ANÁLISE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA E PERCEPÇÃO DE ESFORÇO DE ATLETAS PRATICANTES DE BASQUETE EM CADEIRA DE RODAS JESSYCA BUENO DA SILVA (Bolsista CNPq / UEL), Márcia Greguol (Orientadora), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Ciências do Esporte. Área do conhecimento CNPq: SAÚDE. Sub-área do conhecimento CNPq: EDUCAÇÃO FÍSICA. Palavras-chave: basquete em cadeira de rodas, deficiência motora, frequência cardíaca, percepção de esforço. Resumo Embora já praticado há várias décadas, apenas nos anos recentes o basquete em cadeira de rodas passou a ser alvo de estudiosos na área do esporte. Assim, o objetivo deste estudo será avaliar o comportamento da frequência cardíaca e a percepção subjetiva de esforço durante uma sessão de treinamento de basquete em cadeira de rodas. Para tanto, serão avaliados os atletas do sexo masculino com deficiência motora das equipes de basquete em cadeira de rodas da Universidade Estadual de Londrina e Universidade Estadual de Maringá, com pelo menos um ano de experiência na modalidade. Serão analisados durante uma partida as variações da frequência cardíaca por meio do equipamento Polar Team System e a Percepção Subjetiva de Esforço por meio da Escala de Borg modificada. Pelos resultados obtidos conclui-se que os atletas com lesão medular apresentaram durante a partida de basquete em cadeira de rodas predominância de frequência cardíaca abaixo da zona de 70% da FC máxima predita. Além disso, houve relação fraca entre a FC obtida durante a partida e a percepção de esforço relatada, sobretudo para aqueles com lesão medular. Introdução O esporte adaptado atualmente encontra-se em um momento de destaque no âmbito nacional e internacional. A procura pela realização da sua prática sofreu grande acréscimo, contando com um número crescente de atletas com diversos tipos de deficiência. Para os indivíduos com deficiência motora, o início das práticas esportivas ocorreu com maior ênfase no final da Segunda Guerra Mundial, auxiliando como um agente facilitador na reabilitação de lesionados de guerra. No Brasil, o esporte adaptado iniciou- se com a modalidade basquetebol em cadeira de rodas, que motivou o aparecimento de clubes pelo país especializados no atendimento a pessoas com deficiências motoras (GREGUOL e GORGATTI, 2013). Segundo Caleffi, Lopes e Lima (2003), inicialmente a modalidade era praticada somente por indivíduos com lesão medular, porém atualmente conta com a participação de pessoas com qualquer deficiência motora proveniente de poliomielite, amputações, malformação congênita, distrofia muscular, lesão medular, entre outras. O basquetebol em cadeira de rodas é uma modalidade classificado como um esporte de natureza intermitente. Este padrão de atividade constituído por esforços intermitentes de alta intensidade impõe significativa sobrecarga física sobre os jogadores (MOREIRA et al., 2008). As rápidas mudanças simultâneas entre ataque e defesa refletem em sobregarcas no atleta, uma vez que ele deverá imprimir mais esforço para que possa realizar uma jogada de modo mais ágil, por exemplo uma situação de contra-ataque. Nestas situações, alguns aspectos fisiológicos tais como a frequência cardíaca e posteriomente a percepção subjetiva de esforço demandado durante o período do treino podem refletir no desempenho esportivo. Tendo em vista a relevância do tema, o objetivo deste estudo é investigar a carga de trabalho imposta a atletas com lesão medular durante uma partida de basquetebol em cadeira de rodas, por meio do acompanhamento das variações da frequência cardíaca e da percepção de esforço ao longo do tempo. Materiais e métodos Participaram do estudo dez (10) atletas do sexo masculino praticantes de basquete em cadeira de rodas das equipes da Universidade Estadual de Londrina e Universidade Estadual de Maringá. Todos os atletas deveriam apresentar lesão medular completa ou incompleta há pelo menos dois anos e praticar basquetebol em cadeira de rodas há pelo menos um ano, e terão idades entre 20 e 50 anos. A pesquisa obteve aprovação do Comitê de Ética da Universidade Estadual de Londrina, por meio do parecer 071/2014. Os dados foram coletados em jogo amistoso que ocorreu na quadra poliesportiva da Universidade Estadual de Londrina. Inicialmente, os atletas responderam a uma anamnese, informando dados relativos à sua idade, deficiência e experiência atlética. Em seguida, foi realizada uma partida entre as equipes com quatro tempos de 12 minutos a fim de que os testes pudessem ser realizados. O monitoramento da FC dos participantes foi verificado pelo Sunto Team Pod (SuntoOy, Finlândia), permite extrair o tempo total acumulado em cada uma das cinco zonas de referências - 50-60%, > 60-70%, > 70-80%, > 80-90%, > 90-100% da frequência cardíaca máxima, como sugerida por MOREIRA et al. (2008). A percepção subjetiva do esforço foi em cinco momentos aleatórios durante a partida e anotada juntamente com a FC correspondente. Ao serem questionados sobre o cansaço percebido durante cada quarto da partida, os atletas respondiam de acordo com a classificação fornecida pela escala adaptada CR10 de Borg, na qual as respostas variam de muito leve à muito pesado. O valor máximo (10) é comparado ao maior esforço físico vivenciado pelo indivíduo e o valor mínimo (zero) é caracterizado pela condição de repouso absoluto. As variáveis foram inicialmente tratadas por meio de estatística descritiva, com valores médios e de variabilidade, além de análise de frequência para as variáveis catergóricas. Foi ainda realizado teste de correlação de Spearman para se verificar a associação entre a frequência cardíaca e a percepção subjetiva de esforço, adotando-se p< 0,05. Para a análise foi utilizado o programa estatístico SPSS 20.0. Resultados e Discussão Entre os participantes do estudo, oito apresentavam lesão medular, sendo dois em nível T3, dois em T4, um T10, um em T12 e dois em L2. Ainda um participante apresentava amputação transfemoral por decorrência de um câncer ósseo e um pé torto congênito. O quadro 1 a seguir ilustra algumas variáveis descritivas sobre os participantes, incluindo os dados sobre as frequências cardíacas em repouso e durante a partida de basquete em cadeira de rodas. Comparando-se os resultados obtidos por atletas de classes funcionais mais baixas (até 2.0) e classes altas (2.5 e acima), assim como atletas fumantes e não fumantes, não foram verificadas diferenças nas variáveis pesquisadas. Quadro 1. Características descritivas dos participantes do estudo Mínimo Máximo Média Desvio padrão IDADE 22 40 32,10 6,56 TEMPO DE TREINO 24 192 85,20 48,48 (meses) PESO (kg) 43 98 68,20 18,41 ESTATURA (m) 1,69 1,95 1,80 ,08 IMC (kg/m2) 14,20 30,25 20,94 5,42 FC_REPOUSO (bpm) 57 96 79,50 12,47 FC_Média_Partida (bpm) 157 203 177,00 16,96 FC_Máxima_Partida (bpm) 108 175 149,50 20,57 . Entre os atletas participantes do estudo, quatro não estiveram em nenhum momento nas zonas de frequência de 80% a 90% e apenas outros quatro ultrapassaram os 90% da FC máxima. Apenas um atleta manteve-se por algum tempo (56%) na zona de FC mais baixa, abaixo dos 50% da FC máxima. Apenas o atleta com amputação transfemoral apresentou uma correlação forte (r = 0,697) entre os dados da FC e da percepção do esforço. Os demais atletas apresentaram correlações fracas e, em alguns casos, negativas, mostrando que não existiu relação entre o esforço percebido e a FC aferida durante a partida. Estes dados podem indicar a dificuldade de compreensão dos atletas sobre a escala de Borg, e também que, especialmente indivíduos com lesão medular, podem ter maior dificuldade em perceber o esforço de maneira adequada, por conta das condições impostas pela lesão, sobretudo no aspecto neurológico (CRYTZER et al., 2015). Conclusão Pelos resultados obtidos conclui-se que os atletas com lesão medular apresentaram durante a partida de basquete em cadeira de rodas predominância de frequência cardíaca abaixo da zona de 70% da FC máxima predita. Além disso, houve relação fraca entre a FC obtida durante a partida e a percepção de esforço relatada, sobretudo para aqueles com lesão medular. Novamente se reforça a importância de estudos sobre as variáveis fisiológicas dos atletas durante partidas de basquete em cadeira de rodas, como forma de obter informações que possam ser utilizadas por técnicos e preparadores físicos para o aprimoramento dos seus treinos. Referências GREGUOL, M.; GORGATTI, T. O esporte para pessoas com necessidades especiais. In: GREGUOL, M.; COSTA, R.F. Atividade física adaptadaqualidade de vida para pessoas com necessidades especiais. Barueri, editora Manole, 2013. CALEFFI, G. D.; LOPES, K. A. T.; LIMA, M. V. M. Basquete Sobre Rodas: Uma Experiência Universitária no Estado do Amazonas. Revista da SOBAMA 2003,8(1):2-43. MOREIRA A, OLIVEIRA PR, RONQUE ERV, OKANO AH, SOUZA M. Análise de diferentes modelos de estruturação da carga de treinamento e competição no desempenho de basquetebolistas. Revista Brasileira de Ciências do Esporte 2008;29:165-83. CRYTZER,T.; DICIANO, B.E.; ROBERTSON, R.J.; CHENG, W.T. Validity of a wheelchair perceived exertion scale (wheel scale) for arm ergometry exercise in people with spina bifida. Perceptual & Motor Skills 2015, 120(1):304-22.