TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO INTRODUÇÃO À TOPOLOGIA ALGÉBRICA: O GRUPO FUNDAMENTAL DO CÍRCULO Tulipa Gabriela Guilhermina Juvenal da Silva JOINVILLE, 2014 Tulipa Gabriela Guilhermina Juvenal da Silva INTRODUÇÃO À TOPOLOGIA ALGÉBRICA: O GRUPO FUNDAMENTAL DO CÍRCULO Trabalho de Graduação apresentado ao Curso de Licenciatura em Matemática do Centro de Ciências Tecnológicas, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Matemática. Orientador: Prof. Me. Rodrigo de Lima JOINVILLE, SC 2014 Agradecimentos A todos os parentes, amigos e professores que me auxiliaram e incentivaram. Em especial, agradeço ao meu orientador, Rodrigo de Lima e meu irmão, Nelson Juvena. Pois, sem eles este trabalho jamais seria possível. Resumo SILVA, Tulipa da. Introdução à topologia algébrica: grupo fundamental do círculo. 2014. 103 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura em Matemática) Universidade do Estado de Santa Catarina, Joinville, 2014. A topologia algébrica associa a um determinado espaço topológico uma estrutura algébrica. O grupo fundamental, por exemplo, associa grupos a espaços topológicos conexos por caminhos. Este tipo de tratamento matemático é capaz de fornecer observações e propriedades referentes a grupos, o que não seria possível anteriormente. Tomando o grupo quociente de homotopia por caminhos em um espaço topológico, os quais começam e terminam em um escolhido ponto base, teremos um grupo com a operação produto entre caminhos. A este grupo dá-se o nome de grupo fundamental. O grupo fundamental é invariante topológico. Neste trabalho, foi feito um estudo teórico de todas as definições topológicas necessárias para a compreensão do grupo fundamental do círculo, e uma aplicação ao demonstrar o Teorema fundamental da álgebra utilizando grupos fundamentais. Este estudo teve como elemento base o livro intitulado Topology de James Munkres. Palavras-chave: Topologia. Topologia quociente. Topologia algébrica. Grupo fundamental do círculo. Abstract SILVA, Tulipa da. Algebraic Topology: Fundamental Group of the Circle. 2014. 103 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura em Matemática) - Universidade do Estado de Santa Catarina, Joinville, 2014. The algebraic topology associates a topological space an algebraic structure. The fundamental group, for example, associates related topological spaces to path connectedness spaces. Thus, this type of treatment mathematician is able to provide observations regarding properties of groups, what would not possible previously. Taking the quotient group of homotopy by paths them a topological space whose begin and end in a chosen base point, we obtain a group with a concatenation operation. To these group we we the fundamental group. The fundamental group is a topological invariant. In this work, we had studied theoretical of all topological definitions needed to understanding the fundamental the group of circle, and their application demonstrating the basic theorem of algebra. This study was based on the book named Topology by James Munkres. Key-words: Topology. Quotient topology. Algebraic topology. Fundamental group of the circle. Lista de ilustrações Figura 1 – Diagrama de representação do Teorema (3.9) 55 Figura 2 – Diagrama de representação do Teorema (3.10) 56 Figura 3 – Curva do seno. . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 Figura 4 – Homotopias por caminho. . . . . . . . . . . . 79 Figura 5 – Diagrama de lavantamento. . . . . . . . . . . 91 Lista de símbolos 𝐵𝑛 Bola fechada em R𝑛 de centro na origem e raio unitário N Conjunto dos números naturais Z Conjunto dos números inteiros Q Conjunto dos números racionais R Conjunto dos números reais R𝑛 Conjunto R × . . . × R ⏞ ⏟ 𝑛 𝑣𝑒𝑧𝑒𝑠 C Conjunto dos números complexos 𝑆1 Círculo unitário 0 Elemento nulo do espaço em questão 𝑆𝑛 Esfera unitária de dimensão 𝑛 𝐼 Intervalo [0, 1] pertencente aos reais R2 Plano R × R Sumário 1 INTRODUÇÃO A ESPAÇOS TOPOLÓGICOS 17 1.1 ESPAÇOS TOPOLÓGICOS . . . . . . . . . . 17 1.2 BASES TOPOLÓGICAS . . . . . . . . . . . . 20 1.3 SUBBASE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 1.4 TOPOLOGIAS NA RETA REAL . . . . . . . 24 2 TOPOLOGIAS IMPORTANTES . . . . . . . 27 2.1 TOPOLOGIA DA ORDEM . . . . . . . . . . 27 2.2 TOPOLOGIA PRODUTO . . . . . . . . . . . 28 2.3 TOPOLOGIA DO SUBESPAÇO . . . . . . . 30 2.4 CONJUNTOS FECHADOS . . . . . . . . . . 32 2.5 ESPAÇOS DE HAUSDORFF . . . . . . . . . 36 3 CONTINUIDADE DE FUNÇÕES . . . . . . 39 3.1 FUNÇÕES CONTÍNUAS . . . . . . . . . . . 39 3.2 HOMEOMORFISMO . . . . . . . . . . . . . 42 3.3 ESPAÇOS MÉTRICOS . . . . . . . . . . . . 45 3.4 TOPOLOGIA QUOCIENTE . . . . . . . . . . 50 3.5 ESPAÇOS CONEXOS . . . . . . . . . . . . . 55 3.6 CONEXIDADE LOCAL . . . . . . . . . . . . 63 3.7 ESPAÇOS COMPACTOS . . . . . . . . . . . 67 4 GRUPO FUNDAMENTAL . . . . . . . . . . 77 4.1 HOMOTOPIA . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 4.2 GRUPO FUNDAMENTAL . . . . . . . . . . 84 4.3 ESPAÇOS DE RECOBRIMENTO . . . . . . 88 4.4 GRUPO FUNDAMENTAL DO CÍRCULO . . 4.5 TEOREMA FUNDAMENTAL DA ÁLGEBRA 94 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 99 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 17 1 INTRODUÇÃO A ESPAÇOS TOPOLÓGICOS 1.1 ESPAÇOS TOPOLÓGICOS Nesta seção estudaremos alguns elementos de topologia que são essenciais ao que se trata o trabalho. Neste capítulo foram utilizados como bibliografia prioritaria Munkres (2000), Lima (2009) e D’Ambrósio (1977). Definição 1.1. Uma topologia em um conjunto 𝑋 é uma coleção 𝒯 de subconjuntos de 𝑋 com as seguintes propriedades: i) ∅ e 𝑋 pertencem a 𝒯 ; ii) A união dos elementos de qualquer subcoleção de 𝒯 pertence a 𝒯 ; iii) A interseção dos elementos de qualquer subcoleção finita de 𝒯 pertence a 𝒯 . Um espaço topológico é um par ordenado (𝑋,𝒯 ), com 𝑋 um conjunto e 𝒯 uma topologia em 𝑋. Definição 1.2. Seja 𝑋 um espaço topológico com topologia 𝒯 . Dizemos que um subconjunto 𝑈 de 𝑋 é um aberto em 𝑋 quando 𝑈 pertence a coleção 𝒯 . Exemplo 1.1. Dado o conjunto 𝑋 = {𝑎, 𝑏, 𝑐, 𝑑, 𝑒} temos que: 18 Capítulo 1. INTRODUÇÃO A ESPAÇOS TOPOLÓGICOS 𝒯1 = {∅, 𝑋, {𝑎}, {𝑐, 𝑑}, {𝑎, 𝑐, 𝑑}, {𝑏, 𝑐, 𝑑, 𝑒} é uma topologia em 𝑋. 𝒯2 = {∅, 𝑋, {𝑎}, {𝑐, 𝑑}, {𝑎, 𝑐, 𝑑}, {𝑏, 𝑐, 𝑑}} não é uma topologia em 𝑋, pois {𝑎, 𝑐, 𝑑} ∪ {𝑏, 𝑐, 𝑑} = {𝑎, 𝑏, 𝑐, 𝑑} ̸∈ 𝒯3 . 𝒯3 = {∅, 𝑋, {𝑎}, {𝑐, 𝑑}, {𝑎, 𝑐, 𝑑}, {𝑎, 𝑏, 𝑑, 𝑒}} não é uma topologia em 𝑋, pois {𝑎, 𝑐, 𝑑} ∩ {𝑎, 𝑏, 𝑑, 𝑒} = {𝑎, 𝑑} ̸∈ 𝒯4 . 𝒯4 = {∅, 𝑋} é uma topologia em 𝑋. 𝒯5 = 𝒫(𝑋), conjunto das partes de 𝑋 é também uma topologia em 𝑋. Em geral, se 𝑋 é um conjunto qualquer, a coleção de todos os subconjuntos de 𝑋 é uma topologia em 𝑋, denominada topologia discreta. E a topologia dada por 𝒯 = {∅, 𝑋} é chamada de topologia trivial. Exemplo 1.2. Sejam 𝑋 um conjunto e 𝒯𝑓 a coleção de todos os subconjuntos 𝑈 de 𝑋 tais que 𝑋 − 𝑈 é finito ou todo 𝑋. Vamos mostrar que 𝒯𝑓 é uma topologia em 𝑋. Observamos que 𝑋 e ∅ pertencem a 𝒯𝑓 , uma vez que 𝑋 − 𝑋 = ∅ é finito e 𝑋 − ∅ = 𝑋. Seja {𝑈𝛼 }𝛼∈𝜆 uma família arbitrária, não vazia, de elementos de 𝒯𝑓 . Temos que )︃𝑐 (︃ 𝑋− ⋃︁ 𝑈𝛼 = 𝑋 ⋂︁ ⋃︁ 𝛼∈𝜆 𝑈𝛼 (︃ =𝑋 𝛼∈𝜆 = ⋂︁ (︁ 𝛼∈𝜆 𝑋 ⋂︁ 𝑈𝛼𝑐 ⋂︁ )︃ ⋂︁ 𝑈𝛼𝑐 𝛼∈𝜆 )︁ = ⋂︁ (𝑋 − 𝑈𝛼 ), 𝛼∈𝜆 ⋂︀ (𝑋 −𝑈𝛼 ) é finito por se tratar de interseção de ⋃︀ conjuntos finitos. Assim, 𝑋 − 𝑈𝛼 é finito e, portanto, pertence onde o conjunto a 𝒯𝑓 . E ainda, seja {𝑈𝑖 }𝑛𝑖=1 um coleção finita de aberto de 𝒯𝑓 , 1.1. ESPAÇOS TOPOLÓGICOS 19 então 𝑋− (︃ 𝑛 ⋂︁ 𝑈𝑖 = 𝑋 ⋂︁ 𝑖=1 𝑛 ⋃︁ (𝑋 𝑖=1 𝑛 ⋃︀ )︃𝑐 𝑈𝑖 (︃ =𝑋 𝑖=1 = onde 𝑛 ⋂︁ ⋂︁ 𝑈𝑖𝑐 ) = ⋂︁ 𝑛 ⋃︁ )︃ 𝑈𝑖𝑐 𝑖=1 𝑛 ⋃︁ (𝑋 − 𝑈𝑖 ), 𝑖=1 (𝑋 − 𝑈𝑖 ) é uma união finita de conjuntos finitos, impli- 𝑖=1 cando que 𝑋 − 𝑛 ⋂︀ 𝑈𝑖 ∈ 𝒯𝑓 . 𝑖=1 Da mesma forma, a coleção 𝒯𝑐 de todos os subconjuntos 𝑈 de 𝑋 tal que 𝑋 − 𝑈 é enumerável ou é todo X é uma topologia em 𝑋. De fato, 𝑋 e ∅ pertencem a 𝒯𝑐 . Utilizando o fato de que a interseção de conjuntos enumeráveis é enumerável e a união finita de conjuntos enumeráveis é enumerável ⋃︀ ⋂︀ (Veja Lima (2004)), temos que 𝑋 − 𝑈𝛼 = (𝑋 − 𝑈𝛼 ) ∈ 𝒯𝑐 e 𝑛 𝑛 ⋂︀ ⋃︀ 𝑋− 𝑈𝑖 = (𝑋 − 𝑈𝑖 ) ∈ 𝒯𝑐 , sendo {𝑈𝛼 } uma família arbitrá𝑖=1 𝑖=1 ria, de elementos de 𝒯𝑐 e {𝑈𝑖 } uma família finita de elementos de 𝒯𝑐 . Definição 1.3. Suponha que 𝒯 e 𝒯 ′ são duas topologias em um dado conjunto 𝑋 : ∙ Se 𝒯 ⊂ 𝒯 ′ , dizemos que 𝒯 ′ é mais fina que 𝒯 ; ∙ Se 𝒯 ⊃ 𝒯 ′ , dizemos que 𝒯 ′ é menos fina que 𝒯 . Em particular, sejam 𝒯𝑖 e 𝒯𝑑 as topologias trivial e discreta respectivamente, então dada qualquer topologia 𝒯 temos que 𝒯𝑖 ⊂ 𝒯 ⊂ 𝒯𝑑 . Dizemos que 𝒯 e 𝒯 ′ são comparáveis se 𝒯 ⊂ 𝒯 ′ ou 𝒯 ⊃ 𝒯 ′. 20 Capítulo 1. INTRODUÇÃO A ESPAÇOS TOPOLÓGICOS 1.2 BASES TOPOLÓGICAS Definição 1.4. Seja 𝑋 é um conjunto qualquer. Uma base para uma topologia em 𝑋 é uma coleção ℬ de subconjuntos de 𝑋, chamados elementos base, tal que: i) Para cada 𝑥 ∈ 𝑋, existe pelo menos um elemento base 𝐵 contendo 𝑥; ii) Se 𝑥 pertence a interseção de dois elementos base 𝐵1 e 𝐵2 , então existe um elemento base 𝐵3 contendo 𝑥 tal que 𝐵3 ⊂ 𝐵1 ∩ 𝐵2 , Se ℬ satisfaz as condições acima, definimos a topologia 𝒯 , gerada por ℬ como segue: Um subconjunto 𝑈 de 𝑋 é dito ser aberto em 𝑋 (ou seja, um elemento de 𝒯 ) se para cada 𝑥 ∈ 𝑈 , existe um elemento base 𝐵𝑥 ∈ ℬ tal que 𝑥 ∈ 𝐵 e 𝐵𝑥 ⊂ 𝑈 . Precisamos verificar que a coleção 𝒯 gerada pela base ℬ é de fato uma topologia em 𝑋. O conjunto vazio pertence a 𝒯 por vacuidade e o conjunto X pertence a T pelo item (i) da Definição (1.4). Sejam {𝑈𝛼 }𝛼∈𝐽 uma família arbitrária de elementos de 𝒯 e 𝑈 = 𝑈𝛼∈𝐽 𝑈𝛼 . Dado 𝑥 ∈ 𝑈 , existe algum 𝛼 ∈ 𝐽 tal que 𝑥 ∈ 𝑈𝛼 . Como 𝑈𝛼 ∈ 𝒯 , existe um elemento base 𝐵 tal que 𝑥 ∈ 𝐵 ⊂ 𝑈𝛼 . Logo, para cada 𝑥 ∈ 𝑈 , existe um elemento base que contenha 𝑥 e está contido em 𝑈, ou seja, 𝑈 ∈ 𝒯 . Dados dois elementos 𝑈1 e 𝑈2 de 𝒯 e 𝑥 ∈ 𝑈1 ∩ 𝑈2 , temos que 𝑥 ∈ 𝑈1 e 𝑥 ∈ 𝑈2 . Podemos tomar elementos base 𝐵1 e 𝐵2 tais que 𝑥 ∈ 𝐵1 ⊆ 𝑈1 , e 𝑥 ∈ 𝐵2 ⊆ 𝑈2 . Pelo item (𝑖𝑖) Definição (1.4), existe um elemento base 𝐵3 tal que 𝐵3 ⊆ 𝐵1 ∩ 𝐵2 . Assim, 1.2. BASES TOPOLÓGICAS 21 𝐵1 ∩ 𝐵2 ⊂ 𝑈1 ∩ 𝑈2 e 𝐵3 ⊂ 𝑈1 ∩ 𝑈2 . Ou seja, a interseção entre dois elementos de 𝒯 pertence a 𝒯 . Agora esse resultado será estendido por meio de indução finita para uma interseção de elementos de 𝒯 . Suponha que, se 𝑛−1 ⋂︀ {𝑈 }𝑛−1 ∈ 𝒯 . Então, 𝑈1 ∩ 𝑈2 ∩ 𝑖=1 são abertos em 𝑋 e que 𝑈 = 𝑖=1 ... ∩ 𝑈𝑛 = (𝑈1 ∩ ... ∩ 𝑈𝑛−1 ) ∩ 𝑈𝑛 = 𝑈 ∩ 𝑈𝑛 pertence a 𝒯 por se tratar da interseção entre dois elementos de 𝒯 . Exemplo 1.3. Sejam 𝑋 um conjunto qualquer. A coleção ℬ de todos os subconjuntos unitários de 𝑋 forma uma base para a topologia discreta em 𝑋. De fato, para todo elemento 𝑥 de 𝑋 existe um elemento da base que contém 𝑥,a saber o conjunto {𝑥}. Além disso, se 𝑥 pertence a interseção de dois elementos base 𝐵1 = {𝑦} e 𝐵2 = {𝑧}, então 𝐵1 = 𝐵2 = {𝑥}. Tomando 𝐵3 = {𝑥}, temos que 𝑥 ∈ 𝐵3 ⊆ 𝐵1 ∩ 𝐵2 , satisfazendo a condição (𝑖𝑖) da Definição (1.4). Portanto ℬ, é uma base de 𝑋. Exemplo 1.4. Se ℬ é uma coleção de todas as regiões circulares (interior aos círculos) no plano, então ℬ é uma base topológica no plano. De fato, para todo ponto do plano podemos obter um círculo com este ponto interior. Além disso, para todo ponto na interseção entre dois círculos podemos obter um terceiro círculo contido na interseção e que contenha este ponto. Ver detalhes em Munkres (2000, p. 81). Uma outra forma de descrever a topologia gerada por uma base é dada pelo: Lema 1.1. Sejam 𝑋 um conjunto e ℬ uma base para topologia 𝒯 em 𝑋. Então, 𝒯 é igual a coleção de todas as uniões de elementos de ℬ. 22 Capítulo 1. INTRODUÇÃO A ESPAÇOS TOPOLÓGICOS Demonstração: Dada 𝐵𝛼 uma coleção de elementos de ℬ, temos que cada 𝐵𝛼 é também um elemento da topologia t, ⋂︀ então a 𝐵𝛼 pertence a 𝑇, ou seja, a união de elementos bases é um aberto em X. Agora, dado 𝑈 ∈ 𝒯 escolhemos, para cada 𝑥 ∈ 𝑈 , um elemento base 𝐵𝑥 ∈ ℬ tal que 𝑥 ∈ 𝐵𝑥 ⊂ 𝑈, de onde ⋃︀ vem que 𝑈 = 𝑥∈𝑈 𝐵𝑥 , e portanto, a igualdade é satisfeita. Como já era de se esperar, todo conjunto aberto de 𝑋 pode ser representado como a união de elementos da base topológica. No entanto, esta representação não é única. O lema a seguir apresenta a obtenção de bases a partir de topologias conhecidas. Lema 1.2. Seja (𝑋, 𝒯 ) um espaço topológico. Suponha 𝒞 uma coleção de conjuntos abertos de 𝑋 tal que para cada conjunto aberto 𝑈 de 𝑋 e cada 𝑥 em 𝑈 , existe um elemento 𝐶 ∈ 𝒞 tal que 𝑥 ∈ 𝐶 ⊂ 𝑈 . Então 𝒞 é uma base para topologia em 𝑋. Demonstração: Primeiro precisamos mostrar que 𝒞 é uma base. O primeiro item da Definição (1.4) é imediato pois, 𝑋 é aberto por definição e então, para cada elemento 𝑥 ∈ 𝑋, existe 𝐶 ∈ 𝒞 tal que 𝑥 ∈ 𝐶 ⊂ 𝑋. Para o item (𝑖𝑖), seja 𝑥 ∈ 𝐶1 ∩ 𝐶2 com 𝐶1 , 𝐶2 ∈ 𝒞. Então 𝐶1 e 𝐶2 são abertos e, portanto, sua interseção também é aberta. Assim, por hipótese, existe um elemento 𝐶3 em 𝒞 tal que 𝑥 ∈ 𝐶3 ⊂ 𝐶1 ∩ 𝐶2 . Logo, 𝒞 é uma base para uma topologia em 𝑋. Sejam 𝒯 ′ a topologia gerada por 𝒞 e 𝒯 a coleção dos conjuntos abertos de 𝑋, vamos mostrar que 𝒯 = 𝒯 ′ . Seja 𝑈 ∈ 𝒯 . Se 𝑥 ∈ 𝑈, então existe 𝐶 ∈ 𝒞 tal que 𝑥 ∈ 𝐶 ⊂ 𝑈 . Isto implica que 𝑈 ∈ 𝒯 ′ e assim, 𝒯 ⊂ 𝒯 ′ . Por outro lado, se 𝑊 ∈ 𝒯 ′ , então pelo Lema (1.1), 𝑊 é uma união dos elementos de 𝒞. Como cada elemento de 𝒞 pertence a topologia 𝒯 , segue 1.3. SUBBASE 23 que 𝑊 também pertence a 𝒯 . E assim a inclusão contrária é satisfeita. Lema 1.3. Sejam ℬ e ℬ ′ bases das topologias 𝒯 e 𝒯 ′ , respectivamente em 𝑋, as seguintes afirmações são equivalentes: 1. 𝒯 ′ é mais fina que 𝒯 . 2. Para cada 𝑥 ∈ 𝑋 e cada elemento base 𝐵 ∈ ℬ contendo 𝑥, existe um elemento base 𝐵 ′ ∈ ℬ ′ tal que 𝑥 ∈ 𝐵 ′ ⊂ ℬ. Demonstração: (1) ⇒ (2) Sejam 𝑥 ∈ 𝑋 e 𝐵 ∈ ℬ contendo 𝑥. Por definição 𝐵 ∈ 𝒯 . Por (1) 𝐵 ∈ 𝒯 ′ . Como 𝒯 ′ é gerado por ℬ ′ , segue que existe um elemento 𝐵 ′ ∈ ℬ ′ , tal que 𝑥 ∈ 𝐵 ′ ⊂ 𝐵. (2) ⇒ (1) Sejam 𝑈 elemento de 𝒯 . Sendo 𝐵 uma base de 𝒯 , para cada 𝑥 ∈ 𝑈 existe um elemento 𝐵 em ℬ tal que 𝑥 ∈ 𝐵 ⊂ 𝑈. Como ℬ é base de 𝒯 , então existe um elemento 𝐵 em ℬ tal que 𝑥 ∈ 𝐵 ⊂ 𝑈 . Pela condição (2), existe para cada 𝑥 um elemento 𝐵𝑥′ ∈ ℬ ′ tal que 𝑥 ∈ 𝐵 ′ ⊂ 𝐵. O que implica que em 𝑥 ∈ 𝐵 ′ ⊂ 𝑈. Portanto, 𝑈 = ∩𝐵𝑥′ , ou seja, 𝑈 ∈ 𝒯 ′ . 1.3 SUBBASE Definição 1.5. Uma subbase 𝑆 para uma topologia em 𝑋 é uma coleção de subconjuntos de 𝑋 tal que sua união é igual a 𝑋. A topologia gerada pela subbase 𝑆 é definida como sendo a coleção 𝒯 de todas uniões de interseções finitas de elementos de 𝑆. 24 Capítulo 1. INTRODUÇÃO A ESPAÇOS TOPOLÓGICOS Vamos verificar que 𝒯 é uma topologia em 𝑋. Para isso basta mostrar que a coleção ℬ de todas as interseções finitas de elementos de 𝑆 é uma base pois, isto implicaria pelo Lema (1.1) que 𝒯 é uma topologia em 𝑋. Dada 𝑥 ∈ 𝑋, 𝑥 pertence a um elemento de 𝑆 (a união dos elementos de 𝑆 é 𝑋) e portanto 𝑥 pertence a um elemento de ℬ. Assim, a primeira condição para base está satisfeita. Para a segunda condição, sejam 𝐵1 = 𝑆1 ∩ 𝑆2 ∩ ... ∩ 𝑆𝑛 e 𝐵2 = 𝑆 ′ 1 ∩ 𝑆 ′ 2 ∩ ... ∩ 𝑆 ′ 𝑚 dois elementos de ℬ. 𝐵1 ∩ 𝐵2 = 𝑆1 ∩ ... ∩ 𝑆𝑛 ∩ 𝑆 ′ 1 ∩ ... ∩ 𝑆 ′ 𝑚 também será uma interseção finita de elementos de 𝑆 e portanto, pertencente aℬ 1.4 TOPOLOGIAS NA RETA REAL Nesta seção vamos apresentar três topologias diferentes para o conjunto dos números reais e mostrar qual a relação entre elas. Definição 1.6. Se ℬ é a coleção de todos os intervalos abertos na reta real (𝑎, 𝑏) = {𝑥 | 𝑎 < 𝑥 < 𝑏}, então a topologia gerada por ℬ é chamada topologia usual na reta real. Quando não é especificada a topologia em R subentendese que a topologia é a usual. Definição 1.7. Se ℬ ′ é a coleção de todos os intervalo semiabertos na reta real [𝑎, 𝑏) = {𝑥 | 𝑎 ≤ 𝑥 < 𝑏} , a topologia gerada por ℬ ′ é chamada topologia do limite inferior em R. Esta topologia é representada por R𝑙 . 1.4. TOPOLOGIAS NA RETA REAL 25 Definição 1.8. Seja 𝐾 o conjunto formado por todos os elementos da forma 1 𝑛, com 𝑛 ∈ Z+ . Seja ℬ ′′ a coleção de todos os intervalos abertos do tipo (𝑎, 𝑏) = {𝑥 | 𝑎 < 𝑥 < 𝑏} juntamente com todos os conjuntos da forma (𝑎, 𝑏) − 𝐾. A topologia gerada por ℬ ′′ é denominada K-topologia, denotada por R𝐾 . Vamos mostrar que ℬ, ℬ ′ e ℬ ′′ são bases topológicas em R. Dado 𝑥 ∈ R e tomando 𝑎, 𝑏 ∈ R tal que 𝑎 < 𝑥 < 𝑏, os elementos base da forma (𝑎, 𝑏), [𝑎, 𝑏) e (𝑎, 𝑏) das bases ℬ, ℬ ′ e ℬ ′′ , respectivamente, contêm 𝑥. Para a segunda condição da definição de base vamos mostrar caso a caso. No caso da topologia usual, dados dois intervalos abertos 𝐵1 = (𝑎, 𝑏) e 𝐵2 = (𝑐, 𝑑) elementos base de 𝐵 ′ e 𝑥 ∈ (𝑎, 𝑏) ∩ (𝑐, 𝑑). Temos que as interseções desses dois conjuntos podem ser: ∙ (𝑐, 𝑏) se 𝑎 < 𝑐 < 𝑏 < 𝑑; ∙ (𝑎, 𝑑) se 𝑐 < 𝑎 < 𝑑 < 𝑏; ∙ (𝑎, 𝑏) se 𝑐 < 𝑎 < 𝑏 < 𝑑; ∙ (𝑐, 𝑑) se 𝑎 < 𝑐 < 𝑑 < 𝑏. Em todos os casos (𝑎, 𝑏) ∩ (𝑐, 𝑑) ∈ 𝐵 e contêm 𝑥. Uma análise similar pode ser feita no caso da interseção entre quaisquer intervalos [𝑎, 𝑏) e [𝑐, 𝑑), onde para todo 𝑥 ∈ [𝑎, 𝑏) ∩ [𝑐, 𝑑), temos que [𝑎, 𝑏) ∩ [𝑐, 𝑑) ∈ 𝐵 ′ . Agora, no caso de 𝐵 ′′ , podemos ter elementos base da forma (𝑎, 𝑏) ou (𝑎, 𝑏) − 𝐾. Tomando dois intervalos abertos (𝑎, 𝑏) 26 Capítulo 1. INTRODUÇÃO A ESPAÇOS TOPOLÓGICOS e (𝑐, 𝑑) recaímos na topologia usual. Tomando 𝐵1 = (𝑎, 𝑏) e 𝐵2 = (𝑐, 𝑑) − 𝐾, temos que 𝐵1 ∩ 𝐵2 = (𝑎, 𝑏) ∩ [(𝑐, 𝑑) − 𝐾] = [(𝑎, 𝑏) ∩ (𝑐, 𝑑) ∩ 𝐾 𝑐 ] = [(𝑎, 𝑏) ∩ (𝑐, 𝑑)] − 𝐾 que resultará em: ∙ (𝑐, 𝑏) − 𝐾 se 𝑎 < 𝑐 < 𝑏 < 𝑑; ∙ (𝑎, 𝑑) − 𝐾 se 𝑐 < 𝑎 < 𝑑 < 𝑏; ∙ (𝑎, 𝑏) − 𝐾 se 𝑐 < 𝑎 < 𝑏 < 𝑑; ∙ (𝑐, 𝑑) − 𝐾 se 𝑎 < 𝑐 < 𝑑 < 𝑏. E todos pertencem a 𝐵 ′′ . Para finalizar, se 𝐵1 = (𝑎, 𝑏) − 𝐾 e 𝐵2 = (𝑐, 𝑑) − 𝐾, temos que 𝐵1 ∩ 𝐵2 = (𝑎, 𝑏) ∩ 𝐾 𝑐 ∩ (𝑐, 𝑑) ∩ 𝐾 𝑐 = (𝑎, 𝑏) ∩ (𝑐, 𝑑) ∩ 𝐾 𝑐 = (𝑎, 𝑏) ∩ (𝑐, 𝑑) − 𝐾, recaindo na situação anterior. Uma das implicações dessas definições é que os abertos usuais de R são abertos em R𝑙 e R𝐾 , ou seja, as topologias R𝑙 e R𝐾 contém propriamente a topologia usual em R e assim, mais finas que a topologia em usual em R. Porém, não são comparáveis entre si. A demonstração detalhada está em Munkres (2000, p.81). 27 2 TOPOLOGIAS IMPORTANTES 2.1 TOPOLOGIA DA ORDEM Num conjunto 𝑋 ordenado pode-se definir uma topologia a partir da relação de ordem < de 𝑋. Dados 𝑎, 𝑏 ∈ 𝑋, e usando a relação de ordem, são quatro os subconjuntos de 𝑋, chamados intervalos, determinados por 𝑎 e 𝑏: Intervalo aberto: (𝑎, 𝑏) = {𝑥 | 𝑎 < 𝑥 < 𝑏}; Intervalo fechado: [𝑎, 𝑏] = {𝑥 | 𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝑏}; Intervalos semi-abertos: (𝑎, 𝑏] = {𝑥 | 𝑎 < 𝑥 ≤ 𝑏} e [𝑎, 𝑏) = {𝑥 | 𝑎 ≤ 𝑥 < 𝑏}. Definição 2.1. Seja 𝑋 um conjunto, não unitário, com uma relação de ordem, e seja ℬ a coleção de todos os seguintes conjuntos: i) Todos os intervalos abertos (𝑎, 𝑏) em 𝑋; ii) Todos os intervalos da forma [𝑎0 , 𝑏), onde 𝑎0 é o mínimo (se houver) de 𝑋; iii) Todos os intervalos da forma (𝑎, 𝑏0 ], onde 𝑏0 é o máximo (se houver) de 𝑋. A coleção ℬ é uma base para topologia em 𝑋 denominada Topologia da ordem. 28 Capítulo 2. TOPOLOGIAS IMPORTANTES De fato, todo elemento de 𝑋 que não é máximo nem mínimo pertence a algum intervalo do tipo (𝑖), já o máximo, pertence a todos os intervalos do tipo (𝑖𝑖𝑖) e o mínimo a todos os intervalos do tipo (𝑖𝑖). Além disso, as interseções entre intervalos serão intervalos ou o conjunto vazio, e portanto para todo elemento na interseção haverá um intervalo que o contenha e está contido na interseção. Exemplo 2.1. A topologia usual de R, apresentada na Definição (1.6), é a topologia induzida por uma relação de ordem em R. Exemplo 2.2. O conjunto Z+ é um conjunto ordenado que possui o mínimo 1. Tomando a base ℬ = {(𝑛 − 1, 𝑛 + 1) | 𝑛 ∈ Z+ 𝑒 𝑛 > 1} ∪ [1, 2). A topologia da ordem gerada por esta base é a topologia discreta. Exemplo 2.3. O conjunto 𝑋 = {1, 2} × Z+ é também um conjunto ordenado, pela relação de ordem do dicionário, que possui (1, 1) como mínimo. No entanto, a topologia da ordem em 𝑋 não é a topologia discreta pois, não há intervalo aberto que contenha apenas o elemento (2, 1). 2.2 TOPOLOGIA PRODUTO Definição 2.2. Sejam 𝑋 e 𝑌 espaços topológicos. A topologia produto em 𝑋 × 𝑌 é a topologia tendo como base a coleção ℬ de todos os conjuntos da forma 𝑈 × 𝑉 , onde 𝑈 é aberto em 𝑋 e 𝑉 é aberto em 𝑌 . Realmente, a coleção ℬ, acima mencionada é uma base para 𝑋 × 𝑌 . Para cada (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑋 × 𝑌, tome o próprio conjunto 𝑋 × 𝑌 como um elemento de ℬ, uma vez que tanto 𝑋 quanto 2.2. TOPOLOGIA PRODUTO 29 𝑌 são abertos em si mesmos. Agora, considere 𝐵1 e 𝐵2 abertos em 𝑋 × 𝑌 e (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐵1 ∩ 𝐵2 . Temos que 𝐵1 ∩ 𝐵2 = (𝑈1 × 𝑉1 ) ∩ (𝑈2 × 𝑉2 ), com 𝑈1 e 𝑈2 são abertos em 𝑋 e 𝑉1 e 𝑉2 são abertos em 𝑌. Segue que 𝐵1 ∩ 𝐵2 é um elemento base que contêm (𝑥, 𝑦) e está contido em 𝐵1 ∩ 𝐵2 . Portanto, pela Definição (1.4), ℬ é base de 𝑋 × 𝑌, como queríamos. Teorema 2.1. Se ℬ é uma base para topologia em 𝑋 e 𝒞 uma base para topologia em 𝑌, então a coleção 𝒟 = {𝐵 × 𝐶 | 𝐵 ∈ ℬ e 𝐶 ∈ 𝒞} é uma base para a topologia de 𝑋 × 𝑌 . Demonstração: Dado um aberto 𝑊 em 𝑋 × 𝑌 e um elemento (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑊 , por definição da topologia produto, existe um elemento base 𝑈 × 𝑉 tal que (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑈 × 𝑉 ⊂ 𝑊 . Como ℬ e 𝒞 são bases de 𝑋 e 𝑌 respectivamente, podemos escolher um elemento 𝐵 de ℬ tal que 𝑥 ∈ 𝐵 ⊂ 𝑈 e 𝐶 de 𝒞 tal que 𝑦 ∈ 𝐶 ⊂ 𝑉 . Assim, (𝑥, 𝑦) ∈ 𝐵 × 𝐶 ⊂ 𝑈 × 𝑉 ⊂ 𝑊 e implica que a coleção 𝒟 satisfaz as hipóteses do Lema (1.2) e, portanto, 𝒟 é uma base para 𝑋 × 𝑌. A topologia usual em R2 é gerada pelo produto da topologia usual em R com ela mesma, ou seja, a base é a coleção dos produto cartesiano de todos os intervalos abertos em R. Pelo teorema anterior, tomando a coleção dos produtos (𝑎, 𝑏) × (𝑐, 𝑑) está também servirá como base da topologia em R2 Definição 2.3. Seja 𝜋1 : 𝑋 × 𝑌 → 𝑋 a função definida por 𝜋1 (𝑥, 𝑦) = 𝑥 e 𝜋2 : 𝑋 × 𝑌 → 𝑌 a função definida por 𝜋1 (𝑥, 𝑦) = 𝑦. A imagem de 𝜋1 e 𝜋2 são chamadas projeções de 𝑋 × 𝑌 em cada um dos fatores, respectivamente. Se 𝑈 é um subconjunto de 𝑋, então o conjunto 𝜋1−1 (𝑈 ) 30 Capítulo 2. TOPOLOGIAS IMPORTANTES é precisamente o conjunto 𝑈 × 𝑌 o qual é um aberto em 𝑋 × 𝑌 . Da mesma forma, se 𝑉 é aberto em 𝑌 , então 𝜋2−1 (𝑉 ) = 𝑋 × 𝑉 que é aberto em 𝑋 × 𝑌 . Teorema 2.2. A coleção 𝑆 = {{𝜋1−1 (𝑈 ) | 𝑈 é aberto em {𝜋2−1 (𝑉 𝑋}∪ ) | 𝑉 é aberto em 𝑌 }} é uma subbase para a topologia produto em 𝑋 × 𝑌 . Demonstração: Seja 𝒯 a topologia produto em 𝑋 ×𝑌 ′ e 𝒯 a topologia gerada por 𝑆. Todo elemento de 𝑆 pertence a 𝒯 pois é a união de elementos de 𝒯 . Assim 𝒯 ′ ⊂ 𝒯 . Por outro lado, todo elemento base 𝑈 × 𝑉 de 𝒯 é uma interseção finita de elementos de 𝑆. Pelo Lema (1.2), 𝑈 × 𝑉 = 𝜋1−1 (𝑈 ) ∩ 𝜋2−1 (𝑉 ) implica que 𝒯 ⊂ 𝒯 ′ . 2.3 TOPOLOGIA DO SUBESPAÇO Sejam (𝑋, 𝒯 ) um espaço topológico e 𝑌 ⊂ 𝑋. A coleção 𝒯𝑌 = {𝑌 ∩ 𝑈 | 𝑈 ∈ 𝒯 } é uma topologia em 𝑌. De fato, ∙ 𝑌 , ∅ ∈ 𝒯𝑌 pois, ∅ = 𝑌 ∩ ∅ e 𝑌 = 𝑌 ∩ 𝑋. ∙ A interseção finita de abertos de 𝑌 pertence a 𝒯𝑌 pois, (𝑌 ∩ 𝑈1 ) ∩ · · · ∩ (𝑌 ∩ 𝑈𝑛 ) = 𝑌 ∩ (𝑈1 ∩ · · · ∩ 𝑈𝑛 ). ∙ A união arbitrária de abertos de 𝑌 pertence a 𝒯𝑌 pois, ⋃︁ ⋂︁ ⋃︁ ⋂︁ ⋂︁ (𝑈𝛼 𝑌 ) = ( 𝑈𝛼 ) 𝑌 = 𝑈 𝑌. 𝛼∈𝐽 𝛼∈𝐽 Definição 2.4. Sejam (𝑋, 𝒯 ) um espaço topológico e 𝑌 ⊂ 𝒜. A coleção 𝒯𝑌 = {𝑌 ∩ 𝑈 | 𝑈 ∈ 𝒯 } é uma topologia de 𝑌. Chamamos o par (𝑌, 𝒯𝑌 ) de subespaço topológico de (𝑋, 𝒯 ). 2.3. TOPOLOGIA DO SUBESPAÇO 31 Lema 2.1. Se ℬ é uma base para a topologia em 𝑋, então a coleção ℬ𝑌 = {𝐵 ∩ 𝑌 | 𝐵 ∈ ℬ} é uma base para a topologia do subespaço em 𝑌 . Demonstração: Dado 𝑦 ∈ 𝑈 ∩ 𝑌 , onde 𝑈 é aberto em 𝑋, podemos escolher um elemento base 𝐵 de 𝑋 tal que 𝑦 ∈ 𝐵 ⊂ 𝑈 . Assim, 𝑦 ∈ 𝐵 ∩ 𝑌 ⊂ 𝑈 ∩ 𝑌. Segue, pelo Lema (1.2), que esta coleção é uma base para a topologia do subespaço 𝑌 . Seja 𝑌 um aberto do espaço topológico (𝑋, 𝒯 ). Todo aberto na topologia do subespaço 𝒯𝑌 será também um aberto na topologia em 𝑋. De fato, se 𝑈 é aberto em 𝑌, então 𝑈 = 𝑉 ∩ 𝑌 para algum 𝑉 aberto em 𝑋. Daí tem-se que 𝑈 é aberto por ser uma interseção entre dois abertos de 𝑋. Teorema 2.3. Se 𝐴 é subespaço topológico de 𝑋 e 𝐵 subespaço topológico de 𝑌 , então a topologia produto em 𝐴 × 𝐵 é a mesma topologia que 𝐴 × 𝐵 herda como um subespaço de topológico de 𝑋 ×𝑌. Demonstração: Sejam 𝑈 e 𝑉 abertos de 𝑋 e 𝑌 respectivamente. Então, 𝑈 × 𝑉 é um elemento base para a topologia produto de 𝑋 × 𝑌. O elemento (𝑈 × 𝑉 ) ∩ (𝐴 × 𝐵) é um elemento base da topologia do subespaço em 𝐴 × 𝐵. Sabendo que (𝑈 × 𝑉 ) ∩ (𝐴 × 𝐵) = (𝑈 ∩ 𝐴) × (𝑉 ∩ 𝐵), e que 𝑈 ∩ 𝐴 é aberto na topologia do subespaço em 𝐴 e 𝑉 ∩ 𝐵 é aberto na topologia do subespaço em 𝐵 então o conjunto (𝑈 ∩ 𝐴) × (𝑉 ∩ 𝐵) é um elemento base para a topologia produto em 𝐴 × 𝐵. Desta forma, as bases para a topologia do subespaço em 𝐴 × 𝐵 e a topologia produto em 𝐴 × 𝐵 são as mesmas. O que implica que as topologias são a mesma. 32 Capítulo 2. TOPOLOGIAS IMPORTANTES Definição 2.5. Seja 𝑋 um conjunto, um subconjunto 𝑌 de 𝑋 é convexo em 𝑋 se para cada par de pontos de 𝑋, estes podem ser unidos por uma linha reta contida em 𝑋. Para o caso de 𝑋 ser um conjunto ordenado, basta que para cada par de pontos 𝑎, 𝑏 ∈ 𝑌 e 𝑎 < 𝑏, todo o intervalo (𝑎, 𝑏) de pontos de 𝑋 está contido em 𝑌 . Com essa definição, é imediato que intervalos e raios de 𝑋 são convexos em 𝑋. Exemplo 2.4. Dado o subconjunto 𝑌 = [0, 1) ∪ {2} de R. Na topologia do subespaço o conjunto {2} é aberto pois, podemos obtê-lo de 𝑌 ∩ ( 23 , 52 ). Porém, na topologia da ordem em Y, {2} não é aberto. Todo elemento base da topologia da ordem necessariamente contém valores de 𝑌 menores que 2, pois na topologia da ordem em 𝑌 os elementos base são da forma {𝑥 | 𝑥 ∈ 𝑌 e 𝑎 < 𝑥 ≤ 2} 2.4 CONJUNTOS FECHADOS Definição 2.6. Seja 𝐴 um subconjunto do espaço topológico 𝑋. ∙ O conjunto 𝐴 é dito fechado se o conjunto 𝑋 −𝐴 é aberto. ∙ O interior ( denotado por Int 𝐴) de 𝐴 é a união de todos os abertos contidos em 𝐴. ¯ é a interseção de todos ∙ O fecho de 𝐴 ( denotado por 𝐴) os conjuntos fechados que contém 𝐴. Exemplo 2.5. Na topologia apresentada no Exemplo (1.2), os conjuntos finitos de 𝑋 são fechados. 2.4. CONJUNTOS FECHADOS 33 Além disto, um conjunto pode ser fechado e aberto ao mesmo tempo como por exemplo o conjunto vazio. A definição de topologia pode ser escrita em termos de conjuntos fechados, como pode ser visto no Teorema 2.4. Seja 𝑋 um espaço topológico. Então tem-se que: i) ∅ e 𝑋 são fechados; ii) Interseções arbitrárias entre conjuntos fechados é fechado; iii) Uniões finitas de conjuntos fechados são fechados. Demonstração: 𝑖. 𝑋 − ∅ = 𝑋 e ∅ − 𝑋 = ∅ e ambos são abertos. 𝑖𝑖. Como já foi apresentado no Exemplo (1.2), 𝑋− ⋃︀ (𝑋 − 𝐴𝛼 ). Como a união entre abertos é um aberto, 𝛼∈𝐽 ⋂︀ 𝛼∈𝐽 ⋂︀ 𝐴𝛼 = 𝐴𝛼 𝛼∈𝐽 é fechado pois, seu complementar é aberto. 𝑋− 𝑛 ⋃︀ 𝑖𝑖𝑖. Ainda pelos resultados obtidos no Exemplo (1.2), 𝑛 ⋂︀ 𝐴𝑖 = (𝑋 − 𝐴𝑖 ) que são abertos pela definição de 𝑖=1 𝑖=1 topologia. Portanto, 𝑛 ⋃︀ 𝐴𝑖 é fechado. 𝑖=1 Segue que 𝐼𝑛𝑡𝐴 é aberto por se tratar da união de aber¯ tos e 𝐴 é fechado por se tratar da interseção entre fechados pelo Teorema (2.4). Além disto, 𝐼𝑛𝑡 𝐴 ⊂ 𝐴 ⊂ 𝐴¯ o que implica que, ¯ se 𝐴 é aberto, então 𝐴 = 𝐼𝑛𝑡 𝐴 e se 𝐴 é fechado, então 𝐴 = 𝐴. Definição 2.7. Se 𝑈 é um aberto de 𝑋 que contém 𝑥. Neste caso, dizemos que 𝑈 é uma vizinhança de 𝑥. 34 Capítulo 2. TOPOLOGIAS IMPORTANTES Definição 2.8. Dizemos que 𝑥 ∈ 𝑋 é um ponto de acumulação de 𝐴 se para toda vizinhança 𝑈 de 𝑥 temos que 𝑈 ∩𝐴−{𝑥} = ̸ ∅. Um exemplo intuitivo para tais definições é um intervalo de R. O conjunto (𝑎, 𝑏] não é aberto nem fechado, seu fecho é [𝑎, 𝑏] e seu interior é (𝑎, 𝑏). Onde 𝑎, 𝑏 ∈ R e 𝑎 < 𝑏. Além disto, 𝑎 é um ponto de acumulação que não pertence ao conjunto e 𝑏 um ponto de acumulação que pertence ao conjunto (𝑎, 𝑏]. Dado um subespaço 𝑌 de um espaço topológico 𝑋, então todo fechado em 𝑌 é da forma 𝑌 − (𝑌 ∩ 𝑈 ) = 𝑌 ∩ (𝑈 𝑐 ), onde 𝑈 é um aberto em 𝑋. Em outras palavras, um conjunto é aberto na topologia do subespaço se, e somente se, é da forma 𝑌 ∩ 𝑉, com 𝑉 um conjunto fechado em 𝑋. Teorema 2.5. Sejam 𝑌 um subespaço de 𝑋, 𝐴 um subconjunto de 𝑌 e 𝐴¯ o fecho de 𝐴 em 𝑋. Então o fecho de de 𝐴 em 𝑌 é igual a 𝐴¯ ∩ 𝑌 . Demonstração: Seja 𝐵 o fecho de 𝐴 em 𝑌 . O conjunto ¯ ¯ ¯ 𝐴 é fechado em 𝑋 e portanto 𝐴∩𝑌 é fechado em 𝑌 . Como 𝐴∩𝑌 contém 𝐴 e 𝐵 é a interseção de todos os subconjuntos fechados de 𝑌 contendo 𝐴, devemos ter 𝐵 ⊂ 𝐴¯ ∩ 𝑌 . Agora, sendo 𝐵 fechado em 𝑌, então 𝐵 = 𝐶 ∩ 𝑌 para algum 𝐶 fechado em 𝑋 contendo 𝐴. Como 𝐴¯ é a interseção de todos os subconjuntos fechados de 𝑋 que o contenha, 𝐴¯ ⊂ 𝐶. Daí tem-se que 𝐴¯ ∩ 𝑌 ⊂ 𝐶 ∩ 𝑌 = 𝐵 Teorema 2.6. Seja 𝐴 um subconjunto do espaço topológico 𝑋. Então 𝑥 ∈ 𝐴¯ se, e somente se, para todo conjunto aberto 𝑈 contendo 𝑥 temos que 𝐴 − {𝑥} ∩ 𝑈 é diferente do conjunto vazio. 2.4. CONJUNTOS FECHADOS 35 Demonstração: Vamos provar a ida e a volta por contradição. Usando a contra positiva, ou seja, 𝑥 ̸∈ 𝐴¯ se, e somente se, existe um aberto 𝑈 contendo 𝑥 tal que 𝑈 ∩ 𝐴 = ∅. Supondo ¯ o conjunto 𝑈 = 𝑋 − 𝐴 é um conjunto aberto que que 𝑥 ̸∈ 𝐴, comtém 𝑥 e 𝑈 ∩ 𝐴 = ∅, pois 𝑈 ∩ 𝐴¯ e 𝐴 ⊆ 𝐴¯ que não intersecta 𝐴. Reciprocamente, considerando que existe um conjunto 𝑈 aberto em 𝑋 contendo 𝑥 e que 𝐴 ∩ 𝑈 = ∅, segue que 𝑋 − 𝑈 é um conjunto fechado contendo 𝐴. Pela definição de fecho, 𝑋 − 𝑈 ¯ contém 𝐴¯ e consequentemente, 𝑈 ∩ 𝐴¯ = ∅ e 𝑥 ̸∈ 𝐴. Teorema 2.7. Seja 𝐴 um subconjunto do espaço topológico 𝑋. Se a topologia de 𝑋 é gerada por uma base, então 𝑥 ∈ 𝐴¯ se, e somente se, todo elemento base 𝐵 contendo 𝑥 tem interseção não vazia com 𝐴. Demonstração: Se todo conjunto aberto que contém 𝑥 intersecta 𝐴, então todo elemento base 𝐵 contendo 𝑥 também intersecta 𝐴, pois os elementos base são abertos. Por outro lado, se todo elemento base contendo 𝑥 intersecta 𝐴, então todo conjunto aberto 𝑈 contendo 𝑥 também o faz pois, 𝑈 contém um elemento base que contém 𝑥. Teorema 2.8. Seja 𝐴 um subconjunto do espaço topológico 𝑋, seja 𝐴′ o conjunto de todos os pontos de acumulação de 𝐴. Então 𝐴¯ = 𝐴 ∪ 𝐴′ . Demonstração: Se 𝑥 ∈ 𝐴′ , toda vizinhança de 𝑥 intersecta 𝐴 em um ponto diferente de 𝑥. Portanto, pelo Teorema ¯ Como, por definição, 𝐴 ⊂ 𝐴, ¯ (2.7), 𝑥 ∈ 𝐴¯ implica que 𝐴′ ⊂ 𝐴. 36 Capítulo 2. TOPOLOGIAS IMPORTANTES ¯ ¯ se 𝑥 ∈ 𝐴 então 𝐴 ∪ 𝐴′ ⊂ 𝐴.Para a inclusão contrária seja 𝑥𝐴, não há nada a provar, seja então 𝑥 ̸∈ 𝐴. Por estar no fecho toda vizinhança 𝑈 de 𝑥, este intersecta 𝐴, mas como 𝑥 ̸∈ 𝐴 existe outro ponto na interseção, o que implica que 𝑥 ∈ 𝐴 ∪ 𝐴′ Corolário 2.1. Um subconjunto de um espaço topológico é fechado se, e somente se, contém todos os pontos de acumulação. 2.5 ESPAÇOS DE HAUSDORFF Na reta real, com a topologia usual, todo conjunto unitário {𝑥} tal que 𝑥 ∈ R é fechado, pois R−{𝑥} = (−∞, 𝑥)∪(𝑥, +∞) que são abertos em R. No entanto, isso não necessariamente vale em um espaço topológico qualquer. Nesta seção veremos as condições necessárias para que esta propriedade seja satisfeita. Definição 2.9. Uma sequência de pontos 𝑥1 , 𝑥2 , . . . de um espaço topológico 𝑋, converge para um ponto 𝑥 ∈ 𝑋, se para toda vizinhança 𝑈𝑥 existe um natural 𝑁 tal que 𝑥𝑛 ∈ 𝑈𝑥 para todo 𝑛 > 𝑁. Exemplo 2.6. Sejam 𝑋 = {𝑎, 𝑏, 𝑐}, 𝒯 = {𝑋, {𝑏}, {𝑎, 𝑏}, {𝑏, 𝑐}, ∅} e uma sequência 𝑥𝑛 = 𝑏 para todo 𝑛 ∈ N. Esta sequência converge para 𝑏, pois todo aberto que contém 𝑏 existe um natural 𝑁 = 1 tal que 𝑥𝑛 ∈ 𝑈𝑏 para todo 𝑛 > 1. No entanto, a sequência também converge para 𝑎 pois, para todo aberto que contém 𝑎 (𝑋, {𝑎, 𝑏}) existe um natural 𝑁 tal que 𝑥𝑛 ∈ 𝑈𝑎 para todo 𝑛 > 1. Da mesma forma 𝑥𝑛 converge para 𝑐. Além disto, {𝑏} não é fechado, pois 𝑋 − {𝑏} ∈ / 𝒯 e, portanto, 𝑋 − {𝑏} não é aberto. Definição 2.10. Um espaço 𝑋 é dito espaço de Hausdorff se para cada par 𝑥1 e 𝑥2 de pontos distintos de 𝑋 existem vizinhanças 𝑈1 e 𝑈2 de 𝑥1 e 𝑥2 respectivamente que são disjuntas. 2.5. ESPAÇOS DE HAUSDORFF 37 Exemplo 2.7. Seja 𝑋 um conjunto ordenado um conjunto aberto na topologia da ordem é um intervalo da forma (𝑎, 𝑏). Se 𝑥 e 𝑦 são pontos distintos neste intervalo (por simplicidade admita 𝑥 < 𝑦), 𝑥 é o sucessor imediato de 𝑦 ou existe 𝑧 tal que 𝑎 < 𝑥 < 𝑧 < 𝑦 < 𝑏. No primeiro caso os intervalos (𝑎, 𝑦) e (𝑥, 𝑏) e no segundo caso os intervalos (𝑎, 𝑧) e (𝑧, 𝑏) são vizinhanças disjuntas de 𝑥 e 𝑦 respectivamente. Ou seja, todo espaço ordenado é um espaço de Hausdorff com a topologia da ordem. Exemplo 2.8. Sejam 𝑋 e 𝑌 espaços de Hausdorff, tome 𝑥1 × 𝑦1 e 𝑥2 × 𝑦2 pontos distintos de 𝑋 × 𝑌 . Tomando 𝑈1 e 𝑈2 vizinhanças disjuntas de 𝑥1 e 𝑥2 respectivamente, e 𝑉1 e 𝑉2 vizinhanças disjuntas de 𝑦1 e 𝑦2 respectivamente, as vizinhanças 𝑈1 × 𝑉1 e 𝑈2 × 𝑉2 são vizinhanças disjuntas de 𝑥1 × 𝑦1 e 𝑥2 × 𝑦2 respectivamente. E assim, o produto cartesiano entre dois espaços de Hausdorff é um espaço de Hausdorff. Observação 2.1. Sejam 𝑌 um subespaço de um espaço de Hausdorff 𝑋 e 𝑥, 𝑦 ∈ 𝑌 pontos distintos. Se 𝑈 e 𝑉 são vizinhanças disjuntas em 𝑋 de 𝑥 e 𝑦 respectivamente então 𝑌 ∩ 𝑈 e 𝑌 ∩ 𝑉 são vizinhanças disjuntas em 𝑌 na topologia do subespaço de 𝑥 e 𝑦 respectivamente. Desta forma, um subespaço de um espaço de Hausdorff é um espaço de Hausdorff. 39 3 CONTINUIDADE DE FUNÇÕES 3.1 FUNÇÕES CONTÍNUAS Definição 3.1. Sejam 𝑋 e 𝑌 espaços topológicos. Uma aplicação 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 é dita contínua se, para todo aberto 𝑉 de 𝑌 sua imagem inversa 𝑓 −1 (𝑉 ) é um aberto em 𝑋. Observação 3.1. Sejam 𝛽 = {𝛽𝛼 }𝛼∈𝜆 uma base para a topologia em 𝑌 , 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 uma aplicação e 𝑉 um aberto em 𝑌. Tem-se ⋃︀ ⋃︀ −1 que 𝑉 = 𝛽𝛼 o que implica que, 𝑓 −1 (𝑉 ) = 𝑓 (𝛽𝛼 ) e por𝛼∈𝐽 𝛼∈𝐽 tanto, a imagem inversa de um aberto 𝑉 de 𝑌 é aberto em 𝑋 se a imagem inversa de cada elemento base, cuja união é 𝑉, é aberta em 𝑋. Observação 3.2. Sejam 𝑆 uma subbase para a topologia em 𝑌 , 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 uma aplicação e 𝐵 um elemento base para 𝑌. Pela Definição (1.5), elemento 𝐵 pode ser escrito como uma interseção finita de elementos da subbase. 𝐵 = 𝑆1 ∩ . . . ∩ 𝑆𝑛 ⇒ 𝑓 −1 (𝐵) = 𝑓 −1 (𝑆1 ) ∩ . . . ∩ 𝑓 −1 (𝑆𝑛 ) Portanto, a imagem inversa de um elemento base 𝐵 para 𝑌 é aberto em 𝑋 se a imagem inversa de cada elemento da subbase, cuja interseção finita é 𝐵, é aberta em 𝑋. Exemplo 3.1. Sejam 𝑋 e 𝑌 espaços topológicos discretos, então qualquer aplicação 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 é contínua. 40 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES Exemplo 3.2. Se 𝑓 : R𝑙 → R tal que 𝑓 (𝑥) = 𝑥 (função identidade, então 𝑓 é contínua. Basta ver que todo aberto (𝑎, 𝑏) de R é também aberto de R𝑙 . No entanto, definindo 𝑓 : R → R𝑙 , temos que a função 𝑓 não é contínua, pois [0, 1) é um conjunto aberto em R𝑙 , mas 𝑓 −1 ([0, 1)) = [0, 1) que não é aberto em R. Definição 3.2. Dizemos que uma aplicação 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 é contínua no ponto 𝑥0 ∈ 𝑋 quando para cada aberto 𝑉 ⊆ 𝑌, com 𝑓 (𝑥0 ) ∈ 𝑉, existe um aberto 𝑈 ⊆ 𝑋 com 𝑥0 ∈ 𝑈 tal que 𝑓 (𝑈 ) ⊆ 𝑉. A definição para função contínua aqui apresentada é equivalente a habitual apresentada em Análise Real. Sejam 𝑓 : R → R uma aplicação e 𝑥0 ∈ R. Diz-se que 𝑓 é contínua no ponto 𝑥0 se, dado 𝜖 > 0 existe 𝛿 > 0 tal que 𝑥0 − 𝛿 < 𝑥 < 𝑥0 + 𝛿 implica em 𝑓 (𝑥0 ) − 𝜖 < 𝑓 (𝑥) < 𝑓 (𝑥0 ) + 𝜖 (LIMA, 2004). Vamos verificar que a definição acima coincide com a Definição (3.2). Considere 𝑓 : R → R contínua. Dado 𝑥0 ∈ R e 𝜖 > 0, o intervalo 𝑉 = (𝑓 (𝑥0 )−𝜖) é um aberto em R e 𝑓 (𝑥0 ) ∈ 𝑉. Assim, 𝑥0 ∈ 𝑓 −1 (𝑉 ) e é um conjunto aberto em R. Como 𝑥0 ∈ 𝑓 −1 (𝑈 ) e 𝑓 −1 (𝑈 ) é aberto, segue que 𝑓 −1 (𝑈 ) contém algum elemento base (𝑎, 𝑏), com 𝑎 < 𝑥0 < 𝑏. Escolhendo 𝛿 o menor dos números 𝑥0 − 𝑎 e 𝑏 − 𝑥0 , então se 𝑥0 − 𝛿 < 𝑥 < 𝑥0 + 𝛿 implica que o ponto 𝑥 ∈ (𝑎, 𝑏) tal que 𝑓 (𝑥) ∈ 𝑉, ou seja, 𝑓 (𝑥0 ) − 𝜖 < 𝑓 (𝑥) < 𝑓 (𝑥0 ) + 𝜖. Teorema 3.1. Sejam 𝑋 e 𝑌 espaços topológicos e 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 uma função, são equivalentes as seguintes afirmações: i) 𝑓 é contínua; 3.1. FUNÇÕES CONTÍNUAS 41 ¯ ⊆ 𝑓 (𝐴); ii) Para todo subconjunto 𝐴 de 𝑋, tem-se que, 𝑓 (𝐴) iii) Para todo 𝐵 fechado de 𝑌 , tem-se que, 𝑓 −1 (𝐵) é fechado em 𝑋. Demonstração: ¯ Se 𝑥 ∈ 𝐴, então 𝑓 (𝑥) ∈ 𝑓 (𝐴) ⊂ (𝑖 ⇒ 𝑖𝑖) Tome 𝑥 ∈ 𝐴. 𝑓 (𝐴). Como 𝑥 ∈ 𝐴, tome 𝑉 uma vizinhança de 𝑓 (𝑥). Então ¯ 𝑓 −1 (𝑉 ), por hipótese, é aberto em 𝑋 contendo 𝑥 e como 𝑥 ∈ 𝐴, ⋂︀ segue que 𝑓 −1 (𝑉 ) 𝐴 ̸= ∅. Desta forma, existe 𝑦 ∈ 𝑓 −1 (𝑉 ) ∩ 𝐴 tal que 𝑦 ̸= 𝑥. Podemos concluir que qualquer vizinhança 𝑉 de 𝑓 (𝑥) tem interseção não vazia com 𝑓 (𝐴) em um ponto 𝑓 (𝑦) ∈ ¯ o que implica 𝑉 −𝑓 (𝑥) e portanto, 𝑓 (𝑥) ∈ 𝑓 (𝐴) para todo 𝑥 ∈ 𝐴, ¯ ⊆ 𝑓 (𝐴). que 𝑓 (𝐴) (𝑖𝑖 ⇒ 𝑖𝑖𝑖) Sejam 𝐵 fechado em 𝑌 e 𝐴 = 𝑓 −1 (𝐵). Queremos mostrar que 𝑓 −1 (𝐵) é fechado, para isto vamos provar que 𝐴 é igual ao seu fecho. Precisamos mostrar apenas que 𝐴¯ ⊆ 𝐴, pois a inclusão contrária vem da definição de fecho. Sabemos que 𝑓 (𝐴) = 𝑓 (𝑓 −1 (𝐵)) e que, 𝑓 (𝑓 −1 (𝐵)) ⊆ 𝐵 (𝑓 (𝐴) ⊆ 𝐵). Por¯ então 𝑓 (𝑥) ∈ 𝑓 (𝐴). ¯ Por hipótese 𝑓 (𝐴) ¯ ⊆ 𝑓 (𝐴), tanto, se 𝑥 ∈ 𝐴, ¯ mas 𝐵 é fechado e contém 𝑓 (𝐴) e assim, 𝑓 (𝐴) ⊆ 𝐵 = 𝐵. ¯ ⊆ 𝑓 (𝐴) ⊆ 𝐵 ¯ = 𝐵. O que implica que Ou seja, 𝑓 (𝑥) ∈ 𝑓 (𝐴) 𝑓 (𝑥) ∈ 𝑓 −1 (𝐵) = 𝐴. 𝐴¯ = 𝐴 como desejado. (𝑖𝑖𝑖 ⇒ 𝑖) Seja 𝑉 um aberto de 𝑌. Tome 𝐵 = 𝑌 − 𝑉, então 𝐵 é fechado e 𝑓 −1 (𝐵) = 𝑓 −1 (𝑌 ) − 𝑓 −1 (𝑉 ) = 𝑋 − 𝑓 −1 (𝑉 ). Como 𝑓 −1 (𝐵) é fechado em 𝑋, significa que 𝑓 −1 (𝑉 ) é aberto em 𝑋 e portanto, 𝑓 é contínua. Teorema 3.2. Sejam 𝑋 e 𝑌 espaços topológicos. Uma função 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 é contínua se, e somente se, para cada 𝑥0 ∈ 𝑋 e cada 42 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES vizinhança 𝑉 de 𝑓 (𝑥) existe uma vizinhança 𝑈 de 𝑥0 , 𝑈 ⊆ 𝑋, tal que 𝑓 (𝑈 ) ⊆ 𝑉 . Demonstração: Seja 𝑥 ∈ 𝑋 e 𝑉 uma vizinhança de 𝑓 (𝑥). Supondo que 𝑓 é contínua, temos que o conjunto 𝑈 = 𝑓 −1 (𝑉 ) é uma vizinhança de 𝑥 tal que 𝑓 (𝑈 ) = 𝑓 (𝑓 −1 (𝑉 )) ⊆ 𝑉 . Por outro lado, consideremos que 𝑓 é contínua em cada ponto 𝑥0 ∈ 𝑋. 𝑉 um conjunto aberto de 𝑌 , com 𝑥 ∈ 𝑓 −1 (𝑉 ). Precisamos mostrar que 𝑈 é aberto em 𝑋. Para cada 𝑥 ∈ 𝑈 = 𝑓 −1 (𝑈 ), temos que 𝑓 (𝑥) pertence a 𝑉, e por hipótese, existe uma vizinhança 𝑈𝑥 de 𝑥 tal que 𝑓 (𝑈𝑥 ) ⊆ 𝑉, implicando que 𝑈𝑥 ⊆ ⋃︀ 𝑓 −1 (𝑓 (𝑈𝑥 )) = 𝑓 −1 (𝑉 ). Segue que, 𝑈 = 𝑓 −1 (𝑈 ) = (𝑈𝑥 ), 𝑥∈𝑓 −1 (𝑉 ) ou seja, 𝑈 é escrito como a união das respectivas vizinhanças para cada 𝑥 ∈ 𝑓 −1 (𝑉 ) e, portanto, 𝑈 é aberto. 3.2 HOMEOMORFISMO Definição 3.3. Sejam 𝑋 e 𝑌 espaços topológicos. 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 uma bijeção. Se ambas 𝑓 e 𝑓 −1 : 𝑌 → 𝑋 são contínuas então 𝑓 é chamada homeomorfismo. Como 𝑓 é bijeção então 𝑓 (𝑓 −1 (𝑉 )) = 𝑉 para todo 𝑉 ⊂ 𝑌 . Assim, é possível dizer que 𝑓 é um homeomorfismo quando 𝑈 é um conjunto aberto em 𝑋 se, e somente se, sua imagem é um conjunto aberto em 𝑌 . Isto significa dizer que um homeomorfismo não é apenas uma bijeção entre os espaços topológicos, mas também entre a coleção de seus abertos. Ou seja, o homeomorfismo preserva a estrutura topológica envolvida. Desta forma, dois espaços homeomorfos têm as mesmas propriedades topológicas. 3.2. HOMEOMORFISMO 43 Exemplo 3.3. A função identidade definida 𝑖𝑑 : R → R é um homeomorfismo. Se a definirmos 𝑖𝑑 : R𝑙 → R ou 𝑖𝑑 : R → R𝑙 ela não será mais um homeomorfismo, pela não continuidade da função com domínio R e imagem R𝑙 Exemplo 3.4. A função 𝑓 : R → R com 𝑓 (𝑥) = 𝑥3 é contínua. Exemplo 3.5. Todo intervalo aberto (𝑎, 𝑏) ∈ R é homeomorfo a R. Tome a função 𝑓 : (−1, 1) → R definida por 𝑓 (𝑥) = 𝑥 1−𝑥2 , então 𝑓 é um homeomorfismo, ou seja, é sobrejetora e todo intervalo (elemento base na topologia usual em R) tem com imagem um aberto e vice-versa. Sua inversa é dada por √ 2𝑦 2 . Seja 𝑔 : (𝑎, 𝑏) → (−1, 1) definida por 𝑓 −1 (𝑦) = 𝑓 (𝑥) = 1+ (1+4𝑦 ) 2(𝑥−𝑏) 𝑏−𝑎 + 1. A função 𝑔 também é um homeomorfismo. Assim, a função 𝐹 : (𝑎, 𝑏) → R definida por 𝐹 (𝑥) = (𝑔 ∘ 𝑓 )(𝑥) é bijetora e contínua, bem como sua inversa, como desejado. O resultado do Exemplo (3.5) será utilizado com frequência daqui em diante pois, a função 𝑔 nele definida diz que todos os intervalos da reta são homeomorfos entre si. Além disto, utilizando a função 𝑔 vemos que todos os intervalos fechados da reta são homeomorfos entre si. Por esse motivo, futuramente, quando definirmos homotopia por caminhos basta fazê-lo no intervalo [0, 1]. É imediato que a função constante e a composta entre funções contínuas é contínua. E, restringir o domínio ou a imagem de uma função contínua não altera o fato de ser contínua. No entanto, a formulação local de continuidade e o lema da colagem, que são os próximos resultados, serão demonstrados devido a sua importância para o desenvolvimento deste trabalho. 44 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES Teorema 3.3. Sejam 𝑋, 𝑌 espaços topológicos. A aplicação 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 é contínua se 𝑋 pode ser escrito como a união de abertos 𝑈𝛼 tais que, para cada 𝛼, 𝑓 restrita a 𝑈𝛼 é contínua. Demonstração: Seja 𝑉 um aberto em 𝑌. Então 𝑓 −1 (𝑉 ) ⋂︁ 𝑈𝛼 = ⋃︁ (𝑓 |𝑈𝛼 )−1 (𝑉 ) 𝛼 representam o conjunto de todos os 𝑥 ∈ 𝑈𝛼 para os quais 𝑓 (𝑥) ∈ 𝑉 . Pela continuidade de 𝑓 restrita a 𝑈𝛼 , 𝑓 −1 (𝑉 ) é um aberto em ⋃︀ ⋂︀ 𝑈𝛼 e portanto, 𝑓 −1 (𝑉 ) = 𝛼 𝑓 −1 (𝑉 ) 𝑈𝛼 é um aberto em 𝑋 Teorema 3.4. (Lema da colagem) Sejam 𝑋 = 𝐴 ∪ 𝐵, onde 𝐴 e 𝐵 são fechados em 𝑋, 𝑓 : 𝐴 → 𝑌 e 𝑔 : 𝐵 → 𝑌 contínuas. Se 𝑓 (𝑥) = 𝑔(𝑥), para todo ⎧ 𝑥 ∈ 𝐴 ∩ 𝐵, então a função ℎ : 𝑋 → 𝑌 ⎨𝑓 (𝑥), se 𝑥 ∈ 𝐴 definida da forma ℎ(𝑥) = é contínua. ⎩𝑔(𝑥), se 𝑥 ∈ 𝐵 Demonstração: Seja 𝐶 um subconjunto fechado de 𝑌 , −1 então ℎ (𝐶) = 𝑓 −1 (𝐶) ∪ 𝑔 −1 (𝐶). Além disso, 𝑓 −1 (𝐶) é fechado em 𝐴 e 𝑔 −1 (𝐶) fechado em 𝐵, pela continuidade de 𝑓 e 𝑔, então 𝑓 −1 (𝐶) e 𝑔 −1 (𝐶) são em 𝑋, consequentemente ℎ−1 (𝐶) é fechado em 𝑋, pois a união de um número finito de conjuntos fechados é um conjunto fechado. Assim, ℎ−1 (𝐶) é contínua, pelo Teorema (3.2). Outro tipo de aplicação contínua, muito importante para definir homotopia, é a aplicação em produtos cartesianos. Teorema 3.5. Seja 𝑓 : 𝐴 → 𝑋×𝑌 dada por 𝑓 (𝑎) = (𝑓1 (𝑎), 𝑓2 (𝑎)). Então 𝑓 é contínua se, e somente se, as aplicações 𝑓1 : 𝐴 → 𝑋 e 𝑓2 : 𝐴 → 𝑌 são contínuas. 3.3. ESPAÇOS MÉTRICOS 45 Demonstração: Seja 𝜋1 : 𝑋 × 𝑌 → 𝑋 e 𝜋2 : 𝑋 × 𝑌 → 𝑌 as projeções em 𝑋 e 𝑌, respectivamente, ou seja, 𝜋1 (𝑥, 𝑦) = 𝑥 e 𝜋2 (𝑥, 𝑦) = 𝑦. Essas aplicações são contínuas, realmente, se 𝑈 e 𝑉 são abertos em 𝑋 e 𝑌, respectivamente, então 𝜋1−1 (𝑈 ) = 𝑈 × 𝑌 e 𝜋1−1 (𝑉 ) = 𝑋 × 𝑉 são abertos em 𝑋 × 𝑌 . Além disso, para cada 𝑎 ∈ 𝐴 temos que 𝑓1 (𝑎) = 𝜋1 (𝑓 (𝑎)) e 𝑓2 (𝑎) = 𝜋2 (𝑓 (𝑎)). As funções coordenadas 𝑓1 e 𝑓2 assim definidas, são compostas entre funções contínuas e portanto, são contínuas. Por outro lado, suponha que 𝑓1 e 𝑓2 são contínuas. Tome um elemento base 𝑈 × 𝑉 da topologia produto de 𝑋 × 𝑌 . Um ponto 𝑎 ∈ 𝑓 −1 (𝑈 × 𝑉 ) se, e somente se, 𝑓1 (𝑎) ∈ 𝑈 e 𝑓2 (𝑎) ∈ 𝑉 . Portanto, 𝑓 −1 (𝑈 × 𝑉 ) = 𝑓1−1 (𝑈 ) ∩ 𝑓2−1 (𝑉 ) com ambos 𝑓1−1 (𝑈 ) e 𝑓2−1 (𝑉 ) abertos, e portanto 𝑓 −1 (𝑈 × 𝑉 ) é aberto em 𝐴 e é contínua. Um homeomorfismos importante é entre a circunferência e o quadrado, que do ponto de vista topológico são equivalentes. Exemplo 3.6. Sejam 𝑆 1 = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 | 𝑥2 + 𝑦 2 = 1} a circunferência com centro na origem e raio unitário e 𝑇 = {(𝑥, 𝑦) ∈ R2 | |𝑥|+|𝑦| = 1} o quadrado centrado na origem e lado medindo √ 2. Deste modo, 𝑆 1 e 𝑇 são homeomorfos, de fato, (︁ )︁ a aplicação 𝑓 : 𝑆 1 → 𝑇 dada por 𝑓 (𝑥, 𝑦) = 𝑥 (︂|𝑥|+|𝑦| bijetora, e com inversa 𝑓 −1 (𝑥, 𝑦) = √ 2𝑥 𝑦 , |𝑥|+|𝑦| 𝑥 +𝑦 2 ,√ é contínua, )︂ . 2 𝑦 𝑥2 +𝑦 3.3 ESPAÇOS MÉTRICOS Os espaços métricos são um dos tipos de espaços mais interessantes de serem estudados, não somente por serem muito úteis e aplicáveis mas também pela quantidade de teoremas e 46 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES características específicas de tais conjuntos. No entanto, nem sempre um conjunto é metrizável. Definição 3.4. Uma métrica em um conjunto 𝑋 é a função 𝑑 : 𝑋 × 𝑋 → R com as seguintes propriedades: 1. 𝑑(𝑥, 𝑦) > 0 se 𝑥 ̸= 𝑦 e 𝑑(𝑥, 𝑦) = 0 se 𝑥 ̸= 𝑦; 2. 𝑑(𝑥, 𝑦)=d(y,x) para todo 𝑥, 𝑦 ∈ 𝑋; 3. 𝑑(𝑥, 𝑧) ≤ 𝑑(𝑥, 𝑦) + 𝑑(𝑦, 𝑧) para todo 𝑥,𝑦, 𝑧 ∈ 𝑋 (desigualdade triangular). O número 𝑑(𝑥, 𝑦) é distância entre 𝑥 e 𝑦 na métrica 𝑑 e (𝑀, 𝑑) é denominado um espaço métrico. Definição 3.5. Sejam (𝑀, 𝑑) um espaço métrico e 𝑥 ∈ 𝑋. Dado 𝜖 > 0 o conjunto 𝐵𝑑 (𝑥, 𝜖) = {𝑦|𝑑(𝑥, 𝑦) < 𝜖} (todos os pares (𝑥, 𝑦) cuja distância é menor que 𝜖) é chamada bola aberta centrada em 𝑥. Definição 3.6. Seja 𝑑 é uma métrica em 𝑋. A coleção de todas as bolas abertas 𝐵𝑑 (𝑥, 𝜖), para 𝑥 ∈ 𝑋 e 𝜖 > 0 é uma base para a topologia em 𝑋, chamada topologia induzida pela métrica 𝑑. Afirmamos que, de fato, o conjunto de todas as bolas abertas de 𝑋 forma uma base para a topologia em 𝑋. Se 𝑥 ∈ 𝑋, temos que, para qualquer 𝜖 > 0, definindo 𝛿 = 𝜖 − 𝑑(𝑥, 𝑦) para todo 𝑥, 𝑦 ∈ 𝑋 temos que 𝐵(𝑦, 𝛿) ⊂ 𝐵(𝑥, 𝜖). Em particular, se 𝑧 ∈ 𝐵(𝑦, 𝛿) então 𝑑(𝑦, 𝑧) < 𝜖−𝑑(𝑥, 𝑦) e 𝑑(𝑥, 𝑧) < 𝑑(𝑥, 𝑦)+𝑑(𝑦, 𝑧) < 𝜖, ou seja, em toda interseção não vazia entre elementos base, é possível obter um 𝜖 tal que existe um elemento base contido nesta interseção. 3.3. ESPAÇOS MÉTRICOS 47 Exemplo 3.7. A métrica usual em R induz a mesma topologia da ordem. Basta notar que cada elemento base (𝑎, 𝑏) da topologia da ordem é um elemento base da topologia da métrica tomando 𝐵(𝑥, 𝜖), onde 𝑥 = 𝑎+𝑏 2 e𝜖= 𝑏−𝑎 2 . Por outro lado toda 𝜖 − 𝑏𝑜𝑙𝑎 é o intervalo aberto (𝑥 − 𝜖, 𝑥 + 𝜖). Definição 3.7. Seja 𝑋 um espaço métrico com métrica 𝑑. Um subconjunto 𝐴 de 𝑋 é dito ser limitado se existir algum número 𝑀 tal que 𝑑(𝑎1 , 𝑎2 ) < 𝑀, para todo para de pontos 𝑎1 e 𝑎2 de 𝐴. Se 𝐴 é limitado e não vazio, o diâmetro de (𝐴) é definido como o número 𝑑𝑖𝑎𝑚𝐴 = 𝑠𝑢𝑝{𝑑(𝑎1 , 𝑎2 ) | 𝑎1 , 𝑎2 ∈ 𝐴}. A limitação de um conjunto não é uma propriedade exclusivamente topológica, depende também da métrica envolvida. Lema 3.1. Seja 𝑑 e 𝑑′ duas métricas em 𝑋 e 𝒯 e 𝒯 ′ suas respectivas topologias induzidas. Então, 𝒯 ′ é mais fina que 𝒯 se, e somente se, para cada 𝑥 ∈ 𝑋 e 𝜖 > 0, existe 𝛿 > 0 tal que 𝐵𝑑′ (𝑥, 𝛿) ⊂ 𝐵𝑑 (𝑥, 𝜖). Demonstração: Suponha 𝒯 ′ ⊂ 𝒯 . Dado 𝐵𝑑 (𝑥, 𝜖) ∈ 𝒯 , pelo Lema (1.2), existe 𝐵 ′ ∈ 𝒯 ′ tal que 𝑥 ∈ 𝐵 ′ ⊂ 𝐵𝑑 (𝑥, 𝜖). Então podemos encontrar uma bola aberta da forma 𝐵𝑑′ (𝑥, 𝛿) centrada em 𝑥. Para o caminho inverso, suponha a condição 𝛿 − 𝜖 válida. Então, dado um elemento base 𝐵 de 𝒯 contendo 𝑥, podemos encontrar 𝐵𝑑 (𝑥, 𝜖). Por hipótese existe 𝛿 tal que 𝐵𝑑 (𝑥, 𝛿) ⊂ 𝐵𝑑 (𝑥, 𝜖), o que implica pelo Lema (1.2) que 𝒯 ′ ⊂ 𝒯 . Definição 3.8. Dado 𝑥 = (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ) ∈ R𝑛 definimos: 𝑖) Norma de 𝑥: ||𝑥|| = √︁ 𝑥21 , . . . , 𝑥2𝑛 ; 48 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES 𝑖𝑖) Métrica euclidiana: 𝑑(𝑥, 𝑦) = ||𝑥 − 𝑦|| = √︀ (𝑥1 − 𝑦1 )2 , . . . , (𝑥𝑛 − 𝑦𝑛 )2 ; 𝑖𝑖𝑖)Métrica quadrada: 𝜌(𝑥, 𝑦) = 𝑚𝑎𝑥{|𝑥1 − 𝑦1 |, . . . , |𝑥2 − 𝑦2 }. Teorema 3.6. As topologias em R𝑛 induzidas pelas métricas euclidiana 𝑑 e quadrada 𝜌 coincidem com a topologia produto em R𝑛 . Demonstração: Sejam 𝑥 = (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ) e 𝑦 = (𝑦1 , . . . , 𝑦𝑛 ) dois pontos de R𝑛 então existe 𝑖 ∈ 1, . . . , 𝑛 tal que 1 𝜌(𝑥, 𝑦) = |𝑥 − 𝑦| = [(𝑥𝑖 − 𝑦𝑖 )2 ] 2 1 ≤ [(𝑥1 −𝑦1 )2 +. . .+(𝑥𝑖 −𝑦𝑖 )2 +. . .+(𝑥𝑛 −𝑦𝑛 )2 ] 2 e, por outro lado 1 1 𝑑(𝑥, 𝑦) = [(𝑥1 − 𝑦1 )2 + . . . + (𝑥𝑛 − 𝑦𝑛 )2 ] 2 ≤ [𝑛(𝑥𝑖 − 𝑦𝑖 )2 ] 2 = √ 𝑛𝜌(𝑥, 𝑦). √ Portanto, 𝜌(𝑥, 𝑦) ≤ 𝑑(𝑥, 𝑦) ≤ 𝑛𝜌(𝑥, 𝑦). E, 𝐵𝑑 (𝑥, 𝜖) ⊂ 𝐵𝜌 para todo 𝑥 e 𝜖, pois se 𝑑(𝑥, 𝑦) < 𝜖 então 𝜌(𝑥, 𝑦) < 𝜖. E, 𝐵𝜌 (𝑥, 𝑛𝜖 ) ⊂ 𝐵𝑑 (𝑥, 𝜖), para todo 𝑥 e 𝜖. Assim, as topologias induzidas por 𝑑 e 𝜌 são a mesma topologia. Agora, tome 𝐵 = (𝑎1 , 𝑏1 ) × . . . × (𝑎𝑛 , 𝑏𝑛 ) um elemento da base da topologia produto. Se 𝑥 é um elemento de 𝐵, para cada 𝑖 existe um 𝜖𝑖 tal que (𝑥𝑖 − 𝜖𝑖 , 𝑥𝑖 + 𝜖𝑖 ) ⊂ (𝑎𝑖 , 𝑏𝑖 ). Escolha 𝜖 = 𝑚𝑖𝑛{𝜖𝑖 |, 𝑖 = 1, . . . , 𝑛}. Então, teremos 𝐵𝜌 (𝑥, 𝜖) ⊂ 𝐵. Por outro lado, seja 𝐵𝜌 um elemento da topologia induzida por 𝜌, o próprio conjunto 𝐵𝜌 (𝑥, 𝜖) é um elemento da topologia produto pois, 𝐵𝜌 (𝑥, 𝜖) = (𝑥1 − 𝜖, 𝑥1 + 𝜖) × (𝑥𝑛 − 𝜖, 𝑥𝑛 + 𝜖). 3.3. ESPAÇOS MÉTRICOS 49 Um caso particular deste teorema se dá quando 𝑛 = 2 e 1 temos que 𝑑(𝑥, 𝑦) = [(𝑥1 − 𝑦1 )2 + (𝑥2 − 𝑦2 )2 ] 2 e 𝐵𝜌 = 𝑚𝑎𝑥{|𝑥1 − 𝑦1 |, |𝑥2 − 𝑦2 |} induzem a mesma topologia que a topologia da ordem em R2 . Ou seja, está provado que as métricas do Exemplo (1.4) são a mesma. Um subespaço de um espaço métrico é um espaço métrico, basta restringir a métrica 𝑑 ao subespaço. Lema 3.2. (Lema da sequência) Sejam 𝑋 um espaço topológico e 𝐴 ⊂ 𝑋, se existe uma sequência de pontos de 𝐴 conver¯ A recíproca será válida quando gindo para 𝑥 ∈ 𝐴, então 𝑥 ∈ 𝐴. 𝑋 é metrizável. Demonstração: Suponha 𝑥𝑛 uma sequência convergindo para 𝑥 ∈ 𝐴. Então, toda vizinhança 𝑈𝑥 de 𝑥 contém pontos de 𝐴 diferentes de 𝑥, assim, 𝑥 é um ponto de acumulação de 𝐴 e pertence ao seu fecho. Para a recíproca, suponha 𝑋 me¯ Seja 𝑑 a métrica que induz uma topologia em trizável e 𝑥 ∈ 𝐴. 𝑋. Para cada 𝑛 ∈ N tome a vizinhança 𝐵𝑑 (𝑥, 𝑛1 ) e escolha 𝑥𝑛 como sendo um ponto da interseção com 𝐴. Esta sequência converge para 𝑥 e toda vizinhança 𝑈𝑥 de 𝑥 contém uma 𝜖 − 𝑏𝑜𝑙𝑎 𝐵𝑑 (𝑥, 𝜖) centrada em 𝑥. Se tomarmos 𝑁 de forma que 𝑁1 < 𝜖, então 𝑈𝑥 ⊂ 𝐴 contém 𝑥𝑖 para todo 𝑖 ≥ 𝑁 (𝐴 contém todos os abertos 𝑈𝑥 para 𝑁 grande o bastante). Por argumentos de 𝜖 − 𝛿 temos que as operações de adição, substração e multiplicação em R são funções contínuas de R × R → R e a operação de divisão é uma função contínua de R × R − {0} → R. (LIMA, 2004) Teorema 3.7. Se 𝑋 é um espaço topológico qualquer e 𝑓 , 𝑔 : 𝑋 → R são funções contínuas, então 𝑓 + 𝑔, 𝑓 − 𝑔 e 𝑓 𝑔 são 50 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES contínuas. Se 𝑔(𝑥) ̸= 0 para todo 𝑥 então 𝑓 𝑔 é contínua. Demonstração: A aplicação ℎ : 𝑋 → R × R definida por ℎ(𝑥) = 𝑓 (𝑥) × 𝑔(𝑥) é contínua pelo Teorema (3.5). A função 𝑓 + 𝑔 é igual a composição de ℎ com a operção de adição de R × R → R. E, portanto contínua. Analogamente a subtração, multiplicação e divisão. 3.4 TOPOLOGIA QUOCIENTE Esta topologia nasceu da ideia de recortar e colar superfícies, por exemplo, permite transmutar um disco em uma esfera ou um retângulo em um toro. Definição 3.9. Sejam 𝑋 e 𝑌 espaços topológicos e 𝑝 : 𝑋 → 𝑌 uma aplicação sobrejetiva. A aplicação 𝑝 é dita quociente se, para qualquer subconjunto 𝑈 de 𝑌, tem-se que 𝑈 é aberto se, e somente se 𝑝−1 (𝑈 ) é aberto em 𝑋 Definição 3.10. Dizemos que um conjunto 𝐶 de 𝑋 é saturado em relação a aplicação 𝑝 se 𝐶 é igual a toda imagem inversa de um subconjunto de 𝑌 . Desse modo, 𝐶 contém todos os conjuntos 𝑝−1 {𝑦} que intersecta. Em particular, todos os 𝑓 −1 (𝑈 ) com 𝑈 aberto em 𝑌 então são saturados em 𝑋, bem como suas uniões e interseções finitas. Definição 3.11. Uma aplicação 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 é dita aberta se para cada aberto 𝑈 de 𝑋 o conjunto 𝑓 (𝑈 ) é aberto em 𝑌 e é dita fechada se se para cada fechado 𝑈 de 𝑋 o conjunto 𝑓 (𝑈 ) é fechado em 𝑌 . 3.4. TOPOLOGIA QUOCIENTE 51 Da própria definição de aplicação quociente temos que, se uma aplicação é sobrejetora, contínua e aberta (fechada) então é uma aplicação quociente (aplica abertos saturados em abertos). No entanto, a recíproca nem sempre é verdadeira. Exemplo 3.8. Seja 𝑋 = [0, 1] ∪ [2, 3] e 𝑌 = [0, 2] subespaços ⎧ de R, a aplicação 𝑝 : 𝑋 → 𝑌 definida da forma 𝑝(𝑥) = ⎨𝑥, se 𝑥 ∈ [0, 1] é sobrejetora, contínua, e fechada. E, ⎩𝑥 − 𝑦, se 𝑥 ∈ [2, 3] portanto uma aplicação quociente, mas não é uma aplicação aberta, pois a imagem do [0, 1] conjunto aberto em 𝑋 não é aberto em 𝑌 . Se 𝐴 = {[0, 1) ∪ [2, 3]} então aplicação 𝑞 : 𝐴 → 𝑌 obtida restringindo 𝑝 em 𝐴, é contínua, sobrejetora, mas não é aplicação quociente, pois o conjunto [2, 3] é aberto em 𝐴, saturado em relação a 𝑞, mas sua imagem não é aberta em 𝑌 . Exemplo 3.9. Seja 𝜋1 : R × R → R a projeção na primeira coordenada, então 𝜋1 é uma aplicação quociente. Pois se 𝑈 × 𝑉 é um elemento base não vazio de R×R então 𝜋1 (𝑈 ×𝑉 ) = 𝑈 que é aberto em R. Assim, 𝜋1 é contínua, sobrejetora e aberta. Mas 𝜋1 não é uma aplicação fechada pois, seja 𝐶 = {(𝑥, 𝑦) | 𝑥𝑦 = 1} é fechado e 𝜋1 (𝐶) = R − {0} que é aberto em R. Definição 3.12. Seja 𝑋 é um espaço e 𝐴 um conjunto, se 𝑝 : 𝑋 → 𝐴 é uma aplicação sobrejetora, então existe exatamente uma topologia 𝒯 em 𝐴 relativa a qual 𝑝 é uma aplicação quociente, chamada topologia quociente induzida. De fato 𝑝−1 (∅) = ∅ e 𝑝−1 (𝐴) = 𝑋, pela sobrejetividade ⋃︀ de 𝑝, e também para uma coleção 𝑈𝛼 em 𝐴 se tem 𝑝−1 ( 𝛼 𝑈𝛼 ) = 𝑛 𝑛 ⋃︀ ⋃︀ ⋃︀ −1 (𝑈𝛼 ) e 𝑝−1 ( 𝑈𝑖 ) = 𝑝−1 (𝑈𝑖 ) pela continuidade de 𝑝. 𝛼𝑝 𝑖=1 𝑖=1 satisfazendo as condições de topologia. 52 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES Exemplo 3.10. ⎧ A aplicação 𝑝 : R → 𝐴, 𝐴 = {𝑎, 𝑏, 𝑐} definida ⎪ ⎪ 𝑎, se 𝑥 < 0 ⎪ ⎨ por 𝑝(𝑥) = 𝑏, se 𝑥 = 0 é uma aplicação quociente. Seus ⎪ ⎪ ⎪ ⎩𝑐, se 𝑥 > 0. conjuntos saturados são 𝑓 −1 (𝑎), 𝑓 −1 (𝑏), 𝑓 −1 (𝑐), e suas interseções e uniões. De forma que se resumem a (−∞, 0) ∪ (0, ∞), [0], (−∞, 0) e (0, ∞) que exceto por [0] são aberto e devem ter imagem aberta na topologia quociente, enquanto que fechados terão imagem fechada. Daí tem-se que, a topologia quociente será 𝒯 = {{𝑎, 𝑏}, {𝑏}, {𝑎}, {𝑎, 𝑏, 𝑐}, ∅} Definição 3.13. Seja 𝑋 um espaço topológico e 𝑋 * uma partição de 𝑋. Seja 𝑝 : 𝑋 → 𝑋 * uma aplicação sobrejetora que leva cada ponto de 𝑋 para o elemento conjunto de 𝑋 * que o contém. Chamamos o espaço 𝑋 * de espaço quociente de 𝑋 na topologia quociente induzida por 𝑝. Dado 𝑋 * existe uma relação de equivalência para o qual os elementos de 𝑋 * são classes de equivalência. Exemplo 3.11. Seja 𝑋 o retângulo [0, 1] × [0, 1]. Definindo a partição 𝑋 * de 𝑋 como a classe dos pontos interiores, dos pontos da borda do quadrado que estão sobre os lados paralelos ao eixo 𝑥 e não estão nos cantos do quadrado, os pontos das bordas paralelas ao eixo 𝑦 que não estão nos cantos do quadrado e o cunjunto dos cantos do quadrado. Em notação matemática o conjunto de todos os {(𝑥, 𝑦)} com 0 < 𝑥 < 1 e 0 < 𝑦 < 1 , o conjunto dos {𝑥 × 0, 𝑥 × 1} com 0 < 𝑥 < 1, {𝑦 × 0, 𝑦 × 1} com 0 < 𝑦 < 1 e o conjunto {0×0, 0×1, 1×0, 1×1}. Nesta topologia uma vizinhança de um dos cantos do quadrado é também vizinhança de todos os outros cantos, ou um vazinhança de uma das bordas 3.4. TOPOLOGIA QUOCIENTE 53 paralelas ao eixo das abiscissas, digamos (1, 𝑦), será também viznhança de (0, 𝑦). Geometricamente esta forma de definir os abertos no quadrado é como unir os cantos do quadrado e formar um toro. Teorema 3.8. Seja 𝑝 : 𝑋 → 𝑌 uma aplicação quociente e 𝐴 um subespaço de 𝑋 que é saturado em relação a 𝑝 e 𝑞 : 𝐴 → 𝑓 (𝐴) uma aplicação obtida pela restrição de 𝑝. 1. Se A é aberto ou fechado então 𝑞 é uma aplicação quociente; 2. Se 𝑝 é uma aplicação aberta ou fechada 𝑞 é uma aplicação quociente. Demonstração: Note que 𝑞 −1 (𝑉 ) = 𝑝−1 (𝑉 ) pois, se 𝑉 ⊂ 𝐴 e 𝐴 é saturado, 𝑝−1 (𝑉 ) está contido em 𝐴. Ou seja, 𝑝−1 (𝑉 ) e 𝑞 −1 (𝑉 ) são iguais a todos os pontos de 𝐴 que são aplicados de 𝐴 para 𝑉 . Além disto, 𝑝(𝑈 ∩ 𝐴) = 𝑝(𝑈 ) ∩ 𝐴 se 𝑈 ⊂ 𝑋. A inclusão 𝑝(𝑈 ∩ 𝐴) ⊂ 𝑝(𝑈 ) ∩ 𝐴 sempre vale. Agora suponha 𝑦 = 𝑝(𝑢) = 𝑝(𝑎), para 𝑢 ∈ 𝑈 e 𝑎 ∈ 𝐴. Como 𝐴 é saturado, 𝐴 contém 𝑝−1 (𝑝(𝑎)), em particular 𝐴 contém 𝑢, então 𝑦 = 𝑝(𝑢) onde 𝑢 ∈ 𝑈 ∩ 𝐴. Vamos a demonstração do teorema: (1) Suponha 𝐴 aberto, com 𝑞 −1 aberto em 𝐴. Sabemos que 𝑞 −1 (𝑉 ) = 𝑝−1 (𝑉 ) com 𝑝−1 (𝑉 ) aberto em 𝑋, então 𝑉 deve ser aberto em 𝑌 porque 𝑝 é uma aplicação quociente. Em particular 𝑉 é aberto em 𝑝(𝑎). (2) Agora suponha 𝑝 uma aplicação aberta. Como 𝑞 −1 (𝑉 ) = 𝑝 −1 (𝑉 ) e 𝑝−1 (𝑉 ) é aberto em 𝐴, temos que 𝑝−1 (𝑉 ) = 𝑈 ∩𝐴 para algum conjunto 𝑈 aberto em 𝑋. Usando a sobrejetividade de 𝑝, 𝑝(𝑝−1 (𝑉 )) = 𝑉 assim, 𝑉 = 𝑝(𝑝−1 (𝑉 )) = 𝑝(𝑢 ∩ 𝐴) = 𝑝(𝑈 ) ∩ 𝑝(𝐴). 54 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES Com 𝑝(𝑈 ) aberto em 𝑌 (𝑝 é aplicação quociente). Portanto 𝑉 é aberto em 𝑝(𝐴). O fato de que a composição de aplicações quocientes é uma aplicação quociente vem de 𝑝−1 (𝑞 −1 (𝑈 )) = (𝑞 ∘ 𝑝)−1 (𝑈 ). Teorema 3.9. Sejam 𝑝 : 𝑋 → 𝑌 uma aplicação quociente, 𝑍 um espaço topológico e 𝑔 : 𝑋 → 𝑌 uma aplicação que é constante para cada conjunto 𝑝−1 ({𝑦}), 𝑦 ∈ 𝑌 . Então 𝑔 induz uma aplicação 𝑓 : 𝑌 → 𝑍 tal que 𝑓 ∘ 𝑝 = 𝑔 que é contínua se, e somente se 𝑔 é contínua, e uma aplicação quociente se, e somente se, 𝑓 é aplicação quociente.(Diagrama da Figura (1)) Demonstração: Para cada 𝑦 ∈ 𝑌 , 𝑔(𝑝−1 ({𝑦})) é um conjunto unitário de 𝑍. Definindo 𝑓 (𝑦) como este ponto, a aplicação 𝑓 : 𝑌 → 𝑍 tal que para cada 𝑥 ∈ 𝑋 se tenha 𝑓 ((𝑝(𝑥))) = 𝑔(𝑥). Se 𝑔 é contínua, então 𝑔 = 𝑓 ∘ 𝑝 é contínua. Se 𝑔 é contínua então dado um conjunto aberto 𝑉 de 𝑍, 𝑔 1 (𝑉 ) é aberto em 𝑋, mas 𝑔 −1 (𝑉 ) = 𝑝−1 (𝑓 −1 (𝑉 )) como 𝑝 é aplicação quociente, temos que 𝑓 −1 (𝑉 ) é aberto em Y.𝑓 é contínua. Para a segunda afirmação, suponha 𝑓 uma aplicação quociente. Como 𝑔 é composta de duas aplicações quocientes será uma aplicação quociente. Inversamente, se 𝑔 é uma aplicação quociente então 𝑔 é sobrejetora e 𝑓 será uma aplicação sobrejetora. Seja 𝑉 um subconjunto de 𝑍, 𝑝−1 (𝑓 −1 (𝑉 )) é aberto em 𝑋, pois 𝑝 é contínua. Como 𝑝−1 (𝑓 −1 (𝑉 )) = 𝑔 −1 (𝑉 ), 𝑉 é aberto em 𝑍. 𝑔 é uma aplicação quociente. Teorema 3.10. Seja 𝑔 : 𝑋 → 𝑍 uma aplicação sobrejetora e 𝑋 * o espaço quociente da forma 𝑋 * = {𝑔 −1 ({𝑧})|𝑧 ∈ 𝑍}. Então 1. A aplicação 𝑔 induz a uma aplicação bijetora e contínua 3.5. ESPAÇOS CONEXOS 55 X p Y g f Z Figura 1 – Diagrama de representação do Teorema (3.9) 𝑓 : 𝑋 * → 𝑍 que é um homeomorfismo se, e somente se, 𝑔 é aplicação quociente; 2. Se 𝑍 é um espaço de Hausdorff, então 𝑋 * também será um espaço de Hausdorff. Demonstração: (1) Pelo Teorema (3.9) 𝑔 induz a uma aplicação contínua * 𝑓 : 𝑋 → 𝑍, 𝑓 é bijetora. Suponha 𝑓 um homeomorfismo. Então ambos, 𝑓 e a aplicação 𝑝 : 𝑋 → 𝑋 * são aplicações quocientes e assim, 𝑔 = 𝑓 (𝑝(𝑥)) é uma aplicação quociente. Inversamente suponha 𝑔 aplicação quociente, pelo Teorema (3.9) 𝑓 é aplicação quociente e portanto homeomorfismo. (2) Supondo 𝑍 um espaço de Hausdorff, dados pontos distintos de 𝑋 * , suas imagens sob 𝑓 são distintas, tomando vizinhanças disjuntas 𝑈 e 𝑉 destes pontos, 𝑓 −1 (𝑈 ) e 𝑓 −1 (𝑉 ) vizinhanças disjuntas entre dois pontos de 𝑥* . 3.5 ESPAÇOS CONEXOS Os teoremas do valor intermediário, da continuidade uniforme, e do valor médio são alguns dos teoremas que necessitam 56 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES X p X∗ g f Z Figura 2 – Diagrama de representação do Teorema (3.10) da definição de conexidade e compacidade para serem provados. Uma vez provados podemos utilizar diversas propriedades para as homotopias mais adiante, por exemplo, para obter inversas. Definição 3.14. Uma separação do espaço topológico 𝑋 é um par de subconjuntos 𝑈 e 𝑉 disjuntos e não vazios abertos em 𝑋 cuja união é igual a 𝑋. Se esta separação não existe o espaço 𝑋 é dito conexo. Um espaço 𝑋 é conexo se, e somente se, os únicos subconjuntos de 𝑋 que são, ao mesmo tempo, abertos e fechados são ∅ e 𝑋. De fato, se 𝐴 é um subconjunto de 𝑋 não vazio e aberto e fechado ao mesmo tempo, então 𝑈 = 𝐴 e 𝑉 = 𝑋 − 𝐴 são uma separação de 𝑋. Por outro lado, se 𝑈 e 𝑉 são abertos e formam uma separação de 𝑋, então 𝑈 e 𝑉 são não vazios e portanto diferentes de 𝑋. Assim 𝑈 = 𝑋 − 𝑉 é fechado e aberto ao mesmo tempo. A conexidade é uma propriedade topológica. Logo, se 𝑋 é conexo, todo espaço homeomorfo a ele será conexo. Outra forma de definir um conjunto conexo é dado pelo Lema 3.3. Se 𝑌 é um subespaço de 𝑋, uma separação de 𝑌 é um par de conjuntos disjuntos não vazios 𝐴 e 𝐵 cuja união é 3.5. ESPAÇOS CONEXOS 57 𝑌 , nenhum dos quais contém ponto de acumulação do outro. O conjunto 𝑌 é conexo se não existe separação de 𝑌 . Demonstração: O conjunto 𝑌 é subespaço de 𝑋 assim, 𝐴¯ ∩ 𝑌 é ó fecho de 𝐴 em 𝑌 (𝐴¯ é o fecho de 𝐴 em 𝑋). Se 𝐴 e 𝐵 são uma separação de 𝑌 (𝐴, 𝐵 ⊂ 𝑌 ) ambos são abertos e fechados em 𝑌 , 𝐴 = 𝐴¯ ∩ 𝑌 e ainda, ∅ = 𝐵 ∩ 𝐴 = (𝐴¯ ∩ 𝑌 ) ∩ 𝐵 = 𝐴¯ ∩ (𝑌 ∩ 𝐵) = 𝐴¯ ∩ 𝐵. Mas, 𝐴¯ é a união dos pontos de 𝐴 e seus pontos de acumulação, o que implica que 𝐵 não possui nenhum ponto de acumulação de 𝐴. De forma análoga se mostra que 𝐴 não possui pontos de acumulação de 𝐵. Agora, suponha 𝐴 e 𝐵 disjuntos não vazios tais que 𝐴 ∪ 𝐵 = 𝑌 e nenhum contém pontos de acumulação do outro. Então, ¯ ¯ ∩𝐴 = ∅, o que implica que 𝐴∩𝑌 ¯ ¯ ∩𝑌 = 𝐵, 𝐴∩𝐵 =∅e𝐵 =𝐴e𝐵 ou seja, 𝐴 e 𝐵 são fechados em 𝑌 . Como 𝐴 = 𝑌 −𝐵 e 𝐵 = 𝑌 −𝐴, 𝐴 e 𝐵 são abertos e fechados em 𝑌 . Na topologia discreta todo conjunto é aberto e fechado, então todo conjunto com a topologia discreta não é conexo. E, todo conjunto com a topologia indiscreta é conexo. Exemplo 3.12. Seja 𝑌 = [−1, 0) ∪ (0, 1] um subespaço de R.O espaço 𝑌 não é conexo 𝑈 = [−1, 0) e 𝑉 = (0, 1] são uma separação de 𝑌 Exemplo 3.13. O conjunto dos racionais Q não é conexo, pois para quaisquer dois racionais 𝑝 e 𝑞, podemos tomar um irracional 𝑧 ∈ R − Q de forma que 𝑝 < 𝑧 < 𝑞. Assim Q = ((−∞, 𝑧) ∩ Q) ∪ ((𝑧, ∞) ∩ Q). Lema 3.4. Se 𝐶 e 𝐷 formam uma separação de 𝑋 e se 𝑌 é subespaço conexo de 𝑋 então 𝑌 está inteiramente contido em 𝐶 58 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES ou inteiramente contido em 𝐷 Demonstração: Se 𝑌 é subespaço de 𝑋, logo 𝑌 ∩ 𝐶 e 𝑌 ∩ 𝐷 são abertos e fechados e disjuntos em 𝑌 (pela topologia do subespaço),e sua união é 𝑌 . Como 𝑌 é conexo 𝑌 ∩ 𝐶 = ∅ e 𝑌 ∩𝐷 = 𝑌 ou 𝑌 ∩𝐷 = ∅ e 𝑌 ∩𝐶 = 𝑌 . Em ambos os casos 𝑌 está inteiramente contido em apenas um dos conjuntos da separação. Teorema 3.11. A união de uma coleção de subespaços conexos que tem um elemento em comum e conexo. Demonstração: Seja {𝐴𝛼 } uma coleção de subespaços ⋃︀ conexos de 𝑋 e 𝑝 um elemento de ∩𝐴𝛼 . Suponha 𝑌 = 𝛼 𝐴𝛼 não conexo, e seja, 𝑌 = 𝐶 ∪ 𝐷 uma separação de 𝑌 , então 𝑝 pertence a apenas um destes conjuntos. Suponha 𝑝 ∈ 𝐶, para cada 𝛼, 𝐴𝛼 contém 𝑝 e é conex, isso pelo lema anterior implica que 𝐴𝛼 ⊂ 𝐶 e não está contido em 𝐷. Assim, ∪𝐴𝛼 ⊂ 𝐶, contradizendo o fato de que 𝐷 ̸= ∅. E portanto 𝑌 é conexo. Teorema 3.12. Se 𝐴 é um subespaço conexo de 𝑋 com 𝐴 ⊂ 𝐵 ⊂ 𝐴¯ então 𝐵 é conexo. Demonstração: Suponha 𝐵 não conexo, então 𝐵 = 𝐶 ∪ 𝐷 é uma separação de 𝐵 com 𝐴 subconjunto de 𝐵. Assim, 𝐴 está contido em apenas um dos conjuntos da separação, suponha ¯ Como 𝐷 não possui pontos de acumulação 𝐴 ⊂ 𝐶 então 𝐴¯ ⊂ 𝐵. ¯ ou seja, 𝐵 não pode de 𝐶 então, 𝐶¯ ∩ 𝐷 = ∅ mas, 𝐵 ⊂ 𝐴¯ ⊂ 𝐶, intersectar 𝐷. Logo 𝐷 é vazio. Teorema 3.13. A imagem de um espaço conexo sob uma aplicação contínua é conexa. 3.5. ESPAÇOS CONEXOS 59 Demonstração: Seja 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 uma aplicação contínua e 𝑋 conexo. A aplicação obtida de 𝑓 restringindo a imagem para 𝑓 (𝑋) também é contínua. Tomando 𝑔 : 𝑋 → 𝑍, 𝑍 = 𝑓 (𝑋), suponha 𝑍 = 𝐴∪𝐵 uma separação de 𝑍. Então 𝑔 −1 (𝐴) e 𝑔 −1 (𝐵) são abertos (𝑔 é contínua), disjuntos (pois do contrário haveria um elemento em 𝑋 cuja imagem não é única, contrariando a definição de aplicação), não vazios (𝑔 é sobrejetora ) e sua união é 𝑋.Assim, 𝑔 −1 (𝐴) e 𝑔 −1 (𝐵) são uma separação de 𝑋, contrariando que 𝑋 é conexo. Teorema 3.14. Um produto cartesiano finito de espaços conexos é conexo. Demonstração: Primeiro vamos provar para o pro- duto entre dois espaços conexos 𝑋 × 𝑌 . Tome um ponto arbitrário 𝑎 × 𝑏 pertencente a 𝑋 × 𝑌 . O conjunto 𝑋 × 𝑏 é conexo por ser homeomorfo a 𝑋 (basta tomar ℎ : 𝑋 → 𝑋 × 𝑏 tal que ℎ(𝑥) = 𝑥 × 𝑏 para todo 𝑥 ∈ 𝑋). Da mesma forma 𝑥 × 𝑌 é conexo e homeomorfo a 𝑌 . Seja 𝑇𝑥 = (𝑋 × 𝑏) ∪ (𝑥 × 𝑌 ), 𝑇𝑥 é conexo pois se trata da união entre dois espaços conexos com o ponto 𝑥 × 𝑏 em comum. ⋃︀ Da mesma forma 𝑇𝑥 = 𝑋 × 𝑌 é conexo por ser a união de 𝑥∈𝑋 espaços conexos com o ponto 𝑎 × 𝑏 em comum. para mostrar a união finita basta notar que 𝑋1 × . . . × 𝑋𝑛 é homeomorfo a (𝑋1 × . . . × 𝑋𝑛−1 ) × 𝑋𝑛 . Definição 3.15. Um conjunto ordenado 𝐿 com mais de um elemento é dito linearmente contínuo se: 1. 𝐿 possui a propriedade do supremo (todo subconjunto limitado superiormente tem supremo); 60 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES 2. Se 𝑥 < 𝑦 então existe 𝑧 tal que 𝑥 < 𝑧 < 𝑦. O fato de um conjunto ordenado ser limitado não implica em possuir a propriedade do supremo. Por exemplo o conjunto 𝑋 = {𝑥 ∈ Q|𝑥2 < 2} não possui supremo, pois não existe 𝑥 ∈ Q √ √ menor que 2 tal que para todo 𝑦 ∈ 𝑋 se tenha 𝑦 < 𝑥 < 2. Exemplo 3.14. Os intervalos da reta real são linearmente contínuos. Teorema 3.15. Se 𝐿 é um conjunto linearmente contínuo na topologia da ordem, então 𝐿 é conexo. Demonstração: Suponha 𝐴 ∪ 𝐵 uma separação em 𝑌 . Tome 𝑎 ∈ 𝐴 e 𝑏 ∈ 𝐵 com 𝑎 < 𝑏. Desta forma, o intervalo [𝑎, 𝑏] de pontos de 𝐿 está contido em 𝑌 . Mas [𝑎, 𝑏] é a união dos conjuntos 𝐴0 = 𝐴 ∩ [𝑎, 𝑏] e 𝐵0 = 𝐵 ∩ [𝑎, 𝑏] que são disjuntos e abertos na topologia do subespaço (que é a mesma de ordem). 𝐴0 e 𝐵0 são não vazios, pois 𝑎 ∈ 𝐴0 e 𝑏 ∈ 𝐵0 . Assim, 𝐴0 e 𝐵0 são uma separação de [𝑎, 𝑏]. Seja 𝑐 = 𝑠𝑢𝑝𝐴0 . Suponha 𝑐 ∈ 𝐵0 então 𝑐 ̸= 𝑎. 𝑐 = 𝑏 ou 𝑎 < 𝑐 < 𝑏. Como 𝐵0 é aberto em [𝑎, 𝑏] existe algum intervalo da forma (𝑑, 𝑐] contido em 𝐵0 . No caso de 𝑐 = 𝑏 é uma contradição ao fato de 𝑐 ser o supremo de 𝐴0 já que, 𝑑 < 𝑏. No caso de 𝑐 < 𝑏 então (𝑐, 𝑏] não intersecta 𝐴0 . O que contradiz o fato de 𝑐 ser supremo de 𝐴0 . Agora suponha 𝑐 ∈ 𝐴. Então 𝑐 ̸= 𝑏. 𝑐 = 𝑎 ou 𝑎 < 𝑐 < 𝑏. 𝐴0 é aberto, então existe um intervalo da forma [𝑐, 𝑒) contido em 𝐴0 . Tomando 𝑧 ∈ 𝐿 tal que 𝑐 < 𝑧 < 𝑒 com 𝑧 ∈ 𝐴0 , com 𝑐 supremo de 𝐴0 , contradição. 3.5. ESPAÇOS CONEXOS 61 Exemplo 3.15. Todo intervalo da reta real R é conexo pois, satisfaz as hipóteses do teorema acima. Exemplo 3.16. O conjunto 𝑋 × [0, 1] com 𝑋 espaço topológico ordenado é linearmente contínua na topologia da ordem do dicionário. Para mostrar que R é conexo, usamos a propriedade da convexidade, ou seja, ligamos dois pontos por uma linha reta. Esta propriedade, tão útil em R, pode ser estendida para qualquer espaço topológico na forma da Definição 3.16. Dados dois pontos 𝑥, 𝑦 ∈ 𝑋, um caminho em 𝑋 de 𝑥 para 𝑦 é uma aplicação contínua 𝑓 : [𝑎, 𝑏] → 𝑋 tal que 𝑓 (𝑎) = 𝑥 e 𝑓 (𝑏) = 𝑦. Um espaço 𝑋 é dito conexo por caminhos se para todo par de pontos de 𝑋 existe um caminho entre eles. Exemplo 3.17. A reta R é conexa pois, para quaisquer dois pontos dela é possível ligá-los pela própria reta. É imediato que todo conjunto conexo por caminhos é conexo pois, do contrário tomando 𝑋 = 𝐴 ∪ 𝐵 uma separação de 𝑋, se existe um caminho entre pontos 𝑎 ∈ 𝐴 e 𝑏 ∈ 𝐵 haveria uma aplicação contínua cuja imagem não está contida em apenas um dos conjuntos da separação, uma contradição a continuidade do caminho. Exemplo 3.18. A bola aberta 𝐵 𝑛 em R onde 𝐵 𝑛 = {𝑥| ||𝑥|| ≤ √︀ 1} é conexa por caminhos, onde ||𝑥|| = 𝑥21 + . . . + 𝑥2𝑛 . De fato, dados 𝑥, 𝑦 ∈ 𝐵 𝑛 , o caminho da linha reta 𝑓 : [0, 1] → R definido por 𝑓 (𝑡) = (1 − 𝑡)𝑥 + 𝑡𝑦 está contido em 𝐵 𝑛 , ou seja, ||𝑓 (𝑡)|| ≤ (1 − 𝑡)||𝑥|| + 𝑡||𝑦|| ≤ 1. 62 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES Quando definirmos homotopia da linha reta, provaremos formalmente que esta propriedade se estende a qualquer bola aberta 𝐵𝑑 (𝑥, 𝜖) e bola fechada 𝐵¯𝑑 (𝑥, 𝜖). Exemplo 3.19. O espaço perfurado definido por R𝑛 −0 é conexo por caminhos se 𝑛 > 1, mas se 𝑛 = 1 temos que R − {0} = (−∞, 0) ∪ (0, +∞) não é conexo por caminhos. Exemplo 3.20. A esfera unitária 𝑆 𝑛−1 em R da forma 𝑆 𝑛−1 = {𝑥| ||𝑥|| = 1} é conexa por caminhos se 𝑛 > 1. Pois, 𝑔 : R𝑛 − 0 → definida por 𝑔(𝑥) = 𝑥 ||𝑥|| é contínua, sobrejetora e conexo pois é a imagem de uma aplicação contínua em um espaço conexo por caminhos. Um espaço ser conexo por caminhos implica em ser conexo, no entanto a recíproca nem sempre vale, isto está exemplificado no Exemplo 3.21. Seja 𝑆 = {𝑥×𝑠𝑒𝑛( 𝑥1 )| 0 < 𝑥 ≤ 1}. 𝑆 é conexo, pois é a imagem sob uma aplicação contínua do espaço conexo (0, 1]. Além disto, 𝑆¯ também é conexo, basta tomar 𝑆 ⊂ 𝑆 ⊂ 𝑆¯ e aplicar o Teorema (3.12). O conjunto 𝑆¯ é chamado de topologia da curva do seno (Figura 3). 1 0 Figura 3 – Curva do seno. 3.6. CONEXIDADE LOCAL 63 A curva do seno 𝑆¯ é a união de 𝑆 com o intervalo vertical 0 × [−1, 1]. Graficamente, se vê que para 𝑥 = 0 a função 𝑠𝑒𝑛( 𝑥1 ) não está definida, e portanto não há caminho que una 𝑆 ao eixo das ordenadas. A demonstração formal deste exemplo está em Munkres (2000, p. 157). 3.6 CONEXIDADE LOCAL Dado um espaço topológico 𝑋, existe uma forma natural de quebrá-lo em pedaços conexos ou conexos por caminho, que é quebrá-lo em componentes conexas ou componentes conexas por caminho. Definição 3.17. Dado um espaço 𝑋, defina uma relação de equivalência em 𝑋 da forma 𝑥 ∼ 𝑦 se existe um subespaço conexo de 𝑋 contendo ambos 𝑥 e 𝑦. As classes de equivalência assim definidas são chamadas componentes ou componentes conexas de 𝑋. Pela relação definida 𝑥 ∼ 𝑥 e se 𝑥 ∼ 𝑦 então 𝑦 ∼ 𝑥. Agora, se 𝐴 é um subespaço conexo contendo 𝑥, 𝑦 ∈ 𝑋 (𝑥 ∼ 𝑦) e se 𝐵 é um subespaço contendo 𝑦, 𝑧 ∈ 𝑋 (𝑦 ∼ 𝑧), então 𝐴 ∪ 𝐵 é conexo (união de espaços conexos com um ponto em comum) e contém 𝑥 e 𝑧 assim, 𝑥 ∼ 𝑧. É imediato que um espaço conexo possui uma única classe de equivalência (única componente conexa). Além disto, as componentes de um espaço 𝑋 são subespaços conexos e disjuntos de 𝑋 cuja união é 𝑋 Teorema 3.16. Todo subespaço não vazio de um espaço conexo 𝑋 intersecta apenas uma componente de 𝑋. 64 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES Demonstração: Seja 𝐴 subespaço conexo de 𝑋 que intersecta as componentes conexas 𝐶1 e 𝐶2 de 𝑋 nos pontos 𝑥1 e 𝑥2 respectivamente, então pela conexidade de 𝐴, 𝑥1 ∼ 𝑥2 , logo 𝐶1 = 𝐶2 pois, para todo 𝑥 ∈ 𝐶 temos 𝑥 ∼ 𝑥1 e por transitividade 𝑥 ∼ 𝑥2 . Contrariamente escolha 𝑥0 ∈ 𝐶, para cada 𝑥 ∈ 𝐶 temos que 𝑥0 𝑥. Então, existe um subespaço conexo 𝐴𝑥 contendo 𝑥0 e 𝑥. Pelo já provado na primeira parte da demonstração 𝐴𝑥 ∈ 𝐶 e ⋃︀ portanto 𝐶 = 𝐴𝑥 . Desde que 𝐴𝑥 é conexo e 𝑥0 é comum em 𝑥∈𝐶 𝐴𝑥 para todo 𝑥 ∈ 𝐶, então 𝐶 é conexo. Definição 3.18. Dado um espaço 𝑋, defina uma relação de equivalência em 𝑋 da forma 𝑥 ∼ 𝑦 se existe um caminho de 𝑥 para 𝑦. As classes de equivalência assim definidas são chamadas componentes por caminho ou componentes conexas por caminho de 𝑋. Demonstração: Definindo 𝑓 : [𝑎, 𝑏] → 𝑋 tal que 𝑓 (𝑡) = 𝑥 para todo 𝑡 temos que 𝑥 𝑥 para todo 𝑥 ∈ 𝑋. Definindo 𝑔 : [0, 1] → 𝑋 da forma 𝑔(𝑡) = 𝑓 (1 − 𝑡) temos que se 𝑥 𝑦 então 𝑦 𝑥 para todo 𝑥 e 𝑦 ∈ 𝑋. Definindo 𝑓 : [0, 1] → 𝑋 um caminho entre 𝑥 e 𝑦 e 𝑔 : [1, 2] → 𝑋 um caminho entre 𝑦 e 𝑧, pelo Teorema da colagem a aplicação ℎ : [0, 2] → 𝑋 é um caminho de 𝑥 para 𝑧. Como todos os intervalos fechados em R são homeomorfos entre si. Esta relação de equivalência se aplica a qualquer intervalo fechado de R Note que cada componente conexa por caminhos de um subespaço de 𝑋 são subespaços disjuntos de 𝑋, conexos por 3.6. CONEXIDADE LOCAL 65 caminho e cada subespaço de conexo não vazio de 𝑋 intersecta apenas uma componente conexa por caminhos. Muitas vezes basta conhecer as características de um espaço próximo a um ponto específico. Esta noção é dada pela Definição 3.19. Um espaço 𝑋 é dito localmente conexo se para toda vizinhança 𝑈 de 𝑥, existe uma vizinhança conexa 𝑉 de 𝑥 contida em 𝑈 . Se 𝑋 é localmente conexo em todos os seus pontos, 𝑋 é dito localmente conexo. Analogamente, 𝑋 é dito localmente conexo por caminhos em 𝑥 se para toda vizinhança 𝑈 de 𝑥 existe uma vizinhança 𝑉 de 𝑥 conexa por caminhos contida em 𝑈 . Se 𝑋 é localmente conexo por caminhos em cada um de seus pontos, então 𝑋 é dito localmente conexo por caminhos. Exemplo 3.22. O conjunto 𝑋 das retas 𝑥 = 1 𝑛 em R2 união com os eixos coordenados é um conjunto conexo, e conexo por caminhos. Mas, tomando a vizinhança 𝐵𝑑 (1, 𝜖), para todo 𝜖 < 1 o subespaço 𝑋 ∩𝐵𝑑 não é conexo, e portanto 𝑋 não é localmente conexo Exemplo 3.23. A curva do seno 𝑆¯ (Exemplo 3.21) não é localmente conexa, pois tomando 𝐵𝑑 ( 21 , 𝜖), para todo 𝜖 < 14 o subespaço 𝑆¯ ∩ 𝐵𝑑 não é conexo, e portanto 𝑆¯ não é localmente conexo, embora seja conexo. Exemplo 3.24. O subespaço de R dado por [−1, 0) ∪ (0, 1] não é conexo mas é localmente conexo. Exemplo 3.25. O conjunto dos racionais Q não é nem conexo, nem localmente conexo. 66 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES Teorema 3.17. Um espaço 𝑋 é localmente conexo se, e somente se, para todo aberto 𝑈 de 𝑋, toda componente de 𝑈 é aberto em 𝑋. Demonstração: Seja 𝑈 um aberto do conjunto localmente conexo 𝑋 e 𝐶 uma componente de 𝑈 . Se 𝑋 é um ponto de 𝐶, podemos escolher uma vizinhança conexa 𝑉 de 𝑋 tal que 𝑉 ⊂ 𝑈 . Como 𝑉 é conexo, está contido em 𝐶. Portanto 𝐶 é a união das vizinhanças conexas de 𝑥 ∈ 𝐶 ⊂ 𝑈 que é aberto em 𝑋. Por outro lado, suponha as componentes dos conjuntos abertos de 𝑋 também abertas em 𝑋. dado 𝑥 ∈ 𝑋, e uma vizinhança 𝑈 de 𝑥. Seja 𝐶 componente de 𝑈 contendo 𝑥. Tome 𝐶 como vizinhança conexa de 𝑥 e então 𝑋 será localmente conexo. Analogamente se define um espaço 𝑋 como localmente conexo por caminhos se, e somente se, para todo aberto 𝑈 de 𝑋, cada componente por caminho é aberto em 𝑋. Teorema 3.18. Se 𝑋 é espaço topológico, cada componente por caminho de 𝑋 está contido em uma única componente de 𝑋. Se 𝑋 é localmente conexo por caminhos, então as componentes por caminho e as componentes conexas são as mesmas. Demonstração: Cada componente conexa por caminho de 𝑋 está contida em uma componente de 𝑋. Sejam 𝐶 uma componente de 𝑋, 𝑥 um ponto de 𝐶 e 𝑃 um componente por caminhos de 𝑋 que contém 𝑥. Pela conexidade de 𝑃 , 𝑃 ⊂ 𝐶. Suponha 𝑃 ( 𝐶. Tome 𝑄 a união de todas as componentes por caminho de 𝑋 que são diferentes de 𝑃 3.7. ESPAÇOS COMPACTOS 67 e intersectam 𝐶. Como todas as componentes por caminho que intersectam 𝐶 estão em 𝐶 segue que 𝐶 = 𝑃 ∪ 𝑄. 𝑋 é localmente conexo por caminhos, assim toda componente por caminho de 𝑋 é um aberto em 𝑋. Portanto as componentes conexas por caminho 𝑃 e 𝑄 são abertos em 𝑋, disjuntos e não vazios, o que constitui uma separação, contradizendo o fato de 𝐶 ser conexo. 3.7 ESPAÇOS COMPACTOS O intervalo fechado na reta [𝑎, 𝑏] é de extrema importância nas definições de homotopia. No entanto, sua generalização precisou ser reformulada várias vezes até chegar ao que hoje definimos como compacidade. Definição 3.20. Uma coleção 𝒞 de subconjuntos de um espaço topológico é dito ser uma cobertura de 𝑋 se a união dos elementos de 𝒞 é igual a 𝑋. Se os elementos de 𝒞 são abertos em 𝑋, dizemos que 𝒞 é uma cobertura aberta de 𝑋. Definição 3.21. Um espaço 𝑋 é dito ser compacto se toda cobertura aberta 𝒞 de 𝑋 contém uma subcoleção finita que cobre 𝑋. Em outras palavras, todo espaço compacto admite subcobertura finita. Desta definição resulta que, todo conjunto finito é compacto e os intervalos semiabertos não são compactos. A definição de compacidade apresentada parece muito diferente da definição apresentada em análise real. Definir um intervalo compacto como limitado e fechado se aplica no caso de um conjunto métrico, o que será provado mais adiante. 68 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES Lema 3.5. Seja 𝑌 um subespaço de 𝑋. Então, 𝑌 é compacto se, e somente se, toda cobertura de 𝑌 de abertos em 𝑋 contém uma subcoleção finita que cobre 𝑌 . Demonstração: Suponha 𝑌 compacto e 𝒜 = {𝐴𝛼∈𝐽 } uma cobertura de abertos em 𝑋. A subcoleção {𝒜𝛼 } será uma cobertura de abertos em 𝑌 . Usando a compacidade de 𝑌 , a subcoleção finita {𝐴𝛼1 ∩ 𝑌, . . . 𝐴𝛼𝑛 ∩ 𝑌 } cobre 𝑌 . Assim, existe {𝐴𝛼1 , . . . 𝐴𝛼𝑛 } é uma subcoleção de 𝒜 que cobre 𝑌 . Agora, para mostrar que a condição é suficiente, tome ′ 𝒜 = {𝐴′𝛼 } uma cobertura aberta de 𝑌. Para cada 𝛼 escolha 𝐴𝛼 tal que 𝐴′𝛼 = 𝐴𝛼 ∩ 𝑌 . Assim, {𝐴′𝛼 } é aberto em 𝑋 e portanto, 𝒜 = {𝐴𝛼 } é uma cobertura de 𝑌 por abertos de 𝑋 e esta coleção possui, por hipótese, subcoleção finita que cobre 𝑌 . Seja esta subcoleção {𝐴𝛼1 , . . . , 𝐴𝛼1 } então, {𝐴′𝛼1 , . . . , 𝐴′𝛼1 } é uma subcoleção de 𝐴′ que cobre 𝑌 . Teorema 3.19. Todo subespaço fechado de um espaço compacto é compacto. Demonstração: Seja 𝑌 um subespaço fechado de um espaço compacto 𝑋. Dado 𝒜 cobertura de 𝑌 formada por abertos de 𝑋, podemos obter ℬ uma cobertura de 𝑋 formada pela união de 𝒜 ao conjunto aberto 𝑋 −𝑌 . Ou seja, ℬ = 𝒜∪{𝑋 −𝑌 }. Como 𝑋 é compacto podemos obter ℬ ′ ⊂ ℬ finito como cobertura de 𝑋. O conjunto 𝑋 − 𝑌 não contém nenhum elemento de 𝒜, portanto ℬ ′ = {𝐴1 , . . . , 𝐴𝑛 , {𝑋 − 𝑌 }} é uma cobertura finita de 𝑋 onde {𝐴1 , . . . , 𝐴𝑛 } é uma cobertura finita para 𝑌 . Teorema 3.20. A imagem de um espaço compacto sob uma aplicação contínua é compacto. 3.7. ESPAÇOS COMPACTOS Demonstração: 69 Sejam 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 uma aplicação contínua, 𝑋 compacto e 𝒜 uma cobertura de 𝑓 (𝑋) dados por abertos de 𝑌 . A coleção {𝑓 −1 (𝐴)|𝐴 ∈ 𝒜} é uma cobertura de 𝑋 é uma cobertura de abertos (pela continuidade de 𝑓 ) de 𝑋. Se 𝑋 é compacto uma quantidade finita de abertos 𝑓 −1 (𝐴1 ), . . . , 𝑓 −1 (𝐴𝑛 ) cobre 𝑋. Portanto, os conjuntos 𝐴1 , . . . , 𝐴𝑛 cobrem𝑓 (𝑋) O teorema acima será muito útil para verificar homeomorfismos em conjuntos compactos. Lema 3.6. (Lema do tubo) Considere o espaço produto 𝑋 ×𝑌 , onde 𝑌 é compacto. Se 𝑁 é um aberto de 𝑋 × 𝑌 contendo a fatia 𝑥0 × 𝑌 de 𝑋 × 𝑌 , então 𝑁 contém algum tubo 𝑊 × 𝑌 sobre 𝑥0 × 𝑌 , onde 𝑊 é uma vizinhança de 𝑥0 em 𝑋. Ou seja, existe uma vizinhança 𝑊 de 𝑥0 tal que 𝑊 × 𝑌 está contido em 𝑁 . Demonstração: O conjunto 𝑥0 × 𝑌 é homeomorfo a 𝑌 , logo é compacto. Assim, podemos tomar 𝑈1 × 𝑉1 , . . . , 𝑈𝑛 × 𝑉𝑛 uma cobertura finita para 𝑥0 × 𝑌 . defina 𝑊 = 𝑈1 . . . 𝑈𝑛 , 𝑊 é aberto em 𝑋 e contém 𝑥0 , pois cada 𝑈1 × 𝑉1 intersecta 𝑥0 × 𝑌 . Além disto, a cobertura para 𝑊 × 𝑌 . Seja (𝑥, 𝑦) um ponto de 𝑊 × 𝑌 , considere o ponto 𝑥0 × 𝑌 da fatia 𝑥0 × 𝑌 tendo a mesma coordenada𝑦 deste ponto. 𝑥0 × 𝑦 pertence a 𝑈𝑖 × 𝑉𝑖 para algum 𝑖 e portanto 𝑦 ∈ 𝑉𝑖 . Mas 𝑥 ∈ 𝑈𝑗 para todo 𝑗, pois 𝑥 ∈ 𝑊 . Ou seja, (𝑥, 𝑦) ∈ 𝑈𝑖 ×𝑉𝑖 como desejado. Assim, se todos os conjuntos 𝑈𝑖 × 𝑉𝑖 estão contidos em 𝑁 , e cobrem 𝑊 × 𝑌 , o tubo 𝑊 × 𝑌 também está contido em 𝑁 . Teorema 3.21. O produto de uma quantidade finita de espaços compactos é compacto. Demonstração: Sejam 𝑋 e 𝑌 espaços compactos e 𝒜 70 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES uma cobertura aberta de 𝑋 × 𝑌 . dado 𝑥0 ∈ 𝑋, a fatia 𝑥0 × 𝑌 é compacta e portanto admite a cobertura finita 𝐴1 , . . . , 𝐴𝑚 , cuja união é 𝑁 = 𝑎1 ∪ . . . ∪ 𝐴𝑛 é um aberto contendo 𝑥0 × 𝑌 . Pelo Lema do tubo, N contém um tubo 𝑊 × 𝑌 sobre 𝑥0 × 𝑌 , onde 𝑊 é aberto em 𝑋. Então 𝑊 × 𝑌 é coberto por uma quantidade finita 𝐴1 , . . . , 𝐴𝑚 de elementos de 𝒜. Assim, para cada 𝑥 ∈ 𝑋 podemos escolher uma vizinhança 𝑊𝑥 de 𝑥 tal que o tubo 𝑊𝑥 ×𝑌 é compacto. A coleção de todas as vizinhanças 𝑊𝑥 é um aberto que cobre 𝑋. portanto se 𝑋 é compacto, existe uma subcoleção finita 𝑊1 , . . . , 𝑊𝑘 que é uma cobertura para 𝑋. Os tubos 𝑊1 × 𝑌, . . . , 𝑊𝑘 × 𝑌 é todo 𝑋 × 𝑌 e portanto uma cobertura finita de 𝑋 × 𝑌 . Por indução se prova para produto finito. Se 𝑌 não é compacto, o lema do tubo não necessariamente é válido como esta mostrado no exemplo a seguir. Exemplo 3.26. Seja 𝑌 o eixo 𝑦 em R2 e 𝑁 = {(𝑥, 𝑦) | |𝑥| < 1 𝑦 2 +1 }. O conjunto 𝑁 é aberto e contém o conjunto 0 × R mas não contém tubo sobre 0 × R pois, 0 × R é homeomorfo a R que não é compacto. Definição 3.22. Uma coleção 𝒞 de subconjuntos de 𝑋 é dita ter a propriedade da interseção finita se para toda subcoleção finita {𝐶1 , . . . , 𝐶𝑛 } de 𝒞 a interseção 𝐶1 ∩ . . . ∩ 𝐶𝑛 não é vazia. Exemplo 3.27. A coleção 𝒞 = {𝐼𝑛∈N } da forma 𝐼1 ⊂ . . . ⊂ 𝐼𝑛 , chamados intervalos encaixados na reta real, possuem a propriedade da interseção finita. Teorema 3.22. Seja 𝑋 um espaço topológico. Então 𝑋 é compacto se, e somente se,para toda coleção 𝒞 de fechados 𝑋 que ⋂︀ 𝐶 para possui a propriedade da interseção finita, a interseção 𝐶∈𝒞 todos os elementos de 𝒞 não é vazia. 3.7. ESPAÇOS COMPACTOS 71 Demonstração: Dado uma coleção 𝒜 de subconjuntos de 𝑋, seja 𝒞 = {𝑋 − 𝐴}|𝐴 ∈ 𝒜 a coleção de seus complementos, tem-se que: 1. 𝒜 é uma coleção 𝒞 de fechados se, e somente se 𝒞 é uma coleção de fechados; 2. A coleção 𝒜 cobre 𝑋 se, e somente se, ⋂︀ de todos os 𝐶∈𝒞 elementos de 𝒞 é vazia; 3. A subcoleção finita {𝐴1 , . . . , 𝐴𝑛 } de 𝒜 cobre 𝑋 se, e somente se, a interseção do elemento correspondente 𝐶𝑖 = 𝑋 − 𝐴𝑖 de 𝒞 é vazio. Afirmar que 𝑋 não é compacto é o mesmo que dizer que dada uma coleção 𝒜 de abertos, se nenhuma subcoleção finita de 𝒜 cobre 𝑋, então 𝒜 não é cobertura de 𝑋. Seja 𝒞 a coleção {𝑋 − 𝐴|𝐴 ∈ 𝒜} e aplicando as considerações (1), (2) e (3) temos que dado uma coleção 𝒞 de fechados, se toda interseção finita de elementos de 𝒞 é não vazia, então a interseção de todos os elementos de 𝒞 é não vazia. Exemplo 3.28. Pelo teorema anterior temos que o conjunto R+ não é compacto. Tome a coleção dos intervalos da forma [𝑛 − 1, +∞], para todo 𝑛 ∈ N este conjunto é fechado (R − R+ é aberto), e possui a propriedade da interseção finita, no entanto, se tomarmos sua interseção infinita ela será vazia. Teorema 3.23. Seja 𝑋 um conjunto ordenado com a propriedade do supremo. Na topologia da ordem, todo intervalo fechado em 𝑋 é compacto. 72 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES Demonstração: Dados 𝑎 < 𝑏, e 𝒜 uma cobertura de [𝑎, 𝑏] por abertos em [𝑎, 𝑏] na topologia do subespaço. Desejamos provar a existência de uma subcoleção finita de 𝒜 que cobre [𝑎, 𝑏]. Primeiro vamos mostrar que se 𝑥 ∈ [𝑎, 𝑏] e 𝑥 ̸= 𝑏 então existe 𝑦 com 𝑥 < 𝑦 em [𝑎, 𝑏] tal que [𝑥, 𝑦] pode ser coberto por no máximo dois elementos de 𝒜. Se 𝑥 possui sucessor imediato em 𝑋, seja 𝑦 este sucessor imediato, então [𝑥, 𝑦] consiste em dois pontos 𝑥 e 𝑦 e portanto, pode ser coberto por no máximo dois elementos de 𝒜. se 𝑥 não possui sucessor imediato em 𝑋, tome um elemento 𝐴 de 𝒜 contendo 𝑥. Como 𝑥 ̸= 𝑏 e 𝐴 é aberto, 𝐴 contém um intervalo da forma [𝑥, 𝑐), para algum 𝑐 ∈ [𝑎, 𝑏]. Tome 𝑦 ∈ (𝑥, 𝑐), então [𝑥, 𝑦] por um único elemento 𝐴 de 𝒜. Seja 𝐶 o conjunto de todos os pontos 𝑦 > 𝑎 de [𝑎, 𝑏] tal que o intervalo [𝑎, 𝑦] admita ser coberto por uma quantidade finita de elementos de 𝒜. Aplicando o primeiro passo para o caso em que 𝑥 = 𝑎 então, existe pelo menos um 𝑦 tal que 𝐶 não é vazio. Seja 𝑐 o supremo de 𝐶, então 𝑎 < 𝑐 ≤ 𝑏 ([𝑎, 𝑏] é limitado superiormente). Falta mostrar que 𝑐 ∈ 𝐶, ou seja, mostrar que [𝑎, 𝑐] pode ser coberto por uma quantidade finita de elementos de 𝒜. Tome 𝐴 um elemento de 𝒜 contendo 𝑐, como 𝐴 é aberto, contém um intervalo da forma (𝑑, 𝑐] para algum 𝑑 ∈ [𝑎, 𝑏]. Se 𝑐∈ / 𝐶 então, existe um ponto 𝑧 ∈ 𝐶 contido no intervalo (𝑑, 𝑐), pois de outra forma d seria o supremo de 𝐶. Como 𝑧 ∈ 𝐶, [𝑎, 𝑧] pode ser coberto por uma quantidade 𝑛 de elementos de 𝒜. desta forma, [𝑧, 𝑐] está contido em um único elemento 𝐴 de 𝒜. Assim, [𝑎, 𝑐] = [𝑎, 𝑧] ∪ [𝑧, 𝑐] pode ser coberto por 𝑛 + 1 elementos de 𝐴. E portanto, 𝑐 ∈ 𝐶. 3.7. ESPAÇOS COMPACTOS 73 Falta mostrar que 𝑐 = 𝑏. Suponha 𝑐 < 𝑏, aplicando o primeiro passo para 𝑥 = 𝑐, então existe ponto 𝑦 com 𝑐 < 𝑦 em [𝑎, 𝑏] tal que [𝑐, 𝑦] é compacto. Já provamos que se 𝑐 ∈ 𝐶 então, [𝑎, 𝑐] é compacto. Portanto [𝑎, 𝑦] = [𝑎, 𝑐] ∪ [𝑐, 𝑦] é compacto. Assim, 𝑦 ∈ 𝐶, contradizendo o fato de 𝑐 ser supremo. Corolário 3.1. Todo intervalo fechado e limitado em R é compacto. Teorema 3.24. Um espaço 𝐴 de R𝑛 é compacto se, e somente se, é fechado e limitado na métrica euclidiana 𝑑 ou na métrica quadrada 𝜌. Demonstração: Suponha 𝐴 compacto então 𝐴 é fechado pois, R é um espaço de Hausdorff. Considere a coleção de abertos {𝐵𝜌 (0, 𝑚)| 𝑚 ∈ Z+ }, cuja união é todo R𝑛 . Pela compacidade de 𝐴, segue que 𝐴 ⊂ 𝐵𝜌 (0, 𝑚) para algum 𝑀 (admite subcoleção finita). Portanto para quaisquer dois pontos 𝑥 e 𝑦 de 𝐴, temos que 𝜌(𝑥, 𝑦) ≤ 2𝑀 (Teorema 3.23), o que significa que 𝐴 é limitado sob 𝜌. É suficiente mostar para √︀ a métrica 𝜌 pois, 𝜌(𝑥, 𝑦) ≤ 𝑑(𝑥, 𝑦) ≤ (𝑛)𝜌(𝑥, 𝑦). Para a implicação inversa suponha que 𝐴 é fechado e limitado sob 𝜌, com 𝜌(𝑥, 𝑦) ≤ 𝑁 para todo par 𝑥, 𝑦 de pontos de 𝐴. escolha o ponto 𝑥0 de 𝐴 e seja 𝜌(𝑥0 , 0) = 𝑏. A desigualdade triangular implica que 𝜌(𝑥, 0) ≤ 𝑁 + 𝑏 para todo 𝑥 ∈ 𝐴. Se 𝑃 = 𝑁 + 𝑏 então 𝐴 é um subconjunto do cubo [−𝑃, 𝑃 ]𝑛 , que é compacto e portanto 𝐴 é compacto. Exemplo 3.29. A esfera unitária 𝑆 𝑛−1 e a bola fechada 𝐵 𝑛 em R𝑛 são compactos pois são fechadas e limitadas. Exemplo 3.30. O conjunto 𝐴 = {𝑥× 𝑥1 | 0 < 𝑥 ≤ 1} é fechado, mas não é compacto pois, não é limitado. 74 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES Exemplo 3.31. 𝑆 = {𝑥 × 𝑠𝑒𝑛( 𝑥1 )| 0 < 𝑥 ≤ 1} é limitado em R2 , mas não é compacto pois, não é fechado. Teorema 3.25. (Teorema do valor máximo) Seja 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 , onde 𝑌 é um conjunto ordenado na topologia da ordem. Se 𝑋 é compacto, então existem pontos 𝑐 e 𝑑 em 𝑋 tais que 𝑓 (𝑐) ≤ 𝑓 (𝑥) ≤ 𝑓 (𝑑) para todo 𝑥 ∈ 𝑋. Demonstração: Sabemos que 𝐴 = 𝑓 (𝑋) é compacto (pela compacidade de 𝑋 e continuidade de 𝑓 ). Se 𝐴 possui máximo 𝑀 e mínimo 𝑚 então, podemos tomar 𝑚 = 𝑓 (𝑐) e 𝑀 = 𝑓 (𝑑) para algum 𝑐 e 𝑑 em 𝑋. Se 𝐴 não possui máximo a coleção {(−∞, 𝑎)| 𝑎 ∈ 𝐴} é uma cobertura aberta de 𝐴. Pela compacidade de 𝐴, {(−∞, 𝑎1 ), . . . , (−∞, 𝑎𝑛 )} é uma cobertura para 𝐴. Se 𝑎𝑖 é o maior entre os elementos 𝑎1 , . . . , 𝑎𝑛 não pertence a cobertura, um absurdo. Assim, 𝐴 possui máximo e mínimo pelos mesmos argumentos. Um caso particular deste teorema é quando 𝑋 é um intervalo fechado em R e 𝑌 = R com 𝑓 : [𝑎, 𝑏] → R então existem 𝑐 e 𝑑 pertencentes a [𝑎, 𝑏] tais que 𝑓 (𝑐) ≤ 𝑓 (𝑥) ≤ 𝑓 (𝑑) Agora, desejamos generalizar o teorema da continuidade uniforme. Para isto, precisamos introduzir uma nova definição. Definição 3.23. Sejam (𝑋, 𝑑) um espaço métrico e 𝐴 um subconjunto não vazio de 𝑋. para cada 𝑥 ∈ 𝑋, definimos a distância de 𝑥 até 𝐴 pela equação: 𝑑(𝑥, 𝐴) = 𝑖𝑛𝑓 {𝑑(𝑥, 𝑎)| 𝑎 ∈ 𝐴}. A função 𝑑(𝑋, 𝐴) para 𝐴 fixado é contínua em 𝑋. Pois, dados 𝑥, 𝑦 ∈ 𝑋 temos que 𝑑(𝑥, 𝐴) ≤ 𝑑(𝑥, 𝑎) ≤ 𝑑(𝑥, 𝑦) + 𝑑(𝑦, 𝑎) pela definição de ínfimo. Portanto, para cada 𝑎 ∈ 𝐴, em particular para 𝑎 tal que 𝑑(𝑥, 𝑦) = 𝑖𝑛𝑓 {𝑑(𝑥, 𝑎)| 𝑎 ∈ 𝐴}, temos 3.7. ESPAÇOS COMPACTOS 75 que 𝑑(𝑥, 𝐴) − 𝑑(𝑥, 𝑦) ≤ 𝑖𝑛𝑓 (.𝑦, 𝑎) = 𝑑(𝑦, 𝐴) e somando as desigualdades obtidas 𝑑(𝑥, 𝐴) − 𝑑(𝑦, 𝐴) ≤ 𝑑(𝑥, 𝑦). As desigualdades se mantém trocando 𝑥 por 𝑦, de onde segue a continuidade de 𝑑(𝑥, 𝐴). Lema 3.7. Seja 𝒜 uma cobertura aberta de um espaço métrico (𝑋, 𝑑). Se 𝑋 é compacto, existe 𝛿 > 0 tal que para cada subconjunto de 𝑋 com diâmetro menor que 𝛿, existe um elemento de 𝒜 que contém este elemento. O número 𝛿 é chamado número de Lebesgue para a cobertura 𝒜. Demonstração: Seja 𝒜 uma cobertura aberta de 𝑋. Se 𝑋 é um elemento de 𝒜 então qualquer número positivo é um número de Lebesgue para 𝒜. Se 𝑥 ∈ / 𝒜, tome a subcoleção finita {𝐴1 , . . . , 𝐴𝑛 } de 𝒜 que cobre 𝑋, para cada 𝑖 o conjunto ∑︀𝑛 𝐶𝑖 = 𝑋 − 𝐴𝑖 e defina 𝑓 : 𝑋 → R com 𝑓 (𝑥) = 𝑛1 𝑖=1 𝑑(𝑥, 𝑐𝑖 ). Mostraremos que 𝑓 (𝑥) > 0 para todo 𝑥. Dado 𝑥 ∈ 𝑋, escolha 𝑖 de tal que 𝑥 ∈ 𝐴𝑖 . Então tome 𝜖 tal que a 𝜖 − 𝑣𝑖𝑧𝑖𝑛ℎ𝑎𝑛ç𝑎 de 𝑥 está contido em 𝐴𝑖 . Daí tem-se que 𝑑(𝑥, 𝑐𝑖 ) ≥ 𝜖 e portanto 𝑓 (𝑥) ≥ 𝜖 𝑛. Pela continuidade de 𝑓 , 𝑓 possui mínimo valor 𝛿. Seja ℬ um subconjunto de 𝑋 com diâmetro (Definição 3.7) menor que 𝛿. Tome um ponto 𝑥0 de ℬ. Então, ℬ está contido na 𝛿−𝑣𝑖𝑧𝑖𝑛ℎ𝑎𝑛ç𝑎 de 𝑥0 . Agora temos que 𝛿 ≤ 𝑓 (𝑥0 ) ≤ 𝑑(𝑥0 , 𝑐𝑚 ), onde 𝑑(𝑥0 , 𝑐𝑚 ) é o maior dos 𝑑(𝑥0 , 𝑐𝑖 ). Portanto, a 𝛿 − 𝑣𝑖𝑧𝑖𝑛ℎ𝑎𝑛ç𝑎 de 𝑥0 está contida no elemento 𝐴𝑚 = 𝑋 − 𝐶𝑚 da cobertura de 𝒜. Definição 3.24. A função 𝑓 do espaço métrico 𝑑(𝑋, 𝑑𝑥 ) para o espaço métrico (𝑌, 𝑑𝑦 ) é dita ser uniformemente contínua se dado 𝜖 > 0, existe 𝛿 > 0 tal que para todo par de pontos 𝑥0 , 𝑥1 ∈ 𝑋, 𝑑𝑥 (𝑥0 , 𝑥1 ) implica em 𝑑𝑦 (𝑓 (𝑥0 ), 𝑓 (𝑥1 )) < 𝜖 76 Capítulo 3. CONTINUIDADE DE FUNÇÕES Teorema 3.26. (Teorema da continuidade uniforme) Seja 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 uma aplicação contínua de um espaço métrico compacto (𝑋, 𝑑𝑦 ) para um espaço métrico (𝑌, 𝑑𝑦 ). Então, 𝑓 é uniformemente contínua. Demonstração: Dado 𝜖 > 0, tome 𝐵(𝑦, 2𝜖 ) uma cobertura aberta de 𝑌 de raio 2𝜖 . Seja 𝒜 uma cobertura aberta de 𝑋 dada pelas imagens inversas destas bolas sob 𝑓 . Tome 𝛿 um número de Lebesgue para a cobertura 𝒜. Então, se 𝑥1 e 𝑥2 são dois pontos de 𝑋 tal que 𝑑𝑥 (𝑥1 , 𝑥2 ) < 𝛿, o conjunto {𝑥1 , 𝑥2 } possui diâmetro menor que 𝛿 e portanto, sua imagem 𝑓 (𝑥1 ), 𝑓 (𝑥2 ) está contida em alguma bola 𝐵(𝑦, 2𝜖 ). Portanto, 𝑑𝑦 (𝑓 (𝑥1 , 𝑥2 )) < 𝜖 77 4 GRUPO FUNDAMENTAL O estudo de um espaço topológico se torna mais simples quando este espaço pode ser comparado com espaços topológicos conhecidos. Por exemplo, os intervalos fechados da reta que são homeomorfos entre si e, portanto, possuem os mesmos invariantes topológicas. Os invariantes topológicas são propriedades dos espaços que não se alteram mediante homeomorfismo. Como, por exemplo, a compacidade e a conexidade. No entanto, alguns espaços que se vêm claramente não serem homomorfos possuem as mesmas propriedades topológicas dentre as estudadas até agora. A fim de obtermos novas invariantes topológicas, faremos um apelo algébrico, comparando a estrutura topológica a uma estrutura algébrica. Um dos ganhos deste enfoque é a operação associada e suas propriedades. Desta forma, espaços topológicos homeomorfos corresponderiam a estruturas algébricas isomorfas. Em particular, um dos resultados deste enfoque é mostrar que um disco e um anel no plano não são homeomorfos, o que nos permitirá demonstrar resultados clássicos pelo viés da topologia. Nesta capítulo, apresentaremos a construção do grupo fundamental por meio de homotopias por caminhos, mostraremos que o grupo fundamental do círculo é isomorfo ao grupo aditivo dos números inteiros e, por fim, apresentaremos uma aplicação do grupo fundamental do círculo: a demonstração do teorema fundamental da álgebra. Para este capítulo foram usa- 78 Capítulo 4. GRUPO FUNDAMENTAL dos prioritariamente Lima (2006), Munkres (2000) e D’Ambrósio (1977), onde os teoremas se encontram, salvo menção do contrário, em Munkres (2000). 4.1 HOMOTOPIA Consideraremos por conveniência 𝐼 = [0, 1] o domínio de todos os caminhos daqui em diante, pois, I é homeomorfo a todos os intervalos compactos da reta. Além disto, subentenderemos que todos os espaços deste capítulo são espaços topológicos. Definição 4.1. Sejam 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 e 𝑔 : 𝑋 → 𝑌 aplicações contínuas. Dizemos que 𝑓 é homotópico a 𝑔 e escrevemos 𝑓 ≃ 𝑔, se existe uma aplicação contínua 𝐹 : 𝑋 × 𝐼 → 𝑌 tal que 𝐹 (𝑥, 0) = 𝑓 (𝑥) e 𝐹 (𝑥, 1) = 𝑔(𝑥) para todo 𝑥 ∈ 𝑋. A aplicação 𝐹 é dita homotopia entre 𝑓 e 𝑔. Dizer que 𝑓 ≃ 𝑔 significa, geometricamente, que podemos deformar continuamente 𝑓 (𝑋) em 𝑔(𝑋). Exemplo 4.1. As aplicações identidade e constante nula do R𝑛 são homotópicas. Isto é, se 𝑖𝑑 : (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ) → (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ) e 𝑘 : (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ) → (0, . . . , 0) então 𝑖𝑑 ≃ 𝑘. De fato, tome a aplicação 𝐻(𝑥, 𝑡) = ((1 − 𝑡)𝑥1 , . . . , (1 − 𝑡)𝑥𝑛 ) onde 𝑥 = (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ). A aplicação 𝐻 é contínua, pois se trata do produto cartesiano de aplicações contínuas (Teorema 3.5) e também, 𝐻(𝑥, 0) = 𝑖𝑑(𝑥), 𝐻(𝑥, 1) = 𝑘(𝑥), portanto, 𝐻 é uma homotopia.(D’AMBRóSIO, 1977) Definição 4.2. Dois caminhos 𝑓 : 𝐼 → 𝑋 e 𝑔 : 𝐼 → 𝑋, são ditos homotópicos por caminho (𝑓 ∼ = 𝑔) se possuem o mesmo ponto inicial 𝑥0 e mesmo ponto final 𝑥1 e se existe uma aplicação 4.1. HOMOTOPIA 79 contínua 𝐹 : 𝐼 × 𝐼 → 𝑋 tal que 𝐹 (𝑠, 0) = 𝑓 (𝑠), 𝐹 (𝑠, 1) = 𝑔(𝑠), 𝐹 (0, 𝑡) = 𝑥0 e 𝐹 (1, 𝑡) = 𝑥1 para cada 𝑠, 𝑡 ∈ 𝐼. A aplicação 𝐹 é chamada de homotopia por caminho entre 𝑓 e 𝑔. (Figura 4) F (0, t) g x0 • I ×I F (1, t) F :I ×I →X • x1 f Figura 4 – Homotopias por caminho. Dizer que 𝑓 ∼ = 𝑔 implica em dizer que 𝑓 e 𝑔 são homotópicos e tem a origem e o fim em comum. No entanto, como visto em topologia quociente era possível definir abertos em termos ∼ são de classes de equivalência, o que motiva verificar se ≃ e = relações de equivalência. Lema 4.1. As relações ≃ e ∼ = são relações de equivalência. 80 Capítulo 4. GRUPO FUNDAMENTAL Demonstração: 𝑖) Reflexiva: Seja 𝑓 : 𝑋 → 𝑌 uma aplicação contínua. A aplicação 𝐹 (𝑥, 𝑡) = 𝑓 (𝑥) é uma homotopia entre 𝑓 e 𝑓, pois 𝐹 é contínua pela continuidade de 𝑓 e 𝐹 (𝑥, 0) = 𝐹 (𝑥, 1) = 𝑓 (𝑥). No caso em que 𝑓 é um caminho de 𝑥0 para 𝑥1 , temos que 𝐹 (0, 𝑡) = 𝑓 (0) = ∼ 𝑓. 𝑥0 e 𝐹 (1, 𝑡) = 𝑓 (1) = 𝑥1 . De onde vem que 𝑓 ≃ 𝑓 e 𝑓 = 𝑖𝑖) Simétrica: Seja 𝐹 uma homotopia entre 𝑓 e 𝑔, então 𝐺(𝑥, 𝑡) = 𝐹 (𝑥, 1 − 𝑡) é uma aplicação contínua (composta entre funções contínuas) tal que 𝐺(𝑥, 0) = 𝑔(𝑥) e 𝐺(𝑥, 1) = 𝑓 (𝑥) e portanto uma homotopia entre 𝑔 e 𝑓 . Em particular se 𝑓 e 𝑔 são caminhos 𝐺(0, 𝑡) = 𝐹 (0, 1 − 𝑡) = 𝑥0 e 𝐺(1, 𝑡) = 𝐹 (1, 1 − 𝑡) = 𝑥1 . E assim, ∼ 𝑓. 𝑔≃𝑓 e𝑔= 𝑖𝑖𝑖) Transitiva: Suponha que 𝑓 ≃ 𝑔 e 𝑔 ≃ ℎ, então seja 𝐹 a homotopia entre 𝑓 e 𝑔 e 𝐺 a homotopia entre 𝑔 e ℎ. Definindo 𝐻 : 𝑋 ×𝐼 → 𝑌 da forma ⎧ ⎨𝐹 (𝑥, 2𝑡), se 𝑡 ∈ [0, 12 ], 𝐻(𝑥, 𝑡) = ⎩𝐺(𝑥, 2𝑡 − 1), se 𝑡 ∈ [ 1 , 1]. 2 Temos que, 𝐻(𝑥, 0) = 𝐹 (𝑥, 0) = 𝑓 (𝑥) e 𝐻(𝑥, 1) = 𝐺(𝑥, 1) = ℎ(𝑥) e se 𝑡 = 1 2, 𝐹 (𝑥, 1) = 𝑔(𝑥) = 𝐺(𝑥, 0). Pelo lema da colagem 𝐻(𝑥, 𝑡) é contínua em todo 𝑋 × 𝐼 e é uma homotopia entre 𝑓 e ℎ. Em particular se 𝑓 , 𝑔 e ℎ são caminhos 𝐻(0, 𝑡) = 𝐹 (0, 2𝑡) = 𝐺(0, 2𝑡 − 1) = 𝑓 (0) = 𝑔(0) = ℎ(0) = 𝑥0 e 𝐻(1, 𝑡) = 𝐹 (1, 2𝑡) = 𝐺(1, 2𝑡 − 1) = 𝑓 (1) = 𝑔(1) = ℎ(1) = 𝑥1 . Assim, a homotopia e a homotopia por caminhos são relações com as propriedades reflexiva , simétrica e transitiva. 4.1. HOMOTOPIA 81 Exemplo 4.2. Sejam 𝑓 e 𝑔 duas aplicações do espaço 𝑋 em R2 , a aplicação 𝐹 (𝑥, 𝑡) = ((1 − 𝑡)𝑓 (𝑥) + 𝑡𝑔(𝑥)) é uma homotopia entre eles, dita homotopia da linha reta, pois ao fixarmos 𝑥 obtemos linhas retas que ligam 𝑓 e 𝑔. Note que, dados dois caminhos quaisquer em R𝑛 que possuem mesma origem 𝑥0 e mesmo fim 𝑥1 estes caminhos são homotópicos por caminho em qualquer subespaço convexo de R𝑛 , que os contenha, por meio da homotopia da reta. Em particular, caminhos definidos com mesma origem e mesmo fim, definidos em 𝐼 × 𝐼 ( subespaço convexo de R2 ) são homotópicos por caminhos. Exemplo 4.3. Seja 𝑋 o conjunto R2 −0. Note que 𝑋 não é convexo. Podemos verificar que os caminhos 𝑓 (𝑠) = (𝑐𝑜𝑠(𝜋𝑠), 𝑠𝑒𝑛(𝜋𝑠)) e 𝑔(𝑠) = (𝑐𝑜𝑠(𝜋𝑠), 2𝑠𝑒𝑛(𝜋𝑠)) são homotópicos por caminho utilizando a homotopia da linha reta em 𝑋. No entanto, para construir uma homotopia entre a aplicação ℎ(𝑠) = (𝑐𝑜𝑠(𝜋𝑠), −𝑠𝑒𝑛(𝜋𝑠)) e 𝑓 não se pode utilizar a homotopia da linha reta. Definição 4.3. Se 𝑓 é um caminho em 𝑋 de 𝑥0 a 𝑥1 e 𝑔 uma caminho em 𝑋 de 𝑥1 a 𝑥2 , definimos o produto 𝑓 * 𝑔 de 𝑓 e 𝑔 como sendo o caminho ℎ da forma ℎ(𝑠) = ⎧ ⎨𝑓 (2𝑠), se 𝑠 ∈ [0, 12 ], ⎩𝑔(2𝑠 − 1), se 𝑠 ∈ [ 12 , 1]. Pelo lema da colagem ℎ(𝑠)é um caminho de 𝑥0 a 𝑥2 . Além disto, 𝑓 (2𝑠) e 𝑔(2𝑠 − 1) são caminhos de 𝑥0 a 𝑥2 , mas nos intervalos de [0, 12 ] e [ 12 , 1]. Proposição 4.1. Sejam 𝑓1 ∼ = 𝑓2 e 𝑔1 ∼ = 𝑔2 , com 𝑓1 (1) = 𝑔1 (0) ∼ e 𝑓2 (1) = 𝑔2 (0), então 𝑓1 * 𝑔1 = 𝑓2 * 𝑔2 .(LIMA, 2006) 82 Capítulo 4. GRUPO FUNDAMENTAL Demonstração: Sejam 𝐻 uma homotopia entre 𝑓1 e 𝑓2 e 𝐾 uma homotopia entre 𝑔1 e 𝑔2 , definimos 𝐿 : 𝐼 × 𝐼 → 𝑋 da forma: ⎧ ⎨𝐻(2𝑠, 𝑡), se 𝑠 ∈ [0, 21 ], 𝐿(𝑠, 𝑡) = ⎩𝐾(2𝑠 − 1, 𝑡), se 𝑠 ∈ [ 1 , 1], 2 𝑡∈𝐼 𝑡 ∈ 𝐼. Com isso, 𝐻(1, 𝑡) = 𝐾(0, 𝑡) = 𝑓1 (1) = 𝑔1 (0) para todo 𝑡 ∈ 𝐼, 𝑓1 (2𝑠), 𝑓2 (2𝑠), 𝑔1 (2𝑠 − 1) e 𝑔2 (2𝑠 − 1) são contínuas nos respectivos intervalos, pela composição entre funções contínuas, como 𝐻(2𝑠, 𝑡) e 𝐻(2𝑠 − 1, 𝑡) são produto cartesiano entre funções contínuas, utilizando o lema da colagem, 𝐿(𝑠, 𝑡) é contínua. Além disto, 𝐿 é uma homotopia entre 𝑓1 * 𝑔1 e 𝑓2 * 𝑔2 pela forma com que foi definida e assim, 𝑓1 * 𝑔1 ∼ = 𝑓2 * 𝑔2 . Seja [𝑓 ] a classe de homotopias por caminhos em 𝑋 (o conjunto de todas as funções homotópicas por caminho a f ), com origem em um ponto 𝑥0 ∈ 𝑋 e fim em um ponto 𝑥1 ∈ 𝑋 e [𝑔] a classe de homotopias por caminhos em 𝑋 com origem no ponto 𝑥1 ∈ 𝑋 e fim em um ponto 𝑥2 ∈ 𝑋, então [𝑓 ]* [𝑔] = [𝑓 *𝑔]. De fato, pela proposição anterior, temos que [𝑓 * 𝑔] não depende das escolhas de 𝑓 ∈ [𝑓 ] e 𝑔 ∈ [𝑔], ou seja, a operação * está bem definida. Nosso objetivo agora é relacionar espaços topológicos a grupos algébricos com a operação produto definida. Para isto, precisamos de alguns resultados. Proposição 4.2. Seja 𝑘 : 𝑋 → 𝑌 uma aplicação contínua e F uma homotopia por caminhos em 𝑋 entre 𝑓1 e 𝑓2 , então 𝑘∘𝐹 é uma homotopia em 𝑌 entre 𝑘∘𝑓1 e 𝑘∘𝑓2 . Demonstração: 𝐹 é contínua por ser uma homotopia e 𝑘∘𝑓1 e 𝑘∘𝑓2 são contínuas por serem composições entre funções 4.1. HOMOTOPIA 83 contínuas. Para verificar que 𝑘∘𝐹 é uma homotopia entre 𝑘∘𝑓1 e 𝑘∘𝑓2 temos que (𝑘∘𝐹 )(𝑠, 0) = 𝑘∘𝐹 (𝑠, 0) = 𝑘(𝑓1 (𝑠)) = (𝑘∘𝑓1 (𝑠)). E (𝑘∘𝐹 )(𝑠, 1) = 𝑘∘𝐹 (𝑠, 1) = 𝑘(𝑓2 (𝑠)) = (𝑘∘𝑓2 (𝑠)). Além disto, como 𝐹 (0, 𝑡) = 𝑓1 (0, 𝑡) = 𝑓2 (0, 𝑡) = 𝑥0 e 𝐹 (1, 𝑡) = 𝑓1 (1, 𝑡) = 𝑓2 (1, 𝑡) = 𝑥1 para todo 𝑡 ∈ [0, 1], temos também (𝑘∘𝐹 )(0, 𝑡) = 𝑘∘𝐹 (0, 𝑡) = 𝑘(𝑥0 ) e (𝑘∘𝐹 )(1, 𝑡) = 𝑘∘𝐹 (1, 𝑡) = 𝑘(𝑥1 ) para todo 𝑡 ∈ [0, 1]. Teorema 4.1. Para os casos em que está bem definida, a operação * possui as seguintes propriedades: 1. (Associatividade) [𝑓 ] * ([𝑔] * [ℎ]) = ([𝑓 ] * [𝑔]) * [ℎ] desde que 𝑓 (1) = 𝑔(0) e 𝑔(1) = ℎ(0). 2. (Identidade a direita e a esquerda) Dado 𝑥 ∈ 𝑋, seja 𝑒𝑥 o caminho constante 𝑒𝑥 : 𝐼 → 𝑋 tal que 𝑒𝑥 (𝑠) = 𝑥. Se 𝑓 é um caminho em 𝑋 de 𝑥0 para 𝑥1 , então [𝑓 ] * [𝑒𝑥1 ] = [𝑓 ] e [𝑒𝑥0 ] * [𝑓 ] = [𝑓 ]. 3. (Inversa) Seja 𝑓 um caminho em 𝑋 de 𝑥0 para 𝑥1 o caminho 𝑓¯ = 𝑓 (1−𝑠) é dito o reverso de 𝑓 . Então [𝑓 ]*[𝑓¯] = [𝑒𝑥 ] 0 e [𝑓¯] * [𝑓 ] = [𝑒𝑥1 ]. A operação * entre os caminhos [𝑓 ] e [𝑔] em um espaço topológico 𝑋, munido da lei de composição * só é definida se 𝑓 (1) = 𝑔(0) assim, o conjunto das classes de homotopia por caminhos com a operação * não é um grupo mas o definimos como o grupoide fundamental de 𝑋. 84 Capítulo 4. GRUPO FUNDAMENTAL 4.2 GRUPO FUNDAMENTAL Todas as propriedades das homotopias por caminho apresentadas até aqui são válidas no caso em que o caminho dado tem origem e fim coincidentes, basta tomar 𝑥0 = 𝑥1 = 𝑥2 nas definições e demonstrações apresentadas para o grupóide fundamental. Definição 4.4. Um caminho em um espaço topológico com mesma origem e fim em um determinado ponto base 𝑥0 , é dito laço com base em 𝑥0 . Definição 4.5. Seja 𝑋 um espaço topológico e 𝑥0 um ponto de 𝑋. O conjunto das classes de homotopia por laços com base em 𝑥0 , com a operação *, é chamado grupo fundamental, grupo de Poincaré, ou primeiro grupo de homotopia de 𝑋 em relação ao ponto base 𝑥0 . E será denotado por 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ) Pelo Teorema (4.1) é imediato que a operação * restrita ao conjunto 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ) é sempre definida para quaisquer dois elementos deste conjunto e satisfaz os axiomas de grupo ,ou seja, dados laços 𝑓 , 𝑔 e ℎ quaisquer em 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ), 𝑓 (0) = 𝑔(0) = 𝑓 (1) = 𝑔(1) = 𝑥0 , [𝑓 ] * ([𝑔] * [ℎ]) = ([𝑓 ] * [𝑔]) * [ℎ],[𝑒𝑥0 ] é o elemento neutro e o inverso de [𝑓 ] é [𝑓¯]. Exemplo 4.4. Considere grupo fundamental 𝜋1 (R𝑛 , (0, . . . , 0)), temos que este é igual ao conjunto unitário {[𝑒]}, onde 𝑒 é a aplicação constante cuja imagem é o ponto (0, . . . , 0) . De fato, seja 𝐻(𝑠, 𝑡) = (1 − 𝑡)𝛼(𝑠) uma aplicação de 𝐼 × 𝐼 para R𝑛 , 𝐻 é contínua e 𝐻(𝑠, 0) = 𝛼(𝑠), 𝐻(𝑠, 1) = (0, . . . , 0) para todo 𝑠 e portanto 𝐻(𝑠, 1) = 𝑒(𝑠) e 𝐻(0, 𝑡) = 𝐻(1, 𝑡) = (0, . . . , 0) e assim, uma homotopia entre 𝛼 e 𝑒 para qualquer laço com este ponto base. Portanto a única classe de equivalência de laços é [𝑒] 4.2. GRUPO FUNDAMENTAL 85 De modo geral, no espaço euclidiano n-dimensional R𝑛 , temos que, para qualquer ponto (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 ), o grupo fundamental 𝜋1 (𝑋, (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 )) consiste do conjunto unitário {[𝑒]} em qualquer subconjunto convexo 𝑋 de R𝑛 , onde 𝑒 é um caminho constante com imagem 𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 . Basta tomar a homotopia da linha reta entre os laços com base em 𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 e o caminho constante 𝑒. Neste caso, dizemos que 𝜋1 (𝑋, (𝑥1 , . . . , 𝑥𝑛 )) é o grupo fundamental trivial. Em particular a bola unitária 𝐵 𝑛 em R𝑛 dada por 𝐵 𝑛 = {𝑥|𝑥1 2 + . . . + 𝑥𝑛 2 ≤ 1} tem grupo fundamental trivial. Definição 4.6. Seja 𝛼 um caminho em 𝑋 de 𝑥0 a 𝑥1 . Definimos a aplicação 𝛼 ^ : 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ) → 𝜋1 (𝑋, 𝑥1 ) pela equação 𝛼 ^ ([𝑓 ]) = [𝛼 ¯ ] * [𝑓 ] * [𝛼], que chamaremos de "𝛼 chapéu". A aplicação 𝛼 ^ é bem definida pois depende apenas do fato de * ser bem definida. Além disto, se 𝑓 é um laço com base em 𝑥0 então, 𝛼 ¯ * (𝑓 * 𝛼) é um laço com base em 𝑥1 , o que mostra que 𝛼 ^ é uma aplicação de 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ) para 𝜋1 (𝑋, 𝑥1 ) e depende unicamente das classes de homotopia por caminho de 𝛼. Teorema 4.2. A aplicação 𝛼 ^ é um isomorfismo de grupo. Demonstração: Para mostrar um isomorfismo de grupos é necessário mostrar que a aplicação definida é um homomorfismo e uma aplicação bijetora (Lembrando que uma função é bijetora se, e somente se, é inversível). Mostrar que 𝛼 ^ é um homomorfismo implica em verificar que 𝛼 ^ ([𝑓 ])* 𝛼 ^ ([𝑔]) = 𝛼 ^ ([𝑓 ]*[𝑔]). 86 Capítulo 4. GRUPO FUNDAMENTAL Isso ocorre de fato, pois 𝛼 ^ ([𝑓 ]) * 𝛼 ^ ([𝑔]) = ([𝛼 ¯ ] * [𝑓 ] * [𝛼]) * ([𝛼 ¯ ] * [𝑔] * [𝛼]) = [𝛼 ¯ ] * [𝑓 ] * [𝑔] * [𝛼] = 𝛼 ^ ([𝑓 ] * [𝑔]) Para mostrar a bijeção, definimos 𝛽^ : 𝜋1 (𝑋, 𝑥1 ) → 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ) por ^ ]) = [𝛽] ¯ * [𝑓 ] * [𝛽] com 𝛽 = 𝛼 𝛽([𝑓 ¯ (reverso de 𝛼). Temos que para todo [ℎ] em 𝜋1 (𝑋, 𝑥1 ) e [𝑓 ] em 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ), ^ ¯ * [ℎ] * [𝛽] = [𝛼 ¯ ] * [ℎ] * [𝛼 𝛽([ℎ]) = [𝛽] ¯ ] = [𝛼] * [ℎ] * [𝛼 ¯ ]. O que implica em ^ 𝛼 ^ (𝛽[ℎ]) = [𝛼 ¯ ] * ([𝛼] * [ℎ] * [𝛼 ¯ ]) * [𝛼] = [ℎ] e ^ 𝛼[𝑓 ]) = [𝛼] * ([𝛼 𝛽(^ ¯ ] * [ℎ] * [𝛼]) * [𝛼 ¯ ] = [ℎ]. Assim, 𝛽^ = 𝛼 ^ −1 . Ou seja, 𝛼 é inversível, o que implica em bijetividade desta. É imediato do Teorema (4.2) que se 𝑋 é conexo por caminhos e 𝑥1 e 𝑥1 são dois pontos de 𝑋, então é 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ) isomorfo a 𝜋1 (𝑋, 𝑥1 ) ( 𝜋1(𝑋, 𝑥0 ) ≈ 𝜋1 (𝑋, 𝑥1 )). Pois se 𝐶 é uma componente conexa de 𝑋 por caminhos que contém 𝑥0 todos os laços e homotopias com base em 𝑥0 estão contidas no subespaço 𝑉 . E assim, 𝜋1 (𝐶, 𝑥0 ) = 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ). Em outras palavras, mudar o ponto base em um espaço conexo por caminhos não altera o grupo fundamental. (D’AMBRóSIO, 1977) Definição 4.7. Um espaço 𝑋 é dito simplesmente conexo se é um espaço conexo por caminho e 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ) é o grupo trivial para algum 𝑥0 ∈ 𝑋. Escrevemos 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ) = 0 para denotar que se trata do grupo fundamental trivial. 4.2. GRUPO FUNDAMENTAL 87 Note que esta definição está totalmente de acordo (com os devidos ajustes) com a já conhecida nos cursos de cálculo, onde se 𝐷 é domínio em R𝑛 , dizemos que 𝐷 é simplesmente conexo quando qualquer curva fechada simples em 𝐷 pode ser reduzida de maneira contínua a um ponto qualquer de 𝐷 sem sair de 𝐷. Sejam 𝛼 e 𝛽 dois caminhos de 𝑥0 para 𝑥1 . Então 𝛼 * 𝛽¯ é um laço em 𝑋 com base em 𝑥0 . Se 𝑋 é simplesmente conexo este laço é homotópico por caminho ao laço constante em 𝑥0 . ¯ * [𝛽] = [𝛽] = Desta forma temos que, [𝛼] = [𝛼] * [𝛽¯ * 𝛽] = [𝛼 * 𝛽] [𝑒𝑥0 ]*[𝛽] = [𝛽]. Em outras palavras, em um espaço simplesmente conexo quaisquer dois caminhos que tenham mesma origem e mesmo fim são homotópicos por caminhos. (MUNKRES, 2000) Para provarmos que o grupo fundamental é um invariante topológico (objetivo e motivação deste estudo) vamos definir um homomorfismo induzido por uma aplicação contínua. Definição 4.8. Sejam ℎ : (𝑋, 𝑥0 ) → (𝑌, 𝑦0 ) uma aplicação de 𝑋 para 𝑌 , contínua com ℎ(𝑥0 ) = 𝑦0 e ℎ* : 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ) → 𝜋1 (𝑌, 𝑦0 ), de forma que ℎ* ([𝑓 ]) = [ℎ ∘ 𝑓 ] a aplicação ℎ* é dita homomorfismo induzido por ℎ, relativo ao ponto base 𝑥0 . A aplicação ℎ* é bem definida. Para ver isto, tome 𝐹 uma homotopia por caminhos entre 𝑓 e 𝑔 então ℎ ∘ 𝐹 é uma homotopia entre os caminhos ℎ ∘ 𝑓 e ℎ ∘ 𝑔. A aplicação ℎ* é um homomorfismo vem de que (ℎ ∘ 𝑓 ) * (ℎ ∘ 𝑔) = ℎ ∘ (𝑓 * 𝑔). (MUNKRES, 2000) Teorema 4.3. Se ℎ : (𝑋, 𝑥0 ) → (𝑌, 𝑦0 ) e 𝑘 : (𝑌, 𝑦0 ) → (𝑍, 𝑧0 ) são aplicações contínuas, então (𝑘∘ℎ)* = 𝑘* ∘ℎ* . Se 𝑖 : (𝑋, 𝑥0 ) → 88 Capítulo 4. GRUPO FUNDAMENTAL (𝑋, 𝑥0 ) é aplicação identidade, então 𝑖* é o homomorfismo identidade. Demonstração: Por definição do homomorfismo induzido e propriedades de composição de funções contínuas: (𝑘 ∘ ℎ)* ([𝑓 ]) = [(𝑘 ∘ ℎ) ∘ 𝑓 ] = [𝑘 ∘ (ℎ ∘ 𝑓 )] = 𝑘* ([ℎ ∘ 𝑓 ]) = 𝑘* (ℎ* ([𝑓 ])) = (𝑘* ∘ ℎ* )([𝑓 ]). Além disto, 𝑖* ([𝑓 ]) = [𝑖 ∘ 𝑓 ] = [𝑓 ] Corolário 4.1. Se ℎ : (𝑋, 𝑥0 ) → (𝑌, 𝑦0 ) é um homomorfismo de 𝑋 com 𝑌 , então ℎ* é um isomorfismo de 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ) e 𝜋1 (𝑌, 𝑦0 ). Demonstração: Sejam 𝑘 : (𝑌, 𝑦0 ) → (𝑋, 𝑥0 ) o inverso de ℎ, 𝑖 a aplicação identidade em 𝑋 e 𝑗 a aplicação identidade em 𝑌 . Mostrar que estes grupos são isomorfos é equivalente a mostrar que 𝑘* ∘ ℎ* = 𝑖* e ℎ* ∘ 𝑘* = 𝑗* . Então pelo Teorema (4.3) 𝑘* ∘ ℎ* = (𝑘 ∘ ℎ)* = 𝑖* e ℎ* ∘ 𝑘* = (ℎ ∘ 𝑘)* = 𝑗* e 𝑖* e 𝑗* são os homomorfismos identidade dos grupos 𝜋1 (𝑋, 𝑥0 ) e 𝜋1 (𝑌, 𝑦0 ) respectivamente implica que 𝑘* é o inverso de ℎ* O Corolário (4.1) diz, entre outras coisas, que espaços homeomorfos possuem grupos fundamentais isomorfos, em outras palavras: é um invariante topológico. 4.3 ESPAÇOS DE RECOBRIMENTO Definição 4.9. Seja 𝑝 : 𝐸 → 𝐵 uma aplicação sobrejetora contínua. O conjunto aberto 𝑈 de 𝐵 é dito suavemente recoberto por 𝑝, se sua imagem inversa 𝑝−1 (𝑈 ) pode ser escrita como a 4.3. ESPAÇOS DE RECOBRIMENTO 89 união de abertos disjuntos 𝑉𝛼 em 𝐸, tais que para cada 𝛼 a restrição de 𝑝 a 𝑉𝛼 é um homeomorfismo de 𝑉𝛼 em 𝑈 . A coleção {𝑉𝛼 } é dita partição de 𝑝−1 (𝑈 ) em fibras. Uma vez que em cada 𝑉𝛼 , temos que 𝑝 é um homeomorfismo de 𝑉𝛼 em 𝑈, então é como se tivéssemos várias cópias de 𝑈 em 𝐸. Da definição decorre que todo conjunto aberto contido em um aberto 𝑈 uniformemente recoberto por 𝑝, é também uniformemente recoberto por 𝑝. Definição 4.10. Seja 𝑝 : 𝐸 → 𝐵 contínua e sobrejetora. Se todo ponto 𝑏 em 𝐵 tem uma vizinhança 𝑈 que é suavemente coberta por 𝑝, então, 𝑝 é dita aplicação de recobrimento, e 𝐸 é dito espaço de recobrimento de 𝐵. Observação 4.1. Se 𝑝 : 𝐸 → 𝐵 é uma aplicação de recobrimento, então para cada 𝑏 ∈ 𝐵, o subespaço 𝑝−1 (𝑏) de 𝐸 tem a topologia discreta. Pois, cada fibra 𝑉𝛼 é um aberto em 𝐸 e intersecta o conjunto 𝑝−1 (𝑏) em um único ponto. Portanto, este ponto é um aberto em 𝑝−1 (𝑏) Observação 4.2. Se 𝑝 : 𝐸 → 𝐵 é um recobrimento, então, 𝑝 é uma aplicação aberta. De fato, suponha 𝐴 aberto em 𝐸. Dado 𝑥 ∈ 𝑝(𝐴), escolha uma vizinhança 𝑈 de 𝑥 uniformemente recoberta por 𝑝. Seja {𝑉𝛼 } uma partição de 𝑝−1 (𝑈 ) em fibras. Existe um ponto 𝑦 de 𝐴 tal que 𝑝(𝑦) = 𝑥. Seja 𝑉𝛽 a fibra que contém 𝑦, o conjunto 𝑉𝛽 ∩ 𝐴 é aberto em 𝐸 e portanto, aberto em 𝑉𝛽 . Como 𝑝 aplica 𝑉𝛽 homeomorficamente em 𝑈 , o conjunto 𝑝(𝑉𝛽 ∩ 𝐴) é aberto em 𝑈 e portanto aberto em 𝐵 e esta é uma vizinhança de 𝑥 contida em 𝑝(𝐴). 90 Capítulo 4. GRUPO FUNDAMENTAL Exemplo 4.5. Sejam 𝑋 um espaço qualquer e 𝑖 : 𝑋 → 𝑋 a aplicação identidade. Então, 𝑖 é um recobrimento de 𝑋. Em geral, a aplicação 𝑝 : 𝐸 → 𝑋 da forma 𝑝(𝑥, 𝑗) = 𝑥 para todo 𝑗 = 1, . . . , 𝑛, com 𝐸 = 𝑋 × {1, 2, . . . , 𝑛} que consiste de 𝑛 cópias disjuntas de 𝑋, é um recobrimento. Teorema 4.4. A aplicação 𝑝 : R → 𝑆 1 da forma 𝑝(𝑥) = (𝑐𝑜𝑠(2𝜋𝑥), 𝑠𝑒𝑛(2𝜋𝑥)) é um recobrimento. Em outras palavras, o círculo unitário pode ser uniformemente recoberto pela reta real, por meio de 𝑝. A restrição de um recobrimento não necessariamente é um recobrimento. O teorema a seguir nos diz em que condições se pode garantir que isto ocorra. Teorema 4.5. Seja 𝑝 : 𝐸 → 𝐵 um recobrimento. Se 𝐵0 é um subespaço de 𝐵, e se, 𝐸0 = 𝑝−1 (𝐵0 ), então, a aplicação 𝑝0 : 𝐸0 → 𝐵0 , obtida restringindo 𝑝, é uma aplicação de recobrimento. 4.4 GRUPO FUNDAMENTAL DO CÍRCULO Definição 4.11. Seja 𝑝 : 𝐸 → 𝐵 uma aplicação. Se 𝑓 é uma aplicação contínua de algum espaço 𝑋 em 𝐵, um levantamento de 𝑓 é uma aplicação 𝑓˜ : 𝑋 → 𝐸 tal que 𝑝 ∘ 𝑓˜ = 𝑓 . Como está representado no diagrama da Figura (5). Exemplo 4.6. Seja 𝑝 : R → 𝑆 1 com 𝑝(𝑥) = (𝑐𝑜𝑠(𝑛𝜋𝑥), 𝑠𝑒𝑛(𝑛𝜋𝑥)), 𝑛 ∈ N. O caminho [0, 1] → 𝑆 1 com ponto inicial 𝑏0 = (1, 0) dado por 𝑓 (𝑠) = (𝑐𝑜𝑠(𝜋𝑥), 𝑠𝑒𝑛(𝜋𝑥)) possui 𝑓˜ = 𝑠 com 𝑠 ∈ [0, 1 ] como 𝑛 𝑛 levantamento para 𝑓 (𝑠). O caminho ℎ̃(𝑠) = 𝑛𝑠 com 𝑠 ∈ [0, 𝑛] é 4.4. GRUPO FUNDAMENTAL DO CÍRCULO 91 X f˜ E p f B Figura 5 – Diagrama de lavantamento. um levantamento para ℎ(𝑠) = (𝑐𝑜𝑠(2𝑛𝜋𝑥), 𝑠𝑒𝑛(2𝑛𝜋𝑥)) e cobre 𝑛−vezes 𝑆 1 . Os próximos dois lemas, não serão demonstrados, no entanto, para a demonstração consulte Munkres (2000). Lema 4.2. Sejam 𝑝 : 𝐸 → 𝐵 um recobrimento e 𝑝(𝑒0 ) = 𝑏0 . Qualquer caminho 𝑓 : [0, 1] → 𝐵 começando em 𝑏0 possui um único levantamento para o caminho 𝑓˜ em 𝐸 começando em 𝑒0 . Lema 4.3. Sejam 𝑝 : 𝐸 → 𝐵 um recobrimento e 𝑝(𝑒0 ) = 𝑏0 . Seja a aplicação 𝐹 : 𝐼 × 𝐼 → 𝐵 contínua, com 𝐹 (0, 0) = 𝑏0 . Existe um único levantamento de 𝐹 para a aplicação contínua 𝐹˜ : 𝐼 × 𝐼 → 𝐸 tal que 𝐹˜ (0, 0) = 𝑒0 . Se 𝐹 é uma homotopia por caminho, então 𝐹˜ é uma homotopia por caminho. Teorema 4.6. Sejam 𝑝 : 𝐸 → 𝐵 um recobrimento, 𝑝(𝑒0 ) = 𝑏0 , 𝑓 e 𝑔 caminhos em 𝐵 de 𝑥0 para 𝑥1 , 𝑓˜ e 𝑔˜ seus respectivos levantamentos para caminhos em 𝐸 começando em 𝑒0 . Se 𝑓 e 𝑔 são homotópicas por caminho, então 𝑓˜ e 𝑔˜ terminam no mesmo ponto em 𝐸 e são homotópicas por caminho. Definição 4.12. Sejam 𝑝 : 𝐸 → 𝐵 um recobrimento e 𝑏0 ∈ 𝐵. Escolha 𝑒0 tal que 𝑝(𝑒0 ) = 𝑏0 . Dado um elemento 𝑓 do grupo 92 Capítulo 4. GRUPO FUNDAMENTAL fundamental de 𝜋1 (𝐵, 𝑏0 ), seja 𝑓˜ um levantamento de 𝑓 para um caminho em 𝐸 que começa em 𝑒0 . Seja 𝜑([𝑓 ]) o ponto final 𝑓˜(1) de 𝑓˜. Então, 𝜑 é uma aplicação bem definida da forma 𝜑 : 𝜋1 (𝐵, 𝑏0 ) → 𝑝−1 (𝑏0 ). Dizemos que 𝜑 é o correspondência por levantamento derivado da aplicação de recobrimento 𝑝. Teorema 4.7. Sejam 𝑝 : 𝐸 → 𝐵 um recobrimento e 𝑝(𝑒0 ) = 𝑏0 . Se 𝐸 é conexo por caminhos, então a correspondência por levantamento 𝜑 : 𝜋1 (𝐵, 𝑏0 ) → 𝑝−1 (𝑏0 ) é sobrejetora. Se 𝐸 é simplesmente conexo, então 𝜑 é bijetora. Toda a construção precedente foi realizada para que fosse provado o Teorema 4.8. O grupo fundamental de 𝑆 1 é isomorfo ao grupo aditivo dos inteiros. Demonstração: Sejam 𝑝 : R → 𝑆 1 um recobrimento 𝑝(𝑥) = (𝑐𝑜𝑠(2𝜋𝑥), 𝑠𝑒𝑛(2𝜋𝑥)), 𝑒0 = 0 e 𝑏0 = 𝑝(𝑒0 ) = 𝑝(0) = (1, 0). Para mostrarmos que 𝑝−1 (𝑏0 ) = Z faremos uso do teorema da dupla inclusão. Primeiro, mostraremos que 𝑝−1 (𝑏0 ) ⊆ Z. Seja 𝑛 ∈ 𝑝−1 (𝑏0 ), isto é, 𝑝(𝑛) ⎧ = (𝑐𝑜𝑠(2𝑛𝜋), 𝑠𝑒𝑛(2𝑛𝜋)) = (0, 1), de onde temos o ⎨𝑐𝑜𝑠(2𝑛𝜋) = 1 sistema que, sabemos, tem solução quando ⎩𝑠𝑒𝑛(2𝑛𝜋) = 0 𝑛 ∈ Z. Para mostrar que Z ⊆ 𝑝−1 (𝑏0 ), dado 𝑛 ∈ Z, evidentemente 𝑝(𝑛) = (𝑐𝑜𝑠(2𝑛𝜋), 𝑠𝑒𝑛(2𝑛𝜋)) = (1, 0) = 𝑏0 o que verifica nossa hipótese. Como R é simplesmente conexo, pelo teorema anterior, a correspondência por levantamento 𝜑 : 𝜋1 (𝑆 1 , 𝑏0 ) → Z é bijetora. 4.4. GRUPO FUNDAMENTAL DO CÍRCULO 93 Um isomorfismo é um homomorfismo bijetor, então, falta mostrar que 𝜑 é um homomorfismo. A aplicação 𝜑 tem como imagem os números inteiros e precisamos mostrar que 𝜑([𝑓 ] * [𝑔]) = 𝜑([𝑓 ]) + 𝜑([𝑔]) que é um número inteiro. Tome [𝑓 ] e [𝑔] em 𝜋1 (𝐵, 𝑏0 ) com 𝑓˜ e 𝑔˜ seus respectivos levantamentos para caminhos em R começando em 0. Seja 𝑛 = 𝑓˜(1) e 𝑚 = 𝑔˜(1), então 𝜑([𝑓 ]) = 𝑓˜(1) = 𝑛 e 𝜑([𝑔]) = 𝑔˜(1) = 𝑚, por definição de 𝜑. Defina 𝑔˜ o caminho 𝑔˜ = 𝑛 + 𝑔˜ em R. Pela periodicidade de 𝑝(𝑥), 𝑝(𝑛 + 𝑥) = (𝑐𝑜𝑠(2𝜋(𝑛 + 𝑥)), 𝑠𝑒𝑛(2𝜋(𝑛 + 𝑥))) = 𝑝(𝑥), portanto, 𝑝 ∘ 𝑔˜ = 𝑝(𝑛 + 𝑔˜) = 𝑝 ∘ 𝑔˜ = 𝑔 para todo 𝑥 ∈ R, o caminho 𝑔˜ é um levantamento para 𝑔 que começa em 𝑛. Então, o produto 𝑓˜ * 𝑔˜ é definido pois, 𝑓˜(1) = 𝑛 = 𝑛 + 𝑔˜(0) = 𝑔˜(0) e começa em 𝑓˜(0) = 0 e, é um levantamento para 𝑓 * 𝑔, que começa em 0, pelo fato de que 𝑝∘(𝑓˜* 𝑔˜) = 𝑝∘ 𝑓˜*𝑝∘ 𝑓˜ = 𝑓 *𝑔. Além disto, 𝑔˜(1) = 𝑛+˜ 𝑔 (1) = 𝑛+𝑚. Por definição de 𝜑, 𝜑([𝑓 ] * [𝑔]) é um levantamento de 𝑓 * 𝑔 que começa em 0 aplicado em 1. Pela construção precedente um⎧levantamento de 𝑓 * 𝑔 ⎨𝑓˜(𝑠), se 𝑠 ∈ [0, 1 ], 2 , que começa em 0 é 𝑓˜ * 𝑔˜. Mas 𝑓˜ * 𝑔˜ = ⎩𝑔˜(𝑠), se 𝑠 ∈ [ 1 , 1]. 2 ou seja, 𝑓˜ * 𝑔˜(1) = 𝑔˜(1) = 𝑛 + 𝑔˜(1) = 𝑛 + 𝑚 = 𝜑([𝑓 ]) + 𝜑([𝑔]), como desejado. O teorema precedente mostra que podemos associar cada caminho fechado 𝑓 no círculo a um número 𝑛(𝑓 ), chamado grau de 𝑓 , de forma que dois caminhos são homotópicos se, e somente se, têm o mesmo grau. 94 Capítulo 4. GRUPO FUNDAMENTAL 4.5 TEOREMA FUNDAMENTAL DA ÁLGEBRA Demonstrar o Teorema Fundamental da Álgebra é apenas uma das aplicações da grupo fundamental do círculo. No entanto, antes de demonstrá-lo é necessário a definição e alguns resultados sobre retração e retrato. Definição 4.13. Se 𝐴 ⊂ 𝑋, uma retração de 𝑋 em 𝐴 é uma aplicação contínua 𝑟 : 𝑋 → 𝐴 tal que 𝑟|𝐴 é a aplicação identidade em 𝐴. Se tal aplicação 𝑟 existe, dizemos que 𝐴 é um retrato de 𝑋. Exemplo 4.7. Se 𝐴 ⊂ R𝑛 , a aplicação identidade em R𝑛 e um retrato de R𝑛 . Lema 4.4. Se 𝐴 é um retrato de 𝑋, então o homomorfismo do grupo fundamental, 𝑗* , induzindo pela inclusão 𝑗 : 𝐴 → 𝑋 é injetor. Demonstração: Se 𝑟 : 𝑋 → 𝐴 é uma retração de 𝑋, então, a aplicação composta 𝑟 ∘ 𝑗 é igual a aplicação identidade em 𝐴 (𝑟|𝐴 é a aplicação identidade em 𝐴). Segue que (𝑟* ∘ 𝑗* )([𝑓 ]) = [(𝑟 ∘ 𝑗)(𝑓 )] = [𝑖𝑑 ∘ 𝑓 ] = [𝑓 ] é a aplicação identidade de 𝜋1 (𝐴, 𝑎), e como os classes de homotopias são bem definidas, 𝑗* é injetora. Teorema 4.9. Não existe nenhuma retração de 𝐵 2 em 𝑆 1 . Demonstração: Se existisse uma retração de 𝐵 2 em 1 𝑆 , então o homomorfismo induzido pela inclusão 𝑗 : 𝑆 1 → 𝐵 2 seria injetor mas, o grupo fundamental de 𝑆 1 é não trivial e o grupo fundamental de 𝐵 2 é trivial. Uma contradição. 4.5. TEOREMA FUNDAMENTAL DA ÁLGEBRA 95 Lema 4.5. Seja ℎ : 𝑆 1 → 𝑋 uma aplicação contínua. Então, são equivalentes as seguintes afirmações: 1. ℎ é homotopicamente nula; 2. ℎ se estende para uma aplicação contínua 𝑘 : 𝐵 2 → 𝑋; 3. ℎ* é o homomorfismo trivial do grupo fundamental. Corolário 4.2. A aplicação inclusão 𝑗 : 𝑆 1 → R2 − 0 é não homotopicamente nula. A aplicação identidade 𝑖 : 𝑆 1 → 𝑆 1 é não homotopicamente nula. Demonstração: 𝑆 1 dada por 𝑟(𝑥) = 𝑥 ||𝑥|| . Existe uma retração de R2 − 0 em Portanto 𝑗* é injetora e não trivial. Da mesma forma 𝑖 é o homomorfismo identidade e portanto não trivial. Teorema 4.10. (Teorema Fundamental da Álgebra) Todo polinômio de grau 𝑛 > 1 e coeficientes complexos admite ao menos uma raiz. Demonstração: Iremos demonstrar o teorema por contradição, obtendo duas aplicações homotópicas mas cujos grupos fundamentais não coincidem. A demosntração ocorrerá em 4 etapas. 1) Considere a aplicação 𝑓 : 𝑆 1 → 𝑆 1 dada por 𝑓 (𝑧) = 𝑧 𝑛 , onde 𝑧 ∈ C e |𝑧| = 1. Vamos mostrar que o homomorfismo induzido pelo grupo fundamental 𝑓* é injetor. Seja 𝑝0 : 𝐼 → 𝑆 1 um laço em 𝑆 1 , dado como 𝑝0 (𝑠) = 𝑒2𝜋𝑖𝑠 = (𝑐𝑜𝑠2𝜋𝑠, 𝑠𝑒𝑛2𝜋𝑠). Sua imagem sob 𝑓* é o laço 𝑓 (𝑝0 (𝑠)) = (𝑒2𝜋𝑖𝑠 )𝑛 = (𝑐𝑜𝑠2𝜋𝑛𝑠, 𝑠𝑒𝑛2𝜋𝑛𝑠). O laço 𝑓 ∘ 𝑝0 corresponde a um inteiro 𝑛 sob o isomorfismo usual 96 Capítulo 4. GRUPO FUNDAMENTAL de 𝜋1 (𝑆 1 , 𝑏0 ) com Z, onde 𝑝0 corresponde ao número 1. Portanto 𝑓* é a "multiplicação por 𝑛"no grupo fundamental de 𝑆 1 , em particular 𝑓* é injetora. 2) Agora vamos mostrar que se 𝑔 : 𝑆 1 → R2 − 0 é a aplicação 𝑔(𝑧) = 𝑧 𝑛 então 𝑔 é não homotopicamente nula (logo, seu grupo fundamental é não trivial). A aplicação 𝑔 é igual a aplicação 𝑓 do passo anterior seguida pela aplicação de inclusão 𝑗 : 𝑆 1 → R − 0, ou seja, 𝑔 = 𝑗 ∘ 𝑓 . Desta forma, 𝑗* é injetora porque 𝑆 1 é um retrato de R2 − 0. Pelo Teorema (4.3), 𝑔* = 𝑗* ∘ 𝑓* que é a composição de aplicações injetoras, e portanto, 𝑔* é injetora. Daí tem-se pelo Lema (4.5) que 𝑔 não pode ser homotopicamente nula. 3) Considere o polinômio 𝑘(𝑧) = 𝑧 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑧 𝑛−1 + . . . + 𝑎1 𝑧 + 𝑎0 . Agora, vamos provar um caso especial do teorema. Assuma que |𝑎𝑛−1 | + . . . + |𝑎1 | + |𝑎0 | < 1. Suponha que esta equação não possui raiz. Então, a aplicação 𝑘 : 𝐵 2 → R2 − 0 da forma 𝑘(𝑧) = 𝑧 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑧 𝑛−1 + . . . + 𝑎1 𝑧 + 𝑎0 está bem definida. Seja ℎ a restrição de 𝑘 a 𝑆 1 . Como ℎ extende a aplicação da bola unitária para R2 − 0, ℎ é uma aplicação homotopicamente nula (Lema 4.5). Por outro lado, definiremos uma homotopia 𝐹 entre as aplicações 𝑔 e ℎ como 𝐹 (𝑧, 𝑡) = 𝑧 𝑛 + 𝑡(𝑎𝑛−1 𝑧 𝑛−1 + . . . + 𝑎0 ). Esta aplicação é uma homotopia entre 𝑔 e ℎ, pois é contínua, 𝐹 (0, 𝑧) = 𝑧 𝑛 = 𝑔(𝑧), 𝐹 (1, 𝑧) = 𝑧 𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑧 𝑛−1 + . . . + 𝑎0 = ℎ(𝑧) e é bem definida para todo 𝑡 uma vez que 𝐹 (𝑧, 𝑡) nunca será igual a zero pois, |𝐹 (𝑧, 𝑡)| ≥ |𝑧 𝑛 | − |𝑡(𝑎𝑛−1 𝑧 𝑛−1 + . . . + 𝑎0 )| ≥ 1 − 𝑡(|𝑎𝑛−1 𝑧 𝑛−1 | + . . . + |𝑎0 |) = 1 − 𝑡(|𝑎𝑛−1 | + . . . + |𝑎0 |) > 0. 4.5. TEOREMA FUNDAMENTAL DA ÁLGEBRA 97 Assim, 𝑔 e ℎ podem ser deformadas continuamente uma na outra, sem passar pelo zero, mas ℎ é homotopicamente nula e 𝑔 é não homotopicamente nula, o que é uma contradição. Assim, o polinômio deve conter ao menos uma raiz. 4) Agora vamos provar o caso geral. Seja 𝑐 ∈ R e tome 𝑥 = 𝑐𝑦. Então a equação polinomial 𝑥𝑛 + 𝑎𝑛−1 𝑥𝑛−1 + . . . + 𝑎0 = 0 se torna (𝑐𝑦)𝑛 + 𝑎𝑛−1 (𝑐𝑦)𝑛−1 + . . . + 𝑎1 (𝑐𝑦) + 𝑎0 = 0 ou 𝑎1 𝑎0 𝑎𝑛−1 𝑛−1 𝑦 + . . . + 𝑛−1 𝑦 + 𝑛 = 0. 𝑐 𝑐 𝑐 Se, esta equação possui uma raiz 𝑦 = 𝑦0 , então a equação ori𝑦𝑛 + ginal possui uma raiz 𝑥0 = 𝑐𝑦0 . Assim, basta tomar 𝑐 grande o bastante para que | 𝑎𝑛−1 𝑎𝑛−2 𝑎1 𝑎0 | + | 2 | + . . . + | 𝑛−1 | + | 𝑛 | < 1. 𝑐 𝑐 𝑐 𝑐 Se |𝑎𝑛−1 | + . . . + |𝑎1 | + |𝑎0 | < 1 a existência da raiz já foi 𝑛−1 ∑︀ provada. Caso |𝑎𝑛−1 | + . . . + |𝑎1 | + |𝑎0 | ≥ 1 tome 𝑐 = 1 + |𝑎𝑖 | 𝑖=0 e teremos que |𝑎𝑛−1 |+...+|𝑎1 |+|𝑎0 | 𝑐 < 1, em particular, como 𝑐 > 1, temos que | 𝑎𝑛−1 𝑎𝑛−2 𝑎1 𝑎0 | + | 2 | + . . . + | 𝑛−1 | + | 𝑛 | < 1. 𝑐 𝑐 𝑐 𝑐 Agora, fatorando este polinômio utilizando a raiz encontrada, obteremos um polinômio de grau 𝑛 − 1, ao qual podemos 98 Capítulo 4. GRUPO FUNDAMENTAL aplicar novamente o teorema. Assim, todo polinômio não constante de grau 𝑛 e com coeficientes complexos possui exatamente 𝑛 raízes, não necessariamente distintas. 99 CONCLUSÃO Quando se estuda determinado espaço topológico, é em geral, muito simples trabalhar com isomorfismos a espaços já amplamente conhecidos. Com isto, desenvolvemos alguns invariantes topológicos, mas que se mostraram insuficientes ao longo do estudo da topologia. Desta forma, foi desenvolvida a topologia algébrica que possibilita a comparação a mais um invariante topológico, o grupo fundamental, e também às propriedades de grupos. O grupo fundamental mais simples é o grupo fundamental do círculo, o primeiro a ser estudado e objetivo deste trabalho. Este grupo fundamental é isomorfo ao grupo aditivo dos inteiros, o que nos permite provar o teorema fundamental da álgebra, e outros resultados clássicos que ficam para estudos futuros. Com isto, se pode associar as classes do grupo fundamental do círculo a quantidade de voltas do laço. O estudo feito, com base no livro de Munkres (2000), foi, de fato, de extrema necessidade para a compreensão de cada uma das etapas, não apenas por ser tão completo, mas pela sua fácil compreensão, embora tenham sido usados outros livros como apoio. O conhecimento em análise real foi muito importante para a compreensão das primeiras definições de topologia, bem como o estudo de grupos para a compreensão do grupo fundamental. Quanto as dificuldades no decorrer dos estudos sobre topologia, elas foram muitas, pouco a pouco sanadas, e seu conhecimento nos dá uma base mais sólida para iniciar os estudos 100 Conclusão mais formais sobre tais conteúdos e também uma base para possíveis pesquisas nesta área. 101 Referências D’AMBRóSIO, U. Métodos de topologia: introdução e aplicação. 2. ed. Rio de Janeiro: FURB, 1977. Livros técnicos e científicos. Citado 3 vezes nas páginas 17, 78 e 86. LIMA, E. L. Análise real. Rio de Janeiro: IMPA, 2004. Coleção Matemática Universitária. Citado 3 vezes nas páginas 19, 40 e 49. LIMA, E. L. Grupo fundamental e espaços de recobrimento. 3. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2006. Citado 2 vezes nas páginas 78 e 81. LIMA, E. L. Elementos de topologia geral. Rio de Janeiro: SBM, 2009. Citado na página 17. MUNKRES, J. R. Topology. 2. ed. [S.l.]: Prentice Hall, 2000. Citado 7 vezes nas páginas 17, 21, 26, 63, 78, 87 e 91.