SUZANO ANO 4 ISSN: 2176-5227 Nº 3 ABR. 2012 REVISTA INTERFACES 69 O mercado automobilístico no cenário econômico brasileiro Cristiane Paula do Vale Pós-graduada em Controladoria e Finanças – Faculdade Unida de Suzano – UNISUZ Paula Barbosa Pudo Mestre em Linguística Aplicada - Unicamp Docente da Faculdade Unida de Suzano e da Fatec de Itaquaquecetuba ( [email protected]) RESUMO O mercado automobilístico sempre teve grande importância no cenário econômico brasileiro, e nos últimos anos tem obtido ainda mais destaque devido ao expressivo crescimento das vendas. Se considerarmos os resultados mais amplos da indústria automotiva: automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, houve um aumento de 24% em relação ao mesmo período de 2009 e 10% sobre os primeiros dias de março de 2010. O escopo deste trabalho é analisar e entender os principais fatores que contribuíram para o crescimento do mercado automobilístico e a importância para a economia do país, levando-se em conta maior confiança do consumidor, facilidade e maior prazo para financiamento. Palavras-chave: Economia, indústria e mercado automobilístico. Introdução Este estudo tem por objetivo analisar o crescimento de vendas no mercado automobilístico nos últimos anos e identificar possíveis panoramas futuros, haja vista a importância para a economia e para o governo, já que a Indústria Automobilística possui um papel relevante nestes cenários, envolvendo direta e indiretamente diversas empresas de vários segmentos e gerando milhões de empregos em todo o país. O mercado automobilístico brasileiro hoje é um dos principais mercados do mundo, cujo crescimento em vendas, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), foi de 23% em 2008, se comparado ao ano anterior, com base no Registro Nacional de Veículos Automotores (RENAVAM). Segundo a assessoria de imprensa da entidade, poderemos chegar em 2012, 2013 ou ainda 2014 a uma produção de 5 milhões de veículos, destinando 4 milhões deles para o mercado interno e 1 milhão de unidades para o externo. Torna-se relevante entender a origem deste crescimento e os panoramas futuros, uma vez que decisões importantes como aumentar a capacidade de produção, aumentar ou diminuir o prazo de financiamento de automóveis, aumentar ou diminuir taxas de juros, investir em infra-estrutura, poderão ser mais bem fundamentadas. Indústria Automobilística sob o Aspecto Econômico No período compreendido entre 1990 e 1994, a política industrial era restrita à abertura comercial, que embora considerada inevitável, foi muito criticada quanto a seu ritmo e forma, pois faltou à indústria brasileira o apoio necessário para o desenvolvimento de capacitação competitiva. Nos anos seguintes, não houve alteração na orientação da política industrial adotada pelo governo. Como a estabilidade da economia era prioritária, sobrevalorizou-se a moeda nacional, o que transformou a abertura comercial no único fator de incentivo à modernização das empresas do parque nacional. Mesmo assim, o governo abriu linhas de crédito especiais no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para as empresas que apresentassem perspectivas de aumento de competitividade. (LACERDA, 2003, p. 244). A maior expansão ocorreu com relação aos bens de consumo duráveis, para a qual contribuiu o desempenho da indústria montadora de veículos, uma das poucas beneficiadas por políticas setoriais de cunho protecionista, como a redução do imposto sobre o produto industrializado (IPI). Entre 1991 e 1997, essa indústria apresentou um aumento de produção de 70,3%. (LACERDA, 2003, pp. 245-246). Para o autor, “O câmbio sobrevalorizado tornou os produtos nacionais menos competitivos e estimulou as importações. Desse modo, entre 1992 e 1997, enquanto as exportações brasileiras aumentaram apenas 34,18%, as importações cresceram 63,34%.” Baer (2002) destaca que a introdução do Plano Real em julho de 1994, direcionou grande parte da expansão no consumo para os importados, fazendo com que 70 REVISTA INTERFACES as importações aumentassem em três vezes e criando um grande déficit comercial. Nesse sentido, o maior crescimento das importações em relação às exportações provocou recorrentes déficits na balança comercial brasileira e na de transações correntes. Isso exigiu a manutenção de elevadas taxas de juros para atrair a entrada de capitais e equilibrar o balanço de pagamentos. (LACERDA, 2003, p. 247) Em conjunto com a diminuição da taxa de juros, houve também o aumento do prazo para o financiamento de veículos, que cresceu significativamente a partir de 2003, alavancando as vendas de automóveis no país. Este crescimento da indústria automobilística trouxe diversos benefícios à economia brasileira, dentre eles: geração de empregos qualificados, aumento da renda dos empregados diretos e indiretos da indústria, aumento dos lucros das montadoras, autopeças e bancos e aumento do recolhimento de impostos pelo governo. O crescimento das vendas de automóveis mostra que o consumidor continua confiante na economia do país, assumindo compromissos de longo prazo. O ano de 2010 foi bom para a indústria automobilística no Brasil, que aposta no crescimento contínuo da demanda. De acordo com artigo de economia de abril/2010, as principais montadoras de veículos no Brasil prometem investir, juntas, quase R$ 16 bilhões até 2014, ano em que o país sediará a Copa do Mundo. Entre as consequências diretas da entrada de tanto dinheiro na economia nacional, estão o aumento da arrecadação de impostos, a geração de emprego e renda. A francesa PSA Peugeot Citroën avisou que investirá R$ 1,2 bilhão (US$ 700 milhões) nos próximos dois anos para desenvolver novos veículos e motores no país. A General Motors do Brasil vai colocar R$ 1,4 bilhão nas suas unidades em São Caetano do Sul e Mogi das Cruzes. A GM traçou um plano em 2008 para investir R$ 5 bilhões até 2012. O valor anunciado faz parte deste orçamento e o projeto deve gerar 1.700 empregos diretos e indiretos até 2011. A Fiat tem meta similar. O plano era investir também R$ 5 bilhões, mas em um período mais curto de tempo, entre 2008 e 2010. Neste ano, a montadora italiana vai aplicar R$ 1,8 bilhão somente no Brasil. A Fiat está operando a 100% de sua capacidade produtiva, que é de 800 mil veículos por ano. Em janeiro, a Mercedes-Benz do Brasil conseguiu um financiamento de R$ 1,2 bilhão junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para expandir a capacidade de produção de sua unidade em São Bernardo do Campo (SP). Ainda com menor presença no país, a expansão da SUZANO ANO 4 Nº 3 ABR. 2012 ISSN: 2176-5227 montadora alemã vai ser forte. O BNDES informou que o programa global da empresa, de aumento de produção e modernização, vai gerar 1,9 milhão de empregos diretos até a conclusão do projeto, em 2011. Todas as vagas serão abertas em São Bernardo do Campo. Em novembro de 2009, a também alemã Volkswagen anunciou investimentos de R$ 6,2 bilhões no Brasil de 2010 a 2014. A montadora avisou que o programa anterior de investimentos no país - de R$ 3,2 bilhões para o intervalo de 2007 a 2011 - já foi integralmente consumido. Por outro lado, a Ford prepara o terreno para 2011, quando coloca em prática o plano de investir R$ 4 bilhões no Brasil até 2014. Situação atual do mercado automobilístico A retomada da indústria automobilística nacional impulsiona as fabricantes de veículos no Brasil. Desde 2010, quatro montadoras anunciaram investimentos no país. O montante é superior a R$ 5 bilhões – dinheiro destinado à ampliação de fábricas e à produção de novos modelos nacionais nos próximos dois a cinco anos. A Mercedes-Benz irá aplicar R$ 1,2 bilhão na fábrica da empresa em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, até 2012. Os recursos serão somados aos R$ 300 milhões já disponibilizados pela própria fabricante. De acordo com o presidente da Mercedes-Benz do Brasil, Jüergen Ziegler, 60% dos investimentos serão voltados ao aumento da capacidade produtiva de 65 mil para 75 mil unidades. Outros 30% do investimento serão voltados ao desenvolvimento de novos produtos. Isso inclui a produção de motores a diesel, adequados à nova legislação ambiental, que entra em vigor em 2012. Outro investimento da Mercedes em tecnologia é no teste do diesel de cana-de-açúcar. A Mitsubishi produzirá no país o utilitário-esportivo Pajero Dakar e o Lancer. A nacionalização irá exigir o investimento de R$ 800 milhões nos próximos cinco anos para a ampliação da fábrica em Catalão (GO). No primeiro semestre de 2011, a unidade iniciou a produção do Pajero Dakar que será comercializada pelo mesmo preço do modelo atual (a partir de R$ 153 mil). Em 2012, entrará em produção uma nova plataforma de carros de passeio da família Lancer. O contrato com a Mitsubishi Motors do Japão prevê ainda a opção de fabricação de outros modelos ainda em estudo, entre eles, carros elétricos. A General Motors e o grupo PSA Peugeot-Citroën anunciaram quase que simultaneamente o investimento de R$ 1,4 bilhão, cada uma, no país. O montante da GM será destinado à modernização e ampliação de suas fábricas em São Caetano e Mogi das Cruzes, em São Paulo, para a produção de dois novos modelos inéditos no mercado brasileiro. SUZANO ANO 4 ISSN: 2176-5227 Nº 3 ABR. 2012 A produção dos novos veículos terá início na segunda metade de 2011 e irão gerar 1,5 mil vagas de emprego, de acordo com o presidente da GM do Brasil, Jaime Ardila. Ele não quis revelar quais serão os modelos, mas disse que serão “produtos de alto volume de vendas”. Isso significa, segundo afirmou, produção anual superior a 50 mil unidades. O anúncio do investimento faz parte do plano da companhia de investir R$ 5 bilhões para fazer a renovação completa de seus veículos até 2012. Conforme pesquisa documental realizada, entende-se que o crescimento de vendas no mercado automobilístico foi resultado, principalmente, da estabilidade da economia, maior confiança do consumidor, facilidade e maior prazo para financiamento. A elevação do Salário Mínimo e a Política Social do Governo também foram fatores importantes, pois geraram aumento no poder de compra das classes C e D, que foram identificadas como o pilar do crescimento das vendas de automóveis, principalmente os financiados. Pode-se destacar também o controle da Taxa de Juros (SELIC), que se manteve estável desde 2003 e que possui grande importância na economia, pois impulsionou as vendas de automóveis a partir deste ano. Este crescimento no mercado automobilístico trouxe diversos benefícios para a economia brasileira, como: aumento na geração de empregos e renda dos trabalhadores diretos e indiretos, aumento dos lucros, das montadoras, autopeças e bancos, aumento do recolhimento de impostos pelo governo, além de contribuir expressivamente para o aumento do PIB brasileiro. Por isso, é interessante para o governo manter este mercado em aquecimento pelo maior tempo possível, porém, sem prejudicar o restante da economia. Para tanto, foi anunciada a Política Industrial, que beneficia principalmente a Indústria Automobilística através de incentivos fiscais no valor total de 3,2 bilhões até 2011, o que representa um aumento na produção de 4,3 milhões em 2010 (30%) e 5 milhões em 2013 (40%). O aumento de investimentos por parte das montadoras é outra oportunidade de crescimento para esse setor. Os principais fatores que contribuíram para esta confiança foram: expansão do emprego, melhora na renda familiar, facilidade do crediário e os programas sociais do governo. É importante destacar também que os índices projetados para as taxas de juros ainda são atrativos, o crédito disponível para financiamento está crescendo continuamente, a política nacional é clara no quesito de manter a inflação sob controle, e o Brasil possui um alto nível de reservas internacionais, fatos que aumentam a confiança do consumidor em relação ao governo e à economia. Por outro lado, deve-se considerar também os ris- REVISTA INTERFACES 71 cos ao analisarmos os possíveis panoramas futuros, como: aumento da taxa de juros e inflação, aumento da inadimplência, falta de infraestrutura rodoviária, aumento do trânsito e poluição nas cidades, entre outros. A instabilidade mundial causada pela crise americana também deve ser levada em consideração, pois caso uma recessão se instale naquele país, o Brasil poderá ser prejudicado com a redução de exportações e de investimentos internacionais. O aumento do preço do barril do petróleo, também é outra preocupação, pois afeta diretamente a economia mundial e mesmo o Brasil, que é um dos principais produtores de biocombustíveis do mundo, e influencia tudo o que é produzido aqui. Considerações finais Na análise dos riscos e oportunidades citados, entende-se que o Brasil ainda tem espaço para o crescimento da indústria automobilística, pois atualmente somente 1% da população compra carros e existem 7,5 habitantes por veículo. Para alcançar níveis como Argentina ou México, que possuem 5,5 habitantes por veículo, as vendas teriam que manter este patamar por pelo menos mais cinco anos. A condição econômica brasileira estabilizou-se de forma nunca antes vista e isto mantém os consumidores, investidores e governo otimistas com relação ao mercado automobilístico, o que nos faz entender que, mesmo com alguns panoramas negativos, o país é capaz de manter o seu crescimento e não ser mais tão prejudicado com crises internacionais. Referências Bibliográficas ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores Brasil. Disponível em: http:// www.ANFAVEA.com.br/. Acesso em: 20.abr.2010. BAER, Werner. A economia brasileira. 2. ed. São Paulo: Nobel, 2002. LACERDA, Antônio Corrêa de [et. al.]. Economia brasileira. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. Informações sobre as autoras Cristiane Paula do Vale Aluna do curso de Administração da Faculdade Unida de Suzano-UNISUZ Paula Barbosa Pudo Graduada em Letras/Tradutor pela Universidade de Mogi das Cruzes , mestrado em Lingüística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (2003) e Es- 72 REVISTA INTERFACES pecialização em Psicopedagogia pela Universidade Castelo Branco - RJ (2005. Docente da Faculdade Unida de Suzano- UNISUZ e da FATEC de Itaquaquecetuba. SUZANO ANO 4 Nº 3 ABR. 2012 ISSN: 2176-5227