1 Artigo de revisão 12/2011 Neoplasias Hepáticas: Caracterização pela US, TC e RM Sebastião Oliveira Alcântara Resumo: Ocorre uma variedade de tumores malígnos e benígnos no fígado. A caracterização de lesões hepáticas focais, embora possa ser um desafio para o radiologista, a maioria das lesões se comportam com características de imagem que permitem o seu diagnóstico. Objetivo: O objetivo deste trabalho é o de rever os principais aspectos de imagem de tumores hepáticos benígnos e malígnos principalmente no fígado adulto. Unitermos: Fígado; Computadorizada. Neoplasias; Ressonância Magnética; Ultra-sonografia; Tomografia Abreviaturas: FNH- hiperplasia nodular focal; HCC-carcinoma hepatocelular; HE-hematoxilinaeosina. Abstract: Takes place a variety of malignant and benign tumors in the liver. The characterization of focal liver lesions, although it can be a challenge for the radiologist, most lesions behave with imaging characteristics that highlight its diagnosis. Objective: The objective of this paper is to review the main aspects of imagm of benign and malignant liver tumors in the liver adult. Keywords: Liver, neoplasms, MRI, Ultrasound, Computed Tomography. Abbreviations: FNH, focal nodular hyperplasia, hepatocellular carcinoma, HCC, HE, hematoxylineosin Trabalho de conclusão de curso de Pós-graduação em Ressonância Magnética pelo Instituto Cimas/Faculdade Redentor. Coordenador e Profº do curso de Pós-graduação em RM Homero José de Farias e Melo Sebastião Oliveira Alcântara Formado em Tecnologia em radiologia médica pelo Centro Universitário Nove de Julho em São Paulo-Brasil. Email: [email protected] cel: 11-8358-0340 - São Paulo, 06/12/2011 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2 indevidamente em grãos armazenados em 1 INTRODUÇÃO Ocorre uma grande variedade de nozes (incluindo o amendoim), é considerado tumores benígnos e malígnos no fígado. A uma importante causa de HCC na África e caracterização de lesões hepáticas focais Ásia. embora o 2. Doenças metabólicas e genéticas, incluindo radiologista, a maioria das lesões se apresenta hemocromatose (hepatocelular aumento de com características de imagem que permitem o deposição de ferro), doença de Wilson diagnóstico. (hepatocelular aumento de deposição de possa ser um desafio para O objetivo deste trabalho é rever o cobre), e deficiência de antitripsina, pode levar aspecto de imagem dos tumores hepáticos à cirrose, nódulos hepáticos, e HCC. benígnos comumente 3. Alimentares: obesidade, diabetes (tipo II), encontrados no fígado em adultos. Este artigo bem como o alcoolismo pode levar à de infiltração gordurosa do fígado (esteatose), e malígnos revisão foi mais descrito as principais características do hemangioma, da hiperplasia esteatose hepática e cirrose. nodular focal, do adenoma, do carcinoma 4. A hepatite viral: causada principalmente hepatocelular, do colangiocarcinoma intra- pela: Viral hepatite B e vírus da hepatite C é hepático e das metástases hepáticas observadas atualmente o mais importante fator etiológico em levando a fibrose hepática e cirrose na exames tomografia de ultra-sonografia computadorizada (US), (TC) e ressonância magnética (RM)¹ América do Norte.² 1.2 ADENOMA HEPATOCELULAR Adenomas do fígado normalmente 1.1Fatores etiológicos: ocorrem em mulheres jovens com antecedente Exceto para FNH, nódulos hepáticos geralmente se desenvolvem em fígados de uso de associação contraceptivos com outras orais. condições Uma ou previamente danificados. Danos ao fígado podem ser causados por vários fatores: hepatocelular familiar agentes diabetes estimulantes, mellitus, como galactosemia, 1 A aflatoxina, um produto do fungo: armazenamento de glicogênio doença do tipo endêmica Aspergillus flavus, que cresce 3 1, e os esteróides anabolizantes. Necrose e encapsulada. A presença de gordura ou focos hemorragia são causas frequentes de dor. Além hemorrágicos intralesionais é bastante típica. A disso, de acordo com o uso atual da lesão tende a se mostrar isoatenuante ao terminologia, adenomas hepatocelulares são parênquima hepático na fase pré-contraste, classificados pré-malígnos. com realce homogêneo na fase arterial, Devido ao seu potencial de hemorragia e tendendo a tornar-se novamente isoatenuante degeneração ao parênquima hepático nas fases portal e de como nódulos malígna, adenomas hepatocelulares são preferencialmente tratados equilíbrio. cirurgicamente (1,2) Na RM as características de imagem que sugerem adenoma incluem hipersinal nas imagens ponderadas em T1 e em T2, sendo mais discreto nas últimas. A queda do sinal da a b c lesão em seqüências gradiente-eco ―fora de fase‖ indica a presença de gordura intralesional e é um dado que favorece o diagnóstico de adenoma. O padrão de realce pelo meio de contraste paramagnético é similar ao visto na TC (Fig. 1). O adenoma pode ser detectado na US, mas normalmente não ecográfico característico, apresenta padrão complementações com TC ou RM são usualmente necessárias para melhor avaliação da lesão. adenoma na TC contrastada multifásica inclui a presença de lesão única (ou eventualmente bem delimitada e às 1.3 HEMANGIOMA A característica que favorece o diagnóstico de múltiplas), d e f Figura 1. Adenoma hepático na RM (setas). A: FSE T2 com saturação de gordura, TE 90 MS; B: FSE T2 sem saturação de gordura, TE 180 MS; C: GRE T1 em fase; D: GRE T1 fora de fase; E: GRE T1 pós-contraste fase arterial; F: GRE T1 pós-contraste fase portal. Notar acentuada queda do sinal da lesão na seqüência GRE T1 fora de fase, indicando componente de gordura lesional. Liver neoplasms: imaging characterization Radiol Bras. 2008 Mar/Abr; 41(2): 119–127 vezes Os hemangiomas hepáticos são as lesões benígnas mais comuns que afetam o fígado, ocorrendo em até 20% de casos de autópsia, e seu aspecto na ultra-sonografia 4 (US), tomografia computadorizada (TC) e hemangiomas apresentam estas características ressonância na US. Quando maiores que 4,0–5,0 cm, os magnética (RM) são bem conhecidas. hemangiomas podem heterogeneidade central apresentar correspondente a No entanto, em número considerável de casos a sua apresentação pode ser atípica necrose, hemorragia ou fibrose, que pode dificultar o seu diagnóstico ultrasonográfico nos diversos métodos de diagnóstico por (Figura 2). imagem, dificultando o seu diagnóstico, principalmente nos pacientes em estadiamento tumoral ou em acompanhamento evolutivo da doença neoplásica. Apesar de aspectos incomuns do hemangioma hepático ocorrerem em até 20% dos exames de imagem, na a maioria dos casos o diagnóstico pode ser estabelecido combinando-se os resultados obtidos nos diversos métodos, com destaque para a RM (3). Para se obter resultados satisfatórios, é importante reconhecer esses achados incomuns e se familiarizar com os principais sinais que permitem o diagnóstico de hemangioma, evitando, assim, biópsias ou outros procedimentos invasivos desnecessários. (8,7) Na TC, o hemangioma comporta-se Na US, o hemangioma hepático se apresenta como lesão nodular, periférica, hiperecogênica, homogênea, bem definida e que, mesmo quando volumosa, não causa distorção vascular. b Figura 2 (a) Hemangioma típico e volumoso, hiperecogênico e homogêneo, sem distorção vascular. (b) Volumoso hemangioma hepático, heterogêneo pela presença de necrose central. Apresentações incomuns do Hemangioma hepático-Giuseppe D`Ippolito -Radiol Bras 2006;39(3):219–225 ref.(8). Cerca de 80% dos tipicamente como uma lesão nodular hipodensa, homogênea e bem definida na fase sem contraste e que apresenta realce globular periférico centrípeto na fase portal após a injeção do contraste, tendendo a homogeneizar 5 nos cortes mais tardios (Figura 3). As lesões menores que 3,0 cm podem apresentar realce persistente. Apresentações incomuns do hemangioma hepático: ensaio iconográfico Radiol Bras 2006; 39(3): 219–225 (8) homogêneo e completo já na fase arterial, Na RM, o hemangioma hepático refletindo o fino calibre dos seus espaços apresenta-se vasculares, por isso são chamados como nódulo ou massa de hipointensa em T1 e hiperintensa em T2, sem hemangiomas capilares (Figura 4). Ao queda de sinal nas seqüências obtidas com contrário, quando as lesões são maiores que Ecos mais longos (TE > 140 MS). Após a 5,0 cm de diâmetro,observa-se, com certa injeção do gadolínio, o hemangioma apresenta freqüência, ausência de homogeneização nos contrastação semelhante àquela observada nos cortes de retardo, decorrente da presença de estudos tomográficos (Figura 6). áreas avasculares de necrose, fibrose ou Aproximadamente 90% dos hemangiomas hemorragia (Figura 5) apresentam estas características nos exames de RM.(1) a Figura 3. TC com três fases pós-contraste demonstrando o realce globular, periférico e centrípeto, tendendo à homogeneização na fase de equilíbrio. Apresentações incomuns do hemangioma hepático: ensaio iconográficoRadiol Bras 2006; 39(3): 219–22)ref.(8) b Figura 4. Pequeno hemangioma hepático (seta) com intenso realce precoce e C Figura 5. (a) Hemangioma com 8,0 cm de diâmetro e área hipovascularizada central nos cortes de retardo (b). As imagens de RM 6 ponderadas em T2 (TE = 140) confirmam o diagnóstico de hemangioma (c). Apresentações incomuns do hemangioma hepático: ensaio iconográfico - Radiol Bras 2006;39(3):219– 225 (8) freqüente, com incidência descrita de 0,9%. Ocorre predominantemente no sexo feminino e em pacientes jovens. Cerca de20% dos pacientes têm lesões múltiplas e existe associação da ocorrência destes tumores com hemangiomas hepáticos. A HNF pode ser dividida em clássica (80%) e a não-clássica (20%), segundo seus aspectos histológicos. A clássica apresenta três componentes: arquitetura nodular anormal, vasos malformados e proliferação de ductos biliares. A não-clássica contém dois dos três b componentes, incluindo a proliferação ductal. A patogênese da HNF não é totalmente conhecida. Malformação vascular e/ou injúria vascular c Figura 6. Hemangioma atípico na US (a) e com aspecto típico na RM (B, C). A massa apresenta-se hiperintensa em T2 (B), sem queda de sinal nos Ecos mais longos, com TE = 140 e realce globular periférico e centrípeto (C). Apresentações incomuns do hemangioma hepático: ensaio iconográfico - Radiol Bras 2006;39(3):219–225 Ref(8) são como nódulo composto associação com esteróides é controversa. O tumor é geralmente assintomático e, nestes casos, não requer tratamento. É comumente um achado incidental em exames de imagem, em fígado com aspecto histológico normal. É o tumor hepático benígno após a incorporação e meios de contrastes intravenosos na TC e RM. por hepatócitos de aparência normal e que ocorre segundo possíveis aprimoramento dos estudos dinâmicos com Hiperplasia nodular focal (HNF) é definida como mecanismos para seu desenvolvimento. A especialmente 1.4 HIPERPLASIA NODULAR FOCAL sugeridas mais Na US tem padrão inespecífico e é mal visualizada. Geralmente se apresenta como nódulo ligeiramente hipoecogênico ou hiperecogênico e sua caracterização definitiva 7 com este método não é possível. A HNF características são presentes, a especificidade clássica geralmente é caracterizada com grande diagnóstica atinge 98%. (Figura 8). HNFs eficácia pela TC e RM. Atualmente, a TC atípicas podem se apresentar como lesões helicoidal e especialmente a TC com múltiplas grandes, fileiras de detectores (multislice) permitem localizações. O tumor pode apresentar menor estudo (contrastação grau de realce pelo meio de contraste, ausência hepática arterial, portal e de equilíbrio), de realce da cicatriz central e realce de indispensável para pseudocápsula nas fases tardias. Calcificações vascularização do tumor hepático multifásico a avaliação e sua da correta heterogêneas puntiformes e centrais com múltiplas podem caracterização. Os aspectos típicos da HNF na excepcionalmente TC incluem lesão lobulada e bem delimitada, situações, a diferenciação da HNF com outras iso ou levemente hipoatenuante na fase pré- lesões contraste, e com importante realce homogêneo (hepatocarcinoma, carcinoma fibrolamelar e na fase arterial do contraste, com clareamento metástases (wash-out) rápido nas fases portal e de extremamente dificultada, sendo necessário equilíbrio. Comumente é vista pequena área estudo histológico. (1,9,10) benígnas observadas. ser (adenomas) hipervascularizadas) e Nestas malígnas pode ser central estrelada que tende a se impregnar nas fases tardias (cicatriz central), composta por vasos mal formados (Figura 7). Na RM, a HNF clássica apresenta-se como lesão ligeiramente hipointensa em T1 e com discreta hiperintensidade em T2. Em 85% das lesões é possível a identificação da cicatriz central, que se apresenta com maior sinal do que o restante da lesão nas imagens ponderadas em T2. O padrão de realce pelo meio de contraste intravenoso da HNF é semelhante ao descrito na TC. Quando estas Figura 7. Hiperplasia nodular focal típica na TC (setas). Fases sem contraste (a), arterial (b), portal (c) e de equilíbrio (d). Notar impregnação precoce na fase arterial e clareamento rápido na fase portal. A cicatriz 8 central permanece hipoatenuante nas fases precoces e se impregna tardiamente na fase de equilíbrio. Neoplasias hepáticas: caracterização por métodos de imagem- Radiol Bras 2008 mar/abr;41(2)119-127 ref (1) depende do contraste existente entre ela e o restante do parênquima, que pode ser influenciada pela presença de gordura, necrose e fibrose. Especialmente, a US apresenta importantes limitações para a avaliação de nódulos no fígado cirrótico. Devido ao maior risco de pacientes com cirrose desenvolverem CHC, ao se detectar qualquer nódulo sólido na US, preconiza-se prosseguir investigação com TC ou RM. É fundamental que tanto a TC como a RM sejam realizadas utilizando meios Figura 8. Hiperplasia nodular focal na RM (setas). A: FSE T2 com saturação de gordura, TE 90 MS; B: GRE T1 com saturação de gordura; C: GRE T1 pós-contraste fase arterial; D: GRE T1 pós-contraste fase de equilíbrio. Notar acentuado realce arterial e clareamento na fase de equilíbrio. A cicatriz central apresentahipersinal em T2 e realce tardio na fase de equilíbrio. caracterização por métodos de imagem- Radiol Bras 2008 mar/abr; 41(2)119-127 ref (1) de contraste intravenosos e que seja possível realizar estudos multifásicos incluindo a fase arterial pós-contraste, imprescindível para a detecção e caracterização do CHC. Lesões nodulares no fígado cirrótico podem ser separadas em duas grandes categorias: Nódulos regenerativos e displásicos 1.5 CARCINOMA HEPATOCELULAR ou neoplásicos. Nódulos regenerativos O carcinoma hepatocelular (CHC) representam áreas de parênquima aumentadas geralmente ocorre como complicação da como cirrose hepática, especialmente resposta à necrose e alterações naquela circulatórias. Nódulos maiores que 3–5 mm causado por vírus (B e C), e sua prevalência são chamados de macrorregenerativos, mas em fígados cirróticos retirados em transplantes raramente são maiores que 20 mm. Nódulos atinge 14%. Pacientes com cirrose hepática com dimensões maiores que 20 mm são podem ser avaliados por US, TC e RM. geralmente displásicos. Os nódulos Embora cada método tenha sua particularidade, regenerativos podem conter ferro, e nestes a capacidade de detecção de uma lesão focal casos são chamados de nódulos sideróticos. 9 Apesar de histologicamente presentes em todos O CHC tem aparência variável na TC e RM. os fígados cirróticos, os nódulos regenerativos Apesar de o hipersinal nas imagens ponderadas são vistos em uma minoria de pacientes na TC em T2 da RM ser suspeito para CHC, o sinal e em cerca de 50% dos casos na RM, sendo os das lesões é variável, podendo se apresentar nódulos sideróticos mais evidentes. (1) com hipo, iso ou hipersinal em relação ao Carcinoma hepatocelular HCC é definido fígado adjacente nas imagens ponderadas em como uma neoplasia malígna composta de T1 e T2(12). células com hepatocelular diferenciadas. HCC O hepatocarcinoma fibrolamelar é um pequeno é definido como um tumor de 2 cm ou tipo menores . HCC tem intensidade de sinal apresenta características clínicas (incluindo variável em imagens de T1 e T2. Alto sinal de prognóstico) e histopatológicas distintas do imagens ponderada em T1 é atribuída ao CHC clássico encontrado no fígado cirrótico. intratumoral gorduroso, cobre ou glicogênio, Ocorre preferencialmente em pacientes jovens, ou ao zinco no parênquima circundante. Teor sem hepatopatia de base e sem elevação de de gordura leva para sinalizar perda de marcadores tumorais (21). Os aspectos do intensidade em oposição de fase. CHC fibrolamelar freqüentemente encontrados Intensidade do sinal de alta moderada em T2 é na TC e RM incluem massas grandes em bastante específicos para HCC, desde que fígados nódulos displásicos não são hiperintensas a delimitadas, menos que eles são infartado . No entanto, radiados e cicatriz central com componentes de HCC em fibrose. Calcificações (mais bem avaliadas pela ponderação T2 por causa da heterogeneidade TC) são vistas em cerca de 50% dos casos, do fígado cirrótico, que obscurece levemente quase que exclusivamente na região da cicatriz hiperintensas central. Os estudos dinâmicos com meios de pode ser e difícil de isointensa. detectar Artefatos de de hepatocarcinoma não-cirróticos, heterogêneas intravenosos incomum lobuladas, e com que bem septos respiração, particularmente em pacientes com contrastes evidenciam ascite, pode também criar dificuldade na vascularização detecção(11). arterial, heterogênea. Nas imagens tardias há preferencialmente uma tendência de impregnação persistente da 10 cicatriz central, o que denota o componente fibroso de tal região (Figura 9). Na RM, o tumor geralmente apresenta hiposinal em T1 e hipersinal heterogêneo em T2, sendo que a cicatriz central possui hiposinal em T2. Tal aspecto ajuda na diferenciação de outros tumores que podem apresentar cicatriz central, especialmente a HNF, na qual a cicatriz central apresenta hipersinal nas imagens de RM ponderadas em T2. (13). Figura 9. CHC fibrolamelar. Paciente jovem, sem hepatopatia. TC sem contraste: grande massa heterogênea no lobo direito e com calcificações centrais (a). TC com contraste: nota-se realce heterogêneo e delimitação de outras lesões no lobo esquerdo (b). Caracterização por métodos de imagemRadiol Bras 2008 mar/abr; 41(2)119-127 ref (1) Figura 10. Carcinoma hepatocelular na RM (setas). A: FSE T2 com saturação de gordura, TE 90 MS; B: GRE T1 com saturação de gordura; C: GRE T1 pós-contraste fase arterial; D: GRE T1 pós-contraste fase de equilíbrio. Notar sinais de hepatopatia crônica, com pequenos nódulos regenerativos sideróticos esparsos, mais bem vistos com hiposinal nas imagens ponderadas em T2. O carcinoma hepatocelular no lobo esquerdo apresenta acentuado realce arterial e clareamento na fase de equilíbrio, com realce da pseudocápsula fibrótica. Caracterização por métodos de imagem- Radiol Bras 2008 mar/abr; 41(2)119-127 ref (1) 1.6COLANGIOCARCINOMA Colangiocarcinoma é um tumor raro com uma incidência de menos de 1%, o que afeta mais homens que mulheres em uma proporção de 1,5 / 1 e uma prevalência máxima 60 anos. Sua origem vem do epitélio biliar, com 90% de casos adenocarcinomas. Devido à classificado sua localização em: anatômica é intra-extra-hepáticos, (geralmente perihilar), conhecida como tumor de Klatskin e extra-hepáticos distalmente. 11 Cresce lentamente dando origem a obstrutiva freqüentemente não promove dilatação das manifesta clínica por icterícia, dor também vias biliares, ao contrário da apresentação pode estrear prurído, dores abdominais, perda hilar. Costuma determinar dilatação focal de de peso ou complicações infecciosas. Vários ductos biliares circunjacentes em cerca de 30% fatores têm sido relacionados com a presença dos casos e retração capsular (Figura 11). A deste tumor colangite persistência de impregnação no tumor em fases esclerosante, etc), embora em muitos casos a tardias é um achado freqüentemente descrito e etiologia é decorrente da presença de tecido fibrótico (cálculos permaneça biliares, indeterminada. O diagnóstico de colangiocarcinoma não é difícil. intralesional (16). Eventuais análises laboratoriais específicos ou marcadores tumorais para este tumor. Exames de imagem continuam sendo o pilar de apoio para o diagnóstico: computadorizada, ressonância Tomografia magnética, cholangio-RM e angiografia com menos freqüência ou PET. O tratamento de escolha é cirurgicamente, se isso é possível, reservando o implante de prótese nos casos ducto biliar ou cirurgia paliativa não é indicada. Outras terapias dinâmicas incluem quimioterapia fototerapia, e radioterapia. (14,15,24) O colangiocarcinoma periférico normalmente se apresenta como massa sólida, bem delimitada, lobulada e com impregnação periférica pelo meio de contraste na TC e RM. É geralmente volumoso no momento do diagnóstico, sintomas porque não costuma nos estágios iniciais, causar quando Figura11. Colangiocarcinoma intra-empático na RM (setas). A: FSE T2 com saturação de gordura, TE 90 MS; B: FSE T2 sem saturação de gordura, TE 180 MS; C: GRE T1 précontraste; D: GRE T1 fase portal póscontraste. Lesão heterogênea com acentuada impregnação pelo meio de contraste. Notar discreta retração capsular hepática adjacente. Caracterização por métodos de imagemRadiol Bras 2008 mar/abr;41(2)119-127 ref (1) 1.7 METÁSTASES HEPÁTICAS São as lesões malignas mais freqüentes do fígado. O diagnóstico correto é fundamental para a conduta terapêutica e o prognóstico. A informação precisa do número e da extensão 12 das lesões é pré-requisito para o sucesso da rastreamento de metástases hepáticas no ressecção monitoramento paciente oncológico, por oferecer melhor terapêutico. No paciente oncológico, além do resolução espacial e maiores sensibilidade (ao rastreamento redor de 75%) e especificidade na detecção e cirúrgica de e metástases hepáticas, é imperativa a diferenciação entre estas e outros nódulos hepáticos benígnos, comumente caracterização de lesões focais hepáticas. Nódulos hipoatenuantes pequenos, encontrados de modo acidental em estudos de especialmente os menores que 1,0 cm, podem imagem (17). ser de difícil caracterização na TC. Nestes A US tem sensibilidade limitada para a casos, a RM pode auxiliar na avaliação detecção de metástases hepáticas, variando diagnóstica, entre 50% e 70% (19). A maioria das especificidade do método na caracterização de metástases não detectadas pela US são as pequenos pequenas, principalmente as menores que 1,0 comumente presentes, inclusive no grupo de cm ou as isoecóicas em relação ao parênquima pacientes oncológicos (22). A RM apresenta hepático. O aspecto mais característico de sensibilidade metástase hepática na US é o de lesão hipo ou especificidade muito semelhantes à da TC na isoecogênica ao parênquima circunjacente avaliação de lesões hepáticas secundárias. A rodeada por um halo hiperecogênico, o que técnica convencional para avaliação do fígado confere à lesão o conhecido aspecto ―em alvo‖ utiliza o meio de contraste paramagnético por ou ―olho de boi‖. A presença do halo tem alta via intravenosa, com séries adquiridas durante sensibilidade de as fases arterial, portal e de equilíbrio hepático, malignidade (cerca de 85%) (20). Apesar do semelhante à TC. As imagens ponderadas em menor custo e da maior disponibilidade, o T2 são muito importantes na caracterização das método apresenta menor reprodutibilidade em lesões e representam uma vantagem adicional relação à TC e RM, o que pode dificultar o em relação à TC, particularmente nas lesões controle evolutivo das lesões (19,20). pequenas (22). (Figura12). A utilização de para o diagnóstico tendo cistos (ao e em vista a hemangiomas, redor de alta lesões 75%) e A TC, junto com a RM, é considerada meios de contraste hepato- específicos, como o o principal método de imagem para o óxido de ferro superparamagnético, parece 13 aumentar a acurácia do método na detecção de em exames de TC e RM com contraste (27,28). metástases, especialmente as de pequenas Reconhecer os principais aspectos de imagem dimensões (23). No entanto, este tipo de meio dos tumores hepáticos mais comuns e algumas de contraste não tem sido utilizado de forma das suas características (29) pode ajudar o rotineira no nosso meio, por causa do seu radiologista maior custo. positivamente na abordagem diagnóstica e no a contribuir concreta e manejo deste grupo de pacientes. 3.AGRADECIMENTO Agradeço a Deus pela força e condição que tem me proporcionado ao longo do curso e Figura 12. Metástase de neoplasia de cólon. A: TC, fase portal; B: RM, FSE T2 com saturação de gordura, TE 90 MS; C: RM, GRE T1 fase portal. Lesão nodular Com discreto hipersinal em T2 na RM e realce anelar pelo meio de contraste nas fases portais (TC e RM). Caracterização por métodos de imagemRadiol Bras 2008 mar/abr;41(2)119-127 ref (1) em segundo lugar sou grato a todos os 2.CONCLUSÃO 1. Tiferes Ariel Dário; Giuseppe D'IppolitoNeoplasias Hepáticas: Caracterização por métodos de imagem. Radiol. Bras. 2008 Mar/Abr; 41(2): 119-127 Com o avanço da tecnologia e disseminação de equipamentos de diagnóstico por imagem tem sido cada vez mais comum a ocorrência de nódulos hepáticos incidentalmente encontrados em exames de imagem ou em pacientes em rastreamento tumoral (25,26). O avanço tecnológico destes equipamentos tem proporcionado maior condição de detectar lesões cada vez menores, o que dificulta a sua caracterização e que pode ser ulteriormente comprometida pelas frequentes pseudolesões hepáticas observadas professores do curso do Instituto cimas juntamente com os amigos e colegas que juntos concluímos o mesmo objetivo. 4.REFERÊNCIAS 2. Shahid M. Hussain, MD, PhD - Pieter E. Zondervan, MD et al. Benign versus Malignant Hepatic Nodules: MR Imaging Findings with Pathologic Correlation. Radio Graphics 2002 v22 nº 5 - página 1024 3. Shahid M. Hussain, MD, PhD - Pieter E. Zondervan, MD et al. Benign versus Malignant Hepatic Nodules: MR Imaging Findings with Pathologic Correlation. 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