Título do artigo: Conhecimento sobre nutrição e os cuidados

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1
Título do artigo:
2
Conhecimento sobre nutrição e os cuidados durante o tratamento dialítico de
3
portadores de Insuficiência Renal Crônica (IRC).
4
5
Título em ingles:
6
Knowledge about nutrition and care during the dialysis treatment patients with Chronic
7
Renal Failure.
8
9
Short title:
10
Conhecimento sobre nutrição entre pacientes em hemodiálise.
11
Knowledge about nutrition among hemodialysis patients.
12
13
Autores:
14
Priscila Borges dos Santos1, Pérola Ribeiro2
15
16
1
17
2
18
doutora assistente do curso de Nutrição da Universidade São Francisco (USF).
Aluna do curso de Nutrição da Universidade São Francisco (USF).
Doutora em Ciência pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professora
19
20
Endereço da instituição:
21
Universidade São Francisco (USF)
22
Av. São Francisco de Assis, 218 – Jardim São José
23
CEP: 12916-900 – Bragança Paulista – SP
24
25
Endereço para correspondência:
26
Pérola Ribeiro
27
Av. São Francisco de Assis, 218 – Jardim São José
28
CEP: 12916-900 – Bragança Paulista – SP
29
Telefone: (11) 2454-8206
30
E-mail: [email protected] ou [email protected]
31
2
1
Resumo
2
A insuficiência renal crônica (IRC) é uma síndrome complexa, que se caracteriza pela
3
perda lenta, progressiva e irreversível das funções renais. O objetivo desse estudo é
4
conhecer a experiência do paciente renal crônico, sobre nutrição e os cuidados
5
durante o tratamento dialítico de portadores de IRC. Selecionados 50 pacientes
6
portadores de IRC em tratamento dialítico para se avaliar o conhecimento sobre
7
nutrição e os cuidados durante o tratamento. Aplicou-se um questionário com
8
perguntas de múltipla escolha, com o objetivo de obter informações referentes ao
9
indivíduo, sua condição sócio-econômica e informações referentes a fato(s) que
10
tivesse(m) sido marcante(s) no espaço de hemodiálise, não importando se a
11
experiência tivesse sido positiva ou negativa. Com relação ao IMC, 58% dos pacientes
12
foram classificados como eutróficos, 4% como baixo peso e 28% como sobrepeso.
13
Embora a maioria dos pacientes tenha conhecimento sobre sua alimentação,
14
constatou-se que muitos relatavam a deficiência de informações sobre a doença,
15
alimentação, suas alterações e substituições. Além disso, alguns entrevistados
16
relataram que a complexidade de informações interfere na compreensão do paciente
17
quanto ao seu estado de saúde e tratamento. O grau de conhecimento dos pacientes
18
sobre a IRC e a hemodiálise foi adequado, entretanto, identificou-se diferentes fontes
19
de preocupações que os indivíduos estão expostos. Para o nutricionista é importante
20
conhecer essas demandas de atenção para buscar estratégias que as minimizem.
21
Para o paciente adaptar-se a essa nova realidade não é um processo tranqüilo e o
22
profissional da área de saúde dever compreender e orientar o indivíduo, bem como
23
sua família.
24
Descritores: Insuficiência Renal Crônica, hemodiálise, atenção.
25
3
1
Abstract
2
Chronic renal failure (CRF) is a complex syndrome characterized by irreversible
3
progressive and slow loss of renal functions. The aim of this study is to know about
4
chronic renal patient’s experience on nutrition and care during the dialysis treatment of
5
patients with CRF. It was selected 50 patients with CRF on dialysis to evaluate the
6
knowledge of nutrition and care during treatment. It was applied a questionnaire with
7
multiple choice questions with the purpose of obtaining information relating to
8
individuals, their socioeconomic status and information about events that have were
9
marked within hemodialysis even if the experience had been positive or negative. In
10
relation to BMI 58% of patients were classified as eutrophic, 4% as underweight and
11
28% as overweight. Although most patients have knowledge about their food, it found
12
that many reported a lack of information on disease, nutrition, its amendments and
13
replacements. Furthermore, some respondents reported that the complexity of the
14
information interfere with the patient’s understanding about their health status and
15
treatment. The degree of knowledge of patients on the CRF and hemodialysis was
16
appropriate, however, identified various sources of concerns that individuals are
17
exposed. For the nutritionist is important to know these demands attention to find
18
strategies to minimize them. For the patient adapt himself to this new reality is not an
19
effortless process and the healthcare professional must understand and guide the
20
individual and his family.
21
Descriptors: Renal Insufficiency, hemodialysis, attention.
22
4
1
INTRODUÇÃO
2
A insuficiência renal crônica (IRC) pode ser definida como uma síndrome complexa,
3
que se caracteriza pela perda lenta, progressiva e irreversível das funções renais1. No
4
Brasil, ainda não existem dados confiáveis que possam retratar a incidência e a
5
prevalência da IRC. Segundo Lessa2, isso resulta da dificuldade em obter um
6
diagnóstico precoce e, conseqüentemente, os estudos existentes se baseiam em
7
indivíduos com doença renal avançada, já inseridos em programas de diálise. Em
8
2002, estimava-se em 54.523 pacientes a população em diálise no Brasil, sendo que
9
cerca de 19% (10.285) desse total encontrava-se na Região Nordeste3 . Apesar dos
10
avanços no tratamento da IRC, a morbi-mortalidade continua elevada: no Brasil, a
11
sobrevida gira em torno de 79% e 41%, respectivamente, no primeiro e no quinto ano
12
de diálise4, sendo que a desnutrição protéico-energética (DPE) é um importante fator
13
que contribui para esse quadro nosológico. Levantamentos mostram que, em todo o
14
mundo, 6% a 8% dos indivíduos submetidos a tratamento dialítico sofrem de
15
desnutrição grave e cerca de 33% de desnutrição leve a moderada5, 6, 7.
16
A doença tem como principais complicações o aumento da uréia no sangue
17
(azotemia), a qual desencadeia uma série de sinais e sintomas conhecidos como
18
uremia ou síndrome urêmica. As causas principais podem ser: pré-renal (em
19
decorrência da isquemia renal), renal (conseqüente de doenças como as
20
glomerulopatias, hipertensão arterial, diabetes etc.), pós-renal (em virtude da
21
obstrução do fluxo urinário)8.
22
A doença em si e o tratamento desencadeiam uma sucessão de situações
23
conflituosas, que compromete o cotidiano do paciente, bem como de seus
24
componentes familiares, impondo-lhes adaptações e mudanças no estilo de vida. Na
25
maioria das vezes, a pessoa numa condição de portador crônico de alguma patologia
26
necessita compartilhar este enfrentamento com sua família ou com outras pessoas
27
próximas, buscando ajuda e apoio, pois esta situação requer readaptação individual e
28
familiar. É importante ressaltar, porém, que as estruturas familiares nem sempre dão
29
conta, sozinhas, de serem sustentáculos destas situações. Elas precisam do apoio dos
30
profissionais de saúde, bem como de suporte e colaboração de outras pessoas da sua
31
comunidade9.
32
As alterações na vida dos pacientes são, particularmente, incômodas, contínuas para
33
eles, uma vez que podem se sentir diferentes e excluídos por serem proibidos de
34
comer certos alimentos, terem uma ingestão hídrica reduzida e controlada,
35
necessitarem de remédios continuamente e serem submetidos ao tratamento dialítico
36
para a manutenção de suas vidas. Nesta perspectiva, torna-se necessário realizar
5
1
terapêutica contínua, incluindo atividades sócio-educativas com esses pacientes para
2
que eles tenham maior conhecimento sobre a IRC e seu tratamento, adquiram
3
segurança e maiores subsídios para o auto-cuidado e, assim, tenham melhor adesão
4
ao tratamento10.
5
Neste contexto, o educador em saúde trabalha com o cliente para identificar suas
6
necessidades em direção a uma escolha informada. Freqüentemente, essa escolha
7
pode levar a saúde com mudanças de comportamentos. Para isso, é indispensável
8
que os educadores em saúde conheçam a realidade, a visão de mundo e as
9
expectativas de cada sujeito, para que possam priorizar as necessidades dos clientes
10
e não apenas as exigências terapêuticas. Deve-se partir de seu conhecimento
11
preexistente, pois desvalorizar suas experiências e expectativas desencadeia uma
12
série de conseqüências, como a não-adesão ao tratamento, descrédito em relação à
13
terapêutica, deficiência no auto-cuidado, adoção de crenças e hábitos prejudiciais à
14
saúde, distanciamento da equipe inter-disciplinar, cultivo da concepção de que
15
somente
16
desagregador, entre outros11.
17
Portanto, as atividades de educação em saúde, destinadas às pessoas com
18
problemas renais crônicos, e para a população de um modo geral, não devem ser
19
estáticas, pois a simples transmissão da informação não assegura mudanças
20
significativas que levem à melhoria na saúde. É necessária uma reflexão crítica da
21
equipe de saúde e dos pacientes para, juntos, buscarem meios que possam modificar
22
essa realidade. A educação é prática libertadora e, também, constante troca de
23
saberes. Faz-se necessário concebê-la diferentemente do modelo tradicional, cuja
24
transmissão do conhecimento acontece de forma vertical, pois o cliente modifica seu
25
comportamento conforme lhe é recomendado e não pelo convencimento de novas
26
práticas12.
27
Em função do exposto, o objetivo desse estudo é conhecer a experiência do paciente
28
renal crônico, sobre nutrição e os cuidados durante o tratamento dialítico de
29
portadores de insuficiência renal crônica (IRC), elencando situações que tivessem sido
30
marcantes, positiva e/ou negativamente, favoráveis e/ou desfavoráveis e, ainda,
31
aquelas que vinham se constituindo como fator de satisfação e/ou de insatisfação
32
durante o tratamento.
os
outros
são
responsáveis
por
33
34
METODOLOGIA
35
CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO
seus
cuidados,
comportamento
6
1
A clínica de hemodiálise, localizada nas dependências de um hospital universitário,
2
funciona desde 1994, desenvolvendo atividades de clínica médica e nefrologia. A
3
Unidade atende 33 pacientes por período, de segunda a sábado em três turnos.
4
Atualmente, atende 177 pacientes sendo que 161 procedem de demandas do Sistema
5
Único de Saúde (SUS) e 14 derivam de convênios particulares. A equipe é composta
6
por três médicos nefrologistas, 3 enfermeiras, 23 técnicos em enfermagem, 7
7
auxiliares de enfermagem e 1 nutricionista de apoio.
8
9
SELEÇÃO DA AMOSTRA
10
A seleção da amostra foi realizada em um hospital universitário localizado no interior
11
de São Paulo. Selecionados 50 pacientes portadores de Insuficiência Renal Crônica
12
(IRC) em tratamento dialítico para se avaliar o conhecimento sobre nutrição e os
13
cuidados durante o tratamento. Aplicou-se um questionário com perguntas de múltipla
14
escolha, com o objetivo de obter informações referentes ao indivíduo, para
15
caracterização de sua condição sócio-econômica, além da obtenção de informações
16
referentes a fato(s) que tivesse(m) sido marcante(s) no espaço de hemodiálise, não
17
importando se a experiência tivesse sido positiva ou negativa.
18
Em virtude da dificuldade de se obter informações precisas sobre a renda familiar,
19
utilizou-se uma medida indireta baseada no Critério de Classificação Econômica
20
Brasil, desenvolvido pela Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (ABEP) em
21
parceria com a Associação Brasileira dos Anunciantes (ABA)13. Trata-se de um critério
22
renda-independente, que se baseia em informações sobre as características sócio-
23
econômicas e culturais do núcleo familiar, os quais classificam a população em
24
grandes classes econômicas estimando o poder de compra individual. Para a escolha
25
dos tópicos a serem pontuados, a ABEP fez um levantamento sócio-econômico de
26
30.000 domicílios após a implementação do Plano Real e definiu dez tópicos, cada um
27
deles com uma pontuação, que somados constituem a classificação econômica do
28
indivíduo estudado. Fazem parte do critério de classificação os seguintes tópicos: grau
29
de instrução do chefe da família, posse e número de automóveis, televisão a cores,
30
rádio, vídeo cassete e/ou DVD, aspirador de pó, máquina de lavar roupas, geladeira,
31
freezer, banheiro e a presença de empregada doméstica. Pela somatória dos pontos
32
referentes a cada um dos tópicos, determina-se 7 classes sócio econômicas, de
33
acordo com a renda familiar mensal estimada: A1 (R$ 7.793), A2 (R$ 4.648), B1 (R$
34
2.804), B2 (R$ 1.669), C (R$ 927), D (R$424) e E (R$ 207)13.
35
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade
36
São Francisco (protocolo CAAE: 0073.0.142.000-09). Todos os voluntários foram
7
1
informados dos objetivos e procedimentos do estudo e assinaram o Termo de
2
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
3
4
ANÁLISE ESTATÍSTICA
5
A análise estatística foi realizada utilizando-se o software SigmaStat for Windows®
6
versão 3.514. O teste de Mann-Whitney e o teste t de Student foram empregados para
7
a comparação das características sócio econômicas dos pacientes, segundo o sexo.
8
Também foi utilizado para avaliar o grau de conhecimento sobre nutrição entre os
9
pacientes, segundo o sexo. Em todos os testes aplicados fixou-se o nível de
10
significância em 0,05 ou 5% (p≤0,05), assinalando-se, com asterisco, os valores
11
estatisticamente significantes.
12
8
1
RESULTADOS E DISCUSSÃO
2
A IRC em si e o tratamento desencadeiam uma sucessão de situações conflituosas,
3
que compromete o cotidiano do paciente, bem como de seus componentes familiares,
4
impondo-lhes adaptações e mudanças no estilo de vida. Na maioria dos casos, o
5
indivíduo na condição de portador crônico de qualquer patologia necessita
6
compartilhar essa situação com seus entes, buscando suporte, pois esta nova
7
situação requer readaptação individual e familiar. No entanto, é importante ressaltar,
8
que a estrutura familiar nem sempre é capaz, sozinha, de sustentar estas situações,
9
sendo necessário apoio dos profissionais de saúde, bem como, a colaboração de
10
membros da comunidade12.
11
A Tabela 1 apresenta a caracterização sócio-econômica e demográfica dos pacientes
12
atendidos no setor de hemodiálise, segundo o sexo. Sessenta e quatro por cento
13
(32/50) dos entrevistados têm mais de 51 anos (p=0,035), situação semelhante aos
14
pacientes europeus, cuja idade média compreende de 58 a 62 anos15.
15
A maioria (62% - 31/50) dos pacientes é casada e 64% (32/50) pertence, segundo o
16
critério sócio econômico, à classe social C, com rendimento familiar médio estimado
17
de R$927,00 (equivalente a 2 salários mínimos). Essa baixa renda, provavelmente,
18
interferirá na compreensão e na adesão ao tratamento proposto. Os resultados deste
19
estudo são semelhantes aos encontrados por Cabral16 que ao avaliarem 47 pacientes
20
em hemodiálise, observou que 83,8% das famílias entrevistadas subsistiam com renda
21
igual ou inferior a 2 salários mínimos. Somente 2% (1/50) dos entrevistados possuem
22
deficiência visual (p≤0,001). Com relação ao IMC, 58% (29/50) dos pacientes foram
23
classificados como eutróficos (IMC entre 18,5 a 24,99Kg/m²), 4% (2/50) como baixo
24
peso e 28% (14/50) como sobrepeso. Cabral
25
tratamento de hemodiálise eram eutróficos, 18,9% baixo peso e 16,2% sobrepeso.
26
A Tabela 2 apresenta os dados antropométricos, expressos em média±desvio padrão
27
(X±DP), dos pacientes atendidos no setor de hemodiálise, segundo o sexo. A idade
28
média das mulheres foi 48,6 anos e dos homens foi de 58,4 anos, com diferentes
29
estatisticamente significantes entre os grupos (p=0,034). O peso médio das mulheres
30
e dos homens foi de 59,7Kg e 69,4Kg, respectivamente, com diferenças significantes
31
estatisticamente (p=0,009). Embora as condições sócio econômicas fossem precárias,
32
a média do IMC situou-se dentro dos padrões de eutrofia: 23,9Kg/m² para o sexo
33
feminino e 24,4Kg/m² para o masculino. Embora as condições sócio econômicas
34
fossem precárias, a média do IMC situou-se dentro dos padrões de eutrofia.
35
Valenzuela17 ao avaliar o estado nutricional de 165 pacientes com IRC em hemodiálise
16
constatou que 62% dos indivíduos em
9
1
na cidade de Manaus (AM), constataram que apenas 4% e 25% dos pacientes
2
apresentavam baixo peso (IMC < 18,5Kg/m²) e sobrepeso (IMC > 25,0Kg/m²),
3
respectivamente.
4
Segundo Kurkin18, o estado nutricional do paciente com IRC é afetado por condições
5
como: anorexia, presença de toxinas urêmicas, distúrbios gastrointestinais e
6
alterações metabólicas. Além disso, em pacientes que realizam hemodiálise, os
7
estímulos catabólicos do procedimento, a perda de nutrientes para o dialisato e a
8
acidose metabólica são fatores que, também, podem levar a alterações na
9
composição corporal.
10
Como o processo de hemodiálise pode remover de 1 a 4 litros de fluido, em uma
11
sessão com duração média de 4 horas e, dependendo de fatores como o paciente e a
12
eficiência do processo, as alterações no volume de fluido corporal pode resultar em
13
situações que compreendem desde edema e congestão pulmonar até hipotensão e
14
desidratação19. As constantes variações hídricas podem comprometer as medidas de
15
composição corporal, dificultando a avaliação e o acompanhamento do estado
16
nutricional do indivíduo18. Como a massa magra é o compartimento que varia de
17
acordo com o estado de hidratação, Ishimura20, sugere que sua diminuição possa ser
18
um reflexo da remoção gradual do fluido corporal para atingir o peso seco durante o
19
período inicial de tratamento.
20
Estudos sugerem, que o excesso de peso, considerado fator de risco para indivíduos
21
saudáveis, exerce influência positiva na sobrevida de pacientes em hemodiálise 6. Esta
22
condição pode ocorrer mais provavelmente como resultado da redução de toxinas
23
urêmicas circulantes e conseqüente melhora do apetite. A manutenção de uma
24
reserva adequada de gordura corporal é vantajosa para o paciente em hemodiálise,
25
pois em situações de maior necessidade energética como nas infecções, nas cirurgias
26
repetidas do acesso vascular ou no transplante renal, a gordura armazenada pode ser
27
utilizada para suprir o déficit energético e poupar a utilização das reservas protéicas6,
28
21, 22
29
A Tabela 3 mostra o conhecimento sobre nutrição pelos pacientes atendidos no setor
30
de hemodiálise, segundo o sexo. Noventa por cento (45/50) dos entrevistados acertou
31
que o aumento de fósforo no sangue pode ser causado pelo consumo de alimentos
32
com excesso desse mineral. A maioria dos pacientes (58% - 29/50) acertou que
33
quando o fósforo estiver elevado, deve-se diminuir o consumo de alimentos ricos
34
nesse nutriente e tomar o medicamento, quando necessário.
35
A ingestão de fósforo deve ser controlada por pacientes em hemodiálise, visto que os
36
procedimentos dialíticos são pouco eficientes na remoção desse mineral, podendo
.
10
1
ocasionar hiperfosfatemia. Além disso, como a necessidade protéica é elevada, a
2
ingestão de fósforo, frequentemente, supera 800mg/dia, necessitando-se a utilização
3
de quelantes de fósforo. Por outro lado, alimentos fonte de cálcio, como leite e
4
derivados, também, são fontes de fósforo e, por esse motivo, a ingestão de cálcio é
5
limitada, exigindo sua suplementação.
6
Noventa e quatro por cento (47/50) dos entrevistados acertaram que o paciente em
7
tratamento dialítico deve controlar o consumo de sal. A maioria (62% - 31/50) dos
8
pacientes acertaram que o paciente dialítico pode consumir legumes e verduras à
9
vontade, desde que sejam cozidos com muita água e esta seja descartada antes do
10
consumo. No Gráfico 1 é possível visualizar o conhecimento dos pacientes atendidos
11
no setor de hemodiálise, segundo o sexo, sobre alimentos que devem ser excluídos da
12
alimentação em função do alto conteúdo de fósforo. A maioria dos entrevistados
13
acertou que os alimentos que contêm elevado teor de fósforo são: amendoim
14
(homens: 89,3% e mulheres: 90,9%), bucho (homens: 71,4% e mulheres: 77,3%),
15
cerveja (homens: 67,9% e mulheres: 81,8%), fígado (homens: 57,1% e mulheres:
16
50,0%), lingüiça (homens: 85,7% e mulheres: 72,7%), mortadela (homens: 75,0% e
17
mulheres: 63,6%), queijo prato (homens: 64,3% e mulheres: 68,2%), refrigerante de
18
cola (homens: 85,7% e mulheres: 90,9%) e sardinha em conserva (homens: 85,7% e
19
mulheres: 72,3%).
20
O Gráfico 2 apresenta o conhecimento dos pacientes atendidos no setor de
21
hemodiálise, segundo o sexo, sobre alimentos que devem ser evitados na alimentação
22
em função do controle da ingestão de sal e líquidos. A maioria dos entrevistados
23
acertou que esses alimentos são: azeitona (homens: 89,3% e mulheres: 95,5%),
24
bacon (homens: 67,9% e mulheres: 86,4%), bacalhau (homens: 53,6% e mulheres:
25
59,19%), carne seca (homens: 96,4% e mulheres: 100,09%), lingüiça (homens: 89,3%
26
e mulheres: 77,3%), mortadela (homens: 71,4% e mulheres: 77,3%), molho de
27
mostarda (homens: 71,4% e mulheres: 77,3%) e sopas e salgadinhos industrializados
28
(homens: 35,7% e mulheres: 95,5%). Entretanto, somente 3,6% dos homens e 4,5%
29
das mulheres acertaram que o milho em conserva deve ser retirado da alimentação,
30
assim como, apenas 35,7% e 18,2%, respectivamente, de homens e mulheres
31
responderam corretamente que a pizza deve ser excluída da dieta do indivíduo em
32
função do controle da ingestão de sal e líquidos.
33
O Gráfico 3 mostra o conhecimento sobre alimentos que podem ser utilizados como
34
tempero no preparo das refeições pelos pacientes atendidos no setor de hemodiálise,
35
segundo o sexo. A minoria dos entrevistados acertou que caldo em cubos (homens:
36
3,6% e mulheres: 4,5%), molho de soja (homens: 28,6% e mulheres: 18,2%) e
11
1
temperos prontos (homens: 3,6% e mulheres: 9,1%) não podem ser utilizados como
2
tempero na confecção de preparações de pacientes em tratamento dialítico.
3
Segundo Cabral16 , a ingestão de sal e água, concomitantemente, produzem sede
4
intensa, edema, falta de ar, aumento de peso, hipertensão, tonturas, mal estar,
5
confusão mental, tremores e abalos musculares. Noventa por cento da água do
6
organismo humano é eliminada pelos rins e os restante 10% pela respiração, pele e
7
fezes. Por isso, a ingestão de água sem sua eliminação, ocasiona seu acúmulo, com,
8
conseqüente, aumento de peso, cujas principais complicações são: tremores, tonturas,
9
náuseas, dores de cabeça, hipertensão, falta de ar, edema generalizado, insuficiência
10
cardíaca e edema agudo do pulmão.
11
Noventa por cento (45/50) dos entrevistados acertaram que quem faz tratamento de
12
diálise não pode consumir carambola e/ou seu suco. A carambola (Averrhoa
13
carambola) pertence à família das Oxalidaceae, sendo que seu cultivo tem se tornado
14
cada vez mais popular e seu consumo se faz como fruta fresca ou em sucos naturais
15
ou industrializados.
16
Entretanto, segundo Wu23, Neto24 e Tsai25 , têm referido que a carambola contém
17
neurotoxinas que causam complicações neurológicas em indivíduos com IRC. Seus
18
efeitos neurotóxicos foram classificados em três categorias: a) intoxicação leve:
19
soluços, vômitos e insônia; b) intoxicação moderada: agitação psicomotora,
20
dessensibilização e parestesia de membros e confusão mental leve e c) intoxicação
21
severa: confusão moderada a severa progredindo para o coma, ataque epilético
22
progredindo para epilepsia e instabilidade hemodinâmica progredindo para hipotensão
23
e choque. O mecanismo de ação da toxina da carambola foi estudado em
24
sinaptosomas e verificou-se que essa toxina é uma substância de baixo peso
25
molecular, solúvel em água e termoestável, cuja estrutura está sob corrente
26
investigação. Sua ação se deve a uma alteração da ligação do ácido gama
27
aminobutiríco (GABA) a seus receptores26. As variações dos sintomas diferem entre os
28
pacientes e podem ser explicada pelas respostas biológicas individuais, idade,
29
quantidade da ingestão e da neurotoxina presente em cada fruta e filtração glomerular
30
residual.
31
Com relação às demandas apontadas pelos pacientes quanto à transmissão de
32
conhecimento sobre a doença pode-se constatar pelos discursos dos pacientes três
33
grupos de preocupações: comportamentais e informativas.
34
35
Preocupações comportamentais
12
1
Os pacientes relatam preocupações relacionadas com as limitações impostas pela
2
doença, às restrições alimentar e hídrica, a falta de lazer e a incapacidade para o
3
trabalho.
4
As restrições alimentar e hídrica são essenciais para o sucesso do tratamento e para o
5
bem estar do indivíduo, mas, frequentemente, são fontes de frustração, tendo em vista
6
que modifica hábitos do dia-a-dia e impõe privações.
7
“Eu como e bebo mesmo... Se fala que não pode eu tenho que comer. É muito
8
alimento que a doutora diz que não pode.” (Paciente 1)
9
“A minha grande dúvida é saber o que pode comer ou não, eu fico sem saber o que
10
faz mal ou não.” (Paciente 2)
11
Segundo Reis27, os pacientes com IRC sentem necessidade de se reafirmarem que,
12
apesar das restrições, permanecem íntegros. De acordo com Queiroz12, não é
13
suficiente informar o paciente, visto que a informação precisa ser traduzida e
14
compreendida, para que seja internalizada e possibilite a mudança de atitude e traga
15
benefício à saúde.
16
17
Preocupações informativas
18
Os discursos abaixo demonstram o temor do paciente com relação às informações
19
referentes à doença e seu tratamento.
20
“Quando o médico disse que eu tinha que fazer hemodiálise fiquei com medo. Eu não
21
entendia as explicações dele nem o tratamento.” (Paciente 3)
22
“Um diz uma coisa e o outro diz outra e eu fico sem saber a verdade. (Paciente 1)”
23
“Muitas vezes nós fazemos o tratamento sem saber nada, nem o porquê nem para
24
quê.” (Paciente 4)
25
A complexidade de informações interfere na compreensão do paciente quanto ao seu
26
estado de saúde e tratamento. Os profissionais da saúde ao abordarem tais indivíduos
27
devem fazê-lo de forma clara e segundo Reis27, utilizar uma linguagem acessível,
28
considerando o grau de escolaridade do paciente. Informações complexas e
29
inadequadas podem resultar em dificuldade de compreensão resultará em um
30
aumento da capacidade de direcionar a atenção para atender às exigências do
31
tratamento.
32
Discurso semelhante ao do paciente 4, também, foi encontrado por Queiroz12 revela o
33
pensamento
34
procedimentos referentes ao tratamento. Essa ocorrência pode refletir, segundo os
35
autores, a inabilidade dos profissionais em promover momentos de educação em
assumido
coletivamente
sobre
o
desconhecimento
sobre
os
13
1
saúde que possam atender essa lacuna e ao mesmo tempo aproximar paciente e
2
cuidador.
3
Além disso, o acúmulo e complexidade de informações podem interferir na
4
compreensão, pelo paciente, de sua patologia e tratamento. Segundo Reis27, a
5
abordagem desses pacientes, pelos profissionais da área da saúde, deve ser realizada
6
de maneira a transmitir informações em linguagem acessível, principalmente, quando
7
se considera a especificidade do conhecimento técnico e o grau de escolaridade do
8
paciente.
9
Segundo alguns depoimentos, pode-se observar uma preocupação dos pacientes com
10
o material fornecido pelo serviço de hemodiálise.
11
“A cartilha é boa, mas poderia ser melhor.” (Paciente 10)
12
“Poderia fazer uma palestra da apostila, se você entrega eu não vou ler, vou jogar
13
fora.” (Paciente 5)
14
A constante proximidade do paciente e do nutricionista deveria permite ao profissional
15
compreender as necessidades e as demandas de cuidados e, consequentemente,
16
identificar a melhor forma educativa e terapêutica. Pelos discursos acima, percebe-se
17
a intenção dos pacientes em aprender sobre o assunto para entender e melhor se
18
adaptar à realidade de sua doença. Segundo Queiroz12, materiais educativos com
19
figuras são apontados pelos pacientes submetidos à hemodiálise como importantes
20
instrumentos para gerar aprendizagem, entretanto, a presença do profissional de
21
saúde desenvolvendo uma comunicação interativa com o paciente é necessária.
22
É evidente que a aprendizagem não pode ocorrer sem a interação do grupo, em
23
etapas contínuas, fazendo-se sempre um resgate das vivências, visto que a
24
aprendizagem se torna mais significativa para a realidade de cada indivíduo.
25
14
1
CONCLUSÕES
2
Apesar das condições sócio-econômicas dos entrevistados, o IMC encontrava-se
3
dentro dos padrões de normalidade, com baixa incidência de baixo peso. O grau de
4
conhecimento dos pacientes sobre a IRC e a hemodiálise foi adequado, entretanto,
5
identificou-se diferentes fontes de preocupações que os indivíduos estão expostos.
6
Para o nutricionista é importante conhecer essas demandas de atenção para buscar
7
estratégias que as minimizem. Para o paciente adaptar-se a essa nova realidade não
8
é um processo tranqüilo e o profissional da área de saúde dever compreender e
9
orientar o indivíduo, bem como sua família.
10
15
1
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17
1
TABELA 1: Caracterização sócio-econômica e demográfica dos pacientes atendidos
2
no setor de hemodiálise, segundo o sexo.
Sexo
Variáveis
Feminino
Masculino
Total
(n=22)
(n=28)
(n=50)
n
%
n
%
n
%
19 – 30
5
22,8
0
0,0
5
10,0
31 – 50
7
31,8
6
21,4
13
26,0
51 – 70
7
31,8
14
50,0
21
42,0
71 ou +
3
13,6
8
28,6
11
22,0
Casado
11
50,0
20
71,4
31
62,0
Solteiro
5
22,7
4
14,3
9
18,0
Viúvo/divorciado
6
27,3
4
14,3
10
20,0
A1
0
0,0
0
0,0
0
0,0
A2
0
0,0
0
0,0
0
0,0
B1
0
0,0
2
7,1
2
4,0
B2
1
4,5
2
7,1
3
6,0
C
14
63,6
18
64,3
32
64,0
D
7
31,8
6
21,4
13
26,0
< 18,5
2
9,1
0
0,0
2
4,0
18,5 |-- 25,0
14
63,6
15
53,6
29
58,0
25,0 |-- 30,0
4
18,2
10
35,7
14
28,0
30,0 |-- 35,0
2
9,1
3
10,7
5
10,0
Sim
1
4,5
0
0
1
2,0
Não
21
95,5
28
100,0
49
98,0
Análise estatística
Idade (anos)
†
p=0,035*
Estado civil
‡
p=0,127
Classe social
‡
p=0,242
IMC (Kg/m²)
†
p=0,649
Deficiência visual
3
4
† Teste t de Student
‡ Teste Mann-Whitney
‡
p<0,001*
18
1
TABELA 2: Dados antropométricos, expressos em média±desvio padrão (X±DP), dos
2
pacientes atendidos no setor de hemodiálise, segundo o sexo.
Sexo
Variáveis
Feminino
Masculino
Análise Estatística
Teste Mann-Whitney
Idade (anos)
3
4
48,6±18,1
58,4±13,6
p=0,034*
Altura (m)
1,6±0,1
1,7±0,1
p<0,001*
Peso (Kg)
59,7±12,6
69,4±12,6
p=0,009*
IMC (Kg/m²)
23,9±4,1
24,4±3,9
p=0,649
19
1
TABELA 3: Conhecimento sobre nutrição pelos pacientes atendidos no setor de
2
hemodiálise, segundo o sexo.
Sexo
Variáveis
Feminino
Masculino
Total
Análise estatística
(n=22)
(n=28)
(n=50)
Teste Mann-
n
%
n
%
n
%
Whitney
Sim
19
86,4
26
92,9
45
90,0
p=0,811
Não
3
13,6
2
7,1
5
10,0
Tomar somente o quelante.
3
13,6
2
7,1
5
10,0
Diminuir o consumo de alimentos com
13
59,1
16
57,1
29
58,0
Aumento de fósforo no sangue pode ser
causado pelo consumo de alimentos com
excesso de fósforo
Se o fósforo estiver elevado, qual deve
ser a conduta com o paciente
p=0,512
muito fósforo e tomar medicamento,
quando necessário.
6
27,3
10
35,7
16
32,0
Sim
21
95,5
26
92,9
47
94,0
Não
1
4,5
2
7,1
3
6,0
Sim, desde que sejam refogados ou crus.
3
13,6
10
35,7
13
26,0
Sim, desde que sejam cozidos com muita
15
68,2
16
57,1
31
62,0
Excluir alimentos contendo fósforo da
dieta.
O paciente em tratamento de diálise deve
controlar o consumo de sal
p=0,699
O paciente pode consumir, à vontade,
legumes e verduras
água e esta seja jogada fora antes do
p=0,028*
consumo.
Não
4
18,2
2
7,1
6
12,0
Sim
2
9,1
3
10,7
5
10,0
Não
20
90,9
25
89,3
45
90,0
Quem faz tratamento de diálise pode
consumir carambola ou seu suco
3
4
p=0,833
20
1
GRÁFICO 1: Conhecimento dos pacientes atendidos no setor de hemodiálise,
2
segundo o sexo, sobre alimentos que devem ser excluídos da alimentação em função
3
do alto conteúdo de fósforo.
4
5
21
1
GRÁFICO 2: Conhecimento dos pacientes atendidos no setor de hemodiálise,
2
segundo o sexo, sobre alimentos que devem ser evitados na alimentação em função
3
do controle da ingestão de sal e líquidos.
4
22
1
GRÁFICO 3: Conhecimento dos pacientes atendidos no setor de hemodiálise,
2
segundo o sexo, sobre alimentos que podem ser utilizados como tempero no preparo
3
das refeições.
4
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