SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA: Ocorreu após as grandes transformações iniciadas no séc. XVII com o declínio do conhecimento religioso e a constituição de uma nova forma de conhecimento – o conhecimento científico. No séc. XVIII duas grandes revoluções (a Revolução Francesa e a Revolução Industrial) consolidam estas mudanças (que caracterizam a passagem da sociedade feudal para a sociedade capitalista) iniciando um novo período marcado pelo cientificismo e pela racionalidade. No séc. XIX com a eclosão de graves problemas sociais e uma maior visibilidade das desigualdades sociais surge o “social” enquanto um problema a ser investigado e analisado, buscando a reorganização da vida social. Isto se constituiu num grande desafio para os cientistas da época: “Os primeiros sociólogos construíram conceitos voltados para a tentativa de interpretar por critérios científicos a realidade social. Esse foi o primeiro embate vivido por tal ciência, que é uma das marcas centrais do mundo ocidental moderno, uma vez que o passo a ser dado implicava superar, por meio da razão, os ditames colocados pelos ensinamentos do senso comum, que até então dominavam a maior parte das interpretações e explicações sobre o sentido da ação coletiva humana”. (FERREIRA, 2001,pág. 32) Os estudos clássicos de Sociologia enfatizavam ou a ação individual ou a ação coletiva. Weber prilegia o papel ativo do indivíduo na escolha das ações sociais, enquanto Durkheim enfatiza o papel da sociedade e de suas instituições e outros autores ressaltam a importância ao conjunto das práticas que definem as próprias relações sociais entre indivíduo e sociedade (Karl Marx). É o que veremos mais detalhadamente a seguir. A Sociologia constitui-se numa forma de conhecimento, uma ciência. Mas afinal o que é a Sociologia? “é o estudo científico das interações de indivíduos e grupos, orientadas por significados intermentais, principalmente aqueles significados derivados da cultura, em função de objetivos e interesses específicos para cada situação social” (Villa Nova, 2000, pág. 195). REVISÃO SOBRE O PENSAMENTO DE AUGUSTE COMTE, ÉMILE DURKHEIM E MAX WEBER A SOCIEDADE E A SOCIOLOGIA AUGUSTE COMTE Para Comte a sociedade européia estaria passando por uma crise moral, resultante do confronto entre a antiga ordem feudal e a nova ordem capitalista. Para ele, o consenso social, que configurado através dos modos de pensar, das representações de mundo e das crenças estava sendo desagregado. Sendo necessária a criação de uma nova ciência “positiva” (a Física Social) que deveria estudar e compreender as relações sociais para intervir diretamente na ordem social, no sentido de acelerar e otimizar o seu desenvolvimento (progresso). A sociologia deveria inspirar-se nos paradigmas das ciências naturais para explicar a sociedade. Suas principais influências foram Herbert Spencer (18201903), Saint Simon (1760-1825) - do qual foi discípulo - e a teoria da evolução das espécies e da seleção natural de Charles Darwin. ÉMILE DURKHEIM Ainda nos moldes do positivismo, influenciado pelas teorias de Herbert Spencer (1820-1903) e Alfred Espinas (1844-1922), Durkheim acreditava que a função da sociologia seria garantir a ordem social, através do estabelecimento de uma nova moral (a moral científica). A sociedade seria constituída pela consciência coletiva que seria coercitiva, exterior e estaria acima das consciências individuais. Portanto, o indivíduo social seria produto da sociedade. Ela é descrita, assim como em Comte, como um organismo em adaptação, seguindo estágios diferenciados em busca da evolução. Possuindo fenômenos normais e patológicos. Nota-se ainda uma forte influência das ciências naturais, em especial a Biologia, na explicação dos fatos sociais. A sociologia deveria explicar os códigos de funcionamento da sociedade, intervindo em seu funcionamento aplicando “antídotos” que diminuíssem os males da vida social (medicina social). MAX WEBER Max Weber, através de sua metodologia inovadora, diferencia-se bastante dos positivistas - cuja inspiração foi buscar em Wilhelm Dilthey (1833-1911). Para ele, a Sociologia não deveria explicar os fenômenos e sim compreendê-los, visto que a sociedade não estaria submetida a leis imutáveis mas seria constituída pela contínua ação social dos indivíduos. A sociedade seria então um “eterno fluir”, um eterno movimento propiciado pela ação social dos indivíduos. A sociedade não paira sobre os indivíduos e nem lhes é superior. As regras e normas são resultados de um complexo de ações individuais, nas quais os indivíduos escolheriam diferentes formas de conduta. As grandes idéias coletivas que norteiam a sociedade, como o Estado, o mercado e as religiões, só existiriam porque muitos indivíduos orientariam reciprocamente suas ações em determinado sentido comum. A teoria weberiana privilegia a ação social do indivíduo dotada de sentido e a toma como base para a compreensão da vida social. METODOLOGIA UTILIZADA E A FUNÇÃO DO CIENTISTA SOCIAL AUGUSTE COMTE A sociologia deveria adotar os paradigmas do método positivo das ciências naturais: observação dos fenômenos, descrição das regularidades e estabelecimento de leis gerais, desenvolvendo leis úteis para o desenvolvimento social. A função dos cientistas sociais seria a de estabelecer uma nova moral para substituir a antiga moral religiosa. A moral científica seria a responsável pela garantia da ordem social que levaria ao progresso da sociedade (estado positivo) ÉMILE DURKHEIM A Sociologia deveria ter princípios claros e precisos para constituir-se enquanto ciência. Para isso, em seu livro As Regras do Método Sociológico (1897) ele estabelece o objeto de estuda da sociologia (o fato social), suas características e as regras para que fossem analisados. O interesse era a compreensão do funcionamento das formas padronizadas de conduta (consciência coletiva) por esta razão a teoria durkheimiana também pode ser chamada de funcionalista O comportamento do cientista social deveria ser de distanciamento e sua posição, de neutralidade em frente aos fatos sociais. Esta atitude garantiria a objetividade da sua análise. Cabe ao cientista social a observação, medição e a comparação dos fenômenos sociais. MAX WEBER A Sociologia deveria buscar a compreensão do sentido dada pelos indivíduos às ações sociais, por esta razão a sociologia weberiana ficou conhecida como Sociologia Compreensiva ou Sociologia da Ação Social. Seu método baseava-se na pesquisa histórica (do ponto de vista comparativo) e na construção de tipos ideais. Os tipos ideais seriam construções teóricas (não existindo em forma pura na sociedade) que auxiliariam o cientista social no processo de compreensão dos sentidos da ação social. Para Weber não é possível uma total neutralidade do cientista social, pois todo cientista age guiado por seus motivos, sua cultura e sua tradição. Os fatos sociais, por sua vez, não podem ser encarados como coisas e sim como acontecimentos que o cientista percebe e tenta desvendar. Entretanto, ele também considera necessária uma postura que distancie o pesquisador do seu objeto de estudo, o que é alcançado através da escolha de um quadro teórico (metodológico) que ditará as regras que o cientista deve seguir garantindo a objetividade do conhecimento científico. PRINCIPAIS CONCEITOS E CONTRIBUIÇÕES AUGUSTE COMTE Lei dos três estados: teológico, metafísico e positivo. Sociologia Estática e Sociologia Dinâmica Elaboração dos principais conceitos do positivismo: evolucionismo, organicismo e darwinismo social. Religião positivista Contribuiu na constituição de uma ciência voltada para o social enquanto problema, embora não tenha desenvolvido pesquisas empíricas e tenha se concentrado numa reflexão filosófica sobre a questão. ÉMILE DURKHEIM Definição de fato social (objeto da sociologia) e suas características: coerção social, exterioridade e generalidade. A divisão dos fatos sociais em normais e patológicos, buscando o ordenamento social, a coesão social (visão organicista da sociedade). Conceito de consciência coletiva e consciência individual. Morfologia social: solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. A sociedade moderna como resultado de sociedades mais simples, sem divisão do trabalho sócias, como a horda (evolucionismo) Definição dos limites e das diferenças entre a particularidade a natureza dos acontecimentos filosóficos, históricos, psicológicos e sociológicos. Criação da sociologia enquanto ciência com procedimentos metodológicos claros e inovadores Uso da matemática estatística e da integração entre as análises qualitativa e quantitativa MAX WEBER Definição da ação social (objeto da sociologia) Tipos de ação social: ação racional com relação a objetivo, ação racional com relação a valor, ação afetiva e ação tradicional. Definição de poder e classificação dos tipos de dominação legítimas: dominação tradicional, dominação carismática e dominação racional. A constatação da crescente racionalização da sociedade moderna leva-o a desenvolver a relação entre a ética protestante e o espírito do capitalismo (título de uma de suas obras) e a definição da dominação burocrática e da burocracia. Busca da análise histórica e da compreensão qualitativa para a compreensão dos processos históricos e sociais. Descoberta da subjetividade na ação e na pesquisa social Desenvolveu uma forma de análise específica para as ciências sociais, difereciando-a das formas utilizadas nas ciências exatas e da natureza. Desenvolveu trabalhos na área de história econômica, buscando as leis de desenvolvimento das sociedades.