Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol

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Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Ciências Biológicas
Programa de Pós-Graduação em Genética
Kleison da Costa Merlo
Investigação do potencial genotóxico do fármaco
formocresol através dos testes de metáfase in vitro e in
vivo
Recife
2012
Kleison da Costa Merlo
Investigação do potencial genotóxico do fármaco
formocresol através dos testes de metáfase in vitro e in
vivo
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Genética da Universidade Federal de
Pernambuco como parte dos requisitos exigidos
para obtenção do título de Mestre em Genética.
Orientadora: Dra. Neide Santos
Coorientadora: Dra. Maria Eliane Bezerra de Mélo
Recife
2012
i
Catalogação na fonte
Elaine Barroso
CRB 1728
Merlo, Kleison da Costa
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através dos
testes de metáfase in vitro e in vivo/ Kleison da Costa Merlo– Recife: O Autor,
2012.
66 folhas : il., fig., tab.
Orientadora: Neide Santos
Coorientadora: Maria Eliane Bezerra de Mélo
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco,
Centro de Ciências Biológicas, Genética, 2012.
Inclui bibliografia
1. Mutagênese 2. Formocresol 3. Genotoxicidade I. Santos, Neide
(orientadora) II. Mélo, Maria Eliane Bezerra de (coorientadora) III.
Título
572.838
CDD (22.ed.)
UFPE/CCB- 2013- 062
Kleison da Costa Merlo
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol
através dos testes de metáfase in vitro e in vivo
Aprovado em ___/___/____
Banca Examinadora:
____________________________________________
Dra. Neide Santos (Orientadora)
Universidade Federal de Pernambuco – Recife-PE
____________________________________________
Dra. Maria Eliane Bezerra de Mélo (Coorientadora)
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/FIOCRUZ – Recife-PE
____________________________________________
Dra. Mônica Lúcia Adam
Universidade Federal de Pernambuco – Vitória de Santo Antão-PE
____________________________________________
Dra. Ana Christina Brasileiro Vidal
Universidade Federal de Pernambuco – Recife-PE
____________________________________________
Dra. Ivone Antonia de Souza
Universidade Federal de Pernambuco – Recife-PE
Recife
2012
ii
Dedico esse trabalho a todas as pessoas que, de
uma forma ou de outra, foram importantes para a
sua conclusão.
iii
Agradecimentos
Ao CNPq pelo apoio financeiro.
Ao PPGG, CPqAM/FIOCRUZ e ao Laboratório de Genética e Citogenética Animal UFPE, por toda infra estrutura, material e equipamentos disponibilizados, sem os
quais o desenvolvimento desse trabalho não seria possível.
À minha orientadora Neide Santos, por toda assistência e interesse prestados
durante a execução de todos os experimentos e análises e pelo seu acolhimento,
afeto e paciência.
À minha coorientadora Maria Eliane Bezerra de Mélo (Chefinha), por todo seu
carinho e atenção demonstrados desde quando ainda usava fraldas na graduação
até o presente momento.
À minha amiga, companheira, namorada e futura esposa, Jamilka por tudo que é e
representa em minha vida.
À minha mãe, pelo seu amor incondicional. Ao meu pai, pelo exemplo de
determinação e aos meus irmãos por sempre estarem ao meu lado.
Aos meus companheiros de laboratório que com sua amizade e energia tornaram os
dias de trabalho mais agradáveis e intensos, em especial Renato Torres de Lira e
Camila Muniz, os quais efetivamente meteram a mão na massa.
Aos meus amigos e colegas de Mestrado, em especial Larrisa Mélo e Diego
Hollanda.
Aos professores e funcionários do Departamento de Genética da UFPE e CPqAM.
A Deus, por sua benção e preces atendidas.
iv
“Viver é desenhar sem borracha”. Millôr Fernandes (1923-2012)
v
Resumo
O formocresol, principal droga utilizada em pulpotomias, tem um longo e bem
sucedido histórico de uso clínico. Contudo, sua segurança tem sido questionada
devido a possíveis efeitos genotóxicos, mutagênicos e carcinogênicos, relacionados
à presença do formaldeído em sua composição. Resultados de estudos sobre a
genotoxicidade do formocresol são bastante inconsistentes, logo, uma avaliação
mais aprofundada sobre seu potencial genotóxico se faz relevante, uma vez que é
uma droga mundialmente utilizada. Nesse trabalho foram investigados os potenciais
efeitos genotóxicos do formocresol através de ensaios citogenéticos in vitro e in vivo
(teste de metáfase). Nos ensaios in vitro, as preparações cromossômicas foram
obtidas de cultura de linfócitos, onde após 24 horas de incubação, 50 µl das
diluições do formocresol (1:50, 1:100, 1:200, 1:500, 1:1000) foram adicionados,
sendo as preparações citológicas realizadas após 48 e 72 horas. Para o controle
negativo foram realizadas culturas sem adição de qualquer droga. Nos ensaios in
vivo, camundongos Swiss webster foram inoculados com as mesmas diluições na
proporção de 0,1 ml/10 g, sendo utilizado como controle positivo a ciclofosfamida (25
mg/kg) e como negativo a glicerina/água (1:1). Para análise estatística foi aplicado o
teste do qui-quadrado ao nível de 5%. Em culturas de 48 e 72 horas, comparando-se
as dosagens de 1:50 e 1:100 com o controle negativo foi constatado haver diferença
significativa, o que não observou-se para as outras diluições. Ao comparar-se a
diluição de 1:50 em machos e a diluição de 1:200 em fêmeas com o controle
negativo houve diferença significativa, o que não foi observado para as outras
diluições. Sob as condições experimentais empregadas nesse estudo, o formocresol
revelou-se genotóxico nas diluições mais concentradas, contrariando alguns
trabalhos que apontam para sua não genotoxicidade. Entretanto, a dose final de
formaldeído presente nessas diluições parece ser superior àquela geralmente
empregada em pulpotomias. Isso demonstra que o uso displicente do formocresol
parece ser o principal responsável pelos efeitos genotóxicos relatados na literatura.
Palavras-chave: Formocresol; genotoxicidade; teste de metáfase.
vi
Abstract
Formocresol, the main substance used in pulpotomies, has a long and successful
historical of clinical use. Although, its safety has been questioned because of
possible genotoxic, mutagenic and carcinogenic effects, related to the presence of
formaldehyde on its composition. Results from studies about formocresol genotoxicity
are quite inconsistent, so a deep evaluation about its genotoxic potential is important,
once this medicament is widely used. The potential genotoxic effects of formocresol
were investigated employing in vitro and in vivo cytogenetic assays (chromosomal
aberration test). On in vitro assays chromosomal preparations were provided from
lymphocyte cultures, where after 24 hours of incubation, 50 µl from formocresol
dilutions (1:50, 1:100, 1:200, 1:500, 1:1000) were added, with the cytological
preparations done after 48 and 72 hours. The negative control cultures were done
without adding any drug. On in vivo assays Swiss webster mice were inoculated with
the same dilutions using the proportion of 0,1 ml/10 g body weight, and for positive
control was used cyclophosphamide (25 mg/kg) and as negative control
glycerine/water (1:1). The statistical analysis was performed using chi-square test at
5% level. On 48 and 72 hours culture comparing the 1:50 and 1:100 dosages with
the negative control was observed significant difference, the same was not observed
with the other dilutions. Comparing 1:50 dilution of male and 1:200 dilution of female
with the negative control any significant difference was observed, the same did not
happen with the other dilutions. Under the experimental conditions employed in this
study, formocresol revealed its genotoxicity in the more concentrated dilutions,
confronting some studies that point to its non-genotoxicity. However, the final dosage
of formaldehyde present in these dilutions seems to be higher than those generally
used in pulpotomies. It shows that the incorrect use of formocresol is the main
responsible for the genotoxic effects reported in the literature.
Keywords: Formocresol; genotoxicity; chromosomal aberration test.
vii
Lista de Ilustrações
Figura 1
Aspecto macroscópico do tecido pulpar radicular normal
observado após extração da polpa coronária durante a realização
da pulpotomia.
4
Figura 2
Frasco de formocresol (MOYCO®).
7
Figura 3
Esquema descritivo das etapas da metabolização e destino
biológico do formaldeído.
9
Figura 4
Tipos de ACs encontradas após coloração convencional.
21
Figura 5
Fluxograma do teste de metáfase em linfócitos de sangue 29
periférico humano.
Figura 6
Fluxograma teste de metáfase em células de medula óssea de 32
camundongos.
Figura 7
Metáfases de linfócitos de sangue periférico humano.
34
Figura 8
Metáfases de células de medula óssea de camundongos.
38
viii
Lista de Tabelas
Tabela 1
Concentrações de formaldeído associadas a alguns efeitos
relatados.
12
Tabela 2
Efeito das diferentes diluições de formocresol sobre
cromossomos de linfócitos de sangue periférico humano em
culturas de 48 horas (após 24 horas de exposição à droga).
35
Tabela 3
Efeito das diferentes diluições de formocresol sobre
cromossomos de linfócitos de sangue periférico humano em
cultura de 72 horas (após 48 horas de exposição à droga).
36
Tabela 4
Número total de alguns tipos de ACs observadas após
utilização de diluições de formocresol e classificadas de
acordo com os grupos cromossômicos em culturas de 48
horas.
37
Tabela 5
Número total de alguns tipos de ACs observadas após
utilização de diluições de formocresol e classificadas de
acordo com os grupos cromossômicos em culturas de 72
horas.
37
Tabela 6
Efeito das diferentes diluições de formocresol sobre
cromossomos de células de medula óssea de camundongos
machos após 24 horas de exposição à droga.
39
Tabela 7
Efeito das diferentes diluições de formocresol sobre
cromossomos de células de medula óssea de camundongos
fêmeas após 24 horas de exposição à droga.
40
ix
Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos
ACs
Aberrações cromossômicas
CPA
Ciclofosfamida
FAD
Fragmento acêntrico duplo
FAS
Fragmento acêntrico simples
FDH
Formaldeído desidrogenase
FISH
Hibridização in situ fluorescente
GCRM
Gap isocromatídico
GCRT
Gap cromatídico
IP
Intraperitoneal
IARC
Agência Internacional de Pesquisa em Câncer
ICPEMC Comissão
Internacional
para
Proteção
Contra
Mutágenos
e
Carcinógenos Ambientais
QCRM
Quebra isocromatídica
QCRT
Quebra cromatídica
RONs
Regiões organizadoras do nucléolo
SFCs
Sítios frágeis comuns
SFRs
Sítios frágeis raros
SFs
Sítios frágeis
x
Sumário
Resumo
vi
Abstract
vii
Lista de Ilustrações
viii
Lista de Tabelas
ix
Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos
x
1. Introdução
1
2. Revisão da Literatura
3
2.1 Tratamento endodôntico
3
2.2 Formocresol
4
2.2.1 Considerações iniciais
4
2.2.2 Composição, mecanismo de ação e efeitos adversos
5
7
2.3 Formaldeído
2.3.1 Considerações iniciais
7
2.3.2 Farmacocinética e metabolização
8
2.3.3 Efeitos tóxicos
10
2.4. Mudanças no material genético
12
2.5 Mecanismos de reparo
14
2.6 Relação entre mutagenicidade e carcinogenicidade
16
2.7 Monitoramento biológico na aferição da genotoxicidade
17
2.7.1 Ensaios citogenéticos
17
2.7.2 Teste de metáfase
18
2.7.2.1 Princípios do ensaio
19
2.7.2.2 Classificação das aberrações cromossômicas estruturais
20
2.7.2.3 Distribuição e origem das aberrações cromossômicas
22
2.7.2.4 Variações individuais e limiar de indução ao dano citogenético
23
2.7.2.5 Teste de metáfase in vitro e in vivo
24
3. Objetivos
26
4. Material e Métodos
27
4.1 Seleção das diluições da substância teste
27
4.2 Ensaios in vitro
27
xi
4.2.1 Critério de seleção dos voluntários
27
4.2.2 Procedimento: Teste de metáfase em linfócitos de sangue
28
periférico humano
30
4.3 Ensaios in vivo
4.3.1 Animais experimentais
30
4.3.2 Procedimento: teste de metáfase em células de medula óssea de
30
camundongos
32
4.4 Análise microscópica
4.4.1 Análises in vitro
33
4.4.2 Análises in vivo
33
4.5 Análise estatística
33
5. Resultados
34
6. Discussão
41
7. Conclusões
49
8. Bibliografia
50
9. Anexos
60
10. Currículo Lattes atualizado (correspondente ao período do curso)
64
xii
1. Introdução
Várias substâncias e materiais são empregados na terapia endodôntica
convencional. Por entrarem em contato íntimo com os tecidos é importante que
sejam biocompatíveis e não apresentem efeitos danosos. O formocresol tem um
longo e bem sucedido histórico de uso clínico em pulpotomias, sendo considerado o
medicamento de escolha nesse tipo de procedimento.
A despeito de ser mundialmente utilizado, a segurança quanto ao uso do
formocresol tem sido questionada por conta de possíveis efeitos deletérios, como:
citotoxicidade, genotoxicidade, mutagenicidade e carcinogenicidade. Tais efeitos se
devem principalmente à presença do formaldeído (componente primário do
formocresol), um agente tóxico comprovadamente carcinogênico para humanos
segundo várias agências e órgãos especializados.
Há uma grande divergência entre vários autores sobre o potencial mutagênico
e/ou genotóxico do formocresol. Apesar da existência de resultados positivos quanto
à genotoxicidade do formocresol, alguns autores acham pouco provável que a
pequena quantidade de formaldeído, associada ao uso do formocresol, seja capaz
de produzir quaisquer danos genotóxicos, uma vez que o consumo diário estimado
de formaldeído é bastante superior. O formaldeído é comumente integrado ao
organismo humano através da alimentação, água e ar, além de ser um produto do
metabolismo celular normal humano.
Apesar de haver um número considerável de trabalhos avaliando a
genotoxicidade e/ou mutagenicidade do formocresol e do formaldeído, não há
trabalhos quanto à indução diferencial de aberrações cromossômicas causadas pelo
formocresol entre cromossomos de células humanas. Sabe-se que mudanças no
genoma não ocorrem de maneira aleatória e que algumas regiões são mais
susceptíveis a sofrerem alterações. Logo, essa avaliação se faz relevante.
Além disso, não há registros de estudos sobre a toxicidade genética do
formocresol levando-se em consideração possíveis diferenças entre os sexos. Devese considerar que diferenças na absorção, metabolismo, clearance e hormônios
sexuais podem ser responsáveis por divergências nos resultados toxicológicos entre
fêmeas e machos, por isso é importante avaliar ambos os sexos.
1
Entre uma ampla variedade de testes utilizados para a avaliação da
segurança de medicamentos, a pesquisa genotoxicológica na indústria farmacêutica
apresenta destaque, servindo como instrumento de avaliação sobre os possíveis
efeitos danosos advindos da ação dos compostos químicos sobre o organismo. A
Comissão Internacional de Proteção Contra Mutágenos e Carcinógenos Ambientais
(ICPEMC) reforça a necessidade de se avaliar as possíveis ações mutagênicas
induzidas por compostos químicos, presentes em nosso meio, em virtude da
correlação existente entre mutagenicidade e carcinogenicidade. Entre a diversidade
dos testes mutagênicos existe uma característica e um objetivo comum entre eles,
que é a possibilidade de extrapolação dos resultados para o homem.
Dentre os ensaios genotóxicos mais utilizados está o teste de metáfase. Esse
ensaio se baseia na detecção de alterações cromossômicas em células metafásicas.
Através dele não só é possível determinar se uma determinada substância é ou não
clastogênica (genotóxica), como também identificar os tipos de danos causados.
Mesmo não sendo considerada medida de carcinogenicidade, a toxicidade genética
está frequentemente associada ao surgimento e desenvolvimento do câncer, visto
que, há uma íntima correlação entre danos cromossômicos e o aparecimento de
tumores em roedores e no homem.
Mediante a potencialidade indutora de mutação por substâncias químicas, a
estreita correlação existente entre mutação e câncer, bem como a inconsistência
dos resultados de estudos sobre a genotoxicidade do formocresol, uma avaliação
mais aprofundada sobre seu potencial genotóxico se faz relevante, uma vez que é
uma droga mundialmente utilizada no âmbito odontológico. O aprofundamento nessa
linha de investigação visa à prevenção e o controle, em termos de saúde pública,
dos possíveis riscos da exposição humana ao formocresol, bem como apontar novos
caminhos e soluções para essa problemática.
2
2. Revisão da Literatura
2.1 Tratamento endodôntico
Embora a educação e a preservação em relação à saúde bucal sejam
prioritárias na odontologia contemporânea, a cárie dentária mostra-se como um
problema
ainda
desfavorecidas,
muito
frequente
acometendo
dentre
principalmente
pessoas
crianças
socioeconomicamente
de
países
em
desenvolvimento. Dentre as principais causas da cárie estão: consumo de alimentos
ricos em açúcar entre as refeições, pobreza, fatores culturais, étnicos, assistência
irregular aos serviços de saúde e higiene bucal deficiente (Rosenblatt e Zarzar,
2003).
A odontologia atual é direcionada para a manutenção dos dentes decíduos na
arcada até a idade da queda fisiológica que acontece após os seis anos de idade
(Rosenblatt e Zarzar, 2003). Esses cuidados visam à preservação de funções
essenciais para o desenvolvimento da criança como mastigação, fonação e estética
(Assed et al., 2008).
Dentre os procedimentos terapêuticos mais empregados para manutenção de
dentes decíduos, destaca-se a pulpotomia. Trata-se de uma técnica conservadora
de terapia pulpar de fundamental importância para evitar a perda prematura de
dentes por traumas ou cáries (Castro, 2005). É um procedimento realizado para
remover tecido pulpar inflamado ou infectado da porção coronária, mas deixando a
polpa radicular vital. O tecido pulpar remanescente deve ser protegido com um
material capeador que preserve sua vitalidade, estimulando o processo de reparo e
formação de tecido mineralizado sobre o mesmo, mantendo o tecido pulpar radicular
com estrutura e função normais (Assed e Silva, 2008).
A pulpotomia pode ser realizada tanto em dentes decíduos quanto em dentes
permanentes que apresentem vitalidade pulpar, sendo esta uma condição
indispensável para a realização desse procedimento. Sua indicação clínica depende
basicamente do estado patológico pulpar, onde o diagnóstico dessa condição é
realizado através da anamnese, do exame radiográfico e do aspecto clínico do
tecido pulpar (Assed e Silva, 2008) (Figura 1).
3
Figura 1 - Aspecto macroscópico do tecido pulpar radicular normal observado após extração da polpa
coronária durante a realização da pulpotomia (Fonte: Assed e Silva, 2008).
Mesmo sendo um procedimento realizado rotineiramente na prática clínica, o
tratamento endodôntico de dentes decíduos é um assunto ainda muito controverso,
pois há uma discordância em relação à técnica e aos materiais ideais para esse
tratamento (Aeinehchi et al., 2007; Fornetti et al., 2009). Muitas universidades e
profissionais
ainda
utilizam
métodos
ultrapassados
que
se
baseiam
no
comportamento da criança, preconizando o uso de técnicas fáceis e rápidas, ao
invés de optar pelo que é melhor para a saúde do paciente (Kramer et al., 2000;
Assed et al., 2008). Nenhum dos materiais que são utilizados atualmente em
pulpotomias preenche todos os requisitos preconizados como ideais, que são: ser
bactericida, não causar dano à polpa e estruturas relacionadas, favorecer à
cicatrização da polpa radicular e não interferir no processo fisiológico de reabsorção
(Castro, 2005).
2.2 Formocresol
2.2.1 Considerações iniciais
O uso do formocresol como medicamento pulpar foi introduzido por Buckley
em 1904, mas foi primeiramente empregado em pulpotomias por Sweet em 1930,
onde foi observado índice de sucesso de 98%. Desde então, tem sido largamente
4
utilizado como droga de escolha para a realização de pulpotomias em dentes
decíduos (dentes de leite) (King et al., 2002; Hunter e Hunter, 2003; Peng et al.,
2006; Miura et al., 2010). Dentre os fatores para seu aparente sucesso estão a fácil
execução, a alta disponibilidade e o baixo custo (Rosenblatt e Zarzar, 2003).
A técnica da pulpotomia com formocresol pouco mudou desde que Berger
(1965) recomendou o uso do formocresol durante 5 minutos em única exposição. As
duas únicas mudanças foram a retirada do formocresol das pastas pulpares e seu
uso na forma diluída em 1:5 (King et al., 2002). Alguns autores comprovaram que a
diluição de 1:5 do formocresol é tão efetiva quanto à fórmula original de Buckley,
possuindo as mesmas propriedades bactericidas e de fixação tecidual, sendo menos
tóxica e agressiva aos tecidos pulpares e circunvizinhos (Burnett e Walker, 2002;
Rivera et al., 2003).
2.2.2 Composição, mecanismo de ação e efeitos adversos
A fórmula original do formocresol de Buckley apresentava a seguinte
composição: 19% de formaldeído, 35% de cresol, 15% de glicerina e água (Buckley,
1904). A glicerina atenua o poder irritante do formaldeído, além de ser o veículo para
o medicamento. O cresol possui o mesmo poder atenuante da glicerina,
apresentando ainda propriedades antissépticas (Fernandes et al., 2003). Acredita-se
que o cresol potencialize o poder bactericida do formaldeído por dissolver barreiras
naturais do tecido, permitindo que ele penetre mais profundamente nos canais
radiculares (Ranly e Garcia-Godoy, 1991).
O formaldeído interage quimicamente com as proteínas celulares provocando
trombose e consequente isquemia. Essa ação leva à precipitação proteica,
ocasionando destruição das bactérias por coagulação (Fernandes et al., 2003;
Assed et al., 2008). A reação mais comum é com o radical amino dos grupos dos
aminoácidos. A solidificação das proteínas é acompanhada pela formação de
ligações inter e intra-moleculares. Em geral, as reações entre o formaldeído e as
proteínas são reversíveis e os produtos da reação são instáveis. Esse processo de
fixação do tecido radicular limita sua autólise (Assed et al., 2008).
Apesar do grande sucesso clínico e radiográfico com índices de até 98%
(Fernandes et al., 2003; Assed et al., 2008), algumas reações adversas relacionadas
5
ao seu uso têm sido relatadas. Defeitos no esmalte no dente sucessor, difusão
sistêmica e nos tecidos adjacentes, alterações pulpares destrutivas e irreversíveis,
bem como alterações inflamatórias nos tecidos periapicais, incluindo folículos
dentários, são alguns dos efeitos adversos relatados por alguns autores (Zarzar et
al., 2003; Castro, 2005). Somado a isso, Hunter (2003) verificou esfoliação dentária
precoce, devido ao uso do formocresol em pulpotomias de dentes decíduos. Além
disso, os resultados dos estudos onde o formocresol apresentou sucesso ignoram
reações histopatológicas desfavoráveis, tais como reação inflamatória severa (ElMeligy et al., 2001) e citotoxicidade (Hill et al., 1991), comuns ao seu uso.
O sucesso do formocresol está mais relacionado à sua ação bactericida e às
suas propriedades de fixação do que à sua capacidade de promover a cicatrização,
uma vez que após sua utilização não ocorre reparação pulpar. Além disso, ocorre a
permanência de um processo inflamatório na zona pulpar abaixo do tecido que
entrou em contato com o fármaco. A ausência de reparo e a persistência da
inflamação são características de materiais não biocompatíveis (Fernandes et al.,
2003; Funteas et al., 2003). Há também suficientes evidências histológicas de que o
formocresol cause áreas de atrofia e fibrose em molares de ratos (Salako et al.,
2003).
Existem também vários trabalhos com questionamentos controversos
relacionados à citotoxicidade, genotoxicidade, mutagenicidade e carcinogenicidade
do formocresol (Figura 2). De uma forma geral, atribuem-se todos os efeitos danosos
advindos do emprego do formocresol ao principal constituinte de sua formulação, o
formaldeído. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) classificou o
formaldeído como carcinogênico para humanos. Existem agora evidências
suficientes de que ele cause câncer nasofaríngeo, limitada evidência para câncer
nasal e dos seios paranasais e forte, mas não suficiente evidências, para leucemias
(IARC, 2006).
6
Figura 2 - Frasco de formocresol (MOYCO®). No invólucro a informação “to cause cancer” é um
alerta do fabricante quanto aos riscos da utilização do produto (Fonte: Assed e Silva,
2008).
.
2.3 Formaldeído
2.3.1 Considerações iniciais
O formaldeído, cujo nome oficial é metanal, é o aldeído mais simples e mais
utilizado, de fórmula molecular CH2O. Trata-se de um gás incolor de odor
característico, produzido mundialmente em larga escala através da oxidação
catalítica do metanol, ultrapassando a produção de 21 milhões de toneladas anuais
(IARC, 2006).
O formaldeído é amplamente utilizado desde 1900 para aplicações industriais
diversas, principalmente na produção de resinas e de intermediários químicos, que
corresponde a cerca de 80% de seu uso. As resinas são empregadas na fabricação
de produtos como plásticos, fibras sintéticas, produtos oriundos do papel e no
acabamento têxtil. Outros usos do formaldeído incluem: preservação de amostras
7
biológicas, agente antimicrobiano, fumigante agrícola, fabricação de xampus,
desodorantes e produtores de limpeza (National Toxicology Program, 2010).
2.3.2 Farmacocinética e metabolização
O formaldeído é rapidamente absorvido, metabolizado e excretado, possuindo
um tempo de meia-vida em torno de 1 minuto em ratos. Em ratos expostos a
formaldeído radiomarcado foi observado que 40% dele foi eliminado como dióxido
de carbono, enquanto 17% foi eliminado na urina e 5% nas fezes. Contudo, cerca de
35% a 39% permaneceu nos tecidos (IARC, 2006).
Apesar de haver certa variação nas etapas do metabolismo do formaldeído
entre várias espécies, elas são as mesmas entre mamíferos (Pandey et al., 2000). A
conversão do formaldeído a formato (ácido fórmico) é principalmente realizada pela
formaldeído desidrogenase (FDH)/complexo 3 álcool desidrogenase e pela SFormilglutationa Hidrolase (tendo glutationa e NAD+ como cofatores), mas existem
outros sistemas enzimáticos capazes de realizar o mesmo processo (Teng et al.,
2001). A FDH está presente em quase todos os tecidos, especialmente no fígado e
eritrócitos, sendo bastante eficiente sobre o formaldeído endógeno e exógeno
(Committee on Spacecraft Exposure Guidelines, Committee on Toxicology, National
Research Council, 2006).
Inicialmente o formaldeído se liga a glutationa reduzida dando origem a
Hidroximetilglutationa, esta sofre oxidação pela FDH dependente de NAD+, sendo
então convertida em S-Formilglutationa, que finalmente será transformada em
formato pela S-Formilglutationa Hidrolase (Figura 3). O formato pode então ser
metabolizado em dióxido de carbono e água. O formato pode também ser excretado
como sal na urina ou entrar no pool metabólico de um carbono, onde pode ser
incorporado como grupo metil dentro do RNA, DNA e proteínas (Thrasher e Kiliburn,
2001). O formaldeído pode também reagir diretamente com macromoléculas como o
DNA e proteínas, formando ligações-cruzadas (Committee on Spacecraft Exposure
Guidelines, Committee on Toxicology, National Research Council, 2006).
8
Figura 3 - Esquema descritivo das etapas da metabolização e destino biológico do formaldeído
(Fonte: Committee on Spacecraft Exposure Guidelines, Committee on Toxicology,
National Research Council, 2006).
Apesar de ser considerado um poluente ambiental, o formaldeído é um
intermediário metabólico essencial encontrado em todas as células humanas e
animais. É produzido endogenamente pela quebra da serina, glicina, metionina e
colina (Restani e Galli, 1991; IARC, 2006) e pode ser produzido pela metabolização
de muitos agentes xenobióticos. O formaldeído funciona como intermediário celular
metabólico na biossíntese de purinas, timidina e vários aminoácidos (ATSDR, 1999).
Sua concentração endógena no sangue é de aproximadamente 2-3 mg/L em ratos,
macacos e humanos (Heck e Casanova, 2004; IARC, 2006; Zhang et al., 2009).
9
2.3.3 Ocorrência e efeitos tóxicos
O formaldeído pode ocorrer como resultado de processos ocasionados pelo
homem ou de forma natural, podendo ser medido em baixas concentrações em
quase todos os ambientes. A concentração de formaldeído em ambiente externos de
áreas remotas é geralmente abaixo de 0,001 mg/m 3 e em torno de 0,02 mg/m3 em
áreas urbanas. No ar interno das residências sua concentração está normalmente
entre 0,02-0,06 mg/m3 (IARC, 2006).
Em ambientes externos é um subproduto comum da combustão de materiais
orgânicos (oriundos de automóveis, queimadas e usinas), sendo também formado
pela quebra de hidrocarbonetos poluentes presentes no ar. Em ambientes internos
sua presença se faz pela eliminação de gases de alguns materiais como tecidos,
produtos oriundos de madeira e tintas, e por fontes de combustão como fogões a
gás ou a lenha, cigarros e através do preparo de alimentos. Ele também pode ser
formado através de reações secundárias de outros poluentes (como o metano),
principalmente na presença de altas temperaturas e/ou químicos oxidantes (National
Toxicology Program, 2010).
A exposição alimentar também é relevante, pois o formaldeído é naturalmente
encontrado em produtos de origem animal, frutas, vegetais, além de ser empregado
como aditivo nos alimentos (Restani e Galli, 1991). O formaldeído é eventualmente
detectado em água potável, mas em baixas concentrações (1-3 µg por litro)
(Committee on Spacecraft Exposure Guidelines, Committee on Toxicology, National
Research Council, 2006).
A maioria do formaldeído liberado para o ambiente é rapidamente degradada
e a exposição humana por fontes ambientais provavelmente se dá quando há uma
fonte contínua presente (IARC, 2006). A exposição ocupacional ocorre em uma
ampla variedade de ocupações e indústrias. Profissionais como embalsamadores,
patologistas, dentistas, bem como trabalhadores de fábricas de tecidos, resina,
borracha, plástico, móveis, papel, fibras de vidro e de produção de formaldeído, se
submetem a variados níveis de exposição pelo formaldeído e, desta forma, possuem
um maior risco de sofrerem com os efeitos tóxicos dessa substância (IARC, 2006;
National Toxicology Program, 2010).
10
Vários efeitos tóxicos causados pela exposição ao formaldeído têm sido
relatados. A concentração na qual muitos dos efeitos tóxicos são observados varia
amplamente entre os indivíduos e são dependentes da forma de contato (Tabela 1).
Os sintomas mais comuns incluem irritação no ponto de contato através da inalação
(trato respiratório superior e olhos), exposição oral (boca e trato gastrointestinal) e
dérmica (pele e olhos). Outros sintomas são: dermatite de contato alérgica,
anormalidades histopatológicas (hiperplasia, metaplasia e displasia) da mucosa
nasal, asma ocupacional, redução da função pulmonar, desordens neurofisiológicas
(alterações do humor, perda de memória e apetite, insônia, náuseas e fadiga),
alterações no número de células sanguíneas e de parâmetros imunológicos
(National Toxicology Program, 2010).
Sintomas são raros em concentrações menores que 0,5 ppm, porém já foram
relatados em concentrações menores ou iguais a 0,1 ppm (IARC, 2006). Existem
também relatos de ingestão de formaldeído de maneira acidental, homicida e suicida
que, em resumo, causou problemas respiratórios, cardíacos, gastrointestinais,
metabólicos, renais, neurológicos e a morte, em alguns casos (Burkhart et al., 1990).
A toxicidade do formaldeído parece acontecer quando os mecanismos de
detoxicação tornam-se saturados devido à alta exposição (Heck et al., 1990). Dessa
forma, seu átomo de carbonila (altamente eletrofílico) reage rapidamente com sítios
núcleofílicos das membranas celulares do tecido afetado, exercendo seus efeitos
nos grupos amino das proteínas e no DNA (Heck et al., 1990; ATSDR, 1999).
11
Tabela 1 - Concentrações de formaldeído associadas a alguns efeitos colaterais.
Efeitos Relatados
Concentração do formaldeído
(ppm)
Efeitos neurofisiológicos
0,05 - 1,05
Limiar olfativo
0,05 - 1,00
Irritação ocular
0,05 - 2,00
Irritação do trato respiratório superior
0,1 - 25,0
Trato respiratório inferior e efeitos
5,0 - 30,0
pulmonares
Edema pulmonar, inflamação e
50 - 100
pneumonia
≥ 100
Morte
Fonte: National Toxicology Program (2010)
2.4. Mudanças no material genético
A informação genética dos seres humanos, bem como na maioria dos
organismos, é estocada na forma de moléculas de DNA. A informação presente no
DNA deve ser estável (Denamur e Matic, 2006), capaz de resistir a mudanças
(Hegde et al., 2008), ser fielmente replicada e transmitida às células filhas sem
modificações (Schofield e Hsieh, 2003). Quaisquer alterações nessas propriedades
podem levar à formação de mutações, que podem ser definidas como alterações
permanentes na sequência de bases do DNA (Stratton et al., 2009; Jacobs e Schär,
2012).
Apesar da existência de mecanismos que visam manter a integridade
informacional e estrutural dos genomas, sem alterações no conteúdo do DNA, a
célula perderia um componente essencial no processo evolutivo.
As mutações
representam uma fonte primária de variabilidade, onde novas informações podem
ser adicionadas, possibilitando o surgimento de novas variantes e espécies através
da seleção natural (Desai e Fisher, 2007; Stich et al., 2010).
As mutações podem afetar indivíduos de uma população de diferentes
formas. Em populações bem estabelecidas, a grande maioria das mutações são
neutras ou deletérias e, nesse último caso, causam transtorno ou doença em
12
diversas espécies. Também acontecem mutações benéficas, que apesar de raras,
são responsáveis por adaptações de longo termo que podem alterar drasticamente a
diversidade genética em determinadas populações (Denamur e Matic, 2006; Desai e
Fisher, 2007; Stich et al., 2010).
As mutações podem ser oriundas de danos na estrutura do DNA ou de erros
em sua replicação. Esses eventos podem ter origem exógena ou endógena
(Natarajan, 2002; Greenman et al., 2007). As mutações espontâneas (origem
endógena) ocorrem por falhas do próprio metabolismo celular envolvendo erros na
incorporação de bases, danos causados pela hidrólise do DNA e ação de radicais
livres provenientes da respiração (Hegde et al., 2008). Mutações induzidas (origem
exógena) são causadas pelos chamados agentes mutagênicos (mutágenos), que
podem ser físicos (raios ultravioleta, raios X), químicos (agentes alquilantes,
análogos de bases, aflatoxinas) ou biológicos (alguns vírus) (Greenman et al., 2007;
Stratton et al., 2009). Os agentes mutagênicos, em geral, atuam diretamente sobre o
DNA, alterando uma base qualquer ou incorporando-se ao mesmo (Hegde et al.,
2008).
A principal consequência das mutações são mudanças na qualidade e
quantidade de seus produtos gênicos, que são, em sua grande maioria, proteínas.
Essas mutações modificam a estrutura e estabilidade (Ode et al., 2007), a função
(Yamada et al., 2006), as interações proteína-proteína (Jones et al., 2007), bem
como a expressão e a localização subcelular das proteínas (Krumbholz et al., 2006).
As mutações podem afetar tanto células germinativas quanto células
somáticas. Caso a linhagem germinativa seja afetada, as mutações poderão ser
transmitidas à prole, assim teremos a herdabilidade dessas alterações (GarciaSagredo, 2008). Em síndromes de câncer familiar, mutações em células
germinativas predispõem a transformação maligna e frequentemente resultam no
desenvolvimento precoce da doença (Sluiter e Van Rensburg, 2011). Caso atinjam
outras células do corpo (células somáticas), processos neoplásicos poderão se
desenvolver (Carlo e Croce, 2008). Enquanto as células germinativas devem ser
protegidas contra altas taxas de mutação para manter as espécies, as células
somáticas devem ser protegidas para resguardar o indivíduo (Hegde et al., 2008).
As mutações presentes em células cancerígenas podem ser classificadas de
acordo com sua importância no desenvolvimento do processo maligno. Mutações
13
“condutoras” são aquelas que conferem vantagens de proliferação e crescimento
para as células que as carregam e são positivamente selecionadas durante a
evolução do câncer. Fazem parte do grupo de genes conhecidos como "genes do
câncer“. As mutações remanescentes são “passageiras” e não conferem vantagem
de crescimento celular, mas estavam presentes em um ancestral da célula
cancerosa, quando esta adquiriu um dos seus condutores (Greenman et al., 2007;
Stratton et al., 2009).
Além das mutações, o material genético pode sofrer uma série de mudanças
que podem ser subdivididas em alterações cromossômicas estruturais e numéricas.
Essas mudanças incluem inserções ou deleções de pequenos ou grandes
segmentos de DNA; rearranjos, onde o DNA sofre quebras e reunião a outros
segmentos do genoma; aumento no número de cópias de duas, normalmente
presentes em diploides, para muitas centenas de cópias (amplificação gênica); e
também redução do número de cópias, que pode resultar na ausência de
determinada sequência no genoma (Stratton et al., 2009).
2.5 Mecanismos de reparo
A descoberta dos tipos de mutações e a íntima relação delas com várias
doenças humanas indicam a importância de manter a taxa de mutações no mais
baixo patamar (Bull e Wilke, 2008; Stich et al., 2010). Entretanto, no crescimento e
multiplicação normal de uma célula, a ocorrência de mutações têm frequência
regular (Greenman et al., 2007).
O DNA de células normais é constantemente agredido. Estima-se que o DNA
de cada célula sofra ao menos 10.000 lesões todos os dias (Jacobs e Schär, 2012).
Entretanto, a maioria delas é corrigida (Greenman et al., 2007; Stratton et al., 2009).
Para evitar ou diminuir a ocorrência de mutações, as células desenvolveram uma
série de processos, genericamente denominados de mecanismos de reparo,
capazes de identificar e corrigir danos causados à estrutura do DNA. Esses
processos são capazes de remover lesões ou auxiliar a célula a tolerá-las (Balajee e
Bohr, 2000; Batty e Wood, 2000; Jacobs e Schär, 2012).
Esses mecanismos constituem sistemas de defesa extremamente eficientes
que garantem a estabilidade do genoma e, consequentemente, a própria existência
14
da célula e/ou do organismo (Bernstein et al., 2002; Rouse e Jackson, 2002; Hegde
et al., 2008). Muito raramente os processos de manutenção falham, permitindo que
uma pequena fração das lesões diárias que o DNA sofre seja convertida em
mutações (Hegde et al., 2008). Além disso, a própria replicação possui uma baixa
taxa de erro intrínseco (Stratton et al., 2009). Apesar de raros, erros nos sistemas de
reparo podem ser extremamente danosos. Um grande número de evidências indica
que o primeiro passo para a geração do câncer, envolve mutações em células
somáticas, muitas vezes geradas por falhas na ação de sistemas de reparo (Batty e
Wood, 2000; Bernstein et al., 2002; Sarasin, 2003).
Uma célula poderá responder de vários modos após sofrer uma lesão no
DNA: a) não restaurar os danos e morrer; b) reparar precisamente a sequência
original de bases e sobreviver; c) restaurar os danos, mas alterar a sequência
original de bases, gerando com isto mutações que serão fixadas durante a
replicação e serão transmitidas às células filhas após a divisão celular (Jacobs e
Schär, 2012). Logo, a presença de sistemas de reparo, embora essencial para a
sobrevivência da célula, pode ser responsável pela geração e fixação de mutações
no genoma (Natarajan e Boei, 2003).
Além do câncer, alterações no genoma estão relacionadas a outros efeitos na
saúde humana como abortos, anormalidades congênitas em recém-nascidos,
distúrbios metabólicos, infertilidade e várias síndromes. Estima-se que 0,6% dos
neonatos possuam alterações numéricas e/ou estruturais, e que mais de 50% dos
abortos espontâneos carreguem alterações cromossômicas (Natarajan e Boei,
2003).
Muitas doenças humanas de caráter recessivo como ataxia telangiectasia,
anemia de Fanconi, xeroderma pigmentoso, síndrome de Bloom são ocasionadas
por deficiências em algum dos sistemas de reparo do DNA (Natarajan, 2002; GarciaSagredo, 2008). As células desses pacientes são mais susceptíveis a danos em seu
DNA e apresentam elevados níveis de mutações, sendo sensíveis a mutágenos
específicos. Dessa forma, esses pacientes possuem maiores chances de
desenvolver tipos específicos de câncer, de acordo com o sistema de reparo afetado
(Jacobs e Schär, 2012).
15
2.6 Relação entre mutagenicidade e carcinogenicidade
A mutação em um gene pode levar à inativação de uma proteína crucial,
resultando na morte da célula e perda da mutação. Muito raramente, a mutação dará
origem a um gene com função melhorada ou nova (Desai e Fisher, 2007). Neste
caso, organismos carregando a mutação terão uma vantagem e o gene mutado
poderá, eventualmente, substituir o gene original na população através da seleção
natural (Denamur e Matic, 2006; Stich et al.,2010).
Processo semelhante acontece nas células cancerígenas. Ocasionalmente
uma única célula adquire um conjunto suficiente de mutações vantajosas que faz
com ela se prolifere de maneira autônoma, invada tecidos e sofra metástase
(Stratton et al. 2009). Esse conjunto de manifestações patológicas é consequência
direta de danos nos mecanismos de regulação do ciclo celular (Pinto e
Felzenszwalb, 2003; Jacobs e Schär, 2012).
Uma simples mudança genética muito raramente será suficiente para o
desenvolvimento de um tumor maligno. A maioria das evidências indica tratar-se de
um processo múltiplo de alterações sequenciais em vários genes (Carlo e Croce,
2008). Os danos ao DNA são dessa forma acumulados e após um determinado
número de alterações, entre cinco e sete, a célula torne-se neoplásica (Pinto e
Felzenszwalb, 2003; Sarasin, 2003).
Todos os cânceres surgem a partir de mudanças que ocorreram na sequência
de DNA das células (Weir et al., 2004; Stratton et al., 2009). Alterações genéticas
que ativam proto-oncogenes ou inativam genes supressores tumorais são a chave
da progressão de um tecido normal para um maligno (Kopnin, 2000; Sherr, 2004).
Essas alterações são geralmente eventos somáticos, contudo mutações na
linhagem germinativa podem predispor a pessoa a um câncer hereditário ou familiar.
Alterações nos genes de microRNA também têm sido apontados como importantes
no desenvolvimento do câncer (Carlo e Croce, 2008).
As razões que levam à perda do controle do ciclo celular são complexas e
multifatoriais. Dentre as quais estão predisposições genéticas e a ação de agentes
externos. A exposição à mutágenos desempenha um importante papel na perda do
controle do ciclo celular e na iniciação de processos neoplásicos (Freita et al., 2005),
16
uma vez que a mutagenicidade e a carcinogenicidade apresentam muitos aspectos
em comum (Ames, 1979, 2001; Ames e Gold, 1989; Azevedo et al., 2003).
Agentes carcinogênicos são geralmente mutagênicos, tais como substâncias
presentes no fumo, raios-X, raios ultravioletas, entre outros. Compostos químicos
reconhecidamente cancerígenos são, em sua maioria, positivos quando testados em
ensaios que medem a mutagenicidade, como o teste de Ames, enquanto que,
drogas reconhecidamente não cancerígenas, em geral, não são mutagênicas (Ames,
1979; Ames e Gold, 1989; Cairns, 2002; Loeb et al., 2003; Sarasin, 2003).
Através dos avanços alcançados pelas pesquisas de como carcinógenos
químicos levam ao surgimento de células neoplásicas, novos caminhos para a
prevenção e tratamento do câncer foram encontrados, bem como confirmaram que
lesões no DNA estão intimamente relacionadas com o desenvolvimento de câncer
(Ames e Gold, 1991; Hagmar et al., 1998; Natarajan, 2002; Valko et al., 2004; Freita
et al., 2005; Ribeiro et al., 2006; Garcia-Sagredo, 2008; Salazar et al., 2009).
2.7 Monitoramento biológico na aferição da genotoxicidade
2.7.1 Ensaios citogenéticos
Desde os anos 60, ensaios citogenéticos têm sido utilizados na avaliação de
agentes
potencialmente
mutagênicos
e
carcinogênicos.
A
aferição
da
genotoxicidade de agentes químicos, físicos e biológicos é essencial no estudo dos
potenciais riscos quando da exposição das populações humanas. Através dos testes
genotoxicológicos, pode-se avaliar a capacidade de determinadas substâncias em
causarem ou não um dano direto ou indireto ao DNA em experimentos in vivo e in
vitro, que empregam tanto sistemas eucariotos quanto procariotos (Chai et al.,
2004).
A análise citogenética das aberrações cromossômicas é considerada um dos
métodos primários na avaliação da mutagênese induzida em mamíferos, sendo
internacionalmente aceita como parte da bateria de testes recomendada para a
avaliação do potencial genotóxico e registro de novos produtos químicos que entram
anualmente no mercado mundial (Natarajan, 2002; Cimino, 2006). Além disso, os
mesmos testes usados na toxicologia genética são utilizados no diagnóstico de
17
síndromes de instabilidade cromossômicas como anemia de Fanconi, xeroderma
pigmentoso, ataxia telangiectasia, síndrome de Bloom, dentre outras (GarciaSagredo, 2008). A Toxicologia citogenética também é empregada no monitoramento
ambiental e ecológico e nos riscos no ambiente de trabalho (Tucker e Preston,
1996).
A descoberta de que alguns agentes poderiam gerar mutações em humanos
e
outras
espécies,
enfatizou
a
importância
da
realização
de
ensaios
genotoxicológicos sobre sua segurança. Muitos estudos demonstram claramente
que a ocorrência de um alto índice de aberrações cromossômicas está associada a
um maior risco de desenvolvimento de neoplasias em humanos e animais
experimentais (Norppa et al., 2006).
Além do câncer, malformações em neonatos, abortos espontâneos,
infertilidade, distúrbios fisiológicos e algumas síndromes estão diretamente
relacionados à ocorrência de mutações. Compreender a relação entre exposição e
indução de alterações cromossômicas se faz importante quando se considera o risco
de efeitos adversos para seres humanos (Nishimura et al., 2008).
2.7.2 Teste de metáfase
Dentre os ensaios mais utilizados na toxicologia genética, destaca-se o teste
de metáfase, também conhecido como teste de aberrações cromossômicas,
realizado em células de mamíferos. É um teste simples e sensível que é empregado
na avaliação dos riscos genotóxicos de diversos compostos, podendo ser realizado
in vitro e in vivo. Apesar de existir variabilidade nas repostas individuais, células
humanas são úteis para avaliação da segurança no uso de substâncias em
humanos, fornecendo uma estimativa dessa resposta (Nishimura et al., 2008).
O teste de metáfase é considerado um eficiente ensaio biomarcador de
efeitos iniciais empregado na predição do câncer (Garcia-Sagredo, 2008). Muitos
estudos têm dado suporte à hipótese de que a ocorrência de mudanças
cromossômicas em linfócitos de sangue periférico representam relevantes eventos
na carcinogênese e podem servir de alicerce para avaliação do risco de câncer
(Hagmar et al., 2004; Boffetta et al., 2007).
18
O principal objetivo do teste de metáfase é a identificação de aberrações
cromossômicas (ACs) visíveis na estrutura dos cromossomos. A maioria das lesões
encontradas é letal para as células, devido à perda de informação genética vital ou
por razões mecânicas, as quais impedem que elas sobrevivam a um novo ciclo
celular. Entretanto, tais lesões são quase sempre acompanhadas de outras
alterações nem sempre visíveis pela citogenética convencional e menos prejudiciais,
como translocações e pequenas deleções, que são estáveis e podem ser
compatíveis com a divisão celular normal, desempenhando um importante papel no
risco
genético
para
as
gerações
futuras
(Garcia-Sagredo,
2008).
Essas
translocações e pequenas deleções só podem ser analisadas e avaliadas com
precisão empregando-se outras técnicas de identificação cromossômica como o
bandeamento GTG e a hibridização in situ fluorescente (FISH) (Natarajan, 2002;
Garcia-Sagredo, 2008). Alterações cromossômicas numéricas (aneuploidia) também
podem ser avaliadas no teste, porém deve-se ter cautela durante a análise. O
tratamento hipotônico e a fixação fragilizam as células em metáfase, frequentemente
ocasionando perdas cromossômicas aleatórias durante a preparação das lâminas,
que podem ser interpretadas erroneamente (Tucker e Preston, 1996; OECD, 1997a).
2.7.2.1 Princípios do ensaio
Como o estágio de metáfase representa uma pequena fração do ciclo celular,
as culturas ou animais experimentais devem ser tratados, poucas horas antes da
colheita do material, com um inibidor do fuso mitótico, que pode ser colchicina ou
colcemid (derivado sintético menos tóxico). Dessa forma, a migração cromossômica
é impedida e as células que atingem o estágio de metáfase durante o período de
exposição permanecem nesse estágio. O acúmulo de células em metáfase é
fundamental para a análise, pois apenas nesse momento os cromossomos
apresentam-se individualizados e bem definidos (Takahashi, 2003).
Um segundo procedimento é a realização do choque hipotônico proposta por
Hsu em 1952 que foi essencial para avanços nos estudos citogenéticos (Natarajan,
2002). Através da exposição das células a uma solução hipotônica de cloreto de
potássio (KCl), expande-se o volume celular espalhando os cromossomos
metafásicos dentro do citoplasma. Essa técnica propicia lâminas de preparações
19
onde os cromossomos permanecem em plano único, permitindo uma boa análise e
identificação individual (Garcia-Sagredo, 2008).
Além disso, algumas células podem deixar o ciclo celular normal durante a
fase G1 e entrar numa fase não proliferativa ou fase G 0. Isso pode acontecer devido
a condições adversas ou porque a célula atingiu um determinado estado de
diferenciação, como acontece com os linfócitos periféricos. O uso de tipos celulares
em G0 para realização de culturas requer a adição de um mitógeno (um agente que
estimula a mitose), como a fitohemaglutinina, para que as células voltem ao ciclo
celular normal (Garcia-Sagredo, 2008).
2.7.2.2 Classificação das aberrações cromossômicas estruturais
As ACs podem ser classificadas em dois grupos: cromossômicas e
cromatídicas. As ACs cromossômicas afetam ambas as cromátides, enquanto que
as ACs cromatídicas afetam apenas uma cromátide do cromossomo (OECD, 1997a)
(Figura 4). Alguns exemplos de ACs que podem ser encontradas através do teste de
metáfase são:
1. Tipos cromatídicos:

Gap cromatídico - é uma região não corada ou uma descontinuidade com
comprimento menor ou igual à largura da cromátide, que ocorre em apenas
um dos braços cromossômicos.

Quebra cromatídica - é uma região não corada ou uma descontinuidade com
comprimento maior que a largura da cromátide, que ocorre em apenas um
dos braços cromossômicos.
2. Tipos cromossômicos:

Gap isocromático ou cromossômico - é uma região não corada ou uma
descontinuidade com comprimento menor ou igual à largura da cromátide,
que ocorre em ambos os braços cromossômicos em posições idênticas.

Quebra isocromática ou cromossômica - é uma região não corada ou uma
descontinuidade com comprimento maior que a largura da cromátide, que
ocorre em ambos os braços cromossômicos em posições idênticas.
20
3. Rearranjos cromossômicos:

Dicêntrico – cromossomo caracterizado pela presença de dois centrômeros
bem definidos formados pela quebra de dois cromossomos e posterior união
dos segmentos que contenham a região centromérica. Gera fragmento nem
sempre visível.

Cromossomo em anel – cromossomo resultante da quebra das regiões
terminais com posterior fusão das extremidades. Em geral, os fragmentos são
perdidos.
Figura 4 - Tipos de ACs encontradas após coloração convencional (Fonte: adaptado de Rooney,
2001).
Algumas ACs podem ser rapidamente identificadas, enquanto outras
necessitam de uma análise mais cautelosa para se evitar um erro de interpretação
(Garcia-Sagredo, 2008). As principais dificuldades encontradas são em relação às
seguintes alterações (Dean e Danford, 1984):
21

Falsos dicêntricos – Quando há uma sobreposição entre os braços
cromossômicos, pode-se confundir essa conformação com um segundo
centrômero. Essa conformação é geralmente diferenciada por um ponto de
coloração mais escura na região da sobreposição.

Gap isocromatídico ou cromossômico – contrições secundárias de
cromossomos de algumas espécies podem, às vezes, ser confundidas com
gaps isocromatídicos por apresentam uma pequena região não corada em
ambos os braços em posições idênticas.

Associação dos satélites – em humanos, as regiões organizadoras do
nucléolo (RONs) são encontradas nos cromossomos acrocêntricos 13, 14, 15,
21 e 22. Frequentemente, ocorre uma associação dessas regiões de dois ou
mais cromossomos acrocêntricos, que podem gerar erros de interpretação.
2.7.2.3 Distribuição e origem das aberrações cromossômicas
Existem estudos que questionam a hipótese de que ACs ocorram de maneira
aleatória no genoma. Um recente trabalho revelou haver heterogeneidade entre os
cromossomos envolvidos em ACs em células primárias de hamster chinês
empregando-se bandeamento GTG. Regiões centroméricas, ancorando sequências
teloméricas intersticiais, tendem a se agregar durante a interfase formando
cromocentros. Essa característica juntamente com a natureza repetitiva das
sequências de DNA dessas regiões permite uma maior interação entre as quebras
induzidas (Natarajan e Boei, 2003).
Através da utilização de sondas específicas para braços cromossômicos
foram observadas diferenças no envolvimento dos braços p e q do cromossomo X
na formação de ACs em células de hamster chinês após exposição aos raios-X.
Enquanto o braço p é essencialmente formado por eucromatina, o braço q é
heterocromático. O DNA repetitivo da heterocromatina torna essa região mais
vulnerável à ocorrência de rearranjos (Xiao, 1999), constatação essa que pode estar
relacionada à replicação tardia dessa região, à associação somática dos
cromossomos e à sua composição de bases (Natarajan, 2002). Regiões de
eucromatina não só são mais resistentes à ocorrência de ACs, como também
22
parecem se restituírem (religação na posição original) mais rapidamente após
sofrerem lesões (Slijepcevic e Natarajan, 1994).
O tratamento de células com agentes genotóxicos pode resultar em uma ou
mais lesões não reparadas na dupla fita do DNA. A consequência final dessas
lesões é a formação de quebras nos cromossomos, que podem ser religadas
corretamente restaurando a forma original (restituição), religadas de maneira
incorreta ou ainda não serem religadas. Esses dois últimos casos podem ser
visualizados e identificados como ACs nas preparações cromossômicas (Natarajan e
Boei, 2003).
2.7.2.4 Variações individuais e limiar de indução aos danos citogenéticos
Pacientes portadores de algumas doenças genéticas, como xeroderma
pigmentoso e anemia de Fanconi, apresentam uma instabilidade cromossômica
aumentada por possuírem sistemas de reparo deficientes (Natarajan, 2002).
Entretanto, a aplicação de testes citogenéticos em células de pacientes saudáveis
demonstrou uma ampla variação nas frequências de ACs encontradas. As respostas
individuais também variaram quando as amostras foram expostas a agentes
genotóxicos. Aparentemente alguns indivíduos são mais sensíveis e/ou suas
respostas a agentes genotóxicos são mais exageradas (Garcia-Sagredo, 2008).
Variações nos índices de ACs entre indivíduos podem ser resultado de
características adquiridas e herdadas (Norppa, 2001). Não são completamente
compreendidos os motivos pelos quais pacientes saudáveis, sem exposição
conhecida ao fumo e a outros carcinógenos ocupacionais, possam apresentar altos
índices de ACs e, consequentemente, um maior risco em desenvolver câncer
(Bonassi et al., 2000).
Polimorfismos genéticos, principalmente de genes envolvidos com os
sistemas de reparo do DNA, podem ter um importante papel na susceptibilidade
individual aos danos cromossômicos. Além disso, variações entre importantes
parâmetros podem ocorrer entre linfócitos de diferentes doadores como: número de
linfócitos presentes na amostra, diferenças na resposta à fitohemaglutinina,
qualidade e quantidade no nível de reparo do DNA danificado e no metabolismo de
23
químicos, o que pode contribuir para essas diferenças individuais constatadas
(Stephan e Pressl, 1999).
Durante muitos anos acreditou-se que não havia um limiar para indução do
dano genético, pois este aparentemente segue um padrão de efeito linear, onde
quanto maior a dose, maior o dano ocasionado. Entretanto, Speit et al. (2000b)
demonstraram que agentes genotóxicos devem apresentar limiares de indução por
três motivos:
1. Pequenas doses do agente podem não alcançar o DNA, pois existem
eficientes mecanismos de eliminação nas células.
2. Muitos organismos possuem mecanismos eficazes que os protegem de
possíveis danos causados por espécies reativas do oxigênio.
3. Os mecanismos de reparo são capazes de corrigir danos causados por
agentes genotóxicos em baixas concentrações.
2.7.2.5 Teste de metáfase in vitro versus in vivo
No teste de metáfase in vitro, as células empregadas são selecionadas a
partir de sua habilidade de crescimento em meio de cultura, estabilidade do
cariótipo, número cromossômico, diversidade cromossômica e frequência de
alterações espontâneas (OECD, 1997a). Vários tipos celulares podem ser usados na
realização das culturas, porém os linfócitos humanos de sangue periférico são as
células mais utilizadas, pois são facilmente obtidos através de punção venosa,
crescem rapidamente em meio de cultura e fornecem um grande número de
metáfases (Tucker e Preston, 1996).
As principais vantagens dos testes in vitro são a possibilidade de testar
rapidamente os efeitos de um suspeito agente mutágeno e de empregar dosagens
bastante superiores aos níveis usuais, que não seriam possíveis em testes in vivo. A
principal desvantagem dos ensaios in vitro é que não se conhece os efeitos dos
metabólitos das substâncias testadas (Garcia-Sagredo, 2008). Além disso, a maioria
dos mutágenos e carcinógenos é biologicamente inativa, necessitando ser
biotransformada em suas formas eletrofílicas finais para se tornarem metabólitos
genotóxicos. Na maioria das culturas celulares a atividade oxidativa é muito baixa,
24
impedindo ou minimizando a geração de metabólitos reativos. Para solucionar esse
problema pode ser introduzido homogenato de tecidos de mamíferos livres de
células que apresentem altas concentrações de enzimas microssomais. A
preparação mais comumente empregada com essa finalidade é a fração S9 obtida a
partir de tecido de fígado de rato (Ribeiro, 2003). Vale ressaltar que os testes
genotóxicos in vitro apresentam maior sensibilidade que os testes in vivo, o que
pode superestimar os resultados obtidos se extrapolados para situações in vivo
(Garcia-Sagredo, 2008).
A experimentação animal, além de permitir a compreensão de diversos
processos fisiológicos e patológicos (Ferreira et al., 2005), é mais realista e
adequada na avaliação da segurança de substâncias que possam ser danosas ao
homem. Os animais experimentais mais comumente empregados em pesquisas são
roedores,
destacando-se
os
camundongos
(Meyer,
2003),
os
quais
são
frequentemente usados para quantificação e caracterização das respostas de
mamíferos a diversos estímulos, como radiação ionizante e químicos (Tucker et al.,
1999). Dentre as razões para seu grande uso estão a praticidade em sua criação,
manutenção e manuseio em relação a outros animais, e o bom conhecimento de sua
fisiologia, a qual se assemelha à humana (Meyer, 2003).
A principal vantagem do teste de metáfase in vivo é a possibilidade de
avaliação dos possíveis efeitos genotóxicos das drogas testadas sob a influência de
vários processos orgânicos como metabolização, farmacocinética e processos de
reparo do DNA, normalmente prejudicados em experimentos in vitro (OECD, 1997b).
Dentre as principais desvantagens, estão o alto custo na criação e manutenção dos
animais sob condições extremamente controladas em biotérios autorizados. Além
disso, apenas pessoas bem treinadas e qualificadas devem manusear os animais
durante os experimentos (Takahashi, 2003).
Grandes esforços têm sido feitos na otimização das pesquisas in vivo, como a
diminuição no uso de animais, aprimoramento experimental/estatístico, busca por
alternativas que os substituam, bem como o uso de procedimentos mais humanos
para minimizar a dor e o desconforto causados aos animais (Madden et al., 2012).
25
3. Objetivos
3.1 Geral
Investigar potenciais efeitos genotóxicos ocasionados pela exposição ao
fármaco formocresol através de ensaios citogenéticos in vitro e in vivo.
3.2 Específicos
1. Detectar possíveis efeitos genotóxicos induzidos pelo fármaco formocresol
através do teste de metáfase em linfócitos de sangue periférico humano.
2. Investigar possíveis diferenças quanto à frequência de ACs induzidas pelas
diluições do formocresol em culturas de linfócitos de sangue periférico
humano após exposição durante 24 e 48 horas.
3. Analisar possíveis variações quanto à frequência de ACs de acordo com os
grupos cromossômicos em linfócitos de sangue periférico humano.
4. Detectar possíveis efeitos genotóxicos induzidos pelo fármaco formocresol
através do teste de metáfase em células de medula óssea de camundongos
de ambos os sexos.
5. Analisar possíveis variações quanto à frequência de ACs em células de
medula óssea de camundongos de acordo com o sexo.
6. Averiguar quais os tipos de ACs mais frequentemente induzidas pela
exposição ao formocresol nos ensaios in vitro e in vivo.
7. Analisar, à luz dos resultados, os potenciais riscos, em termos de
genotoxicidade, da exposição das populações humanas ao fármaco
formocresol.
26
4. Material e Métodos
4.1 Seleção das diluições da substância teste
Como droga teste foi usado o medicamento endodôntico formocresol
(Biodinâmica Química e Farmacêutica®). A partir de experimentos pilotos in vitro e in
vivo foram selecionadas cinco diluições a serem empregadas: 1:50, 1:100, 1:200,
1:500 e 1:1000. Nos experimentos in vitro, cada cultura da droga teste recebeu 50 µl
da diluição apropriada, enquanto que, nos experimentos in vivo, os animais foram
inoculados via intraperitoneal (IP) com as diferentes diluições de formocresol de
acordo com o peso do animal na proporção de 0,1 ml/10 g. Como solvente para a
realização das diluições de formocresol foi utilizado glicerina: água destilada estéril
na proporção de 1:1.
4.2 Ensaios in vitro
4.2.1 Critério de seleção dos voluntários
Para a realização dos experimentos in vitro, foram coletadas amostras de
sangue de quatro indivíduos saudáveis, de ambos os sexos (três homens e uma
mulher) com idades entre 24 e 27 anos, após preenchimento do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 1), seguindo os seguintes critérios de
inclusão: a) sem uso de medicamentos; b) não fumantes; c) sem ingestão de
bebidas alcoólicas durante ao menos sete dias; d) sem exposição à radiação
terapêutica e/ou diagnóstica, sem vacinação viral e sem consumo de drogas ilícitas
nos últimos seis meses. Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (CCS/UFPE) – Registro
do SISNEP FR – 340306, CAAE – 0210.0.172.000-10 e Registro CEP/CCS/UFPE No
209/10 (Anexo 2).
27
4.2.2 Procedimento: teste de metáfase em linfócitos de sangue periférico
humano
As amostras de sangue (aproximadamente 15 ml) foram coletadas (sistema
de coleta à vácuo) através de punção venosa, com material estéril e descartável, por
profissionais qualificados e mantidas em tubos heparinizados. Logo em seguida,
foram realizadas as culturas segundo o método de Moorhead et al. (1960)
modificado pelo Laboratório de Genética e Citogenética Animal do Departamento de
Genética da UFPE.
Para realização das culturas (Figura 5) foram adicionados 0,5 ml de sangue
total, 4 ml do meio RPMI 1690 (GIBCO®), 1 ml de soro fetal bovino inativado a 60ºC
(CULTILAB®) e 0,2 ml de fitohemaglutinina (1 mg/ml) (SIGMA®) em tubos estéreis,
os quais foram mantidos em estufa a 37ºC durante 24 horas. Após esse período, os
tubos receberam 50 µl da diluição de formocresol (esterilizadas por filtração), sendo
cada diluição realizada em duplicata. Como controle negativo foram realizadas
culturas sem adição do formocresol, sob as mesmas condições experimentais das
culturas da substância teste.
Dois tempos experimentais foram empregados nesse estudo, onde culturas
tiveram duração total de 48 e 72 horas. Dessa forma, as preparações citológicas
foram realizadas 24 e 48 horas após exposição ao formocresol, respectivamente.
Após 46 e 70 horas de cultivo, foi adicionado 0,1 ml de colchicinha a 0,0016%
(SIGMA®) aos tubos de cultura, os quais foram devolvidos a estufa onde
permaneceram por mais duas horas. Após esse período, os tubos foram
centrifugados a 1800 rpm durante seis minutos (padrão mantido nas centrifugações
seguintes). O sobrenadante foi descartado, adicionou-se KCl (0,075 M) aquecido a
37ºC até completar-se 8 ml da marcação do tubo de cultura e homogeneizou-se bem
o material. Os tubos foram mantidos em banho-maria a 37ºC durante 15 minutos
para a efetiva realização do choque hipotônico. Terminado o processo, uma nova
centrifugação foi realizada. O sobrenadante foi desprezado, suspendeu-se o pellet e
adicionou-se lentamente o fixador metanol:ácido acético (3:1), evitando-se a
formação de agregados celulares. O material foi mais uma vez homogeneizado e,
posteriormente, mantido em temperatura ambiente durante 20 minutos. Após esse
período, novo processo de fixação foi realizado assim como descrito anteriormente.
28
O processo de centrifugação e fixação foi realizado até a obtenção de uma amostra
limpa e transparente, alcançado geralmente após três etapas.
Para a confecção das lâminas, após a última fixação, o pellet foi
ressuspendido em 0,5 ou 1,0 ml de fixador recém-preparado. Duas gotas desse
material foram gotejadas nas extremidades das lâminas, previamente limpas e
identificadas, mantidas sobre suporte em banho-maria à 60ºC sem contato com a
superfície da água. As lâminas foram mantidas na temperatura ambiente e após, no
mínimo 24 horas, as lâminas foram coradas com solução de Giemsa 3,33% diluído
em tampão fosfato (Na2HPO4, 0,06 M e KH2OP4, 0,06 M, pH 6,8) durante 10
minutos.
Figura 5 - Fluxograma do teste de metáfase em linfócitos de sangue periférico humano.
29
4.3 Ensaios in vivo
4.3.1 Animais experimentais
Nos ensaios in vivo foi utilizado no estudo um total de 100 camundongos (50
machos e 50 fêmeas) albinos Swiss webster adultos jovens saudáveis, com peso
entre 30 e 38 g, fornecidos pelo biotério de criação do Centro de Pesquisas Aggeu
Magalhães -FIOCRUZ. Os espécimes foram mantidos numa temperatura ambiente
aproximada de 22ºC com ciclos alternados de iluminação (12 horas no claro e 12
horas no escuro). Ração e água foram fornecidos à vontade (ad libitum) aos animais
e estes foram acompanhados por profissionais capacitados.
O referido estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais
(CEUA/FIOCRUZ), registrada sob o protocolo de número P-465/08, licenciado sob
Nº L-054/08, válido até 30/06/2012 (Anexo 3).
4.3.2 Procedimento: teste de metáfase em células de medula óssea de
camundongos
Antes da experimentação, os camundongos passaram por um período de 72
horas no biotério de experimentação para aclimatização ao novo ambiente. Após
esse período, todos os animais do grupo experimental foram devidamente pesados
para cálculo da dose a ser aplicada. Após a pesagem, os animais foram marcados
com pincéis atóxicos de várias cores para posterior identificação e colocados em
gaiolas pequenas com capacidade máxima de cinco indivíduos.
Cinco ensaios foram realizados por sexo, um para cada diluição de
formocresol testada. Dez animais foram utilizados de um mesmo sexo por
tratamento, onde seis foram inoculados com a droga teste (diluições de
formocresol), dois com a ciclofosfamida (CPA - SIGMA®) na dose de 25 mg/kg
(controle positivo) e dois com glicerina:água destilada estéril (1:1) de acordo com a
proporção 0,1 ml/10 g (controle negativo) (Figura 6). Os animais dos grupos controle
positivo e negativo foram inoculados via IP. Utilizou-se para isso seringas
descartáveis de insulina/tuberculina estéreis.
30
Após 22 horas da primeira inoculação, todos os camundongos do grupo teste
e grupos controle receberam via IP colchicina 1% (SIGMA®) de acordo com o peso
animal (0,1 ml/10 g). Completadas 24 horas, os camundongos foram eutanasiados
por deslocamento cervical de acordo com a técnica adequada de imobilização.
Em seguida, os fêmures foram extirpados, dissecados e tiveram suas epífises
proximais cortadas para melhor extração da medula óssea. Com auxílio de uma
seringa com agulha, foi injetado 1 ml de solução isotônica de NaCl (0,9%) no canal
medular, extraindo assim a medula óssea de ambos os fêmures dentro de um tubo
de centrífuga com fundo cônico contendo 2 ml de NaCl (0,9%). A suspensão de
células foi então homogeneizada várias vezes, até apresentar um aspecto límpido.
O material foi centrifugado a 1000 rpm durante 10 minutos. Após a
centrifugação, foi retirado o sobrenadante deixando cerca de 0,5 ml no tubo junto
com o pellet. Adicionou-se então 4 ml de KCl (0,075 M) refrigerado a ±5ºC para
realização do choque hipotônico. Após a homogeneização, o material ficou em
repouso a temperatura ambiente por 25 minutos. Terminado esse tempo, o material
foi centrifugado a 1000 rpm durante cinco minutos (padrão mantido nas
centrifugações seguintes). Retirou-se o sobrenadante deixando cerca de 0,5 ml no
tubo junto com o pellet o qual foi ressuspendido. Na fixação adicionou-se lentamente
o fixador metanol:ácido acético (3:1), evitando-se a formação de agregados
celulares. O material foi mais uma vez homogeneizado e levado à centrífuga. O
processo de centrifugação e fixação foi realizado até a obtenção de uma amostra
limpa e transparente, alcançado geralmente após três etapas.
Para a confecção das lâminas, após a última fixação, o pellet foi
ressuspendido em 0,5 ou 1,0 ml de fixador recém-preparado. Entre duas a três gotas
desse material foram gotejadas (±50 cm de distância) em lâminas previamente
limpas. As lâminas empregadas estavam imersas em água destilada estéril
refrigerada a ±5ºC, permitindo a formação de uma “lâmina de água” na superfície do
vidro, facilitando o espalhamento celular. Após esse processo, a face oposta das
lâminas foram passadas rapidamente em chama de lamparina à álcool durante
alguns segundos, identificadas e deixadas à secar a temperatura ambiente. Após, no
mínimo 24 horas, as lâminas foram coradas segundo a seguinte bateria: a) sete
minutos em cuba contendo solução de Giemsa a 10% diluída em água destilada; b)
três lavagens rápidas em cuba contendo acetona; c) três lavagens rápidas em cuba
31
contendo acetona/xilol (1:1); d) 20 minutos em cuba contendo xilol; e) secagem em
temperatura ambiente.
Figura 6 - Fluxograma teste de metáfase em células de medula óssea de camundongos.
4.4 Análise microscópica
As lâminas foram analisadas em microscópio óptico com objetiva de imersão
(100x) por diferentes membros da equipe, em teste cego. Para reduzir a variação
entre os analisadores, cada um analisou o mesmo número de células de lâminas de
um mesmo voluntário (certificando-se que as células não fossem contabilizadas
duas vezes).
32
4.4.1 Análises in vitro
Foram analisadas 100 metáfases por paciente/diluição em cada um dos
tempos amostrais (48 e 72 horas), totalizando 400 metáfases por diluição/tempo
experimental. As metáfases foram avaliadas quanto: a) presença de ACs; b) tipos de
ACs: gap cromatídico (G.CRT), gap isocromatídico (G.CRM), quebra cromatídica
(Q.CRT), quebra isocromatídica (Q.CRM),
fragmento acêntrico simples (FAS),
fragmento acêntrico duplo (FAD), cromossomo em anel (C. ANEL) e outras
(dicêntrico, dicêntrico trirradial, troca externa simétrica, monocêntrico trirradial e
figuras complexas); c) número de ACs; d) grupo cromossômico afetado pelas ACs.
Apenas metáfases contendo 46±1 centrômeros foram avaliadas segundo os
seguintes critérios: a) bom alinhamento das cromátides; b) cromossomos não
sobrepostos; c) boa fixação e coloração. O mesmo procedimento de leitura foi
empregado para os controles negativos de cada experimento.
4.4.2 Análises in vivo
Foram analisadas 50 metáfases por animal/diluição para ambos os sexos,
totalizando 300 metáfases por diluição/sexo. As metáfases foram avaliadas quanto:
a) presença de ACs; b) tipos de ACs: G.CRT, G.CRM, Q.CRT, Q.CRM, FAS, FAD,
C. ANEL e outras; c) número de ACs. Apenas metáfases contendo 40±1
centrômeros foram avaliadas segundo os seguintes critérios: a) bom alinhamento
das cromátides; b) cromossomos não sobrepostos; c) boa fixação e coloração. O
mesmo procedimento de leitura foi empregado para os controles positivos e
negativos de cada experimento.
4.5 Análise estatística
Para a análise comparativa entre as variáveis qualitativas foi aplicado o teste do
qui-quadrado, para verificar a existência de diferenças entre os percentuais de ACs
encontrados para as diluições de formocresol testadas quando comparados aos
resultados obtidos dos grupos controles de cada experimento. Os softwares
utilizados para a realização dos testes foram o Excel 2000 e o R v2.10.0. Todas as
conclusões foram tomadas ao nível de significância de 5%.
33
5. Resultados
Nos ensaios in vitro foram empregados dois tempos experimentais. Nas
culturas de 48 horas foram observadas ACs em 12,75%, 7,50%, 2,75%, 3,75%,
1,00% e 2,75% das células analisadas para as diluições de 1:50, 1:100, 1:200,
1:500, 1:1000 e para o grupo controle, respectivamente (Tabela 2). Nas culturas de
72 horas foram observadas ACs em 11,75%, 9,50%, 5,00%, 4,75%, 5,00% e 3,00%
para as mesmas diluições e grupo controle (Tabela 3). A figura 7 apresenta imagens
de uma metáfase normal e de algumas ACs encontradas nas análises in vitro.
Figura 7 - Metáfases de linfócitos de sangue periférico humano. a) metáfase normal; b) gap
cromatídico; c) gap isocromatídico; d) quebra cromatídica; e) quebra isocromatídica; f)
cromossomo em anel; g) troca simétrica entre dois cromossomos; h) dicêntrico i)
dicêntrico trirradial; j) dicêntrico trirradial (seta preta) e gap cromatídico (seta vermelha).
Na análise estatística das culturas de 48 horas, comparando-se as dosagens
de 1:50 (p-valor = 0,0001) e 1:100 (p-valor = 0.003901) com o grupo controle foi
constatado haver diferença significativa, o que não foi observado para as outras
diluições. O mesmo ocorreu com as culturas de 72 horas, onde houve diferença
significativa quando comparadas às dosagens de 1:50 (p-valor = 0,0001) e 1:100 (pvalor = 0.0002607) com o grupo controle. Para as outras diluições não houve
diferença significativa em comparação ao controle.
34
Tabela 2 - Efeito das diferentes diluições de formocresol sobre cromossomos de linfócitos de sangue periférico humano em culturas de 48 horas (após 24
horas de exposição à droga).
Dose
Nº de
células
analisadas
Células
Normais
(nº)
(%)
Células
Alteradas
(nº) (%)
Número total
de ACs
Número e percentual dos tipos ACs em relação ao número total de ACs
G. CRT
(nº) (%)
G. CRM
Q. CRT
(nº) (%) (nº) (%)
Q. CRM
(nº) (%)
FAS
FAD
C.ANEL
(nº) (%) (nº) (%) (nº) (%)
OUTRAS
(nº) (%)
* 1:50
298
260
87,248
38 12,752
56
24 42,857 3 5,357 18 32,142
3 5,357
-
-
-
-
-
-
8
14,285
* 1:100
400
370
92,50
30
7,50
32
17 53,125 2
11 34,375
2
6,25
-
-
-
-
-
-
-
-
1:200
400
389
97,25
11
2,75
11
3
27,272 -
-
7
63,636
1 9,090
-
-
-
-
-
-
-
-
1:500
400
385 96,25
15
3,75
16
13
81,25
-
-
2
12,50
1
6,25
-
-
-
-
-
-
-
-
1:1000
400
396
4
1,00
4
4
100,00 -
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Total
1898
1800 94,4496 98 5,5504
119
61
60,90
5 2,321 38
28,53
7
5,38
-
-
-
-
-
-
8
2,857
Controle
400
389
15
6
40,00
1 6,666
26,666
2 13,333 1 6,666 -
-
-
-
1
6,666
99,00
97,25
11
2,75
6,25
4
G. CRT = gap cromatídico; G. CRM = gap isocromatíco; Q. CRT = quebra cromatídica; Q. CRM = quebra isocromatíca; FAS = fragmentos acêntrico simples;
FAD = fragmentos acêntrico duplo; C. ANEL = cromossomo em anel.
2
*Diferença significativa quando comparado ao controle negativo (p<0,05; x -teste).
35
Tabela 3 - Efeito das diferentes diluições de formocresol sobre cromossomos de linfócitos de sangue periférico humano em cultura de 72 horas (após 48
horas de exposição à droga).
Dose
Nº de
células
analisadas
Células
Normais
(nº) (%)
Células
Alteradas
(nº) (%)
Número total
de ACs
Número e percentual dos tipos ACs em relação ao número total de ACs
G. CRT
(nº) (%)
G. CRM
(nº) (%)
Q. CRT
(nº) (%)
Q. CRM
FAS
FAD
C.ANEL
(nº) (%) (nº) (%) (nº) (%) (nº) (%)
* 1:50
400
353 88,25 47 11,75
56
25 44,642 7
12,50
16 28,571 4 7,142
-
* 1:100
400
362 90,50 38
9,50
39
24 61,538 1
2,564
11 28,205 2 5,128
1
1:200
400
380 95,00 20
5,00
26
18
69,23
-
8
-
-
-
-
1:500
400
381 95,25 19
4,75
23
9
39,13
3 13,043 10 43,478 -
-
-
1:1000
400
380 95,00 20
5,00
25
15
60,00
2
-
-
Total
2000
1856 92,80 144 7,20
169
91 54,908 13 7,221
52 31,804 6 2,454
1
Controle
400
388 97,00 12
14
10 71,428 1
3
-
3,00
-
8,00
7,142
7
30,77
28,00
-
21,428 -
-
-
1 1,785 1 1,785
2,564 -
OUTRAS
(nº) (%)
2
3,571
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
4,347
-
1
4
-
-
-
-
3
1,583
-
-
0,512 2 1,157 1 0,357
-
-
-
-
-
G. CRT = gap cromatídico; G. CRM = gap isocromatíco; Q. CRT = quebra cromatídica; Q. CRM = quebra isocromatíca; FAS = fragmentos acêntrico simples;
FAD = fragmentos acêntrico duplo; C. ANEL = cromossomo em anel.
2
*Diferença significativa quando comparado ao controle negativo (p<0,05; x -teste).
36
Na classificação das ACs dos tipos G. CRT, G. CRM, Q. CRT e Q. CRM de
acordo com os grupos cromossômicos, induzidas após o uso das diluições de
formocresol, contabilizou-se 111 ACs nas culturas de 48 horas e 162 nas culturas de
72 horas. Nas culturas de 48 horas, as ACs se distribuíram nos seguintes grupos
cromossômicos: A = 30, B = 19, C = 44, D = 11, E = 3, F = 2 e G = 2 (Tabela 4). Nas
culturas de 72 horas: A = 58, B = 20, C = 61, D = 17, E = 5, F = 1 e G = 0 (Tabela 5).
Tabela 4 - Número total de alguns tipos de ACs observadas após utilização de diluições de
formocresol e classificadas de acordo com os grupos cromossômicos em culturas de 48
horas. A média de ACs por cromossomo foi realizada tomando o sexo masculino como
base.
Grupos
G. CRT
G. CRM Q. CRT Q. CRM Total
A (1,2 e 3)
15
3
9
3
30
Média de
ACs por
cromossomo
5,0
B (4 e 5)
10
0
8
1
19
4,75
C (6-12, X)
24
2
15
3
44
2,93
D (13, 14 e 15)
8
0
3
0
11
1,83
E (16, 17 e 18)
0
0
3
0
3
0,5
F (19 e 20)
2
0
0
0
2
0,5
G (21, 22 e Y)
Total
2
61
0
5
0
38
0
7
2
111
0,4
G. CRT = gap cromatídico; G. CRM = gap isocromatíco; Q. CRT = quebra cromatídica; Q. CRM =
quebra isocromatíca.
Tabela 5 - Número total de alguns tipos de ACs observadas após utilização de diluições de
formocresol e classificadas de acordo com os grupos cromossômicos em culturas de 72
horas. A média de ACs por cromossomo foi realizada tomando o sexo masculino como
base.
Grupos
G. CRT
G. CRM Q. CRT Q. CRM Total
A (1,2 e 3)
31
3
21
3
58
Média de
ACs por
cromossomo
9,66
B (4 e 5)
14
0
6
0
20
5,00
C (6-12, X)
36
8
15
2
61
4,06
D (13, 14 e 15)
7
2
8
0
17
2,83
E (16, 17 e 18)
3
0
1
1
5
0,83
F (19 e 20)
0
0
1
0
1
0,25
G (21, 22 e Y)
Total
0
91
0
13
0
52
0
6
0
162
0
G. CRT = gap cromatídico; G. CRM = gap isocromatídico; Q. CRT = quebra cromatídica; Q. CRM =
quebra isocromatíca.
37
Nas análises in vivo, os camundongos machos apresentaram ACs em 6,0%,
4,0%, 3,33%, 3,33% e 1,33% das células analisadas para as diluições de 1:50,
1:100, 1:200, 1:500 e 1:000, respectivamente. Nos controles positivo e negativo
foram encontradas ACs em 40,33% e 2,00% das células analisadas (Tabela 6). Nos
indivíduos fêmeas encontraram-se ACs em 4,00%, 3,33%, 2,66%, 4,33% e 2,66%
das células após uso do formocresol nas mesmas diluições e 19,00% e 2,00% para
os controles positivo e negativo, respectivamente (Tabela 7). A figura 8 apresenta
imagens de uma metáfase normal e de algumas ACs encontradas nas análises in
vivo.
Figura 8 - Metáfases de células de medula óssea de camundongos. a) metáfase normal; b) gap
cromatídico; c) quebra cromatídica; d) fragmento acêntrico simples.
Em machos comparando-se a dosagem de 1:50 (p=0.02192) com o controle
negativo houve diferença significativa, o que não foi observado para as outras
diluições. Em fêmeas quando comparadas todas as diluições de formocresol com o
controle negativo não houve diferença significativa.
38
Tabela 6 - Efeito das diferentes diluições de formocresol sobre cromossomos de células de medula óssea de camundongos machos após 24 horas de
exposição à droga.
Dose
Nº de
células
analisadas
Células
Normais
(nº) (%)
Células
Alteradas
(nº) (%)
Número total
de ACs
Número e percentual dos tipos ACs em relação ao número total de ACs
G. CRT
(nº) (%)
G. CRM
(nº) (%)
Q. CRT
(nº) (%)
Q. CRM
FAS
(nº) (%) (nº) (%)
FAD
(nº) (%)
C.ANEL
(nº) (%)
OUTRAS
(nº) (%)
300
282
94,0
18
6,0
20
9
45,0
1
5,00
8
40,0
-
-
1
5,00
-
-
1
5,00
-
-
1:100
300
288
96,0
12
4,0
12
10
83,33
1
8,33
1
8,33
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1:200
300
290
96,66
10
3,33
10
9
90,00
-
-
1
10,00
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1:500
300
290
96,66
10
3,33
10
8
80,00
-
-
2
20,00
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1:1000
300
296
98,66
4
1,33
4
3
75,00
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1 25,00
-
-
Total
1500
1446 96,40
54
3,60
56
39
74,666
2
2,66
12
15,66
-
-
1
1,0
-
-
2
6,0
-
-
Controle
Positivo
300
179
59,66 121 40,33
272
100 36,764
5 1,838 101 37,132
4 1,47 40 14,705 11 4,044 4
1,47
7
2,573
Controle
Negativo
300
294
98,00
-
-
-
-
-
* 1:50
6
2,00
6
5
83,33
-
1
16,66
-
-
-
-
-
-
G. CRT = gap cromatídico; G. CRM = gap isocromatíco; Q. CRT = quebra cromatídica; Q. CRM = quebra isocromatíca; FAS = fragmentos acêntrico simples;
FAD = fragmentos acêntrico duplo; C. ANEL = cromossomo em anel.
2
*Diferença significativa quando comparado ao controle negativo (p<0,05; x -teste).
39
Tabela 7 - Efeito das diferentes diluições de formocresol sobre cromossomos de células de medula óssea de camundongos fêmeas após 24 horas de
exposição à droga.
Dose
Nº de
células
analisadas
Células
Normais
(nº) (%)
Células
Alteradas
(nº) (%)
Número total de
ACs
Número e percentual dos tipos ACs em relação ao número total de ACs
G. CRT
(nº) (%)
G. CRM
(nº) (%)
Q. CRT
(nº) (%)
Q. CRM
(nº) (%)
FAS
(nº) (%)
FAD
C.ANEL OUTRAS
(nº) (%) (nº) (%) (nº) (%)
1:50
300
288 96,00 12
4,00
12
8
66,66
-
-
2
16,66
1
8,33
1
8,33
-
-
-
-
-
-
1:100
300
290 96,66 10
3,33
10
6
60,0
-
-
2
20,0
-
-
2
20,0
-
-
-
-
-
-
1:200
300
292 97,33
8
2,66
10
9
90,0
-
-
1
10,0
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1:500
300
287 95,66 13
4,33
16
12
75,00
1
6,25
3
18,75
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1:1000
300
292
8
2,66
8
5
62,50
-
-
3
37,50
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Total
1500
1449 96,60 51
3,40
56
40
64,83
1
1,25
11
20,58
1
1,66
3
5,66
-
-
-
-
-
-
Controle
Positivo
300
243 81,00 57 19,00
66
38
57,575
2
3,03
14
21,212
3 4,545 5
7,575
1
Controle
Negativo
300
294 98,00
6
5
83,33
1 16,66
-
-
-
-
97,33
6
2,00
-
-
-
1,51 1
-
-
1,51 2
-
-
G. CRT = gap cromatídico; G. CRM = gap isocromatíco; Q. CRT = quebra cromatídica; Q. CRM = quebra isocromatíca; FAS = fragmentos acêntrico simples;
FAD = fragmentos acêntrico duplo; C. ANEL = cromossomo em anel.
2
*Diferença significativa quando comparado ao controle negativo (p<0,05; x -teste).
40
3,03
-
6. Discussão
Nesse trabalho, para uma melhor análise do uso do formocresol, foram
realizados ensaios citogenéticos empregando modelos in vitro e in vivo, assim como
recomendado pelos órgãos regulatórios internacionais. Os ensaios in vivo nos
fornecem algumas vantagens sobre ensaios in vitro, principalmente quando o
processo de metabolização é considerado. Entretanto, o teste de metáfase utilizando
cultura de linfócitos é considerado um método primário e eficaz na avaliação da
mutagênese induzida em mamíferos e nos fornece uma estimativa da resposta
humana, apesar de possíveis variações individuais (Garcia-Sagredo, 2008; Someya
et al., 2008). Utilizando ambos os modelos, pode-se avaliar o comportamento do
fármaco testado com e sem a participação de processos fisiológicos e averiguar a
importância desses processos no que diz respeito à ocorrência de danos ao material
genético.
Nos experimentos in vitro observou-se que as diluições mais concentradas de
1:50 (percentual de formocresol em relação ao volume total da cultura - 0,01739%,
que equivale a dose de 0,2052 mg de formaldeído, considerando o volume total da
cultura em 5,75 ml e a concentração de formaldeído no formocresol aplicado em
19%, tendo como base a densidade de vapor do formaldeído igual a 1,08) e 1:100
(0,00869%, que corresponde a 0,1026 mg de formaldeído), para ambos os tempos
de exposição, foram capazes de induzir ACs de maneira significativa quando
comparadas ao grupo controle. Esses achados corroboram com resultados de
estudos que apontam para a genotoxicidade e mutagenicidade do formocresol
através de ensaios em cultura de células eucariotas e procariotas (Zarzar et al.,
2003; Gahyva e Siqueira Júnior, 2005; Hagiwara et al., 2006; Nishimura et al., 2008;
Leite et al., 2012).
Hagiwara et al. (2006), através do teste de metáfase empregando células
embrionárias de hamster sírio, e Nishimura et al. (2008), empregando o mesmo teste
em células de polpa dentária humana, demonstraram que o formocresol mesmo em
pequenas concentrações (0,003% / 330 µM) foi capaz de induzir ACs de maneira
significativa em relação ao controle negativo. Isso demonstra que em determinadas
situações não são necessárias altas dosagens para que o dano genotóxico ocorra.
Gahyva e Siqueira Júnior (2005) avaliando a mutagenicidade do formocresol através
41
do SOS cromoteste em procariotos (indução de b-galactosidase em Escherichia coli)
demonstraram que dentre as substâncias testadas, foi a única a apresentar efeitos
citotóxicos e mutagênicos severos.
Por outro lado, resultados negativos para a mutagenicidade e genotoxicidade
do formocresol também foram obtidos por meios de outros ensaios citogenéticos,
dentre eles o teste de Ames (Gahyva e Siqueira Júnior, 2005) e teste de cometa
(Ribeiro et al., 2004, 2005; Da Silva et al., 2007; Ramos et al., 2008). Em relação ao
ensaio do cometa, tais resultados podem estar associados com a ação do cresol que
possui a habilidade de inibir a formação de espécies reativas do oxigênio, capazes
de induzir extensivas quebras no DNA (Yeung et al., 2002). Outro importante fator
responsável pelos resultados negativos se relaciona ao tipo de dano causado pelo
formocresol chamados de ligações-cruzadas (DNA-DNA e DNA-proteína). Apesar de
ser um dano ao material genético, esse tipo de lesão leva a uma redução na
migração do DNA impedindo a obtenção de resultados positivos (Tice et al., 2000).
Estudos avaliando a indução de ACs em pacientes submetidos a tratamento
com formocresol também foram relatados. Zarzar et al. (2003) realizaram culturas de
linfócitos de sangue periférico de crianças antes e após a realização de uma única
pulpotomia. Concluíram que apesar do grupo tratado com formocresol apresentar
um maior número de alterações cromossômicas quando comparado ao grupo
controle, esta diferença não foi significativa diante dos testes estatísticos
empregados. Entretanto, o formocresol foi genotóxico para um dos pacientes
levantando questionamentos sobre a segurança em seu uso. Os autores
correlacionaram essa exceção com a variabilidade genética presente em humanos,
como relatado por Surrallés et al. (1998).
Por outro lado, em estudo semelhante e recente, empregando um maior
número de pacientes que necessitavam de tratamento em um ou dois dentes, Leite
et al. (2012) demonstraram que houve diferença significativa comparando-se o grupo
tratado ao grupo controle para todas as variáveis testadas. Entretanto, não houve
diferença significativa comparando-se pacientes submetidos a uma ou duas
pulpotomias.
Os resultados obtidos em nosso estudo revelaram que a média do percentual
de células com ACs (48 horas = 5,5504%; 72 horas = 7,2%) e do número total de
ACs (48 horas = 23,80; 72 horas = 33,80) em culturas de 72 horas para todas as
42
diluições do formocresol foi superior quando comparado às culturas de 48 horas.
Não foram encontrados dados na literatura empregando esse tipo de metodologia.
Aparentemente, o maior tempo de exposição acarretou uma maior indução de ACs,
possivelmente pela inexistência de uma metabolização eficiente in vitro, como
ocorreria em um organismo vivo. Estima-se que o tempo de meia-vida do
formaldeído exógeno em humanos seja de 1-1,5 minutos (Bhatt et al., 1988). Logo,
sem ser metabolizado, o formaldeído exerceria seus efeitos prejudiciais sobre o DNA
por mais tempo.
Outro dado importante nesse estudo se refere à análise das frequências de
ACs de acordo com os grupos cromossômicos após exposição pelas diluições do
formocresol. No cariótipo humano os cromossomos são ordenados de forma
decrescente aos pares e subdivididos em grupos da seguinte maneira: A) 1, 2 e 3; B)
4 e 5; C) 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e X; D) 13, 14 e 15; E) 16, 17 e 18; F) 19 e 20; G) 21,
22 e Y. Em ambos os tempos experimentais (48 e 72 horas), os três grupos
cromossômicos onde proporcionalmente ocorreram o maior número de ACs foram o
A, B e C. A média de ACs por cromossomo foi: A – 5,0, B – 4,75 e C – 2,93 (48
horas) e A – 9,66, B – 5,0 e C – 4,06 (72 horas). Não há nenhum estudo até o
momento correlacionando a frequência de ACs (induzidas pelo formocresol) aos
grupos cromossômicos.
Células em cultura sob determinadas condições de estresse apresentam
regiões no DNA mais sensíveis à formação de gaps e quebras, que podem ser
visualizadas em cromossomos metafásicos após inibição parcial da síntese de DNA
(Helmrich et al., 2006). Tais regiões são conhecidas como sítios frágeis (SFs) e, em
geral, correspondem aos hotspots ou “pontos quentes” presentes no genoma. Os
SFs foram inicialmente visualizados em células em cultura, de pacientes com retardo
mental associado à síndrome do X frágil, sob condições de estresse (folatosensíveis) empregadas para induzir a expressão do sítio frágil X (FRAXA) (Glover et
al., 2005).
Os SFs podem ser classificados em sítios frágeis raros e comuns. Sítios
frágeis raros (SFRs), como presente na síndrome do X frágil, são encontrados em
poucos indivíduos (5%) e estão associados às mutações de expansão de repetições
CGG ou AT (Sutherland et al., 1998). Sítios frágeis comuns (SFCs) são encontrados
em todos os indivíduos, representando um componente estrutural cromossômico
43
normal. Apresentam regiões ricas em AT, porém são desprovidas de repetições
satélite (Debatisse et al., 2012). Alguns grandes genes transcricionalmente ativos
parecem localizar-se preferencialmente em regiões onde mais frequentemente se
expressam SFCs (Helmrich et al., 2006).
Aproximadamente 200 SFCs foram mapeados em linfócitos humanos, 22
deles foram analisados no nível molecular. Dentre os SFCs que apresentam
frequência de quebras acima de 1,5% estão: FRA1B, FRA1I, FRA2C, FRA2D,
FRA2H, FRA2I, FRA3B, FRA4C, FRA6E, FRA7K, FRA7H, FRA9B, FRA11F,
FRA16D, FRAXB e FRAXC (Mrasek et al., 2010). FRA3B localizado no cromossomo
3 (3p14.2) é considerado o sítio mais frágil do genoma e pode ser induzido a formar
quebras e gaps na maioria das células tratadas. Outros sítios frágeis altamente
expressos em linfócitos são FRA6E (6q26), FRA7H (7q32.3), FRA16D (16q23) e
FRAXB (Xp22.3) (Glover et al., 1984). Com exceção dos FRA16D, todos os outros
SFCs com alta expressão de quebras relatados, localizam-se em cromossomos dos
GRUPOS A, B ou C. Esses dados corroboram com os resultados obtidos em nosso
estudo.
Além disso, os grupos A, B e C contabilizam juntos 25 (em homens – XY) e
26 (em mulheres – XX) cromossomos que englobam mais da metade do conteúdo
do material genético em humanos. Essa maior representabilidade do genoma pode
também ter influenciado em uma maior indução de ACs dentro desses grupos, pois
quanto maior a quantidade de DNA, maior o número de alvos para possíveis lesões.
Soma-se ainda o fato, de que nem todas as ACs necessariamente irão ocorrer nos
SFCs. Tais sítios são apenas alvos preferenciais e não exclusivos para ACs
espontâneas ou induzidas, assim como observado nesse estudo pela presença de
ACs em todos os grupos cromossômicos. A importância dos estudos sobre os SFCs
se alicerça nas observações de que eles constituem alvos preferenciais para danos
indutores de oncogenes em lesões pré-neoplásicas, sugerindo que a instabilidade
dos SFCs dirige a oncogênese desde os estágios iniciais do processo (Bartkova et
al., 2005; Tsantoulis et al., 2008).
Através dos experimentos in vivo observou-se que em machos apenas a
diluição mais concentrada de 1:50 (volume aproximado de formocresol injetado nos
animais – 0,007 ml ou 7 µl, que equivale a dose de 1,436 mg de formaldeído,
considerando a média de peso dos animais em 35 g e a concentração de
44
formaldeído no formocresol aplicado em 19%, tendo como base a densidade de
vapor do formaldeído igual a 1,08) induziu ACs de maneira significativa quando
comparado ao controle negativo.
Poucos estudos empregando ensaios in vivo investigando a genotoxicidade
sistêmica do formocresol são encontrados na literatura. Ramos et al. (2008),
realizando o teste do micronúcleo em camundongos Swiss, obteve resultado positivo
relativo ao uso do formocresol após injeção IP na diluição de 1:1000 na proporção
de 0,1 ml/10g de peso animal. Estudos como o de Zarzar et al. (2003) e Leite et al
(2012) também apontam para a distribuição do formocresol no organismo após
pulpotomias, uma vez que as amostras de sangue periférico dos pacientes foram
coletadas 24 horas após o uso da substância. Esses trabalhos ratificam os
resultados obtidos através dos experimentos in vivo.
Alguns estudos têm demonstrado que o formaldeído exerce seus efeitos
sobre o DNA principalmente através da formação de ligações cruzadas DNAproteína e pela síntese desordenada de DNA (Hamaguch e Tsutsui, 2000; Heck e
Casanova, 2004). Essas lesões bloqueiam a replicação podendo ser corrigidas
completa ou incompletamente, e, nesse caso, podem levar a formação de mutações
(Merk e Speit, 1998; Barker et al., 2005). A indução de ligações cruzadas DNAproteína pelo formaldeído está relacionada a efeitos sobre os cromossomos, como
micronúcleos e troca de cromátides irmãs (Speit et al., 2000a).
O formaldeído, mesmo sendo um composto tóxico, é naturalmente
encontrado nos tecidos, células e fluidos corporais (Speit e Schmid, 2006).
Entretanto, os mamíferos desenvolveram uma série de vias metabólicas capazes de
combater e neutralizar os efeitos adversos dessa substância (Milnes, 2008).
Conaway et al. (1996) descreveu em seu trabalho que o organismo possui um
mecanismo protetor capaz de evitar a formação de ligações cruzadas DNA-proteína
em concentrações inferiores a 10 mM ou 5 mg/ml de formaldeído. Logo, esse tipo de
lesão não é esperado em exposições a baixas concentrações de formaldeído.
Aparentemente, a dose final de formaldeído associada à aplicação da diluição
de 1:50 foi suficientemente grande, ultrapassando a capacidade de detoxificação
fisiológica em camundongos machos,
ocasionando um aumento significativo no
número de ACs em comparação às outras diluições e com o controle negativo.
45
Uma possível indução de ACs de maneira diferenciada entre os sexos foi
investigada nos experimentos in vivo. Entretanto, não foram observadas grandes
diferenças entre machos e fêmeas. Mesmo após a constatação de que houve
indução de ACs de maneira significativa apenas em machos para a diluição de 1:50,
comparando-se percentual de células com ACs e o número total de ACs entre
machos e fêmeas, para todas as diluições, observa-se que os valores encontrados
são bastante semelhantes entre si. A análise estatística não deve ser considerada o
único fator determinante para validação dos testes de genotoxicidade. A relevância
biológica dos resultados deve antes ser considerada (OECD, 1997b).
Os tipos de ACs mais frequentemente induzidos nos ensaios in vitro e in vivo
foram gaps cromatídicos e quebras cromatídicas. Resultados semelhantes foram
encontrados nos trabalhos de Zarzar et al. (2003), Hagiwara et al. (2006), Nishimura
et al. (2008), Someya et al. (2008) e Leite et al. (2012). Outros danos, também
estiveram presentes nas análises, demonstrando que o formocresol é capaz de
induzir uma série de tipos de ACs.
O formaldeído é um químico altamente reativo, capaz de interagir com
proteínas, DNA, RNA e outras macromoléculas (Feron et al., 1991). É um composto
genotóxico de ação direta capaz de afetar várias etapas envolvidas no controle da
expressão gênica, incluindo aqueles envolvidos com a síntese de DNA, no reparo e
na regulação da proliferação celular (National Toxicology Program, 2010). Todas
essas características podem ser apontadas como responsáveis pela variedade de
ACs encontradas nesse estudo.
De uma forma geral, poucos trabalhos são encontrados avaliando a
segurança genética relativa ao uso do formocresol. Frequentemente, essa
segurança é inferida através de estudos sobre a genotoxicidade, mutagenicidade e
carcinogenicidade do formaldeído, que são muitas vezes divergentes entre si. Uma
extensa revisão a respeito do formaldeído foi realizada há alguns anos pela IARC
(2006). Segundo consta nesse documento, o formaldeído é considerado mutagênico
em ensaios empregando bactéria, leveduras e Drosophila melanogaster; genotóxico
para modelos empregando células de mamíferos e plantas; e carcinogênico para
animais e humanos. O que não é ressaltado nesse estudo, entretanto, é que a
reclassificação do formaldeído de “provável” para “conhecido carcinógeno humano”
baseia-se na premissa de que, sob quaisquer que sejam as condições, essa
46
substância pode causar câncer em humanos. Logo, torna-se difícil inferir até que
ponto o formocresol ou o formaldeído pode causar a indução de mutações e/ou
câncer.
Além dos questionamentos sobre a segurança do formocresol, seu emprego é
ainda hoje bastante criticado por uma série de fatores. Ramos et al. (2008) discute
que apesar do formocresol ser a droga de preferência nos procedimentos
endodônticos de rotina, seu uso clínico e sua aplicação continua sendo arbitrária e
sem cunho científico. Nenhuma das fórmulas do formocresol foi sequer padronizada
e as doses são estabelecidas de maneira arbitrária. Tem sido demonstrado que a
dose comumente aplicada do formocresol é muitas vezes superior a mínima
requerida para executar seus efeitos (Hagiwara et al., 2006).
Em estudo recente realizado nos EUA, foram entrevistados 92 dentistas
pediátricos certificados sobre questões a respeito dos métodos por eles empregados
para realização de pulpotomias. O formocresol foi o medicamento de escolha para
61% dos entrevistados, onde 28,3% empregavam a droga em sua mais alta
concentração. Dentre os entrevistados que usavam formocresol, 73% disseram não
ter
preocupações
(sobre,
por
exemplo,
toxicidade,
mutagenicidade
ou
carcinogenicidade do formocresol ou formaldeído) a respeito de suas escolhas
(Yoon et al., 2008). Esse trabalho evidencia o despreparo e a falta de informação por
parte dos profissionais que manipulam e expõem seus pacientes ao formocresol.
O aparente sucesso relacionado ao uso do formocresol se baseia
exclusivamente
em
estudos
clínicos
e
radiográficos.
Contudo,
estudos
histopatológicos demonstram se tratar de uma droga extremamente tóxica e não
biocompatível. Tal observação seria mais que um bom motivo para o abandono em
definitivo desse medicamento pulpar. Além disso, com o passar do tempo, são
relatados o insucesso de pulpotomias consideradas bem sucedidas durante as
etapas iniciais do tratamento com formocresol (Hunter, 2003; Assed e Silva, 2008).
Os danos citogenéticos são cumulativos e a exposição contínua à mutágenos,
quer sejam de ocorrência natural ou não, pode originar sérios riscos à saúde
(Ramsey et al., 1995), dentre eles o câncer. Atenção redobrada deve ser dada no
emprego de substâncias químicas, como o formocresol, em pulpotomias, pois se
trata de um procedimento realizado, na grande maioria dos casos, em crianças que
ainda estão em fase de desenvolvimento e crescimento, que inevitavelmente serão
47
expostas a outros agentes potencialmente genotóxicos durante suas vidas (Zarzar et
al., 2003).
Todos os relatos descritos acima reforçam a importância de estudos sobre a
segurança genética no emprego do formocresol. Se muitos autores não veem
motivos para a descontinuidade de seu uso, ao menos deveriam se preocupar e
apontar medidas para efetivação do uso racional e padronizado desse medicamento.
Muitas outras substâncias e metodologias existem e podem substituir ou servir como
alternativas no tratamento endodôntico. Contudo, os fatores econômico e histórico
parecem ser grandes empecilhos para a descontinuidade do uso do formocresol.
48
7. Conclusões
1. O fármaco pulpar formocresol é capaz de induzir ACs (danos genotóxicos) de
maneira dose-dependente, tanto in vitro quanto in vivo.
2. O aumento no tempo de exposição ao formocresol é seguido de um aumento na
quantidade de células com ACs e na quantidade de ACs por célula em cultura.
3. Através dos experimentos in vitro observa-se que as ACs oriundas da exposição
ao
formocresol
ocorrem
de
maneira
diferenciada
entre
os
grupos
cromossômicos, afetando preferencialmente cromossomos que apresentam
regiões com alta expressão de SFCs.
4. Diferenças sexuais aparentemente não são capazes de induzir alterações no
padrão de ocorrência de ACs entre camundongos machos e fêmeas.
5. Em ambos os ensaios citogenéticos, os tipos de ACs mais encontrados são gaps
cromatídicos e quebras cromatídicas.
6. O uso indevido do formocresol parece ser o princípial responsável pelos efeitos
genotóxicos relatados na literatura.
7. Estudos adicionais sob condições experimentais controladas e padronizadas
devem ser realizados para uma mais ampla e eficiente avaliação genotóxica,
mutagênica e carcinogênica do formocresol. A abordagem de novos parâmetros,
emprego de outras metodologias, clareza de informações sobre o desenho
experimental
e
sobre
exposição
somam
a
favor
da
resolução
dos
questionamentos a respeito da segurança no uso do formocresol.
8. A pesquisa e desenvolvimento de novas drogas e metodologias para aplicação
em procedimentos endodônticos, em substituição ao formocresol, devem ser
considerados, pois mesmo não havendo respostas definitivas a respeito da
segurança do formocresol, é visível que esse fármaco está longe de preencher a
todos os requisitos tidos como ideais para um medicamento pulpar.
49
8. Bibliografia
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59
9. Anexos
Anexo 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Convido o Sr.(a) ____________________________________________
a participar da pesquisa intitulada “Investigação do potencial genotóxico do fármaco
formocresol através dos testes do micronúcleo e de metáfase in vitro e in vivo.”
Durante a leitura deste documento fui informado que posso interromper para
fazer quaisquer perguntas.
Este estudo tem como objetivo principal avaliar possíveis alterações do DNA
em células de adultos sadios cujas amostras sanguíneas serão expostas ao fármaco
formocresol. A partir de diferentes dosagens da droga, será analisada as variações
da resposta biológica em relação as doses empregadas.
Essa pesquisa se faz necessária, pois o formocresol, além de ser
mundialmente empregado no tratamento odontológico, carece de estudos mais
aprofundados sobre seu potencial mutagênico, apesar de possuir em sua
composição formaldeído, considerado um provável carcinógeno humano.
Serão coletadas amostras de sangue (10 ml), por punção venosa, em
seringas estéreis descartáveis contendo heparina sódica na concentração de 5000
U/ml, de voluntários saudáveis e não-fumantes, após assinatura deste termo. Será
ainda realizada anamnese para verificar, além do estado geral de saúde, se nos
últimos seis meses antes da coleta os voluntários foram expostos à radiação
terapêutica, raio X diagnóstico, vacinação viral ou consumiram drogas ilícitas.
Ao participar desta pesquisa, o indivíduo se expõe ao risco de desenvolver
equimose (mancha roxa) no local da retirada de sangue e não será, em momento
algum, exposto ao fármaco formocresol.
Tenho consciência de que não receberei qualquer espécie de remuneração
por minha participação neste projeto de pesquisa.
60
Ciente do projeto de pesquisa exposto acima, foi explicado ainda que tenho o
direito de me recusar a participar , ou, se já houver concordado, posso desistir sem
necessidade de explicação. As informações desta pesquisa são confidenciais e
minha identidade será preservada, sem que meu nome apareça em nenhum
documento de divulgação de resultados ou qualquer dado que possa me identificar.
Nome do voluntário: _______________________________________________
Assinatura _____________________________________ Data ___/___/_____
Testemunha ___________________________________ Data ___/___/_____
Testemunha ___________________________________ Data ___/___/_____
A
rogo
de
_____________________________________________,assino
o
presente termo __________________________________________________.
_______________________________________________________
Kleison da Costa Merlo – Pesquisador responsável
Departamento de Genética do Centro de Ciência de Saúde
Fone: (81) 8821-1625
61
Anexo 2 - Autorização do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos
do Centro de Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco
(CEP/CCS-UFPE).
62
Anexo 3 - Autorização da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA-FIOCRUZ).
63
10. Curriculum vitae (Lattes)
_________________________________________________________________________________
Kleison da Costa Merlo
Curriculum Vitae
_________________________________________________________________________________
Dados pessoais
Nome
Kleison da Costa Merlo
Filiação
Valdemar Merlo e Lúcia de Fátima Noberto da Costa Merlo
Nascimento 12/06/1986 - Realeza/PR - Brasil
Carteira de Identidade 13198386 SSP - MT - 21/05/1998
CPF
010.610.275-38
Formação acadêmica/titulação
2010
Mestrado em Programa de Pós-Graduação em Genética.
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Recife, Brasil
Título: Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através dos
testes do micronúcleo e de metáfase in vitro e in vivo, Ano de obtenção: 2012
Orientador: Neide Santos
Bolsista do(a): Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
2005 - 2009
Graduação em Biomedicina.
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Recife, Brasil
Título: Avaliação genotóxica do fármaco antiparasitário albendazol (ZENTEL®)
através do teste de micronúcleo
Orientador: Maria Eliane Bezerra de Mélo
Atuação profissional
1.
Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - CPQAM
Vínculo institucional
2010 - Atual
Vínculo: Mestrando , Enquadramento funcional: Mestrando , Carga
horária: 40, Regime: Dedicação exclusiva
Áreas de atuação
1.
2.
Genética
Mutagenese
Prêmios e títulos
2012
"Menção Honrosa" na área de mutagênese para o trabalho intitulado "Investigação
do potencial genotóxico do fármaco formocresol através do teste de metáfase in
vitro", XIX ENGENE
2012
"Menção Honrosa" na área de mutagênese para o trabalho intitulado "Investigação
do potencial genotóxico do fármaco formocresol através do teste de metáfase in
vivo", XIX ENGENE
64
Produção em C, T & A
_________________________________________________________________________________
Produção bibliográfica
Trabalhos publicados em anais de eventos (resumo)
1. MERLO, K. C., MUNIZ, C. B, DINIZ, G. T. N., MELO, M. E. B., SANTOS, N.
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através do teste de metáfase in vitro In:
XIX Encontro de Genética do Nordeste, 2012, Juazeiro-Bahia.
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através do teste de metáfase in
vitro. , 2012.
2. MELO, M. E. B., LIRA, R. T., DINIZ, G. T. N., SANTOS, N., MERLO, K. C.
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através do teste de metáfase in vivo In:
XIX Encontro de Genética do Nordeste, 2012, Juazeiro-Bahia.
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através do teste de metáfase in
vivo. , 2012.
3. Silva, E. R., SILVA, J. L., Silva, J. D., Silva, J. P. A., Silva, G. K. C., SILVA, N. N. L., MERLO, K. C.,
LAPENDA, T. L. S.
Atenção Farmacêutica como Marketing em Farmácias e Drogarias In: IX Congresso Brasileiro de
Farmácia, 2011, Olinda.
IX Congresso Brasileiro de Farmácia. , 2011.
4. MELO, M. E. B., DINIZ, G. T. N., MERLO, K. C.
Detection of chromosomal aberrations in mice bone marrow cells with evidences of consanguinity In:
X congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Mutagênese, Carcinogênese e Teratogênese
Ambiental, 2011, São Pedro.
X Congresso Brasileiro da SBMCTA. , 2011.
5. Silva, E. R., SILVA, J. L., Silva, J. D., Silva, J. P. A., Silva, G. K. C., SILVA, N. N. L., MERLO, K. C.,
LAPENDA, T. L. S.
Importância da implantação da Atenção Farmacêutica no Brasil In: IX Congresso Brasileiro de
Farmácia, 2011, Olinda.
IX Congresso Brasileiro de Farmácia. , 2011.
6. SILVA, J. L., Silva, E. R., Silva, J. D., Silva, J. P. A., Moraes, J. P., MERLO, K. C., LAPENDA, T. L.
S.
Perfil do uso de anti-hipertensivos inibidores da enzima conversora de angiotensina em Unidade de
Saúde Pública de Pernambuco In: IX Congresso Brasileiro de Farmácia, 2011, Olinda.
IX Congresso Brasileiro de Farmácia. , 2011.
Apresentação de trabalho e palestra
1. MERLO, K. C., MUNIZ, C. B, DINIZ, G. T. N., MELO, M. E. B., SANTOS, N.
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através do teste de metáfase in
vitro, 2012. (Simpósio,Apresentação de Trabalho)
2. MELO, M. E. B., LIRA, R. T., DINIZ, G. T. N., SANTOS, N., MERLO, K. C.
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através do teste de metáfase in
vivo, 2012. (Simpósio,Apresentação de Trabalho)
3. MERLO, K. C., MELO, M. E. B., SANTOS, N.
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através dos testes de metáfase
in vitro e in vivo, 2011. (Outra,Apresentação de Trabalho)
65
Eventos
Eventos
Participação em eventos
1. Apresentação de Poster / Painel no(a) XIX Encontro de Genética do Nordeste, 2012. (Simpósio)
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através do teste de metáfase in vitro.
2. Apresentação de Poster / Painel no(a) XIX Encontro de Genética do Nordeste, 2012. (Simpósio)
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através do teste de metáfase in vivo.
3. Apresentação Oral no(a) I Jornada de Pós-graduação em Genética, 2011. (Outra)
Investigação do potencial genotóxico do fármaco formocresol através dos testes de metáfase in vitro
e in vivo.
4. I Seminário - Qualidade e Biossegurança em Pesquisa e Serviços de Saúde, 2011.
(Seminário)
.
_________________________________________________________________________________
Totais de produção
Produção bibliográfica
Artigos completos publicados em
periódico.................................................
Trabalhos publicados em anais de
eventos..................................................
Apresentações de trabalhos
(Congresso)....................................................
Apresentações de trabalhos
(Simpósio).....................................................
Apresentações de trabalhos
(Outra)........................................................
Eventos
Participações em eventos
(congresso)......................................................
Participações em eventos
(seminário)......................................................
Participações em eventos
(simpósio).......................................................
Participações em eventos
(oficina)........................................................
Participações em eventos
(encontro).......................................................
Participações em eventos
(outra)..........................................................
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