Avaliação da dose na população de Alagoas devido aos

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Avaliação da dose na população de Alagoas devido aos
procedimentos em medicina nuclear
Viviane Yano, Fabiana F. de Lima e Helen J. Khoury
Centro Regional de Ciências Nucleares – CRCN-NE
INTRODUÇÃO
As doses anuais nas populações provenientes de exposições médicas têm sido
investigadas em países desenvolvidos e em
alguns países em desenvolvimento. Na realidade, a dose média por procedimento é maior para medicina nuclear do que para raios-x
médico, apesar de esse último ser realizado
em maior escala [1].
Como não há limites para indivíduos expostos a procedimentos médicos, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) recomenda níveis de referência para procedimentos de diagnóstico associados ao uso de radiações ionizantes [2]. Estes níveis, no caso
da medicina nuclear, são valores de atividades administradas ao paciente.
No Brasil, há poucas informações sobre as
atividades administradas em medicina nuclear, bem como dos valores de Dose Efetiva
Coletiva, principalmente no Norte e Nordeste. Em levantamentos efetuados em
Pernambuco, no período de 2000-04 [3], e
na Paraíba, no período de 2000-05 [4], observou-se que tanto os valores das atividades administradas para 99mTc e 131I, quanto
das Doses Efetivas, são altos quando comparados com outros países e aos recomendados pela AIEA.
OBJETIVO
Avaliar os procedimentos dos institutos de
medicina nuclear do estado de Alagoas, bem
como comparar as doses recebidas pelos pacientes e pessoas da população com os valores praticados em outros países e com os
níveis de referência recomendados pela IAEA.
1. Levantamento das Atividades Administradas nos Serviços de Medicina Nuclear:
Foram coletados em institutos de medicina
nuclear da Alagoas dados referentes ao período 2002-05, sendo analisados por ano, o
tipo de exame realizado, o radiofármaco e a
atividade administrada, o sexo e idade dos
pacientes. Estes dados foram agrupados de
acordo com o formulário da UNSCEAR [3].
O total da população de Alagoas, segundo o
IBGE no censo de 2000 é de 2,823 x 106 e
este valor foi utilizado para obter a freqüência anual de exames por cada 1.000 habitantes.
2. Cálculo da Dose Efetiva e Dose Efetiva
Coletiva:
Com base na ICRP-60, foram calculadas as
Doses Efetivas (E) e, conseqüentemente, a
Efetiva Coletiva (Ecol), a fim de estimar o detrimento dos efeitos estocásticos causados
pelas Doses Equivalentes em todos os órgãos e tecidos do corpo. Para tanto, foi calculada a dose efetiva coletiva por grupos de
idades de pacientes de um determinado tipo
de exame (Ecol jk) através da relação:
Ecol
jk
= (E/A)j x A x Nj,
onde (E/A)j é a Dose Efetiva por unidade de
atividade administrada em um grupo de idade de um determinado tipo de exame; A é a
atividade administrada no tipo de exame; e
Nj é o número de exames realizados no referido grupo de idade.
Assim, a Dose Efetiva Coletiva para um determinado tipo de exame (Ecol k) foi dada por:
Ecol k = Σj Ecol jk
Com isso, a Dose Efetiva Coletiva (Ecol) pode
ser obtida pela relação:
Ecol = Σk Ecol k
RESULTADOS
Os resultados mostraram que o número de
exames realizados em 80% dos serviços de
Medicina Nuclear de Alagoas no período de
estudo foi de 24.781, com uma média anual
de 6.195,25 exames, o que corresponde a
uma freqüência média anual de 2,18 exames
por cada 1.000 habitantes. Este número tem
aumentado a cada ano.
Do número total de pacientes examinados,
60% são do sexo feminino. Inclusive, observa-se que, em todos os exames, o número
de mulheres é maior que o de homens.
O exame mais freqüente é a cintilografia
cardiovascular (53%), seguido da cintilografia
óssea (18%). Houve um grande aumento no
número de exames ósseo, renal e
cardiovascular entre 2002 e 2005, sendo este
aumento de 47,3%, 46,1% e 51,8%, respectivamente.
As atividades se mostraram altas quando
comparadas com os níveis de referência recomendados no Basic Safety Standards (BSS)
[2], conforme mostra a tabela 1.
Tabela 1. Comparação da atividade administrada em Alagoas e às recomendadas pela AIEA
Atividades
recomendadas
EXAME
Atividades
administradas
Óssea
1017MBq
(27mCi)
800MBq (22mCi)
Pulmonar
inalação
1259MBq
(34mCi)
80MBq (2mCi)
Pulmonar
perfusão
462MBq (12mCi)
Cardiovascular
repouso
1017MBq
(27mCi)
600MBq (16mCi)
Cardiovascular
esforço
925MBq (25mCi)
300MBq (8mCi)
100MBq (3mCi)
Com estes valores de atividades e o número
de exames realizados, foi calculada a Dose
Efetiva Coletiva no período em estudo. Os
resultados mostram uma Dose Efetiva Coletiva de 447,58 homem-Sv, uma Dose Efetiva
Média por paciente de 72,24mSv e uma Dose
Efetiva Média por pessoa de 0,16 mSv, baseada na população de Alagoas do censo
2000.
Quando comparada as de outros países, a
Dose Efetiva Média por paciente é muito alta.
Na Alemanha, esta dose é de 2,3 mSv, que
equivale a uma dose quase 30 vezes menor
que a de Alagoas. A Dose Efetiva Anual por
pessoa mostra-se superior a da Alemanha
(0,12mSv) e a do Reino Unido (0,03mSv) [3].
CONCLUSÕES
No período em estudo (2002-05), houve um
aumento significativo no número de exames
realizados em Medicina Nuclear em Alagoas,
sendo este aumento impulsionado pelas
cintilografias do miocárdio e ósseas. Vale ressaltar que a saturação da procura ainda não
foi atingida.
As atividades administradas aos pacientes
nos exames com 99mTc e 131I estão muito altas em comparação com os valores de referência estabelecidos no BSS e a Dose Efetiva Coletiva também está muito alta quando
comparada com a de outros países.
Assim, a situação da Medicina Nuclear em
Alagoas está aquém das recomendações internacionais, principalmente no uso de protocolos com atividades que geram altas doses aos pacientes. Torna-se necessário à
revisão dos protocolos, visando diminuir a
dose recebida pelo paciente sem prejudicar
a qualidade do exame.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] UNSCEAR: Souces, Effects and Risks of
Ionizing Radiation 2000. Report to the General Assembly with Annex D: Medical Radiation
Exposure. Vol I, 2000.
[2] IAEA: International Basic Safety
Standards for Protection Against Ionizing
Radiation and for the Safety of Radiation
Sources. Safety Series, nº 115, 1994.
[3] Araújo, A. R. : Avaliação da Dose na População de Pernambuco devido aos Procedimentos de Medicina Nuclear no período de
2000 a 2004. (Monografia), 57p, UFPE, 2006.
[4] YANO, V. F.. Avaliação da Dose na População de Paraíba devido aos Procedimentos
em Medicina Nuclear no período de 2000 a
2005. Anais do III Seminário Anual PROBIC
da CNEN, 2006.
APOIO FINANCEIRO AO PROJETO
CNPq/FACEPE, CRCN/CNEN e DEN/UFPE.
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