106 Estrutura demográfica e produção de frutos de Bromelia antiacantha Bertol. DUARTE, A.S.; VIEIRA DA SILVA, C.; PUCHALSKI, A.; MANTOVANI, M.; SILVA, J.Z.; REIS, M.S.* Núcleo de Pesquisa em Florestas Tropicais, Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais, Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, CEP 88040-900, Florianópolis, SC, * [email protected]. RESUMO: A Bromelia antiacantha é uma planta nativa da Mata Atlântica utilizada na medicina popular. Desta forma, trabalhos visando a exploração de populações naturais de B. antiacantha necessitam ser realizados visando compatibilizar obtenção de renda e conservação dos remanescentes da Mata Atlântica. Assim, este trabalho teve como objetivo estudar a estrutura demográfica e a produção de frutos de uma população natural de B. antiacantha na Floresta Nacional de Três Barras (Três Barra/SC). Para tanto foram demarcadas 10 parcelas permanentes, com uma área de 600 m² (20x30) cada. Todas as plantas da espécie estudada que se encontravam dentro das parcelas tiveram comprimento das folhas, altura da estrutura reprodutiva (cacho, quando presente) avaliados e o estágio fenológico (jovem, reprodutivo ou broto) em que se encontravam anotado. Adicionalmente, foram tomadas ao acaso 10 plantas reprodutivas, as quais tiveram seus cachos coletados e avaliados quanto ao peso e ao número dos frutos produzidos. O número médio de plantas por hectare aumentou de 1255 em dezembro de 1998 para 2192 plantas ha-1 (s= 402,6) em dezembro de 2002, sendo que o número médio de indivíduos reprodutivos por hectare variou entre 28 a 122 (s=35,9) para o mesmo período. O número médio estimado de brotações por hectare foi de 54 brotações, em 2001, e de 367 brotações, em 2002. Em 2002, os indivíduos jovens totalizaram 1698 plantas ha-1, as plântulas provenientes de reprodução sexuada foram em média 5 e as brotações 367 por hectare. Estes resultados foram atribuídos principalmente ao fato da área onde foram feitas as avaliações encontrar-se perturbada (vegetação secundária), tendo, contudo, o solo coberto com vegetação herbácea. Quanto à produção de frutos, observouse que em média uma planta reprodutiva possui um cacho de 0,66 metro (s=0,08) de altura com um peso de 2,5 Kg (s=0,92), com média de 166,2 (s=91,2) frutos no cacho, média de comprimento de folha igual a 2,57 metros (s=0,38) e apresentando aproximadamente em média uma brotação. Os resultados encontrados neste trabalho indicam um bom potencial de obtenção de renda a partir de populações naturais da espécie e contribuem para o estabelecimento de estratégias de manejo e conservação de populações naturais de B. antiacantha na Mata Atlântica. Palavras-chave: Mata Atlântica, plantas medicinais, manejo de populações naturais ABSTRACT: Demographic structure and fruit production of Bromelia antiacantha Bertol. Bromelia antiacantha is a native plant from the Tropical Atlantic Forest (TAF) and has been commonly used in folk medicine. Works on the exploitation of B. antiacantha natural populations need to be accomplished seeking compatibility in obtaining income rates and preservation of TAF. The aim of this work was to study the demographic structure and fruit production in B. antiacantha natural population in the county of Três Barras/SC (Floresta Nacional de Três Barras – IBAMA). In this study, 10 permanent plots have been set up, each plot with a 600m² (20x30) area. All individuals of B. antiacantha established on the plots were tagged and the leaf length and the height of the reproductive structure (when present) were measured. The phenologic stage (juvenile, reproductive and ramet) was also noted. Additionally, the reproductive structure of 10 reproductive plants was randomly collected and evaluated according to its weight and number of produced fruits. The average number of plants/ha increased from 1,255 in December of 1998 to 2,192 (s=402.6) in December of 2002, in which the average number of reproductive individuals/ha varied from 28 to 122 (s=35.9) in the same period. The average number of ramets/ha was 54 in 2001 and 367 in Recebido para publicação em 15/12/2005 Aceito para publicação em 08/01/2007 Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.106-112, 2007. 107 2002. In 2002, the juveniles totalized 1698 plants ha-1, genets average were 5 and ramets 367 per hectare. These results were attributed to the fact that the evaluations were made in a disturbed area (secondary vegetation), with ground covered with herbaceous vegetation. In fruit production, it was observed an average of one reproductive plant with one reproductive structure of 0.66 meter high (s=0.08) with 2.5 Kg (s=0.92), with an average of 166.2 (s=91.2) fruits per structure. The average of its leaf length is 2.57 meters (s=0.38) and possessing approximately one ramet. The results found in this work indicate a potential of attainment of income from natural populations of this species and also can support the establishment of management and conservation strategies of B. antiacantha natural populations in the TAF. Key words: Atlantic forest, medicinal plants, management of natural population INTRODUÇÃO A Bromelia antiacantha Bertol. é uma bromeliaceae de hábito terrestre, de 2m de altura que forma densos agrupamentos (reboleiras), apresentando características próprias de estrutura espacial (densidade, dispersão, distribuição) e de dinâmica populacional (Reitz, 1983; Santos, 2001). Ocorre nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Reitz, 1983). A espécie possui flores perfeitas e sua reprodução pode ser tanto sexuada como assexuada (vegetativa), emitindo um ou mais brotos laterais logo após o término do período floral (Reitz, 1983; Santos, 2001; Santos et al., 2004). Para a maioria das bromeliáceas, incluindo a B. antiacantha, o final do ciclo reprodutivo representa o final aparente do seu ciclo de vida, podendo produzir sementes e indivíduos por via assexuada – brotações. Antes do aparecimento da inflorescência, o que antecede o período reprodutivo, a espécie apresenta no centro da roseta brácteas vermelhas. A floração é anual iniciando em dezembro com término entre o final de janeiro e início de fevereiro (Reitz, 1983), e embora seja uma espécie que atrai uma ampla gama de visitantes florais, suas características florais confirmam que é uma espécie ornitófila, mas sem especialização para um polinizador exclusivo (Santos, 2001). A frutificação inicia em torno de fevereiro até o mês de junho. Por seus frutos serem amarelos e comestíveis a Bromelia antiacantha recebeu o nome popular de banana-do-mato (Reitz, 1983). A Bromelia antiacantha apresenta características medicinais, alimentícias, ornamentais e industriais – fabricação de fibras para tecidos; além de cordoaria e fabricação de sabão a partir dos frutos (Reitz, 1983; Barros & Souza, 1995; Haverroth, 1997; Mercier & Yoshida, 1998), reunindo em uma única espécie um potencial múltiplo. Segundo Reitz (1983), sua utilização na medicina popular é descrita desde a década de 40, apresentando propriedades antihelmíntico, anti-tussígeno e no tratamento de cálculos renais. Um levantamento etnobotânico realizado na comunidade Passa Quatro localizada em Turvo, interior do Paraná, mostrou que agricultores utilizam os frutos de B. antiacantha para a confecção de xaropes para tratamento de doenças do sistema respiratório (Pacheco et al., s.d.), resultado semelhante foi obtido por Caffer (2004). Considerando o valor das plantas medicinais não apenas como recurso terapêutico, mas também como fonte de recursos econômicos, torna-se importante estabelecer linhas de ações voltadas para o desenvolvimento de estratégias de manejo sustentável, tendo em vista a utilização destas espécies vegetais aliada à manutenção do equilíbrio dos ecossistemas tropicais (Reis, 1996). A possibilidade de exploração sustentada de populações naturais de espécies não madeireiras pode favorecer a conservação dos relíctos da Mata Atlântica, por permitir a obtenção de renda pelos proprietários de terra (Pavan-Fruehauf, 2000; Reis & Mariot, 2001; Mariot et al., 2003; Steenbock et al., 2003; Reis & Steenbock, 2004). O manejo sustentável tem como premissa básica o controle sobre o processo de extração, procurando atender às necessidades sociais e econômicas, mas visando, sobretudo, a manutenção da floresta para a continuidade de sua utilização (Reis, 1996). O sistema proposto por Fantini et al. (1992) pressupõe uma série de estudos relacionados principalmente a demografia, crescimento dos indivíduos e dinâmica da regeneração. Assim, a caracterização demográfica em distribuição por classes diamétricas e a caracterização de uma curva de incremento permitem a definição de quantos indivíduos e a partir de que tamanho , devem ser explorados. Adicionalmente, a curva de incremento e a caracterização da dinâmica do processo de regeneração natural, permitem a avaliação da reposição dos estoques e recrutamento, definindo o tempo e perspectivas de uma segunda intervenção e subseqüentes. Neste contexto, o trabalho objetivou estudar a estrutura demográfica associada ao potencial da Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.106-112, 2007. 108 produção de frutos da B. antiacantha , visando fundamentar estratégias de manejo de populações naturais da espécie. MATERIAL E MÉTODO Área de estudo Os estudos foram realizados na Floresta Nacional (FLONA) de Três Barras (26°06’23’’S, 59°19’20’’W), Unidade de Conservação Federal administrada pelo IBAMA, que está localizada entre os municípios de Três Barras e Canoinhas, no Estado de Santa Catarina; possuindo 4.458 ha de área total, sendo 614 ocupados por floresta secundária (UNC; IBAMA, EPAGRI/Canoinhas; CIDASC; PMTB; PMC, 1997). A região possui altitudes que variam entre 500 e 1000 m. A vegetação é típica da Floresta Ombrófila Mista, formação Montana predominando a Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze no extrato superior (Santa Catarina, 1986). O clima da região, segundo classificação proposta por Koeppen (1948), pode ser definido como Cfb (Clima mesotérmico úmido, sem estações secas, com verão ameno e geadas severas no inverno), com temperatura apresentando um marcado padrão sazonal (média de 16,13°C), podendo chegar a 34°C durante o verão (novembro a janeiro) e cair abaixo de 0°C no inverno (junho a agosto). A umidade relativa do ar fica em torno dos 78,27% em média. A precipitação média anual é de 1512,83 mm com chuvas pouco constantes (média de 9,40 dias ao mês) (CLIMERH/EPAGRI – período de 1987 a 2000). O solo é classificado como Latossolo Vermelho Aluminoférrico Câmbico (EMBRAPA, 1999), representado por solos minerais, não hidromórficos, com seqüência de horizontes A, B e C (Santa Catarina, 1986). Caracterização demográfica Para a realização do estudo de caracterização demográfica foram demarcadas 10 parcelas permanentes, com uma área de 600m² (20x30) cada. A implantação das parcelas foi realizada com auxílio de bússola, trenas e balizas. Para a demarcação das parcelas, foram utilizadas estacas de arame com fitas (coloridas) amarradas em uma das extremidades. Estas estacas foram colocadas sobre os alinhamentos de 10 em 10 metros, subdividindo cada uma destas parcelas em 6 subparcelas. Todas as plantas da espécie estudada que se encontravam dentro das parcelas, foram contadas, identificadas e caracterizadas suas medidas referentes às variáveis: comprimento das folhas, o estágio fenológico (jovem, reprodutivo ou broto) em que se encontravam e a altura da estrutura reprodutiva (cacho – quando presente), A medição do comprimento da folha e altura do cacho foram feitas com uma régua, onde mediase a maior folha periférica do indivíduo. O cacho foi medido da base até o ápice. Sendo as avaliações feitas anualmente sempre no mês de dezembro. De 1998 a 2000 foram feitos inventários, os quais caracterizavam apenas a densidade (plantas/ ha) da população e o número de indivíduos reprodutivos de B. antiacantha localizadas em Três Barras. A regeneração natural foi caracterizada somente a partir de 2002, a partir de resultados obtidos em avaliação de progênies implantadas em experimentos (Puchalski et al., 2002). Nestes experimentos verificou-se que, no período de um ano, em condições de sombra, desde a germinação até o crescimento, as plantas de B. antiacantha apresentaram uma média de comprimento de folha de 20 cm. A partir disso, as plantas encontradas a campo que possuíam comprimento de folha menor ou igual a 20 cm, desde que não fossem brotações (não apresentavam vestígio da planta mãe), foram consideradas plântulas provenientes da dispersão e germinação de sementes do ano anterior. Foram considerados indivíduos jovens aquelas plantas que não estavam no seu período reprodutivo, não apresentavam características recentes de brotação (vestígios da planta mãe) e possuíam mais de 20 cm de comprimento de folha. Estimativa da produtividade Na área de acompanhamento foram tomadas ao acaso 10 plantas reprodutivas, as quais tiveram seus cachos coletados. Nestes cachos foram avaliados o peso e o número dos frutos por cacho de cada planta. Com estes resultados estimou-se uma produtividade de frutos por planta. Analise dos dados Os dados obtidos com o estudo da caracterização demográfica foram agrupados em classes de comprimento de folha com intervalo de 0,20 m, com base no teste de progênie de Puchalski et al. (2002), e posteriormente, foram propostas classes de desenvolvimento para os indivíduos da população através de uma adaptação da caracterização dos estádios de tamanho que foram propostos por Reis et al. (1996) para Euterpe edulis Martius, porém levando em consideração o tamanho da folha, vestígio da planta mãe e presença de cacho. Através dos dados da caracterização demográfica obteve-se a média de indivíduos reprodutivos por hectare. Aliando este dado ao número médio de frutos por planta juntamente com o peso médio dos frutos, foi possível estimar a produtividade de fruto por hectare. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.106-112, 2007. 109 RESULTADO E DISCUSSÃO Caracterização demográfica Para os cinco anos avaliados, houve um aumento no número de indivíduos desta população. O número médio de plantas por hectare aumentou de 1255 em dezembro de 1998 para 2192 plantas ha-1 (s=402,56) em dezembro de 2002. Esses dados indicam que ocorreu a entrada de 816 plantas ha-1, fato caracterizado nas sucessivas avaliações realizadas a campo em um período de 5 anos (Tabela 1). Estas novas plantas são provenientes da regeneração natural (propagação via sementes) e das brotações (propagação vegetativa). O número médio de indivíduos reprodutivos por hectare variou entre 28 a 122 (s=35,90) durante os anos de 1998 até dezembro de 2002 (Tabela 1). Esses dados demonstram que houve um declínio no número de indivíduos reprodutivos entre os anos de 1999 a 2000, recuperando-se significativamente no ano de 2001 e 2002. Esta flutuação pode estar relacionada à uma dinâmica natural da espécie ou à influência de fatores externos influenciando o desenvolvimento populacional nesse período, favorecendo a reprodução num intervalo de 4 anos. Segundo Mondragón et al. (2004), um dos fatores que pode interferir na demografia de uma determinada espécie são as variações climáticas. Os autores mostram que a Bromeliaceae Tillandsia brachycaulos Schltdl apresentou um comportamento demográfico variado nos três anos de avaliação, o que aparentemente foi relacionado à incidência de chuva. Os resultados obtidos por Santos et al. (2004) para a variação no período germinativo de B. antiacantha também sugerem adaptações importantes da espécie frente a fatores de ambiente. A Tabela 1 mostra, ainda, que o número médio de indivíduos vegetativos por hectare é mais de quinze vezes maior do que o número médio dos indivíduos reprodutivos por hectare. Resultado similar foi encontrado por Alves et al. (2004) com a Bromeliaceae Vriesea friburguensis Mez. var. paludosa L.B. Smith. Estes autores encontraram uma diferença de quase seis vezes entre os indivíduos vegetativos e os indivíduos reprodutivos. TABELA 1. Estimativa do número médio de plantas por hectare, a partir de uma população natural de Bromelia antiacantha avaliada durante cinco anos. NPFT, 2003. O número médio estimado de brotações por hectare foi de 54, em 2001, quando em média 10 plantas por hectare emitiram dois brotos, as demais emitiram um broto, e foi encontrado entre as parcelas um único indivíduo que apresentou quatro brotos. Estas brotações apresentaram um comprimento médio de folhas igual a 1,51 m, variando entre 0,39 m a 2,52 m. Já no ano de 2002, estimou-se uma média de 367 brotações ha-1, com comprimento médio das folhas de 0,93 m, com uma amplitude de 0,25 m a 2,85 m. O comprimento médio das folhas dos indivíduos reprodutivos foi de 2,57 m, variando de 1,40 m a 3,40 m, em 2001; a altura do cacho nestas plantas foi em média 68 cm. O menor cacho mediu 48 cm e o maior 90 cm, sendo observado também que a maior concentração de indivíduos reprodutivos na classe de 2,4 a 2,9 m de comprimento de folha, com estrutura de inflorescência entre 68 a 88 cm (Tabela 2). No ano de 2002, os indivíduos jovens caracterizaram em média a população natural com 1698 plantas ha-1, as plântulas provenientes de reprodução sexuada totalizaram em média 5 plantas ha-1 e as brotações uma média de 367 por hectare. Este comportamento parece ser comum para várias espécies da família. Villegas (2001) afirma que plântulas da bromélia terrestre Aechmea magdalenae (André) André ex Baker são raramente observadas na natureza, e Sampaio et al. (2005) relatam que não observaram nenhuma plântula de Aechmae nudicaulis (L.) Grisebach, bromélia terrestre de ampla distribuição, em sua área de estudo no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba RJ, os autores atribuem este fato às altas temperaturas atingidas no verão, uma vez que Pinheiro & Borghetti (2003) obtiveram uma taxa de germinação para a espécie de 90% num teste de germinação em laboratório, e mostraram que sementes de A. nudicaulis não Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.106-112, 2007. 110 um lugar desfavorável para germinação, crescimento ou para competir por espaço (Wilbur, 1977 apud Cogliatti-Carvalho & Rocha 2001). Estes aspectos podem explicar a baixa taxa de regeneração natural da espécie por via sexuada e a alta taxa de brotações encontradas para B. antiacantha em Três Barras, uma vez que a área onde foram feitas as avaliações sofreu cortes seletivos no passado e ainda se encontra bastante perturbada, tendo, contudo, o solo coberto com vegetação herbácea. A Figura 1 ilustra a distribuição e densidade da população natural avaliada de B. antiacantha, através das medidas referentes ao comprimento das folhas, para o ano de 2002. Os resultados indicam que a população apresenta em média poucos indivíduos dentro da classe com comprimento de folha menor que 20 cm. Com os resultados deste trabalho foram propostas classes de desenvolvimento para os indivíduos da população através de uma adaptação da caracterização dos estádios de tamanho que foram propostos por Reis et al. (1996) para Euterpes edulis, porém levando em consideração o tamanho da folha, vestígio da planta mãe e presença de cacho. Indivíduos com menos de 0,20 cm foram denominados plântulas, de 0,20 a 1,00 (m) indivíduos jovem 1 (J1), 1,00 a 2,00 (m) indivíduos jovem 2 (J2), e iguais ou maiores que 2,00 (m) foram considerados indivíduos adultos (A) (com potencial reprodutivo) e, finalmente, reprodutivos (R). Os indivíduos que apresentavam vestígios da planta mãe continuaram sendo denominados brotos. Desta forma, considerando a classe de desenvolvimento estabelecida e a média de comprimento da folha de 2,57 m para os indivíduos reprodutivos, os dados da Figura 1 indicam a existência, em média, de 783,5 (classes 2,0-5,0 m) plantas com potencial reprodutivo por hectare, para os próximos anos. Número médio de planta (hectare) germinam após exposição a temperaturas de 50°C. Hietz et al. (2002) ao estudar crescimento, maturação e sobrevivência de bromélias epífitas observaram que o investimento das espécies em brotações variou muito, que, enquanto Tillandsia deppeana Steudel produz apenas ocasionalmente pequenas brotações após atingirem tamanho reprodutivo, a maioria dos indivíduos de T. juncea produzem diversos brotos de tamanho quase igual ao da planta-mãe numa idade ainda jovem. Num estudo feito por Cogliatti-Carvalho & Rocha (2001) com a bromeliaceae Neoregelia johannis (Carriére) L.B. Smith, na Ilha Grande (RJ), os autores encontraram um total de 148 plântulas (comprimento de folha = 20 cm), sendo que 73 (49%) eram originárias de reprodução vegetativa, enquanto que 75 (51%) foram consideradas de origem sexuada. Os mesmos autores mencionam que a taxa de reprodução vegetativa de uma espécie pode ser explicada pelo grau de distúrbio do sítio e por espaço disponível. Este último fator também é mencionado por Hegazy (1994), que ao estudar a relação entre reprodução sexuada e assexuada da Boraginaceae Heliotropium curassavicum L. (Boraginaceae) verificou que em áreas abertas (< 10% de plantas recobrindo a área) a reprodução sexuada é o principal meio de reprodução da espécie, enquanto que em áreas fechadas (> 90% de plantas recobrindo a área) o recrutamento por reprodução vegetativa é bem mais freqüente. Segundo Janzen (1980) em habitats que sofreram algum distúrbio como queimada ou desmatamento, as plantas que se reproduzem vegetativamente têm maiores chances de sobrevivência, porque elas podem recobrir a área do distúrbio mais rapidamente. Por outro lado, a reprodução sexuada necessita de uma maior adaptação para ocorrer com sucesso, porque a semente pode ser predada, ou pode não germinar devido à falta de nutriente, ou, ainda, pode cair em FIGURA 1. Distribuição do número médio de indivíduos de Bromelia antiacantha por classes de comprimento das folhas (m). Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.106-112, 2007. 111 Na Figura 2, as 367 plantas/ha oriundas da reprodução assexuada (brotos) são apresentadas por classe de comprimento (de 0, 25 a 2,85 m). Ticktin et al. (2003) mencionam que para Aechmea magdalenae, outra espécie terrestre de Bromeliaceae, há uma variação significativa entre o tamanho das plântulas oriundas de reprodução vegetativa das plântulas de reprodução sexuada. As brotações mostram um comportamento populacional diferenciado dos demais indivíduos, devido ao crescimento foliar acelerado, apresentando um comportamento de distribuição de classes de comprimento de folha e classes de desenvolvimento específico. A diminuição que ocorreu no número de brotos a partir da classe de tamanho de 1,47 m pode ser devido ao desaparecimento do vestígio da planta mãe à medida que o individuo cresce, sendo assim classificado como adulto, ou por estes indivíduos entrarem em estágio reprodutivo precocemente, mudando assim sua classificação para indivíduo reprodutivo. Número de Brotos Produção de frutos Em média uma planta reprodutiva possui um cacho de 0,66 m (s = 0,08) de altura com um peso de 2,5 Kg (s=0,92), com média de 166,2 (s=91,2) frutos no cacho, folha de comprimento médio de 2,57 metros (s=0,38) e apresentando aproximadamente em média um broto (Tabela 3). Considerando a possibilidade de explorar 50% dos cachos, ou seja, 61 cachos ha-1, e admitindo que a média do peso do cacho de frutos foi de 2,5 Kg, pode-se estimar uma safra, para o ano de 2002, de 152,5 Kg ha-1 de frutos de B. antiacantha. Esta produção renderia 610 litros de xarope, tendo como base a receita fornecida por Pacheco et al.(s/d), onde 0,5 kg de fruto rende 2 litros de xarope. Ainda segundo o autor, o custo econômico dos ingredientes que compõem a receita do xarope está em torno de R$ 5,00 por litro, podendo ser vendido para o mercado a R$ 7,00 o litro, havendo assim, uma renda bruta potencial de R$ 4.270,00 por ha ano-1 e uma renda líquida de R$ 1220,00 por ha ano-1. Contudo, são ainda necessários estudos adicionais para avaliação do impacto da extração sobre a diversidade genética e regeneração natural da espécie, bem como sobre a disponibilidade deste recurso para a fauna, visando o estabelecimento efetivo de estratégias sustentáveis de manejo. FIGURA 2. Distribuição do número médio de brotos de Bromelia antiacantha, por classes de comprimento das folhas. TABELA 2. Número médio de plantas reprodutivas por hectare em relação ao comprimento da folha e altura da inflorescência (2001). Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.9, n.3, p.106-112, 2007. 112 AGRADECIMENTO Os autores agradecem ao PIBIC/ UFSC, à CAPES e ao CNPq pelas bolsas concedidas, ao CNPq pelo apoio financeiro e ao pessoal da FLONA de Três Barras/ IBAMA-SC pelo apoio institucional. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ALVES, G.M. et al. Allozymic markers and genetic characterization of natural population of Vriesea friburguensis var. paludosa, a bromeliad from the Atlantic Forest. Plant Genetic Resources, v.2. n.1, 23-8, 2004. BARROS, I.P.I.; SOUZA, P.L.Coleta de germoplasma de Bromélia antiacantha (Bromeliaceae) no Rio Grande do Sul. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE RECURSOS GENÉTICOS VEGETAIS, 1995, Campinas. Anais... Campinas, 1995. p.17. CAFFER, M.M. 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