SITE DE DIDÁTICA

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SITE DE DIDÁTICA: O ENSINO EM QUESTÃO1
Maria Eliza Brefere ARNONI2
Lívia Carolina Miranda FARIA3
Denis da Silva MONTEIRO4
Jéferson Gomes Moriel JÚNIOR5
Resumo:
Estabelecendo-se a interação Universidade, Escola e Comunidade, o Site
<http://www.ibilce.unesp.br/institucional/departamentos/edu/didatica/index.htm>
de
Didática, disponibiliza espaços destinados à divulgação de trabalhos acadêmicos
(ou não), informações, idéias, eventos, tudo com referência à Educação. Vinculado
ao site da UNESP – IBILCE, o Site publica, ainda, assuntos do campus e
entrevistas com seus docentes. Dando expressão à sua funcionalidade, duas
situações de ensino, uma referente à Língua Portuguesa e outra à Matemática,
foram elaboradas e exibidas no Site, a fim de ampliar a discussão sobre o processo
de ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: educação; conteúdo de ensino; mediação dialética; didática.
1. O ENSINO, A DIDÁTICA E O SITE
Tendo como objetivo principal demonstrar a professores e a futuros professores
como se trabalhar um conteúdo de ensino (o que ensinar), e partindo-se do princípio de que,
independente do conteúdo, é de extrema relevância considerar uma metodologia de ensino
capaz de promover a aprendizagem (como ensinar), a Profa. Dra. Maria Eliza Brefere Arnoni,
docente do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE – UNESP6), ministra a
disciplina Didática7 em cursos de licenciatura e pós-graduação.
A especialidade da Didática é tornar compreensível ao aluno aquilo que o
professor pretende explicar, pois seu objeto é o ensino. Portanto, ela tem a função de contribuir
para a redução do fracasso escolar, por meio da instrumentalização dos professores, no sentido
de estes buscarem incessantemente em sua prática pedagógica uma ação transformadora de
ensinar-aprender8.
1
Projeto do Núcleo de Ensino (2003), financiado pela PROGRAD/FUNDUNESP.
Docente do Departamento de Educação do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – UNESP – São José do Rio Preto.
3
Aluna do Curso de licenciatura em Letras, bolsista do Projeto do Núcleo de Ensino.
4
Aluno do Curso de licenciatura em Matemática.
5
Aluno do Curso de bacharelado em Matemática, bolsista do Projeto do Núcleo de Ensino.
*Revisora deste artigo – Profa. Ms. Maria Sueli R. Silva.
6
Universidade Estadual Paulista (Campus de São José do Rio Preto).
7
A Didática é uma disciplina pedagógica de natureza teórico-prática voltada para a compreensão do ensino. Ela não se reduz ao
mero domínio das técnicas de orientações didáticas mas também aos aspectos teóricos fornecendo à teoria os problemas e
desafios da prática. VEIGA, I. P. A. A construção da didática numa perspectiva histórico-crítica de educação – estudo introdutório.
Coleção: Magistério: formação e trabalho pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1993.
8
LOPES, A. O. Relação de interdependência entre ensino e aprendizagem. In: VEIGA, I. P. A. (Org.) Didática: o ensino e suas
relações. Campinas, SP: Papirus, 1996.
2
520
No entanto, a Didática, por diversas razões, como, por exemplo, não ter sido
assimilada à formação do professor, muitas vezes é deixada de lado para predominar na sala
de aula um instrumento bastante difundido, por razões políticas e econômicas9, e bastante
utilizado na Escola atualmente: o livro didático.
O livro didático na medida em que compila e armazena os conteúdos de ensino,
pode contribuir ao exercício do professor. Graças a sua portabilidade, ele permite ao aluno
recuperar, nos mais diferentes lugares, o fruto do trabalho docente. No entanto, o livro didático
não substitui o trabalho docente de: selecionar o conteúdo de ensino, conforme parâmetros
tradicionais, apropriados e recomendados a cada série escolar (PCN10); organizar o conteúdo
de ensino, segundo um modo que corresponda à realidade e necessidade de seus alunos;
transmitir o conteúdo de ensino, mediante uma metodologia ajustada à concepção de ensino do
professor e, finalmente, avaliar tanto o produto (a aprendizagem desse conteúdo) como o
processo (o desenvolvimento desse conteúdo).
Por esse prisma, o livro didático por si só não cumpre o papel da Didática na
construção da identidade do aluno. Para Pimenta (1997)11, a construção da identidade é um
processo de construção do sujeito historicamente situado. Nesse sentido, Duarte (1999)12 vem
somar ressaltando que, tratando-se da ação educativa, esta se dirige sempre de um ser
humano singular (o educando), é dirigida por outro ser humano singular (o professor) e se
realiza sempre em condições singulares (o contexto em que ambos estão inseridos). No
entanto, essa singularidade não existe independente da história social e, por conseguinte, a
formação de todo ser humano sintetiza todo um conjunto de elementos produzidos pela história
humana.
Ou seja, o professor, consciente dos fundamentos teóricos da sua área de
formação (específicos e pedagógicos), elabora sua prática, a fim de transformar o aluno em um
sujeito que responda às exigências contemporâneas, tais como: analisar, interpretar, avaliar,
sintetizar, comunicar, usar diferentes linguagens, estabelecer relações, propor soluções
inovadoras para as situações com as quais defronta etc. Essa ação transformadora é
fundamental ao trabalho docente.
9
FARIA, L. C. M. A linguagem do livro didático no ensino da língua materna: um estudo introdutório. São José do Rio Preto, SP:
UNESP – IBILCE, 2002. Esse texto trata-se de um projeto de Iniciação Científica desenvolvido sob orientação da Profa. Dra. Maria
Eliza
Brefere
Arnoni.
O
texto
referente
ao
mesmo
encontra-se
no
Site
de
Didática
<http://www.ibilce.unesp.br/institucional/departamentos/edu/didatica/index.htm>, objeto de que trata este artigo.
10
Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC (Ministério da Educação e do Desporto) / SEF (Secretaria da Educação
Fundamental), 1998.
11
PIMENTA, S. G. A didática como mediação na construção da identidade do professor: uma experiência de ensino e pesquisa na
licenciatura. In: ANDRÉ, M. E. D. A. de & OLIVEIRA, M. R. N. S. (Orgs.). Alternativas no ensino de didática. 4 ed. São Paulo:
Papirus, 1997.
12
DUARTE, N. A. A individualidade para si: contribuição a uma teoria histórico-social da formação do indivíduo. Coleção:
Contemporânea. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.
521
Como um instrumento uniformizador do conhecimento e condensador das
mesmas informações (textos, conteúdos, atividades etc), e como um meio destinado ao ensino,
indistintamente, de todos os alunos, o livro didático pode até mesmo corroborar para a ideologia
liberal que responsabiliza o indivíduo por sua própria aprendizagem que é, na verdade, a
essência da prática pedagógica em si.
Embora a prática seja o grande ponto de referência do professor, muitos ainda
atuam sem conhecer os fundamentos teóricos que embasam a sua prática. Praticar sem pensar
a prática é empobrecer a própria prática naquilo que ela possui de mais importante: o poder de
transformar a realidade por meio do questionamento da mesma. Com certeza, caminhará
melhor o professor que refletir criticamente sobre sua ação, que for capaz de ajuizar a sua
prática e tomar consciência dos fundamentos teóricos que sustentam e informam a sua
atuação.
Desse modo, considerando que a dinâmica ensino-aprendizagem requer muito
mais do que a mera transmissão de conhecimentos e tendo em vista ressignificar a Didática
para a atividade do professor, Arnoni trabalha, junto a seus alunos universitários, o livro didático
como alvo de discussão e estudo sobre questões importantes à formação deles, do tipo: saber
científico, saber de ensino, saber cotidiano, ensino, pesquisa, aprendizagem, metodologia etc.
O saber científico, produzido em instâncias universitárias e institucionais de
pesquisa, é vinculado à área acadêmica e veiculado em textos técnicos por uma linguagem
formalmente codificada.
O saber escolar representa, no contexto educacional, o conjunto dos conteúdos
previstos na estrutura curricular das várias disciplinas, mas, geralmente, esse, no livro didático,
configura-se como recortes ou resumos simplificados do saber científico, visto que não é
trabalhado metodologicamente para ser transformado em saber de ensino.
Para apresentar o saber escolar e propô-lo como o saber criado na elaboração
do conteúdo de ensino e para dar conta não só da relação de interdependência entre ensino e
aprendizagem, mas de grande parte das relações que envolvem as situações de ensino, a
Didática é, teórico-praticamente, aqui concebida com base em fundamentos filosóficos na
perspectiva da mediação.
Segundo Almeida13 (2001), a mediação é uma relação dialética que tem por
referência a diferença, a heterogeneidade, a repulsão e o desequilíbrio entre seus termos: o
13
ALMEIDA, J. L. V. Tá na rua: representações dos educadores de rua. São Paulo: Xamã, 2001.
522
imediato e o mediato. Arnoni14 (2003) considera que esses termos divergentes da mediação
(imediato e mediato) geram a contradição entre ambos e provocam a superação do imediato
(saber cotidiano) no mediato (saber científico), possibilitando a aprendizagem, ou seja, a
elaboração da síntese, definida aqui como o aprendido. Conforme a autora, os conteúdos de
ensino são a síntese entre os saberes científicos (os da área de conhecimentos específicos e
os pedagógicos) e os saberes cotidianos.
Espera-se que a licenciatura (Pimenta, ibidem) desenvolva nos alunos
conhecimentos e habilidades, atitudes e valores, que lhes possibilitem permanentemente ir
construindo seus saberes-fazeres docentes, a partir das necessidades e desafios que o ensino,
como prática social, lhes coloca no cotidiano.
Com esse propósito, a Didática (UNESP – IBILCE) discute o livro didático, um
produto que visa atender a dois pólos: mercado e educação. Para tanto, os alunos dessa
disciplina, além de estudarem os fundamentos filosóficos da mediação, realizam a aplicação
desses estudos na investigação da proposta de ensino apresentada pelo livro didático e na
organização de um conteúdo de ensino para uma proposta de aula.
Sendo assim, o livro didático é selecionado como corpus de um exercício de
análise da Didática por representar o reflexo das condições de ensino do país e por
desempenhar, na maioria das vezes, o papel de especialista de educação da escola brasileira,
ao fazer a articulação entre forma e conteúdo.
A relevância dessas produções motivou que se elaborasse e que se mantivesse
um site, em desenvolvimento e manutenção a partir de 2001, vinculado ao site da UNESP –
IBILCE, para a divulgação das análises de livros didáticos e das propostas de aula produzidas
pelos alunos da Didática.
Com esse objetivo, foram formados grupos de trabalho multidisciplinares para
ingressarem a projetos do Site, desde então intitulados: Programando um design para um site
de didática (2001); A multimídia, a didática e o saber escolar na formação do professor: um
desafio acadêmico (2002); e, finalmente, Site de didática: o ensino em questão (2003), de que
trata este artigo. Na ocasião presente, é válido observar que os projetos de 2002 e 2003
integraram
o
projeto
do
Núcleo
de
Ensino,
sendo
ambos
financiados
pela
PROGRAD/FUNDUNESP e apresentados, entre outros eventos regionais e nacionais, nas
Jornadas do Núcleo de Ensino, em datas respectivas.
14
ARNONI, M. E. B. Cuestiones de enseñanza: la dialéctica del trabajo educativo. In: Congresso Internacional “Pedagogia 2003 Encuentro por la unidad de los educadores”, Cuba, 2003, Havana. Palácio de Convenção de Havana. CD-ROM Softcal Empresa de
Desarollo y Producción de Software de Qualidad, ISBN 959-7164-37-X. Tradução da própria autora.
523
Os licenciandos da Didática são originários de diferentes cursos; assim, a cada
projeto sob orientação de Arnoni, professora que ministra a disciplina (UNESP – IBILCE), surge
o desafio de lidar com linguagens e saberes diferentes daqueles dos campos específicos de
cada orientando.
Na medida em que contribui para a formação de um futuro professor
comprometido com os vários tipos de conhecimento, esse trabalho é muito produtivo para
todos.
Com o intuito de ampliar a idéia original que almejava um arquivo de dados para
divulgação dos trabalhos resultantes da disciplina de Didática, foi formado, para participar do
último projeto, um grupo de estagiários composto por dois graduandos de Matemática (sendo
um do bacharelado, responsável pelo design e recursos tecnológicos do Site, e um da
licenciatura, responsável pela manutenção do espaço disponibilizado à Matemática a partir de
2003, pois, no período anterior a esse ano, a orientadora do projeto não lecionava na
Licenciatura em Matemática) e uma graduanda de Letras (responsável pelo espaço
disponibilizado à Letras e pela “linguagem interativa” do Site, que proporciona aos seus
usuários dinamicidade, modernidade e rapidez no acesso à informação).
Em
relação
à
Matemática,
o
site
divulga
trabalhos
(ANEXO
01)15,
predominantemente, sobre os assuntos “Álgebra” e “Trigonometria”, demonstrando, com isso, a
preocupação dos licenciandos em melhorarem o processo ensino-aprendizagem relativo a
conteúdos considerados difíceis.
Desse modo, o projeto Site de didática: o ensino em questão, além da
atualização do site http://www.ibilce.unesp.br/institucional/departamentos/edu/didatica/index.htm, propõese a dar voz não só a trabalhos dos alunos da disciplina de Didática, mas também a estudos
produzidos por alunos da pós-graduação, professores e doutores da UNESP – IBILCE,
tornando-se, assim, propícia a participação de especialistas e a divulgação de pesquisas que
colaborem com a formação inicial e continuada do professor.
Pelos links, notícias, entrevistas, idéias, comentários e estudos exibidos, o Site
possibilita a interação: Universidade, Escola e Comunidade. Graças aos espaços para
discussão e publicação de trabalhos na Internet, o Site oferece grandes perspectivas para que
os internautas sejam, além de receptores, incentivados a produzirem conhecimentos.
De acordo com a Metodologia da Mediação Dialética16, que realiza a síntese
entre os saberes para promover a aprendizagem, os estagiários do projeto, utilizando recursos
da multimídia, além da conservação do Site, ainda elaboraram duas situações de ensino: uma
15
16
O anexo, tabela 01, contém: autores, temas e bibliografias referentes às análises dos livros didáticos de Matemática.
Arnoni, ibidem.
524
referente ao conteúdo de Matemática (Teorema de Pitágoras) e outra que relaciona conteúdos
de Língua Portuguesa (Substantivos e Adjetivos) Na perspectiva da mediação dialética, tais
atividades centram-se num exercício metodológico e na conversão do saber científico (saber
validado pelos paradigmas da área científica) em saber escolar (saber representado pela
síntese da relação dialética do conteúdo científico a ser ensinado). São etapas da metodologia
mediadora:
1º Resgatando – resgatar as representações primeiras e primárias do sujeito
em relação ao conteúdo em estudo. Nesse contexto, o sujeito entra em
contato com o objeto de estudo, registra suas interpretações e explicita o
campo de significação em relação ao assunto trabalhado. As elaborações
geradas nessa etapa caracterizam aspectos do saber imediato, considerado
como ponto de partida do processo de ensino.
2º Problematizando – provocar o questionamento dos aspectos do saber
imediato das representações, na perspectiva do saber mediato pretendido.
Pela problematização, explicita-se a contradição entre o saber atual do sujeito
(imediato) e o saber objetivo pretendido pelo trabalho educativo (mediato). As
contradições geram rupturas no saber atual e suscitam a necessidade de o
sujeito buscar novos elementos conceituais (saber científico) que provoquem a
superação do imediato no mediato. Assim, a problematização, por articular a
negação recíproca dos dois pólos da relação pedagógica de mediação,
possibilita que o mediato se reflita no imediato, indicando a necessidade da
superação. Por outro lado, a problematização, por refletir o mediato no
imediato, já aponta para imediato, a sua superação.
3º Sistematizando – incorporar elementos do saber científico, uma ação
propiciada pela problematização que gera a superação dialética e permite,
pela negação, que o imediato seja superado no mediato, sem que o primeiro
seja anulado ou suprimido pelo segundo; ao contrário, o imediato está
presente no mediato.
4º Produzindo – expressar a síntese do trabalho educativo. Essa síntese
representa o ponto de chegada do trabalho educativo e constitui a expressão
do saber mediato em relação ao ponto de partida da ação ensinativa,
constituindo, também, em um novo ponto de partida. Por ter propriedades
diferentes e antagônicas do ponto de partida (Resgatando), o ciclo não se
fecha, e, por permanecer aberto, cria possibilidade para que novos ciclos se
525
iniciem na perspectiva da mediação. É o ponto de chegada, provisório, que
torna-se, imediatamente, em um novo ponto de partida.
O ensino, por esse prisma, tem como eixo a problematização, uma situação
capaz de gerar contradições entre o ponto de partida (saber cotidiano ou imediato) e o de
chegada (saber científico ou mediato) do conteúdo de ensino (saber de ensino) e de provocar a
superação do imediato no mediato (saber aprendido).
2. TEORIA DA MEDIAÇÃO NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM: UM EXERCÍCIO METODOLÓGICO
COM OS CONTEÚDOS SUBSTANTIVO E ADJETIVO
A atividade relativa à Língua Portuguesa (ANEXO O2)17, sob tal ponto de vista,
tem como objetivo questionar a forma como certos conteúdos são apresentados em textos
didáticos. Esses manuais, de maneira simplista, geralmente, abordam os conteúdos de ensino
por meio de definições que quase nada (ou nada) explicam o funcionamento da língua.
Como sabemos, o objetivo do ensino de Língua Materna é tornar o aluno um
usuário competente da linguagem. Isso implica conhecer as peculiaridades da língua nos
diferentes níveis: estrutural, sintático, semântico, estilístico, pragmático. Logo, seu ensino supõe
evidenciar sua dinamicidade, mobilidade, flexibilidade. Pois, a língua possui estratégias e
mecanismos que possibilitam a movimentação de seus elementos e, conseqüentemente, que
as palavras mudem de classe gramatical conforme o lugar que ocupem nas sentenças.
Ao estudante, deve ficar claro que é nesse contexto de sua multiplicidade que se
processa o ensino e a aprendizagem da linguagem. Tomando-se isso como princípio, a
atividade referente aos conteúdos “Substantivo e Adjetivo” foi pensada para comprovar que,
dependendo da ordem ou de sua posição no sintagma nominal, um mesmo elemento poderá
exercer papel ou de substantivo, ou de adjetivo.
Para esclarecer tal procedimento, os conteúdos de ensino que a atividade
abrange (Substantivo e Adjetivo) foram postos em relação. Por se tratar de software educativo,
o desenvolvimento das atividades, tanto de Língua Portuguesa como de Matemática, processase por meio de “clics”, uma facilidade oferecida ao usuário, graças à tecnologia utilizada.
Para tanto, o ponto de partida é identificar, num grupo de palavras apresentado,
as
que
se
classificam
como
substantivos
(propositalmente,
as
palavras
estão
descontextualizadas, ao acaso na tela do computador, ou seja, não estão inseridas em
sentenças ou sintagmas). Em seguida, o mesmo grupo de palavras aparece para que sejam
17
As páginas para a visualização da atividade encontram-se anexadas.
526
clicadas naquelas que se identifica como adjetivo. Posteriormente, deve-se formar pares de
palavras, combinado: substantivo e adjetivo. Depois, clicando-se num local determinado, os
pares escolhidos mudam a ordem das palavras, e, com isso, percebe-se que, dependendo da
posição, uma mesma palavra pode funcionar como substantivo ou adjetivo. Na etapa seguinte,
a fim de verificar sua própria aprendizagem, o usuário deverá assinalar, dos pares de palavras
apresentados, aqueles que, a inversão na ordem das palavras, ocasiona mudança na classe
gramatical das mesmas. Em momentos oportunos, ao longo da atividade, o usuário conta com
explicações lingüísticas referentes a etapas da atividade.
Finalmente, pelo expediente dos “clics”, um diagrama é trabalhado, com o
objetivo de vincular a atividade e a metodologia. Para estabelecer a correspondência entre
conteúdo (o que foi ensinado) e forma (como foi ensinado), o usuário deverá relacionar as
etapas referentes à atividade com os momentos específicos da metodologia, que são: os
conteúdos de ensino abordados, nessa atividade, são “Substantivo e Adjetivo” (Saberes de
Ensino, designados pela Metodologia da Mediação Dialética); a etapa de selecionar
substantivos compreende o ponto de partida, o conhecimento cotidiano ou o Resgatando
(conforme a Metodologia da Mediação Dialética); a etapa de selecionar adjetivos, de uma
mesma lista atribuída anteriormente para a seleção dos substantivos, compreende um conflito
cognitivo, um estranhamento ou o Problematizando (segundo a Metodologia da Mediação
Dialética); a etapa da inversão das palavras e, conseqüentemente, da mudança na classe
gramatical das mesmas, compreende o momento de amarrar as idéias, de explicar o conteúdo
ou do Sistematizando (de acordo com a Metodologia da Mediação Dialética); a etapa para
escolher os pares de palavras, cuja inversão causa mudança na classe gramatical, compreende
o ponto de chegada, a verificação da aprendizagem ou o Produzindo (para a Metodologia da
Mediação Dialética).
3. DIDÁTICA E A CONVERSÃO DO SABER CIENTÍFICO EM SABER DE ENSINO: UM EXERCÍCIO
METODOLÓGICO COM O SABER MATEMÁTICO
A atividade relativa à Matemática (ANEXO 03)18 foi elaborada visando a
questionar como determinados conteúdos da área são apresentados em livros didáticos. Estes
costumam trazer determinados conteúdos de ensino de forma instantânea, sendo que os
algoritmos de suas definições podem até mesmo prejudicar o entendimento dos alunos,
confundindo-os. Assim, ao estabelecer a relação entre o “o que” e “o como” ensinar, uma das
metas dessa atividade é auxiliar o professor no planejamento de suas aulas.
18
As páginas para a visualização da atividade encontram-se anexadas.
527
Desse modo, para o exercício metodológico que vincula conteúdo (o quê) e
forma (como), foi escolhido o “Teorema de Pitágoras”, a título de exemplo de como um
conteúdo matemático pode, quando explicado meramente por definição, complicar (ao invés de
simplificar) o processo de ensino-aprendizagem.
Para o proposto exercício metodológico, foram selecionadas quantidades de
quadradinhos tais que, o tamanho do lado de cada um dos três quadrados montados com os
quadradinhos, posteriormente, fosse de (a) três, (b) quatro e (c) cinco quadradinhos.
A atividade é iniciada com a separação dos quadradinhos (amarelos e
vermelhos) pela metade, sabendo-se que há 18 quadradinhos vermelhos e 32 amarelos. Com
isso, o ponto de partida é, com o auxílio de conceitos previstos pela Matemática de “área” e de
“quadrado”, formar três quadrados maiores com os quadradinhos: um quadrado vermelho
(formado pela metade dos quadradinhos vermelhos), um amarelo (formado pela metade dos
quadradinhos amarelos) e outro vermelho e amarelo (formado pela junção das metades
restantes dos quadradinhos vermelhos e amarelos). Em seguida, propõe-se, com os lados dos
quadrados formados, a construção de um triângulo retângulo; novamente é indispensável à
atividade a noção de um conceito prévio, nesse caso o de “triângulo retângulo”. Construído o
triângulo retângulo por meio dos lados dos quadrados, verifica-se a validade do “Teorema de
Pitágoras”, pois se observa que a soma da área dos lados dos catetos, que no caso são os
lados do triângulo formados pelos lados dos quadrados vermelho (a = 3) e amarelo (b = 4), é
igual a soma da área da hipotenusa, que no caso é o lado do triângulo formado pelo quadrado
vermelho e amarelo juntos (c = 5). Ou seja, a soma dos catetos ao quadrado equivale à
hipotenusa ao quadrado: três ao quadrado (cateto “a” = 9) mais quatro ao quadrado (cateto “b”
= 16) é igual a cinco ao quadrado (hipotenusa “c” = 25).
Por fim, a Metodologia da Mediação Dialética é abordada por meio do diagrama
que relaciona conteúdo / forma: o conteúdo de ensino abordado é o “Teorema de Pitágoras”
(Saber de Ensino, designado pela Metodologia da Mediação Dialética); a etapa de construir três
quadrados com os quadrados menores compreende o ponto de partida, o conhecimento
cotidiano ou o Resgatando (conforme a Metodologia da Mediação Dialética); a etapa de
construir, com os quadrados, o triângulo retângulo compreende um conflito cognitivo, um
estranhamento ou o Problematizando (segundo a Metodologia da Mediação Dialética); a etapa
na qual se depreende a regra do “Teorema de Pitágoras” a partir da atividade com os
quadrados, compreende o momento de amarrar as idéias, de explicar o conteúdo ou do
Sistematizando (de acordo com a Metodologia da Mediação Dialética); e, finalmente, a etapa de
se elaborar, por meio dos lados dos quadrados, o triângulo retângulo e de se relacionar com a
528
regra do “Teorema de Pitágoras”, compreende o ponto de chegada, a verificação da
aprendizagem ou o Produzindo (para a Metodologia da Mediação Dialética).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No contexto atual, em que grande parte dos educadores não dispõe de privilégios
como cursos de formação profissional, o Site, valendo-se da Internet, socializa situações de
ensino consideradas bem sucedidas.
Para tanto, tais situações de ensino: análises de livros didáticos, propostas de
aula, software educativos etc, compõem a proposta de oferecer uma alternativa que acrescente
os fundamentos filosóficos da mediação à formação de professores e futuros professores.
Por esse prisma, nas experiências pedagógicas do Site transparece a
Metodologia da Mediação Dialética. Essa metodologia supõe a Problematização, ocasião capaz
de gerar contradições entre o ponto de partida (saber cotidiano ou imediato) e o de chegada
(saber científico ou mediato) do conteúdo de ensino (saber de ensino) e de provocar a
superação do imediato no mediato (saber aprendido). Ou seja, realizar a síntese entre os
saberes e, com isso, promover a aprendizagem.
As atividades elaboradas sob essa perspectiva, como as referentes aos
“Substantivo e Adjetivo” e ao “Teorema de Pitágoras”, conteúdos de Língua Portuguesa e
Matemática, respectivamente, estabelecem a relação conteúdo – forma, por meio de exercícios
metodológicos proporcionados para o Site.
Por fim, o Site, apresentado em diversos eventos e locais, como: II Jornada do
Núcleo de Ensino (UNESP/FFC/Marília – SP); XXX Colóquio de Incentivo à Pesquisa (UNESP/
IBILCE/São José do Rio Preto – SP); XV Semana de Letras (UNESP/IBILCE, São José do Rio
Preto – SP); XV Semana da Matemática (UNESP/IBILCE/São José do Rio Preto – SP); I
Educando (SESC, São José do Rio Preto – SP); ALARME (São José do Rio Preto – SP),
abrange assuntos variados (saber científico, saber de ensino, saber cotidiano, ensino, pesquisa,
aprendizagem, metodologia etc), motivando e sustentando discussões produtivas, a respeito do
processo de ensino-aprendizagem.
529
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J. L. V. Tá na rua: representações dos educadores de rua. São Paulo: Xamã, 2001.
ARNONI, M. E. B. Cuestiones de enseñanza: la dialéctica del trabajo educativo. In: Congresso
Internacional “Pedagogia 2003 - Encuentro por la unidad de los educadores”, Cuba, 2003,
Havana. Palácio de Convenção de Havana. CD-ROM Softcal Empresa de Desarollo y
Producción de Software de Qualidad, ISBN 959-7164-37-X. Tradução da própria autora.
ARNONI, M. E. B., FARIA, L. C. M., MONTEIRO, D. S., MORIEL JÚNIOR, J. G. Teoria da
Metodologia no processo ensino/aprendizagem: um exercício metodológico com os conteúdos
Substantivo e Adjetivo (minicurso). In: XV Semana de Letras: Linguagem e Interação, São José
do Rio Preto, 2003.
ARNONI, M. E. B., FARIA, L. C. M., MONTEIRO, D. S., MORIEL JÚNIOR, J. G. Didática e a
conversão do saber científico em saber de ensino: um exercício metodológico com o saber
matemático (minicurso). In: XV Semana de Matemática, São José do Rio Preto, 2003.
ARNONI, M. E. B., FARIA, L. C. M., MONTEIRO, D. S., MORIEL JÚNIOR, J. G. Didática e a
conversão do saber científico em saber de ensino: um exercício metodológico com o saber
matemático (minicurso). In: II Jornada do Núcleo de Ensino – Vygotsky e a escola atual:
implicações no fazer pedagógico, Marília, 2003.
ARNONI, M. E. B., FARIA, L. C. M., MONTEIRO, D. S., MORIEL JÚNIOR, J. G. Site de
Didática: o ensino em questão. In: XXX CIP – Colóquio de Incentivo à Pesquisa: Direitos
Humanos: em busca da humanidade, São José do Rio Preto, 2003.
DUARTE, N. A. A individualidade para si: contribuição a uma teoria histórico-social da formação
do indivíduo. Coleção: Contemporânea. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.
FARIA, L. C. M. A linguagem do livro didático no ensino da língua materna: um estudo
introdutório. São José do Rio Preto, SP: UNESP – IBILCE, 2002.
LOPES, A. O. Relação de interdependência entre ensino e aprendizagem. In: VEIGA, I. P. A.
(Org.) Didática: o ensino e suas relações. Campinas, SP: Papirus, 1996.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Brasília: MEC (Ministério da Educação e do
Desporto) / SEF (Secretaria da Educação Fundamental), 1998.
PIMENTA, S. G. A didática como mediação na construção da identidade do professor: uma
experiência de ensino e pesquisa na licenciatura. In: ANDRÉ, M. E. D. A. de; OLIVEIRA, M. R.
N. S. (Orgs.). Alternativas no ensino de didática. 4. ed. São Paulo: Papirus, 1997.
530
ANEXO 01
Tabela das análises de livros didáticos da área de Matemática, 2003
Aluno(s) autor(es) da
análise
Dênis da Silva Monteiro
Luis Tadeu Zanqueta
Philipe T. L. F. Albuquerque
Adriana de Oliveira Dias
Janaina Cibineli Scarpeto
Marcela Lopes de Santana
Analucia C. P. de Souza
Márcia M. S. da Rocha
Assunto
Matemática uma aventura do
Ordenação e Representação
pensamento, Oscar Guelli, 6ª
dos Números Inteiros
série, Editora Ática, 2002.
Matemática,
conceitos
e
história, S. D. Neto, 6ª série,
Regra de Três
Editora Scipione, 1997.
Matemática
&
Vida,
V.
Bongiovanni, O. R. Vissoto e J.
Equação do 1º grau
L. T. Laureano, 6ª série, 12. ed.,
Editora Ática, 1998.
Cristiane Ribeiro dos Santos
Danilo Elias de Oliveira
Equação do 2º grau
Ivanice Cristina Peres da
Silva
Marcela Cristiani Ferreira
Adriano Kamimura Suzuki
Rodrigo Boschette Trigo
Evandro Luis Bonjovani
Livro analisado
Equação do 2º grau
Função Quadrática
Números Complexos
Teorema de Pitágoras
Matemática: Idéias e Desafios,
I. Mori e D. Sático, 8ª série, 10.
Ed., Editora Saraiva, 1942.
Matemática Interativa, Reis e
Trovon, 8ª série, Editora
Saraiva, 1942.
Matemática – série: Novo
Ensino Médio, Carlos Alberto
Marcondes dos Santos e
Nelson Gentil, Volume único, 6.
ed., Editora Ática.
Matemática para o Ensino
Médio, Benigno Barreto Filho e
Cláudio Xavier da Silva, Editora
FTD, 2000.
Matemática 2º grau, José Ruy
Giovanni,
José
Roberto
Bonjorno e José Ruy Giovanni
Júnior, Editora FTD.
531
ANEXO 02
Teoria da Metodologia no processo ensino/aprendizagem um exercício metodológico
com os conteúdos: Substantivo e Adjetivo (minicurso)
532
533
534
ANEXO 03
Didática e a conversão do saber científico em saber de ensino: um exercício
metodológico com o saber matemático (minicurso)
535
536
537
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