varizes Desimpedir a circulação Exercício físico, controlo do peso e meias de compressão são bons aliados no combate às varizes Se passa muito tempo de pé, faz pouco exercício físico e tem familiares diretos com varizes, é um forte candidato a desenvolver este problema, que afeta mais de metade da população adulta portuguesa. As mulheres são as principais vítimas. A maioria apresenta apenas imperfeições estéticas, conhecidas por varicoses ou derrames, passíveis de resolução por laser ou escleroterapia (injeção de um líquido na veia). Exercitar as pernas, usar meias de compressão e controlar o peso podem evitar males maiores. Uma veia sinuosa, muito longa e com grande dilatação deve ser eliminada. Avaria no sistema ■ As varizes podem surgir em qualquer zona do corpo, embora sejam mais comuns nas pernas. De início, manifestam-se por uma cor vermelho-azulada na pele. Com o evoluir do processo, a veia Casos graves Sob vigilância Consulte o médico se: sentir dor, irritação ou outro desconforto; tiver feridas ou a pele irritada sobre as veias; o problema se mantiver ou piorar quando toma medidas como elevar as pernas; surgirem complicações, como feridas abertas ou inflamação das veias. teste saúde 102 abril/maio 2013 ´ ´ ´ ´ 22 Reserve os saltos altos para ocasiões especiais e massaje as pernas de baixo para cima torna-se visível à superfície da pele. É comum a pessoa sentir dores, inchaço, sensação de peso nas pernas e formigueiro ou cãibras, em particular durante a noite. ■ A dilatação surge, na maioria dos casos, devido à acumulação de sangue, que faz pressão nas paredes das veias. A função destas componentes do sistema circulatório é transportar o sangue pobre em oxigénio até ao coração e pulmões, a fim de ser renovado. Para que o sangue suba das pernas para o coração, é necessário um sistema de bombagem, que inclui músculos das pernas e da planta do pé, e válvulas antirretorno. Como nasce uma variz Veias sem problemas Veias varicosas O sangue sobe para o coração impulsionado pelos músculos das pernas. Quando estes relaxam, as válvulas impedem o refluxo As válvulas não impedem o refluxo do sangue, que se acumula nas pernas. As veias dilatam e tornam-se visíveis ■ Ao ficar de pé durante muito tempo, reduz a eficácia da bombagem muscular e exige um esforço contínuo às válvulas. Estas podem “perder a força” e ter maior dificuldade em “empurrar” o sangue e impedir o seu refluxo, contrariando a gravidade. Os membros inferiores acumulam sangue, que pressiona a parede das veias. Estas aumentam de volume, perdem flexibilidade e endurecem. Conse- quências idênticas ocorrem com a idade, pelo que o risco de desenvolver varizes é maior a partir dos 30 anos. O perigo é mais elevado para quem fuma. ■ As hormonas presentes na pílula contracetiva e na terapia hormonal de substituição, usada para melhorar os sintomas da menopausa, têm a sua quota-parte de Permanecer muito tempo de pé é a principal causa das varizes Derrames e microvarizes Imperfeições estéticas sem gravidade ´ Os derrames são pequenos vasos sanguíneos dilatados. Apresentam-se à superfície da pele, avermelhados ou azulados e da grossura de um cabelo. As microvarizes são maiores, azuladas, e também se encontram à superfície da pele. ´ Nenhuma destas imperfeições estéticas é grave e não há risco de evoluírem para situações mais sérias. Se forem muito incómodas aos olhos de quem as apresenta, podem ser eliminadas com laser ou através da injeção de um líquido (escleroterapia). ´ Em geral, estes tratamentos são feitos ao nível privado (o Serviço Nacional de Saúde não comparticipa) e custam entre 75 e 150 euros por sessão. O número de tratamentos depende das zonas a tratar. Os derrames podem ser eliminados por escleroterapia responsabilidade na dilatação das veias, embora não esteja provado que causem varizes. ■ A gravidez é também um período sensível: o desenvolvimento do útero, as alterações hormonais e o aumento do volume sanguíneo levam, muitas vezes, ao agravamento de varizes existentes ou ao aparecimento de novas. ■ As cirurgias e a imobilização prolongadas, por exemplo, favorecem a formação de coágulos de sangue nas veias profundas (trombose), que dificultam a passagem do sangue. Este, por sua vez, faz pressão sobre as válvulas das veias das pernas e pode danificá-las. ■ O problema pode evoluir e tornar-se crónico. As pernas incham, devido à deficiente circulação do sangue, ficam vermelhas ou acastanhadas e a pele que cobre as varizes torna-se muito fina. Por isso, qualquer toque ou arranhão pode abrir feridas e causar hemorragias ou úlceras. Dado que a cicatrização é mais lenta, os ferimentos demoram a curar e, nalgumas casos, tornam-se crónicos. ■ As paredes das veias podem inflamar (flebite) e causar dor. Nos casos mais complicados, formam-se coágulos que “entopem” as > teste saúde 102 abril/maio 2013 Mulheres em risco 23 varizes > TESTE SAÚDE ENTREVISTA Angélica Damião, especialista em cirurgia vascular “A esclerose de derrames é um ato médico” A eliminação dos derrames é uma opção estética. As varizes devem ser retiradas, para prevenir complicações teste saúde 102 abril/maio 2013 Em que situações as varizes têm indicação para cirurgia? Quando são mesmo varizes. Este termo é aplicado incorretamente a pequenos vasos dilatados, que não têm gravidade. As verdadeiras varizes, veias tortuosas que se salientam na pele, são a manifestação de uma doença vascular que pode ter complicações, pelo que devem ser eliminadas. A mais grave é a formação de um coágulo, que pode causar a morte por embolia pulmonar, se não for tratado. Mas há também o risco de hemorragias: por vezes, basta o paciente roçar inadvertidamente em qualquer coisa, mesmo a dormir, para perder uma grande quantidade de sangue. As úlceras crónicas são outra complicação comum e uma grande despesa para o erário público. 24 O Serviço Nacional de Saúde dá resposta a estes pacientes? Sim. A cirurgia pode ser feita através do Serviço Nacional de Saúde, embora o paciente tenha de se sujeitar às listas de espera. Julgo que, neste momento, a espera será de cerca de seis meses. Por vezes, os institutos de beleza têm anúncios sobre tratamentos de varizes. Também as eliminam? Não. A intervenção às varizes implica um bloco operatório esterilizado e uma equipa mé- dica. Se me falar em esclerose de varicoses, os chamados derrames, infelizmente, os institutos de beleza fazem-na. Mas não deveriam, porque é um ato médico que implica riscos. Por exemplo, uma injeção intra-arterial do líquido esclerosante pode causar uma isquemia grave no membro [suspensão da circulação sanguínea]. Se as concentrações deste líquido forem muito elevadas, podem surgir manchas e pigmentações na pele. Se houver extravasamento da injeção, os tecidos afetados podem morrer, formando-se uma ferida. Tem conhecimento de acidentes ocorridos nestes institutos? Ultimamente, não. Mas também é difícil obter essa informação, porque a pessoas não se queixam. Se um médico errar, e isso pode acontecer, o paciente pode responsabilizá-lo, por exemplo, através da Ordem dos Médicos. Se for um profissional não médico, a quem recorremos? No passado, assisti doentes com pigmentações e ulcerações resultantes dessas intervenções. veias e dificultam ainda mais a circulação do sangue. Há ainda o risco de estes coágulos serem transportados para os pulmões, podendo causar a morte. Aperto libertador ■ O diagnóstico das varizes é feito através da observação e eventual palpação das pernas. O médico também pode pedir exames imagiológicos (ecodoppler) para avaliar a circulação e o funcionamento das veias. ■ O problema não tem uma solução definitiva. Os tratamentos existentes visam melhorar os sintomas, retardar o aparecimento de novas varizes e prevenir complicações de saúde. ■ Para ter todas as armas do seu lado, convém manter o peso em níveis ideais e praticar exercício físico regularmente. Descansar com as pernas elevadas, ao nível do coração, permite que o sangue suba mais facilmente. ■ Se passa muito tempo de pé e/ou já tem varizes, é aconselhável usar meias de compressão. Estas não tratam o problema, mas aliviam o incómodo causado pela dor e pelo inchaço. Existem três níveis de compressão. O primeiro destina-se a sintomas ligeiros e usa-se como prevenção. A compressão média (classe 2) é útil para pessoas que já apresentem varizes, dores e inchaço nas pernas. A compressão forte (classe 3) aplica-se quando já existe uma insuficiência venosa grave. Fale com o seu médico para saber qual a mais adequada. ■ Existem meias de várias cores, em collants, até à coxa ou abaixo do joelho. As últimas não são aconselhadas, já que dificultam a circulação. ■ Os cremes e géis dão uma sensação de frescura e ajudam a aliviar o ardor e o mal-estar, mas nada mais. Existem ainda fármacos em comprimidos e suplementos alimentares, por exemplo, à base de flavonoides. Alguns estudos sugerem que podem melhorar as quei- Quanto custa aliviar o incómodo causado pelas veias dilatadas? Meias de compressão Comprimidos Cremes ou géis Com o nível de compressão adequado, ajudam a aliviar os sintomas, como a dor e o inchaço . Não atuam sobre as varizes, mas podem reduzir as queixas associadas ao inchaço. Não atuam sobre as varizes. Refrescam e hidratam a pele, aliviando o ardor. Preço € 10 (compressão ligeira) € 10 a € 25 (compressão média) € 19 a € 33 (compressão forte) Preço € 8 a € 21 por 30 a 60 unidades de medicamento ou suplemento alimentar Preço € 6 a € 15 por embalagem de 100 a 200 mililitros Bisturi, luz e calor ■ As veias longas, sinuosas e dilatadas devem ser eliminadas, se o paciente não apresentar contraindicações, como trombose, doença nas artérias ou problemas articulares que limitem a mobilidade. ■ Se feita através do Serviço Nacional de Saúde, a cirurgia não tem custos para o utente. ■ A cirurgia tradicional, também conhecida por stripping , é ainda a técnica mais utilizada na ablação da veia. Dependendo da localização, o médico faz um pequeno corte na virilha ou atrás do joelho e retira a veia afetada e todos os vasos a ela ligados. Esta operação não garante a ausência de varizes a longo prazo: 19 a 32 por cento dos pacientes desenvolvem-nas novamente. Após a cirurgia, há risco de hematoma e cicatrizes. Em clínicas privadas, a intervenção custa até 5 mil ou 8 mil euros, consoante se opere uma ou duas pernas. Inclui um dia de internamento. ■ Se a variz não for muito grossa, a escleroterapia pode ser uma opção. Consiste na injeção de um líquido esclerosante, que seca a veia. Podem ser necessárias várias sessões de tratamento, que custam entre 75 e 150 euros cada. É rápido, não exige anestesia, mas pode matar os tecidos envolventes e provocar pigmentação da pele. Na maioria dos casos, o problema volta num período de 10 anos. Se a injeção do líquido for guiada por ecografia, o sucesso aumenta. ■ Nos últimos anos, desenvolveu-se ablação por laser e radiofrequência. A primeira implica a introdução de uma fibra com o laser na variz e a segunda, de um cateter com energia de radiofrequência. Em ambos os casos, o calor produzido queima a parede da veia e cria coágulos que a obstruem. O paciente pode sentir dor, sofrer hematomas e pequenas queimaduras. Ainda não são conhecidos os resultados a longo prazo da terapia. Três anos após a operação, 94% dos que foram sujeitos a intervenção com laser continuavam sem varizes, o mesmo sucedendo com 84% dos tratados com radiofrequência. mais vale prevenir Pernas em movimento ´ Pratique exercíco físico regularmente. Por exemplo, andar a pé, de bicicleta ou nadar ajudam a manter os mecanismos de bombagem do sangue em bom estado. ´ Repouse com as pernas elevadas, ao nível do coração, e massaje-as de baixo para cima. Se estiver acamado, procure fazer movimentos circulares com os pés e pedale com as pernas. ´ Se permanece muito tempo de pé ou vai fazer uma viagem superior a três horas, calce meias de compressão. Se não tem varizes, basta uma meia com compressão ligeira. ´ Não use sapatos, calças e meias apertados, sobretudo, se tiverem "efeito garrote" abaixo do joelho. ´ ´ Evite apanhar calor direto nas pernas. Este favorece a dilatação das veias. Siga uma dieta rica em fibras (por exemplo, vegetais e fruta) e beba muita água. teste saúde 102 abril/maio 2013 xas associadas ao inchaço, mas a sua eficácia não está provada. 25