medicinais v9 n3.pmd - Sociedade Brasileira de Plantas Medicinais

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Estrutura demográfica e produção de frutos de Bromelia antiacantha Bertol.
DUARTE, A.S.; VIEIRA DA SILVA, C.; PUCHALSKI, A.; MANTOVANI, M.; SILVA, J.Z.; REIS, M.S.*
Núcleo de Pesquisa em Florestas Tropicais, Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais,
Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, CEP 88040-900,
Florianópolis, SC, * [email protected].
RESUMO: A Bromelia antiacantha é uma planta nativa da Mata Atlântica utilizada na medicina
popular. Desta forma, trabalhos visando a exploração de populações naturais de B. antiacantha
necessitam ser realizados visando compatibilizar obtenção de renda e conservação dos
remanescentes da Mata Atlântica. Assim, este trabalho teve como objetivo estudar a estrutura
demográfica e a produção de frutos de uma população natural de B. antiacantha na Floresta
Nacional de Três Barras (Três Barra/SC). Para tanto foram demarcadas 10 parcelas permanentes,
com uma área de 600 m² (20x30) cada. Todas as plantas da espécie estudada que se encontravam
dentro das parcelas tiveram comprimento das folhas, altura da estrutura reprodutiva (cacho, quando
presente) avaliados e o estágio fenológico (jovem, reprodutivo ou broto) em que se encontravam
anotado. Adicionalmente, foram tomadas ao acaso 10 plantas reprodutivas, as quais tiveram
seus cachos coletados e avaliados quanto ao peso e ao número dos frutos produzidos. O número
médio de plantas por hectare aumentou de 1255 em dezembro de 1998 para 2192 plantas ha-1
(s= 402,6) em dezembro de 2002, sendo que o número médio de indivíduos reprodutivos por
hectare variou entre 28 a 122 (s=35,9) para o mesmo período. O número médio estimado de
brotações por hectare foi de 54 brotações, em 2001, e de 367 brotações, em 2002. Em 2002, os
indivíduos jovens totalizaram 1698 plantas ha-1, as plântulas provenientes de reprodução sexuada
foram em média 5 e as brotações 367 por hectare. Estes resultados foram atribuídos principalmente
ao fato da área onde foram feitas as avaliações encontrar-se perturbada (vegetação secundária),
tendo, contudo, o solo coberto com vegetação herbácea. Quanto à produção de frutos, observouse que em média uma planta reprodutiva possui um cacho de 0,66 metro (s=0,08) de altura com
um peso de 2,5 Kg (s=0,92), com média de 166,2 (s=91,2) frutos no cacho, média de comprimento
de folha igual a 2,57 metros (s=0,38) e apresentando aproximadamente em média uma brotação.
Os resultados encontrados neste trabalho indicam um bom potencial de obtenção de renda a
partir de populações naturais da espécie e contribuem para o estabelecimento de estratégias de
manejo e conservação de populações naturais de B. antiacantha na Mata Atlântica.
Palavras-chave: Mata Atlântica, plantas medicinais, manejo de populações naturais
ABSTRACT: Demographic structure and fruit production of Bromelia antiacantha Bertol.
Bromelia antiacantha is a native plant from the Tropical Atlantic Forest (TAF) and has been commonly
used in folk medicine. Works on the exploitation of B. antiacantha natural populations need to be
accomplished seeking compatibility in obtaining income rates and preservation of TAF. The aim of
this work was to study the demographic structure and fruit production in B. antiacantha natural
population in the county of Três Barras/SC (Floresta Nacional de Três Barras – IBAMA). In this
study, 10 permanent plots have been set up, each plot with a 600m² (20x30) area. All individuals
of B. antiacantha established on the plots were tagged and the leaf length and the height of the
reproductive structure (when present) were measured. The phenologic stage (juvenile, reproductive
and ramet) was also noted. Additionally, the reproductive structure of 10 reproductive plants was
randomly collected and evaluated according to its weight and number of produced fruits. The
average number of plants/ha increased from 1,255 in December of 1998 to 2,192 (s=402.6) in
December of 2002, in which the average number of reproductive individuals/ha varied from 28 to
122 (s=35.9) in the same period. The average number of ramets/ha was 54 in 2001 and 367 in
Recebido para publicação em 15/12/2005
Aceito para publicação em 08/01/2007
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.106-112, 2007.
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2002. In 2002, the juveniles totalized 1698 plants ha-1, genets average were 5 and ramets 367 per
hectare. These results were attributed to the fact that the evaluations were made in a disturbed
area (secondary vegetation), with ground covered with herbaceous vegetation. In fruit production,
it was observed an average of one reproductive plant with one reproductive structure of 0.66 meter
high (s=0.08) with 2.5 Kg (s=0.92), with an average of 166.2 (s=91.2) fruits per structure. The
average of its leaf length is 2.57 meters (s=0.38) and possessing approximately one ramet. The
results found in this work indicate a potential of attainment of income from natural populations of
this species and also can support the establishment of management and conservation strategies
of B. antiacantha natural populations in the TAF.
Key words: Atlantic forest, medicinal plants, management of natural population
INTRODUÇÃO
A Bromelia antiacantha Bertol. é uma
bromeliaceae de hábito terrestre, de 2m de altura que
forma densos agrupamentos (reboleiras),
apresentando características próprias de estrutura
espacial (densidade, dispersão, distribuição) e de
dinâmica populacional (Reitz, 1983; Santos, 2001).
Ocorre nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro,
São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul (Reitz, 1983).
A espécie possui flores perfeitas e sua
reprodução pode ser tanto sexuada como assexuada
(vegetativa), emitindo um ou mais brotos laterais logo
após o término do período floral (Reitz, 1983; Santos,
2001; Santos et al., 2004). Para a maioria das
bromeliáceas, incluindo a B. antiacantha, o final do
ciclo reprodutivo representa o final aparente do seu
ciclo de vida, podendo produzir sementes e indivíduos
por via assexuada – brotações.
Antes do aparecimento da inflorescência, o
que antecede o período reprodutivo, a espécie
apresenta no centro da roseta brácteas vermelhas. A
floração é anual iniciando em dezembro com término
entre o final de janeiro e início de fevereiro (Reitz,
1983), e embora seja uma espécie que atrai uma
ampla gama de visitantes florais, suas características
florais confirmam que é uma espécie ornitófila, mas
sem especialização para um polinizador exclusivo
(Santos, 2001). A frutificação inicia em torno de
fevereiro até o mês de junho. Por seus frutos serem
amarelos e comestíveis a Bromelia antiacantha
recebeu o nome popular de banana-do-mato (Reitz,
1983).
A Bromelia antiacantha apresenta
características medicinais, alimentícias, ornamentais
e industriais – fabricação de fibras para tecidos; além
de cordoaria e fabricação de sabão a partir dos frutos
(Reitz, 1983; Barros & Souza, 1995; Haverroth, 1997;
Mercier & Yoshida, 1998), reunindo em uma única
espécie um potencial múltiplo. Segundo Reitz (1983),
sua utilização na medicina popular é descrita desde
a década de 40, apresentando propriedades antihelmíntico, anti-tussígeno e no tratamento de cálculos
renais. Um levantamento etnobotânico realizado na
comunidade Passa Quatro localizada em Turvo,
interior do Paraná, mostrou que agricultores utilizam
os frutos de B. antiacantha para a confecção de
xaropes para tratamento de doenças do sistema
respiratório (Pacheco et al., s.d.), resultado semelhante
foi obtido por Caffer (2004).
Considerando o valor das plantas medicinais
não apenas como recurso terapêutico, mas também
como fonte de recursos econômicos, torna-se
importante estabelecer linhas de ações voltadas para
o desenvolvimento de estratégias de manejo
sustentável, tendo em vista a utilização destas
espécies vegetais aliada à manutenção do equilíbrio
dos ecossistemas tropicais (Reis, 1996).
A possibilidade de exploração sustentada de
populações naturais de espécies não madeireiras
pode favorecer a conservação dos relíctos da Mata
Atlântica, por permitir a obtenção de renda pelos
proprietários de terra (Pavan-Fruehauf, 2000; Reis &
Mariot, 2001; Mariot et al., 2003; Steenbock et al.,
2003; Reis & Steenbock, 2004).
O manejo sustentável tem como premissa
básica o controle sobre o processo de extração,
procurando atender às necessidades sociais e
econômicas, mas visando, sobretudo, a manutenção
da floresta para a continuidade de sua utilização (Reis,
1996). O sistema proposto por Fantini et al. (1992)
pressupõe uma série de estudos relacionados
principalmente a demografia, crescimento dos
indivíduos e dinâmica da regeneração. Assim, a
caracterização demográfica em distribuição por
classes diamétricas e a caracterização de uma curva
de incremento permitem a definição de quantos
indivíduos e a partir de que tamanho , devem ser
explorados. Adicionalmente, a curva de incremento e
a caracterização da dinâmica do processo de
regeneração natural, permitem a avaliação da
reposição dos estoques e recrutamento, definindo o
tempo e perspectivas de uma segunda intervenção e
subseqüentes.
Neste contexto, o trabalho objetivou estudar
a estrutura demográfica associada ao potencial da
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.106-112, 2007.
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produção de frutos da B. antiacantha , visando
fundamentar estratégias de manejo de populações
naturais da espécie.
MATERIAL E MÉTODO
Área de estudo
Os estudos foram realizados na Floresta
Nacional (FLONA) de Três Barras (26°06’23’’S,
59°19’20’’W), Unidade de Conservação Federal
administrada pelo IBAMA, que está localizada entre
os municípios de Três Barras e Canoinhas, no Estado
de Santa Catarina; possuindo 4.458 ha de área total,
sendo 614 ocupados por floresta secundária (UNC;
IBAMA, EPAGRI/Canoinhas; CIDASC; PMTB; PMC,
1997). A região possui altitudes que variam entre 500
e 1000 m. A vegetação é típica da Floresta Ombrófila
Mista, formação Montana predominando a Araucaria
angustifolia (Bertol.) Kuntze no extrato superior
(Santa Catarina, 1986). O clima da região, segundo
classificação proposta por Koeppen (1948), pode ser
definido como Cfb (Clima mesotérmico úmido, sem
estações secas, com verão ameno e geadas severas
no inverno), com temperatura apresentando um
marcado padrão sazonal (média de 16,13°C),
podendo chegar a 34°C durante o verão (novembro a
janeiro) e cair abaixo de 0°C no inverno (junho a
agosto). A umidade relativa do ar fica em torno dos
78,27% em média. A precipitação média anual é de
1512,83 mm com chuvas pouco constantes (média
de 9,40 dias ao mês) (CLIMERH/EPAGRI – período
de 1987 a 2000). O solo é classificado como Latossolo
Vermelho Aluminoférrico Câmbico (EMBRAPA, 1999),
representado por solos minerais, não hidromórficos,
com seqüência de horizontes A, B e C (Santa
Catarina, 1986).
Caracterização demográfica
Para a realização do estudo de caracterização
demográfica foram demarcadas 10 parcelas
permanentes, com uma área de 600m² (20x30) cada.
A implantação das parcelas foi realizada com auxílio
de bússola, trenas e balizas. Para a demarcação das
parcelas, foram utilizadas estacas de arame com fitas
(coloridas) amarradas em uma das extremidades.
Estas estacas foram colocadas sobre os
alinhamentos de 10 em 10 metros, subdividindo cada
uma destas parcelas em 6 subparcelas.
Todas as plantas da espécie estudada que
se encontravam dentro das parcelas, foram contadas,
identificadas e caracterizadas suas medidas
referentes às variáveis: comprimento das folhas, o
estágio fenológico (jovem, reprodutivo ou broto) em
que se encontravam e a altura da estrutura reprodutiva
(cacho – quando presente),
A medição do comprimento da folha e altura
do cacho foram feitas com uma régua, onde mediase a maior folha periférica do indivíduo. O cacho foi
medido da base até o ápice. Sendo as avaliações
feitas anualmente sempre no mês de dezembro.
De 1998 a 2000 foram feitos inventários, os
quais caracterizavam apenas a densidade (plantas/
ha) da população e o número de indivíduos reprodutivos
de B. antiacantha localizadas em Três Barras. A
regeneração natural foi caracterizada somente a partir
de 2002, a partir de resultados obtidos em avaliação
de progênies implantadas em experimentos
(Puchalski et al., 2002). Nestes experimentos
verificou-se que, no período de um ano, em condições
de sombra, desde a germinação até o crescimento,
as plantas de B. antiacantha apresentaram uma
média de comprimento de folha de 20 cm. A partir
disso, as plantas encontradas a campo que possuíam
comprimento de folha menor ou igual a 20 cm, desde
que não fossem brotações (não apresentavam vestígio
da planta mãe), foram consideradas plântulas
provenientes da dispersão e germinação de sementes
do ano anterior. Foram considerados indivíduos jovens
aquelas plantas que não estavam no seu período
reprodutivo, não apresentavam características
recentes de brotação (vestígios da planta mãe) e
possuíam mais de 20 cm de comprimento de folha.
Estimativa da produtividade
Na área de acompanhamento foram tomadas
ao acaso 10 plantas reprodutivas, as quais tiveram
seus cachos coletados. Nestes cachos foram
avaliados o peso e o número dos frutos por cacho de
cada planta. Com estes resultados estimou-se uma
produtividade de frutos por planta.
Analise dos dados
Os dados obtidos com o estudo da
caracterização demográfica foram agrupados em
classes de comprimento de folha com intervalo de
0,20 m, com base no teste de progênie de Puchalski
et al. (2002), e posteriormente, foram propostas
classes de desenvolvimento para os indivíduos da
população através de uma adaptação da
caracterização dos estádios de tamanho que foram
propostos por Reis et al. (1996) para Euterpe edulis
Martius, porém levando em consideração o tamanho
da folha, vestígio da planta mãe e presença de cacho.
Através dos dados da caracterização
demográfica obteve-se a média de indivíduos
reprodutivos por hectare. Aliando este dado ao número
médio de frutos por planta juntamente com o peso
médio dos frutos, foi possível estimar a produtividade
de fruto por hectare.
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.106-112, 2007.
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RESULTADO E DISCUSSÃO
Caracterização demográfica
Para os cinco anos avaliados, houve um
aumento no número de indivíduos desta população. O
número médio de plantas por hectare aumentou de
1255 em dezembro de 1998 para 2192 plantas ha-1
(s=402,56) em dezembro de 2002. Esses dados
indicam que ocorreu a entrada de 816 plantas ha-1,
fato caracterizado nas sucessivas avaliações
realizadas a campo em um período de 5 anos (Tabela
1). Estas novas plantas são provenientes da
regeneração natural (propagação via sementes) e das
brotações (propagação vegetativa).
O número médio de indivíduos reprodutivos
por hectare variou entre 28 a 122 (s=35,90) durante
os anos de 1998 até dezembro de 2002 (Tabela 1).
Esses dados demonstram que houve um declínio no
número de indivíduos reprodutivos entre os anos de
1999 a 2000, recuperando-se significativamente no ano
de 2001 e 2002. Esta flutuação pode estar relacionada
à uma dinâmica natural da espécie ou à influência de
fatores externos influenciando o desenvolvimento
populacional nesse período, favorecendo a
reprodução num intervalo de 4 anos. Segundo
Mondragón et al. (2004), um dos fatores que pode
interferir na demografia de uma determinada espécie
são as variações climáticas. Os autores mostram
que a Bromeliaceae Tillandsia brachycaulos Schltdl
apresentou um comportamento demográfico variado
nos três anos de avaliação, o que aparentemente foi
relacionado à incidência de chuva. Os resultados
obtidos por Santos et al. (2004) para a variação no
período germinativo de B. antiacantha também
sugerem adaptações importantes da espécie frente
a fatores de ambiente.
A Tabela 1 mostra, ainda, que o número
médio de indivíduos vegetativos por hectare é mais
de quinze vezes maior do que o número médio dos
indivíduos reprodutivos por hectare. Resultado similar
foi encontrado por Alves et al. (2004) com a
Bromeliaceae Vriesea friburguensis Mez. var.
paludosa L.B. Smith. Estes autores encontraram
uma diferença de quase seis vezes entre os
indivíduos vegetativos e os indivíduos reprodutivos.
TABELA 1. Estimativa do número médio de plantas por hectare, a partir de uma população natural de Bromelia
antiacantha avaliada durante cinco anos. NPFT, 2003.
O número médio estimado de brotações por
hectare foi de 54, em 2001, quando em média 10
plantas por hectare emitiram dois brotos, as demais
emitiram um broto, e foi encontrado entre as parcelas
um único indivíduo que apresentou quatro brotos. Estas
brotações apresentaram um comprimento médio de
folhas igual a 1,51 m, variando entre 0,39 m a 2,52 m.
Já no ano de 2002, estimou-se uma média de 367
brotações ha-1, com comprimento médio das folhas
de 0,93 m, com uma amplitude de 0,25 m a 2,85 m.
O comprimento médio das folhas dos
indivíduos reprodutivos foi de 2,57 m, variando de 1,40
m a 3,40 m, em 2001; a altura do cacho nestas plantas
foi em média 68 cm. O menor cacho mediu 48 cm e o
maior 90 cm, sendo observado também que a maior
concentração de indivíduos reprodutivos na classe de
2,4 a 2,9 m de comprimento de folha, com estrutura
de inflorescência entre 68 a 88 cm (Tabela 2).
No ano de 2002, os indivíduos jovens
caracterizaram em média a população natural com
1698 plantas ha-1, as plântulas provenientes de
reprodução sexuada totalizaram em média 5 plantas
ha-1 e as brotações uma média de 367 por hectare.
Este comportamento parece ser comum para várias
espécies da família.
Villegas (2001) afirma que plântulas da
bromélia terrestre Aechmea magdalenae (André)
André ex Baker são raramente observadas na
natureza, e Sampaio et al. (2005) relatam que não
observaram nenhuma plântula de Aechmae
nudicaulis (L.) Grisebach, bromélia terrestre de ampla
distribuição, em sua área de estudo no Parque
Nacional da Restinga de Jurubatiba RJ, os autores
atribuem este fato às altas temperaturas atingidas
no verão, uma vez que Pinheiro & Borghetti (2003)
obtiveram uma taxa de germinação para a espécie
de 90% num teste de germinação em laboratório, e
mostraram que sementes de A. nudicaulis não
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um lugar desfavorável para germinação, crescimento
ou para competir por espaço (Wilbur, 1977 apud
Cogliatti-Carvalho & Rocha 2001). Estes aspectos
podem explicar a baixa taxa de regeneração natural
da espécie por via sexuada e a alta taxa de brotações
encontradas para B. antiacantha em Três Barras, uma
vez que a área onde foram feitas as avaliações sofreu
cortes seletivos no passado e ainda se encontra
bastante perturbada, tendo, contudo, o solo coberto
com vegetação herbácea.
A Figura 1 ilustra a distribuição e densidade
da população natural avaliada de B. antiacantha,
através das medidas referentes ao comprimento das
folhas, para o ano de 2002. Os resultados indicam
que a população apresenta em média poucos
indivíduos dentro da classe com comprimento de folha
menor que 20 cm.
Com os resultados deste trabalho foram
propostas classes de desenvolvimento para os
indivíduos da população através de uma adaptação
da caracterização dos estádios de tamanho que
foram propostos por Reis et al. (1996) para Euterpes
edulis, porém levando em consideração o tamanho
da folha, vestígio da planta mãe e presença de cacho.
Indivíduos com menos de 0,20 cm foram denominados
plântulas, de 0,20 a 1,00 (m) indivíduos jovem 1 (J1),
1,00 a 2,00 (m) indivíduos jovem 2 (J2), e iguais ou
maiores que 2,00 (m) foram considerados indivíduos
adultos (A) (com potencial reprodutivo) e, finalmente,
reprodutivos (R). Os indivíduos que apresentavam
vestígios da planta mãe continuaram sendo
denominados brotos.
Desta forma, considerando a classe de
desenvolvimento estabelecida e a média de comprimento
da folha de 2,57 m para os indivíduos reprodutivos, os
dados da Figura 1 indicam a existência, em média, de
783,5 (classes 2,0-5,0 m) plantas com potencial
reprodutivo por hectare, para os próximos anos.
Número médio de planta (hectare)
germinam após exposição a temperaturas de 50°C.
Hietz et al. (2002) ao estudar crescimento, maturação
e sobrevivência de bromélias epífitas observaram que
o investimento das espécies em brotações variou
muito, que, enquanto Tillandsia deppeana Steudel
produz apenas ocasionalmente pequenas brotações
após atingirem tamanho reprodutivo, a maioria dos
indivíduos de T. juncea produzem diversos brotos de
tamanho quase igual ao da planta-mãe numa idade
ainda jovem.
Num estudo feito por Cogliatti-Carvalho &
Rocha (2001) com a bromeliaceae Neoregelia johannis
(Carriére) L.B. Smith, na Ilha Grande (RJ), os autores
encontraram um total de 148 plântulas (comprimento
de folha = 20 cm), sendo que 73 (49%) eram originárias
de reprodução vegetativa, enquanto que 75 (51%)
foram consideradas de origem sexuada. Os mesmos
autores mencionam que a taxa de reprodução
vegetativa de uma espécie pode ser explicada pelo
grau de distúrbio do sítio e por espaço disponível.
Este último fator também é mencionado por Hegazy
(1994), que ao estudar a relação entre reprodução
sexuada e assexuada da Boraginaceae Heliotropium
curassavicum L. (Boraginaceae) verificou que em
áreas abertas (< 10% de plantas recobrindo a área) a
reprodução sexuada é o principal meio de reprodução
da espécie, enquanto que em áreas fechadas (> 90%
de plantas recobrindo a área) o recrutamento por
reprodução vegetativa é bem mais freqüente. Segundo
Janzen (1980) em habitats que sofreram algum
distúrbio como queimada ou desmatamento, as
plantas que se reproduzem vegetativamente têm
maiores chances de sobrevivência, porque elas podem
recobrir a área do distúrbio mais rapidamente. Por
outro lado, a reprodução sexuada necessita de uma
maior adaptação para ocorrer com sucesso, porque
a semente pode ser predada, ou pode não germinar
devido à falta de nutriente, ou, ainda, pode cair em
FIGURA 1. Distribuição do número médio de indivíduos de Bromelia antiacantha por classes de comprimento das folhas (m).
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.106-112, 2007.
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Na Figura 2, as 367 plantas/ha oriundas da
reprodução assexuada (brotos) são apresentadas por
classe de comprimento (de 0, 25 a 2,85 m). Ticktin
et al. (2003) mencionam que para Aechmea
magdalenae, outra espécie terrestre de Bromeliaceae,
há uma variação significativa entre o tamanho das
plântulas oriundas de reprodução vegetativa das
plântulas de reprodução sexuada. As brotações
mostram um comportamento populacional
diferenciado dos demais indivíduos, devido ao
crescimento foliar acelerado, apresentando um
comportamento de distribuição de classes de
comprimento de folha e classes de desenvolvimento
específico. A diminuição que ocorreu no número de
brotos a partir da classe de tamanho de 1,47 m pode
ser devido ao desaparecimento do vestígio da planta
mãe à medida que o individuo cresce, sendo assim
classificado como adulto, ou por estes indivíduos
entrarem em estágio reprodutivo precocemente,
mudando assim sua classificação para indivíduo
reprodutivo.
Número de Brotos
Produção de frutos
Em média uma planta reprodutiva possui um
cacho de 0,66 m (s = 0,08) de altura com um peso
de 2,5 Kg (s=0,92), com média de 166,2 (s=91,2)
frutos no cacho, folha de comprimento médio de 2,57
metros (s=0,38) e apresentando aproximadamente
em média um broto (Tabela 3).
Considerando a possibilidade de explorar
50% dos cachos, ou seja, 61 cachos ha-1, e admitindo
que a média do peso do cacho de frutos foi de 2,5
Kg, pode-se estimar uma safra, para o ano de 2002,
de 152,5 Kg ha-1 de frutos de B. antiacantha. Esta
produção renderia 610 litros de xarope, tendo como
base a receita fornecida por Pacheco et al.(s/d), onde
0,5 kg de fruto rende 2 litros de xarope. Ainda segundo o
autor, o custo econômico dos ingredientes que compõem
a receita do xarope está em torno de R$ 5,00 por litro,
podendo ser vendido para o mercado a R$ 7,00 o
litro, havendo assim, uma renda bruta potencial de
R$ 4.270,00 por ha ano-1 e uma renda líquida de R$
1220,00 por ha ano-1.
Contudo, são ainda necessários estudos
adicionais para avaliação do impacto da extração
sobre a diversidade genética e regeneração natural
da espécie, bem como sobre a disponibilidade deste
recurso para a fauna, visando o estabelecimento
efetivo de estratégias sustentáveis de manejo.
FIGURA 2. Distribuição do número médio de brotos de Bromelia antiacantha, por classes de comprimento das
folhas.
TABELA 2. Número médio de plantas reprodutivas por hectare em relação ao comprimento da folha e altura da
inflorescência (2001).
Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.106-112, 2007.
112
AGRADECIMENTO
Os autores agradecem ao PIBIC/ UFSC, à
CAPES e ao CNPq pelas bolsas concedidas, ao CNPq
pelo apoio financeiro e ao pessoal da FLONA de Três
Barras/ IBAMA-SC pelo apoio institucional.
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