O FUNCIONAMENTO E DESENVOLVIMENTO DA MEMÓRIA NAS VÁRIAS ETAPAS DA VIDA Giulia Krolop Mazzini Letícia Almeida de Oliveira Mariana Costa Matias Rodrigo Carelos de Azeredo “Embora a memória e o raciocínio sejam faculdades essencialmente diferentes, uma só se desenvolve completamente com a outra”. (Rousseau) RESUMO: O presente artigo pretende mostrar as diferenças entre memória e inteligência e como elas se constroem a partir da complexidade existente entre as sub-inteligências e os diferentes métodos de memorização. A partir dessas particularidades, este artigo propõe-se a trazer elementos para uma maior compreensão de como ocorre o funcionamento do cérebro quando se trata de inteligência e memória em diferentes fases da vida de um indivíduo. Através desse entendimento, exemplificam-se os diferentes métodos existentes para obtenção de resultados positivos no aperfeiçoamento da memória. Também nota-se como, em singulares etapas do desenvolvimento humano - infância, vida adulta e terceira idade -, os indivíduos respondem melhor a técnicas de memorização e diferentes abordagens. PALAVRAS CHAVE: Memória, Inteligência, Técnicas de memorização. ABSTRACT: The following article shows the differences between memory and intelligence and how they are built from the complexity existent between sub-intelligences and different methods of memorization. From its singularities, this article brings elements to better comprehension of how the brain works when it comes to intelligence and memory in various life stages. Through this understanding, different methods of obtaining positive results on memory improvement are approached. Also, it is noticed how singular phases of human development – childhood, adulthood and old age - show better results to specific techniques and approaches. KEYWORDS: Memory, Intelligence, Memorization techniques. 1 INTRODUÇÃO Falar de memória, para muitas pessoas, torna-se complicado quando associada à inteligência. A Memória, nada mais é do que o ato de reter informações adquiridas anteriormente, o que difere de inteligência, caracterizada pelo poder de reconhecer e compreender essas informações. Com este trabalho, buscamos aprofundar e esclarecer detalhes de como funciona o cérebro em diferentes fases da vida, mostrando algumas técnicas que podem ser utilizadas de acordo com a idade. Para que haja um maior interesse em explorar o mundo quando criança, tornase indispensável o estímulo de familiares e pessoas de seu convívio próximo. Nessa idade, o aprendizado se dá através da observação e repetição - associando som à Volume 5, Setembro de 2014. 1 imagem. O ápice da capacidade de memorização ocorre na vida adulta, onde diferentes áreas do cérebro amadurecem e atingem sua total funcionalidade. Na vida adulta, a memória é altamente exigida, visto que é constantemente utilizada para o trabalho, aprendizado e demais situações cotidianas. Muitas complicações acontecem com o cérebro na terceira idade. O idoso apresenta degeneração e apoptose (morte celular programada) neuronal. Devido ao lapso de memória decorrente da idade, o esquecimento de fatos recentes não é considerado uma doença. Por outro lado, a maior complicação relacionada com o cérebro que atinge um significante número de idosos é o Alzheimer. Para que a cabeça exercite e receba estímulos diferentes, existem práticas para manter o cérebro ativo nessa idade, como a musicoterapia. Independentemente da idade, manter a cabeça longe do esquecimento é o que todos almejam. Utilizar de métodos e técnicas mostradas no decorrer do trabalho é o primeiro passo para evitar a deslembrança e afastar-se do constrangimento. Começar a exercitar o cérebro desde criança é o ideal para que o desenvolvimento da memória na vida adulta aconteça de forma simples e natural, contudo, caso o leitor já tenha passado dessa fase, nunca é tarde para estimular a mente com atividades e técnicas que utilizam diferentes partes do cérebro. 2 INTELIGÊNCIA VERSUS MEMÓRIA 2.1 A INTELIGÊNCIA O conceito de inteligência, apesar de ser tratado com tanta simplicidade no dia a dia, demonstra-se na verdade, muito mais complexo e diversificado do que se pensa. Abrange a estrutura cognitiva e corporal de uma pessoa, e não apenas a sua mente. Segundo o dicionário Houaiss, define-se como inteligência: a capacidade de aprender e compreender; indivíduo de muito saber, sumidade; sagacidade, perspicácia. A inteligência é um conjunto de sub-inteligências, divididas de acordo com cada tipo de atividade humana. Volume 5, Setembro de 2014. 2 Esses tipos de inteligência foram criados a partir da Teoria das Inteligências Múltiplas, desenvolvida por uma equipe de pesquisadores da universidade de Harvard, e liderada pelo psicólogo Howard Gardner. A sub-inteligência compreende-se pelo poder de efetivação do homem tanto em atividades corpóreas quanto de raciocínio. Existem nove tipos de sub-inteligência: linguística, lógico-matemática, espacial, musical, corporal, intrapessoal, interpessoal, naturalista e existencialista. Cada indivíduo expressa, na maioria das vezes, cerca de duas dos nove tipos de inteligência, que podem ser desenvolvidas e aprimoradas. A inteligência linguística entende-se pela desenvoltura que determinada pessoa possui sobre a escrita e a oralidade. Também está relacionada com a capacidade de aprender idiomas e de alcançar objetivos através do uso das palavras. Autores e escritores, por exemplo, possuem tal aptidão, pois compreendem e relacionam-se melhor com representação feita por códigos. A inteligência lógico-matemática trata-se da utilização da lógica para resolver problemas e investigar questões, assim como o discernimento de padrões. Está presente em engenheiros e matemáticos. Geralmente, os testes de QI medem essa subinteligência. A inteligência espacial é a compreensão do espaço de modo visual, que permite a recriação de imagens e experiências visuais, mesmo sem a presença de estímulos físicos. Profissionais como arquitetos e artistas plásticos são capazes de maior interpretação e aproveitamento de uma área, por exemplo, já que possuem alta desenvoltura trabalhando com formas detalhadas visualmente. A inteligência musical é o que permite que profissionais como músicos e instrumentistas consigam interpretar partituras e tocar instrumentos. É a capacidade de compreender, criar e executar padrões sonoros, transmitindo sentimentos através deles. A inteligência corporal é a destreza para movimentar o corpo pelo espaço e realizar movimentos complexos com ele. Relaciona-se também com a boa coordenação motora, e está muito presente em dançarinos, mímicos e esportistas. A inteligência interpessoal é a facilidade para entender outros indivíduos e suas intenções. Possibilita que professores e políticos, por exemplo, compreendam e descubram as aptidões, preferências e predileções das pessoas com quem se relacionam. Volume 5, Setembro de 2014. 3 A inteligência intrapessoal é a capacidade de compreender seus próprios sentimentos e objetivos, olhando para si e entendendo as próprias intenções e emoções. Profissionais atrelados à psicologia são conhecidos pela alta desenvoltura nesse quesito. A inteligência naturalista, presente em biólogos e meteorologistas, é aquela que permite o fácil entendimento de padrões e fenômenos da natureza. Está também atrelada ao reconhecimento de todo o tipo de fauna, flora e do meio ambiente. A inteligência existencialista relaciona-se a afinidade para ponderar quanto às questões fundamentais envolvendo a existência. Geralmente presente em filósofos, grandes pensadores e líderes religiosos. É graças a essas diferentes formas de inteligência que as aptidões e habilidades mudam de pessoa para pessoa. Cada indivíduo possui diferentes desenvolvimentos de cada uma delas, tornando-os únicos e com capacidades distintas. Assim, mostra-se porque há pessoas com exímia desenvoltura nas artes e baixo desempenho em atividades que envolvam matemática, ao mesmo tempo em que outras se destacam na matemática, porém não são propensos a atuar no meio artístico. Percebe-se, deste modo, que a capacidade de memorização de alguém não está relacionada unicamente com sua capacidade mental. Apesar disso, pessoas que possuem determinadas sub-inteligências mais desenvolvidas podem ter maior facilidade para lembrar coisas específicas – alguém com a inteligência musical aperfeiçoada conseguirá memorizar sons mais facilmente do que alguém sem essa desenvoltura. A memória é, então, uma capacidade separada, que apenas relaciona-se em certos níveis com a inteligência. 2.2 MEMÓRIA SENSORIAL Memória sensorial é o depósito, em determinada área cerebral, de informações recebidas por todos os sentidos humanos. Estímulos visuais, olfativos e auditivos entre outros, sofrem esse fenômeno e ficam estocados nesta memória. Seu tempo de armazenamento é muito curto, apenas o suficiente para que a mensagem que chega seja processada, analisada e interpretada. Se ela for considerada relevante e importante, é passada para o próximo nível de armazenamento. Volume 5, Setembro de 2014. 4 A Memória de Curto Prazo dura em média trinta segundos, guardando até sete informações neste período - porém este tempo depende da familiaridade com que a pessoa possui com a informação. Esta pode ser estendida caso o indivíduo a repita diversas vezes, podendo transferi-la para a Memória de Longo Prazo. Essa possui a capacidade de durar dias, meses, anos ou até décadas. Tais memórias referem-se a lembranças de criança e conhecimentos adquiridos durante o período escolar, os quais passaram por diversos estágios até serem anexados para uma grande duração. Para que as informações sejam estocadas em cada memória, percebe-se a criação de diversas técnicas. Elas facilitam esse processo, fazendo com que ocorra com maior rapidez e eficácia. 2.3 TÉCNICAS DE MEMORIZAÇÃO A CURTO E LONGO PRAZO Uma vez que compreendemos como a fixação e acesso de uma informação podem durar por períodos curtos e longos de tempo, podemos entender como diferentes técnicas de aprendizado influenciam na longevidade de uma memória específica. Diferentes métodos focam-se em sentidos e percepções diferentes, uma vez que há quem aprenda com mais eficácia utilizando técnicas visuais (por possuir facilidade em absorver o que se lê), outros com técnicas auditivas (facilidade em absorver o que se escuta) e outros ainda de modo cinestésico (facilidade em absorver algo através do movimento realizado quando escreve). Dividimos, então, os métodos em cinco: repetição, associação, empilhamento, alfabeto fonético e palavras-chave. A repetição é um dos métodos mais utilizados para a absorção de uma informação. Ele consiste em ler e reler um texto repetidas vezes – em voz alta ou não -, a fim de lembrar-se dele depois. Geralmente textos pequenos, como listas de compras ou pequenas passagens, podem ser aprendidos palavra por palavra, enquanto normalmente absorve-se apenas os pontos chave de textos maiores. Este método, porém, possui suas limitações. Mesmo com a eficácia em um espaço muito curto de tempo, estima-se que após duas horas apenas 50% do conhecimento ainda está retido na memória. Com o passar de uma semana, esse número altera-se para menos de 20%, tornando a repetição um método funcional apenas para situações em que a informação deverá ser lembrada poucos momentos depois de ser recebida. Volume 5, Setembro de 2014. 5 O método de associação se baseia em relacionar a informação nova com algo que já é conhecido pela pessoa. Pode-se realizar a associação através da criação de rimas, a partir da palavra de origem, com diferentes fonemas ou ainda com a criação de imagens mentais. Esta última, conhecida também pelo seu uso no Método de Loci ou Palácio Mental, consiste em transformar as palavras em imagens e associá-las entre si, adquirindo domínio sobre o dado que se deseja aprender. Geralmente, a associação permanece fixa por mais tempo, principalmente pelo apelo divertido que ela possui: indica-se a utilização de imagens e palavras engraçadas e incomuns, pois tornam-se mais fáceis de lembrar. O empilhamento consiste na construção de uma grande imagem, irreverente, ilógica e extravagante. Ideal principalmente para memorização de listas, em que cada item deve ser relacionado com uma figura. O primeiro item da lista é à base da pilha. A segunda figura – ou seja, o segundo item da lista – deve ser empilhado em cima do primeiro do modo mais inesperado possível. Por exemplo, se uma lista de supermercado contém leite e ovos, pode-se imaginar uma vaca (representação do leite) com uma galinha em suas costas (representação dos ovos). Se o item seguinte for um tempero forte como a pimenta, imagina-se a galinha usando um sombreiro (a pimenta sendo representada a partir da sua relação com a cultura mexicana). Quanto mais colorida e sem sentido a construção final, mais fácil de ser lembrada por mais tempo. O método do alfabeto fonético é bastante complexo e toma um pouco mais de tempo para desenvolver e requer algum conhecimento prévio. Os números de 0 a 9 passam a representar consoantes previamente estabelecidas. Com a necessidade de memorizar grandes números, forma-se um grupo de letras incoerentes, transformando cada algoritmo na letra que representa. Depois adiciona-se as vogais para formar palavras e uma sentença coerente, que possa ser lembrada com maior facilidade. Para acessar o número novamente, deve-se apenas fazer a conversão contrária. Ideal para decorar informações numéricas se combinado com o método de associação, transformando as palavras em imagens ou associando a outros pontos do assunto que se estuda. Por último, a técnica das palavras-chave implica em, para cada trecho de um texto, por exemplo, escolher uma palavra para representa-lo. Anexa-se uma palavra à outra na ordem que deve ser lembrada, fazendo as adições necessárias para transformáVolume 5, Setembro de 2014. 6 las em uma frase coerente. Ainda é possível converter essas palavras-chave em imagem, e utilizá-las para criar uma obra maior, como uma pintura, composta por vários elementos. Percebe-se que há métodos bastante divergentes para memorizar uma informação. Diferentes pessoas encontram maior facilidade em técnicas diferentes, devido ao modo pelo qual aprendem e as sub-inteligências que possuem. Outro fator de bastante interferência é a idade do indivíduo e em qual processo de desenvolvimento ele se encontra. 3 PROCESSO DE MEMORIZAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL 3.1 COMO ACONTECE O APRENDIZADO O processo de aprendizagem é algo pessoal, o qual cada criança deve tentar buscar por conta própria, para que pense e consiga sozinho alcançar o que deseja. Este caminho se dá, em grande parte, através da observação e da repetição, que faz com que o menor memorize suas ações e sentimentos. Apesar de ser um processo bastante pessoal para a criança, incita-se o estímulo vindo dos familiares e pessoas de seu convívio próximo. Isso faz com que ganhe maior autoestima e confiança, e, desta forma, interesse-se mais a explorar o mundo e provocar maior curiosidade – ampliando seu conhecimento com maior facilidade. A disciplina, junto a estes fatores anteriores, é de grande importância para garantir-se uma aprendizagem plena – ela será responsável pela consistência do aprendizado e, por consequência, pela forte fixação das informações. Sabe-se atualmente que ao ser proporcionado jogos interativos e lúdicos, como quebra-cabeça, jogo da memória e brincadeiras musicais, os pequenos aprendem com maior facilidade. No entanto, cada criança percebe e organiza o seu olhar perante o mundo de maneiras diferentes, tornando-se necessário que os responsáveis pelo menor busquem maneiras mais apropriadas para o aprendizado infantil. Assim, acentua-se o quão particular é o desenvolvimento de cada criança. Ele deve partir do interesse próprio do pequeno, porém deve contar com o estímulo das Volume 5, Setembro de 2014. 7 pessoas a sua volta para que a criança continue a busca-lo. Os métodos a serem estimulados devem ser aqueles que possuem maior simplicidade e destreza. 3.2 MEMORIA PELA REPETIÇÃO: ASSOCIAÇÃO DO SOM E DA IMAGEM Os conhecimentos produzidos nessa fase da vida são os primeiros formados por um ser humano. Não há nenhuma base prévia, nenhum entendimento do mundo que o rodeia. Assim, uma criança precisa fazer relações que iniciam básicas. Por ainda não possuir grandes habilidades lógicas é através da repetição de uma informação que ela compreende algo. E os únicos recursos que possui, nesse ponto, são os sons e as imagens. Um bebê, por exemplo, não entende a lógica por trás da palavra “mãe” e no que ela implica. Porém, depois das inúmeras vezes que sua mãe repete tal palavra enquanto gesticula para si mesma, ele passa a relacionar as duas coisas. É desse modo que, mesmo sem a compreensão do real significado da palavra, entende o que ela quer dizer dentro do seu contexto. Através da repetição contínua e intensa, ocorre o aprendizado. Insistindo na informação e com o desenvolvimento cerebral pelo qual a criança está passando, aos poucos se cria um grande acervo de dados. Essa associação, envolvendo sons e imagens, é a mesma que mais tarde os menores utilizarão para aprender formar palavras e reconhece-las, nos processos de escrita e leitura. 3.3 A MEMÓRIA NO COTIDIANO DAS CRIANÇAS As crianças são conhecidas por possuir memória extremamente seletiva, descartando a maioria dos estímulos menos relevantes em pouco tempo. Sua capacidade de memorização começa a aumentar por volta de 1 ano e meio, e aos 4 anos, as áreas que são responsáveis pelo armazenamento de memória amadurecem. O incentivo á memória da criança deve ser preferencialmente realizado através de brincadeiras e jogos ou algo que gostem, caso contrário podem se transformar em castigos e retrair a criança nesse sentido. Atividades como trava-línguas incentivam não só a memória, por ter que lembrar cada palavra corretamente, mas também a dicção. Volume 5, Setembro de 2014. 8 Exercícios mnemônicos também são recomendados - eles consistem em associar fatos a imagens e guardá-los na memória. Outras práticas recomendadas são atividades básicas, mas de extrema importância para o desenvolvimento infantil, como praticar atividades físicas, ter um tempo reservado para lazer, ter boas noites de sono e também manter uma alimentação saudável. O consumo regular de Ômega 3 contribui com a capacidade visual, o desenvolvimento cognitivo, a proteção dos ossos, e a diminuição dos níveis de gordura no sangue, além de ser muito importante para quem está em desenvolvimento. A base de memória que construímos nessa época da vida é essencial para o desenvolvimento do indivíduo em suas fases seguintes, e por isso reforça-se a sua importância. Se bem formada, a pessoa apresentará facilidade no futuro quando essa habilidade for requisitada e será mais propensa ao sucesso. 4 A MEMÓRIA NA VIDA ADULTA 4.1 A PERCEPÇÃO DA MEMÓRIA NA VIDA ADULTA Assim como diversas outras habilidades e competências, o ápice da capacidade de memorização ocorre na vida adulta. Isso está intimamente relacionado ao desenvolvimento cerebral e seu amadurecimento. Conforme passamos de uma etapa da vida para outra – da infância para adolescência, da adolescência para a juventude, e assim por diante -, as diferentes áreas do cérebro amadurecem e atingem sua funcionalidade plena. Nos primeiros anos da fase adulta, em uma pessoa saudável, acontece o amadurecimento cerebral completo. Uma vez que, as diversas técnicas de memorização baseiam-se em competências diferentes - como a capacidade de associação, o reconhecimento de sons e a implementação de lógica e padrões -, é apenas na vida adulta que pode-se usufruir com aproveitamento total de todos os benefícios que essas técnicas têm a oferecer. Com o desenvolvimento de todas as áreas do cérebro, a utilização desses métodos se dá de forma muito mais efetiva, fazendo dessa etapa uma das mais eficazes quanto ao poder da memória. Volume 5, Setembro de 2014. 9 4.2 UTILIZAÇÃO DA MEMÓRIA NO COTIDIANO A memória é um dos mecanismos mais presentes no dia a dia de qualquer pessoa. Está nas atividades mais triviais, como lembrar onde colocou a chave do carro e em qual prateleira da geladeira guarda-se a manteiga, até necessidades mais complexas e importantes, como as informações da apresentação de um projeto ou o horário de uma reunião de trabalho. Indiferente do nível de importância que se atribui para a atividade é a memorização o fator principal por traz da sua realização. Ficaríamos perdidos sem nosso estoque de informações previamente construído, já que na vida adulta é o momento em que se coloca em prática tudo que já foi aprendido até o momento. Isso não quer dizer que não se deve mais absorver informações. Pelo contrário: é um ótimo momento para continuar a buscar o conhecimento devido ao estado de desenvolvimento do cérebro, que permite a utilização das mais diversas técnicas para memorização. 4.3 TÉCNICAS MAIS UTILIZADAS PARA MEMORIZAÇÃO Vários estudos já foram feitos sobre a área da memorização, que até então não está completamente dominada. Em números, revelaram que é memorizado 10% do que se ouve; 30% do que é visto; 50% do que é ouvido e visto; 70% do que é visto, ouvido e falado; e 90% do que é visto, ouvido, falado e feito. Tendo esses dados como base, métodos para facilitar a memorização foram desenvolvidos. Alguns deles são: Mapeamento mental: consiste em "desenhar" as informações fazendo com que elas se cruzem como uma árvore com galhos ligados uns aos outros, e então armazenar as informações nesses locais, nesse caso os galhos. Método da associação: é basicamente associar algo fácil de se recordar com o que se deseja lembrar, utilizando qualquer método que associe uma informação à outra, como rima. Técnica do link: vincula-se as informações com uma história que seja significativa para a pessoa, podendo ser desde clássicos literários até alguma inventada pela Volume 5, Setembro de 2014. 10 pessoa. Técnica chip: associar a informação com palavras ou até imagens significativas para quem deseja memorizar. Técnica do código numérico: muito usada pelos militares, baseia-se em corresponder um número a uma letra e assim codificar e decodificar informações. As técnicas citadas acima não possuem uma alta complexidade, mas trabalham com diferentes capacidades e habilidades individuais. Cada método apresentará resultados de efetividade diferente para cada pessoa, porém todas elas podem ser postas em prática por qualquer um. 5 ALTERAÇÕES DA MEMÓRIA NA TERCEIRA IDADE 5.1 POR QUE OS IDOSOS ESQUECEM MAIS? O envelhecimento é um processo natural, acumulativo, progressivo, individual, inevitável, irreversível, deletério e universal. Entre as alterações anatômicas do sistema nervoso central, decorrentes do envelhecimento, está a redução do volume e do peso cerebral. O idoso apresenta degeneração e apoptose (morte celular programada) neuronal. A maior perda ocorre nos lobos frontal e temporal e no cerebelo, resultando em menor velocidade de condução de estímulos nervosos com resposta e tempo de reação mais lentos. Uma alteração bioquímica natural que ocorre no organismo do idoso é a redução da quantidade de enzimas que estimulam ou inibem a liberação de neurotransmissores. A redução de acetilcolina e serotonina estão relacionadas com deterioração de memória. Baixos níveis do neurotransmissor acetilcolina podem estar relacionados com a doença de Alzheimer. A memória classifica-se em imediata - onde fatos aconteceram a poucos dias-, intermediária –acontecimentos referentes há semanas ou meses- e remota – momentos vividos no passado -. Quando as pessoas atingem a terceira idade, é comum esquecerem fatos recentes (presentes na memória imediata). Contudo, a fixação de acontecimentos do passado é bastante intensa. O que ocorre é o chamado lapso de memória, muito Volume 5, Setembro de 2014. 11 comum nesta idade, explicando que o esquecimento de fatos recentes não pode ser chamado de doença. As ocorrências antigas tiveram mais tempo para estabilizar-se no cérebro, possibilitando uma recordação mais detalhada. Com pouco tempo para se fixar no cérebro, os episódios recentes são comumente esquecidos e podem ter essa fixação alterada devido às mudanças emocionais. 5.2 PERCEPÇÃO NA TERCEIRA IDADE Com o passar dos anos, à medida que idades mais avançadas aproximam-se, é comum que queixas comecem a ocorrer com mais frequência, a respeito de pequenos esquecimentos ou lapsos de memórias. Estas reclamações normalmente são relacionadas à troca de nomes, o esquecimento sobre onde se deixou algum objeto ou até mesmo datas de aniversários. No entanto, ainda que essas situações sejam normais durante a terceira idade, os familiares e amigos próximos devem observar e ficar atentos a esse comportamento. Nessa fase da vida é comprovado o aumento da desatenção, e por isso espera-se que esses incidentes aconteçam, mas também podem ser sinais de certas doenças. É o caso do Alzheimer, por exemplo, que inicia-se dessa forma e eventualmente provoca o esquecimento definitivo. Por isso, deve-se estar em constante atenção quanto a saúde mental do idoso para que os sinais não se confundam, e maiores problemas possam ser reconhecidos. 5.3 ESTIMULOS PARA O CÉREBRO NA TERCEIRA IDADE A qualidade de vida dos idosos pode ser influenciada pela tecnologia, já que jogos estimulam ao mesmo tempo a visão, audição, motivação, lógica, atenção e movimentos. Visto que os neurônios morrem com o envelhecimento, os estímulos eletrônicos fazem com que o cérebro aprenda a formar novas conexões, sendo assim, o cérebro aprende a usar os neurônios ainda vivos de formas diferentes, preservando a memória e as atividades. Os jogos de videogames atuam diretamente na coordenação motora dos idosos, exercitando diferentes partes do corpo, como dedos, mãos, braços e pernas. Além dos eletrônicos, outros exercícios da mente utilizam os jogos como meio de Volume 5, Setembro de 2014. 12 estímulo: dominó, xadrez, quebra-cabeças e palavras cruzadas. Atividades de lazer como ler um livro, caminhar, reunião com os amigos, pintar um quadro, bordar, desenhar, escrever cartas ou ir ao cinema estimulam as funções intelectuais, trabalhando diretamente com o cérebro. Outro exercício bastante conhecido é a musicoterapia. Nesta atividade, o idoso é estimulado a movimentos corporais consequentes da música, instrumentos e improviso vocal. Com a dinâmica proporcionada pela musicoterapia, as pessoas da terceira idade resgatam a memória e partilham experiências através da produção sonoro-musical. A musicoterapia tem como principal objetivo reforçar ou reestabelecer o ritmo de marcha, estimular a fala, a memória e a cognição, aumentar a criatividade, diminuir os sintomas de depressão e aumentar a força e consciência corporal. Idosos praticantes desta dinâmica musical ocupam o cérebro com lembranças boas de forma descontraída, afastando-se da solidão e tristeza. CONSIDERAÇÕES FINAIS A memória consiste, basicamente, no armazenamento cerebral de informações que são captadas pelos sentidos humanos. Independentemente da idade do indivíduo, é uma ferramenta de alta importância e deve ser exercitada com frequência para que seu desempenho seja a melhor possível. Há diferentes técnicas para o exercício, cabe ao praticante escolher a que melhor se encaixa em seu perfil. Para crianças, que estão formando suas primeiras memorias, são indicadas técnicas básicas e simples. A complexidade dos métodos vai aumentando proporcionalmente à idade, até chegar à fase adulta - nessa fase os exercícios são indicados para manter o alto desempenho da memorização. Já na terceira idade a prática é tão importante quanto na infância, pois a memória tende a perder sua eficácia com o tempo – recomenda-se, por isso, reservar um pequeno tempo diário para essas técnicas, podendo assim evitar muitos problemas de saúde. Volume 5, Setembro de 2014. 13 REFERÊNCIAS AFONSO, Pedro. Atenção, Memória e inteligência. 2012. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/123941934/Atencao-memoria-e-Inteligencia-pdf>. Acesso em: 15 Jun. 2014. GASPAROTO, Marina do Amaral Gurgel; SISTO, Fermino Fernantes. Estudo correlacional entre inteligência e memória em idosos. 2010. Disponível em: <http://www.redalyc.org/pdf/3350/335027283003.pdf>. Acesso em: 23 Ago. 2014. GENTILI, Paola. A memória e a aprendizagem. 2013. Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/memoria-aprendizagem406599.shtml>. Acesso em: 10 Jun. 2014. Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica Leitura dinâmica e técnicas de memorização. Ed. Didática Paulista. (s/d). Disponível em: <http://www.didatica.com.br/hp/tecmemo.pdf>. Acesso em: 10Jjul. 2014. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2009. RUEDA, Fabián Javier Marín; FERNANDES, Dario Cecilio; SISTO, Fermino Fernandes. Memória pictórica e inteligência: duas evidências de validade. Estudos e Pesquisas em Psicologia. UERJ - RJ, 2008. Disponível em: <http://www.revispsi.uerj.br/v8n3/artigos/pdf/v8n3a15.pdf>. Acesso em: 10 Jun. 2014. Volume 5, Setembro de 2014. 14