficou clara a influência das elevações, da vegetação e das superfícies de água
da lagoa de Saguaçu e da baía da Babitonga.
Na área urbana foram identificadas cinco condições climáticas diferentes caracterizadas
pelas estações: da ETT caracterizando o clima da região leste, do Aeroporto a região nordeste,
da Fundação 25 de Julho a região noroeste próxima a Serra do Mar, da encosta oeste do morro
Boa Vista as regiões oeste e central e da Região Sul as regiões sudeste, sul e sudoeste.
A região noroeste apresenta menores temperaturas noturnas, maiores amplitudes
térmicas, umidade mais alta, elevados índices de calmaria e menores velocidades dos ventos.
As regiões nordeste e leste apresentam amplitudes térmicas menores devido a proximidade da
lagoa de Saguaçu e da baia da Babitonga, que atuam como reguladores térmicos. As
temperaturas diurnas sao amenizadas pelos ventos provenientes do mar, que também influem
na umidade do ar. As outras duas áreas climáticas foram caracterizadas pelas estações microclimáticas que não tiveram observações suficientes para se verificar as variações estacionais.
As regiões, central e oeste apresentaram um clima mais quente e abafado, com pouca
ventilação e a região sul um clima mais ameno devido a ventilação. Estas áreas não abrangem
todos os tipos climáticos da cidade e nem apresentam valores muito representativos por
alguns períodos analisados terem sido muito curtos.
6. IMPLANTAÇÃO DE ESTACÕES METEORÓLÓGICAS
Joinville, apesar de ser o maior parque industrial de Santa Catarina, até 1995 não
possuía uma Estação Meteorológica padrão internacional. As estações da cidade não atendiam
às recomendações de padronização da Organização Meteorológica Mundial (OMM). A
Estação Meteorológica da ETT encontra-se na sombra de vento do Morro Boa Vista, a do
Aeroporto possui equipamentos insuficientes, especificações e localização inadequados e a da
Fundação 25 de Julho estava numa localização inadequada, tendo sido desativada.
Havendo necessidade de uma estação meteorológica oficial, em 1995, foi firmado um
convênio entre a EPAGRI (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa
Catarina S.A), UNIVILLE (Universidade da Região de Joinville), UDESC (Universidade do
Estado de Santa Catarina) e PMJ (Prefeitura Municipal de Joinville), com o objetivo de
implantar uma estação meteorológica no município atendendo os pré-requisitos da OMM.
Esta estação meteorológica foi instalada no Campus Universitário devido a sua
topografia privilegiada, sem anteparos próximos, a noroeste da área urbana, próximo ao
distrito industrial. Os equipamentos foram adquiridos pela UDESC num convênio entre a
Alemanha e o Estado de Santa Catarina. A localização propiciou estender as atividades da
estação meteorológica ao ensino e à pesquisa das duas instituições universitárias envolvidas.
Para melhor estudar os problemas climáticos na cidade, foi criado o Laboratório de
Meteorologia do Centro de Ciências Tecnológicas da UDESC, integrado à estação
Meteorológica do Campus Universitário. O laboratório possui equipamentos portáteis
propiciando condições de efetuar análises micro-climáticas móveis.
Devido às enchentes na área urbana, em 1999, a FATMA (Fundação de Amparo a
Tecnologia e Meio Ambiente) com o apoio da GTZ (Deutsche Gesellschaft für Technische
Zusammenarbeits), implantaram duas estações hidrometeorológicas automáticas nos rios
Cubatão e Cachoeira, coordenadas pelo Laboratório de Hidrologia no CCT/ UDESC, para
monitorar o nível dos rios.
Os Laboratórios de Meteorologia e Hidrologia do CCT/UDESC, num trabalho conjunto
estão montando um banco de dados com os registros da estação meteorológica do Campus
Universitário e das duas estações hidrometeorológicas. Paralelamente estão sendo
desenvolvidas pesquisas de campo, estudando-se as influências climáticas do adensamento
urbano da área central de Joinville, avaliando-se o aumento da temperatura do ar, a
diminuição da umidade relativa e da velocidade do ar em função da volumetria das
edificações e as conseqüências da impermeabilização do solo nas enchentes de verão.
9. BIBLIOGRAFIA
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