O funcionamento e desenvolvimento da memória nas várias etapas

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O FUNCIONAMENTO E DESENVOLVIMENTO DA MEMÓRIA NAS VÁRIAS
ETAPAS DA VIDA
Giulia Krolop Mazzini
Letícia Almeida de Oliveira
Mariana Costa Matias
Rodrigo Carelos de Azeredo
“Embora a memória e o raciocínio sejam faculdades essencialmente
diferentes, uma só se desenvolve completamente com a outra”.
(Rousseau)
RESUMO: O presente artigo pretende mostrar as diferenças entre memória e inteligência e como elas se
constroem a partir da complexidade existente entre as sub-inteligências e os diferentes métodos de
memorização. A partir dessas particularidades, este artigo propõe-se a trazer elementos para uma maior
compreensão de como ocorre o funcionamento do cérebro quando se trata de inteligência e memória em
diferentes fases da vida de um indivíduo. Através desse entendimento, exemplificam-se os diferentes métodos
existentes para obtenção de resultados positivos no aperfeiçoamento da memória. Também nota-se como, em
singulares etapas do desenvolvimento humano - infância, vida adulta e terceira idade -, os indivíduos
respondem melhor a técnicas de memorização e diferentes abordagens.
PALAVRAS CHAVE: Memória, Inteligência, Técnicas de memorização.
ABSTRACT: The following article shows the differences between memory and intelligence and how they are
built from the complexity existent between sub-intelligences and different methods of memorization. From its
singularities, this article brings elements to better comprehension of how the brain works when it comes to
intelligence and memory in various life stages. Through this understanding, different methods of obtaining
positive results on memory improvement are approached. Also, it is noticed how singular phases of human
development – childhood, adulthood and old age - show better results to specific techniques and approaches.
KEYWORDS: Memory, Intelligence, Memorization techniques.
1 INTRODUÇÃO
Falar de memória, para muitas pessoas, torna-se complicado quando associada à
inteligência. A Memória, nada mais é do que o ato de reter informações adquiridas
anteriormente, o que difere de inteligência, caracterizada pelo poder de reconhecer e
compreender essas informações. Com este trabalho, buscamos aprofundar e esclarecer
detalhes de como funciona o cérebro em diferentes fases da vida, mostrando algumas
técnicas que podem ser utilizadas de acordo com a idade.
Para que haja um maior interesse em explorar o mundo quando criança, tornase indispensável o estímulo de familiares e pessoas de seu convívio próximo. Nessa
idade, o aprendizado se dá através da observação e repetição - associando som à
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imagem. O ápice da capacidade de memorização ocorre na vida adulta, onde diferentes
áreas do cérebro amadurecem e atingem sua total funcionalidade. Na vida adulta, a
memória é altamente exigida, visto que é constantemente utilizada para o trabalho,
aprendizado e demais situações cotidianas.
Muitas complicações acontecem com o cérebro na terceira idade. O idoso
apresenta degeneração e apoptose (morte celular programada) neuronal. Devido ao
lapso de memória decorrente da idade, o esquecimento de fatos recentes não é
considerado uma doença. Por outro lado, a maior complicação relacionada com o cérebro
que atinge um significante número de idosos é o Alzheimer. Para que a cabeça exercite e
receba estímulos diferentes, existem práticas para manter o cérebro ativo nessa idade,
como a musicoterapia.
Independentemente da idade, manter a cabeça longe do esquecimento é o que
todos almejam. Utilizar de métodos e técnicas mostradas no decorrer do trabalho é o
primeiro passo para evitar a deslembrança e afastar-se do constrangimento. Começar a
exercitar o cérebro desde criança é o ideal para que o desenvolvimento da memória na
vida adulta aconteça de forma simples e natural, contudo, caso o leitor já tenha passado
dessa fase, nunca é tarde para estimular a mente com atividades e técnicas que utilizam
diferentes partes do cérebro.
2 INTELIGÊNCIA VERSUS MEMÓRIA
2.1 A INTELIGÊNCIA
O conceito de inteligência, apesar de ser tratado com tanta simplicidade no dia a
dia, demonstra-se na verdade, muito mais complexo e diversificado do que se pensa.
Abrange a estrutura cognitiva e corporal de uma pessoa, e não apenas a sua mente.
Segundo o dicionário Houaiss, define-se como inteligência: a capacidade de aprender e
compreender;
indivíduo
de
muito
saber,
sumidade;
sagacidade,
perspicácia.
A
inteligência é um conjunto de sub-inteligências, divididas de acordo com cada tipo de
atividade humana.
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Esses tipos de inteligência foram criados a partir da Teoria das Inteligências
Múltiplas, desenvolvida por uma equipe de pesquisadores da universidade de Harvard, e
liderada pelo psicólogo Howard Gardner. A sub-inteligência compreende-se pelo poder de
efetivação do homem tanto em atividades corpóreas quanto de raciocínio. Existem nove
tipos de sub-inteligência: linguística, lógico-matemática, espacial, musical, corporal,
intrapessoal, interpessoal, naturalista e existencialista. Cada indivíduo expressa, na
maioria das vezes, cerca de duas dos nove tipos de inteligência, que podem ser
desenvolvidas e aprimoradas.
A inteligência linguística entende-se pela desenvoltura que determinada pessoa
possui sobre a escrita e a oralidade. Também está relacionada com a capacidade de
aprender idiomas e de alcançar objetivos através do uso das palavras. Autores e
escritores, por exemplo, possuem tal aptidão, pois compreendem e relacionam-se melhor
com representação feita por códigos.
A inteligência lógico-matemática trata-se da utilização da lógica para resolver
problemas e investigar questões, assim como o discernimento de padrões. Está presente
em engenheiros e matemáticos. Geralmente, os testes de QI medem essa subinteligência.
A inteligência espacial é a compreensão do espaço de modo visual, que permite
a recriação de imagens e experiências visuais, mesmo sem a presença de estímulos
físicos. Profissionais como arquitetos e artistas plásticos são capazes de maior
interpretação e aproveitamento de uma área, por exemplo, já que possuem alta
desenvoltura trabalhando com formas detalhadas visualmente.
A inteligência musical é o que permite que profissionais como músicos e
instrumentistas consigam interpretar partituras e tocar instrumentos. É a capacidade de
compreender, criar e executar padrões sonoros, transmitindo sentimentos através deles.
A inteligência corporal é a destreza para movimentar o corpo pelo espaço e
realizar movimentos complexos com ele. Relaciona-se também com a boa coordenação
motora, e está muito presente em dançarinos, mímicos e esportistas.
A inteligência interpessoal é a facilidade para entender outros indivíduos e suas
intenções. Possibilita que professores e políticos, por exemplo, compreendam e
descubram as aptidões, preferências e predileções das pessoas com quem se relacionam.
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A inteligência intrapessoal é a capacidade de compreender seus próprios
sentimentos e objetivos, olhando para si e entendendo as próprias intenções e emoções.
Profissionais atrelados à psicologia são conhecidos pela alta desenvoltura nesse quesito.
A inteligência naturalista, presente em biólogos e meteorologistas, é aquela que
permite o fácil entendimento de padrões e fenômenos da natureza. Está também
atrelada ao reconhecimento de todo o tipo de fauna, flora e do meio ambiente.
A inteligência existencialista relaciona-se a afinidade para ponderar quanto às
questões fundamentais envolvendo a existência. Geralmente presente em filósofos,
grandes pensadores e líderes religiosos.
É graças a essas diferentes formas de inteligência que as aptidões e habilidades
mudam de pessoa para pessoa. Cada indivíduo possui diferentes desenvolvimentos de
cada uma delas, tornando-os únicos e com capacidades distintas. Assim, mostra-se
porque há pessoas com exímia desenvoltura nas artes e baixo desempenho em
atividades que envolvam matemática, ao mesmo tempo em que outras se destacam na
matemática, porém não são propensos a atuar no meio artístico.
Percebe-se, deste modo, que a capacidade de memorização de alguém não está
relacionada unicamente com sua capacidade mental. Apesar disso, pessoas que possuem
determinadas sub-inteligências mais desenvolvidas podem ter maior facilidade para
lembrar coisas específicas – alguém com a inteligência musical aperfeiçoada conseguirá
memorizar sons mais facilmente do que alguém sem essa desenvoltura. A memória é,
então, uma capacidade separada, que apenas relaciona-se em certos níveis com a
inteligência.
2.2 MEMÓRIA SENSORIAL
Memória sensorial é o depósito, em determinada área cerebral, de informações
recebidas por todos os sentidos humanos. Estímulos visuais, olfativos e auditivos entre
outros, sofrem esse fenômeno e ficam estocados nesta memória. Seu tempo de
armazenamento é muito curto, apenas o suficiente para que a mensagem que chega seja
processada, analisada e interpretada. Se ela for considerada relevante e importante, é
passada para o próximo nível de armazenamento.
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A Memória de Curto Prazo dura em média trinta segundos, guardando até sete
informações neste período - porém este tempo depende da familiaridade com que a
pessoa possui com a informação. Esta pode ser estendida caso o indivíduo a repita
diversas vezes, podendo transferi-la para a Memória de Longo Prazo. Essa possui a
capacidade de durar dias, meses, anos ou até décadas. Tais memórias referem-se a
lembranças de criança e conhecimentos adquiridos durante o período escolar, os quais
passaram por diversos estágios até serem anexados para uma grande duração.
Para que as informações sejam estocadas em cada memória, percebe-se a
criação de diversas técnicas. Elas facilitam esse processo, fazendo com que ocorra com
maior rapidez e eficácia.
2.3 TÉCNICAS DE MEMORIZAÇÃO A CURTO E LONGO PRAZO
Uma vez que compreendemos como a fixação e acesso de uma informação
podem durar por períodos curtos e longos de tempo, podemos entender como diferentes
técnicas de aprendizado influenciam na longevidade de uma memória específica.
Diferentes métodos focam-se em sentidos e percepções diferentes, uma vez que há
quem aprenda com mais eficácia utilizando técnicas visuais (por possuir facilidade em
absorver o que se lê), outros com técnicas auditivas (facilidade em absorver o que se
escuta) e outros ainda de modo cinestésico (facilidade em absorver algo através do
movimento realizado quando escreve). Dividimos, então, os métodos em cinco:
repetição, associação, empilhamento, alfabeto fonético e palavras-chave.
A repetição é um dos métodos mais utilizados para a absorção de uma
informação. Ele consiste em ler e reler um texto repetidas vezes – em voz alta ou não -,
a fim de lembrar-se dele depois. Geralmente textos pequenos, como listas de compras
ou
pequenas
passagens,
podem
ser
aprendidos
palavra
por
palavra,
enquanto
normalmente absorve-se apenas os pontos chave de textos maiores. Este método,
porém, possui suas limitações. Mesmo com a eficácia em um espaço muito curto de
tempo, estima-se que após duas horas apenas 50% do conhecimento ainda está retido
na memória. Com o passar de uma semana, esse número altera-se para menos de 20%,
tornando a repetição um método funcional apenas para situações em que a informação
deverá ser lembrada poucos momentos depois de ser recebida.
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O método de associação se baseia em relacionar a informação nova com algo
que já é conhecido pela pessoa. Pode-se realizar a associação através da criação de
rimas, a partir da palavra de origem, com diferentes fonemas ou ainda com a criação de
imagens mentais. Esta última, conhecida também pelo seu uso no Método de Loci ou
Palácio Mental, consiste em transformar as palavras em imagens e associá-las entre si,
adquirindo domínio sobre o dado que se deseja aprender. Geralmente, a associação
permanece fixa por mais tempo, principalmente pelo apelo divertido que ela possui:
indica-se a utilização de imagens e palavras engraçadas e incomuns, pois tornam-se
mais fáceis de lembrar.
O empilhamento consiste na construção de uma grande imagem, irreverente,
ilógica e extravagante. Ideal principalmente para memorização de listas, em que cada
item deve ser relacionado com uma figura. O primeiro item da lista é à base da pilha. A
segunda figura – ou seja, o segundo item da lista – deve ser empilhado em cima do
primeiro do modo mais inesperado possível. Por exemplo, se uma lista de supermercado
contém leite e ovos, pode-se imaginar uma vaca (representação do leite) com uma
galinha em suas costas (representação dos ovos). Se o item seguinte for um tempero
forte como a pimenta, imagina-se a galinha usando um sombreiro (a pimenta sendo
representada a partir da sua relação com a cultura mexicana). Quanto mais colorida e
sem sentido a construção final, mais fácil de ser lembrada por mais tempo.
O método do alfabeto fonético é bastante complexo e toma um pouco mais de
tempo para desenvolver e requer algum conhecimento prévio. Os números de 0 a 9
passam a representar consoantes previamente estabelecidas. Com a necessidade de
memorizar grandes números, forma-se um grupo de letras incoerentes, transformando
cada algoritmo na letra que representa. Depois adiciona-se as vogais para formar
palavras e uma sentença coerente, que possa ser lembrada com maior facilidade. Para
acessar o número novamente, deve-se apenas fazer a conversão contrária. Ideal para
decorar
informações
numéricas
se
combinado
com
o
método
de
associação,
transformando as palavras em imagens ou associando a outros pontos do assunto que se
estuda.
Por último, a técnica das palavras-chave implica em, para cada trecho de um
texto, por exemplo, escolher uma palavra para representa-lo. Anexa-se uma palavra à
outra na ordem que deve ser lembrada, fazendo as adições necessárias para transformáVolume 5, Setembro de 2014.
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las em uma frase coerente. Ainda é possível converter essas palavras-chave em imagem,
e utilizá-las para criar uma obra maior, como uma pintura, composta por vários
elementos.
Percebe-se
que
há
métodos
bastante
divergentes
para
memorizar
uma
informação. Diferentes pessoas encontram maior facilidade em técnicas diferentes,
devido ao modo pelo qual aprendem e as sub-inteligências que possuem. Outro fator de
bastante interferência é a idade do indivíduo e em qual processo de desenvolvimento ele
se encontra.
3 PROCESSO DE MEMORIZAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
3.1 COMO ACONTECE O APRENDIZADO
O processo de aprendizagem é algo pessoal, o qual cada criança deve tentar
buscar por conta própria, para que pense e consiga sozinho alcançar o que deseja. Este
caminho se dá, em grande parte, através da observação e da repetição, que faz com que
o menor memorize suas ações e sentimentos.
Apesar de ser um processo bastante pessoal para a criança, incita-se o estímulo
vindo dos familiares e pessoas de seu convívio próximo. Isso faz com que ganhe maior
autoestima e confiança, e, desta forma, interesse-se mais a explorar o mundo e provocar
maior curiosidade – ampliando seu conhecimento com maior facilidade.
A disciplina,
junto a estes fatores anteriores, é de grande importância para garantir-se uma
aprendizagem plena – ela será responsável pela consistência do aprendizado e, por
consequência, pela forte fixação das informações.
Sabe-se atualmente que ao ser proporcionado jogos interativos e lúdicos, como
quebra-cabeça, jogo da memória e brincadeiras musicais, os pequenos aprendem com
maior facilidade. No entanto, cada criança percebe e organiza o seu olhar perante o
mundo de maneiras diferentes, tornando-se necessário que os responsáveis pelo menor
busquem maneiras mais apropriadas para o aprendizado infantil.
Assim, acentua-se o quão particular é o desenvolvimento de cada criança. Ele
deve partir do interesse próprio do pequeno, porém deve contar com o estímulo das
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pessoas a sua volta para que a criança continue a busca-lo. Os métodos a serem
estimulados devem ser aqueles que possuem maior simplicidade e destreza.
3.2 MEMORIA PELA REPETIÇÃO: ASSOCIAÇÃO DO SOM E DA IMAGEM
Os conhecimentos produzidos nessa fase da vida são os primeiros formados por
um ser humano. Não há nenhuma base prévia, nenhum entendimento do mundo que o
rodeia. Assim, uma criança precisa fazer relações que iniciam básicas. Por ainda não
possuir grandes habilidades lógicas é através da repetição de uma informação que ela
compreende algo. E os únicos recursos que possui, nesse ponto, são os sons e as
imagens.
Um bebê, por exemplo, não entende a lógica por trás da palavra “mãe” e no que
ela implica. Porém, depois das inúmeras vezes que sua mãe repete tal palavra enquanto
gesticula para si mesma, ele passa a relacionar as duas coisas. É desse modo que,
mesmo sem a compreensão do real significado da palavra, entende o que ela quer dizer
dentro do seu contexto.
Através da repetição contínua e intensa, ocorre o aprendizado. Insistindo na
informação e com o desenvolvimento cerebral pelo qual a criança está passando, aos
poucos se cria um grande acervo de dados. Essa associação, envolvendo sons e imagens,
é a mesma que mais tarde os menores utilizarão para aprender formar palavras e
reconhece-las, nos processos de escrita e leitura.
3.3 A MEMÓRIA NO COTIDIANO DAS CRIANÇAS
As crianças são conhecidas por possuir memória extremamente seletiva,
descartando a maioria dos estímulos menos relevantes em pouco tempo. Sua capacidade
de memorização começa a aumentar por volta de 1 ano e meio, e aos 4 anos, as áreas
que são responsáveis pelo armazenamento de memória amadurecem.
O incentivo á memória da criança deve ser preferencialmente realizado através
de brincadeiras e jogos ou algo que gostem, caso contrário podem se transformar em
castigos e retrair a criança nesse sentido. Atividades como trava-línguas incentivam não
só a memória, por ter que lembrar cada palavra corretamente, mas também a dicção.
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Exercícios mnemônicos também são recomendados - eles consistem em associar fatos a
imagens e guardá-los na memória.
Outras
práticas
recomendadas
são
atividades
básicas,
mas
de
extrema
importância para o desenvolvimento infantil, como praticar atividades físicas, ter um
tempo reservado para lazer, ter boas noites de sono e também manter uma alimentação
saudável. O consumo regular de Ômega 3 contribui com a capacidade visual, o
desenvolvimento cognitivo, a proteção dos ossos, e a diminuição dos níveis de gordura
no sangue, além de ser muito importante para quem está em desenvolvimento.
A base de memória que construímos nessa época da vida é essencial para o
desenvolvimento do indivíduo em suas fases seguintes, e por isso reforça-se a sua
importância. Se bem formada, a pessoa apresentará facilidade no futuro quando essa
habilidade for requisitada e será mais propensa ao sucesso.
4 A MEMÓRIA NA VIDA ADULTA
4.1 A PERCEPÇÃO DA MEMÓRIA NA VIDA ADULTA
Assim como diversas outras habilidades e competências, o ápice da capacidade
de memorização
ocorre na
vida
adulta. Isso
está
intimamente relacionado ao
desenvolvimento cerebral e seu amadurecimento. Conforme passamos de uma etapa da
vida para outra – da infância para adolescência, da adolescência para a juventude, e
assim por diante -, as diferentes áreas do cérebro amadurecem e atingem sua
funcionalidade plena.
Nos primeiros anos da fase adulta, em uma pessoa saudável, acontece o
amadurecimento cerebral completo. Uma vez que, as diversas técnicas de memorização
baseiam-se em competências diferentes - como a capacidade de associação, o
reconhecimento de sons e a implementação de lógica e padrões -, é apenas na vida
adulta que pode-se usufruir com aproveitamento total de todos os benefícios que essas
técnicas têm a oferecer. Com o desenvolvimento de todas as áreas do cérebro, a
utilização desses métodos se dá de forma muito mais efetiva, fazendo dessa etapa uma
das mais eficazes quanto ao poder da memória.
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4.2 UTILIZAÇÃO DA MEMÓRIA NO COTIDIANO
A memória é um dos mecanismos mais presentes no dia a dia de qualquer
pessoa. Está nas atividades mais triviais, como lembrar onde colocou a chave do carro e
em qual prateleira da geladeira guarda-se a manteiga, até necessidades mais complexas
e importantes, como as informações da apresentação de um projeto ou o horário de uma
reunião de trabalho.
Indiferente do nível de importância que se atribui para a atividade é a
memorização o fator principal por traz da sua realização. Ficaríamos perdidos sem nosso
estoque de informações previamente construído, já que na vida adulta é o momento em
que se coloca em prática tudo que já foi aprendido até o momento.
Isso não quer dizer que não se deve mais absorver informações. Pelo contrário:
é um ótimo momento para continuar a buscar o conhecimento devido ao estado de
desenvolvimento do cérebro, que permite a utilização das mais diversas técnicas para
memorização.
4.3 TÉCNICAS MAIS UTILIZADAS PARA MEMORIZAÇÃO
Vários estudos já foram feitos sobre a área da memorização, que até então não
está completamente dominada. Em números, revelaram que é memorizado 10% do que
se ouve; 30% do que é visto; 50% do que é ouvido e visto; 70% do que é visto, ouvido
e falado; e 90% do que é visto, ouvido, falado e feito. Tendo esses dados como base,
métodos para facilitar a memorização foram desenvolvidos. Alguns deles são:
 Mapeamento mental: consiste em "desenhar" as informações fazendo com que
elas se cruzem como uma árvore com galhos ligados uns aos outros, e então
armazenar as informações nesses locais, nesse caso os galhos.
 Método da associação: é basicamente associar algo fácil de se recordar com o que
se deseja lembrar, utilizando qualquer método que associe uma informação à
outra, como rima.
 Técnica do link: vincula-se as informações com uma história que seja significativa
para a pessoa, podendo ser desde clássicos literários até alguma inventada pela
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pessoa.
 Técnica chip: associar a informação com palavras ou até imagens significativas
para quem deseja memorizar.
 Técnica do código numérico:
muito usada
pelos militares, baseia-se em
corresponder um número a uma letra e assim codificar e decodificar informações.
As técnicas citadas acima não possuem uma alta complexidade, mas trabalham com
diferentes capacidades e habilidades individuais. Cada método apresentará resultados de
efetividade diferente para cada pessoa, porém todas elas podem ser postas em prática
por qualquer um.
5 ALTERAÇÕES DA MEMÓRIA NA TERCEIRA IDADE
5.1 POR QUE OS IDOSOS ESQUECEM MAIS?
O envelhecimento é um processo natural, acumulativo, progressivo, individual,
inevitável, irreversível, deletério e universal. Entre as alterações anatômicas do sistema
nervoso central, decorrentes do envelhecimento, está a redução do volume e do peso
cerebral. O idoso apresenta degeneração e apoptose (morte celular programada)
neuronal. A maior perda ocorre nos lobos frontal e temporal e no cerebelo, resultando
em menor velocidade de condução de estímulos nervosos com resposta e tempo de
reação mais lentos. Uma alteração bioquímica natural que ocorre no organismo do idoso
é a redução da quantidade de enzimas que estimulam ou inibem a liberação de
neurotransmissores. A redução de acetilcolina e serotonina estão relacionadas com
deterioração de memória. Baixos níveis do neurotransmissor acetilcolina podem estar
relacionados com a doença de Alzheimer.
A memória classifica-se em imediata - onde fatos aconteceram a poucos dias-,
intermediária –acontecimentos referentes há semanas ou meses- e remota – momentos
vividos no passado -. Quando as pessoas atingem a terceira idade, é comum esquecerem
fatos recentes (presentes na memória imediata). Contudo, a fixação de acontecimentos
do passado é bastante intensa. O que ocorre é o chamado lapso de memória, muito
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comum nesta idade, explicando que o esquecimento de fatos recentes não pode ser
chamado de doença. As ocorrências antigas tiveram mais tempo para estabilizar-se no
cérebro, possibilitando uma recordação mais detalhada. Com pouco tempo para se fixar
no cérebro, os episódios recentes são comumente esquecidos e podem ter essa fixação
alterada devido às mudanças emocionais.
5.2 PERCEPÇÃO NA TERCEIRA IDADE
Com o passar dos anos, à medida que idades mais avançadas aproximam-se, é
comum que queixas comecem a ocorrer com mais frequência, a respeito de pequenos
esquecimentos ou lapsos de memórias. Estas reclamações normalmente são relacionadas
à troca de nomes, o esquecimento sobre onde se deixou algum objeto ou até mesmo
datas de aniversários.
No entanto, ainda que essas situações sejam normais durante a terceira idade,
os familiares e amigos próximos devem observar e ficar atentos a esse comportamento.
Nessa fase da vida é comprovado o aumento da desatenção, e por isso espera-se que
esses incidentes aconteçam, mas também podem ser sinais de certas doenças.
É o caso do Alzheimer, por exemplo, que inicia-se dessa forma e eventualmente
provoca o esquecimento definitivo. Por isso, deve-se estar em constante atenção quanto
a saúde mental do idoso para que os sinais não se confundam, e maiores problemas
possam ser reconhecidos.
5.3 ESTIMULOS PARA O CÉREBRO NA TERCEIRA IDADE
A qualidade de vida dos idosos pode ser influenciada pela tecnologia, já que
jogos estimulam ao mesmo tempo a visão, audição, motivação, lógica, atenção e
movimentos. Visto que os neurônios morrem com o envelhecimento, os estímulos
eletrônicos fazem com que o cérebro aprenda a formar novas conexões, sendo assim, o
cérebro aprende a usar os neurônios ainda vivos de formas diferentes, preservando a
memória e as atividades. Os jogos de videogames atuam diretamente na coordenação
motora dos idosos, exercitando diferentes partes do corpo, como dedos, mãos, braços e
pernas. Além dos eletrônicos, outros exercícios da mente utilizam os jogos como meio de
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estímulo: dominó, xadrez, quebra-cabeças e palavras cruzadas. Atividades de lazer como
ler um livro, caminhar, reunião com os amigos, pintar um quadro, bordar, desenhar,
escrever cartas ou ir ao cinema estimulam as funções intelectuais, trabalhando
diretamente com o cérebro.
Outro exercício bastante conhecido é a musicoterapia. Nesta atividade, o idoso é
estimulado a movimentos corporais consequentes da música, instrumentos e improviso
vocal. Com a dinâmica proporcionada pela musicoterapia, as pessoas da terceira idade
resgatam a memória e partilham experiências através da produção sonoro-musical. A
musicoterapia tem como principal objetivo reforçar ou reestabelecer o ritmo de marcha,
estimular a fala, a memória e a cognição, aumentar a criatividade, diminuir os sintomas
de depressão e aumentar a força e consciência corporal. Idosos praticantes desta
dinâmica musical ocupam o cérebro com lembranças boas de forma descontraída,
afastando-se da solidão e tristeza.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A memória consiste, basicamente, no armazenamento cerebral de informações
que são captadas pelos sentidos humanos. Independentemente da idade do indivíduo, é
uma ferramenta de alta importância e deve ser exercitada com frequência para que seu
desempenho seja a melhor possível. Há diferentes técnicas para o exercício, cabe ao
praticante escolher a que melhor se encaixa em seu perfil.
Para crianças, que estão formando suas primeiras memorias, são indicadas
técnicas
básicas
e
simples.
A
complexidade
dos
métodos
vai
aumentando
proporcionalmente à idade, até chegar à fase adulta - nessa fase os exercícios são
indicados para manter o alto desempenho da memorização. Já na terceira idade a prática
é tão importante quanto na infância, pois a memória tende a perder sua eficácia com o
tempo – recomenda-se, por isso, reservar um pequeno tempo diário para essas técnicas,
podendo assim evitar muitos problemas de saúde.
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REFERÊNCIAS
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Volume 5, Setembro de 2014.
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