Tópico 2 – Teoria Atômica Prof. Romis Attux – DCA/FEEC/UNICAMP Primeiro Semestre / 2017 Obs.: O conteúdo dos slides se baseia fortemente no livro texto [Callister, 2011]. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux Prelúdio • Desde pelo menos a Grécia antiga, teve lugar na humanidade a visão de que a matéria seria composta por partes indivisíveis (átomos), cujas diferentes características explicariam a multiplicidade do universo como o percebemos. • Com a descoberta do elétron, percebeu-se que o átomo não era indivisível sendo composto de partículas com cargas negativa (elétrons) e partículas com carga positiva (prótons). Posteriormente, juntar-se-ia à dupla a partícula conhecida como nêutron, sem carga elétrica. • Os experimentos de Rutherford e colaboradores levaram à visão moderna de um átomo composto por um núcleo positivamente carregado (formado por prótons e nêutrons), portando virtualmente toda a massa do átomo, e uma eletrosfera na qual os elétrons “orbitavam”. A dimensão do núcleo é muito menor que a dimensão do átomo como um todo. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux Número Atômico e Massa Atômica • Tanto os elétrons quanto os prótons possuem carga de 1,60 x 10-19 C. A massa de prótons e nêutrons é aproximadamente igual, com valor de 1,67 x 10-27 kg, e a massa do elétron é bem menor, de 9,11 x 10-31 kg. • O número atômico de um átomo, denotado por Z, define o elemento químico ao qual o átomo se associa. Esse número corresponde ao número de prótons presentes no núcleo atômico, que, em condições normais, é igual ao número de elétrons na eletrosfera. São encontrados na natureza elementos com Z variando de 1 (hidrogênio) a 92 (urânio). • A massa atômica A de um átomo é expressa, de modo aproximado e conveniente, como a soma das massas dos prótons e nêutrons subjacentes ao núcleo. Embora todos os átomos de um elemento tenham necessariamente o mesmo número de prótons, pode haver variedades com diferentes números de nêutrons, denominadas isótopos. O “peso” atômico de um elemento é a média ponderada das massas atômicas de seus isótopos naturais. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux Unidades • A unidade de massa atômica (uma) é usada para quantificar o “peso” atômico. Definiu-se uma escala onde 1 uma corresponde a 1/12 da massa atômica do isótopo mais comum do carbono, o carbono 12, com 6 prótons e 6 nêutrons. • Note que isso faz com que as massas de prótons e nêutrons sejam ligeiramente maiores que a unidade, mas se pode utilizar A Z + N, sendo N o número de nêutrons. • “Pesos atômicos” e “pesos moleculares” podem ser expressos em uma / átomo ou uma / molécula. Também se pode usar uma medida de massa por mol de material. Um mol de uma substância contém 6,023 x 1023 átomos ou moléculas, o chamado número de Avogadro. • Por exemplo, o peso atômico do ferro é de 55,85 uma / átomo ou 55,85 g/mol. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux Modelos Atômicos - Bohr • O primeiro modelo quântico digno de nota do átomo foi o modelo de Bohr, que é relativamente bem sucedido para explicar o comportamento do átomo de hidrogênio. • Nesse modelo, considera-se o núcleo (um próton) em torno do qual orbita um elétron. Uma condição de quantização do momento angular faz surgir um número quântico n, que assume valores inteiros a partir de um. Cada valor desse número representa um possível estado quântico do elétron, e define, de maneira discreta, o raio da órbita associada e o valor de sua energia. • Surge, dessa forma, o importante conceito de nível de energia, em contraste com um contínuo de possíveis valores. A energia dos níveis do átomo de hidrogênio, no modelo de Bohr, é dada pela fórmula En = -13,6 eV / n2. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux Modelos Atômicos - Bohr • No modelo de Bohr, assim como nos modelos mais refinados que viriam, a transição entre níveis energéticos se associa à emissão ou à absorção de um fóton com energia igual à diferença de energia entre os níveis. • O modelo é “planetário” e não incorpora as noções de incerteza quântica ou a função . Só usaremos para realizar ilustrações simples, pois se trata de uma concepção superada. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux Modelos Atômicos – Mecânica Ondulatória • O modelo mais preciso de que se dispõe para descrever o átomo é baseado na mecânica ondulatória, ou seja, trata o elétron de uma perspectiva de partícula – onda. Não há mais órbitas, e sim nuvens de probabilidade para os diferentes estados quânticos, que, naturalmente, continuam a ter energias quantizadas. • Usando a mecânica ondulatória (Schrödinger e Dirac), chega-se a uma descrição de estado quântico do elétron baseada em quatro números quânticos. Três desses números, atingíveis via equação de Schrödinger, definem o caráter da densidade de probabilidade associada ao elétron. O quarto define seu spin. • Continua a haver a noção de nível atômico, mas surge a importantíssima noção de subnível (ou subcamada). Os níveis (ou camadas) são determinados pelo número quântico principal (n), que assume valores inteiros a partir de 1 (n = 1, 2, 3, ... ). EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux Modelos Atômicos – Mecânica Ondulatória • Por vezes, as respectivas camadas associadas a n = 1, 2, 3, ... são denotadas pelas letras K, L, M, ... Esse número é “parente” do solitário número quântico do modelo de Bohr. • O segundo número quântico (l), denominado por vezes azimutal, determina a subcamada ocupada pelo elétron. O valor l = 0 define um orbital tipo s, o valor l = 1 define um orbital tipo p, o valor l = 2 define um orbital tipo d e o valor l = 3 define um orbital tipo f. Dado um número quântico principal n, tem-se l variando de 0 a n-1. • O número de estados para cada subcamada é determinado pelo terceiro número quântico, magnético (ml). O valor de ml vai de –l a l, ou seja, orbitais s possuem uma única configuração, orbitais p possuem 3, orbitais d possuem 5 e orbitais f possuem 7. • Por fim, para cada tripla (n, l, ml), há duas possibilidades para o quarto número quântico - spin (ms), ms = -1/2 e ms = +1/2. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux Configurações Eletrônicas e Princípio da Exclusão • Os elétrons tendem a ocupar sempre configurações de mínima energia (no estado fundamental do átomo), respeitando o princípio da exclusão de Pauli. Esse princípio garante que é impossível que dois elétrons possuam, num mesmo sistema, configurações idênticas para os quatro números. Os elétrons de um átomo, por consequência, sempre possuem quádruplas distintas. • Ora, tendo em mãos a noção de mínima energia e o princípio da exclusão, podemos tentar “montar a estrutura eletrônica” dos diferentes átomos. Faltam-nos apenas alguns detalhes. Primeiramente, precisamos saber a ordem energética das subcamadas, bem como as diferenças energéticas suscitadas pelos números ml e ms. A regra de Hund nos fornece a segunda resposta – começa-se por ml = +l e varre-se o escopo desse número tomando sempre ms = +1/2. Em seguida, repete-se o ciclo com ms = -1/2. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux Ordem de Energia – Níveis e Subníveis 4d 4p N-shell n = 4 3d 4s Energy Adapted from Fig. 2.6, Callister & Rethwisch 9e. (From K. M. Ralls, T. H. Courtney, and J. Wulff, Introduction to Materials Science and Engineering, p. 22. Copyright © 1976 by John Wiley & Sons, New York. Reprinted by permission of John Wiley & Sons, Inc.) EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux 3p 3s M-shell n = 3 2p 2s L-shell n = 2 1s K-shell n = 1 Configurações Eletrônicas • Como o estado de menor energia é dado pela quádrupla (1, 0, 0, +1/2) essa é a configuração do único elétron do átomo de hidrogênio. Essa configuração é dada de maneira mais sucinta como 1s1. O segundo elétron, que caracteriza o átomo de hélio (um gás nobre), é descrito como (1, 0, 0, -1/2), e a configuração resultante é descrita como 1s2. Para o lítio (Z = 3), tem-se um novo elétron – (2, 0, 0, +1/2), e a descrição é 1s22s1. Para o berílio (Z = 4), acrescenta-se o elétron (2, 0, 0, -1/2) e se tem 1s22s2. O boro traz pela primeira vez um orbital p com o elétron (2, 1, +1, +1/2), levando a 1s22s22p1. Seguindo nossas regras, e lembrando que nem sempre a energia segue a ordem dos orbitais (lembremse do tortuoso diagrama de Linus Pauling e da figura anterior), poderíamos seguir “brincando de Lego” com a matéria. No entanto, saltaremos para a configuração do gás nobre seguinte, o neônio – 1s22s22p6. Quando se tem uma dupla s, p preenchida, chega-se, como regra, a uma configuração de gás nobre (e ao lado direito da tabela periódica). Essa configuração é altamente estável, e voltaremos a discuti-la quando falarmos de ligações químicas. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux Configurações Eletrônicas Element Atomic # Hydrogen 1 Helium 2 Lithium 3 Beryllium 4 Boron 5 Carbon 6 ... Neon 10 Sodium 11 Magnesium 12 Aluminum 13 ... Electron configuration 1s 1 1s 2 (stable) 1s 2 2s 1 1s 2 2s2 1s 2 2s 2 2p 1 1s 2 2s 2 2p 2 ... Argon ... Krypton 1s 2 2s 2 2p 6 3s 2 3p 6 (stable) ... 1s 2 2s 2 2p 6 3s 2 3p 6 3d 10 4s 2 4p 6 (stable) EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux 18 ... 36 1s 2 2s 2 2p 6 (stable) 1s 2 2s 2 2p 6 3s 1 1s 2 2s 2 2p 6 3s 2 1s 2 2s 2 2p 6 3s 2 3p 1 ... Elétrons de Valência e Orbitais Híbridos • Elétrons de valência são aqueles que se envolvem nas ligações químicas. Para diversos elementos, eles são exatamente os elétrons da camada mais externa. • Por fim, cabe mencionar que é possível ter orbitais híbridos do tipo spn, surgidos de uma configuração de menor energia resultante. Esses orbitais são estudados em certas aplicações de química orgânica, por exemplo. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux Tabela Periódica • Os elementos químicos são, muitas vezes, apresentados na forma da chamada tabela periódica dos elementos, que busca agrupar nas mesmas colunas átomos com características eletrônicas similares (do ponto de vista dos elétrons de valência) e propriedades físicas e químicas análogas. A ordem de disposição dos elementos é crescente com respeito a Z. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux H accept 2eaccept 1einert gases give up 1egive up 2egive up 3e- Adapted from Fig. 2.8, Callister & Rethwisch 9e. Tabela Periódica He Li Be O F Ne Na Mg S Cl Ar K Ca Sc Rb Sr Y Cs Ba Se Br Kr Te I Xe Po At Rn Fr Ra Electropositive elements: EE410 - Turma A - Prof. Romis Readily giveAttux up electrons to become + ions. Electronegative elements: Readily acquire electrons to become - ions. Tabela Periódica • Os elementos da última coluna (“0”) são os gases nobres, que são inertes pela enorme estabilidade de sua configuração eletrônica (como já mencionado). • A maioria dos elementos é denotada normalmente como metal, e tem um caráter eletropositivo, ou seja, de serem “doadores” de elétrons de valência na formação de ligações químicas. Os elementos à direita (excluindo os gases nobres) são eletronegativos, ou seja, tendem a atuar como “receptores” de elétrons para formar ligações químicas. Em geral, a eletronegatividade aumenta indo-se da esquerda para a direita na tabela. EE410 - Turma A - Prof. Romis Attux