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 Caderno Científico | Odontologia Oncológica
◗◗ ALINE S. Q. ALMEIDA
Residente em Odontologia Oncológica do Hospital
de Câncer de Barretos, Fundação Pio XII.
E-mail: [email protected]
◗◗ DENY M. TREVISANI
Doutor em Microbiologia e cirurgião-dentista
do Hospital de Câncer de Barretos, Fundação
Pio XII - Unidade de Cuidados Paliativos.
◗◗ THAISA T. OLIVEIRA
Residente em Odontologia Oncológica do Hospital
de Câncer de Barretos, Fundação Pio XII.
◗◗ NATÁLIA S. KUSUKE
Residente em Odontologia Oncológica do Hospital
de Câncer de Barretos, Fundação Pio XII.
◗◗ WILLIAM E. PIROLA
Residente em Odontologia Oncológica do Hospital
de Câncer de Barretos, Fundação Pio XII.
◗◗ HÉLIO M. TANIMOTO
Doutor em Estomatologia e cirurgiãodentista responsável pelo Departamento
de Odontologia do Hospital de Câncer de
Barretos, Fundação Pio XII.
◗◗ KARINA S M MACARI
Doutora em Odontopediatria e cirurgiãdentista do Hospital de Câncer
Infantojuvenil Presidente “Luiz Inácio Lula
da Silva” de Barretos, Fundação Pio XII.
◗◗ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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32 > Revista Gutierre Odontolife - EDIÇÃO 60
Laserterapia no tratamento
e prevenção da mucosite
oral quimioinduzida
INTRODUÇÃO
A incidência de complicações orais da terapia
quimioterápica em crianças varia consideravelmente de acordo com a literatura, entre 30% e
100%1. A probabilidade de a quimioterapia afetar a cavidade oral é maior quanto mais jovem
for o paciente. Estudos apontam que crianças
são mais propensas para o desenvolvimento de
sequelas orais em relação aos adultos2. Além da
idade, a condição de saúde oral, o nível de higiene bucal antes e durante a terapia antineoplásica,
o grau de malignidade, o tipo, a dosagem e a
duração do agente quimioterápico, são fatores
determinantes para a severidade das complicações bucais3.
Existem duas formas principais de complicações bucais da quimioterapia do câncer. A primeira abrange os problemas resultantes da estomatotoxicidade direta, ou seja, da ação direta
da droga sobre os tecidos bucais, levando à mucosite oral (MO), xerostomia e neurotoxicidade.
A segunda envolve os problemas orais causados
pela estomatotoxicidade indireta, ou seja, pela
modificação secundária de tecidos, como por
exemplo a medula óssea, propiciando infecções
bacterianas, fúngicas, viróticas e sangramento
bucal devido a trombocitopenia3.
As lesões na cavidade oral são as mais frequentes complicações da quimioterapia antineoplásica, pela alta sensibilidade das estruturas orais
aos efeitos citotóxicos dos quimioterápicos. A
mucosite é o efeito colateral mais comum, sendo
que a prevalência de MO quimioinduzida varia
de 30 a 75%, dependendo do tipo de tratamento4. Este número aumenta para mais de 90%
em crianças abaixo de 12 anos de idade e acomete com maior frequência pacientes do sexo
feminino. Em um estudo com 169 pacientes, a
frequência de mucosite encontrada foi de 40%
no sexo masculino e 54% no sexo feminino5.
A MO é uma manifestação que afeta a capacidade do paciente se alimentar, falar e realizar
atividades diárias, incluindo promover a própria
saúde bucal. A dor gerada nos quadros mais
graves é importante, e controlá-la pode exigir
narcóticos sistêmicos. Dependendo do tipo de
tratamento do câncer, a MO geralmente se manifesta de 5 a 7 dias6 após o início da quimioterapia, e após a conclusão do tratamento, entre 4 a 6
semanas com o início da terapia específica para
a mucosite, obtém-se resultado satisfatório3.
O objetivo deste estudo foi relatar um caso clínico
onde utilizou-se a Laserterapia de Baixa Intensidade
(LBI) no tratamento e na prevenção da mucosite
oral (MO), associada a manutenção de rigorosa
higiene oral, em paciente submetido a altas doses
de quimioterapia com 5-fluorouracil e cisplatina.
CASO CLÍNICO E DISCUSSÃO
Paciente NRP, 17 anos de idade, gênero feminino, procedente de Rondônia-RO, procurou o
serviço de saúde da origem relatando epistaxe
abundante há cerca de 1 ano e 6 meses e linfonodomegalia cervical bilateral, relatando aumento progressivo há 1 ano. A primeira biópsia
de linfonodo cervical foi realizada em Campo
Grande, cujo resultado indicou “células atípicas
suspeitas de malignidade”. Após diversos exames, que inclusive indicaram sorologia positiva
para Epstein-Barr Vírus (EBV), a paciente foi
encaminhada ao Hospital de Câncer Infantojuvenil Presidente “Luiz Inácio Lula da Silva”
da Fundação Pio XII, em Barretos.
Figura 1
Radiografia Panorâmica Inicial.
Figura 2
Classificação da Mucosite Oral segundo a OMS.
Almeida ASQ / Oliveira TT / Kusuke NS / Pirola WE / Trevisani DM / Tanimoto HM / Macari KSM
Figura 3
Através da análise dos exames, os médicos da
instituição constataram lesão irressecável, com
extensão intracraniana, sem metástase à distância. O diagnóstico definitivo foi de “Carcinoma
de rinofaringe com invasão de base do crânio e
metástase em linfonodos cervicais”, T4N2M0.
A neoplasia de rinofaringe corresponde a 2%
dos tumores de cabeça e pescoço, sendo rara
em todo o mundo, com exceção da China e
região asiática7. Pode estar associada a fatores
ambientais, virais e genéticos, sendo mais comum em homens, na proporção aproximada
de 2:1, apresentando dois picos de incidência,
o primeiro onde 20% dos tumores ocorrem em
jovens com idade inferior a 30 anos e o segundo
em indivíduos entre a 4ª e 5ª década de vida8.
Fatores ambientais, sinusite crônica, má higiene, má ventilação dos seios e infecção por
EBV constituem os principais fatores de risco. A
ingestão de conservas em uma idade precoce, tabagismo e exposição ocupacional ao formaldeído e pó de madeira também têm sido associados
ao risco de desenvolver este tipo de tumor8.
Após a confirmação do diagnóstico, a paciente
foi encaminhada para avaliação com a equipe
multiprofissional, sendo realizada Radiografia
Panorâmica Inicial (Figura 1) e planejamento do caso na primeira consulta odontológica.
Realizou-se a adequação do meio bucal pré
tratamento antineoplásico, que incluiu evidenciação de biofilme dentário, instrução de
higiene oral, escovação supervisionada, profilaxia dental, aplicação tópica de flúor, raspagem
com ultrassom em todos os dentes, remoção
de tecido cariado e restaurações com cimento de ionômero de vidro autopolimerizável
nos dentes 14(OD), 17(O), 26(OM), 27(O) e
36(O). Seguiu acompanhamento com a equipe
do Departamento de Odontologia do Hospital
de Câncer Infantojuvenil de Barretos visando
minimizar incidência e severidade de complicações orais. Foi preconizada a realização de
higiene oral combinando escovação dental 3x/
dia (escova dental extra-macia e creme dental
fluoretado) e fio dental 1x/dia.
O carcinoma nasofaríngeo é especialmente
sensível à quimioterapia e radioterapia10, sendo
que o protocolo de quimioterapia proposto foi
cisplatina associado a 5-fluorouracil em 3 ciclos.
O quimioterápico 5-fluorouracil é apontado
como droga de alto potencial de causar estomatite11. A paciente apresentou toxicidade intensa
no primeiro ciclo de quimioterapia, necessitando ser encaminhada para a Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) com quadro convulsivo, toxicidade de pele, mucosite, insuficiência renal e
respiratória, onde permaneceu sob ventilação
mecânica.
A paciente desenvolveu MO grau IV, de acordo com a escala da Organização Mundial de
Saúde (Figura 2), com intenso edema, dor e
ulcerações em toda cavidade oral, sendo necessário o uso de sonda nasoenteral (Figuras 3 e
4). Foi iniciado o tratamento com LBI para MO
(comprimento de onda infra-vermelho - 780 ou
808nm, 40mW de potência, 10 segundos por
ponto, totalizando 10 J/cm²) com aplicações
Figura 4
Mucosite Oral Grau 4.
Figura 5
Figura 6
Laserterapia com Laser de Diodo
(MM Optics®, São Carlos, Brasil).
Mucosite Oral Grau 0.
Figura 7
Figura 8
Mucosite Oral Grau 2.
diárias até a completa cicatrização das lesões
orais (Figura 5), acrescido às orientações para
paciente, responsável e equipe de enfermagem
sobre adequado controle do biofilme bucal,
associando bochecho e/ou limpeza oral de
12/12horas com solução de Gluconato de Clorexidina a 0,12%10. Após 5 sessões foi observado
controle da dor oral, sendo possível alimentação
mesmo com presença de úlceras.
Como a quimioterapia atua de forma sistêmica13, foi proposta laserterapia preventiva nos
próximos ciclos de quimioterapia, iniciando as
aplicações no dia da infusão da droga, totalizando 5 sessões (comprimento de onda vermelho
- 660nm, 25mW de potência, 10 segundos por
ponto, totalizando 6,2 J/cm²). Foram realizados
40 pontos diários em toda cavidade oral, sendo
12 em mucosa jugal (bilateral), 6 em borda lateral de língua (bilateral), 6 em ventre lingual,
6 em assoalho de boca, 1 ponto em cada comissura labial e 8 pontos em lábios (superior
e inferior).
Associando a laserterapia a um rigoroso controle da higiene oral, no último ciclo de quimioterapia, após 8 dias da infusão do quimioterá-
pico a paciente apresentava mucosite oral grau
0 (Figura 6). As lesões de MO surgiram 10 dias
após a infusão, não ultrapassando o grau II de
acordo com a escala da OMS (Figuras 7 e 8).
A LBI proporcionou analgesia e acelerou o processo de reparação das feridas de MO e diminuiu a
sua severidade quando utilizada preventivamente,
confirmando resultados de outros estudos2,10,14.
A atuação do cirurgião dentista durante o tratamento antineoplásico pode diminuir a morbidade e mortalidade relacionadas às complicações orais15, através de terapêuticas adjuvantes,
orientações e estabelecendo um controle de higiene frequente e intenso, o que contribuirá para
diminuir os índices de MO e outras alterações14.
CONCLUSÃO
O cirurgião dentista apresenta um papel
importante no diagnóstico das manifestações
bucais e no controle dos sintomas das complicações orais advindas da quimioterapia,
onde a laserterapia se mostrou benéfica no
tratamento e no controle da mucosite oral,
promovendo uma melhor qualidade de vida
ao paciente. 
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